Música cantada como recurso transdisciplinar no ensino de LE

August 18, 2017 | Autor: Josiane Busch | Categoría: Music, Second Language Acquisition, Transdisciplinarity
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Música cantada como recurso transdisciplinar no ensino de LE Josiane Busch1 Polo de apoio presencial – Panambi/ RS Orientadora: Cristiane Braga Passos2 Resumo: A valorização da transdisciplinaridade no meio educacional torna-se necessária ao mesmo tempo em que esta promove o refinamento intelectual dos sujeitos. Este artigo propõe a utilização da música, neste caso, especificamente a cantada, como um dos recursos e talvez aquele que tenha maior semelhança com a proposta transdisciplinar para o ensino de LE, pois ela está entre, além e através de disciplinas, conhecimentos e culturas. Está, inclusive, além das teorias educacionais. É atemporal. Tangível por meio de instrumentos, palavras, vozes, sendo esta, quem na verdade, tange os corações, com seus sons e pausas, atuando no filtro afetivo dos indivíduos. Expandir o uso da música e atuar de modo transdisciplinar no ensino de LE é uma possibilidade que surgiu da análise da posterior execução do “Proyecto de Extensión Ganando Tiempo”. Muitos autores têm falado de seu poder tanto em sentido educacional quanto neuropsicológico. Seu uso no ensino de línguas é uma ferramenta de grande valor, não somente para os discentes, mas para professores, desta área (e por que não outras?), que também desenvolvam capacidades musicais. Aquela, que considero a musa da vida, ficou limitada ao uso da disciplina de artes, mas não impossibilitada de ter sua utilização estimulada e realizada por professores de outras disciplinas. Enfim, a própria busca de embasamento a este trabalho foi um ato transdisciplinar3. Palavras-Chave: Transdisciplinaridade, Música, Língua Estrangeira.

1. Introdução Com o intuito de fomentar uma educação que não somente instrua o aluno gramaticalmente na aprendizagem de LE (Língua Estrangeira), mas que possa apoiá-lo em seu crescimento intelectual, integral e que promova a interação e a valorização, tanto de professores, quanto de alunos, em estudos que vão além de uma segunda língua, é que trago a 1

Graduanda em Licenciatura em Letras – Espanhol a Distância pela UFPEL (Universidade Federal de Pelotas). Polo de Apoio Presencial: Panambi/ RS. Turma 2. Ano de conclusão: 2014. Instrutora de violão no Projeto Oficina de Talentos de Panambi/ RS, desde julho de 2010 (Uma parceria entre Prefeitura Municipal e Rotary que atende gratuitamente, por ordem de inscrição, a alunos de escolas públicas em turno inverso. Uma maneira de inserir música no meio educacional). Curriculum Lattes: Contato: 2

Mestre em Letras pela UCPEL (Universidade Católica de Pelotas/ RS); Doutoranda em Educação pela UFPEL (Universidade Federal de Pelotas). Curriculum Lattes: 3

Leffa (2006) ao referir-se às pesquisas sobre a aprendizagem de Língua Estrangeira expõe que: “Os pesquisadores têm uma tendência muito forte a filiar-se a um determinado grupo, adotando uma espécie de cartilha, ou catecismo, levando-os a rejeitar qualquer orientação que fuja aos preceitos dessa cartilha” (p. 4). “(...) nenhuma teoria possui todo o conhecimento necessário para explicar a aprendizagem da língua estrangeira (...) (p. 5)”. Segue argumentando que um conhecimento assim (disciplinar) é fragmentado e necessita do diálogo entre teorias diferentes por meio de uma abordagem transdisciplinar. 1

possibilidade da abordagem transdisciplinar por meio de recurso musical, como análise à posterior execução do Projeto de Extensão “Ganando Tiempo” 4, realizado como Estágio I no primeiro semestre de 2014, no Curso de Licenciatura em Letras – Espanhol à distância da Universidade Federal de Pelotas, em Panambi/ RS. O termo transdisciplinaridade pode ser razoavelmente novo, mas ao utilizar o “canto das sereias” pode, beneficamente, atuar para uma educação plena, pois a música, além de ser Arte e estar envolvida em semiologia, é também recurso indiscutível que transpõe barreiras entre as disciplinas, pois liga a própria Arte (pintura, literatura – narrativas, poesia, crítica) a si mesma, e à História e Cultura das sociedades e sua Língua, enquanto meta de LE. A música além de efeitos terapêuticos, inebriantes e de desinibição promove a comunicação e comunica.

1.1 Objetivos 1.1.1 Geral: Analisar a execução do “Proyecto de Extensión Ganando Tiempo”, com um olhar além do Pós-Método Comunicativo, um olhar Transdisciplinar e musicofílico5. 1.1.2 Específicos:  Aprofundar a pesquisa dos efeitos da música nos indivíduos e na aprendizagem de LE, crendo que esta seja um recurso transdisciplinar de poder imensurável;  Despertar nos professores de LE a busca da capacitação na área musical (cursos de instrumento e canto com certificação), visto que esta não é uma disciplina isolada no meio educacional;  Provocar os docentes ao uso da transdisciplinaridade em suas aulas de Línguas. 2. Metodologia Com o intuito de promover o diálogo e o pensamento crítico em relação ao uso da transdisciplinaridade no Ensino de LE, para enriquecimento dos indivíduos envolvidos, professores e alunos, buscou-se analisar a prática das aulas realizadas no “Proyecto de Extensión Ganando Tiempo”, criado com base no tema, Tempo, em parceria com a colega

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Este projeto encontra-se disponível em As gravações das aulas do mesmo, autorizadas pelos pais dos alunos, estão disponíveis no YouTube em 5

Suponho que possa ser assim denominado quem é “adepto” da musicofilia. Na verdade o termo “musicofilia” é empregado na Neurologia aos pacientes que após acidente ou cirurgia desenvolvem um prazer, desejo contínuo e até habilidades musicais, além de maior emotividade. Vide Referências. Sacks (2011). 2

Melissa Lander Cossio. Realizado em abril e maio de 2014, com adolescentes de 12 a 16 anos, no salão de eventos da SMEC de Panambi (no mesmo edifício onde se localiza o Polo de Apoio Presencial – UAB, e no mesmo andar de meu local de trabalho [Projeto Oficina de Talentos], espaço ao qual os alunos já estavam familiarizados, localizado à Rua Hermann Meyer, 43), onde houve a utilização de vários elementos de contextualização (poesia relacionada ao tema, vídeos de tango, flamenco, sobre o meio ambiente, o filme “O príncipe da Pérsia: as areias do tempo”, e músicas cantadas, relacionadas aos assuntos/ tema das aulas). A elaboração do projeto realizou-se, quase que totalmente, com materiais autênticos retirados da internet (imagens, vídeos, músicas, pesquisas, textos). Todas as aulas foram preparadas para o uso do PPT, que quando não contou com o funcionamento do projetor foi disponibilizado diretamente do notebook, aos onze alunos participantes, além de apostila com atividades e questões gramaticais. Ocorreram seis encontros de duas horas aula por semana. A proposta do Curso de Letras para a elaboração do Estágio foi que se partisse de um tema. O projeto foi criado com base no Pós-Método Comunicativo (porém é mais marcante sua forte estrutura transdisciplinar). Partindo de um modelo apresentado pela professora Patrícia Mussi Escobar que tratava do curto espaço de tempo para a prática das aulas de Língua Espanhola, foi que ficou latente em minha mente a ideia de Tempo. Todo o projeto procurou pautar-se neste tema. Meu trabalho profissional na área da música como instrutora de violão foi também indispensável, pois a realização do Estágio deu-se com meus alunos que já foram preparados com as músicas de antemão (letra, pronúncia, melodia e ritmo), tendo sido selecionados dentre aqueles com capacidade para a participação do mesmo. Depois de quatro meses da execução realizei um questionário simples, para saber dos alunos suas opiniões a respeito da utilização da música no ensino de LE, além de recursos artísticos, visuais históricos e socioculturais. Seguindo esta linha, este artigo buscará diversos autores que tratam do uso da música para o ensino de Línguas, e o papel desta no cérebro e na vida do indivíduo.

3. Revisão da literatura Na atualidade, uma aula de LE que não seja amparada no dinamismo entre vários recursos e conhecimentos, não resulta atrativa, não encanta e não promove uma aprendizagem eficaz. É necessário buscar conhecimentos e recursos dos mais variados para manter comunicação com os alunos e jovens de agora, pois eles são mais transdisciplinares do que supões nossa experiência de vida. Theophilo nos expõe que “o prefixo trans, remete ao que

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está entre, através e além das disciplinas”. Este termo foi cunhado primeiramente por Piaget em 1970 e suscita a necessidade de liberdade de trânsito, integração entre as disciplinas para a construção de um conhecimento mais complexo e sublime. Leffa aponta-nos a aproximação do interlocutor, além do psicológico e geográfico, utilizando-se para isso a “contribuição de várias disciplinas e de uma ferramenta de pesquisa que seja essencialmente híbrida, capaz de circular por diferentes áreas de conhecimento” (LEFFA, 2006, p. 22). Para este autor, é necessário que haja uma contextualização maior do contexto imediato e do mais distante, amparando estas ideias nas Teorias da Complexidade, as quais estão inseridas a Teoria do Pensamento Complexo, do Caos e da Atividade6. Segundo seu pensamento, é necessário partir de um objeto de estudos para as disciplinas e não o contrário, ou seja, buscar nas disciplinas o enriquecimento do objeto de estudo. Esta ferramenta híbrida para ele está justamente na Teoria da Complexidade. A música cantada, sendo imensurável em temas, pode encaixar-se perfeitamente neste hibridismo promotor de contextualização, apontado por Leffa, pois ao mesmo tempo em que parece caótica devido à sua complexidade, revela-se estruturada, organizada, múltipla em ritmos, melodias, harmonias e linguagens; ela transita entre diversos contextos, podendo aproximar sim, disciplinas e realidades. A Carta da Transdisciplinaridade em seu artigo terceiro traz: A transdisciplinaridade é complementar à aproximação disciplinar: faz emergir da confrontação das disciplinas dados novos que as articulam entre si; oferece-nos uma nova visão da natureza e da realidade. A transdisciplinaridade não procura o domínio sobre as várias outras disciplinas, mas a abertura de todas elas àquilo que as atravessa e as ultrapassa.

E no artigo décimo primeiro: Uma educação autêntica não pode privilegiar a abstração no conhecimento. Deve ensinar a contextualizar, concretizar e globalizar. A educação transdisciplinar reavalia o papel da intuição, da imaginação, da sensibilidade e do corpo na transmissão dos conhecimentos.

Com base nisto é possível afirmar que a música, neste caso a cantada, pode ser o elemento crucial nesta abertura entre as disciplinas. Elemento de contextualização. Ela está

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Teoria do Pensamento Complexo e do Caos – Segundo Leffa essas teorias “têm em comum a ideia de que nada existe ou acontece de modo isolado no universo. (...) tudo está intimamente relacionado numa cadeia de causa e efeito. Não existe um elo solto no universo; todos somos partes de uma corrente”. (p. 7). A Teoria da Atividade mostra a relação entre o indivíduo e o coletivo, a sociedade, em como os acontecimentos externos agem diretamente na construção do sujeito e sua consciência, através das memórias e acontecimentos (p. 13, 14). 4

além de si mesma. É livre e transita com e como o vento. Livre de algemas7. Atua nas esferas socioculturais, histórica, linguística, psicológico-emocional, poético-literária, (a) temporal, crítica, além da gramática; “as canções oferecem a vantagem de serem textos completos e fechados, com uma mensagem comunicativa concreta e coerente. Na música, há um léxico associativo e concentrado (...)” (SANTAMARÍA 2000 apud BOÉSSIO 2010, p. 88). Ruiz Garcia (2005) defende que a música não é somente um veículo para a prática linguística, mas também um autêntico descobrimento cultural, uma vez que língua e cultura são indissociáveis, e as canções permitem ao estudante uma imersão cultural no contexto do que está sendo abordado. (BOÉSSIO, p. 88).

A mesma autora ainda defende que: As canções podem fomentar no aluno apreço pela cultura da língua objeto e pela sua própria, permitindo uma visão transcultural e multidisciplinar que sempre resulta enriquecedora intelectual e culturalmente para alunos e professores. (GARCIA, 2005 apud BOÉSSIO, p. 86).

A música poderia ser considerada um elo perdido do ensino-aprendizagem que está sendo, ainda que um tanto tímido, resgatado? Na Idade Média, a mesma fazia parte do quadrivium das sete Artes Liberais, que almejavam formar um homem com “espírito elevado, refinamento intelectual, inteligência racional e livre”, segundo Bastos8. A música, esta infinita

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Não somente na Educação e no Ensino de Línguas a música se faz eficaz. Ela também funciona como terapia em muitas doenças, como elemento de desbloqueio, por exemplo, em afásicos (pessoas com bloqueio na fala devido a acidente cerebral). Referindo-se a estes casos, o neurologista Oliver Sacks nos diz que: embora cantar não seja uma comunicação proposital, é uma comunicação existencial muito básica (...) pode expressar pensamentos e sentimentos que em um dado momento não tem possibilidade de ser expressado pela fala” (SACKS, 2011, p. 228). A música serve como caminho, ponte para o resgate da fala nestes pacientes. A fala e a música são muito interligadas. Para ele a própria fala não é só uma sucessão de palavras na ordem apropriada. Ela tem inflexões, entonações, andamento, ritmo e melodia. (SACKS, p. 229). Steven Mithen (...) supõe que a música e a linguagem tiveram origem comum e que uma espécie de combinação de protomúsica e protolinguagem caracterizou a mente do homem de Neandertau. (SACKS, p. 141). 8

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musa, atuava na antiguidade e nas civilizações9 já antes da Idade Média; a mesma é “entendida como uma linguagem”: com capacidade de comunicar sensações e sentimentos por meio do som e do silêncio e está presente em todas as culturas, sendo que na Grécia antiga já era considerada fundamental na formação dos futuros cidadãos, ao lado da Matemática e da Filosofia”. (RCNEI10 1998 apud RODRIGUES, 2011).

Ao parafrasear Scherer (2010), Rodrigues nos expõe que a música “é um aprendizado que se desenvolve com conhecimento adquirido historicamente”. Ainda que o ensino de música não esteja adequado nas escolas efetivamente, a mesma é plenamente possível enquanto elemento indissociável ao ensino de línguas e de outras disciplinas. “Para a grande maioria dos estudantes, a música pode ser tão importante em matéria de educação quanto ler ou escrever” (SACKS, p.111). Raras são as pessoas que não gostam ou se identificam com algum tipo de música. “O fato é que nosso sistema auditivo, nosso sistema nervoso, é primordialmente sintonizado para a música”. (SACKS, p.12). Este autor expõe que o ouvido e o cérebro funcionam como um sistema único que tanto pode modificar a representação dos sons no córtex, mas também modular as informações saídas da própria cóclea11. O poder da atenção (itálico meu) (...) é impressionante e parece depender dessa capacidade de modular a função coclear, bem como de mecanismos puramente cerebrais. A capacidade da mente e do cérebro para exercer controle eferente sobre a cóclea pode ser intensificada com treinamento e com atividades musicais. (meu itálico) (SACKS, p.148-149).

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Os chineses, em seu I Ching 16 (YU – Entusiasmo) do Livro das Mutações, também devotam, em uma parte de seu texto, grande valor à música: A música tem também o poder de dissolver as tensões do coração e a violência de emoções sombrias. O entusiasmo do coração se manifesta espontaneamente no som do canto, na dança e no movimento rítmico do corpo. O efeito inspirador do som invisível que emociona os corações dos homens, unindoos, é um enigma que perdura desde os tempos mais remotos. Governantes utilizavam esse [sic] tendência natural para a música; elevaram-na e deram-lhe ordem. A música era considerada como algo sério e sagrado, que purificava os sentimentos dos homens. Cabia a ela louvar os méritos dos heróis, construindo, assim, uma ponte para o mundo invisível. Nos templos, os homens se aproximavam de Deus através da música e da pantomina (da qual o teatro se desenvolveu). Disponível em 10

Referencial Curricular Nacional Para a Educação Infantil.

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A cóclea é uma estrutura espiral sensitiva e complexa que possui “3500 células ciliadas internas, os receptores auditivos finais”. (SACKS, p. 143). 6

A Agência de Conteúdo Cartola, em entrevista à professora da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e mestre em neuropsicologia, Aurilene Guerra, enviada ao Portal Terra, informa que estudos científicos tem demonstrado o valor da música pelo fato de que as partes do cérebro, atuantes “no processamento e produção de sentido e emoção da música”, e estimuladas pela música, também são ativadas para estudos matemáticos e linguísticos. “O processo mental de sequencialização e espacialização envolve altas funções cerebrais”. Esse desenvolvimento matemático beneficia o “fazer musical” que é indissociável da contagem dos tempos e divisão rítmica, desenvolvendo a coordenação motora12, o raciocínio lógico e a concentração. “No contexto escolar, a música tem a finalidade de ampliar e facilitar a aprendizagem do aluno (...). Ela favorece muito o desenvolvimento cognitivo e sensitivo, envolvendo o aluno de tal forma que ele cristalize na memória uma situação”. (GUERRA13, 2012). Ainda que para Krashen, (1987 apud CITTOLIN 2003), o aluno só possa ser capaz de adquirir aquilo que esteja “no ponto certo de seu desenvolvimento maturacional”, independente da frequência ou grau de dificuldade ao qual é exposto, e ainda que haja um planejamento didático para cada idade escolar, cada sujeito irá internalizar e processar as informações de modo próprio. O fato é que a música, em geral, cativa qualquer idade e seria muito desperdício do meio educacional a sua não utilização e não aproveitamento de modo mais sério e amplo. Em relação à gramática e à poética, “canções e poemas podem contextualizar um aspecto gramatical de forma eficiente. Desde que o texto do poema ou da canção é recitado, cantado e repetido, a prática de uma determinada estrutura gramatical se torna mais efetiva”. (SARICOBAN & METIN 2006 apud ROCHA 2009, p.20). Isso permite que os professores e os alunos possam “estabelecer o diálogo com os meios e suas linguagens, em vez de falar dos meios”. (PORTO, 2001 apud BOÉSSIO, p. 78).

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A música é tão poderosa no desenvolvimento da coordenação motora que ao relatar experiências de pacientes pós-traumáticos, que perderam seus movimentos das pernas, Sacks nos explica que Além dos movimentos repetitivos de andar e dançar, a música pode permitir a habilidade de organizar, de seguir sequências complexas ou de manter na mente um grande volume de informações – é o poder narrativo e mnemônico da música (p. 249). E ainda, A música tem o poder de embutir sequências, e de fazê-lo quando outras formas de organização (inclusive formas verbais) não têm êxito. (p, 250). 13

Disponível em 7

(...) o trabalho com os fonemas de forma holística torna a aquisição mais eficiente do que quando são apontados um a um, ou seja, aprender os fonemas considerados “difíceis” por meio das canções, que são textos prontos, pode tornar esse aprendizado mais prazeroso e eficaz, ao contrário de ter que adquiri-los em uma ordem, em palavras soltas e descontextualizadas. (BATISTA, 2000 apud OLIVEIRA, 2003 apud ROCHA, p. 22).

A música não somente serve como ponte para o diálogo entre os indivíduos, mas também entre o meio externo e o indivíduo, ou seja, as experiências de vida deste com o meio ambiente, com sua própria cultura e com a cultura objeto de LE14 (encaixando-se perfeitamente dentro da Teoria da Atividade). Para Sacks (...) “pôr palavras em música, especialmente nas culturas pré-letradas tem um papel fundamental nas tradições orais da poesia, do contar histórias, da liturgia e da oração”. Música agrega, ainda que possa haver diferenças de gostos e estilos, ainda que uma canção seja refutada por um ouvinte mais crítico e exigente, muito embora “não pareça haver nenhuma preferência neurológica inata por determinados tipos de música, do mesmo modo que não há para determinadas línguas”. (SACKS, p. 111). Rocha (2009) ao parafrasear Murphey (1992), expõe que “se a canção for significativa para a criança, ela poderá ficar retida em seu cérebro por mais tempo, e a memorização das estruturas terá mais significado”, e pelo fato de as canções trabalharem nas memórias curta e longa, as palavras de uma língua são transferidas à memória de longo prazo quando acrescidas de ritmo e melodia. Certamente isso não se dá somente com crianças, ainda que estas possam associar com maior rapidez, mas com qualquer indivíduo. “A música promove um ambiente relaxado, lúdico com baixo stress que é muito propício para a aprendizagem do idioma, pois minimiza o impacto dos efeitos psicológicos que bloqueiam a aprendizagem.” (RIDDIFORD 1999 apud SANTOS, p. 7). “Segundo MURPHEY (1999), a

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Em sua terceira nota: Seria de esperar que houvesse algum tipo de conjugação ou correlação de habilidades musicais e linguísticas, especialmente no que tange ao aprendizado de sotaques, inflexões e prosódia de uma nova língua. (p. 230).

Este autor ainda nos aponta para uma pesquisa muito pertinente no que se refere à associação entre música e linguística: Patel et al. compararam o ritmo e a melodia da fala e da música no inglês britânico com os da fala e música francesas, investigando a música de doze compositores diferentes. Com uma representação gráfica de ritmo e melodia juntos, constataram que ‘emerge um padrão notável, sugerindo que a língua de um país exerce uma ‘atração gravitacional` sobre a estrutura de sua música`. (nota 4, p. 256). 8

linguagem aprendida por meio da música pode ser assimilada mais naturalmente, em maior quantidade e com melhor fixação.” (SANTOS, p. 7) A música toca a alma e as emoções (sentimentos, afetos, paixões), transpondo o que Krashen teorizou como filtro afetivo. Ela é um agente promotor na busca de insumos além de servir, ela própria, como insumo, chegando ao LAD (Dispositivo de Aquisição de Língua – parte do cérebro responsável pela aquisição da língua). “Dizem que a cultura audiovisual é intrinsecamente repleta de afetividade, de raciocínios analógicos e de assaltos ao inconsciente, sendo assim impossível penetrar nessa cultura pela via da razão”. (BOÉSSIO, p. 79).

A hipótese do filtro afetivo, portanto, incorpora a visão de Krashen de que um número de variáveis afetivas tem um papel facilitador na aquisição de uma segunda língua. Estas variáveis afetivas incluem: motivação, autoconfiança e ansiedade. Aprendizes motivados, confiantes e com baixa ansiedade tendem a ser bem sucedidos no processo de aquisição de uma segunda língua. Esses aprendizes teriam um baixo filtro afetivo e absorveriam insumo com muito mais facilidade (...) (CITTOLIN, 2003).

Com a baixa do filtro afetivo, o impulso criativo pode ser liberado. Os processos neurais que propiciam a criatividade relacionam-se não com processos racionais, mas inconscientes15; As artes não são drogas, escreveu E. M. Foster. Não há garantia de que atuem quando usadas. Algo tão misterioso e caprichoso como o impulso criativo tem de ser liberado antes de poder agir. (SACKS, p. 314).

Diante de todo este aporte teórico fica explícito que a música, além de ser uma sucessão de sons melódicos, harmoniosos com variada utilização de ritmos, que propicia quase que totalmente, prazer aos ouvintes, é um recurso, em meu ponto de vista, indiscutível para o meio educacional, além de terapêutico. Música é e expressa Arte, História e Cultura entre os/ nos/ dos meios Sociais.

4. Resultados Procurou-se manter os planos de aula dentro do tema “Tempo”, iniciando-se com uma breve explanação deste sobre nossas vidas. Na realização do projeto foram utilizadas músicas

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Vide Sacks, p. 51. 9

com grau de dificuldade que considero alto para alunos iniciantes na aprendizagem de uma segunda língua, mesmo a espanhola; o fato é que os alunos foram preparados anteriormente, musical e linguisticamente em relação às mesmas. Na primeira aula, a música “Minutos”, do guatemalteco Ricardo Arjona, que como o próprio nome diz trata da questão do tempo, deu início ao nosso trânsito musical; a segunda aula abordou a dança flamenca e cantamos a canção “Montaña” dos ciganos Gipsy Kings, de cunho espiritual, expondo nosso tempo de peregrinação nesta vida, além da música “Oração ao tempo” de Caetano Veloso, que apesar de ser em português estava associada à proposta da primeira aula (e não foi tocada nesta, por falta de tempo). Esta música despertou um carinho especial em alguns alunos e foi uma ponte entre a língua mãe e a língua meta. As mesmas ainda são cantadas e tocadas com alguns destes alunos nas aulas de violão. Como atividade da terceira aula, uma atividade que foi muito prazerosa aos alunos, além das músicas e do aprendizado da língua foi confeccionar com cartolina colorida, copihues (flor símbolo do país e que tem o poder de carregar em sua seiva quase um século de história, quando bem preservada), onde tratamos da cultura chilena (a lenda do copihue e seu papel na flora deste país), ao som das músicas em espanhol já conhecidas por eles. Este foi também um dos momentos mais prazerosos e descontraídos do curso. O ramo de copihues produzido foi colocado na sala de aula de violão dos mesmos e ainda os faz lembrarem-se do projeto. Para esta aula foi utilizada como canção a cueca chilena “Floreció el copihue rojo”, de Violeta Parra, do ano de 1958, relacionada à lenda do povo Mapuche. Os alunos que já haviam cantado a mesma nas aulas de violão sentiram certa estranheza ao ouvirem a canção original, mas puderam perceber seu valor. A quarta aula tratou a respeito do México e suas comidas, apresentou algumas pinturas de Diego e Frida Khalo e apesar de não ser utilizado recurso musical nesta aula foram apresentados aos alunos os nomes de Julieta Venegas e da Banda Maná. A quinta aula procurou conscientizar a respeito da natureza, sua vida, seu tempo, e a relação do homem com esta. A música que complementou o tema foi “Los cuatro elementos” do grupo de Reggae Aztecas Tupro, demonstrando a relação dos elementos narrados na canção com nosso psicológico. A sexta e última aula não contou com canção cantada, mas abordou sobre o tango e encerrou-se com um filme que trata do tema tempo e suas areias que escorrem continuamente. Pode-se dizer que os alunos, que já vinham sendo preparados com as canções em espanhol nas aulas de violão, já estavam com seus filtros afetivos baixos. Estavam receptivos

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e abertos às aulas e gostaram do dinamismo das mesmas, ainda que estas tenham tido bastante conteúdo (o material do projeto pode ser expandido a um número maior de aulas) e os mesmos não tenham internalizado tudo que foi ensinado. Aproximadamente quatro meses depois de realizado o projeto, os alunos com os quais ainda tenho contato, responderam um curto questionário, individualmente, discorrendo a respeito do uso da música e dos demais recursos sócio-histórico-culturais e se se lembravam de algo. Em relação à música, a maioria deles apontou esta como um facilitador da pronúncia das palavras e que a mesma tornou as aulas mais “interessantes”, “estimulantes”, “divertidas” e “animadas”. Os alunos, unânimes, gostaram do uso dos recursos sócio-histórico-culturais; um dos comentários foi de que “é bom saber de suas origens, de onde vêm e o quê estamos estudando”; outro comentou que nas as aulas de LE em sua escola, não se utilizam estes recursos, apenas estudam os verbos. Dentre as lembranças que possuem em relação aos estudos, neste momento, o que mais lembram é das músicas e dos textos, histórias; um aluno expôs a atividade do Copihue, dois alunos apontaram recordar-se das horas, e uma aluna, além destas questões, trouxe a lembrança das danças tradicionais e a pronúncia das letras “h”, “ll”, e “r”.

Questionados ainda se gostariam de acrescentar algum comentário, um foi de

que “foi bom, apesar do pouco tempo”; ou de que “aula que envolva dinâmicas e músicas fica mais interessante (...) mais fácil de lembrar, de decorar”; ou “o espanhol me ajudou muito, pois tenho primos que moram na Argentina, e o projeto ajudou na comunicação”; um aluno comentou suas lembranças em relação à lenda da flor chilena; uma aluna gostou de ser desafiada a ler em voz alta, além das atividades práticas, isso “nos prende mais às aulas” e “nos faz prestar atenção”; três alunos não quiseram comentar. Ninguém se lembra, palavra por palavra, de tudo o que foi dito em uma aula ou tocado em uma música. Mas uma vez que tenhamos compreendido o que foi dito ou tocado, passamos a possuir nossas próprias redes de conhecimento sobre cada tema e como ele muda e se relaciona com outros. (MARVIN MISKY apud SACKS 2011, p 222).

O Ensino de LE pode ser, à Musa, o poeta perfeito, e unidos, promoverem o conhecimento histórico, cultural e artístico do(s) país(es) alvo da língua de estudos, além de gramaticalmente. Esta prática capacita o raciocínio, a desenvoltura, a comunicação entre as línguas e os indivíduos. Se não promove a total absorção consciente dos alunos em relação ao aprendizado, ao menos, instiga o inconsciente, baixa o filtro afetivo, capacita a uma rede de 11

conhecimentos e experiências mais ampla que vai além de QI, pois este já não é mais considerado a “medida definitiva da inteligência humana”16. Uma educação séria e comprometida em formar cidadãos integrais, completos, inteiros em termos de inteligência, não somente intelectual, mas emocional e espiritual, há de encontrar guarida na música e no conhecimento transdisciplinar. Assim como a música, a transdisciplinaridade deve ser útil e fazer sentido a quem dela se vale, ou seja, na própria música existem estilos (clássico, lírico, popular), melodias, harmonias, ritmos (rock, samba, gospel, sertanejo, gauchesco, ect [e ainda entre estes, muitas variações]) e tonalidades (tons maiores, menores e dissonantes) mais ou 16

Na década de 90 descobriu-se o QE (Inteligência Emocional) e no novo milênio a ciência aponta uma terceira inteligência: o QS (Inteligência Espiritual). É a ciência amparando o que sempre existiu e sempre foi valorizado por hinduístas e esotéricos. Poderia ser algo manipulado por poderosos? Se a sociedade atual é fruto de algum tipo de manipulação desta “inteligência” um tanto calcificada, atrofiada, isto prova que o resultado tem sido desastroso, seja este uma “Matrix” ou não. Em resumo, o QI está associado à inteligência racional e lógica; o QE às emoções e pensamentos associativos e o QS ao poder criativo, aos insights, formulação e revogação de regras. O QS é chamado de “ponto de Deus” no cérebro, “uma área nos lobos temporais que nos faz buscar um significado e valores para nossas vidas”, associado às experiências espirituais, da alma, ao significado das coisas ao indivíduo, seus valores e ideias; tem poder de transformar as inteligências anteriores. Leonardo Boff nos expõe que: O ponto Deus nos ajuda a alimentar a relutância em fazer o mal e nos reforça na realização do bem e de todo tipo de valores, especialmente aqueles que implicam abertura ao outro, à proteção da vida – particularmente daquela mais vulnerável - , à compaixão, ao perdão e ao amor incondicional.

Na verdade este ponto de Deus nada mais é que a glândula pineal, representada pelos antigos egípcios pelo olho de Hórus, o olho que tudo vê, o terceiro olho (chacra frontal Ajña para o hinduísmo que representa intuição e percepções sutis), ou pelo catolicismo, pela figura da pinha. Coincidência que esta glândula seja chamada de terceiro olho e terceira inteligência? Para os Teosóficos ela é a conexão entre os planos físico e espiritual. A pineal está muito próxima dos lobos temporais e na altura dos ouvidos, localizada no centro do cérebro e conectada por ramificações nervosas aos olhos; os lobos temporais têm também, como função, regular a linguagem, a memória e a audição. A música estando tão envolvida nestas ativações, poderia também auxiliar a ativação da pineal? Bem, muitos costumam praticar a meditação através de mantras, mas seriam somente estes, a contribuir com esta ativação? Vide mais informações em: ; ; ; Thirdeye – Thalamus – Eye of Horus (JPG). Disponível em ; Sede forte (JPG) Disponível em

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menos apreciados. Ainda assim, a música está presente, como um milagre, em todas as culturas e línguas.

5. Considerações Finais É de grande valor todo descobrimento científico, visto que este não permite aos céticos, sobra ou sombra de dúvidas quanto ao poder da música, que vem, aos poucos, tendo seu papel reconhecido no ensino de LE. A ciência só vem contribuir com os conhecimentos ancestrais, quando era necessário crer sem provas. Ou será que havia provas e estas se perderam no dilúvio, ou antes, deste? Os povos e culturas antigas criam neste poder milagroso. Criam, sentiam, experimentavam e aplicavam este e tantos outros remédios da alma; riqueza holística por meio de uma educação transdisciplinar, embaladas pelos mais sublimes sons da música. Ter experimentado, através da realização deste projeto, esta prática transdisciplinar de partir de um tema, um objeto de estudos para as disciplinas, foi motivador, desafiador, instigante, difícil em certo ponto, pois exige trabalho árduo e dedicação, mas perceber-se conscientemente mais amplo enquanto indivíduo em evolução é permitir-se planar “sobre” o complexo e o caótico, em uma atividade consciente. Permanece o incentivo ao meio educacional e aos docentes de aplicarem em suas práticas esse recurso transdisciplinar e de aprimorarem-se tanto quanto possam nesta esfera musical.

Aprender

para

ensinar.

Motivar-se

para

motivar,

permitindo-se

uma

transdisciplinaridade ética e transparente, com a disposição de ultrapassar a linha mediana do conhecimento e da vivência cotidiana, pois como afirma Danah Zohar, doutora, física quântica e filósofa, a “inteligência espiritual coletiva é baixa na sociedade moderna. Vivemos numa cultura espiritualmente estúpida, mas podemos agir para elevar nosso quociente espiritual”.

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