Rutebeuf e a Querela entre os Clérigos e os Mendicantes

May 22, 2017 | Autor: Terezinha Oliveira | Categoría: Education, Medieval History, Educação, História da Idade Média
Share Embed


Descripción

VISÕES DE MUNDO DA ANTIGUIDADE E MEDIEVO Abordagens Historiográficas

Editora Universitária Tiradentes – Edunit Conselho Deliberativo Ihanmarck Damasceno dos Santos Roberto de Almeida e L. Júnior Ester Fraga Vilas-Bôas Carvalho do Nascimento Diretora Cristiane de Magalhães Porto Conselho Editorial Ciências Humanas Cristiano Ferronato Ciências Sociais Verônica Marques Ciências Biológicas e da Saúde Cristiane Costa da Cunha Oliveira Ciências Exatas e Tecnológicas Giancarlo Richard Salazar Santos Faculdade Integrada Tiradentes Pedro Henrique Simonard Santos Faculdade Integrada de Pernambuco Mariana Aragão Matos Donato Programas de Pós-Graduação Karyna Batista Sposato Pós-Graduação Lato Sensu Ilzver Matos de Oliveira Suplentes Gabriela Maia Reboucas (Ciências Humanas e Sociais) Margareth Zanardo (Ciências Biológicas e da Saúde) Editora Universitária Tiradentes – Edunit Av. Murilo Dantas, 300, Bloco F, sala 11, 1º andar 49032-490 Aracaju, Sergipe Fone: (79) 3218 2138 http://editoratiradentes.com.br E-mail: [email protected]

Terezinha Oliveira (Organizadora)

VISÕES DE MUNDO DA ANTIGUIDADE E MEDIEVO Abordagens Historiográficas

Prefácio Ennio Sanzi

2016

Copyright © 2016 para os Autores. Todos os direitos reservados. Proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo mecânico, eletrônico, reprográfico etc., sem a autorização, por escrito, do autor. Todos os direitos reservados desta edição 2016 para Editora Universitária Tiradentes – Edunit. Projeto gráfico/diagramação: Mari & Lene Digitações Ltda. Capa: Mari & Lene Digitações Ltda. Ficha catalográfica: Marinalva Almeida Fonte: Lúcida Sans / Garamond Tiragem - versão impressa: 300 exemplares Financiamento: CAPES Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP) V832

Visões de mundo da Antiguidade e Medievo : abordagens históricas / Teresina Oliveira (organizadora); prefácio Ennio Sanzi. -– Aracaju: Edunit, 2016. 234 p. ISBN 978-85-68102-20-6 1. Antiguidade. 2. Educação - História – Idade Média. 3. Literatura – Idade Média. 4. Filosofia – Idade Média. 5. Intelectuais – Idade Média História. 6. Instituições. 7. Memória. I. Oliveira, Terezinha, org. II. Sanzi, Ennio, pref. III. Título. CDD 21.ed. 909.07

Sumário

Prefácio ......................................................................................................... 7 Apresentação.............................................................................................. 15 Capítulo 1 O verde violentou as muralhas: campo e cidade na Alta Idade Média Ocidental Mário Jorge da Motta Bastos ................................................................... 17 Capítulo 2 Notas sobre o sentido comum em Tomás de Aquino e Arendt Ricardo Gião Bortolotti............................................................................ 37 Capítulo 3 Reflexões sobre os mitos antijudaicos medievais: o simbolismo do sangue nas relações cristãs judaicas (Século XII a XV) Sergio Alberto Feldman............................................................................ 55 Capítulo 4 Rutebeuf e a Querela entre os Clérigos e os Mendicantes Terezinha Oliveira Claudinei Magno Magre Mendes............................................................. 75 Capítulo 5 Sobre a melhor maneira de traduzir: São Jerônimo e o mundo editorial latino na Antiguidade Tardia Raquel de Fátima Parmegiani................................................................... 95

Capítulo 6 A Instrução nos Manuais de Mercadores Medievais: o Zibaldone da Canal Jaime Estevão dos Reis ...........................................................................111 Capítulo 7 Savoir-Faire: A prática e o discurso sobre a arte medieval. Maria Eurydice de Barros Ribeiro ......................................................... 131 Capítulo 8 A saúde do Reino de Portugal (Séculos xiv-xvI) Dulce Oliveira Amarante dos Santos....................................................143 Capítulo 9 A dignificação do trabalho em Agostinho. A conjugação do saber e do fazer na agricultura Maria Teresa Carrasco Salvados Gonçalves Santos............................ 161 Capítulo 10 Viver e sobreviver em Roma: o ethos citadino diante do clientelismo Renata Lopes Biazotto Venturini .......................................................... 183 Capítulo 11 Educação e Religiosidade na Visión de Don Túngano (Visão de Túndalo) Adriana Maria de Souza Zierer .............................................................. 203 Sobre os Autores...................................................................................... 229

6

Capítulo 4

Rutebeuf e a Querela entre os Clérigos e os Mendicantes Terezinha Oliveira Claudinei Magno Magre Mendes

Pouco se sabe acerca da vida de Rutebeuf (c.1230- 1285 ou 1286)45. Muito provavelmente, ficou conhecido pelo seu sobrenome Rudeboeuf (boeuf vigoreux: boi vigoroso) que, aliás, ele próprio utiliza em sua obra.46 Diversos estudiosos acreditam que tenha nascido em Champagne, já que descreveu os conflitos em Troyes, em 1249. Outros, como é o caso de Delécluze (1843), afirmam ter nascido em Paris. Todavia, ainda que haja divergência quanto ao local do seu nascimento, há concordância que o trovador viveu boa parte da sua vida em Paris, cidade grande que lhe deu, de acordo com Lanson (1923), seu espírito e sua alma: A incessante fermentação desta população imensa e heterogênea, barões habitando a corte do rei, burgueses devotos e cáusticos, estudantes brigões e polemistas, prontos para usar a língua e a mão e tudo o que nela se agitava de ideias e de paixões no conflito do espírito e dos interesses, sendo iminentemente próprios para suscitar uma poesia senão superior, ao menos muito viva: o poeta, desta vez, não faltou (LANSON, 1923, p. 86-87).

45 46

Também grafado Rutebuef e Rustebeuf. Há autores que afirmam que seu nome deriva de rude boeuf ou rude oeuvre (boi grosseiro ou obra grosseira).

Uma parte dos seus estudiosos acredita que Rutebeuf seja apenas um pseudônimo. É a opinião, por exemplo, dos editores da Enciclopédia Britânica, responsáveis pelo seu verbete.47 Além disso, algo que intriga muitos dos seus estudiosos é o fato de Rutebeuf não ter sido mencionado por nenhum dos seus contemporâneos, sejam eles poetas ou cronistas (JUBINAL, 1874). Em troca, constata-se que ele também não se referiu a nenhum dos poetas e trovadores contemporâneos seus. Desse modo, as informações sobre ele têm um pouco de suposição, já que baseadas em seus próprios poemas48. Lanson (1923), fundando-se nos seus versos, afirma ter sido um menestrel pobre diabo cuja má sorte teria perseguido a vida toda. Sem pão, sem lar, a palha como leito, entre uma esposa que se queixava, uma ama de leite que queria seu salário e um proprietário que reclamava o pagamento do aluguel, eis em que situação se apresenta a nós o triste Rutebeuf, que, no entanto, encontrava meio de rir LANSON, 1923, p. 87).49

Concluindo o quadro, este estudioso observa que o trovador teve alguns benfeitores e muitos credores. O dinheiro dos seus benfeitores, no entanto, não ia para os credores, mas para os dados (LANSON, 1923). Também Delécluze (1843) acredita que Rutebeuf era um pobre menestrel, jogral ou trovador, observando que teria atingido seu apogeu entre 1254 e 1286, desfrutando em sua época de um

47

48

49

Pode-se dizer o mesmo sobre os responsáveis pelo verbete Rutebeuf, da Encyclopédie Larousse. Assinalam que não existe nenhum outro traço desse escritor, além dos que ele próprio aponta nos seus poemas, que se apresenta sob o que caracterizam como um divertido ou engraçado apelido. “O pouco que sabemos sobre a vida de Rutebeuf aprendemos em suas obras” (CLÉDAT, 1891, p. 23). Le Goff (2003, p. 11), por seu turno, caracteriza-o como “[...] intelectual marginal parisiense”. Adiante, na mesma obra, faz uma nova caracterização de Rutebeuf, definindo-o como “[...] o mais pobre dos poetas-estudantes [...]” (LE GOFF, 2003, p. 136).

76

grande renome. Para esse autor ele merece esse renome, sobretudo se compararmos suas peças rimadas que sobreviveram com as de outros trovadores, tanto os contemporâneos como os que o precederam (DELÉCLUZE, 1843). De qualquer forma, independentemente da sua identidade, Rutebeuf é considerado um dos maiores trovadores da época. Lanson o caracteriza como quase um grande poeta. Tendo tratado de todos os gêneros, à exceção das canções de gesta e dos romances: ele escreveu um milagre dramático50, um monólogo cômico, duas vidas de santo, fabliaux51, lamentos devotos52, orações fúnebres, sátiras, canções, ditos satíricos ou didáticos. Afirma ainda Lanson (1923) que, pela primeira vez na história literária da França, encontra-se uma individualidade fortemente caracterizada, que se encontra nas mais diversas obras. Clédat (1891, p. 14) assinala que “[...] a sátira, nascida no fim do século precedente (século XII), toma com Rutebeuf um vigor e uma autoridade que fazem dela uma verdadeira potência.” Jubinal (1874), por seu turno, afirma que Rutebeuf pertenceu ao povo por seu nascimento, aos letrados por seu espírito e à corte por sua profissão.53 Baron (1841) arrola-o entre os autores de fabliaux mais espirituosos. Para Delécluze (1843), ele parece merecer esse renome, sobretudo se compararmos suas peças rimadas que sobreviveram como as de outros trovadores, tanto os contemporâneos como os que o precederam. De acordo com Warton (1871), a obra de Rutebeuf atravessou as fronteiras da França, apoiando-se no fato de que Boccaccio (1313-1375), que copiou muitos dos seus melhores contos dos trovadores, ter aproveitado também dos contos de Rutebeuf. Acrescenta que é certo que o poeta florentino tomou do menestrel francês o conto que se encontra na décima novela da nova jornada (BOCCACCIO, 1970) 54.

50

51 52 53 54

Na literatura, ‘milagre’ é uma composição dramática popular da Idade Média que colocava em cena os milagres da Virgem ou de um santo. Fabliaux eram pequenas narrativas em verso. Lamentos devotos são pequenas canções populares que evocam um acontecimento triste. Jubinal (1834) o considera o poeta mais importante do século XIII. Jubinal (1874), discorda disso, afirmando que esse conto não pertence à Rutebeuf.

77

Contemporâneo dos reis Luís IX, também conhecido como São Luís (1214-1270) e Filipe III, o Ousado (1245-1285), e de vários papas: os mais importantes para o nosso estudo foram Inocêncio IV (1243-1254) e Alexandre IV (1254-1261). Também viveu no período compreendido a elaboração das duas partes do Romance da Rosa. Assim, escreveu após Guillaume de Lorris (c.1200-c.1238), autor da primeira parte do Romance, cujas alegorias o encantaram e o inspiraram, e antes de Jean de Meun ou Meung (c.1240-c.1305), autor da segunda parte do Romance e que, muito provavelmente, o leu (LANSON, 1923). Quanto aos estudantes, Lanson (1923) afirma que Rutebeuf os apreciava muito, mas que, provavelmente, nunca foi um deles.55 Baseia-se no fato de que seu conhecimento não era clerical: ele conhecia o Romance de Renart e a obra de Guilherme de Lorris. Tudo mais que conhecia derivaria do fato de que, sendo devoto, teria apreendido os lugares comuns e os processos de desenvolvimento dos sermões que ouviu pregar: teria enriquecido sua poesia com isso56. Com seus procedimentos e, às vezes, com seus artifícios, Rutebeuf fez uma obra sincera. Foi em seu tempo uma espécie de jornalista, nem sempre independente, mas sempre original, sempre convicto, quer trabalhasse sob encomenda, quer fosse o eco das paixões populares (LANSON, 1923, p. 87).

Da sua obra conservou-se uma dezena de manuscritos, no total de cinquenta e seis poemas e quatorze mil versos. Eles fazem alusões aos acontecimentos verificados entre os anos de 1248 e 1277, o que revela que Rutebeuf participou intensamente das questões da sua época (Encyclopédie Larousse, s. d.). De certa maneira, esta não é a opinião de Jubinal (1834), para quem Rutebeuf teria assistido, sem

55 56

Observe-se, no entanto, que Rutebeuf conhecia o Latim. Não é essa a opinião de Le Goff. O historiador francês refere-se a Rutebeuf e Jean de Meung como “[...] antigos estudantes parisienses” (LE GOFF, 2003, p. 13).

78

tomar parte neles, aos grandes acontecimentos políticos.57 Prefere este estudioso destacar que Rutebeuf, por meio das suas poesias, teria cooperado de maneira ativa no notável movimento literário do século XIII. Todavia, logo em seguida observa que também cooperou ativamente nas grandes lutas entre a Universidade de Paris e as ordens religiosas. Acrescenta: “[...] esse poeta oferece em seus escritos o reflexo curioso e exato dos preconceitos, das paixões, da linguagem, dos conhecimentos da sua época” (JUBINAL, 1874, p. VI)58. Ainda segundo os autores do verbete sobre Rutebeuf da Encyclopédie Larousse, grande parte dos seus versos se define em oposição à poesia cortês e ao lirismo dos trovadores. Rutebeuf pertenceria ao gênero da sátira, cuja função permaneceu, se não bem vista, ao menos bem viva na Idade Média, como os sirventês59 dos trovadores e os poemas latinos dos goliardos. Ao contrário de uma literatura mais oficial, às vezes mais refinada, de qualquer modo mais idealizada, a sátira é uma poesia que desilude. Assim, se prega a cruzada, ela fustiga a preguiça dos cavaleiros, a simonia dos padres, a imprevidência dos príncipes; se defende a Universidade de Paris, ataca os religiosos que a ela vêm ensinar; se reclama mais justiça, denuncia os abusos de todos os ‘estados’ da sociedade, mesmo Luís IX, que ainda não possuía a aureola de santidade. Percebe-se, de passagem, os lugares comuns dos sermões sobre as tavernas, os jogos de dados e as prostitutas. Concluem os responsáveis pelo verbete que não se pode esperar em suas intervenções a fidelidade a uma causa (Encyclopédie Larousse). De todas as participações de Rutebeuf nas querelas do seu tempo, a que mais se destaca é a que foi levantada na Universidade de Paris entre os clérigos — liderados por Guillaume de Saint-Amour —

57 58 59

Jubinal (1874) retomou mais tarde essa formulação. Payen (1996) define sua poesia como militante. De acordo com o E-Dicionário de Termos Literários de Carlos Ceia, sirvantês vem do provençal sirventès ou do francês arcaico sirventois. É um gênero medieval de caráter satírico que surge na Provença no século XII. Trata-se de uma composição trovadoresca de gênero satírico na qual se reflete acerca dos aspectos gerais ou particulares da vida moral, social, política e literária.

79

e os frades mendicantes, que tinham por patrono o papa Alexandre IV e por defensor nada mais, nada menos do que Tomás de Aquino60. Existem três publicações importantes com as obras completas de Rutebeuf. A primeira, mais antiga, publicada pela primeira vez em 1834 e que teve uma nova edição em 1874: Oeuvres completes de Rutebeuf. Trouvère du XIIIe siècle. Recueillies et mises au jour pour la première fois par Achille Jubinal. Paris: Paul Daffis, 1874, 3 tomes. A segunda é: FARAL, Edmond et BASTIN, Julia. Oeuvres completes de Rutebeuf. Paris: Éditions A. et J. Picard, 2 tomes, 1959 e 1960. A terceira, atual, é: Rutebeuf. Oeuvres completes. Texte établi, traduit, annoté et présenté avec variants par Michel Zink. Paris: Bordas (Classiques Garnier), 2 tomes, 1989-1990. Para o nosso estudo, utilizamos, fundamentalmente, a versão para o francês moderno de grande parte dos poemas feita por Bernard Joy e que se encontra no site61 . Para examinar a maneira como Rutebeuf tratou a querela entre os clérigos e os mendicantes, procuramos, em primeiro lugar, apreender sua visão de conjunto da sociedade. Poemas como O estado do mundo (L’état du monde) e Os flagelos do mundo (Les plaies du monde), escritos por volta de 1252, são fundamentais para o propósito de examinar como Rutebeuf encarou as transformações que estavam se operando na sociedade em que vivia. Mas não são apenas nesses poemas que esse trovador comentou acerca dos processos que estavam alterando a feição da sociedade. Também em outros poemas, nos quais tratou de temas mais pontuais, ele procurou estabelecer uma relação entre um assunto particular e as mudanças que então ocorriam.

60 61

De acordo com Szittya (1986), Rutebeuf vivia em Paris por ocasião da controvérsia entre os seculares e os mendicantes. Advertimos que os poemas de Rutebeuf vertidos para o francês moderno por Joy não possuem numeração de página, motivo pelo qual podemos apenas indicar o poema, sem outros dados.

80

Assim, aí reside um aspecto interessante: o próprio Rutebeuf estabelece um vínculo entre as transformações gerais da sociedade e o comportamento de personagens e grupos sociais criticados. Análise dos Poemas de Rutebeuf A época vivida por Rutebeuf foi marcada, como já assinalado, por grandes transformações que o trovador soube captá-las muito bem, destacando que elas provocavam mudanças no comportamento das pessoas e dos diferentes segmentos sociais. No poema O estado do mundo, composto por volta de 1252, Rutebeuf nota que o mundo está mudando, motivo pelo qual pretende rimar, ou seja, fazer um poema62. Por que o mundo muda mais frequentemente que o dinheiro na Banca (Échange, Change), eu quero rimar sobre esse mundo cambiante. O verão passou e agora é inverno. O mundo era bom, agora é diferente, pois ninguém sabe mais agir pelo bem de outros, se supõe não encontrar nisso seu proveito. Cada um age como ave de rapina: ninguém vive mais a não ser de rapina63.

No poema Os flagelos do mundo, da mesma época, Rutebeuf retoma a ideia de um mundo cambiante:

62

63

Para melhor expor as formulações de Rutebeuf, preferimos colocar o texto em prosa e não em verso, fazendo uma tradução livre dele. No entanto, colocaremos em francês moderno os versos traduzidos. Par ce que le monde change plus souvent qu’un denier au Change, je veux rimer sur ce monde changeant. L’été est passé, maintenant c’est l’hiver, le monde était bon, maintenant c’est different, car personne ne sait plus travailler au bien d’autrui, s’il ne pense pas y trouver son profit. Chacun se fait oiseau de proie: nul ne vit plus que de proies.

81

É-me necessário rimar sobre esse mundo que se esvazia e se despoja de todo bem. Vocês sabem por que não se ama uns aos outros? As pessoas não querem mais se amar, pois no seu coração há tanta amargura, crueldade, rancor e inveja que não existe ninguém no mundo que esteja disposto a fazer o bem aos outros se ele não encontra nisso seu proveito64.

É importante observar que Rutebeuf não apenas assinala que o mundo encontra-se em mudança, mas que estaria mudando para uma situação pior. Essa nova condição de vida caracterizar-se-ia pelo abandono do bem comum. Como destaca o trovador, todos agem em busca do seu proveito e não para o bem comum; o mundo estava se esvaziando de todo o bem. Ainda que as transformações atinjam todos os segmentos da sociedade, Rutebeuf parece ter predileção pelos religiosos, condenando-os pela sua nova maneira de ser. Assim, no poema O estado do mundo, observa: Os religiosos deveriam viver santamente: é minha opinião. Ora, eles são de duas espécies: uns são monges brancos, outros negros, que possuem muitas e belas residências e muitas riquezas sólidas. Todos são escravos da Cupidez65.

64

65

Il me faut rimer sur ce monde qui de tout bien se vide et s’émonde. De tout bien il se vide: Dieu tissait, le voilà qui dévide. Bientôt la trame lui manquera. Savez-vous pourquoi nul ne s’entr’aime? les gens ne veulent plus s’entr’aimer, car dans le coeur il y a tant d’amertume, de cruauté, de rancune et d’envie qu’il n’est personne au monde qui soit disposé à faire du bien aux autres s’il n’y trouve pas son profit. […] les religieux devraient vivre saintement:

82

Prosseguindo em sua descrição dos religiosos, assinala: Sem cessar, eles querem tomar sem nunca dar; sem cessar eles compram sem nunca vender. Eles tomam e não se lhes toma nada [...]. Eles podem aumentar suas riquezas. Não se prega mais nos conventos sobre Jesus ou sobre sua mãe, nem sobre São Paulo, nem sobre São Pedro. Aquele que se enreda melhor no mundo, é o melhor aos olhos da Ordem66.

Fica evidente em seus poemas que uma das principais transformações que então se verificavam na sociedade derivava do desenvolvimento das trocas, fazendo com que os valores da sociedade se modificassem, sem poupar nenhuma das camadas sociais, especialmente os religiosos: O segundo flagelo não é pouca coisa: ele se vincula aos clérigos. Excetuando os estudantes, os outros clérigos estão todos enfeitados de avareza. O melhor clérigo é o mais rico e quem tem mais é o mais avarento, pois para o seu haver, eu vos previno, ele se submeteu. E desde então ele não é, dessa maneira, seu próprio senhor.

c’est mon avis. Or, ils sont de deux sortes: Les uns sont des moines blancs ou noirs, qui possèdent maintes et belles résidences et maintes richesses solides. Ils sont tous esclaves de Cupidité. 66

Sans cesse ils veulent prendre sans jamais donner; sans cesse ils achètent sans jamais rien vendre. Ils prennent, et on ne leur prendre rien. […] Ils peuvent accroîte leurs richesses. On ne prêche plus dans les cloîtres sur Jésus-christ ni sur sa mère, ni sur sain Paul, ni sur saint Pierre. Celui qui se brouille de mieux dans le monde, c’est lui le meilleur au regard de la regle.

83

Como pode ajudar o outro? É impossível, me parece, pois quanto mais acumula, mais ajunta, e mais tem prazer em contemplar seus bens67.

Mas Rutebeuf capta as transformações que estavam se operando na sociedade em outros segmentos ou instituições. Assim, percebe que as mudanças que se verificavam na sociedade estavam alterando, igualmente, a cavalaria. No poema Os flagelos do mundo, Rutebeuf, tratando dos três flagelos, indica que o terceiro atingiu a cavalaria. Para assinalar as mudanças operadas nessa instituição própria da Idade Média, o trovador compara dois momentos dela: antes e nos tempos que então corriam: A cavalaria é uma coisa tão grande que ouso falar do terceiro flagelo apenas superficialmente. Pois da mesma forma que o ouro é o melhor metal que se possa encontrar, igualmente ela é o poço de onde se tira toda sabedoria, todo bem e toda honra. É então justo que todos os cavaleiros sejam honrados. Mas, da mesma maneira que as roupas novas valem mais que as amarrotadas, os cavaleiros do passado valem mais, forçosamente, que os de hoje, pois o mundo tanto

67

La second n’est pas peu de chose: c’est aux clercs qu’elle s’ataque. Étudiants axceptés, les autres clercs sont tous agrémentés d’avarice. Le meilleur clerc, c’est le plus riche, et qui a le plus, c’est le plus chiche, car à son avoir, je vous préviens, il a fait hommage. Et dès lors qu’il n’est plus ainsi son proper maître Comment peut-il aider autrui? c’est impossible, il me semble. Plus il amasse, plus il assemble, et plus il prend plaisir à contempler ses biens.

84

mudou que um lobo branco comeu todos os cavaleiros leais e valentes. Eis porque o mundo perdeu seu valor68.

A predileção de Rutebeuf pelos religiosos parece ser perfeitamente explicável. A nosso ver, ele critica os religiosos pelo fato de seu novo comportamento constituir uma alteração radical. Com efeito, esperava-se o trovador que os religiosos se mantivessem ligados aos valores espirituais, ou seja, que fossem partidários dos valores que representavam a sociedade que tivesse por fundamento a religião cristã. No entanto, cada vez mais, ao que tudo indica, os religiosos abandonavam esses antigos valores para cederem aos valores terrenos. O conto ou poema O testamento do Asno, de 1253, é bastante expressivo sob esse aspecto. Narra o poema a história de um padre cujo asno, que o servira durante vinte anos, contribuindo para enriquecê-lo, morreu. Como seu dono gostava muito do asno, enterrou-o no cemitério. O bispo, que tinha um caráter completamente diferente, nem cúpido, nem avaro, mas cortês e de boas maneiras, mandou chamar o padre. Este, após ouvir a acusação e o sermão do bispo, solicita um dia para reflexão, o que lhe é concedido. Rutebeuf assinala que o padre não se afligiu com a situação, pois ele sabia que ter um amigo fiel: sua bolsa, que nunca lhe faltava, seja para oferecer uma reparação, seja em caso 68

La chevalerie est une si grande chose que je n’ose parler de la troisième plaie que superficiellement. Car de même que l’or est le meilleur metal que l’on puisse trouver, de même elle est le puits où l’on puise toute sagesse, tout bien et tout honneur. Il est donc juste que j’honore les chevaliers. Mais de même que les habits neufs Valente mieux que les fripes, les chevaliers de jadis valaient mieux, Forcément, que ceux d’ajourd’hui, car le monde a tant change qu’un loup blanc a mange tous les chevaliers loyaux et vaillants. C’est pourquoi le monde a perdu sa valeur.

85

de necessidade. O padre compareceu diante do bispo no horário marcado carregando consigo vinte libras, contadas e em boas moedas, escondidas em um cinto. Carregando-a sempre com ele, não temia nem a fome, nem a sede. Solicita o padre que uma reflexão tão particular deveria ser feita em particular. Pede, então, para falar ao ouvido do bispo, que se inclinou para ouvi-lo. Narra, então, o padre que o asno trabalhara durante vinte anos, recebendo, cada ano, vinte sous, que economizou, perfazendo vinte libras. Para que seus pecados fossem perdoados, avisa o padre, o asno legou suas vinte libras ao bispo. Responde o bispo que Deus protegesse o padre e perdoasse os erros e todos os pecados que o asno pudesse ter cometido. Escreve o trovador: “Rutebeuf nos diz e nos ensina que aquele que carrega dinheiro para adiantar seus negócios não deve temer encontrar-se numa situação ruim”. E conclui: “O asno continuará cristão”. Ao que tudo indica, desde cedo Rutebeuf valeu-se dos poemas para participar das disputas que se levantavam em sua época. Exemplo disso é Le Dit des Cordeliers, que muito provavelmente foi escrito no verão de 1249 (FARAL e BASTIN, 1959), por conseguinte, antes de mudar-se para Paris (SPENCER, 1987). Observa ainda este autor que Rutebeuf já se preocupava com o que encarava como um materialismo corrupto do clero parisiense, uma corrupção que contrastava claramente com as atitudes santas dos franciscanos. O poema, considerado extremamente obscuro, trata da querela entre os Cordeliers69 de Troyes, cidade que tinha uma intensa atividade literária, e a Abadia Notre-Dame-aux-Nonnains, da mesma localidade. Rutebeuf tomou partido dos Cordeliers, em conflito com uma abadessa belicosa, que se opunha à instalação dos membros dessa ordem no centro da cidade de Troyes. Para resolver a querela o bispo reuniu-se em conselho durante três ou quatro dias. Mas, observa Rutebeuf, as mulheres são combativas e, por isso, não se pode apaziguá-las. O bispo percebeu que seria necessário combatê-las dia após dia. Por isso, seu julgamento foi que os Frades fossem se divertir em outro lugar70. Rutebeuf afirma que os Franciscanos tinham um

69 70

Cordeliers: como eram denominados os Franciscanos na França. L’évêque tint conseil pendant trois jours ou quatre.

86

lugar magnifico, com dormitório, refeitório, uma boa igreja, pomar, prados e videiras. Mas, os que Rutebeuf classifica como ignorantes diziam que havia sido por cupidez que eles abandonaram o local para ir se instalar em outro lugar 71. Se nesse poema Rutebeuf ficou do lado dos religiosos, no inverno de 1254-1255, já residindo em Paris, Rutebeuf muda de lado. No conflito entre os Dominicanos e a Universidade de Paris, critica os monges mendicantes, ficando do lado dos seculares. Ele trata desse conflito no poema La discorde des Jacobins et de l’Université. Logo de início o trovador afirma que deve fazer um poema sobre o espírito da discórdia que foi semeado em Paris pela Inveja entre os que pregavam a misericórdia e uma vida honesta. Suas bocas estariam cheias de Fé, Paz e Concórdia, mas suas maneiras recordavam que existia uma distância entre as palavras e os atos 72. Trata-se dos Jacobinos, isto é, dos Dominicanos, que falavam de Deus e proibiam a cólera, pois ela magoava a alma, faz-lhe mal, matando-a. Todavia, contraditoriamente,

71

72

Mais les femmes sont querelleuses, il ne peut les apaiser, il vit qu’il fallait jour après jour les combattre: Son jugement fut que les Frères iraient s’ébattre ailleurs. Ils avaient un dortoir, un réfectoire, une belle église, Vergers, prés, treilles: un endroit magnifique. Les ignorants disent que c’est par cupidité Qu’ils l’ont quitté pour aller s’installer ailleurs. Je dois rimer sur l’esprit de discorde qu’à Paris envie a semé parmi ceux qui prêchent la miséricorde et une vie honnête. Foix (Foi?), paix, concorde, voilà qui leur emplit la bouche mais leurs façons me rappellent que des paroles aux actes il y a loin. Cabe observar que fizemos uma tradução distinta da feita por Joy dos dois primeiros versos. Em francês arcaico, esses dois versos estão escritos dessa maneira: “Rimeir m’estuet d’une descorde Qu’a Paris a semei Envie.”

87

eram estes que estavam em guerra por uma escola onde queriam ensinar à força73. Deve-se salientar que não podemos aderir a uma visão moralista, a-histórica. Os Jacobinos mudaram seu comportamento em compasso com as alterações que estavam se processando na sociedade. Pode-se apreender isso a partir do próprio Rutebeuf. Afirma o trovador que, quando surgiram no mundo, eles entraram com humildade. Eram puros e impecáveis e amavam a teologia. No entanto, o Orgulho, que suprime todo bem, colocou entre eles tanta iniquidade que subverteram a Universidade 74. Ao invés de amigos dela, foram mal agradecidos para com os universitários, cometendo uma injustiça a quem a serviu durante tanto tempo. Rutebeuf retoma, mais ou menos, a estrofe que havia usado um pouco antes, mas dando-lhe uma nova direção. Observa que os Jacobinos fizeram sua entrada no mundo vestidos de roupas brancas e negras. Então, todas as virtudes abundavam neles, acrescentando que quem quiser pode sempre crer nisso. Pela vestimenta, eles são

73

74

Les Jacobins: voilà le sujet dont je veux vous entretenir car ils nous parlent tous de Dieu et nous interdisent la colère: c’est là ce qui blesse l’âme, ce qui lui fait du mal, ce qui la tue. Mais les voilà en guerre pour une école où ils veulent enseigner la force. Também neste caso fizemos uma tradução distinta da que se encontra na versão de Joy: trata-se do último verso que, acreditamos, Rutebeuf quer dizer que os religiosos querem ensinar à força. Em francês arcaico, temos: “Ou il welent a force lire.” Quand les Jacobins apparurent dans le monde, Ils entrèrent chez Humilité. À l’époque, ils étaient purs et nets, Et aimaient la théologie. Mais Orgueil, qui élague tout bien, a mis en eux tant d’iniquité qu’avec leur grande cape ronde ils ont renversé l’Université.

88

tranquilos e puros, mas alerta que todos sabem muito bem que caso um lobo vestir um manto redondo ele se assemelhará a um padre75. Finalizando, Rutebeuf afirma que acredita que os Jacobinos sejam, talvez, pessoas honestas. Mas o fato deles pleitearem junto ao papa contra a Universidade impede-o de acreditar nisso. No que toca aos Jacobinos, o trovador observa que, ainda que um deles empreste, ele não pagará da sua dívida o valor de uma casca de batata76. Muito provavelmente, a partir da sua experiência em torno da disputa entre os mendicantes e os seculares, Rutebeuf, em 1260, compôs um poema sobre a mentira (Le dit du mensonge). Nele, o trovador menciona as duas Ordens, ironicamente caracterizadas como santas, que teriam combatido os vícios, abatendo-os, exaltando as virtudes. Com essas Ordens as virtudes teriam sido elevadas e os vícios vencidos77. Evidentemente, como assinala o próprio título do

75

76

77

Les Jacobins ont fait leur entrée dans le monde Vêtus de robes blanches et noires. Toutes les vertus en eux abondent: qui le veut peut toujours le croire. Par l’habit, ils sont nets et purs, mais vous savez bien ce qu’il e nest: si un loup portait une cape ronde, Il rassemblerait à un prêtre. Ce sont peut-être d’honnêtes gens, je veux bien que chacun le croie. Mais le fait qu’ils plaident à Rome contre l’Université m’empêche de le croire. Voici le fin mot, touchant les jacobins: quoi qu’un Jacobin emprunte, je ne paierais même pas de sa dette la valeur d’une pelure de pomme. Vous entendrez parler de deux Ordres saints, Que Dieu a dintingués en bien des choses: ils ont si bien combattu les vices que les vices sont abbatus et les vertus exaltées. Vous entendrez comment elles ont été élevés et comment les vices on été vaincus.

89

poema, trata-se de uma mentira e o que ocorreu foi exatamente o oposto. Como o conflito entre os seculares e os mendicantes já foi narrado, passemos aos poemas em que Rutebeuf trata de Guilherme de Santo Amor e da sua condenação ao exílio. São dois os poemas em que o trovador trata especificamente desse tema. O primeiro poema é de 1257: Dit sur l’exil de Maître Guillaume de Saint-Amour. O segundo é de 1258: La complainte de Maître Guillaume de Saint-Amour. Assim, examinemos os comentários que o trovador fez ao exílio imposto a Guilherme de Santo-Amor pelo papa Alexandre IV e pelo rei Luís IX.78 No primeiro poema, Dit sur l’exil de Maître Guillaume de Saint-Amour, Rutebeuf caracteriza a condenação como uma injustiça e um dano que foram feitos ao mestre. Assinala que a injustiça não foi feita apenas ao Mestre Guilherme, mas ela é extensiva a todos os prelados — todos teriam sido degradados.79 Os versos iniciais do poema não deixam dúvidas acerca da opinião e do partido de Rutebeuf: Escutem, prelados, príncipes, reis, a injustiça e o erro que se fez ao metre Guilherme: baniram-no desse reino! Nenhum condenado à morte teve um destino tão injusto. Quem exilar um homem sem razão, eu afirmo que Deus que vive e reina deve exilá-lo do seu Reino.80

78

79

80

De acordo com Dahlberg (1999, p. 285, nota 6759), Guilherme de Santo Amor foi condenado em 1256 pelo papa Alexandre IV que pediu a Luís IX que o banisse da França. Ao que tudo indica, Guilherme de Santo Amor passou o resto da sua vida em Saint-Amour que, na época, ficava fora dos limites da França. Prélats, je vous le fais savoir; Vous êtes en tous dégradés. Écoutez, prélats, princes, rois, l’injustice et le tort qu’on a faits à maître Guillaume: on l’a banni de ce royaume! nul condamné à mort n’eut un sort si injuste. Qui exile un homme sans raison, je dis que Dieu qui vit et règne doit l’exiler de son Royaume.

90

Condenando o exílio de Santo Amor, Rutebeuf observa que o mestre foi exilado ou pelo rei ou pelo papa. A partir disso, o trovador coloca uma questão importante: trata-se de saber quem governa, de fato, a França, adiantando duas possibilidades. Caso o papa pode exilar um homem da terra de outro, o senhor dela não tem nenhum poder sobre ela.81 Por outro lado, caso o rei procurar contornar a questão, afirmando que exilou o mestre a pedido do papa, trata-se de algo, adverte Rutebeuf, para ser ensinado: constitui algo novo, que não pertence nem ao direito civil nem ao direito canônico. Adverte que um rei não deve portar-se mal segundo qualquer solicitação que se lhe faça. 82 Do mesmo modo, caso o rei afirme que exilou por sua própria conta, então praticou uma injustiça, cometeu um erro. Trata-se de uma vergonha, pois não seria conveniente nem a um rei, nem a um conde, caso souberem o que é a justiça, exilar um homem sem que se considere a razão legal para exilá-lo. Caso não tenha feito isso, conclui o trovador, portou-se mal.83

81

82

83

Maître Guillaume a été exilé Ou par le roi ou par le pape. Je vous le dis en un mot: si le pape de Rome peut exiler un home de la terre d’autrui, le seigneur n’a nul pouvoir sur sa terre, pour dire tout ela vérité. Si le roi tourne l’affaire en disant Qu’il l’a exilé à la prière du pape Alexandre voilà pour nous instruire: comme droit, c’est nouveau, mais je sais comment cella s’appelle: ce n’est ni du droit civil ni du droit canon; car un roi ne doit pas se mal conduire, pour quelque prière qu’on lui adresse. Si le roi dit que c’est lui qui l’a exilé, c’est de sa part un tort, une faute, une honte, car il ne sied ni à un roi ni un comte, s’il sait ce qu’est la justice,

91

Le Goff (2003) examinou o que denominou de querela dos regulares e dos seculares ao longo do século XIII, assinalando que a mais aguda e típica foi exatamente a de Paris de 1252 a 1259. Comentando a posição de Luís IX diante do conflito, Le Goff (2003) assinala que o rei, muito próximo dos franciscanos, não interferiu, o que teria motivado o duro ataque de Rutebeuf, acusando-o de ser joguete nas mãos dos regulares e por não defender o seu reino, para o qual os direitos da Universidade de Paris tinham uma importância fundamental. REFERÊNCIAS BARON, Auguste Alexis Floréal. Histoire abrégée de la littérature française. Bruxelles: Alexandre Jamar, 1841. BOCCACCIO, Giovanni. Decamerão. São Paulo: Abril Cultural, 1970. CLÉDAT, Léon. Rutebeuf. Paris: Hachette, 1891. DAHLBERG, Charles (editor). The romaunt of the rose. Oklahoma: University of Oklahoma Press, 1999. DELÉCLUZE, Étienne Jean. Rutebeuf. 1254-1286. Paris: Imprimerie de H. Fournier, 1843. E-DICIONÁRIO DE TERMOS LITERÁRIOS DE CARLOS CEIA. Disponível em: . Acesso em 01 fev. 2015.

d’exiler un home sans qu’on voie de raison légale à ce qu’il l’exile; et il s’il agit autrement sachez bien qu’il se conduit mal.

92

ENCYCLOPÉDIE LAROUSSE. Paris, s. d. Disponível em: . Acesso em : 01 fev. 2015. FARAL, Edmond ; BASTIN, Julia. Oeuvres complètes de Rutebeuf. Paris: Éditions A. et J. Picard, 2 tomes, 1959 e 1960. JOY, Bernard. Poemes de Rutebeuf. Disponível em: . Acesso em 25 nov. 2014. JUBINAL, Achille. Notice sur Rutebeuf. In: La complainte d’Outre-Mer, et celle de Constantinople. Paris: Chez Téchner, 1834. JUBINAL, Achille. Oeuvres complètes de Rutebeuf. Trouvère du XIIIe siècle. Recueillies et mises au jour pour la première fois par … Paris: Paul Daffis, 1874, 3 tomes. LANSON, Gustave. Histoire illustrée de la littérature française. Paris; Londres: Librairie Hachette, 1923, 2 tomes, tome I. LE GOFF, Jacques. Os intelectuais na Idade Média. Rio de Janeiro: José Olympio, 2003. A primeira edição do livro data de 1957. PAYEN, Jean Charles. O Homo Viator e o cruzado. In: BRAET, Herman e VERBEKE, Werner (eds.). A morte na Idade Média. São Paulo: EDUSP, 1996. SPENCER, Richard. Sin and retribution, and the hope of salvation, in Rutebeuf’s lyrical works. In: DAVIES, Peter V. e KENNEDY, Angus J. (eds.). Rewards and Punishments in the Arthurian Romances and Lyric Poetry of Medieval France. Cambridge: Boydell and Brewer, 1987. SZITTYA, Penn R. The antifraternal tradition in Medieval Literature. Princeton: Princeton University Press, 1986.

93

WARTON, Thomas. The history of english poetry. London: Reeves and Turner, 1871, 4 vs., v. III.

94

Lihat lebih banyak...

Comentarios

Copyright © 2017 DATOSPDF Inc.