Submergir-se entre Escolas e Museus: perspetivas críticas

July 24, 2017 | Autor: Teresa Eca | Categoría: Museum Education, Museus, Educação Artística
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Descripción

Submergir-se entre Escolas e Museus: perspetivas críticas Marta Ornelas | Universidade de Barcelona Teresa Eça | i2ADS

Resumo: Este texto visa dar conta da participação da Associação de Professores de Expressão e Comunicação Visual (APECV) no projecto ITEMS (2010-2012), no que respeita às actividades que dinamizou no âmbito do mesmo e às reflexões que se tornaram possíveis, sobre a relação entre escolas e museus em Portugal. Apesar de, num primeiro estudo, termos descoberto que as relações entre os profissionais da educação (professores) e os profissionais dos serviços educativos de museus (mediadores/educadores) não eram fáceis, encontrámos, também, sinais de boas práticas e, sobretudo, vontade de realizar projetos em conjunto. O projeto ITEMS, para a APECV, foi um ponto de partida para a tomada de consciência das grandes possibilidades pedagógicas que podem existir nos museus respeitando as diferentes funções e propósitos das instituições. Embora tenhamos tomado consciência de que existe desigualdade na relação dos museus com as escolas e de que a escola se encontra demasiado voltada para os programas escolares, relacionando-se pouco com o exterior, os estudos e discussões que o projecto ITEMS permitiu concluir que os serviços educativos dos museus e os professores têm muitos objetivos em comum e que podem criar sinergias que desafiam rotinas e preconceitos. Apresentamos caso de relevo, como o Projeto 10x10 da Fundação Calouste Gulbenkian, através do Programa Educação para a Cultura e Ciência, e o programa educativo do Museu das Comunicações, que superaram constrangimentos na relação que estabeleceram com as escolas e no comprometimento com as comunidades locais. Palavras-chave: submergir-se; museus; educação; arte; cultura; património; educação museal; educação cultural; educação para a cidadania; educação patrimonial. 1. PASSAGENS. DIÁLOGO ENTRE ESCOLAS E MUSEUS. O ESPAÇO "ENTRE" As razões pelas quais se frequentam os museus podem ser organizadas segundo categorias alargadas que integram aspetos lúdicos, educativos ou reverenciais (Graburn 1977; Falk and Dierking 1992). As pessoas visitam os museus e têm experiências facetadas e únicas que dependem de fatores como o contexto pessoal, o contexto social e o contexto ambiental ou físico próprio do lugar (Lee, 2010). Os alunos aprendem no museu, tal como nas escolas a partir de uma agenda explícita e de uma agenda menos explícita (Acaso, 2011a). Aprendem através das suas vivências nos museus, a partir de um currículo explícito que os curadores e serviços educativos transmitem baseados nas coleções ou exposições do museu e também a partir do seu currículo oculto que se transmite pela arquitetura, o modo como as peças estão colocadas, o modo como os diferentes serviços do museu estão distribuídos e o modo como os agentes educativos do museu os recebem. Muitos autores se têm debruçado sobre o papel da experiência museal nas vidas dos visitantes (Chang, 2006; Csikszentmihalyi and Hermanson, 1999; Falk and Dierking, 1992; Hein, 1998; Hennes, 2002; Hooper-Greenhill, 1994). A nós interessa-nos sobretudo a experiência no museu dentro de contextos escolares e essas experiências são duplamente mediadas: pelo professor ou professores que organizam as visitas em funções de interesses escolares e pelo mediador/educador do museu que oferece uma orientação para a visita dentro das finalidades e programa educativo do museu. Este artigo surgiu como uma necessidade de reflexão após a conclusão do projeto ITEMS Innovative Teaching for European Museum Strategies, financiado pelo programa Leonardo da Vinci, através da agência portuguesa PROALV, projecto no qual as autoras participaram como

membros da Associação de Professores de Expressão e Comunicação Visual (APECV). O projeto realizado entre 2010 e 2012 foi liderado por Irene Baldriga, da Associazione Nazionale Insegnanti di Storia dell'Arte (ANISA, Itália) e teve como parceiro coordenador o Centro Europeo per l'Organizzazione e il Management Culturale (ECCOM, Itália). Teve ainda os seguintes parceiros: a Moholy-Nagy University of Art and Design Budapest (Hungria), o Institut National d' Histoire de l'Art (INHA, França), a Associação de Professores de Expressão e Comunicação Visual (APECV, Portugal) e a associação cultural letã TRIS KRASAS. O foco do projeto incidiu sobre o diálogo entre Escolas e Museus com recurso a tecnologias digitais. Para além de ter sido feita uma listagem de práticas de alguns serviços educativos de museus nos países participantes, foram também realizadas oficinas de formação, visitas a museus e escolas e seminários para professores. Em Portugal foi realizado durante o projeto um seminário no Museu Colecção Berardo, em Lisboa, e na Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais, e após a conclusão do projeto europeu um seminário no Museu de Serralves, no Porto. O projeto ITEMS, para a APECV, foi um ponto de partida para a tomada de consciência das grandes possibilidades pedagógicas que podem existir nos museus respeitando as diferentes funções e propósitos das instituições. Serviu para sentir que os serviços educativos dos museus e os professores têm muitos objetivos em comum e que podem criar sinergias que desafiam rotinas e preconceitos. Durante dois anos pesquisámos as relações entre algumas escolas e alguns museus em Portugal. Criámos grupos de debate e, sobretudo, criámos espaços relacionais nas brechas das instituições onde foi possível vislumbrar que a colaboração é possível e que se podem encontrar lugares de passagem entre muros. Os serviços educativos dos museus e/ou de instituições culturais e patrimoniais e as Escolas têm em comum finalidades educativas, os primeiros no âmbito não formal e os segundos no contexto da educação formal, mas ao mesmo tempo têm muros demasiado pesados que cercam muitas vezes as suas práticas e impedem um diálogo recíproco. Nesses muros existem, no entanto, algumas passagens, possibilidades inventivas de diálogo e de colaboração que dentro das respetivas instituições não costumam ocorrer por demasiados constrangimentos burocráticos e/ou rotineiros. Nesse sentido, o projeto ITEMS em Portugal criou essas passagens, tal como Maria Jesus Agra-Pardinãs da Universidade de Santiago de Compostela tão bem explicou no seminário realizado em Outubro de 2012 no Porto, em Portugal: Hay que buscar buscar nuevos espacios de creación-educación que se ubican “entre” los museos y las escuelas, en los huecos o instersticios a los que las instituciones y los sistemas establecidos no llegan. (Agra-Pardinãs, 2012)

2. ESCOLAS E MUSEUS EM PORTUGAL: RELAÇÕES DIFÍCEIS O estudo permitiu compreender que o público escolar constitui a esmagadora maioria dos visitantes dos museus portugueses, por isso os museus propõem um conjunto de actividades especificamente direccionadas às escolas, normalmente delineadas num plano anual. Entre essas actividades, encontramos: visitas guiadas, a maior parte com percursos e discursos adaptados aos vários níveis de ensino; visitas complementadas com textos pedagógicos e actividades práticas de carácter lúdico-pedagógico, como oficinas e ateliers de expressão plástica; actividades sobre dias comemorativos; concertos; jogos; leituras; representações dramáticas; e concursos de trabalhos escolares em áreas diversas. Este estudo permitiu compreender também que há museus que têm tido um papel pioneiro relativamente às actividades que se propõem realizar com as escolas. Apresentamos em seguida alguns exemplos. O Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, em Bragança, tem dinamizado visitas lúdico-pedagógicas, aulas no museu e encontros públicos de

conversação com artistas. A programação do Museu Colecção Berardo destaca-se pelo número de actividades disponíveis para o público escolar, variando entre os percursos expositivos temáticos, debates, jogos, oficinas e projectos de continuidade iniciados no museu e posteriormente desenvolvidos ao longo do ano lectivo. A programação educativa da Fundação Calouste Gulbenkian, em Lisboa, tem apresentado propostas muito válidas para o desenvolvimento de projectos com jovens em idade escolar, bem como um projecto recente que envolve artistas nas escolas, conforme teremos oportunidade de explicar mais adiante neste texto. O Museu de Serralves, no Porto, tem vindo a desenvolver, ao longo de vários anos, "Projectos com Escolas", projectos anuais que juntando professores, alunos e educadores de museus em trabalhos conjuntos resultam em produções artísticas que são expostas no museu no final de cada ano escolar. Um outro museu que merece destaque é o Museu das Comunicações, em Lisboa, cujos projectos educativos reflectem a dinâmica gerada com as escolas, nomeadamente através de reuniões com professores, para que juntos contribuam para um projecto mais rico e envolvente, como teremos oportunidade também de explicar mais à frente neste texto. Os objectivos que os museus pretendem atingir com as actividades direccionadas às escolas, são, na generalidade, os seguintes: a divulgação das colecções, tendo em conta as necessidades e os interesses dos públicos; a promoção de uma atitude de formação cívica face ao património; a criação de relações de empatia entre o museu e o público escolar; a promoção do debate e da troca de reflexões, numa atitude de aproximação lúdica, pedagógica e experimental às colecções; a democratização da cultura em experiências que pretendem acolher os visitantes de forma integrada (sobretudo por parte dos museus municipais); a promoção do contacto directo com as artes, chegando a apoiar as escolas em relações de parceria. As dificuldades relativas à conjugação dos procedimentos entre as escolas e os museus, devem-se sobretudo ao facto de os discursos e agendas destes e das escolas serem muito diferentes. Muitas escolas voltam-se apenas para projectos internos, pouco abertos à relação com os museus, porque se deparam com processos burocráticos muitas vezes demovedores da realização de actividades externas, para além de não criarem meios activos de circulação de informação. Como o transporte entre as escolas e os museus é dispendioso, as escolas tentam rentabilizar os recursos de que dispõem, pelo que muitas vezes levam aos museus um número de alunos excessivo e tempo demasiado limitado, o que resulta na quebra da motivação dos alunos para as visitas e num consequente decréscimo da qualidade das mesmas. Verificámos que este último factor aqui descrito é também um problema frequente noutros países que fizeram parte do projecto ITEMS, pelo que seria benéfico podermos pensar conjuntamente em acções concretas que pudessem aliviar este problema. Pensamos que, em Portugal, os museus deveriam optar por uma prática mais recorrente de chegar às escolas, pois encontram-se demasiado fechados sobre si mesmos. Muitos museus têm dificuldades de cariz financeiro e escassez de recursos humanos, o que os impede de realizarem projectos mais ambiciosos. Apesar das dificuldades, muitos professores continuam a promover o contacto de alunos com as colecções de museus, superando uma longa lista de constrangimentos, de forma voluntária e sem qualquer recompensa profissional. 3. DESIGUALDADE ENTRE ESCOLAS E MUSEUS Uma grande parte dos museus portugueses mantém com as escolas uma relação de desigualdade, apesar de existirem projectos pontuais bem sucedidos. 20% dos professores dizem que os museus não entendem o funcionamento das escolas, 14% considera que tem dificuldades em fazer contactos com os museus, 10% crê que os museus têm um discurso desadequado e defraudam expectativas e 4% chega a acreditar que os museus não estão interessados na aproximação com o público escolar (Ornelas, 2012). Uma relação justa entre duas partes - escola e

museu - pressupõe que ambas estejam em igualdade, o que não acontece em Portugal: regra geral, à excepção de projectos pontuais, a escola vai ao museu, mas o museu não vai à escola. Por isso, a relação entre estas duas instituições é uma relação de poder desnivelada e, portanto, desigual, embora noutros países seja possível encontrar projectos nos quais as deslocações dos museus às escolas são comuns, como por exemplo em Espanha (Garaigorta, 2012; Hernández, 2013). Em Portugal, o museu mostra a sua casa, mas não parece ter interesse em conhecer a casa de quem o visita, porque também a escola crê que nada terá para lhe ensinar. Para os museus, o conhecimento de que os professores possam ser detentores é anulado porque não é reconhecido como verdade. O mito da verdade universal e absoluta é desmontado pelas práticas pósmodernistas, assumindo que não há nada que seja verdadeiro no sentido estrito da palavra porque os critérios com que decidimos o que é verdadeiro ou falso depende de nós (Ibañez, 2001). Os micro-relatos dos professores deviam ser tidos em conta nestes processos precisamente pela mesma razão pela qual são excluídos: a subjectividade que lhes é inerente. Será mais producente que o museu eduque a partir dos micro-relatos, as experiências pessoais, subjectivas, atravessando os formatos que se pretendem eruditos (Juanola, apud Padró, 2011). No entanto, o museu adopta um tipo de discurso resolvido, direccionado, que exclui os restantes: Por mais neutral que seja um museu, um educador, um folheto, um website qualquer que seja, sempre se transmitirá algo. Até o famoso CUBO BRANCO que todos os museus têm incorporado como sistema de decoração aparentemente neutra, acabou convertendo-se num conceito de classe vinculado a uma classe alta cultural... (Acaso, 2011b)

Noutro registo de relação desigual entre estas duas instituições, é comum assistirmos a conferências, seminários e acções de formação sobre a temática museus e educação onde profissionais de museus falam para uma assistência composta por profissionais de museus e, muitas vezes sobretudo, para professores, enquanto o contrário não se verifica: o museu fala, a escola escuta. Raramente estes eventos deixam tempos para debates, marcando uma posição de que apenas uns podem aprender com os outros e nunca o contrário. Muitos dos professores de Artes Visuais são artistas, mas nunca são lembrados como tal pelo museu, sendo comum nos discursos dos educadores de museus durante as visitas recorrerem a expressões como "a intenção deste artista" e, mais adiante, "a vossa professora já vos deve ter explicado...", na ideia de que a professora é a que ensina e o artista é o que tem direito a estar no museu. Aliás, até mesmo a escola contribui para acabar com a artista que há em cada professora que o fora antes de ser professora, dando a entender que não se pode ser as duas coisas ao mesmo tempo, como ilustra a frase que pode ler-se num relatório conjunto do Ministério da Educação e do Ministério da Cultura, quando ainda eram organismos separados: Em Portugal, nao há notcia de ter havido (...) presenca de artistas no meio escolar, apesar de terem existido ou ainda subsistirem experiencias pontuais (...) a presenca do professor na escola e indispensável, a do artista, nao e. (Xavier, 2004)

Desta forma, reserva-se o lugar de artista (maioritariamente uma figura masculina) para o que expõe no Museu, e o lugar de professora (maioritariamente uma figura feminina) para a que ensina na Escola. Por outro lado, nas visitas chamadas "de estudo" a museus, a escola arrasta consigo, muitas vezes, exigências demasiado centradas nos regimes de avaliação dos alunos. Os professores, quando levam as suas turmas a museus, não raramente lhes pedem que façam um trabalho de pesquisa ou que preencham uma ficha, em casa ou até mesmo no local da visita que "conta para nota". Estas estratégias estão muitas vezes desligadas da construção de conhecimento e muito mais se identificam com o controlo da disciplina comportamental e, neste sentido, os alunos

tendem a considerar a visita como uma extensão da escola. O museu tem o poder de proporcionar um olhar sobre o mundo que rodeia os estudantes, mas nem sempre está vocacionado para mais do que explicar a história da arte ou o processo criativo do artista, sempre com muitas regras explicadas antes do início da visita: "não se pode tocar", "não se pode tirar fotografias", "não se pode falar alto", "não se pode transportar mochilas", "não se pode comer", "garrafas de água não podem entrar", "não se pode ouvir phones", "não se pode aproximar demasiado das obras". Ainda antes de iniciarmos a visita, o Museu é já um lugar onde "não se pode", um lugar de proibições que espera de nós, visitantes, um comportamento-tipo, a representação do visitante ideal (Padró, 2011). O controlo da disciplina vai sendo lembrado de vez em quando com "Chiu!", por parte dos professores aos seus alunos. Os textos das exposições são muitas vezes escritos em linguagem demasiado técnica, contendo inúmeras referências a movimentos artísticos da História da Arte e um vocabulário sofisticado, incompreensível para a maioria dos visitantes a quem resta a contemplação das obras, crendo no que está exposto e situando-se nos mesmos valores e conhecimento dos comissários, sem lugar à subjectividade, como um poderoso veículo para definir a posição relativa que ocupam os indivíduos dentro da sua comunidade (Duncan, 1995). As visitas guiadas não são de todo dialógicas. Parece haver uma tentativa, por parte dos monitores/educadores de museus, de criar um diálogo com os alunos com lugar à subjectividade, mas o objectivo final é o de os fazer levar a respostas que já estão previamente determinadas, sendo que as subjectividades, os micro-relatos criados pelos alunos, acabam por não servir ao discurso final. Para que se altere esta realidade na relação entre a escola e o museu, o desafio seria, em primeiro lugar, o de torná-la mais igualitária. Partindo de uma posição igualitária poderíamos passar a um trabalho conjunto para desmontar a relação de poder que existe, tanto num como no outro contexto, entre os que ensinam e os que aprendem, criando espaços para que todos possam ter uma voz activa de forma democrática, aceitando a subjectividade de todos os intervenientes, que passam a ser visíveis. Alguns dos professores inquiridos durante o estudo elaborado para o projecto ITEMS sugeriram que tanto a escola como o museu poderiam ter uma pessoa responsável por fazer a articulação entre as duas instituições e que isso facilitaria o processo (Ornelas, 2012), mas é importante que, tanto a escola como o museu, tenham como meta pedagógica o pensamento crítico e para isso é necessário que todas as acções que levem a cabo tenham repercussões na vida real dos participantes da acção educativa (Acaso, 2009). A escola, voltada para os currículos e para as exigências de cumprimento dos programas escolares, é, para muitos alunos um local de aborrecimento onde não existe prazer e poucas vezes consegue relacionar-se com o exterior de modo a implicar os estudantes no desenvolvimento de projectos que lhes interessem. É esta realidade que tem de mudar. Os projectos conjuntos entre escola e museu, partindo de uma posição igualitária, democrática e com lugar à subjectividade, podem ser a chave para que se consiga alterar o paradigma educativo nestas duas instituições. 4. CONSTRUIR PONTES No primeiro Seminário que foi realizado pela APECV em Portugal, de 20 a 22 de Fevereiro de 2012, no Museu Colecção Berardo, em Lisboa, e na Casa das Histórias Paula Rego, em Cascais, juntaram-se pessoas interessadas em iniciar diálogos entre Escolas e Museus, técnicos de serviços educativos de museus, de serviços educativos de centros culturais, de sítios do património público, assim como professores, na sua maioria professores de artes. Foi nosso interesse criar pontes, embora durante as discussões que se foram tendo ao largo dos dois dias se tivesse constatado que as pontes por si só não são suficientes, muitas vezes as pontes existem, mas não são exploradas.

Quisemos também trazer testemunhos de outros países. Nesse evento, Georgia Kakourou Chroni, da Galeria de Arte Coumantaros, do Museu Nacional de Esparta, na Grécia, partilhou as metodologias utilizadas nesse museu em trabalhos de projeto com públicos escolares adolescentes. A experiência da Galeria de arte Coumantaros mostrou-nos como é possível criar programas educativos onde escolas, curadores e técnicos dos serviços educativos dos museus dialogam e constroem um programa comum de aprendizagem e de intervenção comunitária envolvendo atores da educação, do museu, dos media e da cidade, englobando atividades interdisciplinares onde diferentes artes jogam papeis questionadores para provocar a procura de conhecimento e ação nos públicos jovens. Já dentro do panorama português, Susana Gomes da Silva introduziu, também nesse evento, o excelente programa dos serviços educativos da Fundação Gulbenkia,, com especial destaque para o projeto Herois e Vilões, que visou o desenvolvimento da auto-estima a partir do auto-retrato com jovens em risco que apresentavam altos índices de desmotivação e insucesso escolar. Ainda nesse evento foi-nos dado a conhecer, por Leena Hannula, como os serviços educativos do Sinebrychoff Art Museum, em Helsínquia, na Finlandia, desenvolvem estratégias específicas para públicos escolares em conjunto com os professores, dando oportunidade aos visitantes da escola de sentir o espaço do museu como espaço habitável, performático e transformável. Foi também interessante ouvir Estêvão Haeser descrever como na Bienal da Mercosul, em Porto Alegre, no Brasil, os projetos pedagógicos se focam na necessidade de desenvolver materiais didácticos sobre os artistas da bienal para os professores e escolas, da mesma cidade e país. Michele Zgiet descreveu a experiência da Casa M, uma casa comunitária criada para que a comunidade desenvolvesse autonomamente atividades artístico-culturais dentro do âmbito da mesma bienal. Cristina Gameiro, coordenadora do Serviço Educativo do Museu Berardo apresentou-nos uma proposta de visita disponível para as escolas que tem como título "A primeira vez num museu de arte contemporânea", tendo em conta que uma parte importante do público escolar que visita aquele museu nunca visitou um museu de arte contemporânea, numa perspetiva de dar resposta a questões como a aparente compreensão do público perante a arte antiga e a barreira que deve ser desmontada entre o público e a arte que é do nosso tempo. No seguimento do tema das tecnologias digitais, abordado pelo projecto ITEMS, os mediadores/educadores do Museu Colecção Berardo exemplificaram como se pode fazer uma visita ao museu com recurso a um equipamento digital para a realização de uma actividade prática, essencialmente dedicada a crianças e jovens: cada participante levou consigo um dispositivo tradicionalmente destinado a jogos digitais, uma consola Nintendo DS, com o qual foi possível tirar fotografias e transformá-las em produções artísticas através do software Art Academy, actividade que foi complementada com a realização de um trabalho artístico conjunto, utilizando meios analógicos. Assim, o objectivo desta actividade tem sido criar situações de aprendizagem lúdicopedagógicas, desenvolvendo maneiras diferentes de explorar as obras de arte. Os debates na audiência deste seminário foram acesos e deram-nos pistas para questionarmos as práticas por nós conhecidas e trouxeram algumas guias de trabalho para o nosso estudo. A partir daí começámos a equacionar a relação entre escolas e museus segundo estas perguntas que nos serviram de base para a organização do segundo seminário sobre o tema, em Portugal:  o planeamento das atividades de aprendizagem é feito separadamente ou envolve elementos das duas organizações?  que tipo de estratégias interdisciplinares e de trabalho de equipa são mais eficazes?  qual o papel e voz dos alunos e dos professores nas atividades levadas a cabo nos museus?  qual o impacto das atividades experimentadas no museu na aprendizagem escolar?  como é avaliado esse impacto?  até que ponto as novas tecnologias modificam as praticas? Se é que modificam.

5. ATRAVESSAR PONTES O seminário “Atravessar Pontes entre Escolas e Museus” realizou-se na Fundação de Serralves, de 12 a 14 de outubro de 2012, com um grupo de cerca de 120 participantes que eram sobretudo professores, profissionais de museus e de outras instituições sociais e culturais e/ou investigadores, de Portugal e do Brasil. A pergunta de partida para os debates foi: “Como podem educadores, professores e profissionais dos serviços educativos dos museus criar espaços de aprendizagem através das artes abertos à comunidade?”. As sessões de trabalho foram organizadas através dos seguintes eixos:   

práticas educativas promovidas por escolas em museus; práticas educativas promovidas por museus para as escolas; práticas educativas dinamizadas por escolas e museus na comunidade.

Durante os três dias do evento, o Grupo C3 1 envolveu os participantes nas seguintes questões: “Que papel tenho eu, hoje, no museu?”, “Que papel quero ter no museu?” e finalmente “Museu/Escola: o que te sugere esta relação?”. As respostas dos participantes apontaram sobretudo para o museu como espaço de imaginação, de experimentação, de diálogo e de experiências. O seminário foi um espaço de discussão, de diálogo, de encontro e de descoberta entre professores e responsáveis pelos serviços educativos de museus, das experiências levadas a cabo em pequenos e grandes museus de Portugal e do Brasil. Das discussões durante o seminário foi claro que se tomou consciência do espaço entre a escola e o museu como um entre-lugar onde se pode aceder a uma experiência híbrida. Falou-se da necessidade de criar hábitos de descoberta, especialmente por crianças e adolescentes, para que cresçam utilizando estes equipamentos culturais, sentindo que esses lugares também lhes pertencem. Dos diferentes casos apresentados durante o seminário, chegámos à conclusão de que o museu pode e deve ser, também, um lugar de inserção social, indo ao encontro das necessidades da comunidade e nesse sentido muitos projetos com escolas podem ser feitos. Inserir Figura 1: Instalação interativa ' Submergir-se' durante o seminário Atravessar Pontes entre Escolas e Museus , 12-14-10-12Durante o seminário descobrimos que as pontes não servem para nada sem ninguém para atravessá-las. Tivemos plena consciência de que temos que trabalhar em equipas multidisciplinares. Não são apenas os recursos materiais que fazem os bons programas educativos, mas sim a imaginação das pessoas que lá trabalham com projetos, integrando matérias pluridisciplinares. Tal como foi demonstrado pela vasta trajectória dos serviços educativos da Fundação de Serralves, escola e museu funcionam num espaço de entre-ação onde os papéis de professor, artista e mediador cultural se conjugam e se esbatem. Tomámos consciência da importância de estratégias baseadas em trabalhos de projeto para as escolas no museu, respeitando as culturas locais e subculturas geracionais. Muitas questões na relação entre escolas e museus prendem-se com a falta de articulação, a falta de diálogo e a ausência de avaliação entre pares. Considerámos que era necessário ouvir o público, chamar o público a dizer o que pensa, o que deseja. A perspetiva do educador ou do mediador é essencial, mas também é essencial o que cada aluno, criança ou jovem tem para nos 1

O grupo definia-se no cartaz de divulgação pela Internet como um corpo integrado por células ativas que pretendiam realizar ações para tornar a arte visível numa sociedade de pessoas em perigo de perder a sensibilidade e a capacidade de se emocionar. Afirmava-se como um compromisso social de teor subversivo buscando novas estratégias de criação e debate criando células ativas autónomas multi-geográficas e inter-conectadas para lançar vírus artísticos.

dizer, para nos ensinar, educando-nos também. Outras questões que se levantaram prenderam-se com o conhecimento da cultura e do património local através do ensino nas escolas e das aprendizagens nos museus. Várias vezes durante as comunicações ouvimos a expressão “só preservamos o que amamos, só amamos o que compreendemos”. Muitas perguntas incidiram sobre a impossibilidade de compreendermos o (nosso) património, a arte e a cultura sem os conhecermos. Muitas reflexões se fizeram à volta dos lugares onde se aprende a amar e a compreender, tanto no ensino formal como no não-formal. Perguntámos se estão as escolas e os museus a fornecer vivências de aprendizagem sobre a cultura onde o indivíduo se insere, e sobre outras culturas, ou apenas a entornar currículos impregnados de uma cultura globalizante. Nas conclusões do seminário delineou-se que o museu e as instituições culturais podem ser campos de relações abertas e diversificadas, com uma identidade muito própria e que em parceria com as escolas podem e devem desenvolver programas que provoquem nas crianças e nos jovens inquietações, questionamentos e desconfortos, numa procura diversificada de alternativas para a compreensão do mundo. 6. CASOS DE RELEVO Nesta secção descreveremos dois casos de organizações culturais e que, em Portugal nos parecem dignos de relevo na relação que estabelecem com as escolas e no comprometimento com as comunidades locais: O Projeto 10x10 da Fundação Calouste Gulbenkian, pelo Programa Gulbenkian Educação para a Cultura e Ciência e o programa do Museu das Comunicações, ambos na cidade de Lisboa. 6.1. Fundação Portuguesa das Comunicações - espaço de diálogo na sociedade global O Museu das Comunicações tem vasta experiência no trabalho com escolas, artistas e comunidade local. Por exemplo na exposição comemorativa dos 10 anos da Fundação Portuguesa das Comunicações 'Por Entre as Linhas' as obras de 10 artistas contemporâneos portugueses, permitiram explorar a arte como meio de comunicação e aproximar a arte contemporânea portuguesa de públicos jovens. O projeto integrou a criação de narrativas plásticas e literárias na Escola, subjacentes à temática "Arte como meio de comunicação" seguidas de produção de trabalhos plásticos e literários que que culminou numa exposição partilhada com alguns artistas, familiares e amigos, bem como, com a generalidade dos seus visitantes. Parece-nos que este tipo de abordagem privilegia a relação contínua do museu com o público escolar, na medida em que instiga o diálogo, abrindo as fronteiras do espaço institucional 'sagrado' aos 'leigos ou profanos', permitindo que os alunos exponham trabalhos escolares plásticos e literários no museu, promovendo a valorização pessoal e social dos alunos e uma relação de partilha de saberes entre escola e museu. No Projecto "Interculturalidade", o Museu iniciou uma relação bastante pioneira com a Escola. No âmbito do Ano Europeu para o Diálogo Intercultural, em 2008, um docente propôs um projeto de cariz intercultural, com o objetivo de melhorar a aprendizagem da língua portuguesa junto dos alunos de onze países diferentes, incluindo Portugal. O trabalho contínuo versou o fenómeno da interculturalidade e da comunicação, a partir do espólio filatélico do Museu, que incluía artefactos das culturas de todos os países dos alunos envolvidos. A partir do espólio, os alunos partilharam os varios elementos caracterizadores da cultura do país de origem de cada um, tais como, fauna, flora, literatura, artes plásticas e desporto; discutiram questões como liberdade individual e o respeito do outro. Depois, através de um processo de construção de um selo, cada aluno deu o seu contributo. Na mesma linha de atuação, promovendo a educação para a cidadania, o Museu desenvolveu o projeto 'Conheces os teus Direitos?'. Estabeleceu parcerias com escolas e organizações locais, pegando no repto lançado pela Comissão de Proteção de Crianças e

Jovens de Lisboa Ocidental, em 2010, com o objetivo de fortalecer a reflexão sobre os direitos das crianças. Com o projeto ' As raparigas nas TIC ' o Museu respondeu a uma iniciativa lançada pela UIT - União Internacional de Telecomunicações, com o objetivo de incentivar as jovens a escolher uma carreira profissional nas TIC. Resultou numa exposição de trabalhos escolares - plásticos e multimédia - sobre a importância das novas tecnologias na vida das raparigas. Foi, também, realizada uma conferência com a participação de jovens mulheres profissionais de TIC, como oradoras, e dirigidas ao público escolar com o objetivo de estimular o seu interesse pelas disciplinas científicas, tecnológicas e multimédia. É interessante notar como o museu está atento também às convocatórias lançadas por organizações locais e ou humanitárias, construindo um espaço de reflexão sobre temas que de facto interessam à comunidade onde se insere, chamando as escolas para trazerem conhecimento e mais-valias para um debate alargado e construtor de saberes. Mas é com o projeto 'Da Escola ao Museu e do Museu ao Bairro' que o museu apresenta a sua mais-valia como organização comprometida com a identidade cultural do território onde se insere. O projeto realizado pela Fundação Portuguesa das Comunicações (FPC)/Museu das Comunicações (MC) em 2009, em parceria com alguns elementos da Comissão Social de Freguesia de Santos-o-Velho, onde o Museu se situa, e escolas do bairro. O Museu enquanto membro da Comissão Social, desafiou a comunidade da Madragoa a integrar o projecto “Do museu ao bairro da Madragoa”. A iniciativa foi ao encontro da politica de aproximação do museu com a comunidade onde está inserido, envolvendo também a participação das entidades vizinhas, cujos interesses convergem numa política de valorização da Madragoa enquanto foco de interesse cultural e turístico. Foram parceiros, para além da FPC/MC e da Junta de Freguesia, o Museu da Água da EPAL, o Museu da Marioneta, a CML/Unidade de Projecto da Madragoa, a escola profissional de multimedia ETIC, o Teatro “A Barraca” e as associações Centro de InterCulturaCidade e Etnia. Este conjunto de parcerias atesta a vontade do museu em ser uma ponte, ou um cruzamento de sinergias da região onde o museu se insere, para o desenvolvimento local. O resultado dos esforços conjuntos resultou na concretização de um conjunto de elementos, como:  Recolha de testemunhos dos moradores da Madragoa sobre memórias pessoais subjacentes à temática do turismo (no bairro e fora do bairro);  Programação de uma exposição temporária com base na recolha dos objectos pessoais dos moradores da Madragoa, que este patente de 17 de Maio a 30 de Julho de 2009;  Criação de uma rota/percurso turístico no bairro da Madragoa, a iniciar no Museu das Comunicações, monitorizada por vários parceiros, rotativamente e participada pelos moradosres;  Realização de um filme documentário sobre as memórias das “viagens” na Madragoa, que figurou na exposição e,ainda hoje, é apresentado ao início de cada saída dos grupos de visitantes para o bairro. Este projeto de valorização do bairro enquanto pólo de atracção cultural e turístico, mantém-se, com uma programação de visitas guiadas organizadas sazonalmente e asseguradas nos termos iniciais, em parceria e com participação ativa dos residentes. Existe um impacto real deste projeto no território e nos habitantes que se pode medir pela adesão do público à iniciativa. A explicação do sucesso da iniciativa reside numa aposta no valor do património como poderoso agente de transformação social promotor da identidade e pertença. O processo pedagógico utilizado direcionou-se para a exploração da memória a partir do património em sentido amplo: o

território, a arquitetura secular religiosa e civil, aristocrática e popular, os azulejos, os seus habitantes no passado e os atuais, as profissões de ontem e de hoje, as festas, a gastronomia, as canções, entre as quais o fado. Por outro lado, a convergência dos moradores - de um bairro com fracas condições sócio-económicas - para a receção aos visitantes orientando o percurso das visitas à volta do património que lhes pertence, tem a função enriquecedora de os sensibilizar para a preservação do bairro enquanto elemento de identidade. Segundo os responsáveis pelo programa a participação dos membros da comunidade nestas dinâmicas gera um sentido de pertença e de partilha que poderá ajudar a ultrapassar certos estigmas de condicionamento social e económico. (Inserir Figuras 2, 3 e 4 / enviem-me pf.) Para os dinamizadores foi um exercício que os desafiou a partilhar, a criar e a desenvolver afectos construindo a sua identidade num mundo globalizado, solidificando o seu sentido de pertença a um determinado território e construindo relações afectivas que são a base de trabalho para futuros projectos de valorização patrimonial recíproca, da SEC e da comunidade local. No projeto, o Museu fomenta a educação patrimonial procurando reforçar o papel educativo da escola proporcionando aos professores e seus alunos atividades que promovem a exploração do património cultural. No processo pedagógico o museu apela para aspetos como a sensibilização para a pesquisa, preservação e comunicação que despertem no grupo escolar a partilha de conceitos, conhecimentos e a construção de um “mapa” patrimonial. Escolhemos este caso porque estamos em crer as suas atividades valorizam o Museu na comunidade através de parcerias, respondendo a iniciativas não só do museu, mas vindo também de âmbitos educacionais alargados, criando uma relação de continuidade entre as entidades envolvidas, proporcionando o espaço do museu como espaço de pertença dos habitantes do bairro onde eles se revêm e constroem o conhecimento da identidade plural dos seus habitantes. 6.2. Projecto 10X10, Fundação Calouste Gulbenkian 2 O projeto piloto Dez x Dez (dez professores para dez artistas), promovido pelo Programa Gulbenkian Educação para a Cultura e Ciência, da Fundação Calouste Gulbenkian, fomenta a colaboração entre professores e artistas com experiência pedagógica envolvendo-os em processos de reflexão e experimentação que estimulem a inovação e a qualidade de ensino em contextos formais, apostando no potencial criativo do cruzamneto das disciplinas curriculares com as práticas artísticas. Este projeto procurou encontrar resposta a algumas questões, que há muito preocupam os professores e os especialistas em educação, sobre a relação dos alunos com a Escola, nomeadamente:    

Como motivar e captar a atenção e o interesse dos alunos pelos temas e matérias escolares? Como explorar novas ferramentas de forma a tornar a informação tratada em sala de aula significativa e pertinente para o aluno, relacionando-a com o universo da sua experiência e da sua vida? Como estimular nos alunos as capacidades de reflexão critica e de criatividade, envolvendo-os na produção de conteúdos relevantes? Como fomentar estratégias participativas de construção de conhecimento assentes em práticas artísticas, fazendo dos alunos parceiros em sala de aula e na abordagem do currículo?

2http://www.descobrir.gulbenkian.pt/index.php?article=5467&visual=2&area=3



Como desenvolver nos e com os alunos competências ao nível do pensamento crítico e da resolução de problemas?

A sua realização envolveu professores, alunos e artistas que trabalharam a partir de conteúdos curriculares do ensino secundário, estimulando a interação de perspetivas, dos saberes e da criatividade de cada um na conceção e implementação de aulas em contexto de prática letiva, durante todo o primeiro período. Posteriormente estas deram origem a um conjunto de aulas públicas apresentadas nas escolas dos professores participantes e na Fundação Calouste Gulbenkian. No processo de desenvolvimento do Projeto, poder-se-ão considerar três fases: uma primeira de Residência; uma segunda que decorreu em sala de aula com a dupla artista/professor e a última, de apresentação das aulas públicas. A fase de Residência correspondeu a uma semana intensiva de trabalho na Fundação Calouste Gulbenkian, em que dez professores, dez artistas e duas moderadoras exploraram novas abordagens e materiais, trocaram experiências e integraram conhecimentos a partir de três momentos distintos:   

Um primeiro, cuja dinamização das atividades esteve a cargo dos artistas, que durante sete sessões proporcionaram a todos os participantes experiências dinâmicas ligadas à sua área artística; Um segundo momento, de criação de uma apresentação individual de cada participante (professores e artistas), seguida de respostas criativas e construtivas por parte dos outros elementos do grupo; E um último, com a exposição, por parte dos professores, da sinopse do projeto pedagógico que cada um pretendia desenvolver com os seus alunos como ponto de partida para o trabalho a realizar posteriormente pela dupla.

Na segunda fase, o projeto desenvolveu-se durante o 1º Período do ano letivo em curso, em cinco escolas do ensino oficial e numa de ensino privado, situadas respetivamente em Lisboa, Amadora, Portela de Sacavém, Vila Franca de Xira e Alenquer. O trabalho compreendeu ao todo cerca de 24 sessões cabendo à dupla professor/artista a gestão da respetiva calendarização, de acordo com as necessidades e disponibilidades de cada um. Houve sessões em que o artista apenas observava o trabalho do professor na sua prática letiva, outras em que era o artista que assumia a liderança e outras ainda em que ambos partilhavam a orientação dos trabalhos. Em cada sessão, a dupla dava continuidade ao trabalho anterior, adequando as estratégias aos conteúdos das disciplinas e avaliando os exercícios realizados numa perspetiva formativa, de aprendizagem. A dupla professor/artista refletia e avaliava o decurso das sessões regularmente. A terceira fase correspondeu à apresentação do trabalho desenvolvido por cada dupla com os alunos na Fundação Gulbenkian, nas respetivas Escolas e em conferências e encontros sobre educação, como foi o caso no 25º Encontro Anual da APECV, 25NonSTOP, que teve lugar no Porto nos dias 18 e 19 de maio de 2013. Procurou-se dessa forma partihar os resultados do projeto a uma comunidade mais alargada de professores, educadores e outros agentes educativos. (Inserir Figuras 5 6 e 7 / enviem-me pf.) 6.2.1 Posso escrever sobre mim? O projeto subordinado ao tema “Posso escrever sobre mim?” foi desenvolvido pela

professora de Português Maria Bárcia e pela atriz e encenadora Maria Gil, com alunos do 10º ano do Curso de Ciências e Tecnologia, na Escola Secundária Padre António Vieira. Teve como principal finalidade a criação do gosto pela escrita e pela leitura regulares. Selecionado o conteúdo do Programa de Português - Textos autobiográficos - a dupla concebeu, planificou e executou um conjunto de atividades que conduzissem os alunos a uma prática de escrita fluente e motivante, um fator determinante para a evolução e consolidação de competências de escrita e leitura por todos os alunos da turma. Dado que a turma mostrou, inicialmente, alguma resistência face às metodologias utilizadas e à forma como a matéria ia ser introduzida, a dupla teve a preocupação constante de explicar no início de cada aula a tarefa que iam desenvolver, tornando claro os seus objetivos e de fazer no final uma reflexão sobre o que tinha acontecido, constituindo assim um ritual de abertura e fecho. Sempre com o objetivo de levar os alunos a escrever, foram implementadas em sala de aula, pela dupla, um conjunto de estratégias, como: o exercício dos cheiros que conduz a memórias mais remotas ou mais presentes; “que nomes escolheriam para se identificarem”; “entrevistas ao alter-ego”; “narrativas com fotografias reais ou imaginárias”; “autorretrato descritivo”, “biografias usando o pronome na terceira pessoa” e “criação de um guião facilitador da leitura do mundo” – que constituem alguns dos exemplos resultantes do cruzamento das necessidades da prática letiva com as estratégias criativas e micropedagogias provenientes do campo artístico. Foi ainda estabelecida articulação com outras disciplinas, outras áreas do saber e outras pessoas do mundo artístico e científico, que deram contribuições importantes para que os alunos alargassem os seus conhecimentos, realizadas saídas a bibliotecas e espetáculos e partilhadas experiências com alunos de outra dupla e de outra escola, que também trabalhavam sobre as memórias. Este projeto conseguiu despoletar nos alunos o gosto pela escrita e pela leitura, constituindo uma forma de aprendizagem gratificante e significativa. E nas palavras dos alunos: “… trabalhámos muito, lidámos com pessoas que nos ensinaram muito e ficámos a escrever muito e melhor”, “… no final percebemos que demos a matéria.” 6.2.2. O Caderno como Oficina de Excelência Reconhecer a utilidade de registar num caderno os conteúdos teóricos e práticos das diferentes disciplinas curriculares, relacioná-los com experiências da vida real e esbater estas fronteiras entre conteúdos escolares, identidade-pessoal e conteúdos vivenciais, foi o objetivo do projeto “O Caderno como Oficina de Excelência”, realizado pelo professor de desenho Mário Linhares e por Ricardo Jacinto, músico e artista plástico, com alunos que frequentavam o 12 º ano do Curso de Artes, no Colégio de Santa Doroteia. Embora fossem alunas da área das artes, o lançamento do desafio de adoção de um único caderno para registo de todas as disciplinas e restantes áreas da vida das estudantes, pautado pela total liberdade de registo ao nível formal e de conteúdo, o que era da escola e o que pertencia ao seu “eu” e à relação deste com o meio onde estavam integradas, foi uma proposta potenciadora de grande mudança e inicialmente geradora de alguns conflitos interiores. O caderno gráfico, o caderno de autor, sob as suas múltiplas formas, serviu de plataforma para transformação da prática de registo das alunas associado a um conjunto de exercícios criativos que potenciaram outros olhares e perceções do mundo circundante. Também o convite a diferentes profissionais para quem o diário gráfico é uma ferramenta indispensável e criativa de registo - um escritor, um urban sketcher, dois designers e um professor de desenho – procurou promover e consolidar o uso dessa nova ferramenta-plataforma de registo pelas alunas. As alunas ao apropriarem-se de um conjunto de estratégias inovadoras e desafiadoras de

criatividade, foram diluindo os seus receios iniciais, partilhando os seus registos, compreendendo que os conteúdos podiam interagir para constituir um saber multifacetado que originava aprendizagem. Nas suas palavras: “Lentamente fui fazendo experiências, ouvindo e registando sons, misturando as disciplinas, estudando e aprendendo com ele e dei-lhe um bocado da minha alma!; “Há páginas que não são páginas e momentos muito altos do projeto, como por exemplo o registo acerca de um dos heterónimos de Fernando Pessoa.”; “Continuo a fazer páginas interessantes e percebi que ter um caderno como este me ajuda a progredir. “; “Vou continuar a fazê-lo, mesmo quando tiver um emprego.” 6.2.3. Querem vir Comer à Cantina? O projeto “Querem vir comer à cantina?”, teve como objetivo, levar os alunos à compreensão da natureza global da atividade económica e do desenvolvimento através de um estudo da indústria da moda. Este projeto foi desenvolvido na disciplina de Integração, onde foi selecionado o tema da “Globalização”, pela professora de economia Ilda Dinis e pelo artista António Pedro, músico e cineasta, com alunos que frequentavam o 12º ano do Curso Profissional de Técnicas de Gestão. A partir do contributo do artista, num primeiro momento, foi introduzida a realização de exercícios de aquecimento, que envolviam a voz e o corpo, iniciavam a aula e permitiam fomentar a coesão da turma e a predisposição para a aprendizagem e resposta a novos desafios. Também o espaço físico da sala era reorganizado em cada aula, contribuindo para quebrar a rotina, fortalecer a relação pedagógica e facilitar a comunicação. Num segundo momento, eram lançadas propostas de trabalho relacionadas com conteúdos a abordar, tendo sempre presente as vivências dos alunos e a importância de diversificar as estratégias para captar a sua atenção e interesse. São exemplo dessas estratégias: “Made in” - a partir de um objeto pessoal selecionado, os alunos realizaram uma pesquisa sobre as condições sociais e económicas dos trabalhadores e gestores da empresa de fabrico e das suas consequências, que depois materializaram em fotografias e em gravações áudio; montagem e edição de um trailer - após visionamento do filme “China Blue”, foram compilados os extratos mais significativos para cada um dos alunos, foi realizada uma reflexão conjunta sobre os mesmos e recriado o trailer; No Logo - cada aluno elaborou um vídeo sobre excertos do livro de Naomi Klein e simularam-se situações e personagens relevantes na implementação de uma Multinacional numa comunidade de um país do terceiro mundo. Todos estes materiais foram utilizados como um meio para explorar os conteúdos, alargando grandemente a implicação dos alunos nas “matérias” e esbatendo a fronteira entre os conteúdos e as suas vivências. Nas suas palavras: “O projeto permitiu desenvolver as capacidades de observação, interação e expressão”; “… criei um maior sentido de responsabilidade ao confrontar-me com os problemas sociais que vi no filme e discuti”. 6.2.4. Falar em Inglês “Falar em Inglês” foi um projeto orientado pela professora de Inglês Dora Santos e a atriz e encenadora Sofia Cabrita, que teve como objetivo desenvolver o vocabulário e a oralidade na comunicação da língua inglesa relacionada com o tema selecionado “ O Consumo”. Os alunos envolvidos frequentavam, na Escola Seomara da Costa Primo, na Amadora, o 11º ano dos Cursos Profissionais de Técnicos de Gestão e de Comércio. Depois de definido o tema e os objetivos e dado que a principal dificuldade dos alunos se centrava na expressão oral, muitas das atividades realizadas foram ao encontro da melhoria desta competência e os exemplos apresentados a seguir ilustram algumas dessas mesmas estratégias. Tendo sempre presente os conteúdos programáticos a abordar foram realizados exercícios de roleplay, slogans e storyboard, simulação de personagens e de situações próximas do mundo do trabalho, conducentes à aquisição de vocabulário e à fluência do uso da língua inglesa; foram

recriados jogos pedagógicos tendo em conta o universo dos alunos, e foi feito o seu enquadramento prévio, adequando os enunciados a objetivos concretos, aproximando as ditas “matérias” à vivência dos alunos ou à sua utilidade prática no futuro destes (uma das grandes preocupações dos alunos do ensino profissional). A produção de slogans destinados a alunos e professores - que começavam por ”students/teachers want/need/prefer” - e a respetiva divulgação por lugares estratégicos da escola, foi uma atividade que tendo surgido no âmbito da sala de aula tinha como propósito expandir-se e interpelar a escola toda, proporcionando um espaço mais alargado de comunicação e de reflexão sobre o que os alunos gostariam ou pretendiam que a escola, os professores e os próprios alunos fossem/fizessem. O efeito de contágio foi surpreendente e no dia seguinte era visível em vários locais da escola outros slogans, em português, executados por alunos de outras turmas, no seguimento deste movimento de comunicação e intervenção no espaço escolar. Uma manifestação interessante do quanto por vezes um pequeno gesto, uma pequena mudança, uma pequena estratégia, pode ter um efeito disseminador muitíssimo alargado. Neste mesmo espírito de envolvimento de toda a escola, e perante a identificação de uma grande necessidade por parte dos professores, a artista realizou duas sessões de formação informal onde foram trabalhados a postura e a respiração; o volume, o timbre e a articulação da voz; o uso do espaço e da comunicação visual. O sucesso junto dos professores envolvidos e as referências à sua utilidade e influência na mudança de postura em sala de aula, foram muito evidentes. A maior parte dos alunos referiu o desenvolvimento do espírito de cooperação entre os diferentes elementos da turma, o facto de terem retirado proveito das atividades em que se envolveram, e que estas foram facilitadoras da compreensão dos conteúdos. 6.3.5. Palavras, Poesia e Planeta Promover a escrita, a poesia e a ilustração com base em temas da disciplina de Ciências Naturais, com recurso a uma metodologia não formal, foi o objetivo do projeto “Palavras, Poesia e Planeta”, desenvolvido pela professora Ana Nunes e pelo artista plástico, escritor e contador de histórias Miguel Horta, com alunos de uma turma integrada no programa PIEF, a funcionar no Agrupamento de Escolas de Abrigada. Num primeiro encontro com a turma, a dupla pediu a cada aluno que se identificasse com um animal, aproveitando esta atividade para introduzir a temática das ciências da natureza. Esta identificação proporcionou uma primeira aproximação à relação pedagógica entre professora, artista, alunos e tema: Quem sou eu no mundo? Este tipo de estratégias de aproximação professor-artista-alunos e de cruzamento entre a identidade de cada um e os conteúdos curriculares pautaram a ação da dupla, criando laços e um grau de compromisso extremamente importantes. No espaço físico da sala de aula - constantemente alterado com o objetivo de lhe conferir informalidade, de o adequar às propostas a desenvolver e de melhorar os aspetos relacionados com a comunicação - foram implementadas estratégias diferenciadas que visavam desenvolver competências de escrita, de leitura e de conhecimento do meio. Viagens virtuais, através do Google Earth, guiaram os alunos aos continentes e às cidades da sua origem, locais onde identificaram familiares e reviveram memórias que iam conquistando a sua atenção e afetividade permitindo explorar diversos conteúdos de Ciência. A construção de uma “Máquina da Poesia” da autoria do Miguel Horta, permitiu ampliar o vocabulário sobre o planeta e o mundo, enquanto se fazia poesia e se alargavam os referentes linguísticos. O uso de livros (um elemento habitualmente ausente das práticas quotidianas dos alunos em questão) foi constante. O estabelecimento de rituais de início e fim da aula - a leitura de um livro pelo artista – foram determinantes para a construção de um sentido de pertença e de grupo. Pequenas criações permitiram ultrapassar situações comportamentais pouco propícias à

aprendizagem. É o caso dos sussurradores - ferramenta sonora para passar mensagens de boca a orelha e assim reduzir o bulício e o ruído na sala de aula. Nas palavras dos alunos: “Esteve cá um escritor, pintor …, que fez connosco várias coisas: a cartografia que permitiu que nos conhecêssemos melhor, a mim próprio e aos outros; a máquina da poesia que nos ensinou a fazer poemas e frases de olhos fechados; o passear até outros países para alargar os nossos conhecimentos e despertar a curiosidade; o sussurrador, que serviu para dar conselhos aos amigos”. A partir da avaliação contínua do projeto pelos seus intervenientes e pela avaliadora convidada, Judith Silva Pereira, foi apurado que o projeto Dez x Dez incentivou e enriqueceu os artistas e os professores, predispondo-os para a introdução de mudança nas suas práticas letivas; a conjugação das estratégias artísticas com os conteúdos curriculares estimulou competências e criou situações que possibilitaram uma melhor aprendizagem; e os alunos encontraram interesse e significado próprios nas atividades que foram desenvolvidas. Os resultados positivos levaram o Programa Gulbenkian Educação para a Cultura e Ciência a estabelecer uma parceria com a Unidade de Investigação em Educação e Desenvolvimento da Universidade Nova, que irá acompanhar as próximas edições do projeto (2013/14 e 2014/15) e estudar os documentos de reflexão e avaliação entretanto produzidos. Pretende-se com esta parceria reforçar a disseminação dos resultados do projeto a nível nacional e internacional e, caso a avaliação dos resultados o justifique, estruturar um módulo de formação baseado no reportório de estratégias experimentadas com sucesso, que poderá vir a integrar cursos superiores de formação de professores.

7. SUBMERGIR-SE, OU PERSPECTIVAS DE COLABORAÇÃO E DE AÇÃO 7.1. Investigação Os museus e as escolas podem trabalhar em conjunto, as experiências aqui descritas são exemplares dessas práticas. No entanto, em Portugal ainda estamos no ínicio das práticas de diálogo e de construção de saberes entre museus e escolas. Pelos resultados apurados neste estudo parece-nos que na sua maioria as escolas não recorrem regularmente aos museus e os museus não promovem sistemáticamente um trabalho colaborativo com as escolas. Apesar de existirem projectos pontuais bem sucedidos entre escolas e museus, uma grande parte dos museus portugueses mantém com as escolas uma relação de desigualdade. No entanto parece-nos que começam a existir vontades de mudança e sobretudo reflexões críticas sobre essas relações. Por exemplo, no Nucleo de Educção Artística do i2ADS, Instituto de Investigação em Arte, Design e Sociedade, da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto, Lígia Lima, na sua tese doutoral investiga aprendizagens que se geram nos alunos a partir de proximidades mediadas pelas instituições promotoras da arte contemporânea e pelos artistas no espaço da escola, focando o exemplo do programa para as escolas desenvolvido pelo Museu de Arte Contemporânea de Serralves e pelos projetos para escolas desenvolvidos na Casa da Imagem. Segundo esta investigadora, apesar de as escolas enfrentarem entraves de ordem burocrática, logística e financeira para se deslocarem aos museus, muitos professores continuam a integrar visitas aos museus nas suas práticas lectivas. Do ponto de vista dos professores, a importância do museu na prática lectiva é muito importante e sugerem que os museus e as escolas deveriam ter uma pessoa que articulasse as parcerias em cada instituição. 7.2. Formação de Professores

O projeto 10x10 demonstrou como a formação de professores em regime de residência com artistas-educadores é um fator de mudança de rotinas e de construção de novas abordagens pedagógicas. A mesma evidência tem sido encontrada nos cursos de formação de professores da APECV em colaboração com o Museu Nacional de Soares dos Reis, no Porto, o Museu Nacional de Arte Antiga, em Lisboa, o Museu de José Malhoa, nas Caldas da Rainha, e a Culturgest, em Lisboa. Nessas formações, no cruzamento entre professores, artistas e profissionais de museus, muitas situações de aprendizagem em rede se puderam realizar, respeitando os conhecimentos de cada um e fomentando o diálogo e a criatividade entre pares. 7.3. Concursos Os museus também têm demonstrado abertura e apetência para construir conexões com professores através de concursos para estudantes. Esses concursos são indicadores de abertura ao público escolar, mas podem ter finalidades muito diversas. Por exemplo, o concurso 'A Minha Escola Adota um Museu, um Palácio, um Monumento...', um concurso nacional promovido desde 2005 pelos organismos governamentais responsáveis pela pela educação e pela cultura, hoje denominados Ministério da Educação e Ciência (através da Direcção-Geral da Educação) e Secretaria de Estado da Cultura (através da Direcção-Geral do Património Cultural). Este concurso tem-se apresentado como uma iniciativa top-down de formação de públicos, onde as escolas são convidadas a trabalhar o espólio de um museu, numa relação sem planeamento conjunto, nem discussão com os professores, nem construção de material de apoio com as escolas. Dentro da tipologia concursos para as escolas existem, no entanto, experiências que promovem uma maior colaboração entre as instituições, como o caso do Concurso ‘Pequeno Grande C' que a Fundação Calouste Gulbenkian concebeu em colaboração com a AGECOP – Associação para a Gestão da Cópia Privada, ou o concurso do Museu das Comunicações referido anteriormente. Nestes dois últimos casos os concursos são projetos educativos de raíz onde se desenvolvem redes de aprendizagem, construção participada de material pedagógico e exposição de produtos finais. No sentido inverso, da escola para o museu, não poderemos deixar de referir aqui o concurso da APECV para alunos, que todos os anos incide sobre a análise da obra de um artista português. Nem sempre a parceria com as instituições onde as obras se encontram é fácil e raramente os museus se mostram motivados para trabalhar em conjunto com os professores. Mesmo sabendo que o concurso vai aumentar consideravelmente o número de visitas escolares durante esse ano, o sistema hierárquico da entidade 'Museu' é pesado e pouco flexível. No entanto, destacamos o caso exemplar do concurso 'à procura das nossas raízes com Graça Morais', em 2011, um concurso em parceria da APECV com o Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, em Bragança, que envolveu o planeamento comum de construção de material pedagógico on-line; conferências com a artista Graça Morais, visitas orientadas ao museu para escolas participantes; seleção de obras e exposição das obras dos alunos no museu, no âmbito desse concurso. 7.4. Projetos na Comunidade Num estudo desenvolvido no Brasil por Soraia Freitas Dutra e Silvania Souza Nascimento sobre os significados atribuídos pelos professores às visitas a um museu histórico, o Museu foi percebido pelos professores como espaço que encerra múltiplas possibilidades educativas. Para eles um museu educa quando: preserva, acolhe, produz conhecimento histórico, facilita o acesso aos conhecimentos sobre a cidade, possibilita romper com a rotina da escola, permite ver objetos, facilita a aproximação com aspectos da memória coletiva das pessoas, possibilita o lazer e promove consciencialização. Se entendermos a escola como uma instituição que cerra as suas portas a todo o contacto com o exterior, o que acontece muitas vezes por inúmeras razões, então a visita ao museu é também uma porta aberta, por vezes a única, para a comunidade e para o

sentido de pertença à comunidade que se vê representada no museu. Acima de tudo, para os professores a visita é uma promessa de expansão das possibilidades educativas e de aprendizagens. No espaço/tempo da visita constrói-se uma aprendizagem híbrida, produzida na articulação de referências da cultura escolar e da cultura museal (Dutra e Nascimento, 2012). Nesse cruzamento, ou através desse cruzamento poderemos antever ou vislumbrar outras conexões que poderão talvez enriquecer tanto o trabalho dos professores nas escolas como o dos técnicos que trabalham nos museus. Por essa frincha entrincheirada antevemos o trabalho com a comunidade e a construção de parcerias com outras organizações. A relação escola-museu ou museu-escola pode ser mais inclusiva e mais rica se se abrir à comunidade. Foi o caso do Projeto Heróis e Vilões, da Fundação Calouste Gulbenkian, o caso da Madragoa, do Museu das Comunicações e de tantos outros pequenos e grandes museus que em Portugal têm vindo a desenvolver com as escolas e com as comunidades um papel ativo na construção de identidades e de sentido crítico e de pertença. Em Melgaço, pequena vila do norte de Portugal, os serviços Educativos da Câmara Municipal e o Agrupamento de Escolas de Melgaço têm desenvolvido esforços conjuntos no sentido desta construção, articulando as propostas dos respetivos Planos Anuais. As atividades envolvem, normalmente, várias disciplinas e são realizadas, tanto nas escolas como nos museus, sobretudo no Museu Memória Espaço e Fronteira e no Museu de Cinema Jean Loup Passek. Refira-se a título de exemplos a realização do workshop de construção de brinquedos óticos dirigido aos alunos dos 8º e 9º anos, realizado no primeiro período deste ano letivo, e ao longo do ano, o trabalho realizado em conjunto envolvendo alunos, professores e comunidade. Assim, o trio Madalena Lima (artista plástica), José Manuel Gonçalves (professor de Educação Visual) e Clara Rodrigues (professora de Educação Tecnológica) trabalharam em conjunto com os alunos do 3º ciclo, envolvendo cerca de duzentos alunos, em diversas atividades tais como: realização de esculturas para presépios expostos em dois espaços do concelho por altura do Natal (Escola sede e Largo da Câmara Municipal), fabrico artesanal de sabão, pintura de painéis nos espaços da escola e confeção de brinquedos tradicionais, estes últimos tendo sido expostos na Festa da Cultura que decorreu na primeira semana do mês de Agosto. Foi gratificante constatar que a articulação conseguida entre os diversos intervenientes permitiu proporcionar aos alunos atividades significativas e apreciadas pela comunidade, ao mesmo tempo que interiorizavam os conteúdos programáticos. 8. CONSIDERAÇÕES FINAIS Neste artigo as autoras submergiram nas relações entre escolas e museus, entre museus e escolas, para abarcar uma dimensão relacional mais abrangente e mais comunitária buscando pistas para, a partir de casos existentes, vislumbrar outras abordagens e outras finalidades para essas relações. A partir do estudo iniciado pela APECV em 2010, no âmbito do Projeto ITEMS, concluído no final de 2012, com o seminário "Atravessar Pontes Entre Escolas e Museus", no Porto, gostaríamos de deixar algumas pistas para que a relação entre escolas e museus se possa questionar com o objectivo de fomentar um efetivo uso dos recursos culturais no âmbito da aprendizagem para a cidadania e para o desenvolvimento sustentável. 1. Escolas e museus devem construir mais plataformas de debate numa base de relação entre pares para professores e profissionais dos serviços educativos dos museus, com recurso a seminários, conferências e workshops. Esses encontros podem ser organizados de modo a tornar a relação entre escola e museu mais igualitária, desmontando a relação de poder que existe nos dois contextos, onde uns "ensinam" e outros "aprendem"; 2. Escolas e museus podem trabalhar os conteúdos de modo a incluir as subjectividades dos participantes nos discursos expositivos e questionar posições hegemónicas; 3. Escolas e museus podem realizar projetos onde professores, educadores de museus e

outros atores (elementos de outras organizações, artistas, cientistas, habitantes locais, etc.) construam abordagens criativas aos conteúdos curriculares de modo a fomentar aprendizgens mais ligadas ao mundo real e à comunidade; 4. Escolas e museus devem entender o museu como uma instituição que pertence à comunidade e, por isso, não é uma instituição à parte que lida com elites sociais, mas sim um espaço de desenvolvimento comunitário local; 5. Escolas e museus necessitam de novas práticas para que se entenda o museu como espaço de aprendizagem de todos e de partilha de todos os saberes, com lugar para as subjectividades. Acreditamos que, desta forma, podemos contribuir para que a relação entre escolas e museus seja mais profícua, no sentido de que seja mais igualitária e inclusiva e que contribua para o desenvolvimento comunitário através da criação de espaços onde todos possam ter uma voz activa de forma democrática, com lugar à subjectividade de todos os que intevêm no processo.

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Agradecimentos Este artigo é o resultado de um percurso realizado com muitas pessoas que participaram, colaboraram e se envolveram num conjunto de actividades, conversas, debates, partilhas e reflexões, às quais agradecemos muito. Agradecemos em primeiro lugar às coordenadoras e colaboradoras dos Serviços Educativos que tornaram possível a organização dos seminários, bem como aos seus directores: no Museu Colecção Berardo, à Cristina Gameiro, à Filipa Gordo, à Cátia Bonito e ao Pedro Lapa; na Casa das História Paula Rego, à Adriana Pardal e à Helena de Freitas; no Museu de Serralves, à Elisabete Alves, à Margarida Saraiva e ao João Fernandes. Agradecemos também a todos os oradores nos seminários, que permitiram, além da partilha das suas inquietações, o debate, a reflexão e a contribuição para a criação de espaços intermédios entre escolas e museus. Agradecemos aos monitores/educadores dos museus que dinamizaram as actividades para os participantes nos seminários. Deixamos ainda um agradecimento especial à Fundação Calouste Gulbenkian, nomeadamente à Susana Gomes da Silva, à Maria de Assis Swinnerton, por terem partilhado connosco as suas ideias, projectos e reflexões, bem como pela criação e dinamização do projecto 10x10. Agradecemos ainda à Cristina Webber, do Museu das Comunicações, pelo seu interesse e dedicação na criação de práticas para que escolas e museus criem espaços de cooperação e interactividade, espelhados na concepção do programa educativo do museu. Agradecemos também ao Jorge Costa, director do Centro de Arte Contemporânea Graça Morais, pelo empenho que tem demonstrado ao longo dos últimos anos em fazer daquele espaço cultural um local de participação interventiva de professores e alunos.

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