Plantas e saberes: a experiência etnobotânica entre o templo de umbanda e o laboratório

Como disciplina de interface entre as ciências biológicas e humanas, a etnobotânica dedica-se ao estudo da relação entre homens e plantas apresentando quão variados e particulares são os significados que as culturas são capazes de atribuir a este elemento da natureza. Meio às comunidades religiosas afro-brasileiras, as plantas desempenham um papel de grande importância, compondo a dinâmica social dos grupos e mostrando-se indispensáveis à manutenção destas próprias práticas. No intuito de conhecer as particularidades da flora empregada nos rituais de uma comunidade religiosa afro-brasileira da cidade de São Paulo, este estudo foi empregado associando a atividade de coleta botânica ao trabalho de caráter etnográfico. O que pode-se perceber é que ao passo que as plantas do templo eram coletadas e levadas ao herbário, não só significados e cosmologias minguavam e renasciam em outros contextos, como também as próprias plantas. A partir dos aportes antropológicos contemporâneos interessados em uma certa revisão do estatuto ontológico das "coisas" (neste caso, plantas) a pesquisa procura apresentar os processos de conhecer plantas por parte de cientistas botânicos e religiosos umbandistas indicando que não são as acepções atribuídas ao termo sintético "natureza" que varia, mas sim as próprias naturezas, condição que permite uma leitura crítica sobre a própria teoria e práxis desta disciplina.