RELATORIO FINAL DESTERRO HC 0071 2009 IPBASTOS

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Descripción

A CIÊNCIA, A CLÍNICA E A ARTE DA SÍFILIS NO HOSPITAL DO DESTERRO (1897-1955)

HC/0071/2009

RELATÓRIO FINAL 2010-2013

Investigadora Responsável: Cristiana Lage David Bastos Instituição de Acolhimento: Instituto de Ciências Sociais, Universidade de Lisboa

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Índice

1. Actividades - três vertentes científicas 1.1. Colecção, património, exposição: descrição dos trabalhos por ano de execução. 1.1.1. Antecendentes ..............................................................4 1.1.2. 2010 - Diagnóstico, restauro, organização………..... 5 1.1.3. 2011 - Exposição e catálogo …. ………………...…..7 1.1.4 2012 - Expansão da pesquisa e difusão …........…….12 1.1.5 2013- Finalização ………...............………………….16

1.2. História da dermatovenerologia: Portugal e o contexto internacional 1.2.1.Dermatovenereologia : memorialismo com revisões...20 1.2.2. Profilaxia e higiene... ...................................................23

1.3. O contexto social da sífilis 1.3.1. O estudo da clínica.........................................................25 1.3.2. O sexo e a cidade............................................................27

2. Desvios e ajustamentos ao projecto inicial 2.1. Substituição de tarefas .......................................................30 2.2. Mudanças na equipa ..........................................................30 2.3. Mudanças de calendário de execução 2.3.1 Missões .................................................................31 2.3.2. Consultores...........................................................31 2.4. Alterações no número de outputs 2.4.1. Teses ......................................................................31

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2.4.2. Livros......................................................................32 2.4.3. Artigos e capítulos..................................................32 2.4.4. Comunicações.........................................................33

3. Lista de resultados 3.1. Exposição ...............................................................................34 3.2. Missões....................................................................................34 3.3.Organização de Conferências...................................................35 3.4. Consultorias.............................................................................36 3.5. Publicações..............................................................................37 3.6. Comunicações........................................................................ 39 3.7. Website.....................................................................................40

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1. Colecção, património, exposição: descrição dos trabalhos por ano de execução. 1.1. ANTECEDENTES Tal como enunciado na candidatura HC/0071/2009 e nos relatórios parciais apresentados à FCT em 2011, 2012 e 2013, a vertente I deste projecto -- “colecção e património” -- pretendeu prolongar, aprofundar e sistematizar os esforços iniciados pelo médico dermatologista João Carlos Rodrigues (1951-2009) no sentido de conservar, musealizar e divulgar o espólio do Hospital do Desterro. Este médico, que já se tinha dedicado a investigar e promover a história da dermatovenerologia em Portugal, escrevendo artigos e mantendo nas instalações do Desterro um pequeno museu de valor científico, clínico e artístico (Museu Sá Penella), tratou de salvaguardar este património para além do encerramento do hospital em 2007. As peças foram transferidas para as instalações do Hospital de Santo António dos Capuchos e aí se conservaram em segurança graças ao apoio da administração do Centro Hospitalar de Lisboa Central. Realce-se o papel da dra. Célia Pilão, administradora e promotora da componente patrimonial, do dr. Luiz Damas Mora, jubilado e empenhado em investigações de história da medicina e património, do dedicado staff do hospital e do grupo informal de “Voluntários de Património” que reune às quartas feiras e garante a abertura da colecção ao público interessado em património de saúde e ciência. Foi em interacção com o grupo de Voluntários de Património que iniciámos os nossos trabalhos e preparámos a candidatura, durante a qual apresentámos publicamente resultados dos estudos preparatórios de avaliação do espólio e de estudos sobre as origens e usos da arte da ceroplastia: Sandra Tacão com "Inventariação da Colecção Sá Penella" (Colóquios do Património - 3º encontro - Figuras e Factos da Dermatovenereologia do Hospital do Desterro - em Homenagem a João Carlos Rodrigues (1951 - 2009), Hospital de São José, 1 Julho 2009); Cristiana Bastos com “A Arte da Ceroplastia: da tradição votiva à representação anatómica” (idem); e Cristiana Bastos e demais membros da equipa, com "A Ceroplastia na História da Medicina” no I 4

Encontro Nacional de História da Ciência (Centro Cultural de Macau, Lisboa, 21-22 Julho 2009). Os resultados de investigação deste projecto vieram a ser apresentados nas edições seguintes deste novo e importante forum de historiadores da ciência em Portugal.

1.2. 2010

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DIAGNÓSTICO,

CLASSIFICAÇÃO

E

LIMPEZA,

ORGANIZAÇÃO

IDENTIFICAÇÃO, DA

EXPOSIÇÃO

RESTAURO, PARA

AS

PRIMEIRAS VISITAS PÚBLICAS; DIVULGAÇÃO DE RESULTADOS Com a entrada em funções do bolseiro de investigação, em Junho de 2010, foi possível proceder a um trabalho metódico de avaliação, identificação, classificação e organização do espólio, de conservação, limpeza e organização de objectos, e de preparação da exposição prevista na candidatura. O candidato seleccionado, António Perestrelo, especialista em património, contou com o apoio de outros elementos da equipa especificamente associados a essas tarefas (Célia Pilão, Sandra Tacão e Ana Delicado) e com a supervisão da consultora Marta Lourenço e da IP Cristiana Bastos. Os trabalhos consistiram no estudo e avaliação individual das peças, com diagnóstico do estado de conservação dos materiais e execução das medidas necessárias para a sua preservação. Os procedimentos foram acompanhados da elaboração de fichas patrimoniais e respectivo carregamento no programa informático InArte, entretanto adquirido no âmbito do projecto. Para boa surpresa, as peças dispensaram o protocolar expurgo previsto na candidatura e os recursos detinados à bolha de anoxia foram, após autorização da FCT, transferidos para o restauro de peças quebradas ou danificadas. Não tendo sido identificado qualquer artista ceroplástico em Portugal – e, no decurso do projecto, viemos a constatar ser essa actividade raríssima nos dias de hoje, restando apenas alguns artistas na Suíça e em poucos mais lugares – foi contactada para o efeito uma qualificada especialista em restauro (Conceição Ribeiro) que mostrou disponibilidade para estudar as técnicas de ceroplastia e usá-las no restauro de algumas peças danificadas. O seu trabalho envolveu o desenvolvimento de uma técnica nova e traduziu-se em excelentes resultados. Da inovação assim criada a artista dá conta no capítulo “Conservação e restauro de catorze 5

ceras dermatológicas pertencentes à colecção Desterro-Capuchos”, do livro Clínica, Arte e Sociedade (V. abaixo)

Graças ao competente desenvolvimento de planos de musealização pelo bolseiro Antonio Perestrelo, foi possível disponibilizar a colecção a visitas desde o primeiro ano de execução do projecto. Assim, a colecção foi gradualmente sujeita a visitas por grupos diferenciados, como os de estudantes da Faculdade Ciências Médicas da UNL. Estas visitas foram guiadas pela investigadora do projecto Dra. Célia Pilão, com o apoio do bolseiro de investigação, mestre Antonio Perestrelo, da directora de dermatologia do Hospital dos Capuchos, dra. Margarida Apetato, e eventualmente com a participação do Dr Luiz Damas Mora.

Visitas de estudantes à colecção – foto A Perestrelo

Os estudos prosseguidos individual e colectivamente foram apresentados à comunidade científica em diversas situações: num seminário de património hospitalar da Faculdade de Arquitectura, Sandra Tacão apresentou um computo geral do espólio, "Arte e Medicina - Representação do Corpo Humano na Colecção Ceroplástica do Museu Sá Penella." (Seminário Património Hospitalar: Que Futuro? Faculdade de Arquitectura, Universidade Técnica de Lisboa, 2- 3 Dezembro, 2010), Antonio Perestrelo ilustrou-o com o estudo de caso "Nevus Verrucoso linear - um caso clínico da colecção de moldagens do Hospital do Desterro" (ou: De médico, de arquitecto e de louco todos temos um pouco)” (idem), que permitiu demonstrar as articulações de arte, clínica e ciência, e Celia Pilão integrou este patrimonio no conjunto mais amplo de património de 6

saúde na colina de Santana, com "Os Hospitais da colina de Sant´Ana, uma rota urbana" (idem) No II Encontro Nacional de História da Ciência (ICS, Lisboa, 27-28 Julho 2010), Sandra Tacão e Célia Pilao apresentaram e analisaram o material de educação profilática do espólio do Desterro e a colecção de ceras como apoio ao ensino da dermatologia: "Espólio ceroplástico de suporte ao ensino de médicos no tratamento de patologias venéreas" e "Material gráfico de suporte nas campanhas de prevenção de doenças venéreas” ambos integrados numa dupla comunicação com o título "Colecção de Dermatologia do Hospital do Desterro. Instrumentos de ensino para a prevenção e tratamento de doenças venéreas (1900-1949)".

1.3. 2011 - CONSOLIDAÇÃO DA EXPOSIÇÃO, APROFUNDAMENTO DO ESTUDO DA ARTE CEROPLÁSTICA, CONSULTA A ESPECIALISTAS, CONTACTOS COM COLECÇÕES INTERNACIONAIS, EXPANSÃO DA DIVULGAÇÃO DO ESPÓLIO, PUBLICAÇÃO DO CATÁLOGO. No ano de 2011 a exposição foi objecto de diversos aperfeiçoamentos materiais; a obtenção de novas vitrinas e outros equipamentos expositivos provenientes dos Museus da Politécnica (Universidade de Lisboa) permitiu reorganizar o ordenamento dos objectos e em particular das ceras anatómicas – e após prolongado exame das várias possibilidades optámos por manter o ordenamento por critérios somáticos (vitrinas de cabeça, de tronco, de membros, de genitais, etc.), ajustada a uma colecção de poucas centenas de peças e preferível à arrumação por patologias seguida pelas colecções de milhares de peças, geradora também de algumas dificuldades de classificação. Os nossos consultores foram unânimes em apoiar a escolha da arrumação somática sobre a de patologias/etiologias. As peças foram legendadas com várias camadas de informação organizadas num sistema de fácil consulta pelos visitantes não especialistas. No processos participaram os diferentes membros da equipa, com o apoio dos consultores Marta Lourenço e José Prates. Para além do trabalho directo com as peças, o bolseiro António Perestrelo procedeu à informatização das fichas e ao seu carregamento no programa InArte, e ainda à digitalização dos livros de consulta de Thomaz de Mello 7

Breyner e outros manuscritos, graças à aquisição, no âmbito do porjecto, de um scanner de mesa com eixo – permitindo a digitalização de grandes superfícies sem tocar no documento.

Foram realizadas três missões de investigação: -Ao Porto, integrada pela IP e pelo bolseiro, para visita ao Museu Maximiliano Lemos e discussão com a sua Directora, Dra Amélia Rincon Ferraz, sobre vários aspectos da musealização de espólios de medicina e de moldagens de cera em particular. -Ao Porto, integrada pelos mesmos, para entrevista ao Dr . Aureliano da Fonseca, nonagenário e portador de uma densa história oral sobre os serviços de dermatologia no desterro e Capuchos ao tempo de Sá Penella. - A Paris, integrada pelos mesmos, com o principal objectivo de visitar as colecções de história da saúde e em pormenor a famosa colecção de Jules Baretta no Hospital de St Louis.

Tivemos o privilégio de discutir com as curadoras da colecção múltiplos

aspectos sobre a conservação das peças no médio e longo prazo, sobre as condições de temperatura e luz, sobre o acesso de públicos diferenciados, sobre os modelos de catálogo e outras formas de difusão. Interessou-nos igualmente estudar semelhanças plásticas entre as peças parisienses e as do Desterro, com vista a encontrar possíveis filiações artísticas que ajudem a ler e interpretar o conjunto do Desterro, de autor ainda não identificado. O exame comparado mostrou que há pouca semelhança plástica entre o estilo do anónimo que criou as peças do Desterro e os estilos seguidos pelos ceroplastas franceses que assinaram as peças de St Louis, bem como as do Museu de Veterinária e dos diversos museus de saúde visitados em Paris e arredores. Igualmente discutimos os prós-e-contras da disposição por patologias, seguida em St Louis. Pudemos ainda consultar o acervo de catálogos existente no museu, tendo-nos inspirado para a produção de uma publicação própria. Foi-nos doado um exemplar da história da dermatologia francesa, preparado para um congresso de dermatologia e subsidiado por uma marca de produtos dermatológicos, que muito nos impressionou e inspirou.

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Colecção St Louis, Paris, impossível de fotografar senão enquanto fundo de recordação

Ainda no âmbito da visita a Paris visitámos todos os pólos do complexo de museus da saúde, dialogando com os seus directores e curadores sobre os modelos experimentados para divulgar o património de saúde. Acreditamos que o modelo francês, com várias colecções em rede, abertura diferenciada em dias específicos, e forte componente virtual, pode constituir um bom modelo para uma futura integração desta colecção num museu de medicina em rede na cidade de Lisboa.

Em meados de 2011 verificaram-se os nefastos efeitos da intervenção de instituições financeiras nas contas públicas de Portugal e muitos foram os sectores afectados pelas restrições em curso. A execução deste projecto saiu da normalidade e equacionamos modos de contornar as dificuldades levantadas pela impossibilidade de executar despesas – missões, compra de serviços, equipamento, etc. Inspirados no caso francês, optámos por negociar a produção do nosso livro /catálogo (que fundimos num só produto) com patrocinadores da indústria privada. Após algumas diligências, obtivemos o generoso apoio da APIFARMA, que patrocinou a edição do livro, e o distribuiu por públicos qualificados. O volume foi distribuído aos membros da secção de História da Dermatologia presentes no Congresso Europeu de Dermatologia, ocorrido em Lisboa, Outubro de 2011, e à Sociedade Portuguesa de Dermatologia, reunida em Fátima, em Novembro de 2011 e, no ano seguinte, reunida em Tróia. Foi ainda distribuído aos participantes (profissionais de saúde, educadores, cientistas sociais, estudantes) no workshop de saúde pública organizado conjuntamente pela Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo e pelo ISCTE-IUL. 9

O lançamento oficial do livro teve lugar na Sociedade de Geografia de Lisboa, onde foi apresentado pela Doutora Madalena Esperança Pina, da Faculdade de iências Médicas da UNL, em Outubro de 2011. Aproveitamos a redacção deste relatório para agradecer postumamente o apoio e entusiasmo com o nosso trabalho por parte desta jovem colega, especialista em história de arte e medicina, precocemente falecida em 2013.

A fusão, num só volume, de um catálogo da colecção e de um livro de artigos sobre as outras componentes do projecto (história da clínica e da vida social do bairro), a procura de patrocinador externo, o ajustamento do timing para conjugar agendas, etc., foram respostas adaptativas às dificuldades de execução geradas pela

crise financeira e

permitiram-nos manter actividade alterando a calendarização e o formato de alguns dos outputs previstos na candidatura. A difusão precoce dos resultados não se mostrou perniciosa e teve contrapartidas positivas, uma vez que pudémos usar o livro como ponto de referência para mais pesquisas noutras colecções. Para prepararmos um livro desta natureza envolvemos investigadores externos à equipa, que nos ajudaram produzindo os capítulos sobre a histórias dos hospitais em Lisboa (Antonio Matoso), a história do hospital do Desterro (Luiz Damas Mora), a história da dermatologia portuguesa (compilado a partir dos escritos de João Carlos Rodrigues, com o generoso apoio da sua família), e o restauro das peças (Conceição Ribeiro). De particular destaque foi o generosíssimo apoio da fotógrafa Rosa Reis, que nos cedeu os seus originais. Os restantes capítulos dos trabalhos combinados os diversos membros da 10

equipa, nesta e nas outras vertentes do projecto.

Os investigadores da equipa

contribuiram para o livro na área de património com: Ana Delicado, "Museus de Medicina em Portugal"; Cristiana Bastos, “Da anatomia à dermatologia: o corpo moldado em cera”; Antonio Perestrelo de Matos, "Ceroplastia e Dermatologia em Portugal: Sá Penella e Caeiro Carrasco", e "A Intervenção Museológica na Colecção de Moldagens". Graças ao trabalho conjunto, conseguimos identificar a utilização de algumas das peças para suporte de fotografias ilustrativas de artigos científicos (v. Portfolio II, Clínica, Arte e Sociedade). Conseguimos traçar a patologia de referência e as condições de execução de muitas das peças; graças ao estudo minucioso de alguns livros de registos existentes no espólio e uma leitura sistemática das contas dos hospitais no Arquivo Nacional da Torre do Tombo conseguimos datar a execução das peças; não temos ainda, todavia, qualquer indicação concreta sobre o artista ceroplasta que as executou. O mistério persiste. Levantámos inúmeras hipóteses e seguimos as pistas que traçamos no capítulo 6 do livro. Descartámos entretanto a hipótese de partida, relativa ao uso das moldagens para ensino da dermatologia. O estudo do seu uso e as entrevistas feitas com médicos, estudantes e outro pessoal hospitalar desse período (1935-4) em diante indicam que estas peças eram desconhecidas da maioria dos estudantes e não foram rotinizadas como auxiliares de ensino. Outras hipóteses foram exploradas no capítulo referido e em comunicações científicas subsequentes, servindo a apresentação de resultados de investigação como multiplicador de possibilidades de pesquisa.

No ano de 2011 rotinizaram-se as visitas à colecção e deslocaram-se às instalações dos Capuchos vários grupos notáveis de investigadores, agentes de património, especialistas

Visitas especiais à colecção – fotos A Perestrelo

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de dermatologia, estudantes de medicina, responsáveis por órgãos universitários e políticos, e, aproveitando a reunião de milhares de dermatologistas europeus em Lisboa em Outubro de 2011, a colecção foi aberta a duas visitas especiais – um encontro da Associação Europeia de História da Dermatologia e uma visita livre como opção complementar do congresso.

Em Novembro de 2011, apesar dos constrangimentos de execução financeira, a IP participou na reunião anual da American Anthropological Association em Montreal (Canadá) onde tinha assumido o compromisso de apresentar, na sessão de Antropologia da Ciência, Tecnologia e Medicina Traces and Legacies of the Self: Techniques of Identification & Anonymization (Org Linda F. Hogle and Lynn M. Morgan), resultados de pesquisa cruzando esta componente e os estudos de circulação de conhecimento. Tratou-se da comunicação “Wax, Skin and Name: Traces of the Individual Behind the Moulage”, escolhida para integrar um volume temático de uma resvita de estudos de ciência – que todavia ainda não se concretizou.

1.4. 2012: RETOMA DA INVESTIGAÇÃO, DIFUSÃO INTERNACIONAL DOS RESULTADOS, EXPLORAÇÃO DE PISTAS INTERNACIONAIS SOBRE A ORIGEM DO(S) ARTISTA(S) CEROPLASTA(S), IDENTIFICAÇÃO DE NOVAS FONTES No ano de 2012 a exposição estava plenamente consolidada, sofrendo apenas pequenos ajustes e melhorias. Recebeu visitas rotineiras de estudantes de medicina e visitas a pedido, quase sempre guiadas pela Dra Celia Pilão. Às quartas feiras o espaço é regularmente aberto pelo grupo de voluntários e recebe ocasionais visitas de pesquisadores interessados em tópicos da colecção. A inesperada identificação, em armários do antigo hospital do Desterro, de uma conjunto de várias centenas de fichas clínicas da consulta de moléstias venéreas de Sá Penella (restritos à consulta de mulheres) permitiu expandir as possibilidades de 12

identificação dos pacientes e dos momentos em que as patologias foram conservadas para a posteridade em moldes de cera. Essas fichas mostraram-se de um enorme potencial para o estudo das terapêuticas usadas nos anos 1930-40-50, mas precisariam de um estudo mais prolongado e impossível de executar nesta fase do projecto.

Trabalhos de identificação: investigadores e voluntários cruzando fontes para identidicação dp ano de execução das moldagens e Thomas Schnalke com Antonio Perestrelo pocurando traços escondidos do autor– fotos C Bastos

O nome do/s/as artista/s executante/s das moldagens de cera do Desterro permanece desconhecido. Foram efectuados diversos contactos com historiadores da época (193545), sobretudo os que se dedicaram a estudar refugiados em Lisboa (Irene Pimentel, Margarida M Ramalho), com artistas e familiares de artistas (viúva de Hein Semke), especialistas em história de arte (José-Augusto França) e com membros da comunidade germânica – na senda da hipótese de trabalho de se tratar de um refugiado alemão/austríaco -- mas ainda não conseguimos chegar à identificação do misterioso artista. O facto é tanto mais bizarro quanto esta forma de arte é “de autor”, sendo proverbial o modo cioso como os autores guardavam segredo da sua técnica, e estando a quase totalidade das peças das colecções europeias assinadas.

O estado de excepção na execução financeira levou a equipa a reduzir as submissões a congressos internacionais e optar por conferencias nacionais ou internacionais em Portugal, ou ainda apresentar os trabalhos em palestras e seminários a convite. Nesta vertente, apresentamos em 2012 os seguintes trabalhos: Cristiana Bastos, “Objetos, arquivos e história social da saúde - a partir do espólio do hospital do Desterro”

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(Palestra para os pesquisadores do MAST – Museu de Astronomia e Ciências Afins, Rio de Janeiro, 28 Fevereiro de 2012); com Ana Delicado, “O corpo medicalizado nos museus” (Coloquio Um Olhar sobre a Cultura Visual da Medicina em Portugal, FCSH – UNL Nov 19 2012); com Ana Delicado e Antonio Perestrelo “Corpos, lesões e representações: a propósito das moldagens ceroplásticas do Desterro” (idem). A retoma de actividades permitiu também que executássemos algumas das missões de investigação previstas no projecto, embora com alguns ajustes na composição dos membros da equipa participantes. A IP Cristiana Bastos e o investigador António Perestrelo (que reingressou nessa categoria com a devida autorização da FCT) fizeram a missão a Bolonha/Florença, que se mostrou a mais importante para contextualizar a arte da ceroplastia na anatomia normal e patológica. Fora visitados com minúcia os museus Luigi Cattaneo (Bolonha); Poggi (Bolonha); Zoologia e Antropologia (Bolonha); Veterinaria (Ozzoro d’ Emilia); La Specola (Florença); e Anatomia Patologica (Careggi), entre outros contendo formas

Colecção Luigi Cataneo, Bolonha

Museu Veterinário, Orozzo

(foto C Bastos)

(foto C Bastos)

plásticas de representação anatómica. Embora em quase todos tenhamos tido importantes reuniões com curadores e pesquisadores (Alessandro Ruggeri e Nicolo 14

Nicolai para o Museu Luigi Cattaneo, com visita ao Poggi, e Luciana Mandrioli para o majestoso museu de Veterinaria de Ozzoro d’Emilia), foi em Careggi que tivemos a visita verdadeiramente crucial, uma vez que ali se conservam as icónicas peças de anatomia patológica italiana da autoria de Calamai, Tortori e Ricci. Curiosamente, são

Museu de Anatomia Patologica, Careggi (Com Rafaela Santi) – foto C Bastos

também estas que apresentam mais similitudes plásticas com as do Desterro, indicando que o “nosso” ceroplasta poderá ter conhecido este importante conjunto. Em reunião com as dras. Rafaela Santi e Gabriela Nezzi foi levantada essa hispótese de trabalho, que nos guiará ainda para futuras pesquisas. Com quase todos estes conservadores, investigadores e autores trocámos publicações, tendo o nosso livro sido muito apreciado.

A missão em Itália foi prolongada em Napoles, onde a IP se deslocou para apresentar uma comunicação sobre outra vertente deste projecto; aí foi entrevistado o Prof. Vicenzo Esposito, da Museo Anatomico, e visitados os espólios de ceroplastia daquela cidade, bem como os exemplares que envolvem um misto de espécimes e resinas (como os que existem nas caves de San Severo), e ainda a notável colecção existente no Ospedale dei Incurabili. Em vão foi procurada a visualização da “Scandaloza”, embora ao fim de muitas diligâncias tenha sido identificada a sua localização (na capela dos Bianchi della Giustiza, actualmente inacessível). Ficou porém claro que a figura, ao

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contrário do que é sugerido nas fontes que a associam predominantemente à sífilis, se apresenta como uma evocação explícita da peste bubónica.

Museu Anatomico, Napoles (Com Vincenzo Esposito e um original de Paolo Mascagni) foto C Bastos

Os estudos efectuados em Nápoles permitiram desenvolver a análise apresentada no artigo “Of objects, networks, politics and poetry”.

1.5. 2013 - ENCERRAMENTO Tendo sido concedido pela FCT um alargamento do prazo de execução, permitimo-nos em 2013 explorar ainda mais as pistas relativas à autoria das moldagens de cera, rematar algumas das linhas ainda abertas, preparar textos para publicação, divulgar os resultados em situações mais amplas, e executar as missões em falta com destino Londres e Viena. A missão a Londres foi executada pela investigadora Ana Delicado, que visitou quase todas as colecções de medicina e analisou conjuntamente com o curador da colecção de Joseph Towne no Museu Gordon, William Edwards, os aspectos relevantes para o uso 16

da coleçcção como isntrumento educativo. Algumas das colecções não visitadas foram exploradas pela IP numa visita posterior a Londres. Os investigadores Ana Delicado, Antonio Perestrelo e Cristiana Bastos intergaram a missão a Viena, onde se localizam duas das mais importantes colecções de ceroplastia no mundo – a do Josephinum, produzida pelo atelier de Clemente Susini, responsável pelas peças anatómicas existentes no La Specola (Florença) e Poggi (Bolonha); e a do Narrentur, maioritariamente produzida por Henning, que desenvolveu uma técnica de resina-cera que minimiza o incómodo no portador da lesão durante o processo de moldagem.

Narrenturn, Viena - foto C Bastos

Museu do Crime, Viena – foto C Bastos

Embora as peças destas colecções não apresentem uma similitude plástica à das moldagens do Desterro, as entrevistas com os respectivos curadores e directores -Eduard Winter e Anatole para Narrentur, Ruth Koblizek para o Josephinum -- e ajudam-nos a conceber os termos e limites da extensão de colecções especiais, como a do Desterro, em que muitas peças são visualmente chocantes e devem ser apresentadas com mediação. A visita a Viena permitiu ainda explorar os inúmeros recursos de anatomia patológia existentes nesta cidade, bem como a da aplicação de moldagens de cera à criminologia.

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Esta componente do projecto culminou com a visita do especialista em moldagens dermatológicas Thomas Schnalke, director do museu de medicina (Charite) de Berlim e autor a obra de referência Diseases in Wax, que examinou cuidadosamente a colecção e no seu espaço proferiu uma palestra com a participação de um largo e interessado público de diversas especialidades: história da ciência, saúde, história, antropologia e artes visuais.

Visita, discussão e plaestra de Thomas Schnalke na Colecção do Desterro, Salão Nobre do Hospital Capuchos, Julho 2013 – foto C Bastos

Nesta última fase foram escritos, submetidos e aceites para publicação os seguintes artigos: Delicado, A. 2014. The past and present of medical museums in Portugal. Museum History Journal 7(1) (ISSN 1936-9816) http://www.lcoastpress.com/journal.php?id=6 Bastos, C , A Delicado, A P Matos. 2013. Arte, clínica, ciência e património: uma colecção de moldagens de um antigo hospital de dermatologia e sífilis em Lisboa. Dossier Património de Saúde. Amazônica – Revista de Antropologia 5(2) (ISSN 21760675) http://www.periodicos.ufpa.br/index.php/amazonica Delicado, A e C Bastos (2013). O corpo medicalizado nos museus. In A F Cascais, org., Um olhar sobre a história da cultura visual da medicina em Portugal (Lisboa: FCSH)

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Bastos, C. 2013. Of Objects, Networks, Politics and Poetry: the Royal Academy of Sciences in Lisbon in the context of the Enlightenment. In A Delicado, ed. Associations and other groups in science: an historical and contemporary perspective. Newcastle: Cambridge Scholars Publishing, pp. 10-29

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1.2. História da dermatovenereologia: Portugal, o contexto internacional e circulação de conhecimento

Nesta vertente de execução do projecto damos conta das áreas definidas na candidatura enquanto “história da dermatologia em Portugal” e “circulação de conhecimento”, uma vez que o desenvolvimento da investigação mostrou os benefícios de uma análise conjugada.

1.2.1. DERMATOVENEROLOGIA PORTUGUESA: MEMORIALISMO E REVISÕES Graças ao trabalho já efectuado pelo Dr. João Carlos Rodrigues, compilámos uma narrativa mestra da dermatovenereologia em Portugal – que no essencial dos factos se mantém, contendo embora alguns pormenores carentes de revisão crítica. Completámola e revimos alguns dos seus pontos, publicando uma cronologia que poderá servir de base a futuras investigações e novas interpretações. Alguns aspectos ainda pouco claros sobre as tensões dermatologistas/venereologistas e suas consequências na organização dos serviços, nas opções terapêuticas e nas prioridades tomadas poderão ainda vir a ser explorados em futuros trabalhos no âmbito dos estudos sociais da ciência e medicina. A compilação póstuma dos escritos do Dr João Carlos Rodrigues, completada com investigação oral e com a colaboração de médicos do antigo Hospital do Desterro (drs. José Prates, Fernando Canella da Silva e Carlos de Sousa), foi publicada com o título “A Dermatologia em Portugal: factos e figuras” enquanto capítulo 3 de Clínica, Arte e Sociedade. Mantivemos por ora – para facilitar o diálogo com os profissionais da dermatovenereologia envolvidos na história da sua especialidade -- a periodização centrada em figuras-chave. Tendo definido o período deste projecto em torno dos mandatos de Thomaz de Melo Breyner (1897-1933) e de Luiz de Sá Penella (193320

1955) no Desterro, concentramo-nos nestas duas figuras e complementámo-las com as de Augusto Monjardino (sob investigação pelo Dr Luiz Damas Mora), Juvenal Esteves e Manuel Caeiro Carrasco – que deixaram legados muito distintos entre si. Thomaz de Melo Breyner deixou um largo volume de escritos que combinam reportagem social, vida familiar, intervenções clínicas e actividades científicas. As nossas primeiras aproximações à sua obra, combinando as fontes usuais com o estudo de anotações clínicas do espólio do desterro, constam da comunicação da IP “Do mercúrio ao arsénico: experiências clínicas no Desterro, c.1910" apresentada ao II Encontro Nacional de História da Ciência e da Tecnologia (ICS – 27-28 Julho 2010), ampliada e aprofundada para o artigo “Thomaz de Melo Breyner e a clínica da sífilis no Desterro”, capítulo 11 de

Clínica, Arte e Sociedade.

Mais resultados foram

apresentados pela IP nas comunicações "Scars, sex, and salvarsan: the ethnohistory of a syphilis clinic." (Pannel Ecologies of sex, trade and illness. SIEF 2011- People Make Places, Lisboa, FCSH UNL, April 20, 2011); “Para visualizar a sífilis: microscópios, modelos e redes sociais” ( 1º Encontro Luso-Brasileiro de Medicina Tropical, IHMT, Abril 23 2012); “Experiências clínicas, populações vulneráveis e os tratamentos de arsénico: uma história de muitas conexões” (III Encontro Nacional de História das Ciências e da Tecnologia, Universidade de Évora, 26-28 Setembro, 2012). Um trabalho mais amplo, biografando Thomaz de Mello Breyner e a sua inserção na medicina portuguesa e europeia, foi aceite para publicação com o título “Entre Mundos: Thomaz de Melo Breyner e a clínica de sífilis do Desterro, Lisboa”, no volume organizado por Renilda Barreto et al, Os Filantropos da Nação: Sociedade, saúde e assistência (Rio de Janeiro, Fundação Getúlio Vargas). Ficou claro que este médico tinha amplas conexões internacionais, mas teve de ser revista a história mantida oralmente no Desterro e passada a escrito por João Carlos Rodrigues sobre a introdução do Salvarsan em Portugal graças à conexão e amizade de Thomaz de Mello Breyner com Paul Ehrlich. As conexões internacionais de Ayres Kopke, da Medicina Tropical, tomaram a dianteira neste campo e foi através da rede deste médico que o medicamento primeiro chegou ao nosso país, em agosto de 1910, tendo sido experimentado numa meretriz das enfermarias do Desterro por um assistente clínico (João Lacerda), que relatou o caso nos canais apropriados.

Fica esclarecido, porém, que Thomaz de Mello Breyner de

imediato aderiu à nova terapêutica e muito lutou para que se generalizasse e tornasse acessível aos pacientes. Ficou também bastante claro, cruzando as fontes, que Thomaz 21

de Mello Breyner era um clínico respeitosamente dedicado à sua largamente destituída clientela, mobilizando os meios ao seu alcance para melhorar as condições de assistência. Sá Penella deixou o seu espólio à Faculdade de Medicina e investigações conduzidas no local demonstraram que infelizmente os seus papéis pessoais foram descartados, tendo sido apenas resgatadas os livros e publicações. Tivemos assim, restringindo-nos às obras publicadas, um acesso limitado às complexidades do seu pensamento e práticas. Aquelas são porém claras quanto à sua reserva relativamente ao uso da penicilina, que interpretamos advir da frustante lição do Salvarsan – revelado tóxico após os primeiros sucessos clínicos. A escassez de fontes manuscritas foi colmatada com uma entrevista ao Dr. Aureliano da Fonseca, no Porto, que privou longamente com Sá Penella e nos prestou preciosas informações. Sobre Sá Penella, Caeiro Carrasco e Juvenal Esteves publicamos o artigo de Antonio Perestrelo “Ceroplastia e dermatologia em Portugal: Sá Penela e Caeiro Carrasco”, capítulo 6 de Clínica, Arte e Sociedade. A investigação sobre a circulação do conhecimento sobre Salvarsan e a inspiração do livro do consultor Alan Brandt No Magic Bullet levou a IP a aceder ao desafio de colegas brasileiros para integrar um volume de história da ciência no cinema desenvolvendo um comentário crítico ao filme Dr Erlich Magic Bullets, publicado em 2012 com o título “Infecção e redenção: Dr Ehrilch’s Magic Bullets” (In A. C. Vimieiro Gomes, B. G. Figueiredo, e C.C. Trueba, eds., 2012, História da Ciência no Cinema 4 Belo Horizonte: Fino Traço) pp 243-257.

Mais investigações sobre as relações entre os dermatovenereologistas portugueses e os seus pares alemães foram feitas pela IP e pela jovem investigadora Stella Lorenz, integrada para o efeito, e são a base de um artigo -- ainda em preparação – cruzando circulação do conhecimento sobre os arsenicais Atoxyl (para a doença do sono) e Salvarsan (para a sífilis).

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1.2.2. PROFILAXIA: PRÁTICAS E POLÍTICAS PORTUGUESAS EM CONTEXTO O estudo dos materiais de propaganda profiláctica incluídos no espólio do Desterro despertaram uma linha congregando os interesses de vários investigadores. Desde o início esta vertente foi trabalhada pelas investigadoras Célia Pilão e Sandra Tacão, com a óptica de interpretação do património. Os seus trabalhos foram condensados no artigo “A profilaxia da sífilis em Portugal (19900-1940)-suportes de propaganda”, publicado como capítulo 12 do livro Clinica, Arte e Sociedade . O investigador Luís Saraiva, desde a fase de candidatura do projecto, articulou o seu interesse pelas ideologias regulamentaristas e regulamentação legislativa da prostituição em Portugal enquanto medida profiláctica e sanitária; dedicou-se em particular ao trabalho do médico Tovar de Lemos, que explorou

na tese de doutoramento “O

Renascer de Vénus (discutida em 2010, no início da execução do projecto). Prolongou o interesse durante a execução do projecto em várias visitas à colecção e a acervos relevantes – gabinete de Estudos Olisiponenses, Instituto Ricardo Jorge, Biblioteca Nacional. Apresentou os seus trabalhos nas comunicações "Syphilis and prostitution in the first decades of the 20th century in Lisbon (Portugal) and Belém (Brazil)" (SIEF, 2011) e “Prostituição e políticas de higienização urbana em fins do século XIX e início do XX em Belém do Pará /RBA2012) Em colaboração com a investigadora Mónica Saavedra, entretanto integrada na equipa, escreveu o artigo “Prostituição, higiene social e profilaxia da sífilis”, capítulo 13 de Clinica, Arte e Sociedade. Em conjunto preparam uma outra publicação para um suporte internacional. O investigador prosseguiu numa linha comparativa, estudando os efeitos das políticas regulamentaristas e abolicionistas – inspirado pelos trabalhos do consultor Sergio Carrara – e propondo uma análise comparativa Portugal- Brasil. Nessa linha publicou em 2011 “O Hospital São Sebastião (O Asilo das Madalenas): prostituição, sífilis e os dispensários antivenéreos na cidade de Belém no início do século XX”. Revista Paraense de Medicina. 2011 25 (4):75-76.

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Foram centrais para esta linha de análise as visitas dos consultores e especialistas Sérgio Carrara e Ilana Lowy. A missão destes consultores combinou visitas à colecção, análise crítica dos trabalhos efectuados, partilha de bibliografia, e participação num painel internacional em que Carrara apresentou a comunicação "Health, sexuality and urban spaces: the control of syphilis in two Brazilian port cities" e do qual Lowy foi a debatedora geral.

24

1.3. O contexto social da sífilis

Nesta vertente do projecto propusemo-nos ultrapassar os procedimentos habituais dos estudos de património e de história médica e, mobilizando recursos metodológicos e analíticos multidisciplinares, estudar não apenas os protagonistas médicos nos seus espaços, mas também os próprios espaços, equipamentos e intrumentos, as populações servidas, as relações estabelecidas, as conexões entre o comércio sexual, a polícia sanitária e a clínica de sífilis, as relações entre ambulatório e internamentos forçados, entre clínicos e pacientes, entre públicos, clínicos, cientistas e objectos de conhecimento, entre objectos materiais e as relações sociais que articulam. Concebida como uma componente exploratória inspirada nas novas tendências da história social da saúde, antropologia histórica, etnografia da medicina e estudos sociais de ciência, esta vertente do projecto absorveu a vertente “estudos de caso” enunciada na candidatura

e

mostrou-se

de

extraordinário

potencial

para

diálogo

com

desenvolvimentos recentes da antropologia urbana e da história social urbana; novas linhas de pesquisa foram entretanto abertas como resultado das apresentações com materiais deste projecto em foruns de antropologia da ciência e antropologia urbana. Muito se abre ainda para pesquisa, e na continuação do que já fizemos aprofundaremos a análise das fontes já abordadas ou identificadas e procuraremos articulá-las com investigações etnográficas contemporâneas, de modo a desenvolver aproximações com impacto substantivo, teórico e metodológico. Desagregamos o trabalho em duas componentes, tal como previsto nas tarefas identificadas no projecto.

1.3.1. O ESTUDO DA CLÍNICA Para esta componente cruzámos as fontes incluídas no espólio do Desterro – os registos clínicos do ambulatório por Thomaz de Mello Breyner (1897-1909) -- e um 25

número de fontes dispersas que localizámos no decorrer do projecto: registos das enfermarias de S. José no Arquivo Nacional da Torre do Tombo, incluindo as enfermarias-prisão de Sta M. Madalena, Egipcíaca e Piedade – esta última carecendo de mais pesquisa para melhor caracterização; registos da polícia sanitária sobre internamento compulsivo; registos da polícia judiciária sobre casos legais envolvendo prostitutas, clientes, patrocinadores, casas de tolerância, etc; legislação regulamentadora da prostituição; literatura de comentário social sobre a sífilis; literatura naturalista sobre o bairro da Mouraria e a zona do Desterro; Arquivo Fotográfico Municipal; Arquivo do Instituto Nacional Saúde Dr Ricardo Jorge; Gabinete de Estudos Olisiponenses. Para este trabalho concorreram a IP, os investigadores Luis Saraiva, Monica Saavedra, Antonio Perestrelo de Matos e a historiadora Rita Almeida de Carvalho, entretanto incluída no corpo de investigação. O trabalho transcrição, scanerização e análise dos livros de registos clínicos da primeira década de 1900 foi prolongado com a transcrição e sistematização de fontes complementares no Arquivo Nacional da Torre do Tombo. A colaboração da nova coleda de equipa Rita Carvalho foi essencial para conseguir identificar os livros de registo de internamento das enfermarias de mulheres no Desterro. Conseguimos transcrever, para cruzamento e análise, os dados relativos ao ano de 1902 para as enfermarias 5 e 6 (Santa Maria Madalena e Santa Maria Egipcíaca). Nessa tarefa colaboraram Mónica Maurício e Mónica Saavedra. Da análise dos materiais assim recolhidos resultaram as comunicações e palestras da IP "Scars, sex, and salvarsan: the ethnohistory of a syphilis clinic." (Pannel Ecologies of sex, trade and illness - SIEF 2011- FCSH UNL, April 20, 2011); “Médicos, prostitutas, legisladores e cientistas: a sífilis e as enfermarias prisão do Desterro”, (GT 77 --Ciência, assistência e circulação do saber, XI CONLAB, S Salvador da Bahia, Brasil, Agosto 2011 – para oqual a IP fora convidada a interar uma outra mesa); “A Sífilis no Hospital do Desterro e na Saúde Pública” (Palestra para a Pos-Graduação em História das Ciências da Saúde, Casa de Oswaldo Cruz, FIOCRUZ, Rio de Janeiro, Mar 1, 2012) ; “As enfermarias-prisão: polícias, médicos e prostitutas no Desterro, 1902” (Seminários DAN, Departamento de Antropologia, Universidade de Brasília,

Jul 11 2012);

“Assistência e vigilância: sífilis, polícia sanitária e enfermarias-prisão no Desterro de inícios do século XX” (V Congresso Ibero-Americano de Pesquisa Qualitativa em Saúde, ISCSP Out 11-13, 2012); “Sex, surveillance and syphilis: the sanitary police and 26

the prison-infirmaries of Desterro, Lisbon “ (Viena Dialogues in Medical Anthropology, Áustria, 2013); e, com Rita Carvalho “Toleradas e internadas: prostitutas, policias sanitária e enfermarias-prisão em Lisboa, inícios do século XX” ( 2º Encontro de Investigação do ICS, 16-17 Abril 2012) Os artigos “Ai Mouraria! – da hospedaria ao hospital” e “Thomaz de Melo Breyner e a clínica de sífilis”, Sociedade,

publicados como capítulos 10 e 11 do livro Clínica, Arte e

apresentam uma primeira análise de resultados, a partir dos quais a

comunidade científica poderá prolongar as pesquisas.

1.3.2. O SEXO E A CIDADE Esta vertente mobilizou o pleno uso da trabalho interdisciplinar. A análise dos materiais recolhidos foi amplamente discutida pela equipa e pelos investigadores em diferentes foruns: nos encontros de investigação do ICS, nos encontros de antropologia urbana da IUAES (Nápoles, e, já fora do período de execução do projecto, Manchester), em seminários de antropologia, estudos portugueses ou história da ciência (Universidade de Brasília, Fiocruz, Universidade de Viena, Universidade de Brown ) num symposium especial na Reunião Brasileira de Antropologia (São Paulo), e na mesa redonda de encerramento do projecto, que se fez em contexto de extensão não académica reunindo historiadores, geógrafos e antropólogos, a equipa de investigação e o público em geral na própria Mouraria. Simultaneamente, a recente intervenção municipal no bairro da Mouraria e no largo do Intendente fez aumentar o interesse por estes tópicos, pelo que se anunciam sequências para as investigações já empreendidas e cujos resultados foram apresentados pela IP na comunicação “Da hospedaria ao hospital: trajetos urbanos de sexo, saúde e polícia” (28ª RBA, S. Paulo, 2-5 Julho

2012); “Etnografias em movimento: cruzando sexo,

vulnerabilidade, medicina e política (da sífilis à aids)” (Encontros Via LACT, Universidade de Brasília, 10 Julho 2012); “The prostitute, her lover, their landlord and the police: sex, order and urban transformations in downtown Lisbon” (Conference 27

Issues of Legitimacy, Naples, Italy Set 10-14, 2012); “Vielas do Vinho e do Vício: a velha Mouraria e a renovação urbana”, Department of Portuguese and Brazilian Studies, Brown University, USA, Mar 19 2013. É com este último título – Vielas do vinho e do vício – que a IP prepara uma pequena monografia histórica sobre a antiga Mouraria, articulando o que aprendeu no contexto do estudo do espólio do Desterro com a mobilização de fontes múltiplas, históricas e etnográficas, sobre o entrozamento do comércio sexual e da vida urbana no centro e margens de Lisboa, com a omnipresença da sífilis, a (in)disponibilidade de tratamentos e a possibilidade de encarceramentos.

Na última semana de execução do projecto pudemos contar com a presença do pesquisador Luís Saraiva, que avaliou as transformações no largo do Intendente entre o início do projecto, em 2010 (também o ano de encerramento da sua tese de doutoramento, que envolveu pesquisa etnográfica no Intendente), e o fecho do mesmo, em 2013. Entre esses dois momentos foram muitas as transformações materiais e humanas na praça, fruto da intervenção do município. A sua proximidade com a população de trabalhadoras sexuais do Intendente permitiu-lhe avaliar de que modos reconfiguraram a sua actividade em função destas transformações – movendo-se para as margens e convivendo com as transformações. A intervenção deste investigador na mesa-redonda de encerramento do projecto foi fundamental, fazendo merecer o seu deslocamento do Brasil a Lisboa.

O projecto foi encerrado com a mesa-redonda “O SEXO E A CIDADE: A ANTIGA MOURARIA VISTA DO DESTERRO”, em que participaram os investigadores do projecto e os especialistas em história urbana Frédèric Vidal (ISCTE), M. Alexandre Lousada (U Lisboa) e Paulo Silveira e Sousa (IUE). A mesa redonda foi também uma operação de extensão à comunidade, realizada na Cozinha Popular da Mouraria e aberta a todos o público, e a primeira de uma série de “ Tertúlias da Baixa Lisboa: encontros de micro-história e antropologia urbana” A intervenção do público inspirou-nos para prosseguirmos nesta linha de análise e interacção com uma realidade cuja permanente mutação assenta sobre estruturas de 28

relativa permanência nos espaços urbanos; a dinâmica criada com os historiadores urbanos garantiu-nos o prosseguimento dos mesmos em novos patamares de análise e contribuição para estudos interdisciplinares.

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2. Desvios e ajustamentos ao projecto inicial

2.1. ALTERAÇÃO DE TAREFAS A necessidade de desinfestar as peças através de uma bolha de anoxia, procedimento comum em operações de tratamento de espólio como este, não foi necessária uma vez que, ao contrário do esperado, as peças não estavam infestadas. Após obtida a autorização da FCT, transferimos a verba destinada à bolha de anoxia para uma tarefa não prevista na candidatura, porém de extraordinária utilidade para a colecção e de valor científico-patrimonial: restauro de algumas das moldagens de cera danificadas.

2.2. ALTERAÇÕES NA EQUIPA Do núcleo inicial da candidatura mantiveram-se a IP Cristiana Bastos, os investigadores Ana Delicado, Luís Saraiva (que entretanto mudou de residência para o Brasil), Célia Pilão e Sandra Tacão (que em 2011 finalizaram a quase totalidade das tarefas que as envolviam no projecto). A investigadora Joana Ribeiro, por razões pessoais, deixou de participar em actividades académicas, pelo que não pudemos contar com a sua colaboração. O investigador António Peresterlo foi subtraído à equipa, tendo-se candidatado a bolseiro de investigação e sido unanimemente aceite; foi novamente admitido alguns meses após o término da bolsa. As investigadoras Rita de Almeida Carvalho e Mónica Saavedra foram adicionadas à equipa para intensificarem o estudo do contexto social da clínica e profilaxia da sifilis na primeira metade do século XX em Portugal. A investigadora alemã Stella lorenz foi adicionada à equipa com a missão de trabalhar fontes em alemão relativas às terapias arsenicais (atoxyl e salvarsan).

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2.3. MUDANÇAS DE CALENDÁRIO DE EXECUÇÃO

2.3.1 MISSÕES O calendário das missões foi significativamente alterado devido às dificuldades de execução financeira causadas pela intervenção de autoridades externas no estado português a partir de 2011, que directamente afectaram o bom decurso das actividades do ICS. Os investigadores ajustaram-se a estas condições mudando os calendario, inventando soluções e pedindo prorrogação do prazo de execução à FCT, que compreensivamente acedeu aos nossos pedidos. Deste modo, apesar da diferenças de calendário, todas as missões foram executadas.

2.3.2. CONSULTORES O consultor Thomas Schnalke foi acrescentado à lista de consultores e integrou a fase final do projecto. O consultor Alan Brandt, por motivos de saúde, não pode participar no projecto, mas manteve-se informado. O consultor David Kertzer não conseguiu conciliar a sua agenda com as mudanças de caledarização que advieram dos ajustamentos estruturais, pelo que não pode visitar a colecção. Foi todavia informado dos promenores de pesquisa e reuniu com a IP ristiana Bastos na Universidade de Brown (Estados Unidos) em 2010 e em 2013 para discutir as questões de transmissão de sífilis a amas-de-leite e de uso de fontes em narrativa de micro-história.

2.4. ALTERAÇÕES NO NÚMERO DE OUPUTS 2.4.1 TESES Entre os indicadores previstos em candidatura estava uma tese de mestrado; a previsão fez-se com base na expectativa de envolver em formação avançada um dos pesquisadores com licenciatura – ou o bolseiro de investigação a recrutar -- de modo a traduzir os trabalhos de investigação em curso num tese sobre museologia e património. Tal não se concretizou, e o bolseiro recrutado apresentava uma grande qualificação e detinha já um mestrado em património. Em contrapartida, o investigador e antropólogo 31

Luís Saraiva finalizou a sua tese de doutoramento no período de preparação desta candidatura, e discutiu-a já no ano de início da sua execução, e fez convergir o trabalho no doutoramento e pos-doutoramento com o trabalho deste projecto. Por essa razão, cremos que esta tese, embora não prevista em candidatura, pode ser parcialmente creditada ao projecto.

2.4.2 LIVROS O catálogo e volume de artigos foram fundidos num só livro, diminuindo de dois para um os outputs desta cateoria. Em contrapartida, a IP está a preparar uma monografia cuja pesquisa decorre deste projecto, que será devidamente creditado.

2.4.3 ARTIGOS E CAPÍTULOS Os artigos publicados superam em número os previstos no projecto, contando como “artigos” os capítulos de livro desde a fase da candidatura. O ritmo de publicação é dificilmente previsível no momento da candidatura, pois depende de inúmeros imponderáveis. A relação entre indicadores previstos e alcançados, ano a ano, traduz-se na seguinte tabela: INTERNACIONAIS 2011:

Previstos em candidatura – 1

Publicados - 2

2012:

Previstos em candidatura – 3

Publicados – 1

2013-14:

Previstos em candidatura – 0

Publicados/Aceites - 4

2011:

Previstos em candidatura – 1

Publicados - 8

2012:

Previstos em candidatura – 2

Publicados - 0

2013:

Previstos em candidatura – 0

Publicados/Aceites - 1

NACIONAIS

32

2.4.4. COMUNICAÇÕES O calendário de apresentação de comunicações sofreu alguns desvios relativamente ao previsto, mas o seu número superou largamente o indicado na candidatura – em parte porque as dificuldades de financiar deslocações a congressos internacionais, que afectaram largamente a actividade de 2011-12, foram contornadas pela aceitação de convites em 2012 – o que fez também concentrar excessivamente na IP as apresentações de 2012. A diferença entre previsões e realizações é visível na seguinte tabela INTERNACIONAIS 2010:

Previstas em candidatura – 1

Apresentadas -0

2011:

Previstas em candidatura – 2

Apresentadas - 5

2012:

Previstas em candidatura – 3

Apresentadas -9

2013:

Previstas em candidatura – 0

Apresentadas -2

2010:

Previstas em candidatura – 3

Apresentadas -10

2011:

Previstas em candidatura – 3

Apresentadas - 0

2012:

Previstas em candidatura – 2

Apresentadas -4

NACIONAIS

33

3. Lista de resultados 3.1. EXPOSIÇÃO Com o formato de “coleçcão visitável”, produzimos uma exposição que supera as nossas expectativas e é objecto de inúmeras visitas de estudo e investigação.

3.2. MISSÕES DE INVESTIGAÇÃO 3.2.1. Paris, Março 2011, Antonio Perestrelo e Cristiana Bastos: Museu St Louis e demais museus de anatomia, medicina e veterinária; entrevista à consultora Ilana Lowy 3.2.2. Porto, Abril 2011, Antonio Perestrelo e Cristiana Bastos – entrevista ao Prof. Aureliano Fonseca (existe uma gravação video) 3.2.3. Porto, Maio 2011, Antonio Perestrelo e Cristiana Bastos – Museu Maximiliano Lemos e entrevista à Prof.ª Amélia Rincon 3.2.4. Bolonha/Florença/ Nápoles, Setembro 2012, Antonio Perestrelo e Cristiana Bastos – visita às colecções especiais e museus anatómicos (La Specola, Poggi, Zoologia Comparada, Veterninaria, Luigi Cattaneo, Anatomia Patologica, Museu Anatomico) 3.2.5. Londres, Março 2013, Ana Delicado – Gordon Museum, Hunterian e demais museus de medicina, completados em visita complementar por Cristiana Bastos 3.2.6. Viena, Julho 2013, Antonio Perestrelo, Cristiana Bastos e Ana DelicadoNarrenturn, Josephinum e demais museus de anatomia patologica, criminologia e representação anatomica.

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3.3. ORGANIZAÇÃO DE CONFERÊNCIAS 3.3.1. Painel Ecologies of Sex, Trade and Illness - SIEF 2011, FCSH-Lisboa, Abril 2011 Resumo: Commercial sex and related infrastructures such as brothels, hotels, pensions and bars have often created urban niches, red-light districts, distinct neighbourhoods and roadside territories. Often, these are also the places for STD (sexually transmitted disease) clinics, door-to-door assistance, pharmacies, 'botanicas' and other formal and informal health services. Moreover, these places are sometimes the catalysts for new knowledge and forms of social activism - from biomedical research on STDs and infectious agents to social research and intervention. In this panel we welcome ethnographies and conceptual developments that address one or some of those aspects; we encourage papers to emphasize the interactions of place, action and knowledge. Coordenação Cristiana Bastos e Luis Saraiva. Debate de Ilana Lowy e Sergio Carrara Com: Luis Saraiva (Universidade Federal do Pará) Sergio Carrara (Unitersidade Estadual do Rio de Janeiro) Cristiana Bastos (Universidade de LIsboa) Zsuzsa Bokor (The

Romanian

Institute

for

Research

on

National

Minorities,

Cluj,

Romania) Alexandra Oliveira (Universidade do Porto) Marta Maia (CRIA) Laurent Gaissad (Université de Paris Ouest Nanterre) http://www.nomadit.co.uk/sief/sief2011/panels.php5?PanelID=769

3.3.2. Simposium Especial Trajectos de Miséria e de Glória: narativas e etnografias urbanas 28ª Reunião Brasileira de Antropologia, PUC-São Paulo, Julho 2012. Resumo: Deslocados, migrantes, escravizados, retirantes, exilados, prostitutas, negociantes, jogadores, contratados e outros sujeitos em movimento convergindo para metrópoles urbanas e concentrando-se em certos bairros estarão no centro das nossas abordagens, que têm como desafio comum o uso simultâneo de vários ângulos de análise: a etnografia, o registo literário, o cinema, a narrativa épica. 35

Coordenação de Carmen Rial (UFSC) e Cristiana Bastos (ICS-U Lisboa), in memoriam de Gilberto Velho (UFRJ) – que teria sido debatedor. Com Cristiana Bastos (ICS-U Lisboa), Heloisa Pontes (UNICAMP), Esther Hamburger (USP), Lilia Moritz Schwarcz (USP),

José

Manuel

Sobral

(ICS-U

Lisboa),

Luis

Saraiva

(UFPA).

http://201.87.228.139/RBA/exibeconteudo.asp?Lingua=&idmenuexterno=90

3.3.3. What Objects can tell: the moulage and the historical patient – conferência de Thomas Schnalke na Colecção de Dermatologia do Desterro, Salão Nobre do Hospital dos Capuchos, 12 Julho 2013, 12h00

3.3.4. O sexo e a cidade - Tertulias da Baixa Lisboa: Enontros de Micro-História e Antropologia Urbana – Mesa Redonda com os historiadores urbanos Frederic Vidal, M Alexnadre Lousada e Paulo Silveira e Sousa e os investigadores do projecto, aberta às comunidades académicas e não-académicas, Cozinha Popular da Mouraria, 12 Julho 2013, 18h00.

3.4. CONSULTORIAS 3.4.1.Sérgio Carrara – Abril 2011 3.4.2. Ilana Lowy – Abril 2011 3.4.3. Marta Lourenço – ao longo de 2010-2011 3.4.4. José Prates – ao longo de 2010-2011 3.4.5. David Kertzer – 2010 e 2013 3.4.6. Thomas Schnalke – Julho 2013

36

3.5. PUBLICAÇÕES 3.5.1. LIVROS Bastos, Cristiana, org. 2011. Clínica, Arte e Sociedade: a Sífilis no Hospital do Desterro e na Saúde Pública. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais. Bastos, Cristiana (em preparação) Vielas do vinho e do vício: histórias e trajectórias da antiga Mouraria (pequena monografia com vinhetas comentadas articulando os vários actores sociais envolvidos na prostituição em princípios do século XX, contextualizando-as na Lisboa boémia popular de então).

3.5.2. ARTIGOS EM PERIÓDICOS COM ARBITRAGEM CIENTÍFICA Delicado, Ana. 2014. The past and present of medical museums in Portugal. Museum History Journal 7(1) (ISSN 1936-9816) Bastos, Cristiana , Ana Delicado, António Perestrelo de Matos. 2013. Arte, clínica, ciência e património: uma colecção de moldagens de um antigo hospital de dermatologia e sífilis em Lisboa. Dossier Património de Saúde. Amazônica – Revista de Antropologia 5(2) (ISSN 2176-0675) Bastos, Cristiana. 2011. Banhos de Princesas e de Lázaros: Termalismo e estratificação social. Anuário Antropológico/2010-II: 107-126 (ISSN 0102-4302) Junes, Thayana Silva e Luis Junior Costa Saraiva. 2011. O Hospital São Sebastião (O Asilo das Madalenas): prostituição, sífilis e os dispensários antivenéreos na cidade de Belém no início do século XX. Revista Paraense de Medicina. Belém, FSCMP, 25 (4):75-76. (ISSN 0101-5907)

3.5.3. ARTIGOS EM VOLUMES DE ORGANIZAÇÃO TEMÁTICA

Delicado, Ana e Cristiana Bastos (aceite). O corpo medicalizado nos museus. In A F Cascais, org., Um olhar sobre a história da cultura visual da medicina em Portugal (ebook)

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Bastos, Cristiana. 2014. Entre mundos: Thomaz de Mello Breyner e a clínica de sífilis do Desterro, Lisboa. In R Barreto, T Pimenta, G Sanglard, M Freire & L Ferreira, orgs., Os Filantropos da Nação: sociedade, saúde e assistência. Rio de Janeiro: Ed. FGV. Bastos, C. 2014. Of Objects, Networks, Politics and Poetry: the Royal Academy of Sciences in Lisbon in the context of the Enlightenment. In A Delicado, ed. Associations and other groups in science: an historical and contemporary perspectiveNewcastle: Cambridge Scholars Publishing. Pp 10-29. Bastos, Cristiana. 2012. Infecção e redenção: Dr Ehrilch’s Magic Bullet In A. C. Vimieiro Gomes, B. G. Figueiredo, e C.C. Trueba, eds., História da Ciência no Cinema 4 Belo Horizonte: Fino Traço, pp 243-257 Delicado, A. 2011 "Museus de Medicina em Portugal", In C. Bastos, org., Clínica, Arte e Sociedade: a Sífilis no Hospital do Desterro e na Saúde Pública (Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais) 101-113 Bastos, C. 2011 “Da anatomia à dermatologia: o corpo moldado em cera”. In C. Bastos, org., Clínica, Arte e Sociedade: a Sífilis no Hospital do Desterro e na Saúde Pública (Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais) 115-122.

Perestrelo de Matos, A. 2011. "Ceroplasta e Dermatologia em Portugal: Sá Penella e Caeiro Carrasco" In C. Bastos, org., Clínica, Arte e Sociedade: a Sífilis no Hospital do Desterro e na Saúde Pública (Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais) 123-134

Perestrelo de Matos, A. 2011. "A Intervenção Museológica na Colecção de Moldagens" In C. Bastos, org., Clínica, Arte e Sociedade: a Sífilis no Hospital do Desterro e na Saúde Pública (Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais) 135-138. Bastos, C. e R. A. Carvalho. 2011 “‘Ai Mouraria!’; da hospedaria ao hospital.” In C. Bastos, org., Clínica, Arte e Sociedade: a Sífilis no Hospital do Desterro e na Saúde Pública (Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais) 151-162 Bastos, C. 2011 “Thomaz de Mello Breyner e a clínica de sífilis”. In C. Bastos, org., Clínica, Arte e Sociedade: a Sífilis no Hospital do Desterro e na Saúde Pública (Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais) 163-173.

Pilão, C. e S. Tacão. 2011. "A Profilaxia da sífilis em POrtugal (1900-1940): suportes de propaganda" In C. Bastos, org., Clínica, Arte e Sociedade: a Sífilis no Hospital do Desterro e na Saúde Pública (Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais) 175-195 Saraiva, L. e M. Saavedra. 2001. "Prostituição, Higiene Social e Profilaxia da Sífilis" In 38

C. Bastos, org., Clínica, Arte e Sociedade: a Sífilis no Hospital do Desterro e na Saúde Pública (Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais), 197-213.

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Pilão, C.. 2010 Material gráfico de suporte nas campanhas de prevenção de doenças venéreas Integrado em “Colecção de Dermatologia do Hospital do Desterro. Instrumentos de ensino para a prevenção e tratamento de doenças venéreas (19001949)", por S. Tacão e C. Pilão. II Encontro Nacional de História da Ciência e da Tecnologia, ICS, Lisboa, 27 e 28 de Julho de 2010. (Nota: estas duas comunicações foram submetidas como uma só mas tornaram-se autónomas no decorrer da sua elaboração e assim foram apresentadas.) http://www.ciuhct.com/enhct2010/images/fotos/brochuraENHCT.pdf

Tacão, S. 2010. Espólio ceroplástico de suporte ao ensino de médicos no tratamento de patologias venéreas, integrado em " Colecção de Dermatologia do Hospital do Desterro. Instrumentos de ensino para a prevenção e tratamento de doenças venéreas (19001949)", por S. Tacão e C. Pilão. II Encontro Nacional de História da Ciência e da Tecnologia, ICS, Lisboa, 27 e 28 de Julho.

Bastos, C. 2010 "Do mercúrio ao arsénico: experiências clínicas no Desterro, c.1910." II Encontro Nacional de História da Ciência e da Tecnologia ICS – 27-28 Julho 2010 http://www.ciuhct.com/enhct2010/images/fotos/brochuraENHCT.pdf

3.7. WEBSITE Por conter materiais que podem ser considerados de circulação restrita (imagens de lesões de sífilis em genitais, rostos deformados, etc.), e para melhor manuseamento dos conteúdos pelos investigadores, optamos por ter o site de acesso livre no endereço https://sites.google.com/site/cerasdesterro/home

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