Substantivos portugueses não flexionam em gênero

June 30, 2017 | Autor: Oto Vale | Categoría: Morphosyntax, Portuguese Gender History, Portuguese Morphology
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Revista PaLavra, no. 12, 2004. Série Linguagem.Volume Temático: Processamento Automático do Português. Org.: DIAS, Maria Carmelita & QUENTAL, Violeta ISSN 1413-7763 Edições Galo Branco, 2004. Capítulo: Substantivos portugueses não flexionam em gênero páginas 193-209

Substantivos portugueses não flexionam em gênero

Oto Araújo Vale (Universidade Federal de Goiás) RESUMO: No presente trabalho parte-se da hipótese de que a chamada flexão de gênero dos substantivos em português seria um aspecto funcional que está num continuum com a flexão em gênero dos adjetivos. Para comprovar a hipótese, examinaram-se as formas dos substantivos que podem flexionar em gênero em português: os nomes de animais e alguns substantivos que se referem a seres humanos. No caso dos nomes de animais, verifica-se que as formas passíveis de flexão estão apenas em torno de um terço do efetivo. Para o caso dos substantivos que designam seres humanos, fez-se apelo à noção de classe de objeto, chegando-se à conclusão que esses substantivos são derivados de uma frase copular construída inicialmente com um adjetivo em posição predicativa. Esses substantivos que designam seres humanos seriam assim resultado de uma conversão de adjetivos de forma idêntica.

ABSTRACT: In this paper it will be discussed the hypothesis that noun gender inflection in Portuguese could be a functional aspect which is in a continuum along with adjectival gender inflection. In order to prove this hypothesis, some nouns that do have gender inflection were examined, namely animal names and some nouns referring to human beings. In the case of animal names, it is verified that inflection occurs in just a third of the nouns which could actually inflect. As for the nouns referring to human beings, the notion of object classes is used, and it was concluded that these nouns are derived from a copular sentence, which was initially constructed with an adjective, in predicative position. Thus, these nouns that refer to human beings would result from a conversion of identical adjectives.

Na constituição de um dicionário eletrônico, a listagem das formas deve ser a mais completa possível. Isso diz respeito tanto às formas canônicas quanto às formas flexionadas. Para uma língua como o português, isso quer dizer que um dicionário destinado à utilização em máquina deve existir uma descrição bastante extensiva das formas flexionadas – normalmente ausentes dos dicionários destinados aos seres humanos (Gross, 1989). Assim, no caso do português, além de um compilação exaustiva dos paradigmas de flexão verbal (Vale, 1989), é

importante que outras classes como os substantivos e os adjetivos tenham sua flexão bem descrita. Em Muniz (2004) estabeleceu-se um dicionário eletrônico do português do Brasil no formato DELA (Silberztein 1994; Paumier, 2002), chegando a um total de 378 regras de flexão para os substantivos e 242 regras para os adjetivos. Esses números devem-se ao fato do dicionário eletrônico considerar as flexões em gênero, número e as regras de formação de diminutivos, aumentativos e superlativos. Assim, Muniz (2004:38) estabelece

para

substantivos e adjetivos um total de 149 regras de flexão em gênero e número, 153 para diminutivos, 78 para superlativos e 72 para aumentativos.O fato de Muniz considerar esses três últimos tipos de formação como flexões pode parecer estranho para lingüistas acostumados a trabalhar com uma certa fronteira entre flexão e derivação. De fato, pelo menos desde os trabalhos de Camara Jr tende-se a considerar tais formações como derivação. No presente trabalho parte-se da leitura de Bybee (1985) e de Camara Jr (1986, 1976 e 1985), Gross (1995b) e Gross (1994, 1995a) para tratar da flexão em gênero dos substantivos. Ao se examinar as distinções entre flexão e derivação, principalmente no que se refere àquilo que a gramática tradicional nomeia flexão em grau, chama a atenção o tratamento que Camara Jr dá à flexão em gênero. Se seguirmos à risca a argumentação de Camara Jr sobre o caráter obrigatório da flexão e os conceitos de relevância (Bybee,1985:4) e generalidade (Bybee, 1985:16-17), chegamos a uma curiosa conclusão: os substantivos portugueses não flexionam em gênero. A questão poderia ser colocada da seguinte maneira: se existe flexão em gênero nos substantivos, qual é o feminino de retrato ou de entendimento e qual é o masculino de cadeira ou de realização? Em outras palavras, por que um certo mecanismo da língua faz com que os únicos substantivos que flexionam em gênero sejam aqueles que se referem a animais e seres humanos? A idéia de generalidade parece aí esbarrar em um tipo de restrição. De fato, a flexão de gênero, nos substantivos, é exclusivamente aplicável a esse tipo de nomes. Já para os adjetivos, a flexão é obrigatória. Embora algumas gramáticas apontem como exceção o caso de adjetivos cuja forma feminina é idêntica à forma masculina, como, por exemplo, gentil, nobre, azul, chamados uniformes (Bechara, 2000:147;

Neves,

2000:223), é interessante notar que esses adjetivos podem também ter uma forma diminutiva – gentilzinho, nobrezinho, azulzinho – que, por sua vez, admite flexão em gênero: gentilzinha, nobrezinha, azulzinha.

Examinaremos inicialmente a problemática daquilo que a gramática tradicional denomina flexão em grau, à luz de Camara Jr e de Bybee. Esse exame será feito rapidamente, apenas para apresentar o argumento que pretendemos ressaltar para o cerne do presente trabalho: a questão da flexão em gênero em português. Nossa hipótese consiste pois no seguinte: a flexão em gênero dos substantivos em português seria um aspecto funcional que apresenta um continuum derivado da flexão em gênero dos adjetivos. Assim, poderíamos afirmar que os substantivos que flexionam em gênero no português seriam, em realidade, adjetivos que funcionalmente ocupam o lugar dos substantivos. Mas, se retomamos o que Basílio (1992) chama de conversão, podemos estabelecer uma classe bastante delimitada no que diz respeito a esses substantivos. Nosso propósito será então o estabelecimento de determinadas classes de objeto (Gross, 1994, 1995a; Le Pesant & Mathieu-Colas, 1998) aplicáveis no tratamento automatizado de linguagem natural. Pode-se definir classe de objeto como uma classe semântica construída a partir de critérios sintáticos. Cada classe é composta por unidades selecionadas por determinados predicados (Le Pesant & Mathieu-Colas, 1998:6). Tentaremos assim demonstrar que os substantivos flexionáveis em gênero que se referem a seres humanos devem ser estudados segundo uma classificação que leve em conta sua especificidade no que diz respeito a esse aspecto morfológico. De acordo com Corbett (1991), o gênero, nas línguas que o têm, é sempre intrínseco aos substantivos. No caso do português, os substantivos são a única classe da palavras a ter um gênero intrínseco. Outras classes como os adjetivos, pronomes e determinantes possuem flexão em gênero: os adjetivos e os determinantes flexionam de acordo com os substantivos que acompanham, e os pronomes flexionam de acordo com os substantivos aos quais se referem. Na gramática tradicional (cf. NGB) considera-se que tanto adjetivos como substantivos possuem flexão em gênero e número(1). Em algumas gramáticas tradicionais existe também a menção à flexão em grau para os adjetivos(2). Camara Jr demonstra que a flexão em grau na verdade seria um tipo de derivação. Essa demonstração se dá fazendo apelo ao latim, uma vez que naquela língua havia uma regra que determinava a obrigatoriedade da flexão em grau. “Em latim, o morfema gramatical issimus pertencia a um complexo flexional ao lado de –ior, próprios dos adjetivos num tipo de frase que se estabelece a comparação entre dois termos, para se afirmar que aquele referente ao adjetivo marcado por tal sufixo é

superior ao outro. (...) Para um adjetivo latino felix /fe'liks/ «feliz», havia obrigatória e correntemente as formas felicier e felicissimus, que se empregavam em condições bem determinadas, e sistematicamente com exclusividade, em lugar de felix: homo felix «homem feliz»; homo felicier lupo «o homem é mais feliz do que o lobo»; homo felicissimus animalium «o homem é o mais feliz dos animais»” (Camara Jr 1986:83) Já em português tal não ocorre, posto que as formas superlativas não são obrigatórias e para se estabelecer comparações é necessário usar mais... que. Assim, aquilo que é chamado pelos gramáticos tradicionais de flexão em grau para os adjetivos seria na realidade um tipo de derivação, pois não há obrigação em usar adjetivos como felicíssimo, facílimo ou nigérrimo. Camara Jr argumenta: “Em primeiro lugar, não há obrigatoriedade no emprego do adjetivo com esse morfema de «superlativo» ou grau intenso. É a rigor uma questão de estilo ou de preferência pessoal. (...) Em segundo lugar, estamos muito longe de uma sistematização coerente, para todos os adjetivos ou pelo menos para uma classe formal bem definida, como sucede para a flexão de plural com os adjetivos em geral e para a flexão de feminino com os adjetivos terminados em –o. Nenhum jogo de concordância, por outro lado, como há para o número e o gênero entre substantivo e adjetivo.” (Camara Jr, 1976:49-50). Assim, no que tange aos nomes (i.e. substantivos e adjetivos) só se poderia falar de flexão em número e gênero. Entretanto, Camara Jr não trata os casos que podemos considerar mais comuns sobre a flexão em grau: os dos sufixos -ão e -inho/-inha. O único momento em que passa tangencialmente pelo problema é para descartar as formas de superlativo: “Na realidade, o que se tem com os superlativos é uma derivação possível em muitos adjetivos, como para os substantivos há a possibilidade dos diminutivos e para alguns (não muitos) a dos aumentativos. Anote-se a propósito que o conceito semântico de grau abrange tanto os superlativos como os aumentativos e diminutivos. Por isso, Otoniel Motta considerou aumentativos e diminutivos uma «flexão» dos substantivos, pelo exemplo dos superlativos (Motta), porque não ousou considerar os superlativos uma derivação, como são muito logicamente considerados aumentativos e diminutivos por toda gente” (Camara Jr 1986:83).

Assim, Camara Jr considera as formas do aumentativo e diminutivo unicamente como formas derivadas. No entanto, embora não possamos dizer que exista um caráter obrigatório para o aparecimento desses sufixos, notamos que eles têm uma certa regularidade: pelo menos no que se refere aos diminutivos, podemos aplicar esses sufixos a um grande número de

substantivos e adjetivos. Assim, a concepção de flexão diz respeito, segundo Camara Jr, sobretudo à obrigatoriedade. Essa obrigatoriedade é, de fato, um dos fatores que distinguem a flexão da derivação (Bybee 1985: 27). É com base nela que desenvolveremos mais adiante nossa argumentação. Bybee (1985) tem como tese central em sua obra a idéia de que certas categorias consideradas como discretas na verdade apresentariam um continuum e que sua distinção seria bem menos evidente do que fariam notar as correntes, digamos, tradicionais da morfologia. Bybee formula assim sua hipótese central: “A major hypothesis developed and tested in this book is the hypothesis that the degree of morpho-phonological fusion of an affix to a stem correlates with the degree of semantic relevance of the affix to the stem. The semantic relevance of an affix to a stem is the extent to which the meaning of the affix directly affects the meaning of the stem”. (Bybee 1985:4)

O conceito de relevância é assim definido: “A meaning element is relevant to another meaning element if the semantic content of the first directly affects or modifies the semantic content of the second.” (Bybee 1985:13)

No que se refere ainda à flexão, outro conceito fundamental para Bybee é o de generalidade, assim definido: “The second factor that needs to be taken into consideration in determining what can be an inflexional category is lexical generality. By definition an inflectional category must be applicable to all stems of the appropriate semantic and syntactic category and must obligatorily occur in the appropriate syntactic context. If a semantic element has high content, i.e. is very specific, it simply will not be applicable to a large number of stems.”(Bybee, 1985:16-17)

Quando examinamos o mecanismo da flexão nominal em português, algo salta aos olhos: os adjetivos têm sua flexão obrigatória para concordarem com o substantivo que acompanham.

Essa flexão se faz em gênero e número. Assim, se tomamos o adjetivo vermelho, sua flexão será obrigatória de acordo com o substantivo: O livro vermelho Os livros vermelhos A fita vermelha As fitas vermelhas.

Em alguns casos em que isso não ocorre, pode-se postular a existência de uma conversão de adjetivo para advérbio (Basílio, 1992:90-97) (3). Mas o mesmo não ocorre com os substantivos. Ou seja: não encontramos a priori situações em que os substantivos tenham que concordar com alguma coisa. Ao contrário: é sempre ele o elemento que aciona a concordância. Esse fenômeno é geral para as línguas românicas. Camara Jr nos faz ver que, no que diz respeito à flexão em gênero, algo interessante ocorria em latim: “É importante observar, para a tipologia nominal latina, que, enquanto a expressão do caso e do número era nítida no substantivo, a do gênero só se tornava, em princípio, claramente explícita através de um adjetivo.” (Camara Jr 1985: 72).

Essa observação à primeira vista é um tanto quanto intrigante. Efetivamente, um dos ensinamentos de base da gramática tradicional diz respeito à flexão em gênero e número dos substantivos. No entanto, basta que observemos um pouco para notar que a "flexão em gênero" pode ser aplicada apenas a dois tipos de substantivo: os que nomeiam seres humanos e os que nomeiam animais. Assim, para os outros substantivos teremos um tipo de flexão que diz respeito simplesmente ao número. Ou seja, se tomamos um substantivo como livro não temos seu correspondente no feminino, mas temos a flexão livros para o plural. Mas não é exatamente o que diz Camara Jr: “Há, entretanto, a possibilidade de flexão de feminino para os nomes substantivos. Têm-na não só os substantivos de tema em -o, mas alguns de tema em -e, o que não sucede com os adjetivos (...).Em relação a nomes para seres humanos, a tendência é dar flexão de feminino, de acordo com o sexos, aos substantivos em -e (como é o caso de mestre : mestra, e na língua coloquial - parente : parenta ) e aos que terminam em consoante. Neste último caso, a adjunção da desinência -a se faz sem alteração morfofonêmica (autor : autora, espanhol : espanhola, freguês : freguesa). Essa

tendência se fixou como regra geral, a partir do português clássico, nos nomes derivados pelos sufixos (d/t)or e -ês, que não são suscetíveis de emprego como substantivo e adjetivo” (Camara Jr 1985: 84-85)

Além disso, Camara Jr cita o fato de que a flexão em gênero causa uma mudança semântica para certos substantivos em português. Esse seria o caso de barco e barca, ou porto e porta, jarro e jarra. Na realidade, o gênero é uma distribuição em classes mórficas, para os nomes, da mesma sorte que o são as conjugações para os verbos. A única diferença é que a oposição masculino-feminino serve frequentemente para em oposição entre si distinguir os seres por certas qualidades semânticas como para as coisas as distinções como jarro-jarra, barco-barca, etc., e para os animais e as pessoas a distinção de sexo, como urso-ursa, menino-menina. (...)(Camara Jr, 1986:88-89)

Aqui está, a nosso ver, o cerne da questão: o fato de haver oposições com barco/barca demonstra a existência de um determinado tipo de valor para as vogais temáticas -o e -a distinto daquele que normalmente lhes é atribuído, ou seja, essas vogais temáticas causam modificações semânticas nos substantivos que vão além da flexão em gênero (cf. Bechara, 2000: 131-140). Se considerássemos verdadeira a existência de flexão em gênero para os substantivos, deveríamos estabelecer que todos os substantivos devem ter essa flexão ou, pelo menos, a esmagadora maioria deles. Seguimos aqui o conceito de generalidade de Bybee (1985), ou seja: “(...) an inflectional category must be applicable to all stems of the appropriate semantic and syntactic category and must obligatorily occur in the appropriate syntactic context”(grifos meus). Ora, se quando falamos de flexão falamos de obrigatoriedade, fato que efetivamente ocorre com as formas verbais em relação às pessoas e com os adjetivos que concordam com os substantivos de uma maneira sistemática, ou ainda com o plural dos substantivos, percebemos que a flexão em gênero não é aplicável a todos os substantivos em português, mas somente àqueles que se referem a seres humanos e a animais. Poder-se-ia creditar essa restrição ao fato da divisão de gênero em português ser baseada apenas na oposição masculino/feminino semelhante à divisão dos sexos. Essa divisão é semelhante em outras línguas românicas. Todo substantivo em português, em espanhol ou

francês pertence ou ao gênero masculino ou ao feminino. Mesmo que possamos aventar a existência de um neutro (para, por exemplo os pronomes impessoais em francês em frases como Il pleut) formalmente temos apenas masculino e feminino. Já os adjetivos flexionam sempre em gênero. Em outras línguas indo-européias a divisão se faz em três gêneros – masculino, feminino e neutro(4). Em casos como o do inglês o gênero se mostra apenas nos pronomes. É o que Corbett (1991:5) chama de “sistemas de gênero pronominal”: “Most scholars working on agreement include the control of anaphoric pronouns by their antecedent (the girl..she) as part of agreement. If this is accepted, then languages in wich pronouns present the only evidence for gender should be recognized as having a gender system. This is the approach we shall adopt but, because it is not universally accepted we shall call such systems 'pronominal gender systems'.”

Eis, então, o problema: se não existe obrigatoriedade, como se pode afirmar que há flexão? De fato o que podemos notar é que somente alguns substantivos flexionam em gênero. Poderse-ia argumentar que a flexão em gênero é obrigatória apenas para os substantivos que designam seres animados (i.e. humanos e animais). Assim, seria suficiente dividir os substantivos em dois grupos - animados e não-animados - para dar conta de um sistema de flexão. Parece-nos, no entanto, necessário estabelecer metodologicamente uma divisão dos substantivos em três grupos: 1- substantivos não-animados; 2- substantivos que designam animais; 3- substantivos que designam seres humanos. Notaremos em seguida que esses três grupos possuem comportamentos morfológicos aparentemente diferenciados no que se refere ao gênero. Mas, em realidade, todos eles poderão ser classificados dentro de uma única regra geral, ou seja, os substantivos possuem gênero mas não flexionam em gênero. Vejamos inicialmente o que Camara Jr (1986) diz a respeito do gênero: “A flexão de gênero é exposta de uma maneira incoerente e confusa nas gramáticas tradicionais do português. Em primeiro lugar em virtude de uma incompreeensão semântica de sua natureza. Costuma ser associada intimamente ao sexo dos seres. (...)

A segunda incoerência e confusão na descrição do gênero em português está em não se ter feito a distinção imprescindível entre flexão de gênero e certos processos lexicais ou sintáticos de indicar o sexo. É comum lermos nas nossa gramáticas que mulher é o feminino de homem. A descrição exata é dizer que o substantivo mulher é sempre feminino, ao passo que outro substantivo, a ele semanticamente relacionado, é sempre do gênero masculino.”(Camara Jr 1986:88-89) Mais a frente encontramos: “É preciso não esquecer, entretanto, que a flexão de gênero é, em princípio, um traço redundante nos nomes substantivos portugueses. E muitos substantivos não a têm sequer.(...) A descrição do gênero nominal, que acabamos de discutir, sugere algumas regras, muito diferentes das que confusa e incoerentemente oferecem as nossas gramáticas 1. Nomes substantivos de gênero único; ex.: (a) rosa, (a) flor, (a) tribo, (a) juriti, (o) planeta, (o) amor, (o) livro, (o) colibri. 2. Nomes de 2 gêneros sem flexão; ex.: (o,a) artista, (o,a) intérprete, (o,a) mártir. 3. Nomes substantivos de 2 gêneros, com uma flexão redundante; ex.: (o) lobo, (a) loba; (o) mestre, (a) mestra; (o) autor, (a) autora.”(Camara Jr 1986: 91-92). Podemos notar que o critério de Camara Jr, absolutamente formal, é – em si – coerente. No entanto, talvez justamente por causa dos critérios formais que adota, Camara Jr não observa o fato de que os únicos substantivos que flexionam em gênero são os que designam seres animados. Além disso, devemos reter o fato de que Camara Jr não considera como flexão em gênero pares como imperador/imperatriz, galo/galinha ou ainda perdiz/perdigão: “Dizer que -triz, inha ou -ão são aí flexões de gênero é confundir flexão com derivação” (Camara Jr 1986: 89). Retomemos então o problema: segundo Bybee, a flexão deve ser absolutamente regular e deve se aplicar a todos os casos. Ora, isso não se aplicaria a todos os substantivos, mas apenas aos que se referem a animais e seres humanos. Cabe-nos, pois, para demonstrar nossa hipótese, verificar que nem todos os substantivos referentes a animais nem os que se referem a seres humanos flexionam em gênero. Verifiquemos inicialmente o que ocorre com os substantivos referentes aos animais. Selecionamos 140 nomes no dicionário Aurélio do Sec XXI. Optamos por selecionar apenas nomes simples de mamíferos, aves, anfíbios e répteis (dentre os insetos apenas: abelha, cupim e formiga), sem fazer uma busca sistemática dos demais nomes apontados em cada verbete.

Nessa lista de nomes, verificamos aqueles que têm forma masculina e feminina e aqueles aos quais podemos aplicar a definição de flexão em gênero de Camara Jr. Dividimos o total nas seguintes classes: a - Formas flexionadas: nomes de animais que admitem feminino de acordo com os paradigmas masculino/feminino definidas por Camara Jr (1986) (ex.: gato/gata); b - Formas derivadas: nomes de animais cujas formas masculina e feminina estão em uma relação de derivação (Camara Jr 1986: 92) (ex.: galo/galinha); c - Formas diversas: nomes de animais cujas formas masculina e feminina não têm, pelo menos aparentemente, nenhuma relação morfológica entre si (ex.: bode/cabra, boi/vaca)(5); d - Somente forma masculina: nomes de animais que não possuem forma feminina (ex.: alce); e - Somente forma feminina: nomes de animais que não possuem forma masculina (ex.: anta); f - Formas idênticas: nomes de animais cuja forma masculina e a forma feminina são idênticas (ex.: gambá); g - Formas passíveis de flexão: nomes de animais femininos terminados em -a e masculinos terminados em -o, que não possuem formas do outro gênero, mas que poderiam admitir essa flexão (ex.: zebra, hipopótamo, alpaca, arminho).

Esta última classe tem uma formulação cuja consistência é um tanto quanto duvidosa. Sabemos bem que não ocorrem formas como *zebro, *hipopótama, *alpaco ou *arminha. Optamos por incluí-la aqui apenas para testar nossa hipótese. Os substantivos que a ela pertencem também pertencem às classes (d) e (e). É necessário também notar que formas como elefante-elefanta/aliá fazem com que alguns substantivos pertençam a mais de uma classe, o que explica que a soma das porcentagens das classes (a) a (e) seja superior a 100%. Obtemos os seguintes resultados: Quadro 1 - Distribuição das formas masculina e feminina de nomes de animais no Aurélio Eletrônico (v.2.0)

Efetivo Proporção

Formas flexionadas

Formas derivadas

Formas diversas

Somente forma masculina

Somente forma feminina

Formas idênticas

Formas passíveis de flexão

29

8

13

55

35

4

22

20,71%

5,71%

9,29%

39,29%

25%

2,86%

15,71%

Pode-se notar por esses números que a porcentagem dos nomes que admitem flexão representa pouco mais que a quinta parte dos nomes de animais que entraram no critério. São eles: búfalo-búfala cachorro-cachorra camelo-camela canário-canária cervo-cerva coelho-coelha corço-corça elefante-elefanta galgo-galga gamo-gama ganso-gansa gato-gata javali-javalina jumento-jumenta leão-leoa

leitão-leitoa lobo-loba macaco-macaca marreco-marreca mulo-mula pato-pata pavão-pavoa periquito-periquita peru-perua porco-porca rato-rata sapo-sapa urso-ursa veado-veada.

Portanto, ser formos considerar o universo estudado, as formas que apresentam flexão em gênero formam um grupo pequeno. Mesmo que somássemos a esse grupo aquele das formas passíveis de flexão obteríamos pouco mais de um terço do universo estudado. Portanto, não podemos considerar a flexão em gênero uma regra geral para os substantivos que nomeiam animais. Pelo contrário, a grande maioria é justamente a dos nomes que possuem apenas ou a forma masculina ou a forma feminina (as listas dos nomes por classes está no Anexo). Como já mencionamos anteriormente, nossa hipótese consiste no seguinte: os substantivos que flexionam em gênero no português são, em realidade, adjetivos que funcionalmente ocupam o lugar dos substantivos. Teríamos alguma dificuldade para enquadrar nela os substantivos que nomeiam animais, mas ao demonstrar que, dentre esses substantivos, os que apresentariam flexão em gênero são em realidade minoria, voltamos àquilo que Bybee chama de “correspondência entre forma e significado”. Ou seja, quando temos formas tão diversas como bode-cabra, touro-vaca, o que temos é, sem dúvida alguma, uma correspondência entre formas e significados. Assim, para um caprino, a forma bode corresponde a um significado como [caprino macho] e a forma cabra corresponde a [caprino fêmea], assim como touro corresponderia a [bovino macho] e vaca a [bovino fêmea]. As formas que permitem flexão em

gênero seriam exceções, que também permitiriam pensar nessa correspondência entre forma e significado. Dessa maneira, e visto que os substantivos inanimados não possuem flexão em gênero (cf. o caso de barco/barca e porto/porta acima), resta-nos apenas investigar os substantivos que nomeiam seres humanos. Com efeito, os substantivos pertencentes a esse grupo parecem ser naturalmente candidatos a flexionar em gênero. O problema, quando tratamos desse grupo, é que os substantivos que designam seres humanos apresentam uma grande diversidade. De fato, Gross (1995a) mostra que esses substantivos que, num primeiro momento, podem parecer facilmente delimitáveis, apresentam uma série de características que apontam no sentido de se estabelecer um refinamento bastante detalhado de sub-classes À noção de humano, por exemplo, são associadas algumas classes que estão longe de serem homogêneas. Gross (1995a:94-95) estabelece, dentre outras, uma classe particular de substantivos humanos constituída por ligação com locativos e topônimos. Por exemplo os substantivos derivados de nomes de países (Brasil, brasileiro; França, francês), regiões/estados (Nordeste, nordestino; Santa Catarina, catarinense; Goiás, goiano; São Paulo, paulista), cidades (Brasília, brasiliense; São Paulo, paulistano; Salvador, soteropolitano) apresentam problemas para a tradução. Por exemplo, a tradução para inglês ou francês das seguintes frases só pode ser feita através de paráfrases: Os paulistas extinguiram 55 mil vagas em fábricas. (FSP 16/03/1997) A partir da segunda-feira, os paulistanos vão degustar Monet (FSP 23/05/1997). Os são-paulinos seguem invictos sob o comando do técnico uruguaio. (FSP 12/05/1997) Aqui notaremos algo interessante: esses substantivos têm adjetivos de forma idêntica. De fato, podemos verificar que esses substantivos que, em boa parte, admitem flexão de gênero são também apontados como adjetivos em sua imensa maioria pelo dicionário. Assim, quando tais

substantivos forem tratados num dicionário eletrônico construído para, por exemplo, a tradução automatizada, esse tipo de informação deve ser explicitada de alguma maneira. Um outro grupo de substantivos "humanos" é a dos nomes que designam profissão. O que se nota, tanto para o grupo anterior quanto pra este é o fato de podemos considerá-los como substantivos predicativos. Aqui está, a nosso ver, a chave do problema. Tomemos alguns termos que designam profissões: advogado, engenheiro, professor. Partimos das seguintes frases: (1.a) Rui é advogado (1.b) Rui é engenheiro (1.c) Rui é professor

Nessas frases, notamos que advogado, engenheiro e professor funcionam como adjetivos. No entanto, basta introduzirmos um artigo indefinido (Gross, 1995b) para termos substantivos nessas posições: (1.a) Rui é um advogado (1.b) Rui é um engenheiro (1.c) Rui é um professor

Para termos esses adjetivos/ substantivos em sua forma feminina, necessariamente o nome próprio que se encontra à esquerda da cópula deve também ser feminino (6): (2.a) Ana é advogada (2.b) Ana é engenheira (2.c) Ana é professora (2.a) Ana é uma advogada (2.b) Ana é uma engenheira

(2.c) Ana é uma professora mas: (1.d) * Rui é advogada

Portanto, podemos que considerar os substantivos que designam profissões funcionam, de fato, como adjetivos. Assim, o que podemos dizer é que todos os substantivos que designam ser humano e que flexionam em gênero, poderiam ser considerados como conversões (Basílio, 1992) de adjetivos que podem ocupar a posição à direita numa frase copular cujo elemento da esquerda é um nome próprio referente a um ser humano. Retomando aqui um procedimento proposto por Harris (1971: 19-20) para uma análise baseada em elementos classificatórios dentro da língua, teríamos, formalmente a regra que converteria o adjetivo que concorda com o sujeito de uma frase copular em um substantivo de morfologicamente idêntico à aquele adjetivo: (A)

N-p-h-masc é Adj-masc.=> N-p-h-masc é um Susbt-masc. N-p-h-fem é Adj-fem.=> N-p-h-fem é uma Susbt-fem.

Assim, em ocorrências como: O governo pediu a prisão e extradição da advogada, o que foi concedido, mas ela fugiu para a Costa Rica.(FSP 30/01/1997) Precisamos de um programa de TV estrelado por uma engenheira de software anoréxica e bonita (FSP 23/02/1997) Mas, antes de recuperar a memória, a professora recupera seus reflexos na cozinha, sob o olhar espantado do marido. (FSP 15/01/1997)

o fenômeno de conversão se dá em função desses substantivos poderem ser considerados como substantivos humanos predicativos (Gross, 1995a: 75-76), advindos de uma frase copular. Assim, os substantivos que se referem a seres humanos que podem ser relacionados a

nomes próprios como na fórmula (A), podem ser classificados funcionalmente como substantivos, mas advindos de conversão de formas adjetivais. Nosso propósito era demonstrar a inexistência de flexão de gênero nos substantivos do português. De fato, o que verificamos foi que nos dois em que se considera esse tipo de flexão temos dois fenômenos distintos. No caso dos substantivos que nomeiam animais, verificamos que aqueles que admitem flexão são minoria. Em realidade, nossa amostra estava longe de ser exautiva. No entanto, à medida que fôssemos incorporando mais nomes da animais a nossa lista, o que veríamos é que a proporção dos que admitem flexão em gênero tenderia a diminuir. Bastaria, por exemplo, fazer a inclusão dos nomes de peixe para obter uma menor proporção dos que admitem "flexionáveis" na lista. Cabe salientar, entretanto, que não tratamos no presente trabalho da existência de alguma regularidade possivelmente existente dentre os nomes de animais flexionáveis em gênero. No caso dos substantivos que nomeiam seres humanos, o procedimento que utilizamos aponta para um estudo mais aprofundado desse tipo de substantivo. Seria o caso, por exemplo, de verificar se existem substantivos que não se enquadrem na frase copular, o que não nos parece provável. Cabe também lembrar que o estudo desse tipo de substantivo tem bastante importância para o processamento de linguagem natural. Assim, na construção de dicionários eletrônicos do português a constituição de classes bem delimitadas faz-se necessária para que tenhamos alguma eficácia no processamento de linguagem natural. NOTAS 1. Cunha e Cintra (1985:184) assinalam que apenas os substantivos referentes a seres humanos e animais flexionam em gênero. 2. Cf. Cunha e Cintra (1985:247-254). Esses autores chegam mesmo a assinalar a existência de adjetivos que não flexionam em grau: “Vimos que os chamados ADJETIVOS DE RELAÇÃO não se flexionam em grau. O mesmo se dá com os outros adjetivos de tipo classificatório, entre os quais se incluem os pertencentes às terminologias científicas, que se caracterizam por seu sentido específico, unívoco. Assim: atmosférico, morfológico, ovíparo, ruminante, sincrônico, etc.” Cunha e Cintra (1985:254). 3. Convém ressaltar que o presente trabalho não trata de fenômenos de variação. Não examinamos portanto casos do português falado, registrados já no começo de século XX por Amaral (1982:70) como : As criação ficarum pestiado. 4. Não queremos fazer aqui uma lista exaustiva dos sistemas de gênero, mas convém notar o fato de que no alemão a divisão masculino/feminino/neutro não corresponde necessariamente

à divisão do sexos. É o caso notoriamente conhecido de das Mädchen (moça) que é do gênero neutro. 5. Convém notar que os substantivos que designam os filhotes desses animais admitem flexão em gênero: cabrito/cabrita e bezerro/bezerra. 6. Por outro lado, frases como (3.a) Advogada é Ana (3.b) Engenheira é Ana (3.c) Professora é Ana apresentam condições especiais de focalização diferentes das anteriores (Ilari 1992: 128; Neves 1997: 96-97), e dão informações diferentes daquelas fornecidas pelas frases (2.a), (2.b) e (2.c). Com isso queremos somente reafirmar que a ordem nesse tipo de frase não é livre. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS AMARAL, A. (1982) O dialeto caipira: gramática, vocabulário. 4ª.ed. - Brasilia : INL, São Paulo : HUCITEC,. (1ª ed. 1920). BASÍLIO, M. (1992) Flutuação categorial de base adjetiva no português falado. In: ILARI, R. (org.) Gramática do português falado II: níveis de análise lingüística, 81-97. Campinas: Ed. Unicamp. BECHARA, E. (2000) Moderna gramática portuguesa. Rio de Janeiro: Lucerna. BYBEE, J.L. (1985). Morphology: a study of the relation between meaning and form. Amsterdam: John Benjamins,. CAMARA Jr., J. M. (1986) Estrutura da língua portuguesa. 16a. ed. Petrópolis: Vozes, (1ª ed: 1970). CAMARA Jr., J.M. (1985) História e estrutura da língua portuguesa. Rio de Janeiro: Padrão, (4a. ed.). CAMARA Jr., J.M. (1976) Problemas de lingüística descritiva. 8ª ed. Petrópolis: Vozes, (1a. Ed: 1971). CAMPOS, O.G.L.A.S. et al. (1992) Flexão nominal: indicação de pluralidade no sintagma nominal. In: ILARI, R. (org.) Gramática do português falado II: níveis de análise lingüística, 111-134. Campinas: Ed. Unicamp. CORBETT, G. (1991) Gender. Cambridge: Cambridge University Press. CUNHA, C & CINTRA, L. (1985). Nova gramática do português contemporâneo. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, (2a. ed.) GROSS, G. (1994). Classes d'objet et description des verbes. Langages, 115, 15-30.

GROSS, G.. (1995a) À propos de la notion d'humain. In: LABELLE, J.; LECLÈRE, Ch.. Lexiques-Grammaires comparés en français: actes du colloque international de Montréal, 71-80. Amsterdam: John Benjamins. GROSS, M. (1989). La construction de dictionnaires électroniques. Annales des télecommunications, 44 (1/2), 4-19. GROSS, M. (1995b) L'article indefini de l'attribut nominal. In: LABELLE, J.; LECLÈRE, Ch.. Lexiques-Grammaires comparés en français: actes du colloque international de Montréal, 53-58. Amsterdam: John Benjamins. HARRIS, Z.S. (1971) Structures mathématiques du langage. (Trad. de C. FUCHS) Paris: Dunod. ILARI, R. (1992) Perspectiva funcional da frase portuguesa. 2ª ed. rev. Campinas: Ed. Unicamp. LE PESANT, D. & MATHIEU-COLAS,

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Langages, 131, 6-33. MUNIZ, M.C.M. (2004). A construção de recursos lingüístico-computacionais para o português do Brasil: o projeto Unitex-PB. Dissertação de Mestrado. USP, São Carlos. NEVES, M.H.M. (1997). A gramática funcional. São Paulo: Martins Fontes. PAUMIER, S. (2002) Unitex - manuel d'utilisation. Relatório de pesquisa, IGM, Université Marne-la-Vallée. http://www-igm.univ-mlv.fr/~unitex/manuelunitex.ps SILBERZTEIN, M.D. (1993), Dictionnaires électroniques et analyse automatique de textes. Le système INTEX. Paris: Masson VALE, O. A. (1989). Constitution d'un dictionnaire électronique de conjugaison des verbes du portugais du Brésil - Rapport LADL nº 27, Université Paris 7, Paris

ANEXO Forma masculina

acaçari alcatraz alce almiscareiro anambé anum antílope arminho azulão beija-flor bicudo bigodinho bisão bode boi/touro boto búfalo cachorro cágado camelo camundongo canário canário-da-terra canguru cão carneiro castor cavalo caxinguelê cervo chacal chupim coelho corço crejuá cupim curió delfim elefante furão galgo

Forma feminina

cabra vaca búfala cachorra tartaruga camela canária coróia cadela ovelha égua cerva

coelha corça

elefanta/aliá galga

Formas Passiveis de Formas Formas com flexão flexão derivadas diversas

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Somente forma masculina

Somente forma feminina

Forma idêntica

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galo gambá gamo ganso gato mico gavião gnu gorila grou guará gurinhatã hipopótamo ipecumirim jabuti jacurutu javali jumento leão lebrão/lebracho leitão guepardo leopardo lince lobo macaco mamute marreco morcego mulo mutum ouriço pardal pato paturi pavão periquito peru pica-pau pioró pixoxó porco preá quati rato rinoceronte sabiaúna

galinha gambá gama gansa gata

grua gaipapa

jabota javalina/gironda jumenta leoa lebre leitoa

loba macaca marreca mula

pardoca/pardaloca pata pavoa periquita perua

porca preá rata/ratazana abada

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sapo saurá siri tamanduá tatu texugo tietê tigre tuim uiramiri uiratauá urso urutum veado visom zangão zorrilho

sapa apuá

tigresa

ursa veada abelha alpaca anta cegonha araponga ariranha baleia barata chinchila cobaia coruja cuíca cutia doninha ema foca formiga girafa hiena jaguatirica jaritataca juriti lontra marta paca pantera preguiça queixada rã raposa sapitica

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suçuarana sucuri toupeira uirapiana zebra

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