Palacio da Ajuda, harmônico incompleto

August 23, 2017 | Autor: Tiago Rodrigues | Categoría: Palace, Castles and Palaces of the 16th to 18th century in Central and Southeastern Europe
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Descripción

Tiago Rodrigues, Janeiro de 2015
O Palácio Nacional da Ajuda – Harmónico incompleto
Depois do profético 1 de Novembro de 1755, o Rei D. José (1750-1777) instalou-se num complexo de tendas e madeiras no Alto da Ajuda e, durante o seu reinado foi ali que, no epílogo do iluminismo, a Casa de Bragança governou. Já no reinado de D. Maria I (1755-1816), a mesma construção perdeu a sua importância uma vez que a corte passou a residir no palácio de Queluz, e em 1794 um incendio acabou por destruir toda a estrutura, sobrevivendo apenas alguns registos de alvenaria como, serve de exemplo, a torre do galo e o jardim das Damas. Surge, com isto, a necessidade de erguer um imponente edifício no mesmo local. É assim que sobrevém, o projecto de, um majestoso paço onde predominava um traço, ainda, imbuído no gosto barroco, que se iniciou em 1796, mas logo parou em 1802 de modo a ser conduzido para um neoclassicismo, que curiosamente, não deixar de lado a imponência do que já havia sido edificado, e que é comprovado desde logo na fachada principal virada a nascente, limitada por dois torreões, e que apresenta linhas rectas ritmadas pela alternância de janelas e pilastras bem como um corpo central, falsamente saliente, onde se evidencia uma arcaria tripla, um varandim e um frontão triangular.
Factores, de natureza diversa, foram tipografando um compasso intervalado ao decorrer da obra do edifício e até hoje o edifício permanece inacabado. Já na década de 1840 evidenciava-se o abandono do estaleiro sendo mesmo classificado de "ruinas modernas" pelo príncipe Felix Lichnowski e, por William Thackeray como "um palácio com os cotovelos rotos". Se o turbulento reinado de D. Maria II não trouxe a atenção necessária para o edifício, e o mesmo aconteceu durante o do jovem D. Pedro V, foi com a repentina sucessão de D. Luís I em 1861, que o Paço da Ajuda começou a ganhar a atenção que merecia, sendo alvo de campanhas de aperfeiçoamento.
Mas, deve-se à sua esposa, a jovem Rainha D. Maria Pia, favorecida por um gosto requintado e moderno, que incutida pelos estilos seguidos na França da 2º metade do século XIX coordenou as reformas indispensáveis que não só perfilharam os, então, recentes padrões de conforto, privacidade e higiene, característicos da mentalidade burguesa do século XIX, como também transmitiu para os corredores e salões do edifício o esplendor reclamado em 1844 por Thackeray. Foi no ambiente do remodelado Paço que, durante quase meio século (1861-1889), ali se desenvolveu o quotidiano da Família Real, preenchido por obrigações oficiais nos salões do andar nobre, a par de actividades privadas de cada membro da Família Real, nas múltiplas salas do andar térreo.
Após a morte de D. Luís I, a 19 de Outubro de 1889, D. Maria Pia perseverou o Palácio da Ajuda como a sua residência oficial, até 1910, onde viveu com o filho mais novo, o infante D. Afonso e aquando da instauração da 1º República e consequente exilio da Família Real, o palácio foi encerrado e depois de um período de visitas com acesso restrito, de 1940 até 1968, facultadas apenas a quem fosse dado um "cartão de autorização para visita ao Palácio Nacional da Ajuda", emitido pela Direcção Geral da Fazenda Pública, abriu ao público a 20 de Agosto de 1968.
Hoje, percorrer aqueles corredores, salas e salões é entrar numa viagem no tempo até ao século XIX onde cada elemento era um pormenor a ter em consideração. E é preciso tempo, muito aliás, para vermos e deliciarmos cada minúcia, pois dos parqués, aos tectos passando pelos estuques, sem esquecer aspectos tao banais como os puxadores das portas, cada sala é uma realidade amparada no sonho. E assim, com um dos maiores acervos de Lisboa, afluem neste "Palácio-Museu" pintura; escultura; ourivesaria, em salas que apresentam o mobiliário, as cerâmica, os têxteis, e os cristais como se ali ainda habitasse um Rei, uma Rainha e dois pequenos Príncipes. Neste caminho, evidencia-se é claro, no piso térreo, a sala de Jantar da Rainha que apresenta a mesa pronta a receber. Mas, agora é o visitante a ser recebido e é ele que se pode deliciar com os detalhes e a delicadeza como aqueles registos decorativos chegaram até nós.






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