Resenha sobre: As raízes da Arqueologia Francesa, de Laurent Olivier

July 7, 2017 | Autor: Gabriel Forgati | Categoría: Arqueology, Estudos Clássicos no Brasil, Estudos Clássicos, Laurent Olivier
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARANÁ SETOR DE CIÊNCIAS HUMANAS DEPARTAMENTO DE HISTÓRIA GRADUAÇÃO EM HISTÓRIA – MEMÓRIA E IMAGEM (1º PERÍODO 2015) HISTÓRIA ANTIGA Prof. Dr. RENATA SENNA GARRAFONI

Resenha sobre: As raízes da Arqueologia Francesa, de Laurent Olivier

Adriene Mitally Ramos de Paiva Daniel Donato Ribeiro Gabriel Antonio Forgati Michele Souza de Oliveira

AUTOR Laurent Claude Olivier – nascido em Versailles, na França, em 1958 – é curadorchefe do Museu Nacional de Arqueologia em Saint-Germains-em-Laye, na França, e por excelência membro do Ministério de Cultura e Comunicação da República Francesa. Pela Universidade de Sorbonne (Paris), doutorou-se em Filosofia da Arqueologia, em 1995, e em Pré-História, em 1998. Suas principais linhas de pesquisa englobam História e Teoria da Arqueologia, Arqueologia do Presente, e também a relação da Memória com a Arqueologia. Sua mais recente publicação – Nos ancêtres, les Germains, Paris: Tallandier, 2012 – discute o tema da “germanização” da arqueologia europeia durante o regime extremista do Nazismo.

ESTRUTURA TEXTUAL O artigo de Laurent Olivier – apresentado pela primeira vez em 1997 em reunião do Theoretical Archaeology Group – foi inserido no livro Repensando o Mundo Antigo, organizado por Pedro Paulo Abreu Funari – TEXTOS DIDÁTICOS nº 49 do Setor de Publicações do Instituto de Filosofia e Ciência Humanas da Universidade

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Estadual de Campinas, em 2005 – reunindo textos do já citado autor, de Martin Bernal, e também de Luciano Canfora. Prefaciando o artigo, o historiador Glaydson José da Silva – que foi também quem traduziu o paper – apresenta breve biografia de Olivier e o que este tratará no discurso. O texto em si, conforme a discussão de Laurent Olivier, divide-se em Introdução, capítulo I (“O estrondo do espaço: dos ‘Selvagens da América’ às ‘sociedades primitivas’”), capítulo II (“A desordem do tempo: do mito medieval das origens à concepção moderna de nação”) e capítulo III (“As implicações antropológicas e arqueológicas da ideia de Nação”). Finda com as conclusões do escritor e com a bibliografia da qual dispôs.

RESUMO Laurent Olivier inicia o seu texto “As origens da arqueologia francesa” traçando um panorama sobre a forma que a arqueologia se apresentava nos séculos XVIII e XIX e como ela funciona atualmente, em função do processo de globalização e americanização que sofreu. Após esse breve histórico, o autor revela os dois eventos que renovaram o estudo e os conceitos sobre o passado e que abordará com mais profundidade a seguir: a descoberta do Novo Mundo, mais precisamente dos “selvagens da América”, e das “antiguidades pré-romanas”. No primeiro tópico, “O estrondo do espaço: dos ‘selvagens da América’ às “sociedades primitivas”, Olivier relata a dificuldade dos intelectuais europeus em conceber uma sociedade que não seja fundada com os mesmos princípios que os seus (como a religião, a política e a moral) ao mesmo tempo em que considera esse selvagem um reflexo de si, o homem primitivo antes da civilização. Para chegar a essa conclusão o professor demonstra como estudiosos começaram a aproximar a cultura material dos índios americanos com a dos antigos gauleses, desde o fim do século XVI com Michele Mercati, mas principalmente no século XVIII com Antoine de Jussieu, Joseph-François Lafitau e Nicolas Mahudel. Essa aproximação ajuda, no século XVIII, a firmar a ideia de “avanço e progresso” de uma sociedade presente, principalmente, no estudos de Anne Claude François de Caylus.

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No tópico seguinte, “ A desordem do tempo: do mito medieval das origens à concepção moderna de nação”, o professor francês discorre sobre a forma que franceses e britânicos se apropriaram das versões de origem medievais traçando um certo “parentesco” com os conquistadores romanos para legitimar sua soberania perante outros povos e justificar a reprodução das desigualdades sociais, porem com a crescente critica ao poder real iniciada no século XVII na Inglaterra e com ainda mais força na frança no século XVIII reivindica-se a nova idéia de nação, essa nova definição que abrangeria todos os povos foi idealizada, principalmente, pelo abade Sieyes e desenvolvido posteriormente por pensadores como Voltaire. Com a Revolução Francesa existe uma inversão nos povos que deram origem a essa nova nação: os nobres francos são substituídos pelos “bárbaros” gauleses, o que tornaria o Estado Republicano o continuador da antiga Gália – que foi sustentado por vários estudiosos como Jean Raynaud. O ideal de nação transmite no fim do século XVIII e no século XIX um ideal de evolução da sociedade – a nação seria o ápice dessa evolução, o que influenciou as interpretações da Pré-História feitas por Jacques Boucher de Perthes e Gabriel de Mortillet no século XIX sobre os utensílios de sílex, e André Leroi-Gourhan no século XX, que são analisadas por Olivier em seu ultimo tópico: “As implicações antropológicas e arqueológicas da idéia de nação”. Ainda nesse tópico o autor mostra uma analise das técnicas feita por Marcel Mauss no artigo “Les Techniques Du corps” (1934), que afirma haver uma certa “organização social” para a existência e a reprodução dessas técnicas. Por fim, o autor conclui que a arqueologia contemporânea, assim como as ciências humanas em geral, se desenvolveu com a revisão de conceitos a partir do século XVIII, que despertou um interesse maior pelo passado e estabeleceu e definiu a Etnologia e a Arqueologia. Mais precisamente, a arqueologia francesa se desenvolveu em uma mudança de sociedade herdada pela Revolução Francesa e pela filosofia iluminista, o que explica a atuação do Estado na arqueologia, com o foco na Pré-história a partir da perspectiva de evolução das sociedades. Laurent Olivier ainda defende que a arqueologia francesa não é um caso específico e que essa necessita ser renovada.

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COMENTÁRIO FINAIS Fica claro no texto de Olivier, tanto quanto nos textos de Hingley e de Bernal anteriormente lidos, o uso que se faz do passado por determinado grupo, visando uma determinada legitimação. Aprende-se com os discursos desses autores como o papel da História (e da Arqueologia) é moldado pelas intenções dos grupos que detêm o poder. Os fatos que Olivier esclarece em seu texto – sobre como se usou ora os francos ora os gauleses, como o povo originário francês, ou ainda como foram comparados os que estariam em desenvolvimento primitivo (os “selvagens” americanos) e os que já estavam em estágio de “civilização” (os franceses propriamente ditos) – vêm confirmar essa manipulação da História pelo poder vigente. É interessante notarmos como, inicialmente, houve a construção do “outro” pelos europeus: todos aqueles que não partilhavam da sua cultura e dos seus ideias de moral, política e ordem social. Partindo desse pressuposto inicial de que os ameríndios eram, na realidade, um povo selvagem no limite do mundo, tudo o que era tratado como “não-humano” foi atribuído a eles. Construiu-se, portanto, a ideia dos índios como “primitivos” e dos europeus como “civilizados”. Desenvolveu-se, a partir daí, a justificativa de iniciar (aonde ainda não havia sido empreendida), ampliar e manter a colonização, na empresa de “civilizar” o Novo Mundo. Igualmente, é imprescindível ressaltar o impacto que o contato com outros povos diferentes do que já era conhecido pelo europeu causou no pensamento intelectual, que precisa agilizar a explicação da existência desses povos, uma vez que até então, a maioria acreditava que não poderia nem haver outro continente além-mar do Atlântico, o que dirá outros povos, e “menos civilizados” que a Europa. JeanJacques Rousseau (1712-1778), por exemplo, faz uso da construção do “Bom Selvagem”, alegando que o homem é bom por natureza, que vive bem e em paz no estado de desenvolvimento no qual se encontravam os ameríndios. A formação da sociedade é o que o corrompe, tornando-o mal, propenso a subjugar outrem para manter sua vida. Cabe ao pesquisador notar essas sutilezas sobre o uso do passado e sobre como se constrói a narrativa sobre ele, para que possa desconstruir conceitos e ideais enraizados e consiga transmitir em seus trabalhos que a narrativa histórica é

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uma construção. E nessa construção é incluso também seu próprio discursos, pois também ele usa a História para legitimar seu ponto de vista e argumentar sobre esta de alguma forma, deixando latente a necessidade de se analisar a historiografia criticamente e de se perceber com qual intenção – também levando em conta o tempo e o espaço em que foi escrita – foi construída.

REFERÊNCIAS OLIVIER, Laurent. As origens da Arqueologia Francesa in: Repensando o Mundo Antigo – Martin Bernal, Luciano Canfora e Laurent Olivier (Funari, P.P.A. – org.), Textos Didáticos nº 49, IFCH/UNICAMP, 2005. LAURENT

Claude

Olivier.

Disponível

em:

. Acesso em 13 de maio de 2015. LAURENT Claude Olivier (born December 2, 1958), American Archaeologist | Prabook.

Disponível

em:

. Acesso em 13 de maio de 2015.

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