Relendo Identidades de genero entre homossexuais 0033 NEW

July 21, 2017 | Autor: Valdas Antonio | Categoría: Educational Research, Community Engagement & Participation, Public Health, Knowledge Communities
Share Embed


Descripción

\

[Jniversidade Eduardo Mondlane Faculdade de Letras e Ci6ncias Sociais Departamento de Arqueologia e Antropologia Semin6rio de Investigagdo

Relendo as Identidades de G6nero:

II

Um Estudo entre Homossexuais

na Cidade de Maputo

Estudante: I.

Valdimar Osvaldo Ant6nio

Supervisor: dr. Emidio Vieira Salomone Gune

Maputo, Junho de 2011

\

[Jniversidade Eduardo Mondlane Faculdade de Letras e Ci6ncias Sociais Departamento de Arqueologia e Antropologia Semin6rio de Investigagdo

Relendo as Identidades de G6nero:

II

Um Estudo entre Homossexuais

na Cidade de Maputo

Estudante: I.

Valdimar Osvaldo Ant6nio

Supervisor: dr. Emidio Vieira Salomone Gune

Maputo, Junho de 2011

Relendo as ldentidades de G6nero: Um Estudo entre Homossexuais na

Cidade de Maputo

Estudante

lril,** Ov-tla fr"il;* Valdimar Osvaldo Ant6nio

Trabalho apresentado em cumprimento dos requisitos parciais para a obtengdo do grau de Licenciatura em Antropologia na Universidade Eduardo Mondlane

O Supervisor

G^'r\* V.s. b* dr. Emidio Gune

O presidente

*W*-l* Hamilton Matsimbe

Maputo, Junho de 2011

O Oponente

DECLARAqAO

Eu, V'aldimar Osvaldo Ant6nio declaro por minha honra que este trabalho nuRca

foi

apr:esentado

como dissertapdo para a obtengdo de qualquer grau, e que ele constitui o resultado do meu esforgo, sacriflcio e ompenho, estando correctamente indicadas no texto e na bibliograf,a as f,ontes que

utilizei para a sua elaboragfio.

$olh*::tr',tr;:"fu Valdimar Osvaldo Ant6nio

AGRADECIMENTOS

Ao meu supervisor dr. Emidio Gune. Palavras ndo alcangam a dimensdo da minha Obrigado pelo acolhimento, atengio e orientagdo.

A

gratid6o.

dr.u Margarida Paulo. Obrigado pela sua

contribuigdo na orientagdo do trabalho. Ao dr. Elisio Jossias. Pelo seu empenho profissional e compet6ncia ao orientar o Semindrio de Investigagdo. Muito obrigado. Ao dr. Danfbio Lilhahe pelas suas sugestdes e contribuigdo no aprofundamento analitico do tema. Muito obrigado. Ao dr. Hamilton Matsimbe por ter presidido a defesa deste trabalho. Muito obrigado.

A minha Mde. Pelo amor incondicional desde que apareci ao mundo. A minha familia. Obrigado por tudo.

Aos meus colegas e amigos C6lio Matavel, Snoya Alvaro, Delfino Sual6, Ivete Macamo, Maria Teresa, M6rio Gimo, e outros que directa ou indirectamente estiveram ao meu lado

proporcionando amizade

e companheirismo

durante

o

tempo da minha formag6o. Aos

participantes do estudo, obrigado.

ilt

DEDICATORIA

Dedico este trabalho aos meus colegas de curso lembrando ob momentos que estivemos juntos nas aulas da cadeira de Semin6rio de Or:ientag6o.

RESUMO

As identidades de g6nero entre casais os homossexuais tOm sido analisadas como uma repetiq.do das relaE6es de g6nero que ocoffem entre casais. Com uma vis6o diferente o presente estudo mostra que as identidades de g6nero entre casais homossexuais na cidade de Maputo constituemse atravds de mriltiptos processos de afirmagdo social e possuem significados que transcendem as

nornas da heterossexualidade. Sendo assim, permite-se ampliar a visdo que se tem sobre

as

identidades de g6nero entre homossexuais que fora de constituirem uma repetigdo das normas,

valores e padr6es da heterossexualidade, elas inserem o novo e sdo caracteristicas do grupo social em causa.

Palavras-chave: Identidades de g6nero, Homossexualidade, Conjugalidade.

indice

DECLARAQAO...,......

...,..... ii

AGRADECIMENTOS

.....,... iii

DEDrCAT6RrA.........,.

II.

Abordagem metodol6gica

2.1.

....... iv

............

.......3

T6cnicas de recolha de dados ......

2.1.1.

As entrevistas

2.1.2.

As discuss6es em grupos

2.1.3.

A observagdo

'............'....,'.

individuais................ focais

Universo populacional

2.3.

Procedimentos de sistematizaqdo e an6lise de

2.4.

Definiq5o de

2.5.

DiscussSo

.........4

.............,...

............,...4

dados

conceitos

......................1 entre

homossexuais

3.1. Que identidades de gdnero entre

homossexuais?......

3.2. Narrativas sobre conjugalidade entre homossexuais

fV. Conclusdo ........,.. Referdncias bibliogr6ficas

......,.4 ..............5

te6rica

IlL ldentidades e conjugalidade

,.......................3 ..,.........3

directa

2.2.

3

.....,.,........

,,......,...,..........9 ............. g

............,.13 ................. 20

..........,......

.,...................... 21

VI

I. Introdu96o Os primeiros estudos sobre identidades de g6nero foram feitos entre a populagSo heterossexual.

O modelo usado para entender as dimens6es das identidades de g6nero categorias sociais

- rnasculinidade e ferninilidade percebidas

baseou-se em duas

como relacionadas de fonna

hierdrquica.

Nesse modelo o masculino e os pap6is a ele associados s6o tidos corno dominantes enquanto que

o feminino e os pap6is sociais a ele relacionados sdo tidos como submissos. Esse modelo 6 usado

para entender as identidades de gdnero entre os homossexuaisr como uma populagSo que

se

constitui como diferente. Ao proceder-se de tal forma, assume-se que as relaEdes de g6nero entre homossexuais constituerl uma lepetigho das nonlas e dos valores qlle sdo produzidos ao nivel

cla

populaqdo heterossexu al.

Assim, ao se basear nas categorias de g6nero construidas para analisal as relagdes sociais euh'e hom.ens e mulheres para entender as identidades de g6nero entre homossexuais perde-se de vista

os significados subjectivos e a fbnna parlicular como os homossexuais se apropriam das normas

de compofiamento e dos pap6is sociais que a sociedade veicula, gerando relacionamentos que vdo para al6m da bipolarizagio hier6rquica que ocorre entre heterossexuais.

Em Moqarnbique escasseiam anflises sobre hornossexualidade no geral e sobre identidades de gdnero entre homossexuais em particular entretanto comega a sulgir um interesse analitico nessa 6rea.

A titulo de exemplo numa aniilise

sobre identiclades sexuais Meque (2009) mostra que as

identidades sexuais nlo s6o detenninadas pelo sexo das pessoas ou seja pelo facto de nascerem homens ou mulheres. Silva et ul (2010) exploram a vulnerabilidade e risco de infecEso pelo

HIV

entre homens que fazem sexo com hornens e tarnb6rn dedicam um capitulo do seu trabalho para an6lise das identidades. O estudo de Meque (2009) assim colllo o de Silva et ctl (2010) ajudam-

nos a compreender os processos de afirmagdo das identidades, rnas carecem de uma reflexAo l

Neste trabalho usa-se o termo homossexual para ref'erir-se a pessoas que praticam sexo corll outras do mesmo sexo.

Na pelspectiva de Soares (2008), a palavra "homossexual" foi for:nada a parlir da raiz grega hotno que significa o lresmo, e 6 pronunciada pela primeira vez no s6cr"rlo XlX. A homossexualidade 6 produto de uma construqio hist6rica e social, tal cbmo l.los rnostra Soares (2008) ao sugerir que ser homossexual 6 uma construqffo discursiva.

conceitual sobre g6nero e identidades sexuais.

Contribuindo para aprofundar a questEo sobre g6nero e identidades sexuais entre homossexuais o presente trabalho analisa os processos de afirmag5o das identidades de g6nero entre homossexuais a partir das relagSes de conjugalidade entre homossexuais. Tendo em conta a

complexidade das identidades

o

enquadram na homossexualidade.

trabalho discute como 6 que as identidades de g6nero

A

se

ideia central do trabalho 6 que as identidades de g6nero

entre homossexuais constituom-se atravds de mriltiplos processos de afirmagao social. No seio dessa multiplicidade encontram-se processos de repetiqdo dos padrdes da heterossexualidade,

e

outros que sdo recriados marcando identidades que transcendem o masculino e o feminino.

o

presente trabalho 6 apresentado em quatro partes. Feita a introdugio, segue a abordagem metodol6gica no oapitulo dois. Nesta parte apresentam-se as t6cnicas de recolha dos dados e os procedimentos de an6lise dos dados. Apresenta-se ainda a definig6o dos conceitos usados neste trabalho e a discussdo te5rica. A terceira parte 6 reservada a apresentagdo e an6lise dos dados. Finalmente segue a quarta parte onde sdo apresentadas as conclusdes preliminares.

ts-

II.

Abordagem metodol6gica

2.1.

T6cnicas de recolha de dados

Esta pesquisa qualitativa utilizou o m6todo etnogr6fico. Houve a necessidade de construgdo de

um corpus metodol6gico (Bauer & Aarts, 2002). Tal construgdo de :urn corpus ocoffe a partir da

definigdo dos procedimentos empregues para a colecta de dedos como o uso de entrevistas individuais, discussdo em grupos focais e observagdo directa.

2,1.1. As entrevistas individuais As entrevistas eram feitas individualmente d pessoas que eram parceiros, parentes e amigos dos gcrys e das l6sbicas. Essas entrevistas tinham a durag6o de uma hora e trinta minutos em locais

previamente propostos pelo pesquisador ou pelos entrevistados, tendo sido frequente no recinto da Lambda e no Jardim do Pulm6o. Uma entrevista individual

foi feita em um saldo de beleza no

bairro da Liberdade que foi contemplado neste estudo devido anaitreza da rede social do gay que deixou sua m6e compartilhar alguma informagdo sobre o seu filho.

2.1.2. As

discuss6es em grupos focais

As duas discussdes em grupos focais foram feitas em grupos de cinco e oito pessoas respectivamente seleccionadas ap6s a decorr6ncia dos debates do papo mil. Os grupos eram heterog6neos, compostos por gays e l6sbicas com niveis de formaqio e ocupagio profissional

diferentes nomeadamente: estudantes do nivel secunddrio e universitSrios. Alguns participantes

gays eram trabalhadores por conta pr6pria, danEainos ou bailarinos, escultores e pintorespldsticos. Outros tinham emprego regular no Aparelho do Estado

e em Organrzaqdes

Ndo

Governamentais. As l6sbicas trabalhavam ern Organizagdes N6o Governamentais e em bares como serventes e caixas.

2.1,3, A observagflo directa

A

observaqdo directa

foi

usada para descrever comportamentos, atitudes e formas de apresentaqao fisica e cotporal dos individuos perante as interacades sociais em contextos especificos como momentos de lazer como na mana's party e debates como no papo mil. As observaqoes eram feitas no periodo de tarde em locais de debates e seminarios (no recinto da

Associagao Lambda),

e em

saldes de beleza onde alguns dos entrevistados homossexuais

exercem suas tarefas diiirias.

2.2. Inicialmente

Universopopulacional

o

universo populacional era composto por homossexuais, pessoas que identificaram como l6sbicas e gays filiadas i Lambda e um gay n6o filiado a Lambda. por

se

se

tratar de pessoas envolvidas em relacionamentos homoer6ticas neste trabalho serdo denominadas por homossexuais ou ainda l6sbicas e gays como as pessoas se auto-denominam. No texto usamse nomes ficticios de modo a preservar a identidade das pessoas que foram entrevistadas durante o trabalho de campo.

t-

Posteriormente houve a necessidade de incluir mais participantes que nflo estavam previamente indicados, amigos e parentes dos participantes previstos de modo a recolher informaglo de como

"os outros" encaravam entendiam os seus parentes e amigos homossexuais. Entretanto, essa informaqlo mostrou-se pouco ritil para compreender as relag6es de g6nero na conjugalidade de homossexuais-

2.3.

Procedimentos de sistematizaqflo e anfrise de dados

Durante a recolha de dados, a informaglo era gravada e notas foram tomadas. posteriormente a informagSo foi transcrita e passada a limpo. As narrativas sobre conjugalidades foram enquadradas nas categorias construidas por dois modelos de relagdes sociais nomeadamente o

modelo hier6rquico e o modelo igualit6rio. A teoria que 6 usada neste trabalho prop6e que sejam tomadas em consideraqdo as diversas subjectividades que compdem a vida material dos

individuos.

2.4.

Definigfio de conceitos

Neste capitulo

slo

definidos os principais conceitos usados ao longo deste trabalho

nomeadamente identidade, g6nero, identidade de g6nero, papel de g6nero, homossexualidade e

conjugalidade e ainda o quadro te6rico adoptado neste trabalho.

Identidade de um individuo 6 o nricleo b6sico apartir do qual ele se reconhece e se relaciona com os outros. Eufrisio

& Bittar (2008) consideram que a identidade

se refere ds caracteristicas da

personalidade do g6nero humano, que de modo geral pode ser conceituada como um conjunto de

caracteristicas de um individuo que vdo se construindo mediante as transformagdes hist6ricosociais e culturais no Ambito da sociedade. Ennes (2007) mostra que a identidade possui uma s6rie de caracteristicas das quais se destacam,

...primeiro a ideia de processo, ou seja, 6 apreendida coflro algo em movimento; segundo, construgSo, isto 6, algo que n6o estd dado e acabado, nio 6 imanente ao seu portador e; terceiro, trata-se de um processo e de uma construEdo que ocorre por meio de inter-relagdes, o que quer dizer que ndo podem ser pensada como um atributo isolado e independente de sujeitos individuais ou colectivos. Trata-se, pois, de um processo de construgdo que se d6 por meio de relagdes sociais

(Ennes 2007:199). Estas caracteristicas encontram-se consteladas no que Castells (2000) entende por identidades. Segundo Castells (2000:2) identidade seria o processo e construqlo de significado com base em

um atributo cultural, ou ainda um conjunto de atributos culturais inter-relacionados.

O termo g6nero 6 usado para se falar de

aspectos comportamentais e psicol6gicos que sdo

considerados como sendo adequados a individuos de cada sexo. O g6nero descreve a diferenga

social entre homens e mulheres. Neste trabalho propde-se a olhar para o conceito de g6nero dando Onfase ao aspecto relacional das def,rnigSes notmativas da feminilidade assim como da masculinidade a parlir da percepgdo das diferengas sociais em si, e n6o biol6gicas.

A Identidade de g6nero refere-se ao conjunto de sensag6es intemas que

est6o presentes em cada

individuo e que o'fazem sentir que pertence ao g6nero masculino ou feminino (Bagnol 1996:9).

O conceito de identidade de g6nero apresentado por Bagnol (1996) perde de vista os processos de apropriagdo das identidades de g6nero por parle dos individuos. Para superar esta lacuna apoio-me no conceito avangado por Paula (2000), segundo o qual a identidade de g6nero seria um conjunto formado por crengas, atitudes e estere6tipos do individuo e que possui ligagdo com os seus antecedentes psico-bio-sociais.

Deste modo, a identidade ndo est6 somente associada aos aspectos biol6gicos e morfol6gicos,

mas estf estritamente relacionada com a categoria 'g6nero' como resultante de um processo hist6rico, cultural, social e psicol6gico de cada individuo, cuja nog6o deve ser entendida em diferentes percepg6es, ou seja, mirltiplas identidades de g6nero. Assim, as caracteristicas de g6nero sdo construEdes socioculturais que variam atrav6s da Hist6ria, e se referem aos pap6is psicologicos e culturais que a sociedade atribui a cada um do que considera como "masculino" ou oofeminino".

Al6m de aprender a sentir-se homem ou mulher o individuo aprende que deve desempenhar um papel de gdnero, isto 6, deve compofiar-se como homem ou mulher na sua relagdo com as demais pessoas e com a sociedade em geral. O conceito de papel de gdnero avangado por Bagnol (1996)

mostra que

o papel de g6nero refere-se especiflcamente ao compoftamento, aos traqos de

personalidade e as expectativas sociais normalmente associadas ao papel masculino e feminino.

A homossexualidade por sua vez designa um tipo distintivo de pessoa que, embora sinta atracgdo afectivo sexual por outra do mesmo sexo, ndo rompe com os padr6es da heteronormatividade (Bourdieu 1999).

Quanto a conjugalidade esta definida por I(aufmann (1995) colno correspondente d instalag6o do casal na construgdo de uma realidade conjunta. Carneiro (2008) admite que a conjugalidade na

literatura psicanalitica das relagdes amorosas, 6 definida como uma identidade comparlilhada, produto de uma trama identificat6ria inconsciente dos sujeitos - parceiros, que se origina na hist6ria familiar de cada um e se dirige a um ideal conjugal compartilhado.

-'t

2.5.

Discuss6o te6rica

tendem a reproduzil uma Os estudos sobre identidades de g6nero na 6rea da homossexualidade construido a partir das diferenqas abordagem de g6nero como repetiqdo do modelo heterossexual Bourdieu (1999 ctptd Anios 2000: biol6gicas dos sexos entre homem e mulher. Como ret-ere como diferente ao reivindicarem a 274) oshomossexuais como uma populaglo que se constitui com os esquemas de percepgio igualdacle de direitos, n6o oonseguem lorlper totalmente clas hierarquias naturalizadas entre os fundantes das relagSes de g6nero, havendo uma reposigao (2009) considera que as relag6es g6neros. Seguincio o mesmo fio de pensamento, Swain

de quebrar as normas das relaqoes homossexuais perdern seu poder de inserir o novo' instalam no "casal" parlilhando os valores estabelecidas no quaclro do g6nero bin6rio, quando se (Srvain 2009:29)' morais dominantes, assim como suas ambiguidades

lelag5es sociais identidades de Assim, dir-se-ia que os homossexuais desenvolvem nas suas das relaqSes de g6nero na g6nero masculino e ferninino e repetem as categorias bipolarizantes do modelo cla hetelossexualidade' Embora demarcagdo das identidades cle g6nero que resultam

Bourdieu (1999), Swain (2009) assumam que as identiclades

de

g6nero constituem

reais e concretas do rnundo social e da representaqoes clas quais nao se pocle negar as irnplicag6es

eles limitaram-se a abordar as subjectividacle que compSe a vida material dos individuos, nulna perspectiva essencialista e relaqSes de genero estabelecidas entre homossexuais por base as categorias naturalizadas universalista das identidades de g6nero a ponto de tomarem entre homossexuais. clo g6nero para explicarem as relaqdes de g6nero g6nero e homossexualidade se articulam contuclo, um olhar critico sobre a maneira pela qual o vistas como espagos interaccionais de trazem como fbco de an6lise cts comtmiclctcles cle prifiicct

tanto inclividuais como grupais, est6o construgdo de significaclos sociais oncle as iclentidades, temos, o g6nero 6 uma consttuqao sendo constantemente construidas (Eckert 2000). Nestes Nessas abordagens' o g6nero 6 tido social, cultural e hist6rica que ocoffe em praticas sociais' social e culturalmente atrav6s de interacqoes e col11o ur1l aspecto de identidade, que 6 construido pr6ticas sociais'

hist6rico de Como mostra a teoria qLrcer as identidades sf,o resultantes de um processo 2A02; Miranda 2008; construglo social e esta ideia 6 defendida por (Abreu 2009; Heilborn Roscoe 1999;

& Mur"ray 1998; Sandford & Dodge 2009; sell 2007; Scott 1995; Vance 1995; Weeks

pinto 1991). A teoria qtteer que 6 a base para a comunicagao neste trabalho, defende que

identidades para al6m da repetigao os individuos aparscem, pensam e actuam expressando suas heterossexual.

r*

entender como 6 que o g6nero O capitulo que se segue reflecte sobre identidades de g6nero para os tetmos empregues masculino e o feminino s6o anquadrados na homossexualidade e apresenta da atribuiqlo pelos outros' para descrever as identidades ao nivel da auto-identificagio e ao nivel

III. Identidades e conjugalidade entre homossexuais 3.1. Que identidades de gdnero entre homossexuais?

Durante os debates do papo mil2 constatou-se que o movimento homossexual em Mogambique est6 a investir na organizagdo de uma identidade homog6nea de homossexualidade e a produgdo

.

dos discursos selve para um enquadramento dos membros num modelo valorizado das relaq6es

A tend$ncia dos cliscursos em relagio as identidades de g6nero caracteiza-se pela adopglo

de

um modelo sirn6trico ou igualit6rio em que contesta-se a versdo "tradicional" do g6nero que op6e o masculino ao feminino, a dominagdo ir submissdo, actividade sexual ir passividade sexual.

Sendo desenvolvidos dentro do recinto da associagdo Lambda, esses debates assumem um cartrcter socializador. Socializagio essa que passa pela

difusio de discursos, norrnas e valores

associados a igualdade de g6nero entre os homossexuais, avangando-se at6 a possibilidade de n6o

existir quem seja "hornem" ou "mulher" numa relaglo homossexual.

Essa atitude 6 mais defendida por pessoas que possuem uma longa experiOncia em tetmos de

cliscussdes sobre g6nero

e

assumem

a

lideranga nesses debates. Este aspecto pode ser

demonstrado pelos argumentos de Anjos, um dos parlicipantes de 33 anos de idade no decomer do papo ruil'.

As reloqdes sdo tmtu negociagdo, ndo existe macho nem f€mea no nossa relaqdo. Didlogo, amizade sdo princ{pios basicos e ndo a divisdo de papiis. Quem penso clue femea ntio i! homossexuctl, va enttio cctsor com unlo pessoa clo seu sexo oposto! Nttma relaqdo onde existe mna divisdo de pap'lis verifica-se a htLmilhaqdo de um e exaltaqtio do orfiro, e isso ndo i ser homossexual. Eu ndo me reconheEo como aquelcr mtilher qLte a sociedade ensina, acptela mulher sociulmente constnidct. Alguns confimclem a penetragdo em si. A penetraqiio i uma forma encontracla para satisfazer as

sontos m.acho

2

e

Constituem momentos de reflexSo sobre um determinado tema ou t6pico com objectivos de fomar, educar, aprencler sobre mat6rias relacionadas a urt determinado t6pico. Geralmente, existe uma pessoa convidada que tem dominio ou profissionalizagio em mateda a ser discutida ou apresentada.

necessiclocles seilruis segtmdo os desejos de cacla um, e ntio pcu'ct

tlar senticlo cle hontent e nnilher qucmdo alguim penetro e i penetrcrdo. O que importa d o antor', o afbcto, o prozer que clividimos entre zrjs (Anjos, 33 anos de idade). cJe

A vis5o que o participante tem sobre as relagdes de g6nero rompe com o modelo tradicional que faz hierarquia dos g6neros masculino e feminino. Isto acornpanha-se pela visdo que se tern sobre

o grau de instabilidade, desconflanga que geram problemas no relacionamento entre parceiros homossexuais quando suas reiaq6es seguem o rnodelo hier6rquico.

Pelo facto de os parceiros peftencerem ao mesmo sexo - duas mulheres ou dois homens assumese n6o haver sentido de fazer urna rigida distinEdo de papdis sociais. Esta concepgdo pode ser

percebida como de intluOncia dos movimentos feministas que lutarn pela igualdade de gdnero. Parece se tratar de uma situaqdo em que procura-se desencorajar os conlportamentos e atitudes que se situam d margern do modelo igualit6rio. Sob ponto de vista relacional as relag6es sociais sdo constituidas de relag6es de poder. Desta forma pode-se dizer que a igualdade vem invocar o

facto de ambos parceiros perlencerem ao mesmo sexo e este ndo constifuir um elemento de diferenciagSo social em termos dos pap6is sociais, mas sim os desejos de cada parceiro.

No caso da homossexualidade masculina

assiste-se a uma negagdo da identidade de rucLriccts

entendida como homem que subvefte os valores e papeis sociais que a sociedade espera,

procura-se afastar

a imagem de

afeminado, f-acto que

d visto como um dos factores

e

da

estignratizagfio, preconceito e vitirnizagSo de alguns homossexuais. O tenno mcu'icus 6 atribuido peia sociedade no gelal e 6 estigmatizador, preconceituoso e pejorativo.

Etnbora os discursos sobre a igualdade nas relagdes de g6nero sejam uma realidade nos debates desenvolr.idos pela Lambda, caracterizando assim uma fofte negagdo aos padr6es hier6rquicos nas relagdes sociais entre os homossexuais, a instabilidade e a contradigdo mostram a exist6ncia

de

casos que reproduzem esses modelos

de g6nelo

emprestados

de

relacionamentos

heterossexuais.

Em alguns casos notou-se que o modelo hier6rquico penneia as relagdes sociais entre parceilos. Nesses casos as relagdes sociais segueln a l6gica do binalisrno de identidades de g6nero como

10

masculino/feminino. Isto justifica-se na medida em que diante de um contexto relacional os parceiros assumirem atitudes e compoftarnentos considerados masculinos e femininos conforme

a

opgSo de cada parceiro

argumentos de uma l6sbica,

e em mrituo consenso. Esta constatagdo

Lilia de 17 anos de idade que demonstrou

testemunha-se pelos

suas visdes de mundo em

uma entrevista individual logo ap6s o debate.

Qtnndo se falavu da divisdo de papdis, a painelista e muitos dos que estovam ali cliziam que ndo poclia haver divisdo. Eu ndo concordo coru isto, e sabido que temos cprc ter igtLaldacle, mas d preciso ndo esquecer clue existem reluqdes onde cada uma sabe o que fozer, cada qual com suo fungdo. Na minha relaqtio por exemplo eu sotr hontem e a minho parceircr 6 mtilher. Eu 6 Erc toruo as clecisdes pura sair, muitas vezes ett e que lhe dou dinheiro em vez de ela clar a ruim (Lilia, 17 anos de idade).

A diversidade de vis6es

de mundo sobre as identidades de gdnero relaciona-se com o facto de os

individuos possuirem crengas, ideologias influenciadas pelas diversas traject6rias socioculturais a partir das quais as vidas das pessoas se constituem. As relag6es sociais no caso da l6sbica da

qual se extraiu o trecho supracitado s6o baseadas ern uma rigida divisSo de pap6is s6cias. As diferengas dos perfls sociais entre as parceiras justificam a divisdo de pap6is sociais entre os g6nelos. Aquelas que assumem pap6is sociais considerados masculinos t6m traject6rias sociais que inserem no seu perfil uma vida com experiOncias de pap6is de g6nero masculino.

Entre as l6sbicas notou-se que existe um termo que embora n6o seja percebido como pejorativo traduz um sentimento que 6 simultaneamente de pertenga e diferenga ao grupo das mulheres - o

terno menina-rapctz. Este termo conota as "l6sbicas masculinas" Lacombe (2007) como mulheres biol6gicas que tem atitudes de homens. Neste caso existe uma masculinidade que 6 advogada pelas "16sbicas masculinas" para referir as l6sbicas que se identificam cotn os valores sociais da masculinidade.

Neste caso n6o 6 o sexo que detennina as identidades de g6nero, mas sim os seus desejos, os valores e pap6is sociais que elas assumem. A consciCncia que as ldsbicas tOm sobre o co{po e os

genitais das mulheres faz com que se reconhegam como mulheres. Mas ao fazerem isso, continuam a reproduzir o modelo heterossexual de gdnero.

LT

No quadro das relagdes sociais entre as ldsbicas, existem mulheres que

sentem-se mais

confortfveis com cSdigos, identidades e estilos, genericamente atribuidos ao gdnero masculino do que com aqueles ao g6nero feminino como por exemplo, a maneira de vestir, o corte do cabelo o desejo em relagdo aos acess6rios. Elas aprenderam desde a infhncia a se comportarem como meninos, homens ou masculinas. A maior parte delas tem hist6rias de vida semelhantes, no

que tange a socializagSo prim6ria. Brincaram sempre com rapazes, construiram carrinhos de arame. Entre ajudar a sua mde na cozinha ou nas tarefas domdsticas e ajudar o seu pai nos trabalhos fora de casa preferiam ajudar o pai em suas tarefas.

Adicionalmente os entrevistados referiram auto-identificar-se como gay e mana para o caso dos homossexuais e l6sbicapara as homossexuais. O termo gay aparece para se referir ao homem homossexual que assume a sua orientagEo sexual como uma opg6o e

nlo uma

aberragao como a

maior parte das pessoas homossexuais interioriza quando o preconceito aparece ir tona em alguns discursos pirblicos. Este termo 6 usado entre os homossexuais para negar e diferenciar do termo

maricas que tem um cunho pejorativo associado a perversio, imagens de homens afeminados, tetmos que sdo atribuidos pelos individuos que assumem a heterossexualidade como modelo conveniente e condenam a homossexualidade para indicar que s6o homens situados a margem da sociedade. O gay por si identifica-se como umapessoa livre, alegre, umapessoa capaz de agir atrav6s de movimentos sociais de activismo para lutar pela sua causa.

Eu me identifico conxo gay porque me considero Ltma pessoo livre e alegre com a minha orientagdo sexual. Ndo preciso me esconder apareQo ao ptiblico defendendo meus direitos sem vergonha. Se elt me escondesse ndo estaria feliz comigo e isso poclia rue deixar triste porque seria aquilo que eu ndo sou olt me obrigam ct ser (Anjos, 33 anos de idade).

L2

3.2. Narrativas sobre conjugalidade entre homossexuais

Os dados do presente estudo sugerem que o casal homossexual regulamentam a gestlo da sua intimidade com base em valores sociais de amor, amizade, confianga e companheirismo.

As relagdes conjugais desenvolvidas entre os homossexuais configuram-se em dois modelos culturais de relagdes de genero que foram referenciados por Fry (1982) nomeadamente

-

o

modelo hierarquico e o modelo igualit6rio ou sim6trico. O primeiro caracteriza-se pela exist6ncia de relagSes onde 6 obedecida a hierarquia dos gdneros masculino e feminino, acompanhada por uma rigida divisdo de pap6is sociais, assim como compodamentos de submissdo e dominagio. O

segundo caractenza-se pela exist6ncia de relaqdes sociais marcadas pela igualdade sem haver a necessidade de associil-las aos g6neros masculino e feminino.

O modelo igualitririo n6o s6 representa ambos sujeitos envolvidos em uma troca homoer6tica, como recusa a distribuiglo diferencial de pap6is sociais entre os parceiros. Por6m, os pap6is sociais, n6o podem ser vistos como fnicos determinantes de identidades de g6nero, nem t6o pouco assumir-se que tal seja uma repetigdo das relag6es de g6nero do modelo heterossexual.

A

distingio de pap6is sociais nas relaE6es conjugais estabelece-se quanto d importincia da

f,rdelidade relacional, decidindo os parceiros a alternativa mais adequada a sua relagdo, de forma

que a satisfaq6o e estabilidade no relacionamento sejam asseguradas. Para o efeito os parceiros buscam consensos quanto aospap6is sociais que cabe acadaum desempenhar.

A 6nfase que os parceiros d6o a cumplicidade e amizade leva a pensar que o modelo hierarquico de relag6es de g6nero entre alguns parceiros homossexuais tende a ser rejeitado pelo facto de tal

modelo criar relag6es de dominaq6o e sutlmissdo. Este conjunto de valores em relaglo aos modelos de relagdes conjugais justifica a atitude de negagflo ao modelo hieriirquico.

Tomando como foco de an6lise duas dimensdes relevantes para o estudo da conjugalidade tal

como sugere Moreira (2005) nomeadamente a tomada de decisSo e a divisSo do trabalho dom6stico, entende-se que a maioria dos casais homossexuais

nlo

executa pap6is conjugais 13

estereotipados, por orientaEdo a um papel de g6nero de acordo com

conjugalidade

em que existe uma

especializaEdo

o modeio tradicional

dos elementos do casal em

de

campos

culturalmente atribuidos ao g6nero masculino ou feminino. Alguns homossexuais consideram a

dicotomia da relagSo em pap6is masculinos e femininos como humilhante e causadora de desistabilidade no relacionamento entre os parceiros associando o facto de ambos pertencerem ao mesmo sexo,

Ett trabctlho fora de casa, dou arlas na Matolo, o meu porceiro esta sempre em caso. E certo que ele 6 qtrcm ctida ntctis rlo cctsct ern relogdo a ntim que estolt setnpre fora mas ele ntio d essa rutlhei, clona rle casa. Todos somos homens! I,{ingudm i mullter pctra dizer clue eu sou o macho

E certo qtrc a mde clele sempre comentott isso dizendo clue quando ele estd em casct dos pctis t,€ sempre uma rulher. O jeito dele de.fazer as coisas, gosta de estor na cozinho e a mtie tombdm testemrmhct isso. Mas qrrctnclo t,olto do lrabalho tantbdm.fago tarefas domdsticcts, lavo a loigct, o melt parceiro tambdm sabe isso Erc o facto cle eu estar a trobalhar e sair de casct sempre clct cctsct.

ncio significct qLte elt d qrrc manclo, nos leyarnos uma vida ao estilo gcry

(Anjos, 33 anos de idade).

Algo acrescenta-se nos modelos culturais de relagdes conjugais na homossexualidade masculina o estilo de vida goy. O 'estilo de vida gay' tem atributos do rnodelo igualit6rio de rela96es

-

sociais e parece romper com a divisio de pap6is de g6nero estereotipados como masculinos e femininos. Para perceber este aspecto toma-se imporlante entender o significado do termo gay'

O estilo de vida gay e urna opgdo em termos de encarar as relagdes sociais e 6 uma actividade performativa que comega pela interiorizagdo dos valores sociais que sao desenvolvidos ao modelo igualit6rio das relaEdes sociais e ao mesmo tempo a negagao do modelo hier6rquico. Nas relagSes sociais entre os gays, seguindo o estilo de ytda goy cria-se um pacto politico e ideol6gico sobre a forma de encarar as relag6es de g6nero para invefier as conotaE6es que

as

relagdes sociais assumem quando estas se situam ao modelo hier6rquico onde existe humilhaqdo de um parceiro e exaltaglo do outro e coloca-las num modelo igualit6rio das relagdes de g6nero'

O estilo cla nossa viclct ndo tem isso cle cpte elt solt homem otL mulher, cacla um cle n6s pocle fazer comiclct, lavar a loiqa, quent tem dinheiro partilha con't otLtro atraves das clespesas rla nossa caso, cacla um faz aEdlo que gosta cle fazer. Se ele gosta cle estar na cozinha ttrcJo bem eu entenclo e se estor cansado ele me diz: cjuda-me querido a preparar a comicla e elt volt sem problema! (Quicos, 20 anos de idade).

,J,4

Os parceiros partilham as actividades domdsticas cluma forma consensual, sem que um fique desconibrt6vei com o facto de desempenhar um papei social consicleraclo rnasculino ou feminino.

Na maior parle dos casos existe um cli6logo para decidil quem vai desempenhar uil)a dependendo das disponibilidades cle cada um,

A partilha

taref.a,

das tarefas clom6sticas estende-se at6

para o prciprio provimento do dinireiro, sendo que quem tiver possibilidacles de pagar as despesas assim faga sem humilhar o outro.

Para o caso da cidade de Maputo onde, duma lbrma geral, pocle-se dizer que a homossexualidade e replimida publicarnente e a entracla do movimento homossexual e de forma rnais

i'rediata, os

progranias de clebates priblicos em tolxo da homossexualiclade criaram novas perspectivas em relagdo as atitudes que valorizam a vida tanto para pessoas que praticam relagoes homo-er6ticas, tanto para as outras pessoas da sociedade. Mas, este aspecto n6o anula o cariicter ambiguo que as relagOes sociais dos homossexuais tdm em torno da

familia. Este facto pennite cliferenciar os

processos sociais e a fonna como a situagdo da homossexualidacle 6 encarada em tomo das Ielag6es dom6sticas e dos pap6is sociais associados aos g6neros masculino e feminino. Assim 6

possivel encontrar'parentes com atitudes conselvadoras' e'parentes com atitudes liberais,.

Os parentes colll atitudes conseradoras descriminam as formas de comportamento dos seus parentes que supostamente n6o conespondem aos valoles sociais da heterossexualidade, o

preconceito e violdncia verbal marcam as suas viclas. Os processos sociais biisicos neste contexto s6o caracterizados por conflitos onde geralmente a ruptura coln os c6digos cla heterossexuali6acle causa danos molais. Este aspecto faz com que a maioria dos homossexuais torne visiveis as atitudes e compofiamentos col11 os quais se iclentificam fora do contexto familiar.

No caso dos parentes coln atitudes liberais a situag6o perante um parente que assume atitudes cotlpofiamentos dif-erentes dos padrdes da heterossexualiclade 6 encarada corn um ,tom

e

cle

sutpresa' acompanhado de coment6rios a respeito das atitudes e gestos 'anormais, que o individuo em causa apresenta. Estes 'parentes liberais' encaram a situagao sem constrangimentos com justificag5o de que na sua familia cada um tem o clireito cle viver a vicla d sua escolha.

A pafiilha das tarefas domdsticas entre uma mde e urn filho gay diante clum sal6o de beleza

15

-!

confronta

o stctttts qtn em relagao aos papdis sociais

associados aos g6neros mascuiino

e

feminino.

Iniciolmente sempre rueu

os pessoos Erc.freqtrentcwcnn o

sultio cle beleza achtn cun estrctnho encontrutr venclo revistas feminina,s e pluneianclo tirnr tnt curso cle cctbeleireiro cidade de Muputo. O .focto cle upresetttctr caracteristicus femininas

filho

no centro cla chegavant cle lhe chantur cle moricas mcts conl o tenlpo tuilo foi rutclcmclo. Eu pessoolnrcnte cottto nttie tlele tive metts ntornentos cle clesconforto cont srrcts utihLdes, mas

agoro percebo qlte trctta-se de ttmo coisa seria por pctrte (Joana, m6e de Quicos, 35 anos de idacle).

clele

A forma de encarar os factos que ocorrem por parle clas pessoas que frequentavam o saldo

de

beleza mostra que existe um processo psicossocial que faz com que as pessoas acomoclem-se on

conflituem com o que v6m diante de um contexto relacional especiflco. Para o caso per-cebe-se que os pap6is sociais n6o podem ser associados ao facto de um individuo ser homem ou mulher,

nem d hierarquia dos generos masculino e feminino. Tanto a m6e como as outras pessoas que fi'equentavam o sal6o de beleza passaram por dois processos de b6sicos de relagdes sociais

-

conflito e acomodagSo.

As razdes desta diferenciagdo das atitudes perante a questfio das formas cle comportamento e atitudes no seio da familianSo devem servistas somente aluzdaclasse social a quepertencem os parentes, relacionam-se tambdm outros aspectos col11o o pr6prio ponto de vista inclividual quanto a quest6o. Desde j6, entende-se que as relaE6es sociais na esfera familiar estabelecem-se

por processos sociais de conflito e acomodaEso para os 'parentes com atitudes conservadoras, e 'liberais', respectivamente. Mas, por vezes essas realidades variam de um contexto social para outro. H6 situagdes em que, o facto de um homossexual apresentar formas cle comporlamento e atitudes que rompem coln os padrdes de comportamento qlle os parentes esperam serem

encaradas sem constrangimentos.

A

existdncia de vari6veis que podem introcluzir variag6es no modelo de relag6es cle g6nero Ieferido a citna, produz assimetrias na relagSo. Em cefios casos o modelo de relaq6es sociais entre os parceiros e hier6rquico e acontece maioritariamente nas relagdes transaccionais em que

16

um dos parceiros assufire um deterrninado papel sociai a troco de bens ou materiais, e isto assume-se como uma estrat6gia de vida.

Por vezes nesses casos corlrpofiamento sexual (activo/passivo) n6o possui significado conelato d submissdo/dominagdo. Por vezes o parceiro que desempenha um papel socialmente estereotipado

como submissdo 6 que det6m o poder econ6mico e como tal, o seu papel sexual n6o denota a sua capacidade de decisdo.

A

curnplicidade entre os parceiros funciona como factor nonnalizador das lelagdes sociais,

e

como tal, a negagSo da diferenciag6o ideol6gica activo/passivo, masculino/feminino funciona como definidor da identidade homossexual.

E imporlante realgar que o modelo hier6rquico caracterizaprincipalmente as l6sbicas, tal como se auto-identificam as mulheres que fazem sexo com mulheres. Entre elas h6 uma forle distingdo de pap6is sociais de masculinidade e de feminilidade construidos atrav6s da heterononnatividade

como se pode ver a parlir do depoirnento de C6ssime.

Eu./ctEo coisas cle horuem, trubalho .fora de casa, elu me considet'a homern delu, ett sou hontem parct elo, lhe protejo. Eltt 6 muis ctfeminacla, ntus qucmclo trutantos cle relagdes sexuctis toclus somt)s o que desejcunos-prozer no sexo! Ndo digo que ntio gosto sentir dedo dela ou ct l{ngucr dela, isso 6 clue eu tctntbint proao.o clela e elct de mim. Eu me cctrtsiclero nto.sculinu ou homent por couso de algtnnos coisa.s clue eu gosto de /azer, nrctri cortes cle cobelos, ntinhas colqas, ccuttisctsl Mos ntio tenho espenna para clizer que Ltnt cliu ycttL engrat,iclor a ninha pctrceiru (Cdssime, 20 anos de idade)

A masculinidade das l6sbicas

6 acornpanhada pelo uso do "manda-mola".

Isto 6 rmt "manclct-molo"! Sefores o ver, d ruais confortin,el paro hontens ndo cld para cr-tlocar muitct coisa compcu'cmdo cotit u quanticlacle das coiscts que podem ser encontrcrclos ntLma bolsa cle unto mulher, ntio fica legal com saict ou vesticlo, eu L$o Ercmclo vou fazer minhas batolhcts ld fora parct ganhcrr um poltco de clinheiro parcL sctir no

final

de senrcma (Cdssime, 20 anos de idade)

O "manada-mola" simboliza poder e mostra que as suas portadoras d que desempenham pap6is sociais estereotipados como sendo masculinos. Como se pode ver do extracto do par6grafo

t7

anterior o "manda-mola" era usado paru guardar dinheiro ganho durante as horas de trabalho fora de casa e para distinguir das cafieiras comuns de homens.

A

maior parle das l6sbicas masculinas trabalham fora de casa, algumas em instituig6es n6o

govelxamentais, outras em postos de venda de bebidas, comida e em centros culturais, ao contr6rio das suas parceiras que est6o na maior parte do dia a exercerem tarefas domdsticas.

A natureza da ocupagdo profissional

eo

nivel de escolaridade das ldsbicas s6o principais factores

que influenciam a forma da organizagdo dos pap6is sociais desempenhados nas conjugalidades

entre as parceiras. O modelo hier6rquico acontece em relacionamentos onde as "l6sbicas masculinas" trabalham em bales como serventes ou caixas. Uma delas aspira ser policia de seguranga profissional em estabelecimentos comercial e

no momento da pesquisa ela

estava

nivel de escolarizagSo

dessas

concor:rendo d uma vaga de emprego para seguranga de bar. O

l6sbicas 6 no m6ximo de 12 classe com aspiragdes de fazer o nivel universit6rio no futuro.

A heteronormatividade como um conjunto de prescrig6es que fundamenta

os processos sociais

de regulagSo e controle, marca at6 aqueles que ndo se relacionam afectivo emocionalmente com

as pessoas do sexo oposto. Algumas concepgdes sobre valores, comportamento, e atitudes relacionadas com a identidade de g6nero que as l6sbicas assumem, s6o baseadas nos principios

da heteronormatividade em que padrdes de bipolarrzaqdo s6o accionados para distinguir

as

identidades de gdnero de cada uma das parceiras.

Existem l6sbicas que consideram que uma relagSo n6o pode criar p6los de identidades de g6nero seguindo a l6gica bin6ria.

Penso que os pessocts sempre olham p{tro os relaqdes entre lLsbicas tentando fazer uma

nim tal sepuraEdo ndo pode

acontecer porque ndo existe isso de algudm teru o papel de homem e o outro de mulher. Existem pessoos que tem caracteristicas ntasctiinas e femininas. Trata-se de um jeito cle ser qlte 6 diferente claquele que d cleterminado pelet sociedode. E certo que alguns homossexuctis tentam se encaixar nesses papdis e comportamentos de homens e de nrulheres, eu acho que isto ntio tent nada haver (Lema, 27 anos de idade).

separaqdo. Pctra

18

As ldsbicas que optam por uma relaqIo que n6o crie pdlos de papdis sosiais trabalham em organizaqdes n6o governamentais onde exsreem diversas actividades incluindo campanhas de edueagdo dos homossexuais membros da tambda. S5o ldsbicas que est6o frequentando o nivel

universitririo.

No centro de sua exist6ncia

eoabitam valores comuns, como

relacionarrento interpessoal, a atengEo e o euidado consigo mesma

B com, a

a

0nfase nn

ouha, a protecgio da

vida entro as duas, avalot'rzaq'ilo da intimidade em si.

\

I

79,

IV. Conclusflo

As identidades de g6nero entre os homossexuais na cidade de Maputo configuram-se a partir de dois modelos nomeadamente o modelo hier6rquico e o modelo igualitfrio de relagdes sociais. Ainda que se reconhega a implicaglo da heteronormatividade em parle dos relacionamento entre homossexuais, os processos de afirmagio das identidades de g6nero

sio

determinados

e

estruturados a partir de l6gicas pr6prias deste grupo social. Nestes tennos, os homossexuais inserem algo novo n6o constituindo uma repetiglo dos padrdes de comportamentos, atitudes e

valores sociais da heterossexualidade. Os individuos reapropriam-se dos valores sociais veiculados pela sociedade dando um outro sentido nas suas prdticas sociais.

A outra parte maioritariamente composta por relacionamentos entre

as mulheres que fazem sexo

com mulheres e entre os homens que fazem sexo transaccional com homens seguem o modelo hier6rquico de relagdes de g6nero similar ao modelo heterossexual. Nas suas relagdes existe uma

rigida divisdo de pap6is sociais ou de g6nero dando-se a possibilidade de atribuir o papel masculino e feminino a cada um dos parceiros.

Entre as l6sbicas a masculinidade 6 caracterizada pelo uso de acess6rios que d6o sentido a sua masculinidade como 6 o caso de calgados e vestes masculinos assim como pelo uso de perfumes que os homens usam. Um dos acess6rios incomuns 6 o "manda-mola"- uma esp6cie de carteira

que serve para guardar dinheiro e distinguir uma ldsbica masculina da feminina. Por6m, este aspecto ndo

6 generalizado porque existem casos que rompem

com o modelo hierdrquico

tazendo com que as parceiras optem por uma relagdo social igualitdria.

A conjugalidade homossexual revela que as identidades de g6nero ndo sdo fixas. Os discursos,

as

atitudes, os compofiamentos e as formas de apresentag6o fisica dos sujeitos mostram que existem homossexuais que repetem as nornas de relacionamento conjugal definidas heteronormativo e

outros que recriam essas norrnas de conjugalidade.

A

conjugalidade sdo processos estrat6gicos ativados

repetigdo e a recriagSo das notmas de

de acordo com as traject6rias

dos

homossexuais e do contexto de interacgdo social no qual eles estSo inseridos. Estudos futuros deverdo pennitir"aprofundar a compreensio do assunto aqui analisado. 20

Refer6ncias bibliogrr{fi cas

Abreu, C. 2009, o'Um Olhar sobre as identidades de g6nero na contemporaneidade", Artes Yisuais e Educaqdo, Vol. 2, No 1, pp. l-12. Disponfvel na internet em:

http://www.desobedientes.net/estudios/seminario

FAV comunicacion.pdf (16106120ll)

Anjos, C. 2000, "Identidade sexuais e identidade de g6nero: subversdes

e perman6ncias",

Sociologias, Vol. 2, No.4, pp. 274-305. Disponivel na internet em: http //www. scielo. br/p dfl socI n4 I socn4a 1 l :

.p

df

(1

7 I 0 6 I 20

I

I)

Bagnol, B. 1996. Diagndstico da orientaEdo sental em Maputo e Nampula. Maputo: Embaixada do Reino dos Paises Baixos

Bauer, M.

& Aarts, B. (2002). A construgio do Corpus: um principio para a colecta

de dados

qualitativos. In: Bauer, M; Gaskell, G. (Orgs.) Pesquisa qualitativa com texto, imagem e som: um manual pr6tico. Petr6polis: Vozes

Bourdieu, P. 1999. A dominaqdo ruasculina.Rio de Janeiro: Bertrand.

Caetano, M. 2001 . Curriculos praticodos e a constrtrydo da lteteronormatividade. Disponivel na

internet em: (http://www.anped.org.brlreunioes l32ra/arqlulos/trabalhos/GT12-5190--Int.pdf)

Carneiro, T. 2008. Conjugalidades contempordneas: um estudo sobre os mtiltiplos arcanjos conjugais do actualidade. Pontifrcia Universidade Cat6lica do Rio de Janeiro. Disponivel na internet em: http://www.fundamentalpsychopathology.orglpesquisas/pesqferes-cameiro.pdf

Castells, M. 2000. O Pader da ldentidade. V. ed. Rio de Janeiro: Paz

(1710612011)

eTena 2t

Eckefi, P. 2000. Linguistic Variation as social practice. Oxford: Blackwell

Ennes,

M.

20A7,"Perseguindo a

identid

ade".

Scientia Plena,Vol. 3, No. 5, pp. 197 -202.

Disponivel na intemet em: http ://www. scientiaplena. org.brlsp_v3n5p

. n

Eufr6sio, s

A & Bittar, L.

1

97 2 02.pdf

(

16I

06 I 20

I

l)

2008. Iclentidade e gdnero em esperangu

- pb: abordagem histirico-

ocial das relaqdes clo mercatlo de trabalho eru dmbito local. Disponivel na intemet

em:

http://eduep.uepb.edu.br/alpharabios-UEPB - EDIIEP

Fry, P. 1982. "Da hierarquia d igualdade: a construglo hist6rica da homossexualidade no Brasil" Para Ingl€s Ver Iclenticlacle e Polftica na uiltura Brasileira. Rio de Janeiro: Iorge Zahar, pp. 87I 15.

Heilbom, M. 1992. Vida a clois: conjugalidade igtrulitdria e identidacle senral. Rio de Janeiro: Museu Nacional-UERJ

Kaufmann, J. 1995. Sociologie clu couple. Paris: PUF.

Lacombe, A.2OO7, "De entendidas e sapatonas: socializagdes l6sbicas e masculinidades em um bar do Rio de Janeiro", Ccrclentos Pagt, No. 28, pp.207-225. Disponivel na intemet em: http ://www. scielo.brlp dfl cpa/n2& I 1 0.pdf

Meque, E. 2009. "Mat'tcts com palt"; Re-lenclo as identidades sexuais na cidade de Mctputo. Maputo: Universidade Eduardo Mondlane

Miranda, P. 2008, "A constrLtqiio socictl das identiclades de gdnero nas crianpas: um estudo intensitto em Yisert", Munclos Sociais, No. 136, pp.

http://www. aps.ptlvicongresso/pdfs/

1

l-I2. Disponivel

na intemet em:

36.pdf (17 I 06 I 201 1)

22

Moreira,

N. 2005.

Conjugalidade Homossexual masculina

-

dindmicas de relacionamento.

Lisboa: IV Congresso Porlugu6s de Sociologia

Paula, P. 2000. ooldentidade Homossexual: Questdo de G6nero?" Revista DisciAncia e Pesquisa,

N'2, pp. 1-8. Disponivel na intemet em: .pdf (171A6120t1)

http://www.assis.unesp.br/revistadiscenciapesquisa/docslPaulaPSR-2

*

Pinto, J. 1991. "Consideragdes Sobre a Produgdo Social da Identidades", ftevlsta Critica de Ci€ncias Sociais,No. 32, pP. 217 -231.

Scott, J. 1998.

Roscoe,

"A Invisibilidade

M. & Murray

Homossexualities".

da Experi6ncia", Projecto

Hist6ria,No.16, pp.297-325.

(eds.). 1998. "Diversity and Identity

Boys

Wives and

Famales

-

The Challenge of African

Husbands: studies

in

Africrtn

Homos s extrulities, pp. 267 -27 8.

;,

Sell, M. 2007. Identidacles cle gbnero emergentes na fala

- em - interacqdo

na negociaqdo da

esterilizagdo. S5o Leopoldo.

Silva, D. et al. 2010. Estudo sobre vulnerabilidade de infecgso pelo HIV entre homens que fazem sexo com homens na cidade de Maputo. Maputo: Lambda

Soares,

L. 2008. Homoerotismo

e Homossexrtalismo,

a historicidade de um conceito. Disponivel

na internet em:

http://www. artciencia.c om (l

Standforl,

T. &

Dodge,

5I

06

120

1

0)

B. 2009. ooHomosexual and bisexual

labels: the need

for

clear

conceptualization, operationalisations and appropriate methodological designs", From Social Silence to Social Science

-

Same-Sex, Seruality and HIV-AIDS in South Africa, pp. 51-58

23

-t

7

No 35, pp. 23(Jma categoria iltrl r]e andlise.Ed'ucar em Revista, Heteroginero: 2009' T. Swain, 36. Brasil: Sociedade do Zootesnia'

Vance,C.lgg5.i6Aantropologiaredescobreasexualidade:umcoment6riote6rico,,'Phisis. 5' No' 1' pp' 7-32' Revista cle Safide Colectiva'Vol'

'*

.

weeks, J. 1999.

o'o cOrpo e a Sexualidade"'

ft:

Louro Garcia Lopes (org')'

o corpo

educado'

Belo Horizonte: Aut0ntica' PP 35-82'

I

24

Lihat lebih banyak...

Comentarios

Copyright © 2017 DATOSPDF Inc.