Por que escrevo? Fernando Chiavassa
Aos cinquenta e oito lembro que em alguma tarde de sol de um passado quase agora, aos trinta e cinco, enquanto como algo duro como pau, mastigo esfomeado um pedaço de dente. A padaria é escura, barulhenta e só tem pra mim um velho croissant. Vivo com dificuldades e olho para um pomar vizinho. Vi bem no alto um abacate amarelo contra o azul sorrindo ao céu, sol e fruto a me encantar. A imagem do mundo e seu significado foram mais fortes que a perda. Uma emoção colorida suplantou a escura e é exatamente isso que move me levando para fora de mim. Era preciso criar uma boa saída a vencer a dor da morte, mesmo de um único dente ou de um lindo fruto. O dente não era um dente nem o abacate somente um abacate. O dente foi pro lixo, mas resta mais que a esperança. Lá no alto, ela ainda brilha: pode ser que uma brisa farfalhando verde, amarela e azul, me diga que agora o abacate foi pro chão. Mas vejo nascer outro pé de vida, sempre, num outro pomar, que outros vão ver, comer e sonhar. E plantar.
Fernando fez cursos livres de literatura no Museu Lasar Segall, como ouvinte na Letras da Usp, integrou a primeira turma do Curso Livre de Preparação do Escritor (Clipe), na Casa das Rosas e fez oficinas literárias com os escitores Marcelino Freire, Rodrigo Petrônio e Luiz Brás. Escreve poemas, crônicas e ensaios, enquanto seus heterônimos, Mário Aviscaio e Altair Marino, tratam da ficção. O que não pode escrever, Fernando expressa através da pintura e da ilustração. Mário escreve pintando enquanto Fernando pinta escrevendo. Enquanto Mário escreve loucamente, Altair Marino narra claramente. Os textos do Fernando, do Mário e do Altair, dentre cartas, crônicas, artigos e contos, podem ser encontrados nas suas páginas do Facebook (nos álbuns de fotos há pinturas e ilustrações, além dos textos). Veja também mais de 30 textos nas páginas dos sites Scribd e Academia.edu. Contato:
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