Sintese Histórica da Geopoltica Energética

September 13, 2017 | Autor: Artur Victoria | Categoría: Geopolitics, Energy, Oil and gas
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SÍNTESE HISTÓRICA DA GEOPOLÍTICA ENERGÉTICA documento de estudo APOIO



A Geopolítica Energética A geopolítica, como um método de estudo das relações internacionais, ressalta a importância dos fatores de localização sobre as relações entre países. Assim, a geopolítica considera os fatores geográficos como importantes determinantes da política governamental e da posição relativa de poder das nações. Neste estudo sobre energia, esses fatores de localização são examinados, como não podia deixar de ser, quando consideramos o acesso às matérias-primas em geral. Por sua vez, a importância de vários fatores geográficos é função de muitos parâmetros. como a passagem do tempo, as descobertas tecnológicas, as necessidades de matérias-primas, os objetivos nacionais e internacionais e a ética das relações internacionais. Além do mais, a importância dos fatores geográficos e de localização também varia de acordo com o próprio sistema internacional; novos atares internacionais entram em cena (tanto novos países como corporações multinacionais, organizações internacionais e organizações regionais econômicas e militares); a legitimidade e a adequabilidade dos atores tradicionais, das próprias nações-estados, estão sujeitas a debate. O poder se torna mais diluído; as superpotências freqüentemente são embaraçadas por países menores que encontram espaço para manobrar dentro do impasse criado pelos arsenais atômicos. A interdependência, tanto em termos de dependência mútua quer de interpenetração, é uma realidade. neste ambiente internacional dinâmico que a geopolítica é o acesso às matérias-primas têm que evoluir. Existem fatores geopolíticos relacionados ao suprimento de energia e matérias-primas que indiquem o rumo que as relações internacionais deverão tomar nas próximas décadas? Quais as áreas, através do 

controle de que fatores geográficos, que serão estratégica e economicamente importantes no futuro? Que combinação de países esses fatores geográficos tornarão provável? Se a energia é de vital interesse para a comunidade mundial, haverá “centros de energia”, como o Oriente Médio atualmente, dos quais dependerá o resto do mundo? Como todas as fontes de energia primária dependem de um conjunto de medidas adicionais necessárias para transformar a energia para uma forma utilizável e transportá - Ia para as áreas de consumo, outros fatores além da distribuição geográfica dos recursos são aspectos essenciais da geopolítica energética. As linhas de suprimento, a tecnologia e as instalações de processamento, sem as quais os recursos brutos não valem quase nada, também terão implicações para a política internacional. Finalmente, a interação continuada entre os fatores que influenciam a oferta (reservas processamento, novas descobertas, aumento do consumo de energia e pesquisa e tecnologia energética) e os fatores que influenciam a demanda (crescimento econômico, necessidades de um sistema econômico em particular, e disponibilidade de substitutos), que com o passar do tempo modifica a importância relativa de diferentes recursos e fatores geográficos, também é um aspecto importante da geopolítica energética.

Interesse Nacional e Segurança Nacional A despeito dos esforços para definir as necessidades e a política energética dos Estados Unidos, ainda não dispomos de uma política nacional de energia que seja ao mesmo tempo abrangente, realista e aceitável por todos. As propostas do Governo constituem os mais recentes de uma série de esforços para lidar com nossa dependência energética. Não podemos ter certeza de que o plano 

final será mais abrangente que as iniciativas anteriores. Nisso não estamos sózinhos, pois muito poucos países industrializados no mundo de hoje dispõem de uma política energética global. No caso dos Estados Unidos, os objetivos energéticos se perderam em muitas outras preocupações e em um labirinto de política interna. Com o tempo o Governo mostrou que tem a capacidade de aprender e reconhecer as implicações de nossa dependência cada vez maior em relação ao petróleo importado. Passado não tão recente, “iniciativas” e “políticas” energéticas refletiam ações táticas com o objetivo de alcançar metas a curto prazo, uma abordagem imediatista de um problema nacional muito importante. Ao definir e programar uma política energética mais adequada, os Estados Unidos se tornam mais conscientes de até que ponto a dependência energética no comércio internacional afeta a escolha de aliados, modifica as alianças e, em certos casos, cria a necessidade de novas alianças. Os “acidentes” geológicos que concentraram os recursos energéticos em sociedades pré-industriais trazem a questão geral das relações “Norte-Sul” para a busca de acesso, uma busca na qual os Estados Unidos talvez se vejam em disputa com aliados tradicionais, ou empenhados em objetivos de tal modo divergentes que possam afetar a durabilidade de nossas relações.

Interesses do Governo Os países que dependem de recursos energéticos importados têm dois objetivos principais: primeiro, adotar políticas destinadas a assegurar o acesso ao suprimento externo adicional que é essencial para suas necessidades nacionais; segundo, reduzir a necessidade de acesso a suprimentos externos. 

Para assegurar o acesso a suprimentos externos, um governo tem várias opções: pode procurar relações bilaterais com os principais produtores; pode criar um sistema de fornecedores preferenciais; pode participar de movimentos mais gerais como o diálogo Mercado Comum-País Árabe ou de acordos de comércio como a Convenção Lomé; pode oferecer assistência tecnológica; ou pode participar de esforços internacionais ainda mais amplos, como a Agência Internacional de Energia (AlE) e a Conferência de Cooperação Econômica Internacional (CCEI). Pode, naturalmente, fazer tudo isso ao mesmo tempo. Para reduzir a necessidade de acesso a suprimentos externos, um governo pode implementar políticas de conservação, oferecer incentvos para o desenvolvimento de alternativas energéticas, encorajar as pesquisas, etc. Essas são medidas essencialmente internas que um governo pode tomar para reduzir a demanda e estimular a produção. O sucesso dessas políticas será determinado pela oportunidade das medidas, pela decisão com que forem adotadas, pelas políticas econômicas vigentes e pela disponibilidade de recursos energéticos naturais no país. A questão do acesso aos recursos energéticos envolve na verdade três interesses, que são compartilhados por lodos os países carentes de energia: I. O suprimento de energia importada deve ser suficiente; existe um nível de importações abaixo do qual a segurança nacional é colocada em risco. 2. O suprimento de energia importada deve ser contínuo. Interrupções ou cortes no suprimento podem ter sérias repercussões políticas e econômicas nos países industrializados. Naturalmente, é esta vulnerabilidade a interrupções do suprimento que dá aos 

estados fornecedores uma poderosa arma contra os países que dependem de energia importada. 3. A energia importada deve ser obtida a preços “razoáveis” O mais difícil de definir dos três aspectos do acesso. E evidente que o preço pago deve guardar alguma relação com o custo de formas alternativas de energia. tanto disponíveis como planejadas. O preço deve também refletir o fato de que as atuais fontes de energia não são renováveis e suas reservas estão diminuindo. O preço também deve refletir uma “capacidade de pagar”. Esses três fatores-um suprimento suficiente e contínuo a um preço razoável -constituem um trio indissolúvel de interesses energéticos. A falta de qualquer um desses fatores pode ter conseqüências desastrosas para o bem-estar econômico, a estabilidade política e a segurança nacional do país consumidor.

A Geopolítica Energética Contemporânea O século vinte testemunhou a maior mudança nas fontes de energia que o mundo talvez tenha experimentado desde que o uso do fogo foi disseminado. Nos primeiros vinte e cinco anos do século, o carvão foi indiscutivelmente a principal fonte de energia para o mundo industrializado. As necessidades energéticas dos grandes países podiam ser atendidas inteiramente por recursos internos ou suplementadas por fontes próximas (no caso do Japão). O carvão teria continuado a ser a principal fonte de energia se a descoberta de grandes quantidades de petróleo no sul da Rússia, no Oriente Médio e, mais tarde, nos Estados Unidos, não tivesse despertado rapidamente o interesse na facilidade comparativa de sua cxtração e transporte, e de sua conversão para atender a uma grande quantidade de necessidades. 

Que circunstâncias causaram a revolução do petróleo a partir de meados dos anos cinqüenta? Que circunstâncias levaram sua disponibilidade a ser colocada no topo das prioridades nacionais? Essas perguntas podem ser ilustradas por referências estatísticas ao aumento do consumo de energia, a partir de 1960 (o ano em que foi fundada a Organização dos Países Exportadores do Petróleo [OPEP)); naquele ano, o consumo mundial de energia foi da ordem de 132 quintilhões de British Thermal Units (QBTU); dez anos mais tarde, era de 217 QBTU; cinco anos depois, em 1975, chegava a cerca de 225 QBTU. Em 1990 a 415 QBTU -um aumento de mais de três vezes no consumo mundial de energia em apenas trinta anos. Qual foi a participação do petróleo (e do gás natural) nesses aumentos? Em 1960, representavam 48 por cento do consumo mundial de energia. Dez anos depois, a participação havia aumentado para 63 por cento; em 1975, já estava em 67 por cento; e em 1990, mesmo se supusermos uma grande contribuição da energia nuclear, a participação do petróleo e do gás natural chega a 85 por cento. As implicações em termos de quantidade são impressionantes. Oito bilhões de barris de petróleo consumidos em todo o mundo em 1960, 17 bilhões de barris em 1975, e 30 bilhões de barris em 1980: um aumento de quase quatro vezes do consumo de petróleo e gás em trinta anos. O carvão, por outro lado, que havia sido a principal fonte de energia, ainda era responsável por 47 por cento do consumo mundial de energia em 1960, mas caiu para 30 por cento em 1976. Assim, a conveniência do petróleo, o fato de exigir uma quantidade mínima de mão-de-obra, o número extraordinário de aplicações. e, talvez mais importante de tudo, o fato de ser relativamente barato, mais o enorme aumento da capacidade de pro

dução, e as descobertas de imensos depósitos - tudo se combinou para tornar o petróleo e seus derivados a forma mais desejável e mais importante de energia. A decisão que levaria o petróleo a assumir, anos mais tarde, o primeiro lugar como fonte de energia foi tomada antes da Primeira Guerra Mundial, quando o Almirantado Britânico resolveu convencer sua esquadra de guerra para consumir óleo, uma decisão rapidamente imitada por todas as grandes potências da época. Esta medida resultou em toda uma série de fatores geopolíticos: o acesso ao petróleo impôs novos e importantes compromissos às políticas externa c de defesa. Para os ingleses especialmente, dado o tamanho e o papel da Marinha Real, o Oriente Médio, que ainda era considerado como a “ponte” para a Índia e o Oriente, uma ponte a ser defendida contra as ambições dos russos, adquiriu um outro significado estratégico: o acesso aos campos de petróleo do Irã e do Golfo Pérsico. Antes da Segunda Guerra Mundial, os interesses franceses, alemães e norte-americanos também procuravam acesso ao petróleo. Embora a importância estratégica do petróleo possa ter pesado, não foi necessariamente o fator predominante que levou esses países a se interessarem pelo Oriente Médio. No caso da Alemanha, o desejo de obter uma vantagem estratégica em relação à Inglaterra pode ter sido mais importante que o petróleo em si. Da mesma forma, a rivalidade tradicional entre a França e a Inglaterra pode ter sido a razão original para a presença francesa ‘no Oriente Médio, que de qualquer forma não se baseava cm uma necessidade premente de petróleo. No caso dos Estados Unidos, os interesses comerciais foram os mais importassem. Talvez tenha sido principalmente no caso do Japão (que, entretanto, procurou seus suprimentos no Sudeste Asiático) que o reconhecimento da importância estratégica do suprimento de petróleo motivou atividades externas.



Depois da Segunda Guerra Mundial, a ameaça da expansão soviética no Oriente Médio e a criação de Israel acrescentaram novas dimensões aos interesses norte-americanos. A crescente importância atribuída ao petróleo no comércio internacional de energia expandiu rapidamente a lista de preocupações norte-americanas. Entretanto, os Estados Unidos não discutiram as implicações a longo prazo deste acentuado interesse pelo petróleo em geral, nem seu acesso exclusivo ao petróleo da Arábia Saudita. Isto é verdade até hoje, embora os aliados e outros considerem ridículo que os Estados Unidos continuem a explicar que não existe nenhuma “relação especial” quanto às imensas reservas de petróleo daquele reino, de cuja política dependem os interesses energéticos de tantos. As nações industrializadas em geral não têm tido políticas energéticas apropriadas ao seu grau de dependência. Não é de surpreender, portanto, que no começo dos anos 60, quando o consumo de petróleo começou realmente a disparar e a se classificar bem alto na lista de interesses estratégicos das nações, mudanças políticas nos países produtores tenham destruído o sistema imperialista; o controle do petróleo passou para o outro lado. A mudança foi rápida demais para permitir que os países industrializados examinassem com calma as alternativas de que dispunham para recuperar a necessária garantia de suprimento.

Necessidades Energéticas do Mundo Industrializado O crescimento exponencial das necessidades de energia importada dos grandes países industrializados é a condição básica que inicia uma discussão da geopolítica energética. Três conjuntos de dados ilustram a situação: (I) o aumento do consumo de energia desses países; (2) até que ponto essas necessidades têm sido atendidas pelo petróleo e pela importação de petróleo; (3) a importância do Oriente Médio e da África como fornecedores. 10

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Observe na Tabela 1 que: 1. Durante o período 1960-1980, o consumo de energia dobrou em geral e triplicou no caso do Japão; a Europa e o Japão continuaram a depender totalmente, para todos os propósitos práticos, do petróleo importado. 2. De 1960 a 1980, a importância do petróleo para a economia norte-americana aumentou de 20 para 35 trilhões de British Thermal Units (BTU); as importações norte-americanas aumentaram de 23 por cento para 39 por cento. Foi durante este período que os Estados Unidos deixaram de poder atender internamente a suas necessidades energéticas e deixaram de ser o fornecedor de petróleo para o Japão e os aliados da OTAN em caso de emergência. 3. O Oriente Médio e a África continuaram a ser os principais fornecedores de petróleo para a Europa Ocidental e o Japão, e a importância dessas regiões para os Estados Unidos quase triplicou entre 1960 e 1980. 4. Durante o período 1960-1980, apenas a U.R.S.S. foi e continua a ser auto-suficiente em matéria de energia e portanto não dependeu de suprimentos externos.

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Fontes de Petróleo As imensas reservas de onde o mundo extrai o seu petróleo estão limitadas a um pequeno número de países. Desde o inicio da utilização moderna do petróleo, as maiores reservas foram encontradas no Oriente Médio; os maiores produtores, até recentemente, eram os Estados Unidos e a União Soviética. Atual mente, a U.R.S.S. parece estar na liderança, com a Arábia Saudita reduzindo rapidamente a diferença (com mais de 9 milhões de barris por dia [MBD]) e não tendo nenhuma dificuldade técnica para ultrapassar a União Soviética. Entretanto, o petróleo no comércio mundial-que é o ponto essencial, pois atende às necessidades dos países importadores-tem sido predominantemente o do Oriente Médio. Hoje em dia, esse petróleo constitui cerca de 75 por cento do petróleo no comércio internacional. As reservas indicam o volume de petróleo em um dado campo, país ou região que pode ser extraído com lucro aos preços correntes e com a tecnologia disponível. A capacidade de produção é a quantidade de petróleo que pode ser extraída com as instalações de produção existentes. As reservas dos principais produtores (com os níveis atuais de produção e a “capacidade de reserva” indicados) e sua participação no comércio mundial de petróleo fornecem a visão mais completa da importância atual desses países. Os membros da OPEP dominam o petróleo do mundo; sua produção é de cerca de 30 MBD. Os países comunistas produziam 12 MBD e o resto do mundo mais 16 MBD. As reservas de petróleo da OPEP (“estimadas” e prováveis) também dominam: quase 480 bilhões de barris, comparadas com 65 bilhões de barris dos países comunistas e 120 bilhões de barris do resto do mundo. Entre os países da OPEP, as nações do Golfo Pérsico ocupam uma posição especial. São responsáveis por 23 MBD (e têm capacidade para produzir 28 MBD); suas reservas são atualmente da ordem de 365 bilhões de barris. 13

Necessidades de Transportes e Refino do Mundo Industrializado Existem três requisitos básicos para o fornecimento de petróleo: Produção, transporte e refinação. A produção atual de petróleo destinado ao comércio mundial está, para todos os fins práticos, sob o controle político dos países da OPEP. (O Canadá é no momento a única exceção, mas a política oficial do governo tem sido no sentido de diminuir as exportações para atender ao consumo interno.) O “controle” não é absoluto, naturalmente, mas o papel dos governos dos países produtores no controle dos níveis de produção não tem precedentes na História. O transporte de petróleo está atualmente sob o controle de países que não fazem parte da OPEP. A imensa maioria dos petroleiros pertencem ou estão alugados a uma companhia internacional de petróleo. No caso de cortes do fornecimento, esses navios ainda estão sob controle suficiente para atenderem às instruções das companhias. Ou, se as companhias. Estiverem sofrendo uma pressão muito grande do país produtor, às diretrizes das grandes potências (exceto á ex União Soviética). Quanto à tonelagem, revelou-se adequada nas três grandes crises de 1956, 1967 e 1973, mas foi insuficiente em 1970. É mais que adequada em 1980, incluindo navios de menor tamanho que são necessários para os portos norte-americanos; os excedentes atuais de tonelagem são da ordem de 40 por cento. A ex União Soviética parece possuir um número suficiente de petroleiros para atender a suas necessidades e aos compromissos externos. Os países da OPEP não detêm mais que 3 por cento da tonelagem de petroleiros no comércio mundial. Os oleodutos são encontrados principalmente no interior dos Estados Unidos, Canadá, Europa e União Soviética. São ingredien14

tes essenciais para o fornecimento seguro e contínuo de petróleo e gás natural. Nenhum deles, naturalmente, está sob o controle de uns pais membro da OPEP. Apenas os oleodutos e gasodutos que abastecem a Europa com petróleo e gás soviético devem ser considerados atualmente como vulneráveis a uma interrupção por motivos políticos ou de guerra econômica. Os oleodutos do Irã e o sistema através do qual o Iraque e a Arábia Saudita fornecem petróleo aos países do Leste do Mediterrâneo estão sob o controle exclusivo do pais importador (ou são compartilhados em trânsito). Nenhum deles é essencial (por causa dos pequenos volumes de petróleo e da existência de rotas e terminais alternativos) para o comércio internacional de petróleo. A instalação do novo oleoduto da Arábia Saudita para o Mar Vermelho provavelmente não mudará a situação. As vulnerabilidades do suprimento no atual sistema logístico estão relacionadas: (I) à contribuição para a energia da Europa do petróleo e gás produzidos pela ex União Soviética ou que transitam por esse pais; e (2) à composição quantitativa e qualitativa da frota mundial de petroleiros. Com referência ao primeiro item, os fornecimentos da ex U.R.S.S. não foram expressivos, por qualquer critério, mas são obviamente um fator que deve ser observado no futuro, especialmente com relação ao gás natural. No caso dos petroleiros, a tendência para navios maiores e mais especializados poderá no futuro reduzir a flexibilidade do sistema logístico. Quanto às refinarias, a capacidade de processamento dos principais países consumidores de energia é no momento mais que suficiente. Todos possuem uma rede de refinarias capaz de atender a suas necessidades energéticas (no caso dos Estados Unidos, as importantes refinarias das Antilhas são consideradas “seguras”). As intenções expressas dos países produtores de petróleo de passarem a refinar eles mesmos o produto até hoje não se concretiza-

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ram. As refinarias são controladas pelos países industrializados. No fornecimento de petróleo refinado, apenas as refinarias das Antilhas levantam questões de segurança de transporte; quase todo o petróleo do comércio mundial é transportado como petróleo bruto. Além do mais, nenhum pai da OPEP representa individualmente um segmento importante do consumo mundial de petróleo; mesmo tomados em conjunto, esses países não consomem uma quantidade significativa: o consumo total dos países da OPEP é da ordem de 2 MBD. Os grandes mercados do petróleo da OPEP estão concentrados nos países industrializados. Em resumo:

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A Indústria Internacional de Petróleo O papel que o petróleo ocupa no panorama energético mundial deve ser atribuído às companhias privadas de petróleo, especialmente às “grandes internacionais” cujos vastos capitais, capacidade empresarial, aplicação de capital e tecnologia à prospecção e exploração de petróleo, sistemas logísticos, instalações de processamento e sistemas de distribuição foram combinados em uma operação integrada de enorme influência e eficiência. Desde o início, o controle de petróleo internacional pelas companhias inglesas e norte-americanas tem sido uma “constante”; em 1980, ainda é possível observar que não existem “competidores” próximos. Alguma concorrência é oferecida pela ENI, a CFP e outras companhias estatais de vários países. Além disso, muitas companhias “independentes” entraram no comércio internacional de petróleo a partir de 1950. Entretanto, as maiores mudanças na indústria internacional de petróleo foram causadas por atos diretos de governos. Além das medidas tomadas pelos governos dos países produtores para garantir o comrole sobre a destinação do seu petróleo, as medidas dos governos dos países consumidores para limitar a liberdade das companhias internacionais de petróleo têm sido importantes, duradouras e bem-sucedidas, obrigando essas companhias a revelarem informações a respeito de preços, lucros e planejamento. Assim, tanto os países produtores como os consumidores têm agido no sentido de diminuir a influência das grandes companhias internacionais de petróleo. Por outro lado, certas funções exercidas pelas “grandes” continuam a ser insubstituíveis: o controle da circulação mundial do petróleo cru e o acesso aos petroleiros, refinarias e mercados na escala gigantesca necessários para atender ao comércio mundial.

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O papel dessas companhias como geradoras de capital diminuiu consideravelmente, pelo menos nos países produtores. Mesmo a pesquisa e a tecnologia já não são privilégio das “grandes”. Entretanto, a aplicação geral da tecnologia é um empreendimento muito complexo e ainda é considerada como domínio exclusivo das “Grandes”. Como também o é a aplicação dessa tecnologia em ambientes muito hostis, como o Mar do Norte e o Alasca. As grandes companhias internacionais perderam grande parte do seu poder de decisão com relação ao volume de produção e aos preços, e estão começando a perder também a capacidade de fazer planos e assumir compromissos independentemente dos governos dos países consumidores. As “grandes” são consideradas sensíveis ou obedientes a políticas e diretrizes de seus próprios governos; acredita-se, na realidade, que são e sempre têm sido “instrumentos de política externa” (como foram falsamente descritas por Acheson). Dependendo do ponto de vista, o fato de que as companhias nunca atenderam totalmente aos interesses dos seus governos pode ser considerado como uma afirmação de independência ou como uma conseqüência do fato de que esses governos nunca definiram claramente seus interesses energéticos e os parâmetros dentro dos quais as companhias teriam que operar. De qualquer forma, o papel das companhias ainda é indispensável a todos os interesses, embora mais limitado que antes.

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A Política dos Países Carentes de Energia Houve duas fases na história da política de petróleo desses países: Primeiro veio o período imperialista, no qual os governos e as companhias competiam pelas concessões de petróleo; o apoio governamental a esses acordos sempre foi considerado como a maior garantia de sua durabilidade. Naturalmente, para as companhias internacionais de petróleo, ontem e hoje dominadas pelos gigantes ingleses e norte-americanos, as prioridades estavam invertidas; seus interesses comerciais eram o fator mais importante; para elas. As rivalidades entre os países eram aspectos do eterno problema de acesso a volumes cada vez maiores de petróleo-para serem usados quando necessário. As companhias internacionais de petróleo não encorajaram seus governos a desenvolverem politicas energéticas que pudessem limitar a liberdade de ação considerada essencial para suas operações em escala mundial. Apoio ou proteção dos governos? Sim. Orientação ou controle? Não. A segunda fase-que começou no período entre as duas guerras mundiais - foi caracterizada pelo aparecimento de companhias estatais de petróleo, cujos objetivos eram os seguintes: (I) permitir a participação nacional no fornecimento de um produto cuja importância estava se tornando vital; (2) desafiar o monopólio inglês e norte-americano no comércio mundial de petróleo. No primeiro objetivo, a preocupação central era aumentar o controle sobre as atividades dos principais fornecedores e avaliar melhor as condições em que o petróleo estava sendo importado. No segundo objetivo, os governos talvez mais por questões de prestígio do que para obter vantagens comerciais - encorajaram as atividades internacionais de companhias nacionais. Esses dois 19

objetivos, muitas vezes interligados, têm aumentado de importância com o passar dos anos. A criação das companhias estatais de petróleo dos países consumidores ocorreu quase simultaneamente com o aparecimento das organizações dos países produtores, refletindo assim pelo menos um interesse comum nas condições em que se desenvolve o comércio mundial. A participação dos governos dos países produtores e importadores de petróleo relegou a segundo plano os fatores puramente comerciais; o suprimento de petróleo se tornou um fator tão importante para a segurança nacional que outros fatores além da simples economia de mercado tiveram necessariamente de entrar em cena. Em conseqüência, os governos hoje em dia podem estar dispostos a usar de todos os meios a seu alcance para assegurar um suprimento adequado e contínuo a um preço aceitável; do ponto de vista de produtores e consumidores, outros interesses estão atualmente envolvidos no acesso ao petróleo: assistência militar - tecnólogia, investimentos, objetivos econômicos e políticos, todos os quais complicam consideravelmente o contexto no qual os recursos energéticos são discutidos. No processo, as companhias estatais de petróleo dos países consumidores começaram a adquirir a capacidade de agirem direta ou indiretamente como instrumentos de políticas que refletem uma faixa mais ampla de preocupações e que são menos egoístas ao ajudarem a fixar os lermos comerciais em que o petróleo é fornecido. Hoje em dia, esses termos são estabelecidos quase sempre pelas companhias estatais dos países produtores, e essas condições também podem refletir uma faixa muito grande de interesses dos produtores, dos quais o “comércio”, embora importante, é apenas um dos aspectos. 20

Dada a existência desses aspectos não comerciais do petróleo, as complexidades envolvidas no processo de tentar assegurar o suprimento se tornaram evidentes nas negociações que levaram â criação da Agência Internacional de Energia para as nações consumidoras importadoras. O propósito ostensivo da AIE era chegar a um acordo quanto à forma mais justa de dividir O petróleo disponível em caso de outra emergência; já foram aprovadas algumas medidas, como a de estabelecer um programa de estoques de emergência que no futuro poderá atender a noventa dias de consumo. Entretanto, desde a ocasião em que o governo norte-americano começou a apoiar a criação da AIe, os países consumidores ficaram com receio (e ainda estão) de que se ocorrer outro corte ou embargo, os Estados Unidos serão provavelmente o alvo principal, e portanto a participação de outros países em um acordo desse tipo trará mais desvantagens do que vantagens. Por trás da clara hesitação dos consumidores em se comprometerem de antemão a compartilhar o petróleo com outros, estava a questão mais básica: A AIE não seria encarada como um “desafio” pelos países produtores? Não estariam a Europa e o Japão arriscando muito mais que os Estados Unidos? Graças principalmente à habilidade de Etienne Davignon, que convenceu o Mercado Comum, a AIE foi criada e passou a constituir um dos alicerces fundamentais da estratégia dos Estados Unidos para “lidar com a OPEP”, isto é, uma frente unida de países consumidores. Entretanto, nenhum membro da AIE deixa de reconhecer que a diplomacia, a política, a energia e a economia estão indissoluvelmente ligadas, e que a AIE pouco poderá fazer sozinha, a não ser que muitas outras medidas sejam tomadas para persuadir os países produtores a atenderem à demanda cada vez maior de petróleo dos países industrializados. 21

As tentativas neste sentido começaram em dezembro de 1975 em Paris. Com o lançamento da Conferência de Cooperação Econômica Internacional, uma iniciativa da Arábia Saudita c da França, começou o processo de discussão das questões interligadas de energia, outros bens primários, desenvolvimento econômico e questões financeiras. As teses da CCEI foram combatidas inicialmente, e, segundo alguns, permanentemente pelos Estados Unidos, mas foram apoiadas por outros países, que as consideravam, pelo menos, como uma forma de evitar o “confronto” e de chegar possivelmente a um entendimento mais satisfatório, do qual o acesso confiável ao suprimento energético fosse uma parte importante. Trata-se de outro esforço para estabelecer uma relação mais satisfatória para ambas as partes entre os fornecedores e os consumidores de matérias-primas que o antigo sistema imperialista. O sucesso da CCEI não esta. assegurado; grandes interesses estão em jogo, e talvez não seja possível conciliar a todos.

Energia e a ex União Soviética De todas as grandes potências industrializadas, a ex U.R.S.S. é a única que no momento é auto-suficiente em matéria de energia. (A produção soviética de petróleo e gás natural atende às necessidades internas atuais. De acordo com os dados conhecidos, a produção interna de energia da ex U.R.S.S. atende a uma demanda geral de 60 QBTU através de um suprimento constituído por 34 por cento de carvão, 23 por cento de gás natural e 36 por cento de petróleo.

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O principal problema energético que a ex U.R.S.S. está tendo que enfrentar é a dificuldade de atender às necessidades energéticas dos países da Europa Oriental, dos quais insiste em ser a principal fornecedora. O consumo atual de petróleo da Europa Oriental é da

ordem de 1,8 MBD; a Rússia fornece 90 por cento das importações da região, principalmente a partir dos seus próprios recursos, e o restante é obtido no norte da África e no Golfo Pérsico. O aumento dos recursos energéticos soviéticos envolve custos imensos. Dificuldades topográficas, logísticas e técnicas, e os longos sistemas de oleodutos necessários para explorar os campos da Sibéria Oriental continuarão a ser obstáculos para o aumento da produção. Até hoje, os esforços soviéticos para adquirir a atual tecnologia (técnicas de perfuração em terra e no mar e processos de recuperação) das companhias de petróleo do Ocidente e do Japão, que é considerada essencial para o aumento dos recursos energéticos da Rússia, têm sido mal sucedidos. Entretanto, os russos insistem. As estimativas das necessidades de importação dos russos na próxima década variam de pouco mais de I MBD até 9 MBD. Simplesmente não sabemos ao certo e só podemos afirmar que provavelmente a Rússia terá que importar petróleo nesta década, até que seja capaz de explorar novos recursos em seu território. A tecnologia ocidental ajudaria a ex U.R.S.S. a manter sua autonomia energética. O relatório da Central Inteligence Agency , que estimou as importações da ex União Soviética em 1985 em 3,5 a 4,5 MBD (petróleo importado do Oriente Médio) está consideravelmente acima do grau de dependência previsto por outros estudiosos. Uma questão a respeito da política soviética que há muito tempo os governos produtores “radicais” do seu lado em um programa de guerra econômica contra o Ocidente e o Japão. Tem havido oportunidades para isso: a Crise de Suez de 1956, a Guerra de Junho de 1967, e a Guerra de Outubro (e conseqüente embargo) em 1973-1974. Além do mais, poderia parecer que nos três casos havia sentimentos anti ocidentais mais que suficientes para assegurar um aumento da influência soviética. Além disso, grandes

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investimentos soviéticos em empréstimos, projetos de desenvolvimento, equipamentos e treinamento militar em vários países e ocasiões desde a Segunda Guerra Mundial – no Iraque, Síria, Egito e mais recentemente na Somália e Etiópia – devem ter parecido ao Kremlin razão suficiente para acreditar que estava criando uma presença permanente no Oriente Médio, que há muito vinha buscando mas que parecia um objetivo inatingível. Entretanto, nenhuma dessas iniciativas surtiu resultados suficientemente duradouros, até hoje, para colocar em risco o suprimento de petróleo. Até o momento, pelo menos, a campanha da Rússia contra os “imperialistas do petróleo” tem sido um fracasso. As razões para esse insucesso não são muito claras, mas três considerações parecem válidas: I. Os russos deixaram de identificar seus próprios objetivos e ideologia aos dos regimes “radicais” do Oriente Médio e do norte da África, a despeito de relações táticas ocasionais e relativamente fugazes, que não foram suficientemente abrangentes para se tornarem “permanentes” ou “estratégicas”. Por mais radicais que alguns países árabes possam parecer, provavelmente muito poucos estão dispostos a se submeterem a um novo controle estrangeiro depois de se livrarem do controle do Ocídente. 2. Os russos não conseguiram penetrar significamente no Kuwait, Irã e Arábia Saudita, cujos interesses petrolíferos superam de longe o único país produtor de petróleo que a ex União Soviética conseguiu controlar: o Iraque. Sem a forte influência desses outros produtores, O Iraque nunca foi suficiente.

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Hoje cm dia, talvez a União Soviética não considere o Iraque como “digno de confiança”. Além disso, o Kuwait, o Irã e a Arábia

Saudita têm sido forças conservadoras na região, menos inclinadas a compartilhar seu futuro com o do mundo ex comunista. 3. Os russos não foram capazes de convencer os países produtores de que qualquer interrupção do fornecimento de petróleo ao Ocidente, causada por medidas dos governos dos países produtores contra as companhias internacionais de petróleo, poderia ser compensada pela substituição imediata dos técnicos das companhias por elementos locais, com a assistência da União Soviética. Finalmente, nunca houve qualquer possibilidade de que as importações de petróleo do Mundo Comunista atingissem um volume suficiente para proporcionarem ao Oriente Médio, mesmo por um curto período de tempo, a mesma renda obtida através de vendas para o Ocidente e o Japão. Pode haver uma quarta explicação: a U.R.S.S. pode ter julgado que seus esforços para prejudicar os acordos de petróleo com o Ocidente poderiam resultar em uma reação dos Estados Unidos que, em época de crise, talvez levasse à guerra. Até o momento, nenhuma crisc, genuína ou provocada pelos russos, foi suficientemente séria para conduzir a este desfecho. Ou é possível que os soviéticos possam ter sido mal sucedidos em sua busca de aliados porque o Kremlin não pôde ou não quis oferecer uma assistência no nível que os clientes em potencial consideravam desejável?

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A Política dos Países Produtores Quanto à evolução da política dos países produtores, a observação crítica é que cada país exportador de petróleo (inclusive quase todos os pequenos produtores) passou por uma variedade de experiências colonialistas sob o controle de um dos impérios ocidentais; se o país não era uma colônia no sentido formal da palavra, seus lideres e seu povo provavelmente se consideravam como colônias. Como em muitos casos o início da exploração do petróleo teve lugar durante uma experiência neocolonialista, a nacionalização do controle da extração de petróleo foi encarada por esses povos como o sinal do fim de uma era. Assim, praticamente para todos eles, o “petróleo” tem um signhicado profundo em sua emancipação política e econômica. A lista inclui o México, a Venezuela, a Argélia, a Líbia, o Irã, o Iraque, o Kuwait, a Indonésia e a Malásia. Ao libertar-se de uma relação “colonial” e assumir o controle sobre a exploração do petróleo, o México mostrou o caminho em 1938, desapropriando as companhias estrangeiras de petróleo. Isso aconteceu há mais de sessenta anos, mas a situação perdura até hoje: quem resolve o que vai fazer com o seu petróleo é o México, e não os estrangeiros e os interesses estrangeiros. No Irã-no governo de Mossadegh-a situação tornou-se particularmente explosiva. Se o pai assumisse o controle do petróleo, isto teria um efeito incendiário sobre as concessões e o papel das grandes companhias em todo o Oriente Médio. Embora Mossadegh tenha “fracassado”, graças principalmente ao embargo das companhias petrolíferas inglesas e norte-americanas, o resultado pode ser considerado, na verdade, como uma vitória para o Irã. No final, o quase monopólio da Anglo-Iranian Oil Company foi substituído por um consórcio, com participação significativa de companhias 26

norte-americanas, que passou a funcionar em condições bem diferentes. Afinal, o Irã assumiu o controle sobre o petróleo como uma parte essencial de sua independência econômica e política, e o exemplo iraniano veio a servir de modelo para a política de petróleo de outros países menos desenvolvidos (PMD). A Indonésia também foi um país pioneiro. General Ibnu estava convencido de que enquanto o sistema colonialista de concessões prevalecesse ás corrosivas políticas internas de petróleo não poderiam ser contidas. Ele insistiu em que era essencial uma nova política de petróleo, e as companhias foram forçadas a ceder. Contratos de serviços e de risco se tornaram a regra geral e removeram rapidamente o estigma político da exploração estrangeira do petróleo da Indonésia. No caso da Nigéria, a exploração das reservas de petróleo começou depois da independência política, mas sua atitude hoje em dia resulta da experiência como colônia e em um período caótico depois da independência, que foi complicado ainda mais pelas maquinações das grandes potências. Assim, a política de petróleo da Nigéria se baseia na crença de que a independência econômica é um requisito essencial para a independência política, a mesma crença que motiva outros PMO. O Canadá e a Austrália poderiam ser considerados exceções à regra que liga o petróleo ao “colonialismo”, mas a realidade é outra. Qualquer um que tenha acompanhado a evolução política desses dois países não ignora a atitude dominante de que seus recursos estão sendo explorados por estrangeiros; nos dois casos, O governo acredita que a indústria energética está a serviço de interesses externos. Assim, por exemplo, quase 90 por cento do petróleo do Canadá é controlado por subsidiárias de companhias de petróleo norte-americanas. A experiência da Austrália não é 27

muito diferente. Na questão do petróleo, esses países estão quase na mesma situação que os exportadores da OPEP. Alguns consideram a Arábia Saudita como a única verdadeira exceção à experiência colonial de outros produtores. Originalmente, os sauditas deram preferência aos interesses norte-americanos, principalmente porque os Estados Unidos eram “diferentes” e poderiam contrabalançar o domínio inglês no Golfo Pérsico. Até hoje, as relações entre a Arábia Saudita e os Estados Unidos têm permanecido relativamente livres do antagonismo que tem caracterizado as relações entre outros produtores e aqueles que controlam o seu petróleo. Mesmo assim, dada a enorme importância do petróleo saudita, é necessário considerar as perspectivas presentes e futuras à luz de três observações: primeiro, é possível que, em um momento crítico, alguns dos líderes sauditas procurem obter vantagens políticas do fato incontestável de que as companhias de petróleo norte-americanas desde o inicio monopolizaram a exploração e distribuição dos imensos recursos sauditas; em segundo lugar, a Arábia Saudita assumiu o controle político do seu petróleo mais ou menos na mesma ocasião que os outros países da OPEP, de modo que o fato de assumir o controle sobre o petróleo une os sauditas aos outros produtores; em terceiro lugar, os sauditas não podem se isolar dos seus vizinhos do Golfo Pérsico. Eles não estão imunes às pressões e tendências políticas da região. Em resumo, os sinais de alerta de que haveria mudanças políticas no controle do petróleo vieram há algum tempo, e depois a situação evoluiu rapidamente. Não há indícios de que os atores principais -os gigantes internacionais do petróleo -tenham previsto as mudanças. Quando a crise chegou, a politização do petróleo se disseminou com uma rapidez que impediu que as companhias e seus governos se ajustassem a tempo, mesmo que estivessem dispostos a fazê-lo (o que não estavam). 28

Parte do ressentimento ou desconfiança dos produtores pelas companhias internacionais de petróleo advém da ligação óbvia entre os interesses imperialistas britânicos e o controle por parte dos ingleses de uma parte significativa de duas das onipresentes “Sete Irmãs”. As outras cinco “Irmãs” têm sido controladas pelos norte-americanos, e nesse caso o ressentimento ou apreensão tem sido dirigido contra este símbolo de “capitalismo internacional” do ponto de vista das lideranças socialistas dos PMD. Os maiores produtores e exportadores de petróleo são também PMD.

Observações a Respeito da Energia I. A dependência inevitável de praticamente todos os grandes países carentes de energia em relação ao petróleo do Oriente Médio é o fato fundamental. Tão grande é no momento a capacidade de produção não-utilizada na região (cerca de 5 MBD) que, se todas as outras fontes de petróleo do comércio mundial fossem extintas, os grandes países industrializados poderiam satisfazer a todas as suas necessidades de importação de energia recorrendo apenas à capacidade de reserva do Oriente Médio. 2. Durante as últimas décadas, fora do Oriente Médio e do mundo ex comunista, não foram descobertas grandes reservas de petróleo, a não ser na Líbia, Nigéria, Mar do Norte, Alasca e Méxíco. Atualmente as descobertas do Pré sal implicam tecnologias de perfuração dispendiosas e estão ainda numa fase de extração em nível pouco alargado. Uma estimativa conservadora do tempo necessário para explorar “provar” desenvolver e produzir uma quantidade significativa de petróleo para o comércio mundial é de cinco a dez anos. É extremamente improvável que essas descobertas resultem em uma produção capaz de superar o aumento da demanda mundial de petróleo e inverter a tendência da relação reservas/produção, de modo a assegurar o suprimento até o final do século.

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1.Não é provável, portanto, que a importância do petróleo do Oriente Médio diminua nesta década ou mesmo até o final do século. 2.A ex U.R.S.S. (e os países vizinhos) não é atualmente candidata direta ao petróleo do Oriente Médio. A competição pelo petróleo do Oriente Médio é entre os aliados da OTAN e o Japão. 3.Atualmente, a OPEP é menos importante que a OPAEP. Mais exatamente, a capacidade de produção ociosa da Arábia Saudita e sua produção potencial são as mais importantes. A Arábia Saudita produz atualmente cerca de 9,5 MBD; sua capacidade de produção atual é estimada em 11,5 MBD; e sua produção potencial pode chegar a 20 MBD ou mais. Assim, qualquer decisão saudita a respeito de volumes e preços é muito importante. 4.O problema principal da Organização dos Países Árabes Exportadores de Petróleo (OPAEP) é a possível diversidade de interesses dos países do Golfo Pérsico, especialmente o Iraque, o Irã, O Kuwait, e a Arábia Saudita, e os problemas e oportunidades que isto pode apresentar para as grandes potências industrializadas. 5. As relações “especiais” entre os Estados Unidos e a Arábia Saudita são de longe as ligações mais importantes entre produtores e os grandes importadores de petróleo. Entretanto, a Europa e o Japão dependem muito mais do petróleo saudita e iraniano do que os Estados Unidos, o que sugere que a ligação entre os Estados Unidos e esses países produtores pode ocasionar alguns problemas nas relações com a Europa e o Japão. Além do mais, dada a hostilidade que existe entre o Irã e a Arábia Saudita, talvez os Estados Unidos encontrem dificuldades em manter uma relação “especial” com os dois países. 6. Os países-membros da OPEP -todos PMD -controlam a produção de “quase” todo o petróleo do comércio mundial. 30

7. Os países produtores controlam uma parcela significativa das rotas marítimas, que começam em seus terminais e instalações de carregamento e se estendem pelo Golfo Pérsico, Oceano Índico, Mar Vermelho e Suez, o Canal de Moçambique, os Estreitos de Málaca e Lombok. Todo esse trajeto está sujeito a interferências ou interrupções por parte de produtores ou PMD, ou ambos. 10. O controle do resto do sistema logístico-petroleiros, oleodutos e instalações de processamento (e da tecnologia energética) ainda está nas mãos do mundo industrializado, assim como os grandes mercados de petróleo. Apenas cerca de 3 por cento da rota mundial de petroleiros de 320 milhões de toneladas está atualmente sob o com role dos países da OPEP. Apenas os oleodutos que transportam o petróleo para os terminais de carregamento dos petroleiros estão nas mãos desses países; nenhum dos que atendem diretamente aos países consumidores é afetado. Os países consumidores dispõem atualmente de uma grande capacidade de refino e são auto-suficientes neste particular. 11. A Europa, o Japão e o Oriente Médio dispõem de portos para superpetroleiros que são suficientes para suas necessidades atuais. Os Estados Unidos ainda não podem valer-se plenamente da economia proporcionada pelos “very large crude carriers” (VLCC). Como não dispõem de portos com calado suficiente, os Estados Unidos dependem de navios menores, que atualmente não são fabricados no mesmo ritmo que os VLCC. 12. Os países-membros da Agência Internacional de Energia, através de seu plano de compartilhar o suprimento disponível de petróleo em caso de interrupções do suprimento por qualquer razão, podem ser capazes de suportar melhor os efeitos de interrupções ou cortes do fornecimento do que no passado. Pelo menos, o mecanismo de emergência parece adequado, introduzindo assim um fator de incerteza nos planos dos produtores de petróleo. 31

13. As companhias internacionais de petróleo continuam a desempenhar um papel essencial tanto para os países produtores como para os consumidores, graças aos seus sistemas logísticos e ao acesso a instalações de processamento, que lhes permitem manipular grandes volumes de petróleo. Pelo menos 80 por cento do comércio mundial de petróleo (28 MBD) é de responsabilidade dessas companhias. Em vinte e quatro horas, essas companhias transportam cerca de um bilhão de barris de petróleo de um local para outro. 14. Justamente quando o petróleo assumiu uma importância vital para os países industrializados, o “controle” do acesso a este recurso foi tomado pelos produtores das companhias de petróleo dos países consumidores. Até o momento produtores e consumidores não chegaram a nenhum acordo global que garanta o suprimento de petróleo; não se chegou nem mesmo a um processo para elaborar o acordo. Os preços são determinados pelos países produtores, e os governos dos países consumidores ainda não descobriram meios de influenciá-los. “Os acordos com relação a preços e volumes ainda são “ fechados” entre companhias e governos produtores, embora as condições sejam, em última análise, impostas pelos últimos. 15. Nenhum país industrializado carente de petróleo dispõe de uma política energética abrangente e detalhada. Os Estados Unidos não constituem exceção. Mesmo que os países importadores de petróleo tivessem metas e compromissos bem definidos, não poderiam de forma alguma alterar fundamentalmente os aspectos básicos da geopolítica energética atual. Esforços muito grandes, durante várias décadas, parecem ser necessários para que escapem da situação atual, na qual os países industrializados dependem do petróleo que é controlado por um pequeno grupo de PMD. 32

A importância geopolítica do petróleo resulta de dois fatores principais: (I) o petróleo, como combustível e matéria-prima, é o sangue das economias industrializadas; (2) as reservas e a produção de petróleo tendem a se concentrar cm certos países menos desenvolvidos. Com efeito, as reservas e produção de petróleo são mais abundantes cm um pequeno número de países em desenvolvimento, enquanto que a necessidade de um suprimento adequado e continuado de petróleo cm grandes volumes é mais urgente nos países desenvolvidos, industrializados.

A Importância do Petróleo O petróleo continuará a atender à maior parte das necessidades globais de energia até ao final do século XX. Entretanto, existe uma grande possibilidade de que a importância do petróleo tenha sido subestimada nas previsões: l. O petróleo é considerado o combustível “quebra-galho” compensando todas as deficiências na produção de fontes de energia alternativas; assim, se houver qualquer atraso no desenvolvimento e produção de carvão, gás natural e energia nuclear, o petróleo terá que compensar a diferença. 2. As previsões supõem que, no futuro, as taxas de crescimento do PNB serão menores que as taxas históricas; se no futuro as taxas de crescimento do PNB voltarem à tendência antiga ou superarem os valores usados nas previsões, o petróleo terá que atender a uma maior demanda de energia. Como as previsões tendem a ser excessivamente influenciadas por eventos correntes ou de curto prazo, existe a possibilidade de que as taxas de crescimento supostas sejam, na realidade, pequenas demais. 33

3. Se a queda do consumo de petróleo foi mais uma conseqüência da recessão do que um resultado da alta dos preços, a recuperação econômica estimulará o consumo. 4. Se o preço de alternativas energéticas a curto prazo acompanhar os preços mundiais do petróleo, os incentivos para a substituição (que pode também envolver a compra de novos equipamentos e Qutros investimentos iniciais) serão reduzidos, enquanto que os incentivos para aumentar a produção interna de petróleo se tornarão maiores; em conseqüência, a substituição de petróleo por outras fontes de energia poderá ser retardada. 5. A mentalidade de crise que apareceu como conseqüência do embargo de 1973 já diminuiu, e parece haver um senso muito menor de urgência com relação à necessidade de desenvolver alternativas para o petróleo, pelo menos para o público em geral. Além do mais, muitas das previsões dependem da capacidade dos governos de elaborar, promulgar e implementar uma política energética abrangente. Se os governos foram incapazes de fazêlo, como até agora, o desenvolvimento de formas alternativas de energia poderá ser retardado. Como as previsões dependem da implementação dos programas nacionais de conservação, podem superestimar o grau de decisão política existente nos países industrializados. Em geral, o desempenho econômico sofrível dos países industrializados tem levado os governos a manterem os preços internos do petróleo abaixo dos preços internacionais, diminuindo assim os efeitos de conservação e incentivo da alta dos preços. Além disso, em alguns países a incerteza a respeito dos papéis do governo e do setor privado inibe as atividades de ambos no setor energético. Em todos esses casos, o resultado é o aumento continuado da demanda do petróleo e um desenvolvimento mais lento de alternativas energéticas. 34

Os prazos de maturação associados ao desenvolvimemo de fontes alternativas ou suplementares de energia são bastante longos. Os seguintes prazos de maturação estimados (anos entre a decisão e o início das operações) -provavelmente otimistas -são ilustrativos: • Desenvolvimento de campo provado, mas sem produzir, no Oriente Médio 1-2 anos • Aumento da produção de campo de petróleo, nos Estados Unidos 1-3 anos • Extração de petróleo da plataforma continental, nos Estados Unidos 9-14 anos • Mina de carvão a céu aberto 2-4 anos • Mina de carvão subterrânea 3-6 anos • Usina elétrica a óleo, geotérmica ou usando combustíveis sintéticos 5 anos • Usina elétrica a carvão 5-8 anos • Usina hidrelétrica 5-8 anos • Produção de petróleo e gás natural em novos campos, nos Estados Unidos 3-12 anos • Prospecção e mineração de urânio 8-10 anos • Gaseificação de carvão 10-15 anos • Areias petrolíferas e xisto 5-10 anos

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O efeito desses longos prazos de maturação se torna mais claro quando somamos a esses números os atrasos na tomada de decisões, resultantes de políticas governamentais ambíguas, e o fato de que o inicio das operações não corresponde ao ponto de máxima contribuição. Todas as indicações disponíveis sugerem que apenas depois de depois do final do século XX e as fontes alternativas de energia - óleo de xisto, óleo de areias petrolíferas, energias marítimas, aeólicas, biomassa, hidrogênio e solar – foto voltaica -começarão a contribuir significativamente para o suprimento total de energia. O tempo, nesse caso, se torna de importância vital. É bem possível que as fontes alternativas de energia não sejam desenvolvidas com rapidez suficiente ou em escala suficiente para evitar crises esporádicas de energia e a ocorrência de uma escassez global de petróleo. Será difícil coordenar os muitos aspectos da relação oferta-demanda de petróleo, e crises esporádicas podem ser previstas, começando nos primeiros anos desta década. A posição dominante do petróleo no suprimento total de energia Está assegurada que até 2010/2020 que o petróleo seja destronado. Se não forem adotadas medidas imediatas quanto á inovação e implementação de energias alternativas, a situação no resto do século poderá ser basicamente a mesma: o petróleo ocupará uma posição dominante no suprimento de energia. Dar-se-á o Pico do Petróleo. Além disso, mesmo que a participação do petróleo no suprimento total de energia possa ser reduzida até o final do século, a demanda continuará a aumentar em termos absolutos. 36

A importância das importações de Petróleo Os países industrializados continuarão a depender do petróleo como principal fonte de energia, e isto por sua vez significam que os países industrializados, como um todo, continuarão a depender das importações de petróleo. Entretanto, existem diferenças entre os países do Mundo não desenvolvidos e pobres mas ricos em recursos naturais, quanto a: (I) a importância do petróleo para a economia; (2) o grau de dependência de importações; (3) as possibilidades de conservação de energia em geral e conservação de petróleo em particular; (4) a possibilidade de aumentar a produção interna de petróleo; (5) a vulnerabilidade à escassez de petróleo; (6) a possibilidade de usar outros recursos naturais para substituir o petróleo. Para o Japão, o petróleo constitui a maior parte (70-75 por cento do consumo de energia primária. Além disso, praticamente 100 por cento do suprimento de petróleo do Japão ainda será importado. As perspectivas a longo prazo não são favoráveis, e é pouco provável que sejam descobertas reservas significativas de petróleo. A curto prazo, o Japão pode apenas procurar diversificar suas fontes de importação, para reduzir sua dependência em relação aos fornecimentos do Oriente Médio (75 por cento das importações de petróleo cru do Japão ), enquanto que a criação de uma reserva estratégica de petróleo cru poderia reduzir a vulnerabilidade do Japão a interrupções do suprimento. A prazo mais longo, apenas o desenvolvimento de fomes de energia alternativas particularmente a energia nuclear - reduzirá a dependência japonesa em relação ao petróleo, e portanto em relação às importações. A dependência energética, entretanto, continuará a ser um fato da vida e da mais grave conseqüência estratégica para o Japão, já que o país não dispõe de reservas significativas de nenhum recurso energético -nem carvão, nem urânio, nem petróleo, nem gás natural.

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A Europa também continuará a depender de importações de petróleo. O petróleo será responsável por 50 por cento do consumo de energia. A produção de petróleo e gás no Mar do Norte poderá aliviar um pouco a situação, particularmente para a Inglaterra, mas uma dependência em relação às importações de petróleo da ordem de 70 a 85 por cento é prevista para a Comunidade Européia. O petróleo será responsável por quase 40 por cento do consumo de energia dos Estados Unidos, o pais ainda terá que importar 50 por cento do seu suprimento de petróleo. Talvez esta situação perdure até ao final da 1º década de 2000. A meta dos Estados Unidos de reduzir as importações de petróleo para menos de 6 MBD em 1985 parece difícil de ser atingida. E difícil acreditar que em menos de cinco anos o maior consumidor de energia do mundo consiga este feito. (Por outro lado, o petróleo representa uma menor porcentagem do consumo total de energia do que na Europa e no Japão. Além disso, a porcentagem de petróleo importado é menor. Finalmente, os Estados Unidos dispõem de mais recursos energéticos alternativos que as outras duas regiões.) A produtividade dos campos de petróleo Russo está diminuindo, e as reservas mais promissoras estão em ambientes hostis, longe dos mercados da Rússia Européia e da Europa Oriental. Os russos poderão desenvolver os campos da Sibéria Oriental com seus próprios recursos, mas o processo será longo e penoso. Não podemos excluir a hipótese de uma ajuda ocidental no futuro, mas quanto mais essa ajuda demorar, menos será necessária. A contribuição do petróleo da Sibéria Oriental só começará a se fazer sentir a partir de 2000 seja uma data mais realista. Nessa ocasião, o petróleo da Sibéria servirá apenas para compensar o esgotamento dos campos mais antigos. 38

O programa de conversão da economia interna para o petróleo provavelmente sofrerá certo atraso. Por outro lado, os russos podem preferir importar petróleo do Oriente Médio. Na Europa Oriental, os russos deverão encorajar países a também importar mais do Oriente Médio. Os soviéticos se comprometeram a fornecer 67 por cento do petróleo consumido pela Europa Oriental, uma redução substancial mas em quantidades suficientes para manter a influência e o controle soviéticos. Os russos vão tentar manter as exportações para a Europa Ocidental, talvez mesmo à custa da redução dos fornecimentos para a Europa Oriental. Ao mesmo tempo, com o rápido aumento do consumo na Rússia e na Europa Oriental e com o aumento dos preços do petróleo, as exportações soviéticas para o Ocidente provavelmente se estabilizarão em um certo volume abaixo do que lhes daria uma influência econômica e política significativa sobre os países da Europa Ocidental. As exportações de petróleo para o Japão poderão aumentar um pouco, enquanto que exportações para a Europa Ocidental, da ordem de pouco menos de I MBD, parecem prováveis, Para praticarem uma chantagem econômica, os russos teriam que contar com a conivência de pelo menos alguns dos produtores do Oriente Médio. Nem a Europa Ocidental nem o Japão estão dispostos a trocar sua dependência atual do petróleo do Oriente Médio por dependência futura do petróleo russo. Também não é provável que o petróleo russo venha a ser encarado como uma competição por parte dos países do Oriente Médio. Em outras palavras, não deverão surgir tensões entre os PMD exportadores de petróleo e a ex U.R.S.S. por causa dos mercados ocidentais, já que as exportações russas tenderão a se estabilizar c a situação de oferta-demanda no pais ficará mais equilibrada. 39

A ex União Soviética dispõe de vastas reservas “desconhecidas” de petróleo. Assim, a partir 2000 talvez os russos recuperem sua posição de auto - suficiência energética. É preciso notar que a escassez de petróleo na ex União Soviética não será causada pela exaustão das reservas, e sim pelas dificuldades de explorar a tempo as reservas ainda não utilizadas. Em conclusão, o desenvolvimento de alternativas internas, a substituição, a conservação e a redução da demanda de petróleo não eliminarão a dependência energética dos países industrializados, particularmente Europa e Japão. Talvez a contribuição relativa das diversas formas de energia mude um pouco, mas é evidente que a dependência de fontes de energia importadas, inclusive o petróleo, será uma realidade para os países industrializados.

Reservas de Petróleo Concentração das Reservas Em 1980, O Oriente Médio e a África foram responsáveis por 65 por cento das reservas provadas mundiais de petróleo bruto (78 por cento das reservas provadas do Mundo ); entretanto, o consumo do Oriente Médio e da África representou apenas 5 por cento do consumo mundial. As reservas da OPEP constituíam 66 por cento das reservas provadas mundiais (80 por cento), enquanto que as da OPAEP correspondiam a 50 por cento. Ao mesmo tempo, a América do Norte e a Europa Ocidental detinham apenas 15 por cento das reservas mundiais (o Japão não tinha reservas), mas as três regiões eram responsáveis por 65 por cento do consumo mundial. 40

É extremamente improvável que este padrão venha a sofrer qualquer mudança significativa. Pelo contrário, a tendência é no sentido de que as reservas se concentrem em um número de países cada vez menor - isto é, os países do Golfo Pérsico à medida que o consumo dos países industrializados for aumentando em relação a suas reservas. Não é provável que o aumento das reservas de petróleo dos países industrializados seja maior que o aumento do consumo. A prospecção intensiva, o uso de novas técnicas de recuperação, a adoção de medidas de conservação e a redução do consumo de petróleo não evitarão um declínio da relação reservas/produção. Além do mais, dados os longos prazos de maturação entre descoberta, desenvolvimento e produção plena, um aumento imediato das reservas só começaria a contribuir para o suprimento do petróleo a partir de meados da próxima década.

Categorias de Reservas Com o aumento dos preços do petróleo, tornou-se um hábito ir além da espera das reservas provadas é falar de outras categorias de reservas que, com os preços mais altos, podem tornar-se econômico. As reservas provadas, de acordo com o American Petroleum Institute, são as “qual1lidades de petróleo cru no solo que dados geológicos e de engenharia demonstram com razoável certeza que são recuperáveis de reservatórios conhecidos, de acordo com as condições técnicas e econômicas de operação vigente”. Nas estatísticas, geralmente são citadas as reservas provadas. Tipicamente, a taxa de recuperação de um campo em exploração é baixa-da ordem de 30-40 por cento na média (o mínimo é de 41

cerca de 20 por cento) -e o resto do petróleo só pode ser extraído com o auxílio de técnicas de recuperação. Além disso, quando um campo é desenvolvido, as estimativas das reservas muitas vezes são corrigidas à medida que as características do campo passam a ser conhecidas com maior precisão. “O petróleo adicional que pode ser recuperado de um campo existente sob a forma de uma reavaliação das reservas ou através de recuperação secundária ou terciária é chamado de reservas prováveis”. Somando as reservas “provadas” às reservas “prováveis”, obtemos as reservas totais descobertas. É também possível estimar as reservas não-descobertas a partir de indícios geológicos ou outras técnicas sofisticadas. As reservas não descobertas são chamadas de “reservas possíveis”, e sua existência e tamanho estão sujeitos a grandes incertezas. “Combinando as reservas descobertas e não-descobertas e supondo um fator de recuperação de 40 por cento, obtemos um número que é chamado de reservas ‘‘recuperáveis”. As reservas totais de petróleo constituem uma medida de quantidade de petróleo que se acredita existir na Terra, deixando de lado a questão da viabilidade técnica e econômica da recuperação. Muitos argumentam que com o aumento dos preços as reservas prováveis se tornarão econômicas e a prospecção de novos campos será estimulada. Se o clima de investimento for favorável, talvez isto venha a ocorrer. Mas isto não diz nada a respeito das limitações impostas pela falta de conhecimentos geológicos e de engenharia, a necessidade de grandes investimentos de capital, a disponibilidade dos equipamentos necessários e considerações ambientais. Além disso, o preço terá que ser suficientemente alto e aparecer no mercado (isto é, estar livre de controles governamentais de preços). Finalmente, e o que é mais importante, o petróleo terá que existir realmente para ser descoberto e explorado. 42

Serão tomadas medidas para desenvolver as reservas prováveis e acelerar a prospecção; mas o progresso poderá não ser suave, rápido ou pouco oneroso.

Reservas Recuperáveis Acredita-se que as reservas recuperáveis mundiais são da ordem de 1,6 trilhões de barris; desse total, 37 por cento ou 608 bilhões de barris já foram descobertos. A conversão de reservas prováveis em (reservas provadas não altera a concentração de reservas de petróleo que mencionamos há pouco. Dos 608 bilhões de barris de reservas descobertas (provadas mais prováveis), 360 bilhões estão localizados no Oriente Médio. As reservas recuperáveis totais (provadas mais prováveis mas não descobertas) do Oriente Médio são estimadas em mais de 510 bilhões de barris. Desse total, 360 bilhões já foram descobertos, mas apenas uma pequena parte foi explorada, de modo que ainda restam imensas reservas para exploração futura. Acreditase que as maiores reservas não-descobertas estejam na ex União Soviética e na China. Estima-se que dos 380 bilhões de barris de reservas recuperáveis na ex U.R.S.S., apenas 80 bilhões foram descobertos. Assim, cerca de 300 bilhões de barris, a maior parte na Sibéria Oriental, ainda serão descobertos. Grandes aumentos das reservas dos Estados Unidos, Europa Ocidental e Japão não são previstos. Já observamos que de qualquer forma um aumento “grande” não seria suficiente; apenas uma descoberta realmente gigantesca poderia ameaçar a posição dos produtores do Oriente Médio. O aumento das reservas do petróleo decorrerá da ampliação de campos existentes e da extração de petróleo das plataformas submarinas, ou pelo menos esta é a opinião da maioria dos observadores. 43

Produção de Petróleo As reservas estabelecem um limite máximo para o que pode ser feito; entretanto, não dizem muita coisa a respeito do que realmente será feito. E evidente que níveis diferentes de reservas sustentam níveis diferentes de produção, dependendo da demanda, preço, disponibilidade de apoio logístico para exportações, características geológicas das áreas produtoras, capacidade tecnológica, considerações de conservação e os objetivos políticos e econômicos do governo produtor. Assim, por exemplo, os Estados Unidos, com cerca de 27 bilhões de barris de reservas provadas e prováveis, produziu 3,1 bilhões de barris em 1979, enquanto o Iraque, com 31 bilhões de reservas provadas e prováveis, produziu apenas 1,2 bilhão de barris em 1979. O ponto essencial aqui é que a intensidade com que uma dada quantidade de reservas será explorada dependerá de muitos fatores, alguns econômicos e algumas políticas. Existe, entretanto, uma correlação positiva entre reservas e produção. Assim, não é de surpreender que encontremos a produção concentrada em regiões fora dos países industrializados A partir de 1985, a produção ficou estabilizada, talvez até 2010, quando começará a diminuir -a menos que as reservas do Mar do Norte correspondam á expectativas dos mais otimistas. De qualquer forma, assim como o aumento das reservas será menor que a produção (provocando assim uma diminuição das reservas), a produção será menor que o consumo, c o aumento da produção não evitará a necessidade de grandes importações de petróleo. Com os países industrializados produzindo o máximo possível de petróleo, a produção desses países passará por um pico e começará a decair pouco depois de 2010. A produção japonesa continuará a ser insignificante até o final do século, a menos que sejam descobertas reservas na plataforma continental. A taxa de aumento 44

da produção soviética deverá ser pequena até que os campos da Sibéria Oriental entrem em produção, o que não deverá ocorrer antes de 2000. Nessa ocasião, a produção da Sibéria não deverá contribuir muito para o aumento global, servindo apenas para compensar a queda da produção dos campos mais antigos.

Secundária e Terciária Hoje em dia muitos depositam grande confiança no uso de técnicas especiais para aumentar a produtividade dos campos petrolíferos. Nos campos dos Estados Unidos, a quantidade de petróleo que é extrai da de um campo sem o auxilio de técnicas especiais é da ordem de 30 a 40 por cento. Os norte-americanos têm maior experiência do uso das técnicas de recuperação do que todos os outros países. Assim, a discussão do uso dessas técnicas se aplica basicamente aos Estados Unidos, embora o Irã e a Arábia Saudita também estejam fazendo experiências neste sentido. De acordo com a estimativa de uma grande companhia de petróleoque não difere significativamente de outras estimativas-as reservas recuperáveis de petróleo dos Estados Unidos são da ordem de 252 bilhões de barris, sendo que a produção total até 2000 foi de 106 bilhões de barris. O resto, 146 bilhões de barris, está “disponível”, supondo que a produção, as técnicas de recuperação e a economia justifiquem o esforço. Calcula-se que o uso de técnicas de recuperação eficientes poderia aumentar a porcentagem de petróleo recuperado de 20 por cento para 37-47 por cento. No caso de novas descobertas, a taxa de recuperação poderá ser da ordem de 32 por cento, a porcentagem mais baixa refletindo o fato de que os campos futuros ficarão provavelmente na plataforma continental ou, se em terra, em reservatórios menores, mais profundos e de pior qualidade -campos mais difíceis de atingir e de exploração mais cara.

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Assim, o uso de técnicas especiais de recuperação é extremamente importante. Entretanto, o que muitos esquecem é que as técnicas de recuperação secundária -uso de água, vapor, gás e produtos químicos, bombeados em um reservatório para facilitar a extração do petróleo têm sido aplicadas com sucesso em um número relativamente pequeno de campos e apenas quando as características do campo são muito bem conhecidas e as técnicas são usadas corretam ente; é preciso usar uma combinação de habilidade com um sistema complexo e sofisticado de exploração. Não se trata de um processo simples, aplicável a todos ou mesmo à maioria dos campos. As famosas técnicas de recuperação terciária, que utilizam uma tecnologia mais avançada para aumentar ainda mais o rendimento dos campos, ainda não foram usadas fora dos laboratórios; talvez só possam ser aplicadas daqui a dez anos. E difícil calcular a quantidade adicionai de petróleo que essas técnicas permitirão recuperar.

Relação Reservas-Produção A relação reservas/produção é um indicador da longevidade das reservas de petróleo aos níveis de produção correntes. Na prática, os níveis de produção não se mantêm constantes e as estimativas das reservas são corrigidas à medida que a própria exploração revela novas informações a respeito das características do campo. Além disso, a utilidade do indicador é suspeita, já que, até hoje, nenhum país foi capaz de definir uma relação reservas/produção ideal. Na verdade, a pergunta: “por quantos anos um campo deve ser explorado, e com que nível de produção?” ainda não foi respondida. 46

O relatório do Congressional Research Service “Toward Project Interdependence: Energy in the Coming Decade” contém um cálculo interessante. Se a produção de petróleo aumentar à razão de 4 por cento ao ano e se a demanda de petróleo aumentar à razão de 4 por cento ao ano, 844 bilhões de barris de reservas recuperáveis serão necessários para manter uma relação reservas/produção de trinta e cinco anos. Subtraindo a produção acumulada das reservas recuperáveis atuais, chegamos à conclusão de que para isso será preciso descobrir novas reservas que totalizem 490 bilhões de barris. Para fazermos uma comparação, a produção mundial de petróleo entre 1918 e 1973 foi de pouco menos de 300 bilhões de barris, e as novas reservas vêm sendo descobertas à razão de apenas 15-20 bilhões de barris por ano desde a década de 1940, um número que inclui os fabulosos campos do Oriente Médio e da ex U.R.S.S. Se, como previsto, a taxa futura de aumento das reservas for de apenas 15-20 bilhões de barris por ano, a produção anual será cada vez maior que as descobertas do mesmo período, de modo que as reservas tenderão a diminuir. Se excluirmos, por motivos de segurança, as reservas descobertas no Oriente Médio e no ex Bloco Soviético, a incapacidade do mundo de obter reservas suficientes se tornará evidente: no período 1950-1973, apenas 105 bilhões de barris de reservas provadas foram encontrados fora da ex U.R.S.S. e do Oriente Médio, o que corres.?

Por outro lado, as estimativas de reservas não-descobertas sugerem que é tecnicamente viável que reservas maiores que os últimos cinqüenta e cinco anos de produção sejam acrescentadas às reservas recuperáveis. Entretanto, o progresso provavelmente será lento: a prospeção dessas reservas será muito dispendiosa, e 47

elas estarão localizadas em ambientes hostis. De qualquer forma, apenas uma parcela dessas reservas adicionais estará localizada nos países industrializados. Além disso, os longos prazos de maturação tornam improvável que essas reservas sejam descobertas e exploradas a tempo de atenderem aos aumentos da demanda. Lembrando a finalidade da relação reservas/produção, a conclusão é a de que haverá uma escassez de petróleo no período entre 2010 e o final do século. Muitos países nunca chegarão a uma relação reservas/produção de trinta e cinco anos e não conseguirão nem mesmo manter a relação atual. As reservas dos Estados Unidos representam talvez dez anos de produção aos níveis atuais. É provável que esta relação diminua ainda mais, com a entrada em produção dos campos do Alasca. Na Europa, a relação reservas/produção pode levar a conclusões errôneas: as reservas do Mar do Norte estão incluídas, mas a produção do Mar do Norte ainda é relativamente pequena. Na Rússia, tanto a produção como as reservas tendem a aumentar, mas a relação reservas/produção, que é atualmente de vinte anos, deverá diminuir. Não vale a pena continuarmos a analisar a relação reservas/produção. O que é importante é que o aumento das reservas provavelmente será pequeno demais e lento demais para manter as relações reservas/produção correntes. Além disso, a deterioração ocorrerá mais rapidamente nos países industrializados. A partir de 2010, a capacidade ociosa do Oriente Médio também começará a cair.

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Consumo e Demanda de Petróleo As vantagens do petróleo como combustível incluem: (I) disponibilidade em quantidade suficiente e, até recentemente, por baixo preço; (2) facilidade de transporte; (3) versatilidade e facilidade de substituir outras fontes de energia. O consumo mundial de petróleo quintuplicou nos últimos vinte e cinco anos. O consumo dos Estados Unidos quase triplicou, passando de 6 MBD para 17 MBD no mesmo período, enquanto que o consumo de petróleo nos países do Este Europeu aumentou por um fator de dez. Os fatores que determinam os níveis de produção incluem: I. População. Já que países com populações maiores necessitam de rendas maiores para assegurar um mínimo de investimentos econômicos e sociais, e assim manter a estabilidade política e encorajar o desenvolvimento econômico e o crescimento econômico autosustentado, os países altamente populosos precisam maximizar a renda proveniente do petróleo. Embora o tamanho da população tenha sem dúvida alguma influência sobre a necessidade de renda do petróleo, as metas do governo estão ligadas mais diretamente ás necessidades de renda do que a uma simples estatística de população. Quanto mais ambiciosas as metas do governo com relação ao futuro do país, maiores as necessidades de renda. 2. Estrutura da Economia. Se as metas do governo puderem ser atendidas por rendas de várias fontes, a necessidade de rendas de petróleo não será tão premente. Embora não seja provável que nenhum país produtor concorde em vender petróleo por um preço menor que o que considera como justo, a existência de outras fontes de renda pode permitir que um país limite a produção, de modo a prolongar a vida das reservas. A produção de petróleo como porcentagem do Produto Nacional Bruto, a renda do pe49

tróleo como porcentagem da receita do governo e as exportações de petróleo como porcentagem das exportações totais são indicadores da importância do petróleo em uma dada economia. 3. Planos de Desenvolvimento. Os planos de desenvolvimento do governo, embora em muítos países da OPEP os orçamentos raramente sejam cumpridos, constituem uma indicação dos rumos que os líderes da nação gostariam de tomar e dos preços que estão dispostos a pagar. Os planos de desenvolvimento permitem inferir a necessidade de importações e portanto a renda necessária para pagar essas importações. Indicam ainda as possibilidades e limitações de outras fontes de renda. Assim, os planos de desenvolvimento podem ser importantes indicadores das futuras necessidades de renda de um país. 4. Reservas de Petróleo. Os governos com menores reservas podem ser mais cautelosos com os níveis de produção permitidos. Para prolongar a vida das reservas, níveis de produção conservadores podem ser adotados. Por outro lado, os países que dispõem de reservas maiores podem-Produzir mais sem comprometer a produção futura. Um país com pequenas reservas, mas com boas possibilidades de desenvolver fontes alternativas pode preferir uma grande produção, mesmo com o risco de esgotar as reservas, para financiar os selares econômicos mais promissores. 5. Preços. O preço também é um fator muito importante, Quando os preços estão elevados, os países com pequenas reservas de petróleo podem obter uma renda aceitável com um nível de produção relativamente baixo, liberando assim o governo do dilema de escolher entre a conservação e a necessidade de receita. A estrutura do mercado de petróleo também é importante. Em um mercado com pequena capacidade ociosa e em uma situação de grande demanda, torna-se necessário limitar deliberadamente a produção. 50

6. Política Regional. A decisão da Arábia Saudita, em dezembro de 1976, de romper com quase todos os outros membros da OPEP e aumentar o preço do petróleo em apenas 5 por cento em 1977, em lugar do aumento de 10 por cento proposto pela OPEP, com um aumento de mais 5 por cento em julho de 1977, foi seguida por um aumento da produção da Arábia Saudita. Este é apenas um exemplo em que a política regional influenciou os níveis de produção. A decisão da Arábia Saudita de aumentar a produção para baixar os preços pode ter sido motivada, em parte, pelo receio de que o Irã aumentasse suas rendas de petróleo e conseqüentemente suas aquisições de equipamentos militares; o objetivo também pode ter sido mostrar ao mundo que as decisões quanto ao comércio mundial do petróleo estavam nas mãos dos sauditas, e não do Irã. Além disso, os sauditas deixaram bem claro que sua decisão estava condicionada ao “progresso” nas negociações de paz no Oriente Médio (Israel) e ao progresso no diálogo Norte-Sul em Paris. Assim, os níveis futuros de produção de petróleo podem ser influenciados por fatores políticos. Nenhum desses fatores é determinístico, isto é, embora possa parecer lógico para um observador de fora que um fator isolado deva enunciar a produção de certa forma, é possível que, visto de um ponto de vista diferente, o mesmo fator implique outra linha de ação. Além do mais, os fatores podem ter influências opostas. Na verdade, os fatores sugeridos não apontam necessariamente uma direção única. Além disso, os fatores não são independentes, de modo que os níveis reais de produção serão determinados por uma combinação complexa de todos esses fatores e outros. É precisamente uma mistura complexa de fatores econômicos e objetivos políticas que determina a hoje famosa capacidade de absorção, que, por sua vez, deverá determinar os níveis de produção. Uma definição de capacidade de absorção não pode ser

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separada dos objetivos dos estadistas-das opiniões dos lideres a respeito da estrutura econômica e política e do papel do seu país, tanto no plano interno como no plano externo, incluindo a importância atribuída a gastos militares. Nunca será correto afirmar que uma nação não pode fazer uso dos fundos gerados pela produção do petróleo para fomentar o desenvolvimento interno, porque o uso dos fundos está ligado a certos horizontes e imagens nas mentes dos estadistas. O próprio aumento da receita contribui para alargar esses horizontes. O aumento de influência internacional é acompanhado por metas externas mais ambiciosas, maiores oportunidades de aventura e maiores responsabilidades internacionais.

Refinação A maior parte do comércio internacional de petróleo é feita sob a forma de petróleo bruto. As exportações e importações de produtos do petróleo são muito menos importantes, confirmando o fato de que a maioria das nações optou pela auto-suficiência no setor de refinação. Os produtos refinados representam apenas 15 por cento do comércio mundial de petróleo. Esses produtos foram responsáveis por 20 por cento das importações de petróleo dos Estados Unidos e as Antilhas foram o principal fornecedor. Os Estados Unidos, por sua vez, foram responsáveis por mais de 40 por cento do comércio mundial de produtos do petróleo. Outros países industrializados dependem ainda menos de importações de produtos refinados. As refinarias geralmente são instaladas nas proximidades dos mercados consumidores, evitando assim a necessidade de usar navios especializados. Com O aumento da capacidade de refino, os governos dos países consumidores puderam fazer uso do valor acrescentado, e alguns países chegam a pagar o petróleo bruto que importam com o lucro. 52

A Demanda de Produtos Refinados A demanda de produtos refinados está concentrada nos países industrializados. A América do Norte, a Europa Ocidental e o Japão foram responsáveis por 80 por cento da demanda de produtos refinados do petróleo em (um total de 36.025 mil barris por dia para,as três regiões). No mesmo ano, a América do Sul, o Oriente Médio, a Africa, o Extremo Oriente e a Oceania contribuíram com apenas 20 por cento. As questões relativas aos produtos refinados têm muito menos a ver com o nível ou o aumento da demanda do que com o modo como essa demanda é satisfeita.

Capacidade de Refino A capacidade de refino está altamente concentrada nos países desenvolvidos. Todas as regiões são auto-suficientes, exceto os Estados Unidos. Entretanto, se incluídas as refinarias das Antilhas, das quais são o principal consumidor, os Estados Unidos se tornam auto-suficientes e mesmo adquirem capacidade ociosa. Em verdade, todas as regiões dispõem de uma considerável capacidade ociosa. No primeiro semestre de 1980, as refinarias norte-americanas funcionaram a cerca de 85 por cento da capacidade máxima; as refinarias das Antilhas funcionaram a 50 por cento; as da Europa, a 60 por cento; as do Japão, a 80 por cento. Na média, as refinarias do mundo funcionaram a cerca de 75 por cento da capacidade máxima. O aumento da capacidade de refino da OPEP poderia contribuir com mais. Os países da OPEP estão custando a iniciar os grandiosos projetos de refinarias que surgiram na euforia causada pela 53

alta dos preços do petróleo. Os números absolutos podem estar errados, pode levar mais tempo que o previsto para que esses projetos sejam completados, mas a tendência parece nítida. As implicações especiais para a segurança da dependência de produtos refinados (em lugar da dependência de petróleo bruto) são evidentes. Uma escassez de petróleo bruto pode ser compensada por outras fontes. Entretanto, no caso da escassez de um produto, pode não existir uma fonte alternativa, dependendo da política dos países da OPEP, que podem exigir o uso de suas refinarias, ou dependendo da capacidade ociosa das refinarias de exportação (localizadas em outras regiões) para atenderem à emergência. Além do mais, os produtos refinados geralmente têm que ser transportados em navios especiais, que constituem apenas uma pequena parcela da frota mundial de petroleiros; a capacidade desses navios pode não ser suficiente para manter o abastecimento a partir de refinarias mais distantes do que aquelas cuja paralisação iniciou a crise.

A Frota Mundial de Petroleiros e a Logística do Abastecimento A frota de petroleiros do Mundo é a principal responsável pelo transporte de petróleo das regiões produtoras para os centros de consumo. Dos quase 32 MBD de petróleo bruto e 5 MBD de produtos do petróleo que constituem o comércio internacional, aproximadamente 95 por cento são transportados, pelo menos em parte da viagem, por um petroleiro. A adequabilidade, propriedade e controle da frota de petroleiros constituem, portanto elementos essenciais da geopolítica energética. 54

A adequabilidade da frota se refere à capacidade de transportar o petróleo em quantidades suficientes. Além disso, a frota pode ser avaliada em termos de sua capacidade de transportar outras fontes de energia como o carvão, que, embora hoje em dia de pequena importância relativa, podem tornar-se mais importantes no comércio internacional do futuro. Finalmente, a adequabilidade pode também ser avaliada em termos da capacidade de servir a certas localidades; adequabilidade implica uma certa flexibilidade para lidar com acontecimentos imprevistos, que exijam remanejamentos. As questões de propriedade e controle envolvem a intenção declarada dos países exportadores de petróleo de ingressarem no setor de transportes da indústria petrolífera e as conseqüências de mudança se ela realmente ocorrer. O volume da participação dos produtores será importante; e os setores em que concentrarem suas atividades serão também importantes. Uma segunda consideração que resulta da possível mudança na propriedade da frota de petroleiros para os países exportadores de petróleo. Como o comércio de petróleo ocupa uma posição de destaque no comércio marítimo mundial (49 por cento), o transporte do petróleo é importante para a viabilidade das indústrias nacionais de transportes marítimos. Além da preocupação com a frota de petroleiros em si, mas intimamente ligada à logística do abastecimento, está a questão da segurança das rotas marítimas. A preocupação com a segurança das rotas existentes deve ser suplementada por uma avaliação de rotas alternativas e as implicações para: (I) a defesa de rotas alternativas e (2) a rapi.dez do fornecimento de petróleo se as rotas alternativas tiverem que ser usadas. Além disso, a possibilidade de 55

os Estados Unidos impedirem o fornecimento de petróleo de um país estrangeiro para outro também é de interesse. Finalmente, a segurança e defesa de portos e terminais, tanto nas regiões produtoras como nas regiões consumidoras, são de importância estratégica. Os portos e terminais marítimos também podem ser avaliados em termos de sua adequabilidade, isto é, sua capacidade de processar exportações e importações em quantidades suficientes para atender às necessidades. A segurança dos grandes terminais de exportação, como o de Ras Tanura na Arábia Saudita e Kharg lsland no Irã, é essencial. O mesmo se pode dizer dos grandes terminais de recepção nos países consumidores de petróleo. Nossa análise se concentrará nas quatro áreas seguintes: Adequabilidade da frota mundial de petroleiros 1. propriedade e controle da frota 2. segurança das rotas marítimas 3. adequabilidade e segurança dos portos e terminais Adequabilidade da Frota Atualmente, a frota mundial de petroleiros dispõe de uma grande capacidade ociosa. Em 1975, em uma fase de recessão, a capacidade ociosa atingiu 114 milhões de toneladas de peso morto (DWT), o que correspondia a 40 por cento da capacidade disponível. No primeiro trio mestre de 1977, a capacidade ociosa foi estimada em 100 milhões de DWT - um desastre comercial, conseqüência da queda da demanda, resultante da recessão mundial, e também da construção de navios em excesso. 56

No final de 1979, a frota mundial de petroleiros totalizava 327 milhões de DWT. Embora tenham sido canceladas as encomendas de muitos navios novos e cerca de 13 milhões de DWT tenham deixado o serviço ativo em 1977 e no primeiro semestre de 1978 (comparados com 10,5 milhões de DWT nos dez anos anteriores), o excedente de petroleiros continuou sério. Além disso, em meados de 1978, o volume de encomendas era de 56 milhões de DWT. Se todos os navios continuassem em uso, a frota mundial de petroleiros chegaria a 362 milhões de DWT. A adequabilidade da Frota só pode ser avaliada em relação às qualidades e tipos de produtos que a Frota terá que carregar e as localidades a que terá que atender. Entretanto, a seriedade da situação de capacidade ociosa pode ser demonstrada através de um exemplo. A longo prazo, a capacidade ociosa pode diminuir. Do lado da demanda, as previsões podem revelar-se excessivamente modestas, e a demanda de petróleo pode aumentar com um melhor desempenho econômico dos países industrializados. Um maior interesse norte-americano pelo mercado do transporte das grandes distâncias também pode ocasionar um aumento da demanda de petroleiros. Entretanto, apenas os navios menores (menos de 80.000 DWT) podem utilizar os portos norte-americanos existentes, e embora a demanda de navios desse porte possa aumentar (alguns analistas prevêem uma escassez de pequenos petroleiros quando os já existemes Forem aposentados, pois atualmente a construção de pequenos petroleiros é limitada), o excesso de “Very LargeCrude Carriers” ou VLCC (Superpetroleiros) continuará a preocupar a indústria. Os petroleiros continuarão a ser construídos, mas em menor número. Os altos custos de substituição (combinados com os baixos 57

Fretes) não encorajam a construção de novos navios. Os altos custos de substituição também não encorajam a retirada dos navios antigos, mas a pressão para esta retirada é inerente â situação atual de excesso de capacidade ociosa. Uma demanda de petróleo maior que a prevista, o começo da exploração de novas reservas, a redução do número de novos navios e a retirada de navios antigos podem reduzir os excedentes. Entretanto, vários fatores podem contribuir para manter esses excedentes: (I) o aumento da produção de campos localizados nas proximidades dos centros de consumo (Mar do Norte e Alasca); (2) a possibilidade de que os países consumidores de petróleo encorajem o desenvolvimento de campos próprios ou em países próximos; (3) a possibilidade de que alguns países, particularmente os Estados Unidos, promulguem leis dando preferência aos petroleiros nacionais, o que estimulará a construção de navios em todos os países que adotarem essas leis; (4) a intenção dos países produtores de entrarem no setor de transportes (se isto envolver a construção de novos navios, em lugar da compra ou aluguel de navios já existentes).

Segurança das Rotas Marítimas A importância das rotas marítimas do Oriente Médio para os Estados Unidos, Europa Ocidental e Japão é evidente. Mais de 75 por centa da frota ativa de petroleiros oceânicos está empenhada cm transportar petróleo do Oriente Médio para o resto do mundo. Além disso, 66 por cento da frota mundial de petroleiros está ocupada no transporte de petróleo do Oriente Médio e do norte da África para os mercados do mundo industrializado, isto é, Estados Unidos, Canadá, Europa Ocidental e Japão. 58

No momento, a situação parece estável, com mas nada garante que esse estado de coisas possa evoluir para eventos graves, com reais perigos para o mundo inteiro. O conflito serviu para demonstrar a fragilidade política dos estados árabes, aparentemente unidos em torno da OPEP -quando se trata de aumentar os preços dessa matéria-prima e auferir mais lucros mas travando entre si uma luta surda pela predominância na região. As grandes potências firmaram um pacto tácito de não-intervenção na guerra, receosas todas de um alastramento das hostilidades e envidando todos os seus esforços para um cessar-fogo imediato. Mas os países vizinhos, direta ou indiretamente, estão tomando partido. A Siria, tradicional adversária política do Iraque, ajuda o Irã, o mesmo acontecendo com a Líbia e Israel, que nunca leve grandes simpatias pelo Irã dos aiatolás. Como se vê, a situação é bastante confusa, não se podendo prever os desdobramentos dessa crise. No momento, tanto para os Estados Unidos quanto para a Europa Ocidental como Japão, o importante é que o conflito não se alastre e que permaneça sem alteração o fluxo de petróleo proveniente dos demais países do Golfo Pérsico que passa pelos Estreitos de Hormuz. Se o Canal de Suez fosse usado para transportar maiores quantidades de petróleo bruto, os petroleiros não evitariam necessariamente os Estreitos de Hormuz. O Canal hoje em dia não parece ser uma rota desejável - os fretes estão baratos, e o Canal não serve para navios de grande porte.

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