Pesquisa interdisciplinar em estudos ambientais

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Pesquisa interdisciplinar em estudos ambientais Diógenes Salas Alves “Comme je ne trouve jamais rien que par une longue trainée de diverses considérations, il faut que je me donne tout à une matière lorsque j’en veux examiner quelque partie.” “Je ne mets pas [le titre] Traité de la Méthode, mais Discours de la méthode, ce qui est le même que [...] Avis touchant la méthode.” “Je me résolus d’aller si lentement, et d’user de tant de circonspection pour [...] chercher la vraie méthode pour parvenir à la connaissance de toutes les choses dont mon esprit serait capable.”5 René Descartes Resumo: O campo ambiental inclui conhecimentos de um grande número de disciplinas, que podem apresentar graus de articulação diferentes para responder aos vários problemas ambientais. Neste trabalho, os conceitos de multi-, inter- e transdisciplinaridade são revisitados, buscando-se explorar os diferentes graus de articulação interdisciplinar encontrados nos estudos ambientais, que podem variar da construção de instrumentos de observação até estudos sobre o desenvolvimento da ideia de crise ambiental, e perpassar instituições como as Convenções para a Proteção da Camada de Ozônio, das Mudanças Climáticas e da Diversidade Biológica. As pesquisas que dão mais ênfase às questões da crise ambiental são assimiladas a tipos mais elaborados de transdisciplinaridade, que podem pressupor a articulação das ciências naturais e sociais e considerar modalidades de produção de conhecimentos no seio dos processos de mobilização política e de tomada de decisão que respondem à ideia de crise ambiental. 5 “Como nunca encontro nada se não através de uma longa série de considerações variadas, preciso me dedicar por inteiro a um assunto sempre que quero tratar de alguma de suas partes.” “Não coloco [como título] Tratado sobre o método, mas Discurso sobre o método, que é o mesmo que [...] Nota a respeito do método.” “Decidi-me por ir tão lentamente e ser tão circunspecto para [...] encontrar o verdadeiro método para chegar ao conhecimento de todas as coisas de que meu espírito fosse capaz.”

Reunindo conhecimentos fragmentados em múltiplas disciplinas A maioria dos estudos no campo ambiental pressupõe a reunião de conhecimentos de várias disciplinas. Combinar o conhecimento fragmentado em disciplinas não é preocupação exclusiva de nosso campo, porém; ela ocorre sempre que se reconhece que um objeto ou problema em estudo é multifacetado e que é preciso ultrapassar os limites da especialização disciplinar, explorar novos terrenos técnicos, metodológicos, teóricos e por vezes filosóficos ou políticos. Frequentemente, tais problemas e objetos se situam em terrenos inexplorados, sem mapas, em que tentam se posicionar atores dos campos das ciências naturais, das ciências sociais, das técnicas e das agências de financiamento. A disposição para colaborar interdisciplinarmente, porém, não é o suficiente, pois é necessária uma capacidade efetiva de cooperação, da qual se espera obter produtos, que serão sujeitos a critérios de avaliação interdisciplinar em programas científicos, de educação, de saúde etc. Além de responder à dinâmica intrínseca dos campos técnico e científico, a interdisciplinaridade também pode se deparar com problemas e objetos que adquirem sentidos no próprio mundo social, colocando questões sobre as relações entre a ciência e a técnica, de um lado, e a construção institucional e a ação social, de outro. A interdisciplinaridade – proposta e exercício de superar a fragmentação disciplinar decorrente tanto da especialização das diferentes áreas do conhecimento quanto da incomensurabilidade entre áreas com histórias e arcabouços teórico-conceituais muito distintos – tem originado inúmeros esforços de reflexão nos planos político-científico, metodológico e teórico dentro e fora do campo ambiental, conforme Apostel et al. (1972) apud Chettiparamb (2007), De Alvarenga et al. (2011), Goldenberg et al. (2003), Chettiparamb (2007), Moraes (2008), Hall et al. (2008), Pohl (2008), Stokols et al. (2008), Khagram et al. (2010), Klein (2010) e Philippi Jr. & Silva Neto (2011). Há, entretanto, algo peculiar a parcelas críticas da problemática ambiental: a ideia – hegemônica, porém, multifacetada – da crise ambiental, que tem colocado alguns desafios interessantes para a interdisciplinaridade. Se, por um lado, essa ideia oferece uma enorme motivação para o pesquisador ultrapassar e mesmo transgredir limites disciplinares, por outro, temos consciência de que a crise pode impactar os ecossistemas numa escala planetária, e não se trata apenas de uma crise para a ecologia:

as mudanças ambientais podem representar um risco para a ordem social numa escala global. Essa peculiaridade da problemática ambiental leva frações diferentes do campo técnico-científico a assumir posições distintas e a conceber o problema da articulação interdisciplinar de perspectivas diferentes. Isso pode incluir, por exemplo, a avaliação das mudanças ambientais e suas incertezas, de impactos, vulnerabilidades e alternativas de adaptação – como o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, 2007a; 2007b) –, a procura de novas políticas e técnicas para redução de impactos ou mitigação – como a Secretaria do Ozônio do Programa das Nações Unidas Para o Meio Ambiente (Pnuma) (IPCC, 2007c; Dias et al., 2009) – ou mesmo a busca de problemas em que a interdisciplinaridade seja protagonista da inclusão de questões ecológicas ou ambientais na agenda política – como em Hodgson et al. (2007), Pohn (2008), Reyers et al. (2010) e Jahn et al. (2012). Ao mesmo tempo, essas posições se deparam com mobilizações em várias esferas, que incluem movimentos ambientalistas, movimentos sociais, organizações econômicas e políticas, e podem se refletir em instituições como as Convenções da Diversidade Biológica e das Mudanças Climáticas, conforme Da Cunha (1999), Da Cunha e Almeida (2001), Saloranta (2001), IPCC (s.d.; 1990; 1995; 1996; 2000; 2001; 2007a; 2007b; 2007c), Santos e Alves (2008) e Alves (2012a). Um grande desafio que enfrentam os atores nessas posições é a dificuldade de conceber perspectivas teórico-metodológicas amplas e consensuais o suficiente para chegar a uma articulação interdisciplinar efetiva. Em particular, quando se procura articular as ciências naturais e sociais, o desafio pode se tornar ainda maior devido aos impasses que surgem quando se suspeitam dimensões sociais, econômicas, ideológicas ou políticas no problema da crise (ver, por exemplo, Harvey, 1974, e Latour, 2004). Outra grande dificuldade para conciliar posições científicas e políticas no campo ambiental decorre das incertezas que envolvem a própria extensão da crise. De um lado, os cientistas reconhecem que não têm conhecimento completo dos problemas – seja devido às descontinuidades da fragmentação disciplinar, à natureza caótica inerente a alguns processos, ou às precariedades ou incompletudes de observações e modelos. De outro, as posições no campo político refletem tanto os progressos e as peculiaridades da mobilização ambiental quanto as dúvidas sobre o preço a pagar por efetuar, propor ou ignorar mudanças que podem afetar a ordem social e econômica mais profundamente, como indicam Beck (1992), Da

Cunha (1999), Funtowicz e Ravetz (1993), Castells (1999), Giddens (2001), Da Cunha e Almeida (2001) e Carvalho e Brussi (2004). Este capítulo trata da pesquisa interdisciplinar nos estudos ambientais, recapitulando algumas ideias importantes que são comuns a vários campos de pesquisa e mantendo em perspectiva a diversidade de posições que assumimos face à crise ambiental. O problema geral de articulação interdisciplinar é apresentado e, em seguida, os tipos de articulação multi-, inter- e transdisciplinar, que aparecem frequentemente na literatura, são ressistematizados e ligeiramente ampliados, procurando-se exemplos para ilustrar diferentes experiências de articulação no campo ambiental. As relações entre o conhecimento científico e técnico e os problemas das mobilizações e decisões políticas são consideradas no contexto na articulação interdisciplinar, considerando-se a produção do conhecimento e as filosofias que inspiram a questão ambiental e o trabalho científico dessa questão.

O problema da articulação interdisciplinar e seus tipos Conhecimento, fragmentação e articulação interdisciplinar A natureza da articulação entre disciplinas pode ser concebida de formas muito diferentes e depender, em última instância, do que se entende por disciplina, por ciência, técnica e método científico, por epistemologia, pelos vários sentidos da própria palavra conhecimento, que faz alusão ao mesmo tempo a saber e a cognição. De todo modo, seja qual for a perspectiva filosófica adotada, a necessidade da articulação interdisciplinar é parte da realidade do trabalho de nosso campo e de vários outros toda vez que os cientistas se confrontam com a fragmentação disciplinar na definição ou resolução de problemas que transcendem os limites de uma especialidade. Daí surge um problema metodológico num sentido bem amplo: como conceber e tratar da interdisciplinaridade? Como sugerem as citações em epígrafe, o problema não é tão recente. Não se trata, obviamente, de atribuir a responsabilidade das barreiras interdisciplinares de hoje a Descartes e seus quatro preceitos – duvidar, fragmentar (dividir), reordenar e recompor, e revisar. Entretanto, há aspectos da teoria de Descartes sobre o conhecimento que podem ilustrar a discussão sobre o desenvolvimento científico e, a partir daí, tratar da articulação interdisciplinar.

Para nossos propósitos, o elemento mais interessante do programa cartesiano diz respeito à sua concepção do processo de construção do conhecimento. Seus quatro preceitos lhe serviram para fundar sua Geometria (Descartes, 1886), que nos seduz até hoje pela amplitude de concepção analítica que superou o trabalho restrito a proporções – como era o caso, por exemplo, de De Cusa (1990), Kepler (1609) e Galilei (1914) – e pela apresentação de alguns casos de “problemas que podiam ser construídos empregando apenas círculos, retas” e “curvas”. Ele mostrou efetivamente o quanto era possível para a época escrever coisas numa “língua matemática [...] de [figuras geométricas]” (Galilei, 1973) e intuiu formas de representação que terminariam fundando o cálculo infinitesimal. Mas, para além da conjugação de geometria com álgebra, os preceitos deveriam poder ser usados para o conhecimento em qualquer outro domínio. Podemos notar que a ideia de “suivre le vrai ordre, et [...] dénombrer exactement toutes les circonstances de ce qu’on cherche”6 transcende a filosofia da matemática de sua época, e Descartes declara que espera poder aplicá-los “aussi utilement aux difficultés des autres sciences, que j’avais fait à celles de l’algèbre”7 (Descartes, 1997). Podemos também sugerir que a concepção analítico-matemática conjugada ao segundo e ao terceiro preceitos pode haver oferecido elementos fundamentais para arcabouços conceituais como os dos balanços de despesas do Tableau Économique proposto por Quesnay no século XVIII (Denis, 1990) e, mais tarde, da abordagem sistêmica como conceituada por von Bertalanffy (1950). Há alguns elementos dessa época sobre os quais pode ser útil refletir. Descartes compartilha com contemporâneos importantes como Kepler (1609) e Galileu (Galilei, 1973) a dupla aspiração de tirar as máximas consequências da observação – sempre pontual, particular – e incluir cada descoberta num quadro mais geral, alguma mathesis universalis, que não se declarava substituta da teologia, mas abarcava, qualquer que fosse a razão, dimensões que poderíamos chamar de cósmicas ou ontológicas, conforme apontam Russell (1969) e Buzon (1997). Sua teoria sobre o conhecimento seria tanto mais respeitada e melhor sucedida quanto mais seu método permitisse controlar as condições de observação fragmentando (dividindo) e isolando objetos de estudo particular. Porém, a amplitude da validade de qualquer teorização ou generalização dependeria tanto das necessidades e das escolhas iniciais de fragmentação quanto das explanações e inferências 6 7

“ seguir a verdadeira ordem e [...] enumerar exatamente as circunstâncias do que se busca”. “de forma tão útil às dificuldades de outras ciências como eu havia feito no caso algebra”.

feitas a partir dos experimentos sobre objetos particulares: de uma forma geral, as forças por trás desses movimentos não parecem favorecer muito a articulação entre domínios do conhecimento desde essa época. O contexto histórico costuma ser um elemento importante nas narrativas sobre teorias e filosofias como a cartesiana. Descartes é valorizado, em geral, contra o pano de fundo do apagar de uma idade de trevas e das reações à teoria heliocêntrica, porém, também é possível vê-lo no quadro do movimento de preeminência burguesa sobre as estruturas feudais (Sartre, 1987). Isso pode ser interessante para lembrar tanto das tensões que pioneiros como Descartes viveram quanto dos progressos da especialização técnica e industrialização que corroboraram. Para terminar, notemos que o foco da proposta – “chercher la vraie méthode pour [...] la connaissance” – concebe método como uma série de passos e não como uma teoria ou um arcabouço teórico-conceitual sobre a própria natureza do conhecimento. Isso dito, devemos sempre esperar que a fronteira entre método e teoria possa ser tênue. A proposta que se iniciou com a dúvida sistemática e com “je pense, donc je suis” enfrenta, às vezes, grande resistência para reunir cientistas de campos muito diferentes, a começar pela separação do “eu” pensante do resto da natureza. Na realidade da articulação interdisciplinar, o programa cartesiano pode servir como exemplo de a visões reducionistas e mecanicistas, que podem enveredar pela “teoria de que os animais eram autômatos” e têm “dificuldades com o livre arbítrio” (Russell, 1969). Pode ser útil postular que, na era em que a problemática ambiental se autonomiza, esse programa pode não estar muito interessado nos problemas que se confrontam com os impasses de que “se a História me escapa, isso não decorre do fato de que não a faço: decorre do fato de que o outro também a faz” (Sartre, 1987) ou da natureza do “impacto prático das ciências” quando se considera o papel do agente humano conhecedor (Giddens, 2001). A abordagem cartesiana, centrada no método para conhecer, pode ser contrastada com outra concepção clássica, a de Auguste Comte sobre a dependência entre o conhecimento dos diferentes domínios científicos: [para determinar] a dependência real entre os diversos estudos científicos [...] é possível classificá-los em um pequeno número de categorias [...] colocadas de tal forma que o estudo racional de cada categoria se fundamente sobre o conhecimento das leis [...] da categoria precedente e se torne o fundamento do estudo da seguinte [...] de onde decorre [a] dependência sucessiva [dos fenômenos observáveis] (Comte, 2013).

Nessa proposta, a construção do conhecimento científico – notemos, referente aos fenômenos observáveis – é concebida como um processo articulado e interdependente, que ao mesmo tempo pressupõe que as categorias descobertas ou formuladas em uma disciplina lhe sejam específicas. Nessa concepção, formas de reducionismo inclinadas para a mecânica ou a álgebra não despertam muito entusiasmo e chegam mesmo a ser criticadas, como é o caso das concepções revolucionariamente reducionistas de Laplace (1825), consideradas por Comte (2013) um “simples jogo filosófico”. No contexto histórico-científico, a concepção comtiana procura responder à amplitude do conhecimento alcançada nos domínios que ele chama de física inorgânica – que inclui a física celeste e a terrestre, esta última formada pela mecânica e pela química, e reúne “os principais ramos dentro da ciência geral que estuda os corpos brutos” – e da fisiologia e da física social – que mais tarde admitirá ser a sociologia –, que constituem “as duas grandes seções dentro da física orgânica”. Nesse contexto, a ideia da dependência entre conhecimentos de várias disciplinas pode ser considerada mais empírica, em comparação com abstrações analítico-matemáticas mais platonianas e ideais, como em Galileu, Descartes e em vários dos grandes físicos e matemáticos dos séculos XVII e XVIII. Ao mesmo tempo, ela poderia servir de tipo ideal de articulação interdisciplinar para concepções de abordagem holística que ocorrem em várias instâncias no campo ambiental. Um aspecto importante da proposta de Comte é sua relação com a teoria dos três estados: no estado positivo ou científico, as categorias de que ele trata são parte da racionalidade científica em que se poderia fundar uma nova ordem social que superaria os estados teológico e metafísico, fundamentados no direito divino e na soberania do povo. O mérito mais imediato dessa filosofia política para a ciência provavelmente está em que ela pode ser fácil e didaticamente confrontada com outras filosofias da ciência que podem ser úteis para apreender e expor as dimensões ecológico-políticas das problemáticas ambientais. Por um lado, o programa positivo se afasta de algumas questões empíricas clássicas que não podem ser esquecidas no campo ambiental, relativas à disputa pela terra e por recursos escassos, ou ao entrelaçamento entre ordem social e relações sociais, como aparecem, por exemplo, em Machiavelli, Hobbes ou Montesquieu. Esse afastamento pode levar em particular a eludir a questão dos conflitos ambientais (Alonso & Costa, 2002), central para as articulações interdisciplinares mais transversais. Por outro lado, essa filosofia da ciência pode ser contrastada com visões empíricas como a de Thomas Malthus, que considera que salários acima das necessidades naturais básicas ou

programas de transferência de renda terminam por subtrair riquezas dos “membros mais industriosos e dignos da sociedade”, conforme apontado por Russell (1969) e Harvey (1974); de Friedrich Nietzsche, que se interessa pela realidade das “forças irracionais que mobilizam os homens” (Scott, 2006); de Pareto (1988), cuja ciência “exclusivamente científica” e livre de preceitos morais lhe permitiria demonstrar a inexorabilidade da concentração das riquezas nas mãos de elites que se digladiam e se sucedem. A discussão metódica e sistemática desses programas e questões em nosso campo pode ser justificada porque a própria filosofia da sustentabilidade tem se mostrado inalienável das questões da equidade. Nas condições de hoje, a concepção comtiana de interdependência entre disciplinas mostra limitações sérias, seja isso devido ao processo contínuo de especialização, seja porque o progresso técnico-científico não pode contar com nenhum tipo de programa unificador que articule a priori os vários domínios e campos técnicos e científicos. Ao observar o trabalho científico, é impossível não se deparar com a grande fragmentação disciplinar associada a histórias de conceituação e de desenvolvimento que podem ser tanto mais independentes quanto mais separadas forem suas disciplinas. Observemos que, mesmo nos limites de uma única disciplina, o conhecimento nem sempre é monolítico, e qualquer campo disciplinar pode admitir teorias e interpretações não hegemônicas. Frequentemente é útil contar com o recurso de “acentuação unilateral de um ou vários pontos de vista” (Weber, 2005), seja com o propósito de abstrair uma classe de objetos pela valorização de apenas algumas de suas características, seja para delinear uma hipótese que não pode ser validada ou refutada num dado momento. As duas concepções acima sobre o problema da articulação do conhecimento científico – uma mais focada no método e outra na natureza interdependente do conhecimento – representam duas visões “clássicas” que influenciaram e influenciam em muito nossas aspirações de articulação interdisciplinar. Elas compartilham o mérito de haver fornecido referenciais para o trabalho científico como um todo e também o ideal de formas de construção do conhecimento científico que a própria fragmentação disciplinar termina por subverter. De fato, a fragmentação disciplinar que nos aflige não é resultante de nenhum programa de especialização originado de uma totalidade compartilhada por várias ciências, mas, antes, decorre de nosso próprio sucesso em providenciar respostas – frequentemente de maneira ad hoc e “desarticulada” – a inúmeros problemas que colocamos e que nos são colocados, sem partir de nenhuma completude do conhecimento. Não se trata, obviamente,

de demonstrar que a unidade do conhecimento científico ou a universalidade de certos métodos analíticos são impossíveis ou inexequíveis. Nossa intenção é apenas a de considerar o fato da fragmentação do conhecimento atual e as possibilidades oferecidas pelos vários tipos de articulação interdisciplinar de que podemos dispor. No que diz respeito especificamente ao campo ambiental, vamos postular que a fragmentação disciplinar é inseparável da diversidade de perspectivas teóricas, apontada por vários autores. Essa diversidade aparece no contexto de nosso trabalho de pesquisa, mas também reflete as condições como o próprio mundo social pode conceituar o problema ambiental para si mesmo.8 Sem a intenção de generalizar, é útil ter em mente duas dimensões de articulação interdisciplinar: uma relacionada à diversidade de categorias, concepções metodológicas e teóricas admitidas nas várias disciplinas e outra às dimensões sociais e políticas da questão clássica das disputas por recursos percebidos como escassos ou pelos efeitos da degradação ambiental sobre a ordem social. No primeiro caso, o objeto “ambiente” poderia servir duplamente como arquétipo e evidência refutatória do programa comtiano positivista: arquétipo quando um estudo busca articular conhecimentos sobre as “partes” interdependentes que compõem o “ambiente”, evidência para refutação quando a diversidade ou incompatibilidade teórica e as incertezas colocam em dúvida a possibilidade de prever. No segundo, que pode rapidamente fugir aos limites deste trabalho mas é útil manter em mente, o problema de como tratar das dimensões sociais e políticas pode levar à questão de onde tratar dessas questões: no campo científico, no campo dos argumentos técnicos porém expostos a uma audiência ampliada ou no próprio campo político, em que cada parte hábil pode recorrer a seus próprios especialistas. Nosso ponto de vista é que essa diversidade de perspectivas conceituais e teóricas tem implicações tanto maiores quanto mais se reivindicar uma articulação das ciências naturais e sociais para compreender ou responder à crise ambiental. Esse problema tem pelo menos dois aspectos relevantes: primeiro, a multiplicidade de perspectivas teórico-metodológicas admitidas nas ciências sociais contemporâneas pode representar um obstáculo sério para tratar do problema em conjunto com as ciências naturais, como vemos, por exemplo, em Liverman e Costa (2008) e Alves (2012a; 2012b). 8

Cf. Harvey (1974, Rhoads (1991), Mortimore (1993), Giddens (2001; 2002), Latour (2004), Montibellier Filho (2008) e Alves (2012a; 2012b).

Por outro lado, o desenvolvimento do campo ambiental tem levado a refletir cada vez mais e buscar perspectivas em outros campos de articulação interdisciplinar, perspectivas que são enriquecedoras para debater o problema no âmbito mais imediatamente crítico: o metodológico. Podemos citar, como exemplos de subsídios que podem ser oferecidos por essas reflexões: Oliveira Filho (1976), que propõe uma reconstrução da relação entre os sistemas teóricos e de verificação e o domínio metateórico, este decorrente da própria diversidade de fundamentos lógicos, epistemológicos e ontológicos que precondicionam a concepção ou a escolha de um método; Lambright (1998; 2008), que recapitula diversas dimensões políticas da relação governo-ciência e, em particular, da Mission to Planet Earth da Agência Espacial Norte-Americana (Nasa) – componente importante das pesquisas em mudanças globais – e sugere a necessidade de uma variedade de critérios e estratégias para reduzir a fragilidade dessa relação; van Kerkhoff (2005), que analisa o conceito de “integrated research” para explorar como o ele ultrapassa o campo científico e pode ser útil também no campo político-administrativo ambiental – “environmental policy” no original –, sendo, ao mesmo tempo, ambíguo; Pohn (2005), que reconhece o desafio da colaboração entre cientistas naturais e sociais, mas alerta que essa colaboração pode se restringir a apenas uma divisão de tarefase reivindica um maior entusiasmo pelo princípio de articulação interdisciplinar pelas instâncias de gestão da pesquisa; Pohn (2008) e Jahn et al. (2012), que postulam várias dimensões para o conceito de transdisciplinaridade e consideram sua importância para a articulação com a sociedade; e Khagram et al. (2010), que propõem considerar diferentes tipos de teorias, filosofias do conhecimento e estratégias de pesquisa que são admitidos nas diversas disciplinas que tratam do ambiente. Desta breve revisão do problema da articulação interdisciplinar, vamos reter as ideias de que a fragmentação do conhecimento científico é resultante tanto da especialização e da divisão do trabalho no campo científico quanto da disposição de responder aos inúmeros problemas que nos são colocados. Nos dois casos, não foi institucionalizada nenhuma forma de continuidade ou totalidade conceitual ou teórica, mas foram mantidos e respeitados os princípios do debate aberto, junto com regimentos de estruturação – em departamentos, universidades, institutos de pesquisa – mais ou menos permanentes no mundo moderno. A diversidade nos planos conceitual, metodológico, teórico e mesmo político-científico acarreta um desafio metodológico considerável, mas podemos admitir que ela não deve causar frustrações ontológicas ou

epistemológicas insuperáveis, como mostram vários progressos, muitos dos quais no campo ambiental. Consideremos antes que, do desafio da diversidade no plano conceitual e teórico, poderíamos reconhecer um certo progresso na diversidade de problemas, alcançado através de diferentes tipos de compromissos na articulação disciplinar, alguns dos quais tratados na próxima seção. Tipos de interdisciplinaridade Ao analisar a diversidade de problemas a que o campo técnico-científico procura responder, encontramos toda uma gama de desenvolvimentos em que a natureza, o grau e a dinâmica de construção da articulação interdisciplinar são diferentes, o que tem servido de inspiração para diferentes tipologias de interdisciplinaridade, segundo várias perspectivas. Nosso ponto de partida serão os tipos multi-, inter- e transdisciplinar – muito citados e, por isso, de importância prática mais imediata –, que iremos recapitular e complementar ligeiramente buscando distinguir o grau até o qual categorias e conceitos podem se originar e entrelaçar nos processos de discussão de problemas específicos ou em iniciativas formais de articulação interdisciplinar. Obviamente, nossos tipos de interdisciplinaridade não são nem únicos nem originais. A literatura apresenta várias tipologias de interdisciplinaridade que têm como foco o grau de integração ou justaposição teórico-conceitual, as práticas adotadas em trabalhos que envolvem várias disciplinas, os propósitos da interdisciplinaridade, ou, ainda, que tomam a própria interdisciplinaridade como questão teórica, metodológica, político-científica, política, educacional, discursiva, etc.9 Para fins práticos, distinguiremos seis tipos de articulação interdisciplinar a partir dos usuais multi-, inter- e transdiciplinar, procurando considerar como se desenvolve o conhecimento no domínio teórico-conceitual e no próprio processo de articulação de ideias e de conhecimentos. Eles serão chamados disciplinaridade dominante ou induzida, especialização híbrida ou cruzada, multidisciplinar, interdisciplinar, transdisciplinar linear e transdisciplinar reflexivo (Tabela 1).

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Cf. Pohl (2005), Van Kerkhoff (2005), Klein (2006), Barry (2008), Klein (2008), Pohl (2008), Stokols et al. (2008), Broto et al. (2009) Huutoniemi et al. (2010), Klein (2010), De Alvarenga et al. (2011) e Jahn et al. (2012).

Tipo

Problema/objeto de estudo

Exemplo no campo ambiental

Outros exemplos

Disciplinaridade dominante ou induzida

Objeto/problema disciplinar determina contribuições de outras disciplinas.

Monitoramento ou observação remota de variáveis ambientais.

Observação de parâmetros médicos com meios eletrônicos.

Especialização híbrida ou cruzada

Objeto/problema de uma disciplina absorve referências teórico-conceituais de outra.

Estudos ecológico-políticos.

Estudos sociológico-políticos.

Multidisciplinar

Objeto/problema reúne elementos de várias disciplinas, tratados separadamente.

Análise de impactos ambientais.

Laudo médico multidisciplinar.

Estimativa de produtividade de ecossistemas (conceito integrador – troca de matéria e energia).

Estudos de marcadores na investigação de distúrbios psiquiátricos.

Estudos das associações entre aerossóis e precipitação.

Estudos das respostas do cérebro à música nas neurociências.

Coprodução dos conceitos de detecção e atribuição das mudanças climáticas.

Investimentos em alta tecnologia envolvendo múltiplos atores.

Interdisciplinar

Transdisciplinar linear

Transdisciplinar reflexivo

Objeto ou problema inclui elementos de várias disciplinas, articulados por um ou mais conceitos integradores. Objeto/problema inclui a definição de conceitos fundamentais ou do próprio objeto como resultado do trabalho conjunto de várias disciplinas. Objeto/problema na sobreposição dos campos técnico-científico e político.

Tabela 1: Tipos de articulação interdisciplinar numa concepção orientada pela “acentuação unilateral de um ou vários pontos de vista”.

Esses tipos de articulação, que vamos buscar conceber como “ideais” no sentido de serem enunciados pela “acentuação unilateral de um ou vários pontos de vista” (Weber, 2005), não precisam se apresentar de forma completa e acabada e podem em certo grau entrelaçar-se ou sobrepor-se. Nossa premissa é que, pactuando-os segundo o princípio do tipo ideal weberiano, eles ajudarão a reconhecer nuances e diferenças no que diz respeito

à preeminência de uma ou outra disciplina ou técnica na definição de um problema, ao grau de entrelaçamento de conceitos e teorias entre várias disciplinas e à fecundidade com que podem ser efetivamente produzidos conceitos inéditos, seja no âmbito estritamente técnico-científico, seja no campo de articulações entre a técnica, a ciência e o mundo político. Notemos que nossa intenção não é definir uma tipologia abrangente e acabada, mas apenas, partindo do conceito de tipo ideal e de alguns tipos frequentes na literatura, ressistematizar algumas articulações que aparecem cotidianamente no campo de pesquisas ambientais. O tipo da disciplinaridade dominante ou induzida pressupõe que o problema ou objeto em estudo seja definido no seio de uma disciplina técnica ou científica capaz de estabelecer e especificar os conceitos e parâmetros necessários para definir, pelo menos num estágio inicial, a contribuição de outras especialidades. Em nosso campo, podem-se identificar casos de disciplinaridade induzida em que uma especialidade ou conjunto de especialidades científicas especificam requisitos para que disciplinas mais “técnicas” desenvolvam instrumentos ou efetuem medições ambientais (Tabela 1). Também podemos reconhecer casos em que, em domínios mais puramente tecnológicos, são induzidas investigações científicas de várias especialidades que utilizam e validam instrumentos de alta tecnologia, como sensores de satélites de observação da Terra. Vamos considerar que, neste tipo ideal de articulação de disciplinas, o conhecimento de todas as especialidades geralmente é comensurável graças à existência de um repertório compartilhado e suficientemente amplo entre disciplinas, frequentemente passíveis de expressão como requisitos técnicos, que autoriza a solução de um problema definido no campo disciplinar indutor. No tipo de especialização híbrida ou cruzada, assume-se que uma disciplina assimila referências teóricas, lógicas e conceituais de outra disciplina ou domínio do conhecimento para especializar ou refinar o conhecimento em seu próprio campo. Esse tipo ideal de articulação nos interessa por mostrar um processo de fertilização de um domínio científico por outro, que pode ocorrer com ou sem mecanismos de articulação formalmente instituídos. Ele é possível em particular graças ao encontro cotidiano de ideias e ao debate permanente, seja programático ou informal, seja de inclinação orgânica ou eclesiástica, de que o campo acadêmico tem conseguido não se privar e que, se não desfragmenta e articula as disciplinas, incentiva a associação entre ideias e conhecimentos. Em alguns casos, esse tipo de entrecruzamento pode ser entendido como simples analogias e metáforas que emprestam conceitos entre disciplinas ou campos do conhecimento

sem maior compromisso teórico ou metodológico.10 Em nosso campo, acreditamos ser útil considerar as referências conceituais, teóricas e metodológicas da economia política e das ciências políticas no desenvolvimento do campo da ecologia política (Tabela 1), que busca reconquistar as dimensões políticas da problemática ambiental.11 Os estudos no campo da ecologia, nessa visão, passam a considerar as lógicas de disputa pelos recursos da natureza ou pela distribuição ou apropriação desses recursos. O tipo multidisciplinar pressupõe um grau de articulação teórico, metodológico ou conceitual relativamente incipiente, e é útil para toda uma gama de problemas em que não se exigem mais que contribuições individuais, conceitual e tecnicamente válidas de especialidades diferentes. Em alguns casos, estudos multidisciplinares podem abstrair a questão da comensurabilidade do conhecimento entre as várias disciplinas. Em nosso campo, esse tipo pode ser exemplificado pelas análises de impacto ambiental (Tabela 1), que, deve-se notar, geralmente respondem a exigências legais ou políticas. No caso do Brasil, essas exigências fazem parte da própria Constituição Federal de 1988, que requer o “[estudo prévio de impacto ambiental, a que se dará publicidade] para instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente” (Art. 225). Pode-se observar que as análises de impacto ambiental podem ser objetos multidisciplinares – portanto, de grau modesto de articulação interdisciplinar – porque isso é admissível no plano de exigências legais já instituídas. Ao mesmo tempo, elas podem ser concebidas como objetos de articulação bem mais complexos, seja por justificarem reivindicações – mais notadamente no campo acadêmico – de abordagens interdisciplinares sistêmicas ou holísticas, seja porque, ao serem submetidas a alguma forma de escrutínio público, elas podem expor elementos de uma concepção transdisciplinar reflexiva, como descrito abaixo. Na nossa definição do tipo interdisciplinar, a ênfase é colocada na existência de um ou mais “conceitos integradores” (Tabela 1) que, acreditamos, predispõem certas classes de estudos ambientais a uma dinâmica própria de articulação interdisciplinar que se privilegia ou se organiza ao redor dos conceitos adotados. Nossa premissa é de que, graças ao conceito integrador, as barreiras representadas por diferentes sistemas teóricos, 10 Ver, por exemplo, Buckley (1971) sobre analogias entre sociedades, mecanismos e organismos em Vilfredo Pareto e Herbert Spencer. 11 Cf. Alimonda (2002), Alonso & Costa (2002), Alier (2007). Para uma compreensão similar da sociologia política ver, por exemplo, Klein (2010).

empíricos, lógicos, epistemológicos, semiológicos ou ontológicos podem ser rebaixadas e a articulação entre disciplinas pode ser iniciada no patamar oferecido pelos conceitos integradores, que oferece a principal referência para explorações especulativas entre disciplinas. Em nosso campo, a existência de conceitos integradores oferece ponto de partida privilegiado para os estudos da dinâmica de ecossistemas, do sistema terrestre, e, de uma forma geral, dos estudos em que um processo de mudança – quaisquer que sejam as escalas temporais e espaciais – é o foco principal. Notemos que o tipo ideal pressupõe que o conceito integrador deve transcender ideias abstratas como “interação” ou “abordagem sistêmica”, que não oferecem termos concretos de comensurabilidade para a articulação de ideias e conhecimentos. Exemplos de “conceito integrador” são oferecidos por ideias como a de troca de massa e energia em estudos do sistema terrestre,12 ou da associação geomorfologia-paisagem em alguns estudos integrados da transformação da paisagem, como em Tricard (1994). No tipo interdisciplinar, o “conceito integrador” oferece um ponto de partida para iniciar a colaboração entre várias especialidades e uma referência para pensar um problema ao longo de todo um estudo. Ele não pressupõe entretanto que um estudo deva engendrar novos conceitos, teorias ou interpretações que não existam nos domínios disciplinares originais: a investigação de um “sistema” pode provocar dúvidas e incentivar reinterpretações ou reteorizações sobre um objeto-sistema, mas isso não é obrigatório. O tipo transdisciplinar linear distingue-se, no modelo apresentado aqui, pelo compromisso de procurar e criar novos conceitos, processos, teorias, ou interpretações, inicialmente inexistentes num conjunto de disciplinas que tratam de um dado objeto ou problema. Vamos propor que a pesquisa transdisciplinar dessa natureza pode aparecer, em nosso campo, como resultado da evolução natural de estudos do tipo interdisciplinar, como nos casos dos avanços do conhecimento sobre o papel de compostos orgânicos voláteis na ecologia de espécies ou na interação entre a biosfera e a atmosfera, como em Laothawornkitkul et al. (2009), ou sobre a relação entre aerossóis e nuvens, como em Graf (2004) (Tabela 1). De certa forma, podemos dizer que a transdisciplinaridade linear se alimenta da própria incomensurabilidade do conhecimento e pode levar ao surgimento de novas disciplinas ou especialidades quando um objeto, problema ou desafio técnico se autonomiza, criando um novo domínio de conhecimento. 12

Cf. Alves (2012a; 2012b).

O tipo transdisciplinar reflexivo é concebido como uma ampliação da transdisciplinaridade linear em que novos conceitos, processos, teorias, ou interpretações podem surgir nos casos em que um problema ou objeto seja sujeito ao escrutínio tanto no campo técnico-científico quanto no político. Esse tipo ideal pode ser visto como uma forma de conceber a transversalidade e a reflexividade do conhecimento envolvendo ambos esses campos,13 como pode ocorrer nos casos das problemáticas ambiental, da saúde, da educação e no campo do desenvolvimento tecnológico com articulações político-governamentais ou político-empresariais importantes. Ele pressupõe modalidades de geração do conhecimento em que a fragmentação disciplinar pode se somar à segmentação, às assimetrias e à estratificação próprias ao campo social e refletir não apenas critérios de demarcação do campo científico, mas também as condições de mobilização do mundo social. No que diz respeito mais especificamente ao campo ambiental, vamos sugerir que é justamente no domínio da transdisciplinaridade reflexiva que a crise ambiental mostra a maior mobilização de recursos e toma a forma de processos de ação social com todas as suas consequências. Pode-se conceber esse tipo de transdisciplinaridade pode ser a vontade de superar ou transgredir os" por "como resultante da composição de forças que levam a superar ou transgredir os limites da incomensurabilidade de conceitos e teorias entre disciplinas técnicas e científicas, mas também entre o campo técnico-científico e o da mobilização e da decisão políticas. Deve-se notar que a intenção de superar esses limites é frequentemente admitida no campo científico, mas ele não precisa – ou não deve – ter como consequência única o âmbito do fornecimento unidirecional de subsídios para processos políticos, e pode na verdade ser entendida como um sintoma de formas peculiares de produção do conhecimento sobre a problemática ambiental que transcendem os muros da academia. Esse tipo ideal, no nosso entendimento, não tem como motivação garantir protocolos fixos para o fluxo unidirecional de dados da parte técnico-científica para os campos das mobilizações e decisões. Antes, ele procura colocar a questão sobre como conceituar a própria produção de conhecimentos – e mesmo o papel da ciência – quando esta envolve processos de mobilização política – no campo político amplo – e de tomada de decisões – num âmbito mais político-administrativo –, admitindo a

13

Para exemplos, Ver Beck (1992), Funtowicz & Ravetz (1993), Gibbons et al. (1994), Giddens (2001), Latour (2004), Jasanoff (2006), Hulme (2009), Pohn (2008) e Jahn et al. (2012).

possibilidade de produção de conhecimentos no âmbito desses processos e não apenas nos domínios técnico-científicos. Tal questão pode ser tratada a partir de perspectivas teóricas muito distintas sobre o papel da ciência que por si só acarretam consequências políticas e merecem ser elucidadas. Elas podem refletir, por exemplo, os pressupostos da engenharia social “gradual” (“piecemeal”) de Popper (1974), da sociedade do risco (Beck, 1992), das condicionantes da autonomização da questão ambiental e do status particular do movimento ambientalista, como em Carvalho e Brussi (2004), Castells (1999) e também Beck (1992), da identidade e das diferenças entre situação social e consciência social, como em Sartre (1987), Giddens (2002) e Martins (2002) da dupla hermenêutica (Giddens, 2001), da co-produção do conhecimento (Jasonoff, 2006) e da ciência pós-normal (Funtowicz & Ravetz, 1993), que tem encontrado referências na literatura, como vemos em Saloranta (2001), Hulme (2009) e Alves (2012a). Para terminar, consideremos que a questão sobre as consequências da degradação e das mudanças ambientais deve considerar conceitos como os de risco (Beck, 1992) e das incertezas que cercam a crise ambiental,14 e requerer, de um lado, a distinção entre risco, perigo e contingência (Bruseke, 2007) e, de outro, a contínua reavaliação e regeneração dos riscos no quadro da modernidade tardia. Como resultado, a totalidade das consequências da degradação e das mudanças ambientais pode terminar por ser intangível no sentido de nunca ser plenamente alcançável, e que essa forma particular de intangibilidade pode levar, na nossa concepção, a desafios transdisciplinares específicos. Nessa concepção, novos desafios transdisciplinares podem surgir tanto em função das incertezas e da intangibilidade dos riscos quanto da percepção dos custos de mobilização ou de tomada de decisão – evidentemente não restritos às dimensões ambientais e assimétricos em sua distribuição. A pesquisa interdisciplinar e a crise ambiental Este trabalho considerou que a pesquisa no campo ambiental compartilha com um grande número de domínios técnico-científicos uma série de progressos e de dificuldades na investigação de problemas e objetos que ultrapassam os limites da especialização disciplinar. Considerou igualmente que a diversidade e a amplitude dos problemas ambientais tem 14 Ver Hulme (2009) e Alves (2012a) para o caso das incertezas sobre as mudanças climáticas globais.

se beneficiado, de uma forma geral, de diversas modalidades e tipos de articulação interdisciplinar. Ao mesmo tempo, a percepção da crise ambiental representa uma especificidade de nosso campo no que diz respeito tanto à avaliação que os especialistas fazem da importância social de seu trabalho e das formas como o mundo social pode absorver seus resultados quanto à avaliação atribuída à crise e ao próprio papel da técnica e da ciência no seio dos processos de mobilização e de decisão. Nessa visão, tratar dos efeitos da crise ambiental – que não devem ser confundidos com os impactos diretos da degradação e das mudanças ambientais – pode exigir explorar os significados de processos ecológicos, parâmetros da ecologia humana, incertezas nos estudos ambientais, mas, também, daquilo que pode ser contingente, imponderável e intangível na ordem social e nas relações sociais. Essa posição procura refletir sobre qual é a amplitude dos processos de articulação interdisciplinar e de produção de conhecimento no contexto da crise ambiental, que a pesquisa interdisciplinar tenha ou não tenha alcançado progressos consensuais. Especificamente com respeito às reflexões no domínio da academia, é possível encontrar esforços importantes que buscam planos metodológicos amplos, em que o objeto da crise possa ser concebido sem as amarras de perspectivas reducionistas ou do pressuposto de formas de interdependência a priori entre disciplinas: a concepção de modos de transdisciplinaridade que admitem a produção de conhecimentos extramuros pode constituir um resultado significativo desses esforços. Ao mesmo tempo, quando acompanhamos os processos de mobilização, decisão e institucionalização que respondem à crise ambiental, podemos encontrar indicações da latitude dos processos de produção de conhecimento que se relacionam aos efeitos da crise ambiental e que poderão ser explorados para conceber novos planos metodológicos e teóricos no futuro. Para concluir, podemos nos referir rapidamente a alguns detalhes do quadro institucional da Convenção de Viena para a Proteção da Camada de Ozônio, da Convenção da Diversidade Biológica e da Convenção Quadro das Mudanças Climáticas, para explorar algumas alternativas de produção de conhecimento em resposta à crise ambiental. Em primeiro lugar, notemos que as três convenções constituem exemplos de como as ciências e as técnicas puderam oferecer evidências e subsídios que redundaram em resultados institucionais efetivos de âmbito internacional. Em segundo lugar, nosso interesse é observar que a amplitude das contribuições técnico-científicas pode ser muito variada.

A Convenção de Viena e seu Protocolo de Montreal possivelmente representam o exemplo mais completo de sucesso institucional envolvendo a descoberta de um elemento da crise ambiental pela ciência, a possibilidade de sua mitigação por avanços técnicos e o estabelecimento de compromissos entre nações, que efetivamente permitiram descontinuar a fabricação dos gases que afetam camada de ozônio. A Convenção da Diversidade Biológica permitiu conceber e construir um quadro institucional relacionado a um elemento-chave da crise ambiental – a perda da biodiversidade –, sobre o qual a biologia e a ecologia provavelmente forneceram as evidências mais completas e as referências conceituais iniciais. Ao mesmo tempo, o cerne da Convenção é construído a partir de um quadro conceitual que faz referência ao uso sustentável e à proteção da diversidade, e, igualmente, à repartição justa e equitativa de recursos genéticos, respeitada a soberania de cada nação, o que expõe uma latitude de conceitos que só adquirem significado pleno em planos políticos particulares. Por sua vez, a Convenção do Clima provavelmente é o exemplo mais abrangente de produção de conhecimentos sobre um problema ambiental, que inclui, de um lado, um corpo técnico-científico multidisciplinar e internacional de grande prestígio – o Intergovernmental Panel on Climate Change (IPCC) – e, de outro, quadros políticos qualificados e irredutíveis no que diz respeito à articulação das as dimensões técnicas, científicas e políticas das mudanças climáticas. No contexto das negociações dessa convenção, o corpo técnico-científico tem se mostrado capaz de fornecer subsídios aceitos como irrefutáveis para dois elementos fundamentais para a exequibilidade de toda a política da Convenção – a detecção das mudanças climáticas e a atribuição das mudanças a fontes antropogênicas. Ao mesmo tempo, quando consideramos o objetivo principal do acordo – estabilizar as concentrações dos gases de efeito estufa em níveis que não sejam prejudiciais para o sistema climático –, encontramos uma das histórias mais bem sucedidas de retroalimentação da própria ideia da crise ambiental, que pode ser utilizada para investigar a natureza reflexiva do problema climático. Finalmente, deixemos claro que, nos três casos, nos limitamos a considerar a disponibilidade de recursos técnico-científicos para a produção de evidências que, em última instância, satisfaziam a questões que são formuladas, reformuladas e reinterpretadas no seio do próprio campo político. Nesse campo, os processos de mobilização e de decisão, ou o próprio processo de construção institucional, não são isentos de assimetrias, seja entre as nações, seja no plano dos atores e das organizações que

personificam, em distintas escalas e condições, a mobilização dos recursos técnicos e científicos segundo prerrogativas próprias.

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