Morcegos (Chiroptera) da área urbana de Londrina, Paraná, Brasil

August 9, 2017 | Autor: Isaac Lima | Categoría: Zoology
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Descripción

Morcegos (Chiroptera) da área urbana de Londrina, Paraná, Brasil Nélio Roberto dos Reis 1 Isaac Passos de Lima 2 Adriano Lúcio Peracch i 3

ABSTRACT. Bats (Chiroptera) of the urban area of Londrina, Paraná, Brazil. Study carried out wi thin the urban perimeterofLondrina, which is located in the North of the state of Paraná . The objectives were the id entifi cation of urban species of bats and di urna! roosts used by them and the verification ofthe problems they can cause 10 the populati on. The fire brigade. the Autarquia Muni cipal do Ambiente de Londrin a (Municipal En vironment Autarchy of Londrina), the Biology Department of the Uni versidade Estadual de Londrina (State University of Londrin a) and local res idents helped spot the roosts. The collections were carried out in regul ar intervals between Apri I 1998 and March 1999. By the end of them, 8 15 bats of 23 di fferent species had been captured. Among these, 12 were found near or inside human constructions: Nouilio albivellrris Desmarest. 18 18: Arribeus lirurarus (Olfers, 18 18); Plaryrrhillus lineorlls (E. Geoffroy. 18 10); EpresiclIs braJiliemis Desmarest 18 19: LasillrLIs borealis (Muller 1776): Lasillrtl.' ega (Gervais, 1856); EWllops g/aucill us (Wagner, 1843); M% .u us rulus (E. Geo ffroy, 1805); Molossl/s /I/.o lossus (Pali as, 1766): Nyc rinol1lops larical/darus (E. Geoffroy, 1805): Nycrillo/l/ ops macroris (Gray, 1840) e Tadarida brasiliellsis ( I. Geoffroy, 1824). Roost si tes comprised expansion joints, roofs , att ics and parks, among others. It can be concluded lhat bats are treated as undesirable animai s by the popul ation due to lhe lac k of know ledge about the subj ecl. KEY WORDS. Chiroptera, Bats, urban bats

a

Foi co n statad a e m 1997 , pela 17 R eg io nal de S a úde d o Estado d o P a ra n á, cuja sede Fica e m Lond rin a, a prese nça do vírus da ra iv a em um exempl a r d e Molossus s p . captura do na á rea u rbana desse mu n icípio, o que tro u xe preoc u pação aos órgãos compe te ntes. Essa p reoc upação se justifica em razão da divers idade d e es p é ci es d e morcegos ex iste nte na reg ião de Londrina. Tra ba lhos rea liza dos e m suas principai s unidades d e co nservação, como o Parque Estadual Mata dos G o d oy (REI s e t alo 1993a, b; REIS & MULLER 1995) e o Parque Mun icipal A rthur Tho ma ,e e m o utras á reas verdes, como os fundos d e vales (REIS et ai. 1998 , 2000) , já detectara m a presença de 4 1 esp éc ies de m o rcegos. 1) Departamento de Biologia Animal e Vegetal, Universidade Estadual de Lond rina. 86051-990 Londrina, Paraná, Brasil. 2) Pós-Graduação em Ciências Biológicas, Universidade Estadual de Londrina. 86051-990 Londrina, Paraná, Brasil. 3) Departamento de Zoologia, Instituto de Biologia, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro. 23851-970 Seropédica, Rio de Janeiro, Brasil.

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Essa d ivers idade de morcegos em ambientes fl orestais da região, e o fa to de que mesmo aquelas espéc ies não he mató fagas são pote nciais transmi ssoras do vírus da raiva (UI EDA 1998; BAER 199 1; ALMEIDA et al. 1994 ; UlEDA et al. 1996; S ILVA et al. 1996a, 1999), ali ados à inex i tência de dados sobre quais espéc ies estão presentes no ambiente urbano lo ndrinense, trouxe a necessidade de se rea lizar um estudo que, num primeiro mo me nto, identi ficasse as espécies e os locais de repou o que utili zam . A ide nti ficação das espéci es e um melhor conhecimento de sua biologia pode ri am auxili ar na resolução de proble mas relac ionados a esses animais. Assim , este estudo teve como objeti vos identificar as espécies presen tes no pe rímetro urbano de Lo ndrin a, determinar quais os tipos de abri go mais utilizados pelos morcegos em ambientes urbanos e verif icar as principais impli cações de sua presença nesses ambientes . Londrina surgiu no início da década de 30 e, dev ido à fe rtilidade de seu solo (do tipo Latossolo), atraiu muitos coloni zadores de vári as regiões do país, principalmente para o culti vo de café, o CJ.ile reduziu em muito seu ecoss istema ori ginal. S ua área urbana ocupa 99.312.322 m , abrigando uma população de 424.57 3 habitantes ; 2 2 e sua área verde é de 7 .711.227 ,3 m (22,2 m /h abitante), havendo 200 praças públicas (IBGE 2000). O que resta, hoje, de seu ecossistema original, são pequenos re manescentes form ando ilh as de matas circundadas por áreas de intensa ex pl oração agríco la e, destes, algun s foram transformados e m unidades de conservação . A área metropolitana de Londrina, no norte de Paraná (Fi g. I ), está locali zad a nas coordenadas geográficas 23° 14' -23°23' S e 51 °05 ' -51 ° 14 ' W . O município tem altitude média de 700 m e clima subtropical úmido com chu vas e m todas as estaçõe , pode ndo ocorrer secas no inverno. A te mperatura médi a máx ima para o ve rão é 39°C , e a média mínima para o in vern o é LO,4°C ; a plu viometri a médi a é 1.6 15 mm , sendo os meses mais chu vosos os de dezembro e janeiro, e o de me no r plu vios idade o de agosto REIS et ai. ( 1998). Com relação à vegetação urbana, a área de maior re levância pa ra a c idade é o Parque Muni cipal Arthur Thomas, que, no entanto não poss ui caracte rísti cas urbanas . Outras áreas, de me nor tamanho, são o ho rto fl o restal da Uni vers idade Estadual de Lo ndrin a (UEL) (aprox imadame nte 10 ha da área total do campus uni versitári o, que compreende 150 ha), a mata do ribeirão Cambezinh o, alg um as matas de galeri a e de nascentes de c ursos hídricos e, ainda, o bosque central de Lo ndrin a (praça Marechal Cândido Rondon). Em alguns fundos de vales e praças londrine nses podem ser e ncontradas pl antas introdu zid as, como a bi snag ueira, Spathodea campanulata Beauv. - (Bi gnoni aceae), a cigarreira, Cassia sp. (Legumin osae, Caesalpin oideae) e a s ibipirun a, Caesalpinia sp. (Legumin osae, Caesalpin oideae) ; pl a ntas orna me ntais como o hibi sco, Hibiscus sp. (Malvaceae), o líri o branco, Hippeastrul17 sp. (Hemerocall idaceae) e o líri o amarelo, Hemerocallis sp. (Amary llidaceae); e árvo res frut ífera co mo go ia ba (Psidium guaj ava L. , Myrlaceae), amora (Morus nigra L. , M oraceae) e sete-copas (Terl17 ina lia catappa L., Combretaceae) - a no me ncl atu ra das fa mílias está de acordo com BRUMM ITT ( 1992). Essa vegetação contri bui para o fo rneci mento de alimento e abrigo a vári as espéc ies de animais. Revta bras. Zool. 19 (3): 739 - 746, 2006

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Os fund os de vales encontram-se degradados em quase toda sua extensão urbana, sem a presença de mata ciliar e, quando esta aparece, é in sufici ente para proteger o curso hídrico, quando presente, e gerar alimento à fauna aquática . São usados como depósito de lixo residencial , industri al e da construção civ il , além de serem alterados por aterros e instalação de fave las (SEPLAN 1993).

Fig.1 . Localização da cidade de Londrina. Paraná.

MATERIAL E MÉTODOS Foram reali zadas nove coletas (três noturnas e seis diurnas) em cada estação do ano, totalizando 36 co letas entre abril de 1998 e março 1999. As coletas noturn as foram adaptadas de GREENHALL & PARADISO ( 1968), realizadas em noites co m ausênc ia de lua, em praças pouco mov imentadas e fora dos locais com muita iluminação artificial, e também em ilhas de matas que restaram no perímetTo urbano, nos fundos de vales, nas margens do lago Igapó e no campus da UEL. Nas coletas noturnas, redes-ne blina (mist nets) permaneceram estendidas nas primeiras três 2 horas após o pôr-do-sol, sendo total izados , para cada local de coleta, 90 m de redes. Nas coletas diurnas , feitas de aco rdo com BREDT et aI. (1996) , eram visitados locais como fo rros de casas, forros de prédio, juntas de dilatação, bueiros e fe ndas de pedras, entre outros. Para a loca lização desses abrigos houve ajuda do Corpo de Bombeiros e da A utarq ui a Mun icipal do Ambiente de Londrin a (AMA); outros abrigos foram localizados a partir de denúnc ias feitas junto ao De partam ento de Revta bras. Zool. 19 (3): 739 - 746, 2006

Reis et aI.

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Bi ologia da UEL e por indicações de pessoas do convlvlo proxlmo e, ainda, me nsagens eletrôni cas foram enviadas para vários usuári os da internet na cidade, solici tando informações . Para a captura dos animais encontrados em fon·os eram utilizadas luvas de couro, e eles e ram então colocados em sacos de algodão, para posteri or ide nti ficação; quando o acesso ao ab rigo era impossibilitado po r questões de segura nça ou de espaço físico , era estendida um a rede próximo à abertura através da qual os morcegos deixavam o refúgio. A identificação dos morcegos era feita nos locais de captura e, nos casos duvidosos, e m laboratório seguindo-se os critérios de HUSSON ( 1962) , VIZOTTO & TADDEI ( 1973), Jo ES & CARTER (1976) e REIS et ai. (1993a) . Foram mantidos como material-testemunho apenas dois exempl are daquelas espécies mais comuns, que foram então fixad os e preservados. Os exemplares estão depositados em um a coleção no Museu de Zoologia da Uni versidade Estadual de Londrina e também na Universidade Federal Rural do Ri o de Janeiro.

RESULTADOS Ao término das coletas foram amostrados 8 15 morcegos, num total de 23 espéc ies. Destas, 12 foram enco ntradas em edificações hum anas (forros de casas, fo rros de prédio, juntas de dilatação, etc) e 17 em áreas verdes (fundos de va les, campus da UEL, margens do lago Igapó e praças); quatro espécies estavam presentes nos dois tipos de ambientes. A tabela l, na qual constam todas as espéc ies já registradas para a região de Londrina (4 1 espécies) , traz nas colunas a quantidade de cada espécie capturada na área urbana da cidade nas co letas reali zadas entre abril de 1998 e março de 1999, bem como as porcentagens de cada espécie em relação ao total capturado. Na tabela II estão relacionadas some nte as espécies co letadas em abrigos urbanos e os tipos de abrigo que utilizavam , não constando os espéc imes capturados durante as coletas noturnas com o uso de redes em áreas verde

DISCUSSÃO Das 41 espécies j á identificadas na região de Londrin a, 23 foram e ncontradas no perímetro urbano, sendo que 12 ao redor de edificações hum anas, convivendo diretamente com o homem. A destruição dos habitats naturais dos morcegos criou uma realidade onde esses animais passaram a co nviver de forma m ais inte nsiva com os humanos. Em ambi entes urbanos, morcegos são tratados como animais indesejáveis. Além do medo que as pessoas têm desses a nimais, contribui para essa anim os id ade o fa to de eles atacarem pomares domésticos para se alime ntar, o ac úmul o de suas fezes nos forros das casas (muitas vezes , as fezes caem no interi or das casas), o odor forte de sua urina nos dias de calor intenso, o barulho que causam quando vocali zam e a possibilidade de transmiti re m doenças como a raiva (PEDRO 1998), como qualquer outro mamífero doméstico. Os morcegos i nsetívoros, que antes se abri gavam em ocos de árvores nas matas, agora encontram nas cidades abrigo seguro e farta alimentação de insetos, que são atraídos pelas luzes (RYDELL 1992 ; SILVA et ai. 1996b). Os principais abri gos que utilizam em ambientes urbanos são forros de casas, forros de prédios, tubulações Revta bras. Zool. 19 (3): 739 - 746,2006

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Tabela I. Relação das espécies já registradas para a re gião de Londrina, e espécies registradas na área urbana desse município. Áreas verdes

Edificações

Espécies

Fontes' N

%

N

%

Noclilionidae (1 gênero. 2 espécies)

Noctilio albiventds Desmaresl , 1818

1

Noctilio leporinus (linnaeus. 1758)

8

1,4

6

Phyttoslomidae (16 gêneros. 21 espécies) Chrolopterus auritus (Peters, 1856)

2, 3,4

Micronycteris megalotis (Gray, 1842)

2,3,4,5

Phy/lostomus discolorWagner, 1843

3

1,1

6

Phy/lostomus hastatus (Palias, 1767)

3, 4, 5

Anoura caudifer(E. Geoffroy, 1818)

3, 5

Glossophaga soficina (Palias, 1766)

3,4

Carollia perspici/lata (linnaeus, 1758) Artibeus fimbriatus Gray, 1838

25

9,6

6

2,3

2, 3,4,5, 6 1,2,6

Artibeus jamaicensis Leach, 1821 Artibeus lituratus (Olfers, 1818)

2,3,4,5 167

64,0

7

1,3

3,4,5,6

Artibeus obscurus Schinz. 1821 Chiroderma doriae Thomas, 1891

2, 3, 5

Chiroderma vil/osum Peters, 1860 Platyrrhinus lineatus (E. Geoffroy, 1810)

0,4

1, 6

25

9,6

Pygoderma bilabiatum (Wagner, 1843)

1

0,4

3.4, 5,6

Stumira lilium (E. Geoffroy, 1810)

5

1,9

2,3, 4,5,6

0,2

2, 3, 4, 5, 6

Urodarma bilobatum Pelers, 1866

1

Vampyressa pusil/a (Wagner, 1843)

2,3.5

Desmodus rotundus (E. Geoffroy, 1810)

2,3, 4, 5

Diaemus youngi (Jentink, 1893) Diphy/la ecaudata (Spix, 1823) Vespertilionidae (5 gêneros, 11 espécies) Eptasicus brasiliensis (Desmaresl, 1819)

12

4,6

Epteslcus diminutus Osgood, 1915

1

0,4

3,5,6

Eptesicus furinalis (d'Orbigny, 1847)

2 2

0,8

2,3, 5,6

0,8

6

Eptesicus sp.

14

2,5

Histiotus velatus (I. Geoffroy, 1824)

3,4,6

3, 5

Lasiurus borealis (Muller, 1776)

0,4

Lasiurus ega (Gervais, 1856)

1

0,2

2

0,4

Myotis lavis (I. Geoffroy, 1824)

2,3, 5,6 1, 6

3

Myotis nigricans (Schin z, 1821)

0,4

2,3,5,6

Myotis ruber(E. Geoffroy, 1806)

3, 4,5

Rogheessa tumida H. Allen, 1866 Molossidae (5 gêneros, 7 espécies) Eumops glaucinus (Wagner, 1843)

20

Molossops abrasus (Temmin ck, 1827) Molossus rulus E. Geoffroy, 1805 Molossus molossus (Palias, 1766)

0,4

Nyctinomops laticaudatus (E. Geoffroy, 1805) Nyctinomops macrotis (Gray, 1840) Tadarida brasiliensis (I. Geoffroy, 1824) Total (27 gêneros, 41 espécies) Total de indivíduos

3,6

2,7 214

38,6

3,4,6

38

6,9

3,4,6

201

36,3

3,4, 6

47

8,5

1, 6

0,2

3, 6

0,4 17 261

100,0

1, 6 3, 4,6

12

100,0

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(1) REIS et ai. (1998), (2) REIS et ai. (2000), (3) REIS et ai. (1993a), (4) REIS et ai. (1993b) , (5) REIS & MULLER (1995), (6) registradas neste estudo; (7) dados não publicados.

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fl uviai s e j untas de di latação das constlUções (Tab . II). Morcegos frugívo ros, q ue apresentam maior potencial adaptati vo, como A. lituratus e P. lineatus , passaram a se alimentar de árvores orn amentais e de flUtíferas de quintal como mamão (Carica papaya L. , Cari caceae), caqui (Diospyros kaki L.f., Ebenaceae), abacate (Persea americana M ill. , Lauraceae), manga (Mangifera indica L. , Anacardiaceae) amora (Morus nigra L. , Moraceae), goiaba (Psidium guajava L. , MY I1aceae), j abuticaba (Myrciaria cauliflora (Mart. ) Berg, M yrtaceae), e ameixa (Eriobolrya j aponica (Thumb. ) Lindl. , Rosaceae) . Esses morcegos têm, além da frugivori a, a foli vo ri acomo fonte suplementar de prote ínas (ZORTÉA & CH IARELLO 1994 ; BER ARO 1997 ), permitindo uma maior ocupação dos fundos de vales e praças . Tabela 11. Espécies coletadas em abrigos na região urbana de Londrina entre abril de 1998 e março de 1999 e tipos de abrigos utilizados. Abrigos utilizados'

Total de individuos

Espécies

2

6

3

9

7

10

11

12

13

X X X

Eptesicus brasifiensis

Total de individuos por abrigo Total de abrigos utilizados

7 25

X

Platy"hinus lineatus

Lasiurus borealis Lasiurus ega Eumops glaucinus MoJossus rufus Molossus molossus Nyctinomops laticaudatus Nyclinomops macrotis

14

X

Noctilio leporinus At1ibeus lituratus Carof/ia perspicillata

X

1 1

X X

X X

X X

124 25 4 2

84

20 214 X

X

200

38

X

201

X

X

95

1

6

14

47 15 1

7

14

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(1) Forro de prédio , (2) tubulação flu vial no P.M. Arth ur Thomas, (3) forro de casa/alvena ria, (4) pedrei ra abandonada, (5) junta de dilatação entre prédios , (6 ) apartamento no nono andar, (7) toldo em casa, (8) interior de uma churrasqueira de tijolos, (9) sacada de prédio , (10) forro de casa/madeira, (11 ) oco de árvore na margem do lago Igapó, (12) quintal de casa , (13) copa de árvore, (14) ar condicionado.

Quanto às espécies capturadas nesta pesqui sa e m edi ficações urba nas, 75 % eram insetívoras (25% pertenciam à famíli a Vespertilio nidae e 50 % à fa míli a Molossidae), o que se deve, principalmente, ao ti po de metodologia util izada na captura, fe ita nos abrigos durante as co letas diurn as; as fru gívoras (Phyll ostomidae) perfizeram 17 % das coletas , e foram registradas e m abrigos arbóreos de fo lhagem densa próxim os às edificações, como sete-copas (Terminalia catappa L. , Combretaceae) e coq uinho (S)'agrus romanzoffiana (Cham.) G lass m., Arecaceae); as pi scívoras (Noctili onidae), 8% das espéc ies capturadas , fo ram encontradas nas margens do lago Igapó, que oferece condições de alimentação e abri go e m sua vegetação marginal (Tab. I). Essa alta incidência de espéc ies in setívoras, bem como a predomi nânci a da fa míli a Molossidae, está de acordo co m os resul tados e ncontrados por B REOT & U IEOA ( 1996) no D istrito Federal. Revta bras. Zeel. 19 (3): 739 - 746, 2006

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Quanto às coletas em edificações , estas requerem um esforço maior durante as capturas, pelo fato de os abrigos utili zados serem de difícil acesso ou ap resentarem possíveis riscos para o coletor, como é o caso de juntas de dil atação entre prédios , fendas de pedras e forros de préd ios. Nos fundos de vales e no campus da UEL, onde coletas noturnas fora m feitas com uso de redes-neblina, as coletas mais expressivas foram das espécies da fam íli a Phyllostomidae, que perfizeram 47 % do total aí coletado (Tab. I). Essa metodologia é, de certa forma , seleti va, pois as redes são armadas ao nível das frutas di sponíve is, isto é, entre 0,5 a 2,5 m do so lo, e isso facilita a captura de morcegos fr ugívoros; as espécies in setívoras, por usarem com maior freqüênc ia a ecolocalização para caçar suas presas, detectam com faci lidade as redes (PEDRO & TADDEI 1997) , e os mo lossídeos voam ac ima da copa das árvo res (HANDLEY 1967). Apesar da comprovação, em vários es tudos , da presença do vírus da ra iva em morcegos urbanos, deve-se ponderar sobre os incômodos e tran stornos que esses animais causam comparando com os benefícios que trazem. Sabe-se que os morcegos insetívoros são responsáveis , em grande parte, pel o controle das popul ações de insetos e que muitas espécies de nectarívoros e frugívoros são potenciai s agentes polinizadores e dispersores de sementes, o que é fundamental na recuperação e manutenção de áreas degradadas, como geralmente são os fundos de vales das áreas urbanas. Campanhas de esclareci mento sobre os cuidados que devem ser tomados em relação a esses animais - não manuseá-los, ev itando assim o risco de contrai r raiva; usar máscara respiratóri a na retirada das fezes dos fO ITOS para evitar a ina lação do fungo Histoplasma capsulatum (causador da hi stoplas mose), presente em suas fezes; procurar serv iços especiali zados quando em contato com um morcego (se possível levando o an imal); ev itar que animais domésticos entrem em co ntato co m e les - , além de medidas estratégicas de vaci nação de ani mais domésticos e de rebanhos bovinos, aliadas a planejamentos arq uitetôni cos que levem em cons ideração a utili zação de espaços residenciais como abrigo desses animais poderiam diminuir confli tos entre homens e morcegos.

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Reis etal.

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Recebido em 11 .1.2002: ace ito em 23.VII.2002.

Revta bras. Zool. 19 (3) : 739 - 746, 2006

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