Indisciplina ente os muros

June 15, 2017 | Autor: A. Gloria Mendonc... | Categoría: Educação, Pedagogia, Psicologia
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Descripción

Universidade Federal Fluminense
Psicologia e Processos de Formação I
Professora: Mary Yale
Aluna: Angélica Glória Mendonça da Silva

ROCHA, Marisa lopes da. (In)Disciplina em Questão. Revista Uerj, Ano 4, n.
12, 2011.

Entre les Murs. Direção: Laurent Cantet. Produção: Carole Scotta e Caroline
Benjo. Roteiro: François Bégaudeau, Robin Camillo e Laurent Cantet. 2008,
França. 128 min.


A autora do artigo aborda o tema da indisciplina escolar, um fator
que, entre outros, é uma das principais características que dificultam o
processo da aprendizagem e que aparece tanto nos âmbitos públicos quanto
privados. Coloca o tema dentro de um contexto do modo como é
institucionalizada a aprendizagem, indisciplina então, não sendo um
processo isolado e sim produto de diversas relações já existentes nas
escolas e vetor do sentimento de impotência de professores e encaminhamento
de alunos para terceiros setores.
No filme podemos ver o desgaste da equipe escolar em combater a
indisciplina no conselho de classe. Na cena, os professores notam um
aumento no número de "problemas causados pelos alunos na instituição", a
falta de efetividade no uso de punições para diminuir esses problemas e, em
vez de medirem esforços para entender de onde surge essa resposta dos
alunos, planejam um sistema de pontos onde são retirados pontos dos alunos
de acordo com o número de suas infrações e, quando esses pontos chegarem a
zero, os mesmos seriam encaminhados para o Conselho Tutelar, exemplificando
muito bem também o encaminhamento para terceiros dos alunos os quais a
escola não consegue reenquadrar na norma.
O texto mostra que a indisciplina é comumente vista como desrespeito,
má educação, desobediência de uma ordem pré estabelecida e que, quando
vista dessa forma, colocamos o foco da instituição educadora em
disciplinar, e não fazer aprender, o que reforça os dualismos entre
professor e aluno, professor e direção e nada contribui para o processo de
aprendizagem.
Interessante também que o artigo cita o filósofo Michel Foucault para
dizer que uma vez que as escolas foram criadas como instituições de
normatização de subjetividade, a indisciplina pode ser considerada uma
resistência e deve ser entendida como fenômeno que se constrói junto com a
disciplina e é perigosíssima se entendida apenas como fenômeno individual,
dissociado de causa e consequência.
As duas mídias apontam que no modelo atual de escola não existe lugar
para o afeto, para encontros e aproximações que são fundamentais para o
processo de aprendizagem, e a indisciplina pode ser vista como redutora de
multiplicidades individuais das crianças, já que elas são vistas apenas
como seres que perdem o seu caráter autônomo e que devem seguir regras
postas pela escola, caso contrário, são diagnosticadas como desviantes e
tendo que receber tratamentos para voltar a se enquadrar na norma. Podemos
observar a falta de interesse do modelo escolar para com o dinamismo e
motivação das crianças na cena onde o professor pede para que uma das
alunas presente leia um trecho do livro que estão trabalhando em sala, ela
mostra-se irritada, negando-se a fazer isso dizendo que "Não está afim de
ler" e ele a responde com "E desde quando a vontade de vocês é o que
importa aqui?". No texto há ainda um recorte social, mostrando que nas
classes sociais mais pobres isso se intensifica, pela quebra de
expectativas quanto a rapidez do aprendizado e comportamento das crianças.
Além disso, a autora chega a algumas consequências do modelo atual de
escola que incluem não usar o fato da indisciplina existir como objeto de
reflexão das relações aluno-professor, a exclusão do professor como atuante
de construção das regras dentro de seu próprio espaço de trabalho, sendo
ele somente uma pessoa responsável para passar aos alunos as regras da
instituição, como podemos ver no começo do filme o professor François
disputando voz com os alunos que chegam conversando, dizendo que eles "Não
percebem que estão perdendo 15 minutos de aula todos os dias com uma
conversa sem sentido" e, a cada vez que alguém questiona a sua fala ou quer
se retirar da sala, antes de ouvir a voz do outro ele exige que "Se
quiserem se direcionar a mim levantem a mão antes". O texto fala do
adoecimento do corpo escolar causado pela tensão entre as relações, já que
não há possibilidade de diálogo que transgrida as regras já existentes na
instituição e podemos observar isso no filme também, na cena da sala dos
professores onde um deles mostra-se claramente frustrado e infeliz,
disposto a largar uma turma e dizendo coisas horríveis sobre as crianças
porque está cansado de lidar com a indisciplina delas.
O texto nos leva a pensar em uma nova forma de analisar a
indisciplina e as transgressões e procurar entender o espaço por onde elas
surgem e o que tem a ver com as relações dentro de sala de aula, além de
problematizar a questão da norma, de quem está fora dela, e que implicações
isso tem para o corpo escolar que se frustra cada vez mais com a
dificuldade em conseguir êxito com o modelo de escola normatizadora e para
as crianças, quando encaminhadas a terceiros (psicólogos, juízes) em vez de
serem ouvidas e colocada a discussão de suas questões dentro da própria
instituição.
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