PRODUTORES E CONSUMIDORES: O fenômeno fanfiction

July 1, 2017 | Autor: L. Affini | Categoría: Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) na Educação
Share Embed


Descripción

PRODUTORES E CONSUMIDORES: O fenômeno fanfiction. PRODUCERS AND CONSUMERS: The fanfiction phenomenon. Caroline Rye Yamasaki, Maria Luiza F. Leopassi, Letícia Passos Affini – Campus de Bauru – Faculdade de Arquitetura, Artes e Comunicação – Radialismo – [email protected] – PROEX. Palavras-chave: audiovisual; convergência; transmídia; cultura participativa; ficção seriada Keywords: audiovisual, convergence; transmedia; participatory culture; serial fiction

RESUMO 1.INTRODUÇÃO A pesquisa tem o intuito de estudar as relações de interação entre produtores audiovisuais e consumidores, através do fenômeno fanfiction. O termo refere-se à prática de escrever histórias baseadas em universos ficcionais criados por terceiros, os fãs. Na grande maioria dos casos, a principal inspiração do escritor de fanfiction são histórias lançadas por produtos da indústria cultural, como livros, filmes, seriados de TV. Cada fã tem um ponto de apoio que o influencia a escrever. Assim, um fã pode escrever uma história que acontece no universo ficcional da série Harry Potter, por exemplo. O fenômeno pode ser observado através da movimentação dos fãs na criação de comunidades de conhecimento baseada na inteligência coletiva: os fandoms. Porém, nesse universo das fanfictions, fazer parte de uma comunidade (de um fandom), impulsiona a criação, mas exige mais do que ter uma série, um livro ou um filme favorito. Os fandoms são responsáveis pelo surgimento de grande parte dos gêneros digitais como forma de aproximar o leitor daquilo que aprecia, através de uma interação facilitada pela virtualidade. Os fandoms surgiram muito antes da chegada e expansão da Internet, porém, com o advento da Internet, as comunidades passaram a agregar maior número de pessoas, rompendo barreiras geográficas e linguísticas. Inserida nesse contexto, a produção de fanfictions teve seu crescimento a partir da década de 1990. Desde então, a participação interativa dos fãs, numa nova plataforma que permite trocas rápidas de conteúdo, se difunde cada vez mais de maneira viral e descontrolada. O ciberespaço oferece muitas oportunidades de interação, proporciona um poderoso canal de distribuição de conteúdo, e tem se tornado um local de participação do consumidor para a produção cultural amadora, incluindo também, maneiras não autorizadas e não previstas de relação com o conteúdo de mídia. Isso porque os fãs insistem no direito, cada vez mais, de se tornar um participante pleno das narrativas existentes. Constatamos a necessidade de remodelar os protocolos culturais e sociais que delimitam as relações entre produtor e consumidor. Ao invés da relação entre produtores e consumidores de mídia como ocupantes de papéis separados, é possível considerá-los, a partir do fenômeno fanfiction, como participantes interdependentes que interagem de acordo com um novo conjunto de regras. 2. OBJETIVOS 2.1 Objetivo geral:  Compreender a dinâmica existente na publicação de fanfiction pela internet.  Analisar o funcionamento dos sites mais populares da internet para publicação de fanfiction.  Enumerar algumas das leituras mais comuns que os fãs realizam em relação aos universos ficcionais originais da indústria cultural.

2.2 Objetivo específico:  Destacar as ferramentas que o meio (internet) oferece para que os ficwriters possam ter seus textos publicados e lidos em todo o mundo.  Estabelecer as consequências da interação entre os próprios fãs, consumidores de produtos audiovisuais.  Estabelecer as consequências da interação entre consumidores e produtores audiovisuais.  Analisar a relação de dependência entre consumidores e produtores audiovisuais. 3.TEORIAS E MÉTODOS De forma ensaística, a análise da relação entre produtores e fãs, intensificada com o desenvolvimento do ciberespaço, pôde ser estudada com base em Jenkins, que discute a convergência das mídias, a inteligência coletiva e a cultura participativa. Do mesmo modo, a pesquisa também estuda a obra de Maria Lucia Vargas, especialista no fenômeno da fanfiction. 4. RESULTADOS E DISCUSSÕES Como uma potencializadora de ações coletivas, a internet ressalta o vislumbramento dos processos da inteligência coletiva dentro de comunidades de fãs no ciberespaço. Tais comunidades são as primeiras a adotar o uso criativo de mídias emergentes, e com maior diversidade de ferramentas a disposição de sua criatividade, os fãs perderam o status de reprodutores e passaram a ser classificados como produtores culturais. Tendo a internet não só como fonte de material, mas principalmente como fonte de divulgação de conteúdo, os fandoms também se apropriam do direito intelectual de autores e produzem várias fanfictions de suas histórias favoritas, reescritas de acordo com seu interesse pessoal e amplamente difundidas no ciberespaço. Assim, o ciberespaço gerido pelo fandom oficializa o direito do público até então passivo, de contribuir ativamente com a construção de sua própria cultura. O retorno imediato é provavelmente uma das maiores razões para os fãs adotarem a internet como o canal definitivo para postar seus textos. A maioria dos sites de fanfiction possui um sistema de reviews para que os leitores possam apresentar comentários e opiniões sobre a história, formando assim um estreito canal de comunicação para a fandom. O objetivo dos membros das fandoms não é impedir a circulação dos produtos da indústria do entretenimento, mas afirmar sua preferência por determinados produtos, da mesma forma que o direito de utilizá-los como inspiração para a realização de suas intenções sociais, especulações intelectivas e, naturalmente, produções culturais, geralmente sem fins lucrativos. (VARGAS: 2005, p. 53)

5.CONCLUSÕES O adepto ao fenômeno fanfiction é alguém que transcende o status de mero consumidor das narrativas. Esse novo escritor dá início a uma nova etapa na sua relação não apenas com a indústria cultural, mas com atores sociais, com particularidades e desejos em comum, alterando as relações estabelecidas no modelo de comunicação de massa, no qual os papéis de emissor e receptor de uma mensagem eram pré-definidos e imutáveis. A fanfiction não se configura como uma simples resposta opinativa a uma mensagem, mas é em si mesma uma mensagem inédita, criada, distribuída e até mesmo consumida de forma independente e marginal. Os escritores de fanfiction, também chamados de ficwriters, têm uma necessidade de apresentar seus textos a um público leitor. Portanto, assim que uma fanfiction passa a ser divulgada, principalmente através da internet, por seu escritor, esta se torna uma mensagem, e seus leitores formam um novo público, gerando assim um processo comunicativo paralelo à indústria do

entretenimento que “inspirou” o fenômeno. A ligação dos fanáticos com as ficções da indústria cultural através das comunidades de fãs que se popularizaram a partir dos anos 1990, implica em uma relação que extrapola a inspiração e dependência, mas joga com novos elementos dentro do contexto da mídia como entretenimento. Assim, a fanfiction seria ao mesmo uma mensagem que é resposta à indústria cultural “oficial” e um canal de encontro onde os integrantes dessa cultura marginal compartilham experiências. A partir daí, deve-se pensar ainda, na didática que esse tipo de experiência pode desenvolver no próprio indivíduo, já que o fenômeno fanfiction insere os fãs no chamado letramento digital, à medida que suas criações de ficções contribuem para a aprimoração da escrita e aprofundamento das habilidades linguísticas de leitura e compreensão de textos. Outro ponto a ser discutido em relação a essas produções caseiras, é o embate entre produtores e fãs e os problemas com os direitos autorais e a propriedade intelectual. Apesar da legislação sobre direitos autorais variar de país para país, de modo geral, escrever uma fanfiction não constitui uma violação da propriedade intelectual, desde que a obra não seja comercializada e nem se obtenha lucro financeiro advindo dela. Da mesma forma, juristas recomendam que o escritor de uma fanfiction acrescente, no início do texto, uma pequena nota legal (chamada pelos americanos de "disclaimer") declarando quem realmente é o detentor dos direitos autorais e esclarecendo que não se está obtendo qualquer forma de ganho financeiro, nem se está praticando comércio. Enquanto os consumidores respeitarem essas condições não há problemas, no entanto, vários ficwriters já comercializaram e obtiveram lucro com suas fanfictions, e a partir disso, a questão do embate entre produtores e consumidores é estabelecida: o lucro baseado na apropriação de ideia, enredo, personagens, e outros elementos de uma obra já existente viola os termos e condições dos direitos autorais reservados aos criadores e produtores desta obra, porém, a proibição, por parte desses, do desenvolvimento das atividades dos fãs poderia acarretar no declínio do consumo de seus produtos e franquias. 6.BIBLIOGRAFIAS

CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. 2. ED. São Paulo: Unesp, 1999. COSTA, Rogério da. A cultura digital. São Paulo: Publifolha, 2002. JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. São Paulo: Aleph, 2009 MACHADO, Arlindo. A Televisão Levada a Sério. / Arlindo Machado. 2ª ed. – São Paulo : Editora SENAC São Paulo, 2001 MCKEE, Robert. Story: Substância, Estrutura, Estilo e os Princípios da Escrita de Roteiro. Curitiba: Arte & Letra, 2006. VARGAS, Maria Lucia Bandeira. O Fenômeno Fanfiction. Passo Fundo: Ed. Universidade Passo Fundo, 2005

APOIO FINANCEIRO Caroline Rye Yamasaki: Bolsista da PROEX e integrante do Grupo de Pesquisa e Experimentação em Audiovisual e Jornalismo Corporativo. Maria Luiza F. Leopassi: integrante do Grupo de Pesquisa e Experimentação em Audiovisual e Jornalismo Corporativo.

Lihat lebih banyak...

Comentarios

Copyright © 2017 DATOSPDF Inc.