\"Trabalho de Campo\" - 4: FERRAZ, de Refojos de Riba d´Ave

September 2, 2017 | Autor: Fernando Brito | Categoría: Heraldica
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Descripción

“Trabalho de Campo” – 4: Uma "diferença" daquele Ferraz? FERRAZ. Poço Covo, Refojos de Riba d´Ave. «Em Refoios Paço Covo solar mui nobre jaz da qual a origem traz no tempo velho e novo a geração de Ferraz.» Manoel de Sousa da Silva.

“MARTIM FERRAZ deve ser filho desta D. Maria Fernandes e neto de Fernão Gonçalves; viveo pelo tempo dos Reys D. Sancho 2.o e D. Afonso 3.o e possuiu a quinta de Poço Covo, na freguesia da Reguenga, do concelho de Refoyos de Santo Tirso, como consta da Inquirição 3.a, que mandou fazer el-Rey D. Deniz; e, por esta razão, ficou honrada e nela devia morar”. Manuel de Souza da Silva, Nobiliário das Gerações de Entre-Douro-E-Minho, Carvalhos de Basto, 2000, vol. II, p.251

FERRAZ. Vê-se em São Cristóvão de Refojos, uma sepultura medieval esquecida. Omitida entre as menções do P.e Carvalho da Costa; omitida por Vaz-Osório, Santo Tirso; e falha online quer no sítio da Câmara, quer em Acesso-Monumentos. Referida por BARROCA, 1995: "As armas de Ferraz antigo, com as suas seis arruelas carregadas com faixas, alinhadas 3 + 3 em pala, encontram-se registadas igualmente na tampa de um sarcófago anepígrafo que tivemos oportunidade de identificar no adro da Igreja de Refojos de Riba d'Ave, onde a família Ferraz detinha os direitos de Padroado (cf. BARROCA 1987, pp. 440-441, N.°39). Como este sarcófago deve pertencer aos fins do séc. XIV, é provável que fosse um antepassado directo de D. Beringela (ou Berengária) Fernandes Ferraz, talvez mesmo D. Fernão Ferraz, seu Pai". Epigrafia Portuguesa, vol. II, tomo 2, Nº 740. Está de leitura dificultada pelo tempo, coberta de líquenes que ocultam os móveis e os confundem, até pelas cores que avassalam a pedra. Provavelmente trata-se de um granito “dente de cavalo” na parte inferior e de um outro mais fino na tampa, ou seja, compõe-se de duas peças: a arca do sarcófago, que estaria enterrada até à cota da tampa, e esta tampa que estaria mergulhada até ao nível do pavimento. Passaram e estar encostadas ao

murete do adro da igreja paroquial. Aqui, estão esculpidas: a espada do guerreiro e as armas dos FERRAZ ou seja um brasão, escudo português com as armas de Ferraz, e à dextra um montante a todo o comprimento do escudo e do timbre. Timbre: uma haste rematada por um trifólio.

leitura e desenho de: Rui Manuel Vieira, Dezº 2014

Por ser mais frequente - então, a regra! - o timbre eram ornatos colocados na parte superior do elmo (e o elmo sobre o escudo). Não aqui. Este ornato destinava-se, nos torneios medievais, a avultar a figura do cavaleiro cheio de força física, destreza e coragem – elmo e timbre em altura repetem a largura do escudo! - e consequentemente intimidava o adversário - ao vento, flamejando à força da investida da alimária..., cores vivas, e, quase sempre um animal, corpo ou parte dele, porventura nada amistoso! Generalizou-se o timbre, e até quem não o tivesse reconhecido, recorria para se enfeitar, ao arranjo de plumas, ideia sempre cultivada, como nos chapéus das damas de há pouco, e a pluma lateral das tropas napoleónicas, e as crinas dos soldados da Guarda, e uma cabeça punk ou o de hoje um “corte topete”.

Dos cavalos o estrépito parece/ Que faz que o chão debaixo todo treme;/ O coração no peito que estremece/ De quem os olha, se alvoroça e teme./ Qual do cavalo voa, que não dece;/ Qual, c´o cavalo em terra dando, geme;/ Qual vermelhas as armas faz de brancas;/ Qual c´os penachos do elmo açouta as ancas. [Camões-VI-64]

Rareiam os exemplares de brasões com timbre colocado directamente sobre o escudo.

Perpassar, p.e., os cimier de Michel Pastoureau, Traité d'héraldique ou os crest de Arthur Charles Fox-Davies, The Art of Heraldry ou ainda os clan chief, badge, de Joseph Foster, The Dictionary of Heraldry.

Todavia, tendo chegado a ser elemento de identificação do cavaleiro, e em certos casos arvorado elemento distintivo da estirpe, porque colhido de um ascendente ou legado a um vindouro, é natural, dizia, que ganhasse valor de móvel, estremado tanto ou mais que os próprios do escudo (se não fora tirado do próprio campo do escudo, repetindo um dos móveis das próprias armas, como em muitos casos). Não sei se a figura mostra o que disse - uma haste rematada por um trifólio -. Que é o timbre das armas deste Ferraz, parece que sim. Como “diferença”?

fotos Vitor Guedes

notar o “debrum” do escudo

laje com 17 de espessura, 200 de comprimento e duas larguras: 70 na cabeceira e 58 aos pés

EXPOSTULAÇÃO E RÉPLICA Porquê, Daniel, nessa pedra cinzenta, Sobre o fluxo que vão se vai, Porquê, Daniel, assim te apascenta A ideia do que foi, esse ai? Oh, o que é de passar há-de passar Que o vento é paixão de janelas. Ou cuidas nessa pedra se quedar O viandante habitando selas? Deixa-a ir, Daniel, deixa-a ir, a ideia, E os juncos, seixos, cardos, ama. Ou achas que esta aranha tece a teia P´ra fantasmas, ficções que trama? Amiúde me interpela o meu amigo Com este arrazoado culto. Ao qual respondo sempre p´ra comigo Não vá pensar-me estulto. Se penso no que foi, não menos foi Por pensado de mais ou menos; De novo iria, pensado ou não, foi Porque houve de ir, nem quis acenos.

A RESISTENCIA À TEORIA Eu ficarei à espera de que as uvas das minhas videiras amadureçam à luminosidade da palavra dia

DANIEL JONAS, OS FANTASMAS INQUILINOS, 2005, pp.99 e 105

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