Timor Loro Sa\'e - Timor Leste

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Descripción

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Cfr. http://sites.uol.com.br/drmiccoli40640/timor.htm
Vide supra.
Vide Anexo I, Fig. 5.
Luís Filipe F. R. Thomaz, De Ceuta a Timor, Viseu, Difel, 1998, 2ª edição, pp. 591, 592.
Idem, p. 593.
Vide Anexo I, Fig. 4.
Luís Filipe F. R. Thomaz, op. cit., pp. 593–597; "Timor" in Dicionário Enciclopédico da História de Portugal, José Costa Pereira (coord.), Lisboa, Publicações Alfa, 1991, pp. 284–286.
Cfr. José Leon Machado (Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro), "Timor Loro Sae e o pós-colonialismo" in http://www.ipn.pt/literatura/zips/machad02.rtf
Luís Filipe F. R. Thomaz, "Timor" in Dicionário Enciclopédico da História de Portugal, op. cit.
Vide supra, n. 7, 8.
Vide supra, n. 8.
Vide supra, n. 8.
Cfr. José Leon Machado in http://www.ipn.pt/literatura/zips/machad02.rtf; Luís Filipe F. R. Thomaz, "Timor" in Dicionário Enciclopédico da História de Portugal, op.cit.
Idem.
"(…) Quanto à primeira parte ficava o assunto suficientemente esclarecido, embora não remediado: a colónia não podia contar para a defesa dos seus 19.000 quilómetros quadrados de território e das suas 500 milhas de costa, onde em cada palmo se podia efectuar um desembarque, senão com a sua única companhia indígena, sem graduados, com maus soldados e sem armamento e munições que pudessem merecer a mais leve confiança. O único reforço possível era o aviso de 2ª classe Gonçalo Velho que já então lá se encontrava e cuja chegada tinha de facto aliviado muito a densa atmosfera de desconfiança por parte dos nossos vizinhos. Mas esse mesmo, chegado a Dili em 24 de Março, levantou ferro em 3 de Maio a caminho da metrópole e nunca mais foi substituído, apesar de o seu comandante me ter informado de que já se encontrava em Batávia o Aviso João de Lisboa, que o vinha substituir, e que dentro de oito ou dez dias devia estar em Dili.
O João de Lisboa, porém, seguiu com rumo a Macau, levando a bordo parte do material de guerra que tinha sido remetido de Lisboa em Março de 1940 com destino a Timor, e nunca mais apareceu na colónia, que assim ficou sem o único reforço para a sua defesa que lhe tinha sido prometido e que era possível, segundo o que me fora comunicado!
Teria a situação no Extremo Oriente, sem que eu desse por isso, melhorado, de facto, a ponto de dispensar a permanência do navio de guerra em Timor?
Mas então parece que devia tornar-se possível pensar em reforçar mais eficazmente a guarnição da colónia, visto que a essa melhoria de situação correspondia o afastamento de um perigo iminente de guerra e, consequentemente, o alargamento do prazo, que se supunha muito curto, em que era possível fazer chegar à colónia elementos de defesa a tempo de serem eficazmente utilizados no momento oportuno." – Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho, Relatório dos Acontecimentos de Timor (1942-1945), Lisboa, Edições Cosmos / Instituto da Defesa Nacional, 2003, pp. 57, 58.
Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho, op. cit., pp. 31–35.
Idem, p. 36.
Idem, p. 37.
Ibidem.
Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho, op. cit., p. 38.
Idem.
N.A.: O vocábulo "cif", refere-se a telegrama cifrado ou secreto.
Vide supra, n. 20, p. 39.
Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho, op. cit.,p. 51.
Idem, pp. 51, 52.
Ibidem, p. 52.
Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho, op. cit., pp. 55, 56.
Idem, pp. 56, 57.
Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho, op. cit., p. 83.
Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho, op. cit., pp. 84, 85.
Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho, op. cit., pp. 96, 97.
"(…) Foram devidamente ponderados a situação em que nos encontrávamos, os meios de defesa de que dispúnhamos para uma acção imediata e a situação em. que esses meios de acção se encontravam naquele momento, tendo-se chegado às seguintes conclusões:
a) A força de que podíamos dispor de momento era praticamente inexistente, pois a quase totalidade do efectivo da companhia presente em Díli estava espalhada pelas várias guardas ou em serviços vários fora do quartel (guarda de presos em trabalhos, apascentando os cavalos, trabalhando na granja, etc.). Essa força, quando reunida, poderia representar 150 a 160 espingardas, mas naquele momento não haveria possibilidade de reunir rapidamente mais de 60 a 70;
b) Para reunir maior efectivo e para o armar e municiar, pondo-o pronto a sair do quartel, eram necessárias, pelo menos, uma hora e me a duas horas (dadas as distâncias a que os homens se encontravam e o facto de ser tudo colhido de surpresa e não estar nada preparado para tal eventualidade), quando o desembarque se devia efectuar, segundo tinham dito os oficiais, logo que terminasse o prazo, isto é, poucos minutos depois das 10 horas;
c) Andavam já nesse momento aviões de bombardeamento e de caça holandeses voando sobre a baía e sobre a zona marginal, seguramente em observação de qualquer movimento, os quais, uma vez que notassem qualquer movimento no quartel ou proximidades, não abandonariam essa zona e não permitiriam sequer que a companhia formasse, quanto mais que saísse do quartel;
d) Com o efectivo de que dispúnhamos, com a deficiência do armamento e das munições e sem uma arma automática ligeira, toda a oposição que poderia ser feita, se conseguisse atingir qualquer posição onde ela se pudesse esboçar, seria fatalmente limitada a meia dúzia de tiros e a uns segundos de resistência, sem qualquer finalidade material e apenas com efeito moral. Em contrapartida, esse mesmo esboço de resistência traria como consequência, pelo menos, um ataque aéreo sobre a cidade, com os consequentes efeitos sobre a população. Mas, efeito de tentar uma resistência, era ainda necessário, dado o limitadíssimo efectivo de que dispúnhamos, saber de antemão onde se o desembarque, e tudo levava a crer que ele não seria feito, como de facto não foi, em Díli, onde só veio a desembarcar uma pequena parte do efectivo e o material, já depois de o grosso das tropas ter desembarcado a uns 3 quilómetros da cidade, a oeste do campo de aviação;
e) Por todas estas razões, e em virtude da surpresa com que fôramos colhidos pelos acontecimentos, da impossibilidade de movimentos em que nos achávamos e dos efeitos desastrosos que qualquer simulacro de resistência podia trazer para a população, sem que essa resistência pudesse de facto ser mais do que um simulacro, dados os insignificantes meios de que para ela podíamos lançar mão, foi opinião unânime dos oficiais manifestada individualmente por cada um deles, de que era impossível oferecer qualquer resistência às tropas que iam desembarcar e que, assim, não devia essa resistência ser, sequer, esboçada por impossível na sua execução e inútil nos seus resultados quanto à defesa do território, limitando-se a nossa acção a um protesto junto de quem de direito pela agressão de que o território da colónia era vítima." – Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho, op. cit., pp. 104, 105.
Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho, op. cit., p. 142.
Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho, op. cit., pp. 223–225.
Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho, op. cit., pp. 214, 215.
Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho, op. cit., p. 216.
"A neutralidade que nós invocávamos e afirmávamos sempre quando isso nos era necessário, era na realidade um mito, que só uma pessoa cumpria escrupulosamente – o governador da colónia –, mas em que ninguém acreditava, e muito menos os japoneses." – Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho, op. cit., p. 405.
"Quantas mortes teríamos ainda a registar, quantos portugueses ainda a caírem ingloriamente às mãos de indígenas, uns manobrados astuciosamente por japoneses sem escrúpulos e atraídos para eles por vagos sentimentos, bem explorados, de ódio contra o branco, outros, a maior parte, agindo sob a coacção do medo, com a mira de se porem a coberto de maiores males e ainda lucrarem alguma coisa com a rapina a que se entregavam os bandos de que faziam parte e em que a sua animalidade se ia inebriando com as cenas de sangue e de chacina em que tanto se comprazem.
Não havia que ter ilusões. Nós não podíamos lutar contra os japoneses que eram, infelizmente, os senhores da situação em Timor naquele momento; não podíamos esperar deles uma modificação de atitude, levando-os a usar de lealdade e de correcção nos seus actos; não podíamos contar com qualquer auxílio, nosso ou estranho, que nos ajudasse a enfrentar a situação precária em que estávamos e que nos permitisse permanecer em Timor, em oposição com os japoneses, com um mínimo de garantia de nos podermos manter com vida." – Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho, op. cit., p. 415.
"Os meses de Outubro e Novembro de 1944 foram particularmente violentos no que respeita a ataques aéreos [a Timor]." – Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho, op. cit., p. 631.
"Passada cerca de uma semana, o vice-cônsul Suzuki, em conversa, disse-me, sob grande confidência, que parecia estar a preparar-se um armistício geral para pôr termo à guerra." – Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho, op. cit., p. 640.
"A sua libertação [de dois portugueses feitos prisioneiros pelos japoneses durante vários dias] tinha sido uma coisa absolutamente inesperada e que eles não sabiam explicar, pois nada lhes tinham dito, ou sequer deixado perceber, que a pudesse justificar." – Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho, op. cit., p. 644.
Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho, op. cit., pp. 644–646.
Idem, p. 678.
Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho, op. cit., pp. 678–679.
Idem, p. 679.
Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho, op. cit., p. 680.
Idem.
Ibidem.
Manuel de Abreu Ferreira de Carvalho, op. cit., pp. 761–763.
Luís Filipe F. R. Thomaz, op. cit., pp. 603–611.
Cfr. José Leon Machado, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, "Timor Loro Sae e o pós-colonialismo" in http://www.ipn.pt/literatura/zips/machad02.rtf
N.A.: General António de Spínola (1910-1996) – Militar de carreira, em 1973 foi nomeado vice-chefe do Estado-Maior General das Forças Armadas, vindo a ser demitido ao publicar o livro Portugal e o Futuro - Análise da Conjuntura Nacional no qual critica fortemente o Governo e a Guerra Colnial defendendo a criação de uma Federação de nações de língua portuguesa. Logo após o 25 de Abril de 1974, Spínola acumula as presidências da Junta de Salvação Nacional e da República (15/5/1974-30/9/1974), mas demite-se dos cargos por oposição aos radicalismos de esquerda. Por este motivo estimula o golpe militar de 11 de Março de 1975, do qual sai derrotado, partindo depois para o exílio. A derrota da esquerda radical no 25 de Novembro de 1975 permite o seu regresso a Portugal, sendo promovido a Marechal em 1981. Fonte: "António de Spínola" in Diciopédia 2003, [CD-ROM], Conceição Pinheiro, Jorge Ferreira Silva, Pedro Cunha Lopes, (coordenação editorial), Porto, Porto Editora Multimédia, s.d., [4 CD's].
Adriano Moreira, O Drama de Timor – Relatório da O.N.U. sobre a Descolonização, Braga, Editorial Intervenção, 1976, pp. 22, 23.
Adriano Moreira, op. cit., pp. 24, 25.
Idem, pp. 25, 26.
Ibidem.
Luís Filipe F. R. Thomaz, op. cit., p. 606.
Adriano Moreira, op. cit., pp. 28, 29.
Idem, p. 27.
Ibidem, p. 28.
N.A.: Gerald Ford (1913-2006) – Estadista norte-americano nascido no Nebrasca. Foi Vice-Presidente de Richard Nixon, que se demitiu. Ford tornou-se assim o trigésimo oitavo presidente dos Estados Unidos, exercendo o cargo entre 1974 e 1977. Fonte: "Gerald Ford" in Diciopédia 2003, op. cit.

José Leon Machado, Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, "Timor Loro Sae e o pós-colonialismo" in http://www.ipn.pt/literatura/zips/machad02.rtf
Cfr. http://leitor.expresso.pt/#library/expressodiario/18-06-2015/caderno-1/ultima/40-anos-da-independencia--amanha
Idem.
Geoffrey C. Gunn, Timor Loro Sae: 500 Anos, João Aguiar (trad.), Macau, Livros Oriente, 1999, p. 258
Geoffrey C. Gunn, op. cit., p. 259 apud José Leon Machado, op. cit.
Geoffrey C. Gunn, op. cit., pp. 281, 282 apud José Leon Machado, op. cit.
Cfr. "Indonésia", "Reconstrução de Timor Leste" in Diciopédia 2003, op. cit.
Cfr. http://www.vol.eti.br/geo/Mostrapaisc.asp?Cod=194
N.A.: General Mohamed Suharto (1921-2008) – Militar e político indonésio. Quando a Indonésia se tornou independente, em 1950, Suharto ocupava o lugar de tenente-coronel. Valendo-se do crescente anticomunismo do Exército, dirigiu em 1965 um golpe de Estado que destituiu o presidente Sukarno. Assumindo a Presidência em 1966, Suharto levou a cabo uma perseguição aos comunistas e aos opositores políticos em geral, em toda a extensão do país. Instituiu uma política por ele designada de Nova Ordem; encorajando o investimento ocidental na Indonésia, revigorou a economia e expandiu a produção de petróleo. A par do desenvolvimento económico, porém, restringiu fortemente as liberdades civis, praticando uma política autoritária, conservadora, nacionalista e anticomunista. No quadro de um regime de ditadura, foi repetidamente reeleito sem oposição. A situação política interna não impediu a Indonésia de se afirmar como uma potência na Ásia nem de se relacionar com aparente normalidade no âmbito de instituições internacionais como o Movimento dos Países Não-Alinhados. Desde a invasão de Timor-Leste, em 1975, Suharto perseguiria violentamente a população local que se mostrava favorável à autodeterminação. Em causa elevados interesses económicos, nomeadamente o petróleo do Mar de Timor. Abandonaria a Presidência do país em Maio de 1998 na sequência de manifestações populares de revolta contra o sistema ditatorial e das crescentes pressões internacionais desencadeadas pela sistemática violação dos direitos humanos na Indonésia e em Timor. Fonte: "Mohamed Suharto" in Diciopédia 2003, op. cit.


N.A.: Enquanto cerca de 87% dos 180 milhões de indonésios se afirmam muçulmanos, em 1970 quase um terço da população de Timor-Leste era católica e só 0,04%, isto é, 234 pessoas ao todo eram maometanas. Dois terços da população permaneciam fiéis aos cultos animistas tradicionais. Actualmente, mais de 90% dos timorenses são católicos. Cfr. http://www.vol.eti.br/geo/Mostrapaisc.asp?Cod=194
Extraída de "Ásia" in Diciopédia 2003, op. cit.
Extraída de "Timor Leste" in Diciopédia 2003, op. cit.
Extraída de "Timor Leste" in Diciopédia 2003, op. cit.
Idem.
Extraída de "Almadia" in Diciopédia 2003, op. cit
. Digitalizada a partir de Adriano Moreira, O Drama de Timor – Relatório da O.N.U. sobre a Descolonização, Braga, Editorial Intervenção, 1976, contracapa.
Digitalizada a partir de Dicionário Enciclopédico da História de Portugal, op. cit., p. 285.
Digitalizada a partir de Dicionário Enciclopédico da História de Portugal, op. cit., p. 285.
Cfr. http://www.ethnologue.com/site_search.asp



TIMOR LORO SA'E – TIMOR LESTE






ÍNDICE

Introdução
pág. 03
1- Origens
pág. 04
2- Conflitos da sua existência
pág. 08
a) A invasão japonesa
pág. 09
b) A invasão indonésia
pág. 24
c) O papel da Austrália
pág. 35
3- Um sonho realizado
pág. 38
Conclusões
pág. 45
Bibliografia
pág. 46
Anexo I – Ilustrações
pág. 47
Anexo II – Línguas de Timor Loro Sa'e
pág. 50























INTRODUÇÃO

Timor Loro Sa'e – nome atribuído a Timor-Leste após o referendo de 30 de Agosto de 1999.

Localização geográfica: Sudeste da Ásia; Norte da Austrália.
Área: 15 850 km2
População: 875 000 habitantes (2001).
Capital: Díli.
Outras cidades importantes: Dare, Baucau, Maliana, Ermera.
Data de independência: 20 de Maio de 2002.
Regime político: República parlamentar.
Unidade monetária: dólar americano.
Língua oficial: Tétum e português.
Religiões maioritárias: Catolicismo.


A ilha de Timor situa-se no Hemisfério Sul, entre os paralelos de 8º 17´ e 10º 22´ de latitude sul e entre os meridianos de 123º 25´ e 127º 19´ de longitude este. A ilha apresenta uma orientação de Nordeste (NE) para Sudoeste (SW), é a maior das ilhas do grupo das Pequenas Sonda e mede cerca de 32.225 km2. A parte da ilha pertencente a Timor Oriental é a maior e mede cerca de 18.845 km2. Timor Oriental está situado na área de influência geopolítica e económica da ASEAN (Association of South East Asian Countries - Associação de Países do Sudeste Asiático), fundada em 1994 pelos estados do Brunei, Filipinas, Indonésia, Malásia, Singapura e Tailândia (tendo o Vietname aderido em Julho de 1995), e da ARF (ASEAN Regional Forum), plataforma para o estabelecimento de laços de cooperação com países da região Ásia-Pacífico que reúne os países da ASEAN, a Austrália, o Canadá, a China, a Coreia do Sul, os EUA, o Japão, o Laos, a Nova Zelândia, a Papua - Nova Guiné, a Rússia e a União Europeia.

Existem na ilha dois espaços político-administrativos internacionalmente reconhecidos: Timor Ocidental, com a capital em Kupang, abrange a parte ocidental da ilha e está integrado, como parcela das antigas Índias Ocidentais Holandesas, na República da Indonésia; Timor Oriental abrange a parte oriental de Timor, o enclave do Oe-Cusse (encravado na parte ocidental da ilha, na costa setentrional), e os ilhéus de Ataúro (também chamado Cambing) e do Jaco. A sua capital foi transferida de Lifau (no enclave do Oe-Cusse) para Díli em 10 de Outubro de 1769, no tempo do Governador António José Telles de Menezes. Timor Oriental, pela administração portuguesa, foi dividido administrativamente em 13 Conselhos. Cada Conselho era subdividido em Postos e estes abrangiam vários Sucos que, por sua vez, continham Povoações. Em cada Conselho havia um Administrador de Conselho, nos Postos havia um Chefe de Posto e os Sucos eram liderados pelos respectivos Liurais.

ORIGENS

Embora os estudos arqueológicos não permitam conclusões seguras, pensa-se que o território de Timor tenha sido povoado desde o Paleolítico. Na primeira fase do Neolítico (a partir de cerca de 3.500 a.C.) difundiu-se por toda a Insulíndia a chamada «civilização do machado oval», a qual utilizava a cultura de tubérculos, a criação de porcos e galinhas e um rudimentar fabrico de utensílios de barro. Na segunda fase do Neolítico (a partir de cerca de 2.500 a.C.) surge a chamada «civilização do machado quadrangular», que se pensa ser relacionada com uma cultura megalítica, antepassada da actual cultura timorense; já incluía o cultivo de cereais como o arroz, a domesticação do búfalo, a olaria, a cestaria e a tecelagem, além da construção de casas sobre estacas e do uso da almadia com balanceiro (canoa estreita e comprida com flutuador acoplado). O uso dos metais difundiu-se a partir de cerca de 500 a.C.

A influência da Índia daria lugar, a partir do séc. V, ao aparecimento de importantes estados indianizados em Samatra e Java, tendo alguns exercido um vago domínio sobre a região da Insulíndia Oriental e, embora Timor tenha ficado sob a esfera de influência dos reinos de Kadiri (1049-1222) e Majapahit (1293-1527), a influência da civilização indo-javanesa sobre a ilha é quase imperceptível, salvo algumas reminiscências no folclore da região de Suai. A China, por seu lado, teve uma vaga e indirecta influência desde a dinastia Chou (1150-221 a.C.) de que ainda hoje se notam vestígios na arte popular dos povos da região; em Timor, reconhece-se a presença dos Chineses desde o séc. XV, em busca de sândalo, e desde o início do séc. XVIII que há registo de comerciantes chineses estabelecidos no território em número sempre crescente, embora a influência cultural tivesse sido irrelevante. O reino muçulmano de Malaca manteve frequentes relações comerciais com Timor nos séculos XV e XVI, mas o Islão, ao contrário do que sucederia em territórios vizinhos, não conseguiu criar raízes; todavia, o malaio comunicaria diversos componentes às línguas locais e influiria decisivamente no traje e na culinária, nas técnicas de pesca e navegação e no folclore das populações.

Quando os primeiros Portugueses chegaram a Timor, cerca de vinte anos depois de Vasco da Gama ter descoberto o caminho marítimo para a Índia (1498), encontraram na ilha um conjunto mais ou menos heterogéneo de povos, falando uma vintena de línguas e repartidos por trinta ou quarenta reinos, agrupando-se em duas confederações cada uma sob a suserania de um «imperador»: no Oeste, a Confederação do Servião, encabeçada pelo régulo de Senobai; no Leste, a dos Belos, dominada por uma aristocracia militar de língua teto (que assim se deve ter tornado a língua veicular da região), chefiada pelo régulo de Bé-Hali. A economia era de base agrícola, comportando as roças sobre queimadas e a cultura do arroz irrigada nos vales dos rios ou em socalcos pelos montes, completadas pela criação de gado e pequenas indústrias artesanais, de que a mais notável é a tecelagem. O comércio externo baseava-se na exportação de sândalo, não cultivado, e um pouco de mel e cera, trocados por machados, facas, armas e tecidos.

Na primeira fase da sua presença em Timor (1514-1566), os Portugueses limitaram-se a frequentar sazonalmente as costas, a comerciar sândalo. Os contactos iniciais foram muito limitados, fixando-se em algumas trocas comerciais numa ou noutra localidade junto à costa. Só no século XVII, já depois de se terem instalado na ilha de Solor e porque o comércio do sândalo tinha certo interesse económico, é que os Portugueses se estabeleceram nalgumas zonas costeiras, ali se fixando especialmente comerciantes e missionários. Na segunda fase (1566-1703), a partir de uma iniciativa pessoal do franciscano frei António Taveira em 1566, a zona começou a ser abordada pelos missionários, que se estabeleceram de início na ilha de Solor, passando poucos anos depois a Timor, onde iniciaram a conversão dos chefes, mais ou menos seguidos pelo seu povo, ao cristianismo. O primeiro reino convertido foi o de Mena, no Servião (perto de Oé-Cussi), onde em 1590 havia já uma igreja; as missões de Solor e Timor estiveram até 1834 confiadas aos Dominicanos, razão por que o brasão do Timor Português incluía ao lado das quinas a cruz de São Domingos. A relação dos Portugueses com os régulos dos reinos timorenses era diminuta e foi graças aos missionários (franciscanos e dominicanos) que houve uma aproximação progressiva entre ambos os povos. Foi com frei Cristóvão Rangel (c. 1633) e frei António de São Jacinto (c. 1639) que a religião católica criou na ilha raízes decisivas; os missionários fundaram escolas e seminários: o primeiro, ainda no século XV em Solor, outros dois em Timor, um em Oé-Cussi, no Servião, e outro em Manatuto, nos Belos.

Foi a chegada dos Holandeses, calvinistas e seus rivais no comércio, ao Índico em 1595), e dos Buguizes e Macáçares de Celebes, islamizados a partir de 1603, que começaram a atacar periodicamente as costas de Timor, que os Portugueses se resolveram a estabelecer no território uma presença mais significativa, a que se poderá chamar pré-colonial. Esse colonialismo incipiente caracterizava-se pela construção de lugares fortificados com a ajuda das gentes nativas – tendo os missionários erguido em Solor um forte cuja capitania foi confiada a fidalgos portugueses idos de Goa – e o estabelecimento de alianças com os régulos para protecção mútua e a exploração do comércio. Fugindo aos ataques holandeses, a capitania transferiu-se sucessivamente para Larantuca, nas Flores (1613), para o Cupão, no extremo sudoeste de Timor (1646), e finalmente para Lifau, no Oé-Cussi (1652). Nos fins do século XVII, o poder dos capitães foi usurpado por dois sucessivos aventureiros mestiços, António Hornay e Domingos da Costa, que trataram Timor como feudo seu, mas resistiram eficazmente à penetração holandesa. Por pressão dos missionários, dos comerciantes macaístas de sândalo (drenado para Macau desde a queda de Malaca) e de alguns régulos cristãos que se haviam declarado vassalos do rei de Portugal, a Coroa decide intervir e nomear para Timor um governador.

Em 1702 toma posse o primeiro governador da ilha, António Coelho Guerreiro, a quem se devem as primeiras tentativas de entendimento com os Holandeses, assim como o início da organização civil, militar e judicial de Timor e a integração dos chefes tribais na administração atribuindo-lhes altas patentes no exército (a hierarquia feudal nativa é integrada na hierarquia militar portuguesa, recebendo os régulos patentes de coronel, os chefes de Suco de major, os de povoação de capitães; entre os régulos são eleitos os quatro capitães-mores de Solor, Larantuca, Belos e Servião e o tenente-general, que manda o conjunto dos arraiais de guerra em caso de conflito). Nesta terceira fase (1703-1894), Timor é uma espécie de protectorado português de estrutura federal; o governador, que representa o rei, age como suserano dos régulos, substituindo-se como vértice da pirâmide feudal dos Belos ao imperador de é-Hali, que acaba por se passar para os Holandeses, em cujas mãos cai pouco a pouco o Servião, com excepção dos reinos de Oé-Cussi e Ambeno. A administração, rudimentar, mantém-se das fintas ou tributos pagos pelos régulos vassalos, que em caso de guerra fornecem também ao governador os seus arraiais de tropas.

Contudo, a primeira metade do séc. XVIII é agitada por inúmeros conflitos, entre guerras e revoltas suscitadas ora pelas intrigas dos Holandeses ora pela inépcia ou avareza da maioria dos responsáveis somadas a contínuas querelas entre os governadores e os bispos de Malaca (que, desde a tomada da cidade pelas tropas da Coroa holandesa, residiam nas Flores ou em Timor), sendo a mais célebre destas rebeliões a «guerra de Cailaco», em 1726. Apenas em finais do século XVIII, face às várias revoltas de diversos reinos timorenses contra os Portugueses, muitas vezes dirigidas e incentivadas pelos Holandeses que entretanto se haviam fixado no lado oeste de Timor, é que se inicia um plano sistemático de colonização. Avança-se para o interior da ilha, até então praticamente desconhecida, e implementa-se uma política de alianças com os vários reinos, comprometendo-se estes a respeitar a soberania do rei de Portugal. A Coroa portuguesa respeitou parcialmente as divisões tradicionais da região, assim como a autoridade dos vários Liurais, implementando uma política de não interferência; em contrapartida, os reinos comprometiam-se a pagar uma «finta» ou imposto. A segunda metade do século é um pouco mais calma, mas marcada pelo avanço dos Holandeses no Servião (que obriga à transferência da capital para Díli, na província dos Belos, em 1769) e pelo início da decadência do comércio do sândalo, devido à exploração excessiva. Entretanto esfria o ardor missionário e o número de dominicanos desce de dezoito, em 1640, para oito, em 1704, e para um único em 1811. Com a extinção das ordens religiosas em 1834, as missões de Timor ficaram a cargo de sacerdotes seculares goeses. As missões religiosas foram reestruturadas a partir de 1877 pelo padre Medeiros, depois bispo de Macau, que trouxe para Timor as religiosas Canossianas, construiu igrejas, abriu escolas e introduziu na ilha várias plantas úteis, assim como o gado vacum de raça balinesa. O desaparecimento do sândalo levou a tímidas tentativas de desenvolvimento de uma economia de plantação baseada no café, trazido de Java por 1815; porém a situação económica e financeira manteve-se precária, obrigando o governador Lopes de Lima a vender aos Holandeses os estabelecimentos portugueses em Solor e Flores (1851).

Uma quarta fase da presença portuguesa abre-se com o governador Celestino da Silva (1894-1908), marcada por grandes «campanhas de pacificação» que duraram doze anos, levadas a efeito pelas tropas dos reinos fiéis apoiadas por peque nos contingentes metropolitanos e sobretudo pelos Leais Moradores de Manatuto — um corpo de voluntários recrutado na região mais cristianizada de Timor, tradicional esteio da presença portuguesa, e enquadrado por oficiais saídos de famílias da aristocracia local. Com a criação de «postos militares» no interior do território e correlativo cerceamento dos poderes dos régulos, o sistema administrativo aproxima-se da administração directa de tipo colonial. Ao mesmo tempo incrementou-se a economia de plantação, com a divulgação da cultura do café, que se tornou na principal e quase única exportação de Timor; na zona cafeeira (Ennera e Liquiçá) esboçou-se a fixação de colonos, em geral militares desmobilizados que desposaram mulheres nativas e se fixaram na terra. O desenvolvimento do comércio subsequente à «pacificação» atraiu da China, então em crise, numerosos emigrantes, que se espalharam por todo o território como lojistas, formando uma espécie de pequena burguesia importada, coesa, hermética, avessa a renunciar à sua cultura e, por isso, olhada com suspeição.

Foi devido aos impostos a pagar que se originariam mais uma série de rebeliões que culminariam, em 1912, com a que ficou conhecida como a «Revolta de Manufahí» (1912-1913), fortemente reprimida pelo governador Filomeno da Câmara com o apoio dos Leais Moradores de Manatuto; a esse governador se deve uma tentativa de introdução do ensino elementar em língua local, para o que se chegaram a imprimir livros, iniciativa que não teve continuidade. A acção dos governos seguintes orientou-se sobretudo para o fomento económico. As revoltas que aconteceram entre 1894 e 1912 vitimaram mais de noventa mil timorenses.

Destas revoltas facilmente se depreende que o povo timorense nunca aceitou de bom grado a presença e a interferência de estrangeiros. No entanto, o conceito de «povo timorense» só começa a ganhar forma na segunda metade do século XX. Timor, como atrás foi referido, era um território constituído por vários reinos, alguns deles isolados entre si por barreiras naturais, como as montanhas, falando línguas diferentes e tendo tradições e costumes diversos. Até ao século XX, nunca houve uma unidade efectiva desses reinos. Quando muito, em tempo de guerra, faziam alianças entre si para lutar contra a presença estrangeira (javanesa, chinesa, portuguesa ou holandesa) ou contra um reino vizinho rival.

CONFLITOS DA SUA EXISTÊNCIA

Além das revoltas anteriormente mencionadas, por natureza conflitos internos, o território timorense sofreu duas marcantes e brutais invasões: a dos japoneses, entre 1942 e 1945, e a da Indonésia em 1975. Em ambas, a Austrália, o grande e poderoso vizinho de Timor, desempenharia papel determinante.

A invasão japonesa

No contexto da Segunda Guerra Mundial, a posição geoestratégica de Timor, embora importante por se situar a norte da Austrália e no extremo do Sudeste Asiático, estava imersa num vazio de poder apesar de ser uma possessão portuguesa. Efectivamente, tendo o Prof. Oliveira Salazar – Presidente do Conselho à época – proclamado a neutralidade de Portugal e dos seus territórios ultramarinos no conflito e tendo conseguido mantê-la, em larga medida, na Europa e na África, a verdade é que Timor estava demasiado afastado da metrópole para gozar de uma protecção eficaz pela atribuição de meios que, nunca tendo sido excedentários noutras partes do «Império Colonial Português», estavam ali muito longe de suprir a necessidade de uma presença militar forte para fazer frente à cobiça do Império do Sol Nascente. As tropas portuguesas existentes no território, em reduzido número, mal armadas e desorganizadas por uma cultura de facilitismo de métodos, não constituíam de forma alguma páreo para as modernas e poderosas Forças Armadas Japonesas.

Daí que a Holanda, por causa de Timor Ocidental, e a Austrália, se sentissem inquietos com a cada vez maior multiplicidade de meios com que o Japão tentava estabelecer pontos de apoio no vizinho território português a pretexto de implementar o cultivo do algodão – para o que o território não dispunha das mínimas condições –, da exploração mineira ou petrolífera ou do estabelecimento de uma carreira aérea de ligação com o Japão por hidroaviões, situações estas que tornavam indispensável a visita detalhada de técnicos ao interior da colónia portuguesa, particularmente na zona de fronteira com Timor holandês…

Apesar da recusa sistemática por parte do governador Ferreira de Carvalho, seguindo a política de neutralidade ditada por Lisboa, os japoneses redobravam os seus esforços à medida que se iam tornando cada vez mais poderosos no Extremo Oriente. O interesse no Timor português ia muito além das considerações comerciais como facilmente deduzia o governador num telegrama secreto para o Governo Português:

Não compreendo interesse japoneses carreira aviação Japão-Dili visto pequeno movimento não pode justificar despesa enorme só podendo atribuir interesse terem aqui base com oficina depósito gasolina para eventualidades futuras o que me parece ser confirmado por pressa manifestada como relatei. Esta suposição causa-me sérias apreensões.

E insiste nas precárias condições em que considera estar a neutralidade do território timorense:

Minha situação muito difícil visto estar convencido japoneses terem interesse demasiado grande aproveitar Timor base aérea para que seja possível oposição mas não desejar praticar qualquer acto inconveniente política Governo.


Recebe de Lisboa compreensão e simpatia, mas pouco mais, por via de telegrama secreto do Ministério:

Situação realmente delicada visto predomínio japonês cada vez mais nítido Oriente e termos interesses Macau solidários Timor.

Entretanto os Holandeses não ficam de braços cruzados e sugerem, por sua vez, a criação de uma ligação aérea entre os dois lados de Timor – vital do ponto de vista militar –, conforme telegrama do governador-geral da Índias Neerlandesas, que oferece as melhores condições possíveis para a concretização do empreendimento:

Durante entrevista agradável tive com V. Ex.ª primeiro Maio V. Ex.ª disse ser intenção Governo Português comprar avião para estabelecer ligação aérea entre Díli e Koepang. Dessa intenção tomei conhecimento com viva satisfação pois Governo Índias Neerlandesas há muito deseja também ver estabelecida ligação aérea entre território português e Timor holandês. Dado que condições presentes será talvez difícil para seu Governo adquirir aparelho próprio esse fim e que companhia aérea Índias Neerlandesas possui tal aparelho que não utiliza actualmente, eu encarei possibilidade pôr esse aparelho com equipagem vossa disposição para realizar ligação desejada sob bandeira portuguesa. Visto grande importância que eu atribuo a essa linha considero condições financeiras exploração avião por Governo Português de interesse secundário de forma que regularização dessa questão não acarretaria dificuldade. Se V Ex.ª quiser tomar ideia em consideração mandarei com prazer cerca 20 corrente avião a Díli com representantes Governo e Companhia Aérea Índias Neerlandesas pata regular detalhes. Peço telegrafar se está disposição receber essa missão.

Cauteloso, o governador português responde:

Agradeço amável telegrama de V. Ex.ª de 13 do corrente e a sua intenção de facilitar estabelecimento ligação aérea entre Díli e Koepang. Somente depois de conhecer démarches feitas Lisboa sobre aquisição aparelhos e intenções meu Governo será possível tomar decisão sobre sua amável proposta. Vou telegrafar Lisboa sobre assunto. Depois receber indicações pedidas meu Governo telegrafarei. Meus melhores cumprimentos.

Estranhando a solicitude demonstrada de forma tão inopinada, quando ainda pouco tempo antes o assunto não havia merecido grande consideração por parte dos Holandeses, o governador português telegrafa para Lisboa:

Aditamento meu 44 cif proposta surpreendeu-me visto na conversa havida Batávia não ter referido intenção ligação aérea como para realização breve tendo falado assunto por governador-geral o ter abordado. Conjugando com vinda aqui técnico aviação japonês sou levado supor sugestão proposta terá ligação com visita missão japonesa a Batávia consta ali está este momento sendo possivelmente destinada a evitar prolongamento qualquer carreira japonesa até território holandês…

A pressão japonesa intensifica-se, como reconhece o governador português em telegrama cifrado para Lisboa de 19 de Junho de 1940:

Como V. sabe situação aqui muito melindrosa este momento receio golpe mão japonês sobre Índias Neerlandesas tendo Timor especial importância essa hipótese o que me faz duvidar muito missão perito aviação indicado sobretudo conjugando sua vinda com grande interesse manifestado dois japoneses aqui estão título peritos algodão Companhia Nanyo (…) por toda região fronteira holandês têm querido percorrer detalhadamente o que tenho impedido.

A situação agudiza-se. Em Fevereiro de 1941 começam a surgir boatos insistentes, ainda que vagos, sobre a probabilidade de a guerra se estender pelo Extremo Oriente, provocada pelo Japão. Disso mesmo dá conta o Governo de Lisboa ao seu representante em Timor, através de telegrama cifrado:

2 secreto. Começam a chegar informações probabilidades Japão entrar em guerra dentro um mês. Agradeço telegrafar o que souber a este respeito.

E, logo de seguida, é enviado outro num teor muito mais preocupante:

Aditamento meu 2 secreto informo que foi mandado seguir de Macau navio de guerra Gonçalo Velho para Timor porque chegam de várias origens notícias concordantes com o que transmiti meu referido telegrama. Determinadas notícias cuja veracidade ignoramos dizem não estar determinado que Índias Neerlandesas intervenham guerra no caso do Japão atacar Inglaterra no Oriente mas que receiam ser também atacadas. Dizem mais que holandeses receiam Japão ocupe Timor português para servir de base ataque. Convém por isso aturada vigilância súbditos estrangeiros e se forem notadas atitudes evidentemente suspeitas deve V. tomar as medidas necessárias incluindo se preciso for fixação de residência e até prisão preventiva. Deve V. Ex.ª manter-se estreito contacto com autoridades holandesas vizinhas.

Como resposta, o governador envia em telegrama cifrado:

Referência 2 secreto nada consta local de positivo. Consta japoneses terem feito grandes concentrações tropas Hong-Kong Saigon e Hanoï (Coreia) pretexto atacar China pelo sul mas que seu objectivo real é ataque Singapura a essa posição importante inglesa actuando simultaneamente sobre Hong-Kong. Consta também tropas australianas material têm seguido Singapura fim reforçar defesa península Malaca, Austrália há grande efervescência contra japoneses ameaçam não quererem que eles sejam primeiros a atacar. Índias Neerlandesas situação mais calma embora ali se receie a todo momento golpe de mão japonês sem contudo se definir sobre que região. Constou ontem foi concluído acordo comercial com Japão mas notícia ainda não foi confirmada. Situação Extremo Oriente muito tensa podendo de um momento para outro surgir guerra que tudo leva a crer se iniciará por oeste na zona Indochina península Malaca. Mas deve alastrar rapidamente para leste por actuação Austrália e provavelmente América cujas bases não deixarão de ser perturbadas. Enviarei quaisquer notícias possa colher através de emissoras visto não ter outras fontes.

E, de facto, não tinha. Para todos os efeitos era como se Timor estivesse noutro planeta, tal a morosidade e irregularidade do correio, a somar à escassez de outros equipamentos como o único telégrafo existente no território que também servia a população civil. A 9 de Abril de 1941, informa o Ministro das Colónias em Lisboa sobre os últimos desenvolvimentos, acentuando a precariedade da defesa militar naquela longínqua colónia portuguesa:

Situação Extremo Oriente não sofreu modificação sensível último mês apesar de Austrália que durante os primeiros tempos manifestou grande animosidade contra Japão estar agora mais calma e parecer ter cessado movimento tropas navios guerra japoneses para Indochina. Continuam no entanto grandes preparativos defesa concentração de tropas navios e aviação ingleses Singapura e americanos Manila estão disposição intervir quaisquer acontecimentos provocados por Japão. Índias Neerlandesas aumentam diariamente seu potencial guerra com material toda a ordem recebido América constando terem criado novas bases aviação proximidades Timor e aumentado guarnições militares ilhas incluindo parte holandesa Timor mantendo fiscalização rigorosa permanente volta seu território sendo frequente ver-se aqui passagem grandes aviões esse serviço. Tudo indica situação se mantém muito crítica sendo de prever japoneses aproveitem primeira oportunidade propícia na situação Europa para se lançarem aqui na guerra. Situação Timor apresenta-se muito difícil virtude sua posição geográfica constituir base para qualquer acção sobre Austrália ou parte oriental Índias Neerlandesas. Caso abertura hostilidades estou convencido imediatamente holandeses ou australianos procurarão assegurar-se qualquer forma posições colónia fim evitar japoneses aqui se estabeleçam e sob alegação necessidade sua defesa própria e japoneses procurarão ocupar bases aqui lhes são de alta conveniência. Meios defesa colónia absolutamente precários sendo tropas constituídas uma companhia de timores cujas qualidades militares não merecem mais leve confiança sem artilharia sem armamento equipamentos munições capazes para qualquer resistência mesmo pequena. Único elemento de defesa de valia navio de guerra aqui está e que julgo indispensável aqui permaneça enquanto situação não melhorar. Viagens experimentais aviões japoneses e possibilidade concessão carreira Díli-Paláo ao Japão têm preocupado muito holandeses australianos e até comandos forças americanas Manila que ali falaram sobre assunto com comandante Gonçalo Velho mostrando-se apreensivos. Tenho sentido aqui insistente cada vez mais acentuada desconfiança australianos e holandeses dificultando extraordinariamente estreito contacto procurado estabelecer sem resultado termos última parte 3 secreto V. Estou convencido concessão carreira aérea japonesa caso se faça virá agravar muito essa situação. Tenho procurado sem resultado sensível fazer desaparecer falsa impressão que predomina meios oficial e público Índias Neerlandesas de que estamos proteger interesses japoneses fazendo todas as facilidades para eles e dando facilidades sua infiltração aqui. Receio essa impressão venha ainda agravar situação colónia em face possível conflito armado Extremo Oriente. Face à situação se me afigura muito complexa peço V. Ex.ª instruções sobre política seguir com japoneses australianos e holandeses e directivas para actuação caso grave emergência que atrás prevejo. Posso afirmar V. Ex.ª certeza actuação será absolutamente conforme instruções haja que dificuldades houver e qualquer hipótese colónia cumprirá seu dever sejam quais forem elementos de que para isso disponha.

Em resposta, o Governo Português dá conta da escassez de meios e da intrincada política de manutenção da neutralidade:

Referência seu 9 secreto V. Ex.ª põe dois problemas distintos: 1.º Defesa militar da colónia: Impossível dar em prazo razoavelmente curto elementos defesa colónia além navio de guerra. Espero colónia não seja atacada todos respeitarão soberania portuguesa contudo se assim não for V. Ex.ª terá fazer defesa escassos elementos possui. Poderíamos tentar acordo holandeses defesa comum toda ilha. Rogo telegrafar sua opinião esta ideia e se holandeses têm sua parte elementos defesa suficientes. Em todo o caso não faça qualquer démarche este sentido antes receber novas instruções; 2.° Problema infiltração japoneses que provoca preocupação holandeses e Austrália. Temos andado muitíssimo vagarosamente concessões a japoneses. Mesmo concessão aérea ainda não assinada Mas verdade é que não podemos recusar sistematicamente tudo Japão nem protelar indefinidamente resolução assuntos. É de lembrar que temos feito também importantes concessões ingleses como petróleos. A australianos acabamos fazer também concessão aérea. Se japoneses se infiltram colónia é porque trabalham ao passo que restantes países querem concessões mas não as exploram: querem que lhes consintamos reservas isto é não fazem nem querem que os outros façam. Se australianos ingleses quiserem realmente trabalhar Timor contrabalançam facilmente influência japonesa. Isto deve fazer sentir a quem abordar assunto.

Nos primeiros dias de Dezembro desse ano havia já a certeza de que a guerra no extremo Oriente estava por dias, conforme Ferreira de Carvalho comunica para Lisboa em telegrama secreto:

Situação Extremo Oriente gravíssima tudo indicando hostilidades a romper dentro poucos dias. Japoneses têm já grandes concentrações forças navais e tropas desembarque suas bases mais próximas Filipinas e Índias Neerlandesas que adoptaram já todas medidas estado de guerra iminente o mesmo acontecendo em Singapura Hong-Kong e Austrália que decretou mobilização novas forças efectivo um milhão de homens. Situação Timor face conflito muito delicada visto extrema dificuldade assegurar neutralidade seu território com meios posso dispor. Austrália segundo declarações feitas reputa essencial segurança seu território e sua linha comunicações com Índias Neerlandesas e Singapura que Timor não possa ser utilizado japoneses como ponto partida qualquer ataque contra eles, holandeses têm defesa sua parte ilha organizada prevendo possibilidade ataque japoneses partir território português tendo já tomado medidas restritivas fornecimento carburantes colónia. Estou convencido japoneses tentarão apoiar-se Díli ou outro ponto colónia para operações surpresa sobre linha comunicações Austrália se não tentarem mesmo golpe mão sobre território colónia fim assegurar estabelecimento aqui uma base. Holandeses ou sobretudo australianos sob pretexto necessidade imperiosa evitar vinda japoneses não hesitarão diante conveniência ocupar Timor ou parte seu território nomeadamente Díli. Reputo indispensável vinda urgente para Timor navio de guerra assegurar defesa contra qualquer surpresa do exterior e para garantir a posição neutralidade. Renovo pedido directivas V. Ex.ª face situação internacional e intenções Governo respeito política especial Extremo Oriente já pedidas meu 13 secreto e a que se refere telegrama V. Ex.ª 14 secreto, de 22 de Outubro visto julgar ofício secretíssimo Julho 1940 só aplicável quando houver impossibilidade comunicações com Governo.

Responde o Governo:

Referência seu 20 secreto mesmo guerra seja declarada nosso Estado Maior Naval é opinião Timor não deve ser de início objecto qualquer ataque. Contudo holandeses consideram ataque Timor não estaria excluído logo princípio guerra. Governo fará seguir navio guerra actual mente Macau caso ele se possa deslocar pois creio tem sofrer reparações. Está Lourenço Marques navio guerra era destinado Timor e que seguirá para ali se o de Macau não puder seguir. Neste caso chegada navio demorará mais algum tempo porque tem entrar doca seca Lourenço Marques. Está armamento Macau destinado Timor caso siga vaso guerra está Macau transportará o que puder. Convém valorizar defesa colónia que aliás Governo sabe ter insignificantes meios. Caso seja atacado tem contudo V. Ex.ª defender colónia com meios possui resistindo limite máximo suas forças. Estão aprazadas Governo Inglês conversações acerca defesa nossas possessões Oriente quadro geral defesa domínios ingleses holandeses. Nossa vizinhança em Timor com Holanda aconselha oficial português delegado referidas conversações se entenda com representante holandês acerca problemas interessam defesa local. Assunto tratado com Governo Holandês. Do que se passar será V Ex.ª informado. Este assunto completamente reservado e V. Ex.ª se vier a ser abordado acerca dele deve mostrar-se desconhecedor. E de crer holandeses concentrem tropas fronteira perspectiva ajudar-nos repelir ataque. Concentração não deve neste caso ser motivo apreensões. Não convirá abrir estrada facilite comunicação Timor português holandês? Para hipótese de ajuda holandesa sendo nós atacados por Japão seria mais pronta eficiente havendo vias ligação.

A resposta do Ministério é enviada no dia 8 de Dezembro de 1940, o mesmo dia em que eclode a guerra no Extremo Oriente, chegando a Timor uma semana antes de este ser invadido por australianos e holandeses. Finalmente, a Holanda, em Timor Ocidental, e a Austrália consideravam já não serem suficientes as acções de vigilância aérea e apresamento de navios japoneses, optando por uma intervenção mais directa como adiante se verá.

Entretanto, o Governo Português envida todos os esforços para assegurar a sua neutralidade ou a sua defesa em caso de ataque japonês, como é descrito em telegrama secreto que chega ao governador Ferreira de Carvalho em 15 de Dezembro:

Em consequência conversações havidas com Governo Inglês acerca auxílio a prestar defesa Timor termos tratados aliança recebeu-se daquele comunicação de que auxílio britânico será prestado por intermédio tropas holandesas australianas existentes parte holandesa essa ilha. Governo Inglês pede se enviem instruções V. Ex.ª urgentemente dada rapidez evolução acontecimentos. Deve V. Ex.ª dirigir-se maior urgência governador holandês dizer-lhe tem instruções para combinar ajuda que eventualmente deva ser dada por Governo Inglês por intermédio forças holandesas australianas para defesa nossa parte Timor caso ataque japonês se verifique contra nós. V. Ex.ª não perderá de vista seguintes pontos fundamentais: 1.° Pode encontrar desejo colaboração efectiva imediata como prevenção contra perigos ataque japonês: nossa posição é aceitar auxilio só para caso sermos atacados nossa parte ilha por Japão pois política Governo é manter neutralidade até ataque efectivo qualquer potência seu território soberania; 2.° Auxílio é o que nos é devido aliança inglesa e Governo Inglês nos comunica estar disposto prestar por intermédio forças australianas e holandesas sob ordens gerais alto comando britânico. Deve evitar-se toda discussão acerca ponto se Austrália está ou não ligada também obrigações aliança pois discussão sem valor prático desde que Governo Inglês é que em cumprimento trata mete auxilio e indica forças que devem prestá-lo. Deve evitar também discussão carácter política com representante holandês como por exemplo deveres de solidariedade raça branca contra amarela; 3.º Colaboração deve prever ajuda forças holandesas australianas se formos atacados mas não ajuda nossa se parte holandesa Timor for atacada antes de nós; nossa colaboração nestes termos só poderia ter lugar se por ataque à nossa parte ilha ou outro facto já não estivéssemos neutrais mas em luta contra Japão; 4.º Deve V Ex.ª ter presente que perda nossa neutralidade relação Japão em virtude ataque seu Timor português não envolve a nosso juízo perda neutralidade em relação Europa ou outros países em guerra; 5.° Governo Inglês declarou ficar entendido que tropas de auxílio se retirariam logo que sua presença não fosse necessária nossa parte ilha. Deve entender-se esta garantia termos convenientes pois repelido um ataque pode considerar-se vantajoso continuem forças para impedir repetição; 6.º Colaboração é puramente militar mas pode ter repercussões questões abastecimento e outras; 7.º Ligação entre duas partes ilha e meios transporte terão de ser revistos e cuidadosamente estudados como já sugeri meu 15 secreto. Conversações seria preferível efectuarem-se Díli ou outra localidade portuguesa mas caso absoluta necessidade nada impede decorram em território holandês podendo V. Ex.ª deslocar-se para esse efeito. Em qualquer caso devem as mesmas ser cercadas máxima confidência discrição. Estas conversações são independentes das conversações oficial português outro local que comuniquei V. Ex.ª meu 15 secreto. – Ministro.

Mas revelar-se-ia demasiado tarde. Às primeiras horas da manhã do dia 17 de Dezembro, um oficial superior holandês e outro australiano trazidos pelo cônsul inglês em Timor, informam o governador da colónia portuguesa de que, segundo as instruções recebidas dos respectivos governos, as forças australianas e holandesas deviam prestar auxílio militar ao governo português em Timor quando este o solicitasse para defesa contra um ataque japonês e que, segundo as mesmas instruções, quando se verificasse o perigo iminente de qualquer acção hostil das tropas japonesas, se deveria avisar o governador da ilha o qual, assim informado, deveria pedir de imediato esse auxílio que lhe seria prontamente facultado. Ora esse perigo iminente existia no momento, uma vez que haviam sido avistados submarinos japoneses nas proximidades e eles vinham precisamente dar conhecimento do facto para que o governador pedisse auxílio militar.

O governador Ferreira de Carvalho repetiu veementemente a posição de neutralidade portuguesa, a qual só seria quebrada em caso de qualquer ataque sobre Timor. Porém, foi posto perante o facto consumado do desembarque próximo de algumas centenas de australianos e holandeses com respectivo equipamento para ocuparem posições no território. Seria inútil qualquer tentativa de resistência e um desperdício de vidas numa acção à partida condenada ao fracasso.


Uma vez holandeses e australianos instalados em Timor português, com defesas montadas e prontas a repelir qualquer ataque japonês e sem que o governo da colónia tivesse qualquer possibilidade de impor a sua neutralidade, ficou-se então numa situação de espera pelo ataque das forças nipónicas. Esperava-se a chegada de forças portuguesas de reforço vindas de Moçambique as quais seriam destinadas a substituir as forças estrangeiras presentes no território. Todavia nunca chegariam a tempo, pois nos primeiros minutos do dia 20 de Fevereiro de 1942, os japoneses chegavam a Timor e, após um duelo de artilharia com as forças holandesas, desembarcariam em força na colónia portuguesa; quanto aos australianos sentiram que aquela guerra não era deles e tinham debandado, regressando alguns à Austrália, que também se encontrava sob ataque, enquanto outros se refugiaram nas montanhas juntamente com os holandeses, onde iriam prosseguir com uma guerrilha emboscando os soldados nipónicos sempre que oportuno.

E se holandeses e australianos se haviam comportado como uma força de defesa, não requerida é certo, mas ainda assim com objectivos primordialmente defensivos, as tropas nipónicas que desembarcavam constituíam uma horda bárbara invasora, tudo pilhando no seu caminho, entrando nas habitações e regressando com tudo o que pudessem carregar. Não faltaram casos de tentativas de molestar ou violar as mulheres – fossem elas europeias, timorenses, chinesas ou mestiças –, não tendo a situação descambado para a selvajaria total porque o governador Ferreira de Carvalho optaria pelo mal menor, fazendo regressar as prostitutas que habitualmente viviam em Díli e que tinham fugido para o interior, e porque o comando japonês mandaria vir mulheres coreanas para suprir a necessidade de «entretenimento» dos soldados. Um único caso se registou em que dois japoneses teriam tentado abusar das filhas de um velho colono; porém, o irmão delas e um criado indígena opuseram-se de forma eficaz, matando os nipónicos e fazendo desaparecer os seus corpos e tudo o mais que lhes pertencesse – desde as armas às bicicletas – de forma que jamais foram encontrados, apesar das buscas intensivas.

Entretanto, em Díli, a situação torna-se complicada como relata o governador:

Impossíveis comunicações até agora por estação rádio avariada gravemente por duas vezes e não ter arranjado material a poder pôr a funcionar novamente senão agora. Recebidos por escuta telegramas 24 cif 13 e 14 secretos. Situação extremamente difícil procuro manter por todos os meios e através de todos os sacrifícios soberania portuguesa e integridade território que comando forças disse respeitar desde que Portugal mantenha neutralidade em duas conferências já tive primeira dia 20 com comandante tropas desembarcadas onde fui informado necessidade aguardar desembarque comandante geral para ser definida situação e segunda dia 26 com comandante geral todas forças que só chegou 25 aqui parecendo ter estado doente a bordo. Segunda conferência indicado claramente que desejam nossa ajuda excepto operações e facilidades em tudo e uma situação de absoluto entendimento. Mostrei. dificuldades normalização rápida vida sobre que insistiu tendo no que lhe respeitava dito iam fazer possível para isso mas havia que atender necessidades forças. Serviços públicos paralisados por impossibilidade absoluta até agora reunir novamente pessoal e não ter onde o alojar por forças terem ocupado quase todas casas e edifícios repartições. Dia 27 começou-se remediar situação depois conferência tive dia 26 com comandante geral forças. Díli despovoada quase completamente europeus indígenas e chineses faltando alimentação que com dificuldade enorme se está conseguindo extremamente precária em quantidade e qualidade. Ligações telefónicas com interior cortadas estou procurando desde 26 restabelecer com pouco pessoal posso dispor. Tenho conseguido informações interior com dificuldade mas frequentes estando autoridades seus lugares procurando manter sossego populações indígenas o que têm conseguido até agora apesar de haver algum enervamento que procuro acalmar. Indígenas enorme relutância vir Díli o que mais agrava situação aqui. Estou procurando não pôr dificuldades qualquer espécie e prestar possível auxílio dentro neutralidade mas estado alarme população impede satisfazer tudo como forças desejam. Tem havido sempre atitude respeito para com governador colónia. Peço V. Ex.ª situação seja urgentemente resolvida ficando claramente estabelecida nossa situação aqui hoje muito confusa e precária. Nada sei nossas forças vêm a caminho que julgo conveniente desembarcarem Baucau. Conveniente Governo Japão instruir urgência suas forças aqui sobre assunto. Este telegrama é continuação actualizada 32 secreto.

As forças portuguesas de reforço acabaram por não ser enviadas, pretendendo o Governo em Lisboa obter garantias de não agressão por parte do Japão. A resposta do Ministério revela bem a distância enorme a que ficava Timor em relação a Portugal:

Respondo seus telegramas 33 e 34 secretos. Primeiro deve pôr imediatamente serviços públicos a funcionar visto situação Díli não oferecer perigo segurança pessoal habitantes. V. Ex.ª instaurará processo disciplinar funcionários se não apresentem imediatamente acusando-os impossibilidade adaptação exigências serviço público, nomeadamente não cumprimento deveres função pública, desobediência autoridade representada não cumprimento ordem V. Ex.ª regresso imediato serviço, abandono lugar. Reputo vergonha desonrosa debandada funcionários forma se não normalize imediatamente serviços. Segundo atitude V. Ex.ª japoneses deve ser correcta mas digníssima. Assim não deve V. Ex.ª levantar qualquer dificuldade deve mesmo evitar medida possível adentro presentes instruções surjam dificuldades mas não pode de forma alguma colaborar. Se colaboração for pedida V. Ex.ª terá alegar colaborar activamente forças violam soberania portuguesa contra cuja presença Governo lavrou mais solene protesto. É possível japoneses pretendam qualquer espécie condomínio embora transitório sem empregar esta expressão. Neste caso tem V. Ex.ª abster-se qualquer acção represente aquiescência semelhante intuito fazendo compreender delicada mas clara firmemente se não pode prestar semelhante situação. Terceiro forças portuguesas caminho Timor não seguem colónia enquanto situação se não esclarecer completamente Japão não der devidas garantias respeito absoluto nossa soberania consequência diligências diplomáticas em curso semelhantes às realizadas Londres quando desembarque australianos holandeses. Assim não há que cuidar por agora ponto desembarque. Como pode utilizar rádio continue informando o que se passa e caso tenha dificuldades pode dizer japoneses consulta seu Governo o que aliás deve fazer para ir sendo orientado face acontecimentos exigências. Caso ainda tenha dúvidas face presentes instruções queira expor.

Apesar de uma certa brandura inicial, ou melhor, de um certo abrandamento da brutalidade característica daquela horda invasora, contrastando com o sucedido noutras regiões do sudeste asiático, a atitude dos japoneses não demorou muito a mudar, passando a induzir os indígenas à rebelião. Essas rebeliões, reprimidas com esforço pelos portugueses, revelaram que havia ainda uma força organizada no território capaz de assegurar a ordem interna e a soberania portuguesa, ao mesmo tempo proporcionando auxílio directo ou indirecto à guerrilha australiana e holandesa por parte das populações locais. Os japoneses «convenceriam» os indígenas rebeldes a atacar o quartel da Companhia de Caçadores, fornecendo-lhes armas e aguardando pelo resultado que não tardaria com o massacre do comandante, do administrador da vila e de vários outros responsáveis. A situação tornava-se insustentável. A neutralidade portuguesa era uma ficção que fazia todo o sentido nos gabinetes do Ministério mas que era absolutamente impraticável em Timor. Os rebeldes timorenses, instrumentalizados e armados pelos japoneses na sombra, em nome de uma pretensa solidariedade asiática contra o ocidental, levavam o terror a todo o território promovendo banhos de sangue em toda a parte, sem nada que as autoridades portuguesas pudessem fazer.

Muitas atrocidades depois, os ventos da guerra começariam por fim a mudar, e não a favor dos japoneses. Na Europa o conflito já havia terminado em 8 de Agosto de 1945; os japoneses tinham pedido a paz em 15 de Agosto de 1945. Finalmente, na manhã de 5 de Setembro de 1945, o comandante das forças nipónicas em Timor dava conhecimento de que havia sido assinado um armistício pedido pelo Japão, pelo que cessavam as hostilidades no Oriente. Sobre os motivos de tão radical mudança de atitude indicava o emprego pelos americanos de uma bomba de grande potência e efeitos devastadores em muitos quilómetros em volta do ponto de impacto, matando não apenas todos os seres vivos mas também tornando o solo estéril; o Imperador, para evitar a total aniquilação do Japão, havia pedido a paz.

A reocupação de Timor pela administração portuguesa ocorreu de forma pacífica e sem incidentes, saudada pela alegria efusiva da população timorense que via desaparecer o algoz nipónico e regressar a colonização portuguesa que, bem vistas as coisas, tinha sido, por comparação, uma bênção. O facto de os portugueses na colónia terem também sofrido a sua quota-parte de humilhações, vexames, torturas e morte, terá contribuído para um sentimento de fraternidade entre colonizados e colonizadores, reduzidos à simples condição de seres humanos, tão vítimas uns como os outros. Quando, por fim, se conseguiram restabelecer as comunicações com a metrópole, a 13 de Setembro de 1945, três telegramas foram enviados aos dirigentes da nação com a boa nova:

Ao Presidente da República:

Primeiras palavras enviadas para Portugal por portugueses Timor são para saudar comovidamente mãe Pátria na pessoa seu mais alto representante o venerando chefe Estado afirmando solenemente a seu constante pensamento serem úteis sua Pátria os amparou durante este longo período sacrifício toda ordem que terminou para nós dia 5 corrente pela enorme alegria termos visto bandeira portuguesa sempre flutuando sobre este pedaço Portugal que sempre se conservou bem português no coração de todos os seus habitantes quer europeus quer indígenas. Em nome todos eles cumprimento respeitosamente Vossa Excelência neste momento em que são restabelecidas nossas ligações telegráficas com mãe Pátria.

Ao Presidente do Conselho:

Ao ser restabelecida ligação telegráfica com Lisboa o que termina definitivamente longo período sacrifício acabamos de atravessar portugueses Timor cumprimentam respeitosamente Vossa Excelência afirmando seu enorme contentamento por terem podido conservar sempre erguida bem alto sobre terra Timor bandeira nacional como afirmação máxima direitos Portugal e grande patriotismo seus habitantes europeus e indígenas e terem conseguido levar seu sacrifício sem desfalecimentos até final conflito mundial que para nós só terminou de facto em 5 Setembro corrente. Único prémio todos aspirávamos que era manter português este pedaço terra portuguesa foi conseguido. Hoje ao saudar Vossa Excelência como no momento em que tivemos notícia termo hostilidades e regresso Timor plenitude autoridade portuguesa nós bradamos bem comovidamente viva Portugal!

Ao Ministro das Colónias:

Momento em que vemos terminada situação dificílima e angustiosa acabamos de atravessar sempre firmes posto de sacrifício nos coube e que só em 5 corrente acabou pela comunicação terem cessado hostilidades estar-se já fazendo evacuação território Timor por forças japonesas e hoje de facto por restabelecimento comunicações com mãe Pátria todos portugueses estão Timor quer europeus quer indígenas saúdam comovidamente Vossa Excelência afirmando apenas seu bem arraigado ao lhes permitiu atravessar este longo período no meio de todos os sacrifícios físicos e morais sem desfalecimentos e contentes por verem sempre bandeira de Portugal cobrindo terra portuguesa de Timor. Todo território está sendo reocupado autoridades portuguesas serviço deve estar concluído próxima semana estando toda população completamente sossegada segundo informações tenho do interior. A Díli têm acorrido muitos chefes indígenas para saudar governo logo sabem notícia ter acabado guerra mostrando todos sua alegria por verem restabelecida plenitude de autoridade portuguesa e garantindo sua lealdade e terem compreendido bem motivos situação acabamos de atravessar. Apresento Vossa Excelência este momento maior regozijo para todos nós por vermos conservada integridade Império mais respeitosos cumprimentos.

As respostas são enviadas ainda na mesma noite.

Do Presidente da República:

Tive a maior satisfação ao receber o seu agradável telegrama e retribuindo calorosamente as saudações de Vossa Excelência e de todos os bons portugueses habitantes dessa colónia manifesto-lhes o meu grande apreço e reconhecimento pelas demonstrações do seu alevantado patriotismo e espírito de sacrifício durante o longo período das hostilidades no Oriente.

Do Presidente do Conselho:

Acuso recepção telegrama V. Ex.ª que me deu e ao Governo a maior alegria por saber por comunicação directa V. Ex.ª inteiramente reintegrada autoridade portuguesa em todo território colónia. Timor foi contínua e dolorosa preocupação para coração portugueses; nem um só momento deixou de estar presente ao nosso espírito e ocupar a nossa atenção. Oportunidade se demonstrará quanto cuidado e esforços custou ao Governo manter essa aliás precária e aflitiva situação até que, terminado conflito Extremo Oriente, pode de novo entrar no convívio da comunidade nacional. Felicitamo-nos vivamente e felicitamos toda população colónia por sua dedicação e fidelidade Mãe-Pátria, apreciando devidamente seu longo sacrifício.

Do Ministro das Colónias:

Governo congratula-se jubilosamente com V. Ex.ª população europeia e indígena pelo restabelecimento completo autoridade portuguesa Timor pedaço território nacional tão perto pelo coração de todos portugueses. E da máxima urgência promover intensificação evacuação referida seu telegrama e dispensar todo o carinho prisioneiros aliados até poder entregá-los. Informar aquilo que possa elucidar sobre situação aí assim como suas dificuldades e necessidades imediatas para manutenção população e assegurar ordem. Deve chegar Díli próximo dia 26 um primeiro navio guerra português seguido pouco depois pelo primeiro transporte tropas e outro guerra.

Poderá enfim concluir-se que tudo está bem quando acaba bem, ainda que, entre portugueses, europeus e a população timorense, tenham morrido 85 pessoas entre Fevereiro de 1942 e Setembro de 1945, período da ocupação japonesa.


A invasão indonésia

Entre 1945 e Junho de 1974, o governo Indonésio, em obediência ao Direito Internacional, afirma na ONU e fora dela que não tinha quaisquer reivindicações territoriais sobre o Timor Oriental. Abrigado pela resolução 1514 (XV) de 14 de Dezembro de 1960, Timor-Leste foi considerado pelas Nações Unidas como um Território Não-Autónomo, sob administração portuguesa. Desde 1962 até 1973, a Assembleia-geral da ONU aprovou sucessivas resoluções, afirmando o direito à autodeterminação de Timor-leste, tal como das restantes colónias portuguesas de então. O regime ditatorial de Salazar (e, depois, de Marcelo Caetano), recusou-se a reconhecer esse direito afirmando que o Timor Oriental era uma província tão portuguesa como qualquer outra de Portugal Continental.

Antes de 1974 não se conheciam em Timor movimentos autonomistas. Isso explica-se por vários factores: primeiro, uma tradição histórica de quatro séculos em que a presença portuguesa funcionou quer como elemento aglutinador dos vários povos timorenses quer como poder protector e defensor da identidade étnica, cultural e política de Timor Oriental (Timor Oriental ou Província dos Belos já formava uma confederação de chefaturas sob a presidência do régulo de Bé-Hali e o geral predomínio dos datos belos, aristocracia de língua tétum, que assim se tornou em toda a região a língua veicular; mas a sua individualidade foi reforçada quer pela unificação política quer pela difusão de uma cultura luso-timorense, em que avulta, pelo seu papel aglutinador, o catolicismo, que ao mesmo tempo acentuou a oposição dos timorenses quer aos povos predominantemente muçulmanos da Indonésia Ocidental e de Celebes, quer aos Holandeses, calvinistas). A fidelidade a Portugal materializou-se no culto da bandeira, aparentemente identificada, no contexto do totemismo tradicional, ao totem do grupo mais vasto em que os timorenses se sentiam integrados.

Em segundo lugar, explica-se pela separação entre o poder económico e o político, pois estando todo o comércio e a nascente indústria nas mãos da comunidade chinesa, o poder português não aparecia como de exploração económica, mas antes, como uma força arbitral, potencialmente edificante do poder económico. Em terceiro lugar, deve notar-se a fraca concorrência no mercado do emprego entre a nascente elite cultivada timorense e os metropolitanos, escassos, e em grande parte integrados pelo matrimónio em famílias timorenses — 81% dos quadros do funcionalismo, por exemplo, eram integrados por timorenses.

A Revolução de 25 de Abril de 1974, que restaurou a democracia em Portugal, consagrou o respeito pelo direito à autodeterminação das colónias portuguesas. Visando promover o exercício desse direito, foi criada em 13 de Maio daquele ano, em Díli, a Comissão para a Autodeterminação de Timor. O Governo Português autorizou, então, a criação de partidos políticos, surgindo assim três principais organizações partidárias em Timor-Leste:

UDT (União Democrática Timorense), de tendência conservadora que defendia a "autonomia progressiva sob a bandeira das quinas" e "a integração de Timor numa comunidade de língua portuguesa" (mas perante a radicalização do processo revolucionário em Portugal veio a aceitar a ideia da independência a curto prazo); integrou sobretudo as velhas gerações de letrados timorenses que dominavam no funcionalismo, de formação católica tradicional, saídos maioritariamente do seminário e de colégios missionários, e muitos régulos do interior seguidos dos respetivos remos.

ASDT (Associação Social-Democrata Timorense) que, sob a influência de estudantes de formação marxista-leninista idos de Portugal, se transformou pouco depois no movimento revolucionário Frente de Timor Leste Independente (FRETILIN). Integrou sobretudo as camadas jovens da população urbana, educadas já na maioria nas escolas do Estado e de formação mais laica e menos tradicional. Como o desenvolvimento da instrução, rápido nos últimos anos, não fora acompanhado de igual desenvolvimento económico e a concentração do comércio e indústria nas mãos dos chineses deixava como única saída aos timorenses letrados o funcionalismo, as novas gerações viviam sob a perspectiva do desemprego – de onde a tendência para entrarem em conflito com as gerações instaladas e lhe disputarem o lugar; daí o seu ódio à UDT. No interior, a Frente obteve sobretudo apoio dos remos de que eram chefes os pais e parentes dos seus líderes políticos ou dos remos tradicionalmente rivais dos que alinharam pela UDT.

AITI (Associação para a Integração de Timor na Indonésia), depois chamada APODETI (Associação Popular Democrática de Timor), que propunha a "integração com autonomia na comunidade Indonésia", formada por influência do delegado do MFA em Timor, major Arnão Metelo, que não obteve senão um reduzido apoio, sobretudo entre funcionários descontentes com a administração portuguesa. A aversão da maioria dos timorenses à ideia de integração explica-se por a Indonésia continuar historicamente o império holandês, a que Timor, sob a protecção portuguesa, resistira durante quatro séculos a deixar-se integrar, pela falta de contactos actuais de qualquer espécie com o país vizinho e sobretudo pela intuição das diferenças culturais que os separam. Estão de facto ausentes de Timor os elementos fundamentais que constituem a ossatura da Indonésia e lhe dão uma certa unidade através da diversidade de etnias que a compõem: o Islão, a língua indonésia (variante do malaio) e a elite malaio-javanesa que constitui os seus quadros. Daí que, receoso dos problemas que surgiriam, o Governo de Jacarta não tenha dado inicialmente senão um apoio comedido à APODETI, enquanto instava diplomaticamente junto de Portugal para que não abandonasse a administração do território.

Associação Popular Monárquica Timorense, depois chamada Klibur Oan Timur Açuain (Congregação dos Heróicos Filhos de Timor), por abreviação KOTA (i.e., castelo, fortaleza), ligada às tradições monárquicas dos regulados, de ideologia semelhante à da UDT mas mais tradicionalista.

Partido Trabalhista, ideologicamente indefinido e numericamente insignificante.

Os dois últimos nunca foram reconhecidos pelas autoridades portuguesas.

A UDT era, inicialmente, dirigida por Mário Carrascalão, endinheirado plantador de café e engenheiro silvicultor, mestiço, que, segundo tinham informado, pertencia à União Nacional Portuguesa, do anterior regime de Salazar/ Caetano. Por esse facto, Mário Carrascalão foi prontamente substituído por Francisco Lopes da Cruz, na Presidência da UDT. Era este indivíduo, director da publicação «A Voz de Timor», único jornal da colónia. Domingos de Oliveira, funcionário público, associado, segundo certa informação, aos interesses comerciais de plantadores de café, passou a ser Secretário-geral. Os partidários mais chegados à UDT eram funcionários públicos de nível superior; alguns régulos que também actuavam como funcionários territoriais, que consideravam a bandeira portuguesa, como símbolo místico; alguns comerciantes de origem chinesa e a comunidade portuguesa local. Segundo outra informação, o partido contava com o estímulo oficial português, mediante subsídios e tempo nos programas de rádio, durante o período anterior à chegada do novo Governador português, em Novembro de 1974. Contudo, com a queda do Governo do General Spínola e ao perder força a sua ideia inicial de federação de nações de língua portuguesa a UDT começou a apoiar o conceito de independência, "depois de um período de 15 a 20 anos", que se reduziu progressivamente a "de três a cinco". O programa do partido também declarou o seu apoio às liberdades democráticas básicas e que os funcionários do partido "não deviam ter pertencido a nenhuma ideologia política que apoiasse a anexação da província a qualquer Potência estrangeira". A UDT foi considerada pelos observadores do panorama político como sendo inicialmente o mais forte e mais influente dos partidos políticos de Timor. Todavia, segundo a opinião dos observadores, o facto de carecer de uma política positiva, a sua associação com o «antigo regime», adicionado à sua resistência inicial a apoiar a meta final da plena independência, induziu muitos dos partidários da UDT a deslocar o seu apoio para a FRETILIN, a qual, nos princípios de 1975, já passara a ser o partido mais importante do território.

Ao contrário da UDT, a FRETILIN surgiu como sendo um grupo clandestino de subversão, que tentara, sem êxito, estabelecer um movimento anti-português de libertação. O manifesto inicial da FRETILIN afirmava o "direito à independência" de Timor Oriental e pedia a "participação imediata dos timorenses competentes, na administração e governo locais", assim como "a expulsão do colonialismo e a prevenção contra o neocolonialismo". Ao princípio, o partido atraiu o apoio da pequena comunidade intelectual do território, assim como o dos funcionários civis de nível inferior, os mestres e os estudantes e ainda os recentes emigrados provenientes das colinas para as localidades da costa setentrional de Timor. O dirigente da FRETILIN era Francisco Xavier do Amaral, graduado do seminário jesuíta de Macau, que, no momento da fundação do partido, era funcionário do Governo, a nível médio. Outros dirigentes do partido são José Ramos Horta, jornalista do diário de Díli, A Voz de Timor, cujas opiniões políticas deram origem a que tivesse de passar um certo período de exílio em Moçambique, sob o regime de Caetano; e Nicolau Lobato, mestre-escola. Contrariamente às afirmações de alguns dos seus críticos, no país e no estrangeiro, o programa da FRETILIN foi considerado por grande parte dos observadores da situação de Timor, como mais reformista do que revolucionário. Pedia a "eliminação gradual da relações coloniais" e uma reforma agrária, para que as propriedades rurais extensas e as terras férteis que não estivessem sob cultivação, fossem expropriadas e convertidas em cooperativas populares. As escolas católicas e chinesas existentes deviam manter-se, mas serem completadas com escolas populares e classes de alfabetização organizadas por «brigadas revolucionárias» de estudantes de ensino secundário, enviados das localidades às aldeias. Dar-se-iam garantias às empresas económicas chinesas e estabelecer-se-ia, por todo o território, um sistema de produtores/consumidores, com vista a facultar aos pobres os produtos básicos e a preços baixos. Permitir-se-iam o auxílio e o investimento estrangeiros, controlados.

A APODETI era o único partido que, desde a sua fundação, pugnava pela união com a Indonésia. Este objectivo baseava-se na convicção, por parte do partido, de que a colónia não era economicamente viável, nem suficientemente desenvolvida, sob o ponto de vista político, para manter-se isolada no mundo, assim como se baseava nos antecedentes étnicos e culturais comuns dos timorenses de ambas as partes da ilha. Ao mesmo tempo, o manifesto do partido afirmava que "toda a eleição precipitada podia ser a ruína de Timor, dada a ausência de maturidade política e económica de Timor". O Presidente da APODETI, Arnaldo dos Reis Araújo, passou um período de cativeiro, sob o regime português, em virtude da acusação, oficialmente reconhecida pela APODETI, de ter colaborado com os Japoneses durante a segunda guerra mundial. Outros dirigentes da APODETI eram José Osório Soares, Secretário-geral do partido, e Guilherme Gonçalves, Liurai de Atsabe. Aparentemente, a APODETI obteve um escasso apoio do povo timorense e, foi considerada, na generalidade, o mais pequeno dos três partidos políticos que tinham surgido até Maio de 1974.

Mais tarde, ainda no mesmo ano, formaram-se os outros dois partidos políticos: o Klibur Oan Timor Aswain (KOTA) e o Partido Trabalhista (PT).

Em Abril de 1974, o governador, coronel Alves Aldeia, foi mantido em funções; porém, sentindo a sua autoridade praticamente anulada pela comissão local do MFA, encabeçada por Arnão Metelo, retirou-se três meses depois para a Metrópole e pediu a demissão, sendo substituído interinamente pelo comandante militar, tenente-coronel Níveo Herdade, que se defrontou com os mesmos problemas. A crise de autoridade favoreceu a agudização das rivalidades numa surda luta pelo poder. Em Outubro de 1974, Timor foi visitado oficialmente pelo ministro da Coordenação, Almeida Santos, que no regresso afirmava publicamente estar convencido de que a UDT era o "partido esmagador da maioria" e de que a maioria dos timorenses pretendia manter a ligação a Portugal. Numa conferência de imprensa concedida em Díli, declarava ainda firmemente que "Timor será o que a maioria da população quiser que seja" e que a continuação de alguns vínculos com Portugal parecia ser a única solução válida naquela fase da vida timorense, uma vez que a independência total ou a fusão com a Indonésia "pareciam impraticáveis, atendendo a que Timor não era economicamente viável" além de que, por outro lado, "os partidários da integração com a Indonésia só eram representativos de um sector infinitesimal da opinião pública"; já em Lisboa, Almeida Santos comentaria a posição indonésia quanto ao futuro do território declarando que "o Governo da Indonésia só receia uma independência prematura, atendendo a que tal poderia constituir uma fonte de instabilidade na região".

Pouco depois de ter sido fundado a FRETILIN, em Maio de 1974, José Ramos Horta visitou Jacarta, onde manteve conversações com Adam Malik, Ministro das Relações Exteriores da Indonésia. Segundo Horta, este teria recebido uma declaração escrita, da parte de Malik, datada de 17 de Junho, na qual, entre outras coisas, aquele dizia que "a independência de qualquer país é o direito de toda a nação, sem excepção no caso do povo de Timor", e que o Governo da Indonésia se esforçaria por manter boas relações com "fosse quem fosse que governasse Timor, no futuro, depois da independência". José Ramos Horta, em complemento da sua visita à Indonésia, visitou também a Austrália, no mês de Julho, mas, segundo as suas palavras, não conseguiu obter qualquer declaração do Governo da Austrália apoiando a independência de Timor. Numa segunda visita, em Dezembro, conseguiu uma afirmação australiana de apoio ao "direito à livre determinação" da população de Timor.

Por sua parte, os líderes da APODETI fizeram frequentes visitas à Indonésia. No decurso de uma delas, Arnaldo de Araújo anunciava, em Jacarta, que a APODETI contava com o apoio de 70% da população de Timor. Os meios de informação indonésios afirmaram que outros dirigentes da APODETI tinham ido a Jacarta, para agradecerem ao Governo da Indonésia o facto de "aceitar a aspiração da maioria da população portuguesa de Timor, de libertar-se do Governo Português e fundir-se com a Indonésia". Em Setembro de 1974, um jornal de Jacarta informava que, no decurso de uma entrevista entre o Governador de Timor Ocidental e dirigentes da APODETI, o Governo provincial tinha declarado a sua intenção de "prestar assistência à luta da APODETI".

Mais tarde, já na atmosfera política subsequente à queda de Spínola, foi nomeado governador o tenente-coronel Lemos Pires, tido por conservador, mas que, sem apoio na Metrópole e rodeado de colaboradores em boa parte da confiança de Arnão Metelo, não soube resistir à radicalização do processo revolucionário. O poder real ficou assim na mão de um punhado de oficiais revolucionários, pois o funcionalismo civil foi reduzido a funções de rotina e o resto dos militares (com poucas excepções, como o comandante da Polícia, tenente-coronel Maggiolo de Gouveia) desorientados pela crise ideológica e pelo vazio de valores subsequente em todo o espaço português à queda do regime anterior e aterrorizados pela radicalização do processo revolucionário, não tomaram qualquer posição.

Este período caracterizou-se por uma reforma intensiva de estruturas (desmantelamento o quadro administrativo, substituição de muitos chefes, hereditários, por aventureiros eleitos apressadamente, desmobilização da quase totalidade das forças metropolitanas na Província, intensa politização das forças timorenses) o que estabeleceu uma crise de autoridade generalizada e um caos político latente; e ao mesmo tempo por uma rápida promoção da FRETILIN, apoiada mais ou menos descaradamente pelos oficiais revolucionários. Daí uma intensificação de luta política em todo o território, ocorrendo frequentemente mortos e feridos em escaramuças entre remos afectos a um e outro partido. Esse clima e a radicalização das posições da FRETILIN fez gorar a coligação que esse partido fizera com a UDT, contra o que ambos consideravam o maior perigo, a anexação pela Indonésia. Esta fez saber que não consentia na tomada do poder pela FRETILIN e começou a concentrar tropas na fronteira.

A virulência da FRETILIN recrudesceu depois dos acontecimentos de 11 de Março de 1975, em Lisboa, reflectindo o ambiente político reinante em todo o espaço português. Exigindo ser reconhecida como único representante legítimo do povo timorense recusou participar na conferência reunida pelo governo português em Macau, para discutir com os partidos o futuro de Timor. Ai Lisboa fez aprovar pelos outros dois partidos o seu plano de descolonização que, logo publicado em Diário do Governo, se tomou a Lei Constitucional 7/75. Segundo ela, a responsabilidade administrativa de Portugal cessaria em Outubro de 1978 após a eleição de uma Assembleia que definiria o estatuto do território, estabelecendo-se entretanto um governo de transição chefiado por um alto-comissário. Entretanto a FRETILIN procedia impunemente ao recrutamento de milícias armadas e chamava a si a administração das áreas em que detinha a maioria, intitulando-as «áreas libertadas». A UDT tentou responder organizando em Díli manifestações públicas e uma greve de funcionários; mas os seus manifestantes foram atacados à catanada pelos sequazes do partido rival. Provavelmente instigada pela Indonésia e com o apoio tácito dos países da ASEAN, a UDT tentou então (11/8/1975) um golpe, apossando-se das armas da PSP., cercando o palácio do governo e exigindo a expulsão dos elementos mais radicais da FRETILIN e dos oficiais que a apoiavam, e o estabelecimento imediato de um governo de transição chefiado por Lemos Pires, integrando elementos da UDT e moderados da FRETILIN. O capitão Lino da Silva, cunhado dos irmãos Carrascalão, dirigentes da UDT, põe-se ao lado desta, marchando sobre Díli com as companhias de Lospalos e Baucau. O governador nem tomou medidas contra a UDT nem cedeu às suas exigências, tentando em vão conversações de paz entre os partidos. Perante o agravamento da situação, Maggiolo Gouveia "para evitar o maior dos perigos, uma intervenção indonésia" pôs-se também ao lado da UDT. Então o governador, enquanto a FRETILIN ocupava o Quartel-General e se preparava para responder pela força à posição da UDT, ordenou aos oficiais metropolitanos que deixassem aos sargentos nativos o comando das unidades militares, com todas as suas armas e munições, e começou a organizar a retirada dos militares metropolitanos e suas famílias para a Austrália.

Trabalhadas pela propaganda revolucionária, a maioria das unidades tomou partido pela FRETILIN. Estalou a guerra civil virulenta sobretudo em Díli, partilhada entre os dois partidos. Então o governador refugiou-se com o seu estado-maior na ilha de Ataúro, deixando em Timor um completo vazio de autoridade. Rapidamente batidas pela FRETILIN, as forças da UDT recuaram até à fronteira indonésia (Setembro de 1975), que só puderam atravessar mediante o compromisso de aceitarem a anexação de Timor; imediatamente desarmadas, foram substituídas por forças regulares indonésias que retomaram a luta com a FRETILIN na zona fronteiriça, enquanto os dirigentes da UDT, APODETI, KOTA e Partido Trabalhista, reduzidos a fantoches manejados por Jacarta, declaravam fundir os seus partidos num Movimento Anti-Comunista (MAC), lutando agora pela integração na Indonésia (Outubro 1975). Entretanto a FRETILIN, senhora de Díli, instalava aí um governo paralelo ao de Lemos Pires, que se mantinha em Ataúro. A 28 de Novembro, inesperadamente, a FRETILIN proclamou unilateralmente a independência da República Democrática de Timor-Leste, com Xavier do Amaral por presidente, que apenas foi reconhecida por alguns países africanos (sobretudo de expressão portuguesa).

A 7 de Dezembro, visivelmente com o apoio dos Estados Unidos da América (cujo presidente, Gerald Ford, visitara Jacarta dois dias antes; em plena guerra fria, a tudo o que fosse suspeito de marxismo-leninismo os EUA respondiam com a força ou faziam outros responder por si) que, após a URSS ter instalado detectores submarinos ao largo do Vietname, encaravam o Mar de Timor como a única alternativa para a passagem dos seus submarinos nucleares sem ser detectada e não queriam uma Cuba no Índico que a pudesse dificultar, a Indonésia invadiu o território por terra, mar e ar, bombardeando Díli com 16 vasos de guerra e ocupando a cidade com pára-quedistas. A FRETILIN retirou o seu Quartel-General para as matas da zona de Fatu-Beci, onde durante três anos manteve em funcionamento um emissor com programas em tétum, português, inglês e malaio. Foi ao que parece nessa retirada para o interior que a FRETILIN fuzilou os reféns que detinha, entre os quais Maggiolo de Gouveia. Embora as forças indonésias tivessem respeitado Ataúro, as autoridades portuguesas abandonaram a ilha consumando assim a situação de vazio de poder legal que permitiria à Indonésia consolidar o seu. Contudo, o progresso das suas forças para o interior foi extremamente lento, devido à resistência feroz das populações timorenses: das sedes de concelho, Ainaro só foi ocupada em 21/2/1976 e Ermera a 9/4/1976. A ocupação dos postos administrativos só se concluiu em 1979. Após a invasão, Portugal cortou relações com Jacarta e apresentou o caso à ONU, que por larga maioria aprovou a moção (todos os anos renovada até ao presente), condenando a intervenção indonésia, pedindo a retirada das suas forças e recomendando a Portugal que reassumisse as suas responsabilidades e conduzisse à autodeterminação o povo de Timor, o que não teria qualquer efeito.

Jacarta procedeu à integração jurídica do território por uma política de pequenos passos: primeiro, continuando a declarar reconhecer a soberania portuguesa em Timor, instalou em Díli um governo fantoche, chamado «Governo Provisório de Timor Loro-Sáe» chefiado por Arnaldo dos Reis Araújo, antigo colaborador dos Japoneses e líder da APODETI. Depois, perante delegações estrangeiras que convidou para o efeito, promoveu em Díli uma «Assembleia Popular» pretensamente eleita mas de facto designada pelas autoridades da ocupação, que pediu por unanimidade a integração de Timor na Indonésia (31/5/1976). Após ter enviado aos territórios ocupados uma missão a «certificar-se da sinceridade do pedido» e de ter modificado a sua Constituição, que não permitia a integração de territórios estrangeiros, o Governo de Suharto declarou finalmente Timor Oriental (Timor Timur) a 27.ª província indonésia (17/8/1976).

A ocupação alterou profundamente as posições das forças políticas timorenses, levando-as a uma aproximação contra o invasor estrangeiro. O contacto directo com os indonésios fez realçar aos olhos dos timorenses as diferenças que os separam, exaltando o seu sentimento de individualidade étnica, com todas as manifestações tradicionais (incluindo o culto da bandeira portuguesa, como outrora perante os Holandeses e durante a ocupação japonesa). Esse sentimento, de ordem estrutural, foi conjunturalmente exacerbado pela corrupção da administração indonésia, de venalidade indescritível e sobretudo pelo comportamento bárbaro das suas tropas: Díli foi saqueada e foram removidos para Jacarta a rádio, o bloco operatório do hospital, viaturas, recheio de casas, etc.; no cais foram fuzilados, "para mostrar como seriam tratados os que se opusessem à integração" 27 homens e 33 mulheres escolhidos à sorte entre a multidão convocada para o efeito; em muitas localidades do interior a população adulta foi fuzilada, deixando apenas as crianças; pessoas que eram pouco afectas à ideia da integração foram levadas de suas casas e atiradas ao mar de helicóptero; os socorros em géneros enviados pela Cruz Vermelha, Caritas e pelo próprio Governo Central eram inúmeras vezes distribuídos às tropas de ocupação ou vendidos a peso de ouro aos elementos da população que tinham posses para os comprar.

Estas atitudes levaram a uma quase unanimidade contra o invasor e a um acordo tácito, se bem que precário, entre as várias forças que se lhe opunham. Formaram-se quatro grupos principais:

milícias da FRETILIN (FALINTIL, Forças Armadas de Libertação Nacional de Timor Leste);

tropa do exército regular português que na guerra civil haviam aderido à FRETILIN sob o comando do sargento Hermenegildo Alves;

o remanescente das forças do exército português que, reorganizadas pelo sargento Aquiles, se continuaram a bater em nome da soberania portuguesa e sob a bandeira nacional;

forças da UDT que perante a intervenção indonésia se passaram para o campo contrário.

Enquanto presidiu à FRETILIN o moderado Francisco Xavier do Amaral reinou entre estas forças um certo entendimento, que lhes permitiu resistir com êxito às forçar indonésias. Estas, indisciplinadas, desconhecedoras da língua e do terreno e incapazes de conquistar a adesão das populações preferiam muitas vezes pactuar, fornecendo armas e munições à resistência a troco de géneros e promessas de não agressão. Após 3 anos de guerra, contudo, a resistência, isolada do mundo e privada de apoio material, começou a dar sinais de cansaço e alguns dirigentes a aconselhar a negociação. Acusado de «capitulacionismo», Xavier do Amaral foi afastado e substituído por Nicolau Lobato, da linha dura do partido, o que quebrou o acordo com as outras forças da resistência que passaram a lutar não só com os indonésios mas também entre si. O exército indonésio mudou de táctica, fugindo ao contacto directo e preferindo os bombardeamentos e a destruição das culturas de forma a vencer a resistência pela fome. Xavier foi capturado, Aquiles abatido pela FRETILIN (Outubro de 1978) e finalmente Nicolau Lobato abatido pelos indonésios (Páscoa de 1979). A resistência foi então reorganizada por Alexandre de Gusmão (mais conhecido pelo seu nome de guerra, Xanana Gusmão), que a conseguiu manter activa durante mais de uma década.
A guerra, a fome, a incapacidade das autoridades indonésias para organizarem socorros honestos, provocaram uma situação catastrófica: em Outubro de 1978 as autoridades de ocupação calculavam oficialmente que dos 610.270 habitantes registados pelo censo de 1970 apenas restavam 329.271. Aproximadamente 1/3 da população do país, mais de 250 mil pessoas, morreram na guerra.

Juridicamente a situação manteve-se, pois a ONU não reconheceu nem a anexação nem a independência proclamada pela FRETILIN, considerando potência administrativa Portugal, o qual pelo art. 307º da Constituição de 1976 se considera também como tal.

Os 24 anos de colonialismo indonésio, que terminaram em 1999 quando os timorenses rejeitaram massivamente a integração na Indonésia através de um referendo organizado pelas Nações Unidas, foram, de um ponto de vista económico e social, catastróficos. A atitude da Indonésia perante Timor-Leste foi de uma sobranceria tipicamente colonialista. A Indonésia implementou em Timor tudo o que de negativo teve o regime colonial: execuções em massa, destruição de aldeias revoltosas, deportações, confiscação de terras, exploração de mão da obra barata, perseguição, prisão, assassinato e tortura de dirigentes ou de suspeitos da Resistência. O mais grave, todavia, foi a tentativa por parte da Indonésia de reduzir o povo de Timor-Leste à miséria económica e social. Os únicos interesses da Indonésia em Timor eram económicos. A cultura do café, malgrado ter caído cerca de noventa por cento depois de Portugal abandonar o território, a exploração dos mármores e o petróleo eram francamente lucrativos para o governo de Jacarta. Daí que, contra todas as resoluções da ONU, os Indonésios nunca tivessem mostrado vontade de ceder perante as pressões internacionais e acabarem com a exploração tipicamente colonialista do território.

Eis o testemunho de Adelino Gomes, jornalista da RTP que passou três semanas no território em Outubro de 1975 e presenciou o início da invasão indonésia: «A nossa estadia tornou-se dramaticamente importante por coincidir com a invasão terrestre do Movimento Anti-Comunista [os partidos anti-FRETILIN] (…) enquadrado pelo exército indonésio pela fronteira perto de Balibó. Foi nessa altura que foram mortos os jornalistas de duas equipas da televisão australiana. Nós, da RTP, tinhamos estado com eles umas horas antes. Mas tínhamos fome, fartos de comida enlatada, queríamos tomar banho, por isso regressámos a Maliana, a uns dez quilómetros. Não morremos por uma questão de horas.» «Quando chegámos a Timor já não vimos guerra civil porque a FRETILIN tinha ganho e ocupado todo o território (…). Mas vimos uma espécie de pré-invasão indonésia: vimos helicópteros, filmámos navios de guerra junto à fronteira marítima. E então a entrada em Balibó (…) que me permitiu ver, por um lado, a força da mentira da diplomacia indonésia, e, por outro, a benevolência da Australia que nunca protestou o suficiente ou quis investigar. A Indonésia disse que não reconheceu os jornalistas por estarem vestidos como guerrilheiros, o que é mentira. Fomos os últimos a filmá-los e estavam vestidos à civil, alguns em tronco nu. Mataram-nos porque eram a prova viva da invasão.»

Nunca cederiam até ao momento em que os países que mais os apoiavam, os Estados Unidos e a Austrália, perante a evidência das imagens do caos em que Timor Leste se tornou após o referendo de 30 de Agosto de 1999, fizeram pressão para que terminassem os massacres e fosse restaurada a paz no território.

O papel da Austrália

A posição da Austrália em relação a Timor tornou-se ambígua a partir da invasão do território pelas tropas japonesas durante a Segunda Guerra Mundial. A Austrália começou por enviar uma força armada para combater os Japoneses, força esta que foi obrigada a retirar face à vantagem militar inimiga. Após a destruição de Hiroshima e Nagasaki e a consequente capitulação do Japão, a Austrália fez pressão junto dos Aliados para que a rendição das tropas estacionadas em Timor fosse feita perante o exército australiano e não perante a administração holandesa na parte ocidental e a administração portuguesa na parte leste da ilha.

Os motivos australianos para esta atitude teriam sido dois: "primeiro, assinalar o facto de terem sido os Australianos a resistir, sozinhos, aos Japoneses; e segundo, mostrar que os Portugueses (...) não deviam ter qualquer papel militar no término das hostilidades", uma vez que a sua neutralidade durante a guerra contribuíra para que o Japão tivesse inteira liberdade para transformar o território numa base militar.

Os Japoneses, conhecedores das pretensões australianas, contactaram de imediato Lisboa e acordaram com o governo de Salazar a rendição das suas tropas junto da administração portuguesa no território. O grande temor do Japão era que Timor caísse inteiramente nas mãos dos Aliados. Portugal receava, por outro lado, a possibilidade de vir a perder a administração da colónia. Na rendição ocorrida na parte ocidental da ilha, os Australianos não permitiram que os representantes holandeses assinassem o documento que oficializava a mesma, o que criou um ""profundo desapontamento e preocupação" por parte das autoridades holandesas". Essa preocupação tinha o seu fundamento: daí a dois anos, a Holanda viria a perder o controlo administrativo dos territórios da actual Indonésia.

Sendo a Austrália um dos principais aliados da Indonésia e tendo, após a Segunda Guerra Mundial, contribuído de uma forma decisiva para a sua independência, forçoso será concluir que os interesses australianos não se fixavam exclusivamente no plano político. Havia também interesses económicos muito fortes. O governo australiano começou a dar grande atenção à ilha timorense quando em 1947 recebeu relatórios que referiam a existência de grandes jazidas de petróleo no mar de Timor. De imediato, entrou em negociações com Portugal para definir a fronteira marítima, porque, argumentava, o local onde as jazidas foram descobertas encontrava-se numa zona que fazia parte da plataforma continental e por isso pertencia à Austrália. Portugal não aceitou os argumentos da Austrália e outorgou a exploração do petróleo a várias empresas privadas.

Entretanto, a Austrália procurou convencer a Indonésia com os mesmos argumentos e o governo de Suharto cedeu 70% do leito marinho entre o norte do país e a parte ocidental da ilha de Timor. Ficavam de fora 250 quilómetros onde, curiosamente, se encontravam as jazidas mais rentáveis e que estavam sob a alçada de Portugal.

Quando a Indonésia decidiu invadir o território em 1975, o governo australiano mostrou-se bastante satisfeito. A região ficava assim liberta da nefasta influência dos Portugueses, os únicos na região a obstruírem os interesses económicos australianos, e as pretensões independentistas dos Timorenses, provável fonte de conflitos diplomáticos, eram neutralizadas. Seria muito mais fácil negociar com a Indonésia, velho aliado económico. Não foi por acaso que a Austrália se tornou, contra todas as resoluções da ONU, o primeiro país a reconhecer oficialmente a integração de Timor-Leste na Indonésia. Poderá, no entanto, estranhar-se que o governo australiano tenha liminarmente rejeitado uma ideia que surgiu junto dos movimentos políticos timorenses em 1975 e que propunha a integração de Timor-Leste na Austrália. Para alguns Timorenses, era uma possibilidade bem mais atraente do que a integração na Indonésia.

A Austrália recusaria por duas razões fundamentais: a primeira tinha a ver com um pesado encargo económico. Timor era uma região subdesenvolvida e o governo australiano teria de criar infra-estruturas que pudessem modernizar a região no plano económico, administrativo, da saúde e da educação, o que seria muito dispendioso. A segunda razão teria a ver com o facto de a Austrália não querer desgostar a Indonésia que, desde a independência, tinha pretensões ao território. Para a Austrália, era preferível explorar os recursos naturais de Timor sem os encargos e os aborrecimentos que pudessem advir da responsabilidade de uma administração. Tem-se assim a impressão de que os Australianos preferiram deixar o trabalho sujo aos Indonésios.

Deste modo, a Austrália fechou os olhos a 24 anos de atrocidades cometidas pela Indonésia em Timor-Leste. Os interesses económicos estavam acima da defesa dos direitos humanos e da denúncia de crimes de genocídio. Nem o conhecimento dos crimes cometidos contra cidadãos australianos, como o lamentável caso da morte violenta de vários jornalistas em Balibó em 1975 por tropas indonésias, fariam o governo australiano modificar a sua posição.

Em 1999, após o referendo que deu a vitória à causa da independência e perante a evidência das imagens que correram mundo dos massacres engendrados pelas milícias e pelo exército indonésio, o governo de Camberra, como que seguindo a tendência da comunidade internacional, decidiu condenar a actuação da Indonésia. Com o desenrolar dos acontecimentos de Setembro de 1999, e perante as resoluções da ONU, a Austrália, escudada pelos Estados Unidos, que finalmente alteravam a sua política em relação ao apoio à Indonésia para o caso de Timor-Leste, decidiu oferecer-se para chefiar a força de imposição de paz no território.

Terá sido um oferecimento totalmente inocente, derivado tão-somente da solidariedade internacional pelo povo martirizado de Timor-Leste, ou haveria uma outra razão mais forte?
A Austrália, ao apoiar a resolução da ONU que exigia a retirada dos indonésios de Timor Leste e ao defender uma intervenção militar para impor a paz, entrou de imediato em conflito com a Indonésia. O governo de Jacarta viu nisso uma espécie de tiro nas costas. A Austrália, tendo calculado todas as consequências económicas e face ao apoio internacional à causa timorense, decidiu apostar na independência. Apoiando a causa timorense, granjeava as simpatias dos dirigentes da Resistência e poderia assim continuar o trabalho de exploração petrolífera. De acordo com relatos de vários jornalistas que foram para Timor-Leste após a entrada no território das forças de imposição de paz, a actuação da Austrália, que comandava a operação na pessoa do General Peter Cosgrove, foi de grande sobranceria no trato com a população em geral e com os membros da Resistência em particular. A protecção exagerada ao líder da resistência, Xanana Gusmão, foi bastante suspeita e originou reacções de protesto, não só dos Timorenses, como do próprio implicado.

Assim como no colonialismo eram os interesses económicos a comandar os países que o praticavam, assim, na época pós-colonial, são os mesmos interesses a comandar, sob a capa de ideologias políticas caídas em desuso ou sob a capa de um pretenso humanitarismo, os interesses de uns quantos países que não desejam perder as suas fontes de rendimento.



UM SONHO REALIZADO

Em 1994, após Suharto ter declarado, a sua indisponibilidade para a recandidatura nas eleições (realizadas de cinco em cinco anos) de 1998, instalou-se na Indonésia um período de certa instabilidade política e social. Esta declaração desencadeou uma onda de movimentações de bastidores por parte dos diferentes grupos dominantes (militares, tecnocratas e políticos apoiantes de Suharto e líderes religiosos islâmicos) de modo a fortalecerem as suas posições, permitindo ao mesmo tempo que sindicalistas, estudantes, movimentos clandestinos pró-democracia e a própria imprensa se tornassem mais arrojados nas suas reivindicações. Suharto abandonaria a presidência em Maio de 1998 e seria substituído pelo vice-presidente B. J. Habibie.

A 19 de Outubro de 1999, o Parlamento da Indonésia tomaria a decisão de anular o decreto onde constava a anexação de Timor-Leste como a 27.ª província do país. A 20 de Outubro foi eleito o novo presidente da Indonésia, o muçulmano Abdurrahman Wahid. Os problemas políticos, económicos e sociais que se tinham vindo a agravar no país, levaram a que, em Julho de 2001, Wahid fosse destituído do cargo, embora não tivesse facilmente reconhecido a sua derrota. Megawati Sukarnoputri, vice-presidente durante o mandato de Wahid, filha do primeiro presidente da Indonésia, Sukarno, tornava-se a nova líder do país.

Em Timor, a guerrilha jamais se renderia, embora com escassos meios materiais, humanos e financeiros e apesar de sofrer pesados desaires, como a deserção de dirigentes e a perda de outros, por morte em combate (Nicolau Lobato) ou por aprisionamento (Xanana Gusmão). Embora reduzida a umas escassas centenas de homens mal armados e isolados do mundo, conseguiria, nos tempos mais recentes, alargar a sua luta ao meio urbano (manifestações de massas) e manter no exterior uma permanente luta diplomática, para o que contou, em muitas circunstâncias, com a compreensão e o apoio da Igreja Católica local, liderada por D. Carlos Ximenes Belo, bispo de Díli.

Simultaneamente no exterior, Portugal, que nunca reconheceu nem a declaração unilateral da independência pela FRETILIN, nem a anexação pela Indonésia, daria corpo a uma acção de mobilização da Comunidade Internacional para a resolução do problema. Organizações humanitárias, como a Amnistia Internacional, denunciariam as violações dos direitos humanos e as conivências com o invasor; a Organização das Nações Unidas recusaria reconhecer a anexação, continuando a considerar Portugal como potência administrante, encarregando o seu Secretário-Geral de diligenciar no sentido de encontrar vias diplomáticas para a resolução pacífica do conflito e para a garantia do direito dos timorenses à autodeterminação e à independência.

A atribuição, em 1996, do Prémio Nobel da Paz a D. Carlos Ximenes Belo e a José Ramos-Horta, porta-voz internacional para a causa de Timor-Leste, indicaria uma consciencialização a nível internacional em relação ao território timorense.

Em 1998, com a queda da ditadura do General Suharto, o regime começaria a dar sinais de abertura. Em Maio de 1999, representantes das Nações Unidas seriam enviados para Timor Leste como observadores e para preparar o referendo sobre a autodeterminação dos timorenses, que se veio a realizar a 30 de Agosto de 1999, com 90% de participação e um resultado de 78,5% de votos a favor da independência de Timor-Leste. Desde então o território passaria a ser denominado de Timor Loro Sa'e.

Apesar disso, milícias pró-Indonésia continuaram a actuar no território, atacando inclusive a sede da UNAMET (os observadores das Nações Unidas) e provocando a fuga de D. Ximenes Belo para a Austrália (sua casa em Díli foi destruída por milicianos) e o asilo de José Alexandre "Xanana" Gusmão na embaixada inglesa, em Jacarta. Os assassinatos, promovidos por milícias anti-independência, armadas por membros do exército indonésio descontentes com o resultado do referendo, continuaram. As imagens despertaram protestos em vários países do mundo junto às embaixadas da Indonésia, norte-americanas e britânicas, e também junto às Nações Unidas, exigindo a rápida intervenção para cessar os assassinatos. Em Portugal nunca se viram tantas manifestações populares de norte a sul do país, desde o 25 de Abril de 1974. Pela primeira vez também a Internet foi utilizada em massa na divulgação de campanhas pró Timor e a favor da rápida intervenção da ONU. Finalmente, em 18 de Setembro partiu um contingente dos «capacetes azuis» das Nações Unidas, uma força militar internacional composta inicialmente de 2.500 homens, depois aumentados para 8 mil, incluindo australianos, britânicos, franceses, italianos, gurkas (soldados de elite nepaleses), malaios, norte-americanos, canadianos e outros, além de 51 brasileiros e 50 argentinos. A missão da força de paz era desarmar os milicianos e auxiliar na transição e na reconstrução do país. Em Portugal e em vários outros países organizaram-se campanhas para arrecadar donativos, víveres e livros. Aos poucos a situação foi sendo controlada com o desarmamento dos rebeldes e o início da reconstrução de moradias, escolas e o resto da infra-estrutura.

O referendo proclamaria por uma maioria expressa a vontade do povo de Timor-Leste seguir o seu próprio caminho. Com mais de 800.000 habitantes, quase todos católicos, divididos em dezenas de grupos étnicos e falando diversas línguas e dialectos, Timor passaria a ter uma administração transitória da ONU, através de um organismo criado para o efeito, a UNTAET (United Nations Transitory Administration of East Timor), liderado pelo brasileiro Sérgio Vieira de Mello. Tinha como prioridade a transição democrática e pacífica da jovem nação para a sua independência, para além de apoiar o programa de reinstalação de refugiados timorenses fugidos para Timor Ocidental e enquadrar uma política de captação de subsídios e apoios internacionais para a reconstrução, quer junto de doadores (estados, entidades privadas) quer junto do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional. Começou logo em Outubro de 1999 este processo de transição patrocinado pela ONU.

A reconstrução de Timor passou, prioritariamente, pela formação de uma Assembleia Constituinte, que saiu do voto popular em eleições realizadas a 30 de Agosto de 2001, para as quais concorreram 13 partidos. O recenseamento eleitoral (mais censos da população, cujo efectivo total não se conhece bem) foi levado a cabo até 20 de Junho de 2001, ainda que só 50% do trabalho tenha sido feito. Dessa Assembleia Constituinte (88 deputados), com poderes legislativos e vinculativos (ao contrário da assembleia da UNTAET, mais um fórum popular de reconciliação nacional e de debate de ideias do que um parlamento, com sede no Ginásio de Díli), resultou a elaboração e aprovação de uma Constituição nacional, garante máximo da proclamação plena da independência e fonte de leis de governação e funcionamento das novas instituições. Todo este processo constituinte teve o apoio da ONU e também do Conselho Nacional de Resistência Timorense (CNRT) e da Igreja. O CNRT, órgão consultivo composto por timorenses, de apoio à UNTAET, e que teve como presidente até Abril do mesmo ano Xanana Gusmão foi extinto a 9 de Junho de 2001, como estava previsto, depois de várias polémicas e crises internas. Com o fim do CNRT, começaria a luta partidária.

Este processo de reconstrução afigurar-se-ia difícil e penoso, algo caótico e pejado de divisões e momentos de violência, para além de problemas económicos sem fim à vista entre a população. Esta, com mais de 30% de analfabetos, não tinha, por exemplo, na sua maioria, consciência do que é uma Constituição e qual a sua importância, desejando a independência «já» e «sem estrangeiros», que têm inflacionado incrivelmente o já de si depauperado poder de compra dos timorenses, ainda pouco habituados aos ditames da sociedade consumista moderna que se impõem diariamente no território. Muitos pensavam mesmo que as eleições eram presidenciais, chamando já a Xanana «presidente» (apesar de este referir publicamente várias vezes que não desejava tal cargo), expressão do pensamento de muitos quadrantes políticos e da maior parte da população que o exigiam e não admitissem sequer um cenário político em Timor sem o antigo comandante, que goza de um estatuto de «herói libertador».
O espectro da divisão política voltou a pairar sobre Timor, como em 1974-75, quando abriu brechas à dominação indonésia. Alguns partidos mantinham simpatias com Jacarta, admitindo mesmo uma futura reintegração, embora sem recurso, em princípio, à violência das milícias; estas continuavam a semear o terror nas populações, principalmente na fronteira e nos campos de refugiados de Atambua e Kupang, no lado indonésio da ilha. O último movimento surgido, por exemplo, o CPD-RDTL, de Xavier do Amaral, incitou também à desobediência civil e ao boicote à UNTAET e ao CNRT, com manifestações por vezes violentas. O movimento era, no entanto, contra a Indonésia e a favor da independência imediata. Neste clima confuso da antecâmara das eleições de Agosto, até o próprio Xanana foi vítima em 7 de Março de 2001, na Assembleia da UNTAET de um ataque de um membro deste CPD-RDTL, que acusava o antigo comandante da Resistência Timorense de estar a entravar o processo de independência e a adiá-lo, para além de aliado da ONU.

Contudo, nas eleições de 30 de Agosto de 2001, a vitória por maioria absoluta seria conquistada pela FRETILIN. A 20 de Setembro tomou posse o primeiro Governo composto por timorenses, com um total de dez pastas ministeriais: seis estão ocupadas por membros do partido vencedor (Economia e Desenvolvimento, Justiça, Águas e Obras Públicas, Transportes e Comunicações, Administração Interna, Agricultura e Pescas), outras três estão a cargo de independentes (Educação, Cultura e Juventude, Finanças, e Saúde), o cargo de ministro do Estado, dos Negócios e da Cooperação coube a Ramos-Horta. Mari Alkatiri (secretário-geral da FRETILIN), para além de ministro de Economia e Desenvolvimento, passou a chefe do Executivo.

Foi um grande passo para a construção da independência, mas existe ainda o problema político e moral dos timorenses que são os mais de 100.000 refugiados em Timor Ocidental, controlados pelas milícias e alguns (principalmente os mais jovens) por elas treinados para depois se infiltrarem no Leste e semearem a violência novamente. As fronteiras continuaram locais perigosos (interditos a estrangeiros e severamente controladas, com dificuldades notórias, por tropas ao serviço da ONU), tendo-se registado vários incidentes com vítimas mortais, mesmo entre estrangeiros, como sucederia em 29 de Maio de 2001, em Balibó, com cinco mortos e vários feridos. O número de refugiados, difícil de concretizar, somava-se à pobreza, à ruralidade, à insegurança e as assimetrias sociais - cavadas pelos funcionários da ONU e pelos portugueses, que com os seus rendimentos inflacionavam os preços -, à falta de investimentos nacionais e internacionais em sectores estruturais e potenciadores de criação de riqueza ajudaram a dificultar o processo de reconstrução, toldado por sucessivas rivalidades étnicas entre grupos locais, como as que sucederam em Baucau e Viqueque antes da Páscoa e em Maio, acesas pela falta de cooperação dos líderes locais, que ainda dominavam certos sectores da população. Também pairava sempre sobre o futuro do território, o estado da situação político-militar na vizinha Indonésia, agitada desde a queda de Suharto e à beira da ruptura nacional.

O papel português configurou-se principalmente no ensino e formação de quadros timorenses, na segurança (PSP, GNR, outras forças de segurança) e formação de um exército nacional timorense (em fase de criação o primeiro batalhão, composto por 1.700 militares autóctones), as Forças de Defesa de Timor Leste (FDTL), no fomento económico, com a canalização de investimentos (não muitos) e fixação de interesses empresariais nacionais no território. A segurança é crucial para o desenvolvimento do território, principalmente a nível militar, procurando-se estabelecer cooperações não só com Portugal mas também com a Austrália, um grande e poderoso vizinho de Timor-Leste.

De facto, a reconstrução do território passa em grande medida pela posse e exploração das reservas marítimas (em águas timorenses) de jazidas de petróleo e gás natural, no mar entre a Austrália e a ilha de Timor, naquilo que se chama de "Timor Gap", antes sob um acordo entre Camberra e Jacarta (desde 1989), agora em negociação entre Díli e os australianos. Os valores anuais desta exploração de hidrocarbonetos no mar de Timor podem render, segundo Mari Alkatiri um montante superior ao orçamento actual da administração da UNTAET.

Mas o território pode contar com outros produtos e serviços como complemento aos hidrocarbonetos, como o turismo de qualidade (património português deixado no território e cultura timorense), o gado (muito explorado pelos indonésios), a agricultura biológica, a pesca e, principalmente, o célebre café de Timor, muito apreciado e de grande qualidade. O turismo sofre a concorrência de Bali, mas pode singrar em termos de futuro e não enveredar pelos grandes fluxos de visitantes. Será também necessário reorganizar o sector da informação e comunicação social, da promoção da imagem exterior e das acessibilidades e comunicações.
O passo decisivo para a independência de Timor-Leste foi dado a 14 de Abril de 2002, com a realização das eleições presidenciais. Xanana Gusmão, que a princípio se mostrou renitente a concorrer ao cargo de presidente, acabou por se candidatar (principalmente pela pressão do povo que o queria para o cargo) e vencer as eleições. Tornou-se no primeiro presidente da República de Timor-Leste após o período de ocupação indonésia e o período de administração provisória da ONU.

A língua oficial é o português, seguido pelo tétum. Cresce o interesse pela língua portuguesa, que vai sendo ensinada nas escolas reconstruídas, ao lado do Tétum (falado pela maioria da população) e do inglês. Uma parte dos adultos jovens (entre 18 e 30 anos), porém, aprendeu a falar apenas ou predominantemente o bahasa, durante a ocupação indonésia. A educação vai ser um dos grandes desafios do Timor Loro Sa'e independente.

A independência total de Timor Leste deu-se a 20 de Maio de 2002 com uma cerimónia oficial que contou com a presença indispensável de Kofi Annan, secretário-geral da ONU, Sérgio Vieira de Mello, responsável pelo período de transição, Xanana Gusmão, presidente de Timor Leste, Jorge Sampaio, presidente da República Portuguesa e Megawati Sukarnoputri, presidente da Indonésia. Estiveram também presentes Bill Clinton, ex-presidente dos EUA, Durão Barroso, primeiro-ministro português, António Guterres, ex-primeiro-ministro português, Ramos-Horta, Prémio Nobel da Paz em 1996 e porta-voz internacional da causa timorense, D. Ximenes Belo, Bispo de Díli e Prémio Nobel da Paz em 1996, entre outros.

De referir ainda, para finalizar, que, apesar da disseminação recente da palavra maubere referindo-se aos Timorenses, a sua origem é um nome próprio muito usado na parte ocidental do território. Como é uma região pobre, daí provinham muitas pessoas que iam trabalhar como criados para as residências portuguesas no período colonial. Assim, maubere passou a significar criado, serviçal, e também indivíduo estúpido. Ganhou assim, uma conotação pejorativa, tornando-se um termo insultuoso. Mesmo tendo sido adoptado como designação quase oficial pela ONU, e também por militantes da FRETILIN, nem todos os timorenses a aceitam.



CONCLUSÕES

A colónia de Timor, sempre constituiu mais um encargo que uma mais valia para a administração portuguesa. Dada a distância a que se encontrava e a escassez de recursos económicos óbvios, sempre teve de ser suportada por Goa e por Macau.

Talvez isso explique porque, quando da ameaça japonesa ao território, Portugal tenha tido uma atitude algo negligente no assegurar de uma defesa consistente, pelo menos, para a manutenção da sua apregoada neutralidade naquela sua possessão. Pelo contrário, embrenhou-se numa política de conciliação a todo o custo, deixando a colónia à sua sorte.

A Revolução do 25 de Abril de 1974 também não traria benefícios ao povo timorense, pois espelhando a realidade da metrópole, também no distante Timor-Leste se instalou a confusão pós-revolucionária, abrindo caminho à anexação pela Indonésia.

Finalmente, no período pós-Suharto, a nação portuguesa encontrar-se-ia numa via de redenção, procurando num movimento popular nunca visto e numa acção diplomática eficaz que aproveitou alguns, tímidos, ventos de mudança na política internacional, convencer o mundo do direito do povo timorense à sua autodeterminação, no que seria, a bem da jovem nação de Timor Loro Sa'e, bem-sucedido.

De tudo isto ressaltam as dificuldades de Portugal em encontrar o seu lugar no mundo, depois de o ter dominado nos séculos XV e XVI, as quais parecem ter-se mantido latentes na cultura política portuguesa. Se no regime salazarista se vivia uma tradição de nostalgia dos tempos áureos, procurando desesperadamente a manutenção de um «Império Colonial Português» ignorando a falta de recursos que já se fazia sentir na metrópole, no período revolucionário que se seguiu a Abril de '74 vivia-se uma atmosfera de ruptura total com a antiga ordem, optando-se por um purista «regresso às origens» no qual as antigas colónias receberiam a libertação da tutela portuguesa o mais rapidamente possível.

Ressalta também a vontade de um país pequeno em ser grande, para mostrar ao mundo o seu valor, pondo-se em «bicos dos pés» e apelando para o direito internacional, que mais não é que a expressão da vontade dos países mais fortes, os quais seguem os seus próprios interesses geoestratégicos que raramente coincidem com esse denominado direito internacional.





BIBLIOGRAFIA

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GUNN, Geoffrey C., Timor Loro Sae: 500 Anos, João Aguiar (trad.), Macau, Livros Oriente, 1999

MOREIRA, Adriano, O Drama de Timor – Relatório da O.N.U. sobre a Descolonização, Braga, Editorial Intervenção, 1976.

THOMAZ, Luís Filipe F. R., De Ceuta a Timor, Viseu, Difel, 1998, 2ª edição.

Dicionário Enciclopédico da História de Portugal, José Costa Pereira (coord.), Lisboa, Publicações Alfa, 1991, 2 vols.

Diciopédia 2003, [CD-ROM], Conceição Pinheiro, Jorge Ferreira Silva, Pedro Cunha Lopes, (coordenação editorial), Porto, Porto Editora Multimédia, s.d., [4 CD's].

Portugal no Mundo, Luís de Albuquerque (dir.), Selecções do Reader's Digest, Lisboa, Publicações Alfa, 1989, 2 vols.


Webliografia

http://www.embaixada-portugal-fr.org/timor/Timor_Oriental.html#anchor145820

http://sites.uol.com.br/drmiccoli40640/timor.htm

http://www.vol.eti.br/geo/Mostrapaisc.asp?Cod=194

http://www.ipn.pt/literatura/zips/machad02.rtf

http://www.ethnologue.com/site_search.asp

http://leitor.expresso.pt/#library/expressodiario/18-06-2015/caderno-1/ultima/40-anos-da-independencia--amanha



Bibliografia das ilustrações

Figuras 9, 10 e 11 – Google Images.







ANEXO I – Ilustrações


























Fig. 1 – Mapa político do Sudeste Asiático.














Fig. 2 – Timor Loro Sa'e.






Fig. 3 – Bandeira de Timor Loro Sa'e.












Fig. 4 – Mapa da ilha de Timor.


















Fig. 5 – Timor: almadia com balanceiro.



















Fig. 6 – Timor: baluarte da intendência.





















Fig. 7 – Vista parcial de Díli, enquanto capital da colónia portuguesa de Timor.






Fig. 8 – Timor: Cavalaria do reino do Maubara.





























Fig. 9 – Mulheres timorenses.























Fig. 10 – Homem timorense em traje tradicional.


























Fig. 11 – Dança tradicional do folclore timorense.


ANEXO II – Línguas de Timor Loro Sa'e

Línguas existentes (a negrito as mais faladas)
ADABE
[ADB] Falada por cerca de 1.000 pessoas (1981). Ilha de Ataúro, Norte de Díli na Ilha de Timor.
Dialectos: MUNASELI PANDAI.
Classificação: Australásia, Malaio-Polinésia, Centro-Oriental.
ATONI
[TMR] Falada por cerca de 14.000 pessoas (1989). Ambenu, Timor Ocidental, mas politicamente parte de Timor Loro Sa'e.
Dialectos: AMBENU (AMBENO, VAIKENU, VAIKINO, BAIKENU, BIKENU, BIQUENO).
Classificação: Australásia, Malaio-Polinésia, Centro-Oriental, Timor, Timor Central, Ocidental.
BUNAK
[BUA] Falada por cerca de 50.000 pessoas (1977).
Classificação: Trans-Nova Guiné, Ponta Sul de Timor, Alor-Pantar, Timor-Alor-Pantar, Bunak.
FATALUKU
[DDG] Falada por cerca de 30.000 pessoas (1989). Extremo Oriental da Ilha de Timor próximo de Los Palos.
Classificação: Trans-Nova Guiné, Ponta Sul de Timor, Alor-Pantar, Timor-Alor-Pantar, Fataluku.
GALOLI
[GAL] Falada por cerca de 50.000 pessoas (1981). Costa Norte entre Mambae e Makasae, regiões de Laklo, Manatutu, Laleia, e We-Masin, Ilha de Wetar.
Dialectos: NA NAHEK, EDI, DADUA, GALOLI, BABA, HAHAK.
Classificação: Australásia, Malaio-Polinésia, Centro-Oriente, Malaio-Polinésia Central, Timor, Timor Central, Oriental.
HABU
[HBU] Falada por cerca de 1.000 pessoas (1981). Timor Oriental, Nordeste de Laclubar e na língua Idate.
Classificação: Australásia, Malaio-Polinésia, Centro-Oriental, Malaio-Polinésia Central, Timor Central, Timor, Waima'a.
IDATÉ
[IDT] Falada por cerca de 5.000 pessoas (1981). Centro Oriental de Timor, montanhas de parte da região de Laclubar, rodeado por Mambae, Galoli, Kairui e Tetun.
Classificação: Australásia, Malaio-Polinésia, Centro-Oriental, Malaio-Polinésia Central, Timor, Timor Central, Oriental.
KAIRUI-MIDIKI
[KRD] Falada por cerca de 2.000 pessoas (1981). Centro Oriental de Timor, pequena região montanhosa rodeada por Makasae, Waima'a, Tetun, Galoli.
Dialectos: KAIRUI, MIDIKI (MIDIK).
Classificação: Australásia, Malaio-Polinésia, Centro-Oriental, Central Malaio-Polinésia, Timor, Timor Central, Waima'a.
KEMAK
[KEM] Falada por 50.000 pessoas ou mais (1981). Dialectos: NOGO (NOGO-NOGO), KEMAK.
Classificação: Australásia, Malaio-Polinésia, Centro-Oriental, Central Malaio-Polinésia, Timor, Timor Central, Oriental.
LAKALEI
[LKA] Falada por cerca de 5.000 pessoas (1981). Timor Central, Norte de Same, Norte Oriental de Ainaro.
Classificação: Australásia, Malaio-Polinésia, Centro-Oriental, Central Malaio-Polinésia, Timor, Timor Central, Oriental.
MAKASAE
[MKZ] Falada por cerca de 70.000 pessoas (1989). Ilha de Timor, extremo Oriental findando próximo de Baucau e interior Oeste de Fataluku, da Costa Norte à Costa Sul num dialecto encadeado.
Dialectos: MAKLERE, MAKASAI.
Classificação: Trans-Nova Guiné, Ponta Sul de Timor, Alor-Pantar, Timor-Alor-Pantar, Makasai-Alor-Pantar, Makasai.
MAKU'A
[LVA] Falada por cerca de 50 pessoas (1981). Ponta Norte Oriental da Ilha de Timor, próximo de Tutuala.
Classificação: Trans-Nova Guiné, Ponta Sul de Timor, Alor-Pantar, Timor-Alor-Pantar, Maku'a. Quase extinta.
MAMBAE
[MGM] Falada por cerca de 80.000 pessoas (1981).
Dialectos: DAMATA, LOLEI, MANUA, MAMBAI.
Classificação: Australásia, Malaio-Polinésia, Centro-Oriental, Central Malaio-Polinésia, Timor, Timor Central, Oriental.
NAUETE
[NXA] Falada por cerca de 1.000 pessoas (1981). Costa Sul, Ponta Oriental de Timor, Oeste de Tiomar. A cidade principal é Uato Lari.
Dialectos: NAUMIK, OSO MOKO.
Classificação: Australásia, Malaio-Polinésia, Centro-Oriental, Central Malaio-Polinésia, Timor, Timor Central.
PORTUGUÊS
[POR] Língua oficial. Classificação: Indo-Europeia, Itálica, Romana, Italo-Ocidental, Ocidental, Gálico-Ibérica, Ibero-Romana, Ibérica Ocidental, Português-Galaico.
TETUM PRASA
[TDT] Língua oficial. Falada por cerca de 50.000 pessoas (1995). Os primeiros a falar a língua concentraram-se em Dili e nos arredores, na Costa Norte de Timor Loro Sa'e. Posteriormente espalharam-se amplamente através dos 2/3 Ocidentais de Timor.
Classificação: Creoulo, base Tetun.
TETUN
[TTM] Timor Loro Sa'e Ocidental na Costa Sul desde Suai até Viqueque. Região Oriental de Atoni, Oeste de Bunak (em Batagude) próximo de Batibó e no interior da Costa Sul próximo de Viqueque e Soibada.
Classificação: Australásia, Malaio-Polinésia, Centro-Oriental, Central Malaio-Polinésia, Timor, Timor Central, Oriental.
TUKUDEDE
[TKD] Falada por cerca de 50.000 pessoas (1981). Ilha de Timor, Costa Norte, regiões de Maubara e Liquiçá desde as margens do Rio Lois até Dili.
Dialectos: KEHA (KEIA), TUKUDEDE.
Classificação: Australásia, Malaio-Polinésia, Centro-Oriental, Central Malaio-Polinésia, Timor, Timor Central, Oriental.
WAIMA'A
[WMH] Falada por cerca de 3.000 pessoas (1981). Costa Norte-Oriental da Ilha de Timor, enclave no interior da área de língua Makasae.
Classificação: Australásia, Malaio-Polinésia, Centro-Oriental, Central Malaio-Polinésia, Timor, Timor Central, Waima'a.
Línguas extintas
PIDGIN, TIMOR
[TVY] Ilha de Timor, próximo de Bidau, Dili e Lifan.
Dialectos: PORTUGUÊS DE BIDAU, MACAÍSTA.
Classificação: Creoulo, base Português.






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