Menires do Alentejo Central (Vol. 1)

July 25, 2017 | Autor: Manuel Calado | Categoría: Archaeology, Megalithism
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ÍNDICE Agradecimentos....................................................................................................................................8 Resumo...................................................................................................................................................10 Abstract...............................................................................................................................................11 Apresentação do Plano da obra......................................................................................................12 Capítulo 1: Introdução........................................................................................................................14 1. Introdução.......................................................................................................................................15 Capítulo 2: Delimitação cronológico-cultural do tema e caracterização da área de estudo....19 2. 1. Âmbito cronológico..................................................................................................................20 2.2. Âmbito geográfico....................................................................................................................20 Capítulo 3: Considerações teóricas e m etodológicas................................................................30 3.1. Os pressupostos teóricos.........................................................................................................31 3.2.Metodologia.................................................................................................................................33 3.2.1. Ostrabalhos de campo...........................................................................................................33 3.2.2. O registo e a apresentação dos dados gerais...................................................................35 3.2.3. O registo e a apresentação dos dados relativos aos menires.........................................42 Capítulo 4: História da investigação em Portugal.........................................................................45 4. História da investigação em Portugal.........................................................................................46 4.1. Os menires..................................................................................................................................46 4.1.1. As descobertas.......................................................................................................................46 4.1.2. As interpretações.......................................................................................................48 4.1.3. Cronologia.................................................................................................................51 4.2. O contexto arqueológico: sepulturas, povoados e arte rupestre..................................54 Capítulo 5 : As escavações.................................................................................................................58 5.1.Introdução.......................................................................................................................59 5.2. O recinto de Vale Maria do Meio..................................................................................60 5.2.1. A escavação: estruturas e estratigrafia.....................................................................60 5.2.2. Os materiais..............................................................................................................62 5.2.3. O monumento e a paisagem......................................................................................64 5.3. O menir do Monte do Tojal............................................................................................65 5.3.1. Listagem das Unidades Estratigráficas.....................................................................68 5.3.2. Listagem dos materiais................................................................................................68 5.3.3. Avaliação dos resultados.............................................................................................69 5.4. O recinto do Tojal..........................................................................................................72 5.4.1. Listagem das Unidades Estratigráficas.......................................................................73 5.4.2. Listagem dos materiais (registos individuais).............................................................73 5.4.3. Avaliação dos resultados.............................................................................................73 5.5. Vale d’El Rei..................................................................................................................76 5.5.1. A história do monumento e a escavação.....................................................................76 5.5.2. Estratigrafia.................................................................................................................78 5.5.3. Listagem de materiais.................................................................................................84 5.5.4. Comentários................................................................................................................88 6. S. Sebastião.......................................................................................................................89 5.6.1. Os antecedentes...........................................................................................................89

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5.6.1. A escavação.................................................................................................................90 5.6.1. Listagem das Unidades Estratigráficas.......................................................................90 5.6.2. Avaliação dos resultados.............................................................................................92 6.6. Síntese dos resultados das escavações..........................................................................100 Capítulo 6: Caracterização morfológica dos menires do Alentejo Central....................102 6.Caracterização morfológica dos menires do Alentejo Central..........................103 6.1. Aspectos preliminares...................................................................................................................103 6.1.1. Matéria-prima, forma e dimensões............................................................................107 6.2. Decoração.....................................................................................................................122 6.2.1. O báculo....................................................................................................................125 6.2.2. A Lua e o Quadrilátero..............................................................................................130 6.2.3. A Serpente.................................................................................................................133 6.2.4. Os Círculos................................................................................................................135 6.2.5. Síntese.......................................................................................................................136 Capítulo 7: Os contextos arqueológicos.......................................................................................125 7. O contexto arqueológico.................................................................................................140 7.1. Menires e conjuntos de menires................................................................................140 7.1.1. Os recintos...................................................................................................................140 7.1.2. Relações espaciais entre recintos...........................................................................151 7.1.3. Recintos e menires isolados..................................................................152 7.1.4. Os pares de menires............................................................................................152 7.1.5. Os alinhamentos..................................................................................................153 7.1.6. Os menires isolados..............................................................................153 7.2. Menires e monumentos funerários...................................................................153 7.3. Menires e vestígios de habitat...............................................................................155 7.4. Menires e arte rupestre.....................................................................................157 7.5. Menires e monumentos .naturais.............................................................................165 Capítulo 8: Os contextos paisagísticos...................................................................................174 8. Os contextos paisagísticos..............................................................................................175 8.1. Geologia....................................................................................................................176 8.2. Topografia.................................................................................................................177 8.3. Hidrografia...........................................................................................................183 Capítulo 9: Dados e hipóteses para uma leitura cronológica.....................186 9. Dados e hipóteses para um aleitura cronológica...................................186 9.1. Os dados do Alentejo Central...................................................................................186 9.1.1. A Idade do Ferro....................................................................................................186 9.1.2. A Idade do Bronze................................................................................................190 9.1.3. Neolítico final/Calcolítico......................................................................................190 9.1.4. Neolítico antigo/médio...........................................................................................191 9.2. Povoados, antas e menires, nas áreas limítrofes.......................................................195 9.3. Os dados de outras áreas...........................................................................................196 9.4. Síntese e propostas....................................................................................................198 Capítulo 10: Os menires da Península Ibérica................................................................................205 10.1. Introdução..................................................................................................................206 10.2. Algarve.......................................................................................................................206 10.3. Noroeste Peninsular -Centro/Norte de Portugal e Galiza.........................................210

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10.4. Cornija Cantábrica e Pirinéus Ocidentais (Astúrias, Palencia, Cantábria, Burgos e País Basco)................................................................212 10.5. Catalunha..................................................................................................................216 10.6. Outros........................................................................................................................218 10.7. Síntese........................................................................................................................220 Capítulo 11: Outras áreas da fachada atlântica..............................................................................222 11. Outras áreas da fachada atlântica..................................................................................223 11.1. Vendeia......................................................................................................................223 11.2. Bretanha..................................................................................................................226 11.3. Ilhas Britânicas.......................................................................................................230 11.4. Síntese........................................................................................................................234 Capítulo 12:Interpretações.............................................................................................................238 12.1. Introdução..................................................................................................................239 12.2. Os menires: significados e funções............................................................................239 12.3. Os primeiros construtores de menires........................................................................243 13: Para concluir................................................................................................................228 14: Bibliografia...................................................................................................................231 15. Anexos.........................................................................................................................277 15.1 Mapas........................................................................................................................278 15.2. Fotografias................................................................................................................287 15.3. Estampas de materiais..............................................................................................307

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AGRADECIMENTOS Muitas pessoas, directa ou indirectamente, contribuíram para a construção deste trabalho; a todos fica expresso o meu sincero agradecimento. Em primeiro lugar, ao Professor Doutor Victor S. Gonçalves, que aceitou orientá-lo e o ajudou a chegar a bom termo; mais do que esta tese, devo-lhe, desde os bons tempos da Vidigueira, um apoio e acompanhamente permanentes, uma enorme abertura de espírito. Um agradecimento, por muitas e boas razões, aos meus colegas do Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa, UNIARQ, sempre presentes e disponíveis e cujos padrões de qualidade foram um dos melhores estímulos para esta empreitada. À Dra. Leonor Rocha, ao Dr. Rui Mataloto, ao Dr. Artur Rocha e à Dra. Alexandra Hemming, colegas que colaboraram activa e entusiasticamente em várias fases deste projecto que, por diversas razões, se cruzou com os seus. Aos Professores Victor Hurtado e Leonardo Garcia, queridos amigos e vizinhos, pela troca de ideias verdadeiramente transfronteiriça. Pelas mesmas razões e por outras, aos Professores Primitiva Bueno e Rodrigo Balbín Ao Pedro Alvim, ao Rafael Henriques e aos Professores Marciano da Silva e Michael Hoskin, porque me ajudaram a tirar os olhos dos cacos e pedras e a olhar os horizontes mais distantes. Ao Professor Alexandre Araújo que me orientou, sem falhas, nalguns problemas geológicos e tectónicos. Várias instituições, de diversas formas, contribuíram para que este trabalho fosse possível. Em primeiro lugar, a Universidade de Lisboa e, dentro desta, o Departamento de História, onde, desde que aqui cheguei, beneficiei dos conhecimentos ou apenas da amizade de Professores excepcionais, num ambiente de genuína excelência académica. O Instituto Português de Arqueologia, que aprovou e apoiou financeiramente o projecto MAC-Menires do Alentejo Central, tal como autorizou e aprovou os relatórios das escavações efectuadas, e merece um reconhecimento especial, pelo papel desempenhado, desde a sua criação, na qualificação da Arqueologia portuguesa. O Instituto Geográfico do Exército, que forneceu a cartografia digital utilizada. A Fundação Eugénio de Almeida, instituição de quem fui bolseiro em 2002 e 2003, e que, para além disso, apoiou as prospecções arqueológicas nas Herdades de que é proprietária e financiou a organização de um Colóquio Internacional sobre Megalitismo e Arte Rupestre cujos efeitos colaterais não deixam de pesar neste trabalho, nem na valorização do património cultural alentejano; um agradecimento muito especial à Dra. Maria do Céu Ramos. A Câmara Municipal de Évora e, em particular, o seu Presidente e Vereador da Cultura, o Dr. José Ernesto de Oliveira que, em época de vacas magras, não deixou de apostar na Cultura e no Património. Ainda na Câmara Municipal de Évora, devo agradecer o entusiasmo do Prof. Luis Carmelo, do Dr. Rui Arimateia e do Dr. Panagiotis Sarantopoulos, a quem, de diversas formas, muito deve o património cultural eborense; por razões menos institucionais, um agradecimento caloroso ao grande fotógrafo José Manuel Rodrigues, ao Dr. Francisco Bilou e ao Dr. João Santos. A Câmara Municipal de Mora e, em particular o Sr. Matos, Presidente da Junta de Freguesia de Pavia, que deram apoio moral e material para a escavação e restauro do recinto do Vale d’El Rei. As Câmaras Municipais de Redondo e Vila Viçosa, que apoiaram a realização da respectivas Cartas Arqueológicas e, no primeiro caso, também custeou a publicação dos resultados. A Câmara Municipal de Reguengos de Monsaraz, que apoiou o desenho dos menires do Xarez. A Câmara Municipal de Montemor-o-Novo, que apoiou logisticamente as prospecções no concelho e a

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escavação e restauro do menir do Tojal. A Junta de Freguesia de S. Sebastião, que apoiou a escavação dos menires de S. Sebastião. O Mac Donald Institute e o Institute of Archaeology da Universidade de Cambridge, e, em particular, o Dr. Chris Scarre, que me acolheu e orientou na pesquisa bibliográfica. O Laboratoire d’Archéologie da Universidade de Rennes e, em especial, os colegas e amigos Grégor Marchand e Luc Laporte, que me acolheram e orientaram na pesquisa bibliográfica. O Instituto Arqueológico Alemão de Madrid, que me abriu as portas e as estantes da sua excelente biblioteca. O Museo Arqueológico de Badajoz, na pessoa do seu director, Dr. Guillermo Kurtz, vizinho e amigo, pela disponibilidade e apoio. Os meus alunos, que não sendo uma instituição fazem parte dela; é impossível nomeá-los a todos, tantos os que, nestes últimos anos participaram nas escavações e prospecções, ao Sol e à chuva. Por último, mais do que agradecimento, uma permanente gratidão, aos meus filhos e aos meus pais, porque são o melhor que tenho e por quem, quando me faltam, arranjo forças para lutar. Aos construtores de menires. Ao Alentejo.

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RESUMO Palavras-chave: Menires; Megalitismo; Neolitização Com base no estudo dos menires alentejanos, aqui analisados, sobretudo, numa perspectiva simbólica e espacial, e tendo em conta os dados disponíveis, de natureza cronológica, são reavaliados os modelos mais correntes sobre o processo de neolitização no Alentejo Central. A deficiente contextualização arqueológica dos monumentos megalíticos, sobretudo em termos de vestígios de habitat, quase sempre muito discretos e exigindo metodologias específicas, foi ultrapassada por um extenso programa de prospecções arqueológicas, cujos resultados permitiram, por um lado, um conhecimento aprofundado da paisagem regional e, por outro, estabelecer relações, de ordem espacial, que são uma das base essenciais deste trabalho. A associação reiterada entre os menires e o povoamento do Neolítico antigo/médio e entre este e a presença de grandes afloramentos graníticos foram, neste aspecto, duas das observações mais fecundas. A própria avaliação comparativa dos menires da região, no seu conjunto, permitiu definir áreas relativamente coesas, tipificar monumentos e observar presenças e ausências entre elas. O enquadramento genérico dos menires do Alentejo Central nas realidades peninsulares e de outras áreas da Europa atlântica, que teve como principal objectivo o estabelecimento de semelhanças e diferenças, permitiu identificar, em relação à Bretanha, fortes evidências de contactos culturais, omissos, de um modo geral, na comparação com as outras áreas. As relações entre os menires e a paisagem revelaram-se, apesar do carácter truncado dos monumentos, particularmente coerentes. Os festos (e os rios), os relevos destacados no horizonte, as formas locais do terreno, os limites geológicos e os principais eventos astronómicos foram, certamente, integrados nas estratégias de implantação de grande parte dos menires regionais. A constatação de que alguns recintos megalíticos apresentam plantas em forma de ferradura, para além de sugerir paralelos com a Bretanha, remete para o universo simbólico dos concheiros do Tejo/Sado e alargam o leque das analogias entre estes e os primeiros neolíticos do Alentejo Central. Em conclusão, os menires alentejanos permitem encarar a neolitização da região como obra dos últimos caçadores-recolectores complexos dos estuários limítrofes, no contexto da adopção do modo de vida neolítico. O carácter circunscrito dos menires alentejanos e, em particular, dos recintos, seria uma consequência da própria especificidade daquelas comunidades mesolíticas, no contexto peninsular.

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ABSTRACT Key-words: Menhirs; Megaliths; Neolitisation Based on the study of the alentejan menhirs, here analysed mostly in a symbolic and spatial perspective, and counting with the available chronological data, are reapreciated the most current models about the neolitisation process in the Central Alentejo. The deficient archaeological contextualisation of the megalithic monuments, mostly in terms of settlement sites – often very discreet and appealing for specific methodologies, has been overcome by an extensive program of archaeological field walking, whose results have allowed, on one hand, a deepened knowledge of the regional landscape and, on the other hand, to establish spatial relationships which are one of the essential basis of this work. The repeated association between menhirs and the ancient Neolithic settlement sites and between these and the big granite outcrops were, in this aspect, two of the more fruitful observations. The comparative evaluation of the regional menhirs, in the whole, allowed the definition of relatively consistent areas, to typify monuments and observe some presences and absences among them. The generic framing of the menhirs of Central Alentejo in the iberian context, and beyond, which aimed to establish similarities and differences, allowed the identification strong evidences of cultural contacts with Brittany, not supported by the comparision with the other areas. The relationships between the menhirs and the landscape, showed to be, in spite of the truncated character of the monuments, particularly coherent. The ridges (and the rivers), the outstanding features on the horizon, the local shapes of the terrains, the geological frontiers and the main astronomical events, have certainly been integrated in the implantation strategies of the most of the menhirs of the region. The assessment that certain alentejan megalithic enclosures display horseshoe shaped plans, not only suggested strong parallels with Brittany, but also points to the symbolic universe of the shell middens of Tejo/ Sado and enlarge the array of analogies between them and the first Neolithic settlers of Central Alentejo. In conclusion, the menhirs of Central Alentejo allow us to face the neolitisation of the region, as an achievement of the last hunter-gatherers of the neighbouring estuaries, in the context of the adoption of the Neolithic lifestyle. The circumscribed character of the alentejan menhirs and, particularly, the megalithic enclosures, would be a consequence of the very specificity of those Mesolithic communities, in the Iberian context.

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APRESENTAÇÃO DO PLANO DA OBRA A divisão em três volumes, ditada por aspectos práticos relacionados com a dimensão do trabalho, materializa, de forma aparentemente inversa, as duas fases fundamentais por que passou a investigação: o Volume 1 corresponde à análise e interpretação dos dados, enquanto os Volume 2 e 3 apresentam, sob a forma de listagens, a informação reunida sobre os menires do Alentejo Central e sobre os respectivos contextos arqueológicos, e que serviu de base à construção do Volume 1. Na verdade, a investigação partiu de uma análise e de uma interpretação dos dados disponíveis, no início do projecto, para o trabalho de campo (prospecção e escavação) que, como se esperava, foi alterando a imagem inicial, suscitando novas análises e interpretações. O Volume 1 pode ser dividido em quatro blocos fundamentais. No primeiro, que compreende os Capítulos 1 a 4, equacionam-se as problemáticas (Capítulo 1), define-se o tempo e o espaço (Capítulo 2), explicitam-se paradigmas e metodologias (Capítulo 3) e esboça-se, nos aspectos tidos como mais pertinentes, a história da investigação sobre o tema (Capítulo 4). No segundo ponto, que reúne os Capítulos 5 a 11, apresentam-se e analisam-se os dados obtidos nas escavações de cinco monumentos (Capítulo 5) que constituem um ponto prévio à caracterização e análise dos menires, no que diz respeito à matéria-prima, forma, dimensões e decoração (Capítulo 6); analisam-se, de seguida as diversas formas de associação espacial dos menires entre si e em relação às diferentes categorias de sítios listados (Capítulo 7), as relações com as paisagens físicas, em que se destaca a geologia, a topografia e a hidrografia, por serem os aspectos mais relevantes e estáveis, (Capítulo 8); apresentam-se e avaliam-se os dados de natureza cronológica disponíveis, numa sequência regressiva (Capítulo 9) e, por último, apresentamse e relacionam-se com os dados do Alentejo Central, os menires da Península Ibérica (Capítulo 10) e outros grupos da fachada atlântica europeia (Capítulo 11). O terceiro bloco, que abarca os Capítulos 12 e 13, trata da discussão dos significados e funções dos menires, no contexto específico do Alentejo Central (Capítulo 12) e das implicações da leitura proposta nos modelos de neolitização do Sudoeste peninsular (Capítulo 13); o Capítulo final, procura traçar, em linhas gerais as principais conclusões e perspectivas de investigação futura (Capítulo 14). A bibliografia (Capítulo 15), encerra este bloco. Por fim, o Volume 1 incorpora, como Anexos, elementos gráficos complementares, nomeadamente os Mapas temáticos, em que foram cartografados aspectos relacionados com os menires e com os respectivos contextos arqueológicos ou paisagísticos, as Fotografias dos povoados e as Estampas dos materiais que pretendem documentar questões abordadas no texto. No Volume 2, apresentam-se, sob a forma de fichas descritivas, os menires do Alentejo Central.

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O Volume 3 completa a base de dados de referência, integrando, de uma forma mais resumida, os restantes monumentos e sítios; separadamente, apresenta-se, no final deste volume, a listagem dos sítios de arte rupestre do Alqueva.

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Capítulo 1: Introdução

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1. Introdução Os menires alentejanos são, ainda hoje, um tema relativamente omisso, no contexto dos estudos sobre a monumentalidade megalítica europeia. Esta lacuna é perfeitamente compreensível, se nos lembrarmos que a maioria dos monumentos mais interessantes (pelas dimensões, complexidade e estado de conservação) só começou a ser conhecida há cerca de três décadas, enquanto, nas grandes regiões megalíticas da Europa atlântica, os monumentos mais conhecidos o são, pelo menos, desde o século XVIII, ou mesmo antes (Cassen et al. 2000; Burl,

Fig. 1.1 - Gravura dos inícios do sec. XVII, representando um recinto circular (Rollright Stones, Oxfordshire) (seg. Burl, 1999: 13)

1979; 1993; 1999). Sintomaticamente, quando publicou as primeiras notícias sobre os menires algarvios, Estácio da Veiga tinha apenas conhecimento de três casos, todos duvidosos, em Portugal (em Vila Velha de Ródão – Fratel, Monte Fidalgo e Ribeira de Alcafala), embora, ao mesmo tempo, revelasse estar bem informado sobre a realidade francesa, onde estariam, já nessa altura “contados mil seiscentos e trinta e oito menires, distribuídos por oito departamentos, sendo o maior d’entre todos o de Locmariaquer, no Morbihan” (Veiga, 1891, I, 88). Esta décalage deve-se, em parte, ao acaso. Ainda hoje, extensas áreas do nosso território permanecem virgens, em termos de prospecção arqueológica intencional, e não são muitos os menires cuja descoberta ytenha sido fortuita. Por outro lado, estes monumentos sempre foram considerados, pelos estudiosos do megalitismo, mais problemáticos do que os dólmens, quanto ao potencial informativo global e, em parte por isso mesmo, muito mais difíceis de “arrumar” em termos cronológicos e funcionais; de facto, a ausência quase sistemática de mobiliário claramente associado aos menires , assim como a desproprção numérivca destes monumentos em relação aos restantes monumentos megalíticos, foram, naturalmente, factores de desinteresse pelo respectivo estudo arqueológico. No caso alentejano, outra das razões da descoberta tardia dos menires é o facto de, na sua maioria, se encontrarem tombados, dificultando, por isso, a respectiva identificação e de, por norma, serem constituídos por blocos sem qualquer afeiçoamento aparente, sendo facilmente confundidos com ocorrências naturais, relativamente abundantes nas paisagens graníticas da região. Um fenómeno que há que ter em conta no estudo destes monumentos e que se relaciona com a aparente invisibilidade dos mesmos, é a pressão exercida pelas novas tecnologias agrícolas a partir de meados do século vinte, traduzida numa destruição silenciosa e descontrolada, problema veementemente denunciado

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pelos pioneiros do estudo do megalitismo alentejano ( Pina, 1971: 160, 161; Gonçalves, 1975: 242). Noutras áreas megalíticas europeias, porém, os menires têm recebido tanto do público, como dos investigadores e dos poderes oficiais, uma atenção e um interesse muito mais efectivos. Em Portugal, apesar de um certo pessimismo sobre a possibilidade de descodificação do fenómeno menírico, não deixa de ser revelador do fascínio que estes monumentos exercem, o facto de, nos últimos anos, terem sido publicadas várias obras sobre megalitismo e até sobre pré-história geral, história da arte e antropologia, em cujos conteúdos os menires são um tema muito minoritário, mas, mesmo assim, foram

Fig. 1.2 - Capas de algumas publicações recentes, reflectindo o interesse pelo tema dos menires.

escolhidos para ilustrar as respectivas capas (Gonçalves, 1992; Fitas, 1997; Gonçalves, 1999; Gonçalves, 2000; Cardoso, 2002; Pereira, 2004). Em contrapartida, curiosamente, no artigo em que, como veremos, foi dado a conhecer o primeiro menir a Sul do Tejo, no último quartel do século XIX (Pereira, 1880: 253), apesar de uma parte importante versar sobre o menir e de o autor ter consciência da raridade da descoberta, o texto aparece ilustrado apenas com gravuras de antas (Fig. 4.1). Infelizmente, muita da atracção que o megalitismo exerce sobre o grande público radica numa literatura fantasiosa que, em contraponto dos esforços e avanços da arqueologia, obscurece os menires e os dólmens entre cerimónias druídicas, visitas de extraterrestres e teorias afins. Compete-nos, enquanto pré-historiadores, não perder de vista o que sabemos (e o que julgamos saber) sobre os contextos ideológicos, sociais, económicos ou ambientais em que os menires foram “inventados” e usados, e sem os quais muitos disparates podem, aparentemente, fazer sentido. Como já tive oportunidade de defender noutros lugares, estou convencido de que os dados disponíveis permitem encarar os menires como a primeira manifestação do fenómeno megalítico, no Alentejo Central (Calado, 1999; 2002), e de que é no próprio processo de neolitização das últimas comunidades de caçadoresrecolectores do Tejo-Sado que essa inovação ganha sentido. Esta perspectiva, reforçada por indícios de diversas ordens, surgidos sobretudo na última década, implica uma certa ruptura com a tradição da investigação portuguesa, em que o Mesolítico, o Neolítico Antigo e o

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Megalitismo se constituíram como compartimentos relativamente estanques e em que, sobretudo, o primeiro e o último dos elementos deste trinómio seriam totalmente independentes; estes universos paralelos não são, evidentemente, exclusivos da realidade arqueológica portuguesa (Thomas, 1991b). Sendo claro que a neolitização do Alentejo Central deve ser, quase por definição, integrada na corrente que, de Oriente para Ocidente, atingiu todo o Mediterrâneo e as costas ocidentais da Península Ibérica, a perspectiva em que, à partida, me coloco, exige uma focagem adicional que, de alguma forma, integre, na mesma trama de relações, alguns pontos-chave da fachada atlântica europeia. Efectivamente, se, quer o estudo das últimas sociedades de caçadores-recolectores e, em particular, as que enterraram os seus mortos nos concheiros, quer o estudo do megalitismo têm sido, tradicionalmente, relacionados com o espaço geográfico da europa atlântica (Roche, 1960; Jorge, 1982; Arnaud, 1987; 1993; Gonçalves, 1996), a verdade é que, no mapa da neolitização do nosso território, os olhares se voltam exclusivamente para o mundo mediterrânico. O estudo dos menires do Alentejo Central exige uma superação destes esquemas unidireccionais e a integração, num mesmo modelo interpretativo, de realidades que só artificialmente se poderão tratar em separado. É de regra, entre nós, que os estudos sobre Mesolítico e Neolítico antigo se concentrem em questões do foro económico e tecnológico; temas como o sagrado, a monumentalidade ou o simbólico seriam, pelos vistos, um exclusivo das sociedades que, a partir do Neolítico médio, construíram antas, fizeram placas de xisto ou até, no limite, sistemas de muralhas simbólicas. Pelo meio, ou ao lado, os estudos de arte rupestre que, em princípio, poderiam funcionar como elo de ligação, constituem, entre nós, um universo aparentemente autista e divorciado de tudo o resto. As cronologias relativamente baixas em que ocorreram, na Grã-Bretanha, na Irlanda ou na Escandinávia, os primeiros avanços neolitizadores, pareciam, só por si, explicar a coincidência entre a construção dos primeiros monumentos (nomeadamente megalíticos) e o Neolítico antigo, nessas áreas; pelo contrário, quer no eixo reno-danubiano, quer no mediterrânico, a construção de monumentos sempre pareceu desfasada em relação à adopção do modo de vida camponês. O megalitismo, concebido, por norma, apenas na vertente funerária, seria, na melhor das hipóteses, o resultado tardio de um processo lento, de consolidação da economia de produção e nunca um dos ingredientes básicos associados à transição mesolítico-neolítico. O Sul de Portugal e a Bretanha parecem, no entanto, constituir exemplos precoces, no mundo europeu, da emergência, mais ou menos simultânea, do Neolítico e da monumentalidade, representada pela erecção dos menires mais antigos (Calado, 2002; Cassen, 2000; David Calado et al., 2004). É claro que poderíamos sempre procurar um imponderável germe oriental nos dados que têm surgido, nos últimos anos, relativos às grandes estelas decoradas, em contexto económico de caça e recolecção, de que se destaca o sítio anatólico de Göbekli Tepe (Cauvin, 2000; Verhoeven, 2002); porém, as dificuldades óbvias impostas pela distância (cronológica e espacial) e a ausência de pontos intermédios, inviabilizam ou, pelo menos, relativizam, a valorização destes antecedentes. A informação actualmente disponível sobre os menires e que constitui o cerne deste trabalho, sendo parcelar e permitindo, em muitos casos, múltiplas leituras, obriga, mesmo assim, a uma revisão conceptual

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que extravasa, largamente, o próprio tema. Procurei, por um lado, apresentar e criticar a base de dados reunida, mas explorar, com a contenção indispensável, as respectivas consequências.

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Capítulo 2: Delimitação cronológico-cultural do tema e caracterização da área de estudo

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2. 1. Âmbito cronológico Em termos cronológicos, os dados reunidos no volume 2 e, sobretudo, no volume 3, abarcam o período compreendido entre os meados do VI e os finais do III milénios antes da nossa era, que corresponde, de um modo geral, ao aparecimento e amadurecimento das primeiras sociedades camponesas e das primeiras sociedades agro-metalúrgicas, no Sul da Península Ibérica. Quanto ao limite mais recente, esta opção foi condicionada pela própria definição do conceito de menir, tal como tem vindo a ser tradicionalmente considerado pela investigação pré-histórica, no ocidente peninsular (Gonçalves e Sousa, 2000: 14); na verdade, quase por convenção tácita, os menires têm sido integrados na Cultura Megalítica regional, como um fenómeno mais ou menos paralelo aos monumentos megalíticos funerários e estes, não ultrapassam, por norma, o final do Calcolítico. É claro que hoje sabemos bem que a utilização de monólitos morfologicamente análogos aos menires préhistóricos, extravasa largamente esse limite, pelo que se torna necessário admitir algumas zonas de sombra, para cujo esclarecimento espero, até certo ponto, contribuir. Menos consensual, é, naturalmente, o limite mais antigo. Na verdade, depois de uma fase simplificadora e inocente em que, com base em argumentos mal escorados, se aceitava, para os menires em geral, uma cronologia tardo-neolítica, surgiram, há pouco mais de uma década, as primeiras objecções e propostas alternativas. Curiosamente, perdida a fé num modelo que parecia, teoricamente, bastante sólido, o pessimismo instalou-se e os menires revelaram-se um tema muito mais complexo do que parecia e que importava repensar. O embrião deste trabalho foi, efectivamente, gerado pela ruptura desse esquema cronologico-cultural, que imperou desde meados dos anos setenta; a possibilidade de os menires terem começado a ser erguidos antes dos monumentos megalíticos funerários, implica uma história totalmente diferente na sequência evolutiva do megalitismo regional e um retrato muito inovador da personalidade cultural das sociedades do Neolítico antigo/médio (Calado, 1990; 2002d); o tema ganhou, entretanto, consistência e amplitude com a confirmação da sobrevivência (ou reminiscência) dos menires até à Idade do Ferro (Rocha, 1997, 1999, 2000). A questão fundamental, e aquela sobre a qual me quero debruçar mais detidamente, é, no entanto, a da génese dos menires, a qual, provavelmente, se confunde com a própria génese do Megalitismo, em sentido lato, no Alentejo Central. Interessa-me determinar a época e os actores e confrontar o que sobre eles julgamos saber, com a informação recentemente reunida. O exercício obriga, desde logo, a uma revisão dos modelos com os quais, com base noutros dados e, sobretudo, em dados de outra natureza, se tem procurado explicar a neolitização do ocidente peninsular. 2.2. Âmbito geográfico Em termos geográficos, os limites parecem relativamente nítidos; mesmo assim, é necessário algum artifício, uma vez que existem sempre zonas periféricas ou de transição. Na verdade, a cartografia dos menires centro alentejanos define, só por si, uma paisagem bastante coesa, mais ou menos coincidente com o território do distrito de Évora, a Oeste do Guadiana; dentro deste espaço geográfico, é ainda possível agrupar os monumentos em cinco áreas megalíticas, relativamente homogéneas do ponto de vista paisagístico e separadas umas das outras por descontinuidades mais ou menos marcadas:

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Fig. 2.1 - Mapa de enquadramento da área de estudo na Península Ibérica

Fig. 2.2 - Limites da área de estudo e dos concelhos

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Fig. 2.3 - Mapa hipsométrico do enquadramento da área de estudo.

Fig. 2.4 - Modelo digital de terreno do enquadramento da área de estudo.

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Fig. 2.5 - Mapa dos principais acidentes orohidrográficos do enquadramento da área de estudo.

Fig. 2.6 - Mapa de distribuição do total dos registos (sítios e monumentos).

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Fig. 2.7 - Mapa de distribuição dos menires no Alentejo Central.

Fig. 2.8 - Distribuição dos recintos megalíticos, no Alentejo Central; 1: Fontaínhas; 2: Vale d’El Rei; 3: Cuncos; 4: Sideral; 5: Casas de Baixo; 6: Tojal; 7: Almendres; 8: Portela de Mogos; 9: Vale Maria do Meio; 10: Perdigões; 11: Monte da Ribeira; 12: Xarez. Os círculos indicam os principais grupos propostos.

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1. Área de Évora. Corresponde a uma concentração muito significativa de monumentos, num território relativamente pouco extenso, com cerca de 15 Km de diâmetro, a Oeste da cidade de Évora; fora deste núcleo central, que inclui os três maiores recintos megalíticos da Península Ibérica - Almendres (nº 1), Portela de Mogos (nº 4) e Vale Maria do Meio (nº 2) - e alguns menires de grandes dimensões - Monte dos Almendres (nº 32), S. Sebastião (nº 8), Oliveirinha (nº 27), Mauriz (nº 38), Veladas (nº 36), Vale de Rodrigo (nº 46), localizam-se alguns menires avulsos, ainda no concelho de Évora e, um pouco para Norte, nos concelhos de Montemor-o-Novo e Arraiolos.Trata-se, sobretudo, de uma área granítica que corresponde, em termos gerais, a terrenos pouco ondulados, intercalada de relevos de gnaisse, nas cabeceiras superiores das bacias do Tejo, do Sado e do Guadiana. 2. Área de Reguengos de Monsaraz. Corresponde, basicamente, aos terrenos de rochas granitóides do concelho de Reguengos de Monsaraz. Os menires organizam-se, aparentemente, em dois sub-grupos: um deles, a Oeste, com dois (ou três) recintos e alguns menires isolados, que parece formar uma mancha mais ou menos contínua, na parte Norte do concelho, enquanto o recinto do Xarez (nº 6) aparece relativamente isolado, a ESE dessa área, junto ao Guadiana. Existem ainda alguns menires isolados, dispersos pelo concelho. 3. Área de Pavia. Os menires e os recintos dispersam-se, nesta área, ao longo de uma faixa, de direcção genericamente EW, que compreende manchas de gnaisses, granitos e terrenos detríticos. É possível, igualmente, subdividir este grupo em duas unidades, atendendo à distância e às diferenças que os separam: a oriente dos limites da área megalítica funerária de Pavia, sobre terrenos terciários, localiza-se, relativamente isolado, o recinto das Fontaínhas (nº 10); o outro núcleo, centrado no recinto de Vale d’El Rei (nº 15), integra ainda o menir da Caeira, alguns monólitos duvidosos e os menires relacionados com a necrópole da Tera (nº 14). O menir da Gonçala (nº 58) surge deslocado em relação a um ou outro núcleo. 4.Área de Cuncos Compreende um conjunto restrito de monumentos, aparentemente organizados em torno do recinto de Cuncos (nº 7). Trata-se de terrenos de rochas metamórficas, junto aos limites com os tonalitos. Relaciona-se directamente com o festo Tejo-Sado. 5. Área do Tojal. Compreende um par de recintos - Tojal (nº 5) e Casas de Baixo (nº 12) - e um menir isolado - Monte do Tojal (nº 57) - inseridos num contexto monumental muito diversificado, com um conjunto de sepulturas megalíticas e submegalíticas. Os monumentos ocupam duas pequenas manchas detríticas, rodeadas de afloramentos de rochas granitóides.

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Para além destas cinco áreas, onde podemos, aparentemente, rastrear alguns possíveis indicadores de identidades micro-regionais, existem alguns monólitos dispersos, sempre em articulação com as prováveis fontes de matéria-prima (rochas graníticas ou granitóides) de que se destaca o pequeno conjunto de menires (alguns deles duvidosos) da área do Redondo. A análise sumária da distribuição dos menires no Alentejo Central permitiria, à partida, definir uma área de estudo mais restrita, excluindo, por exemplo, o concelhos de Estremoz, Borba, Vila Viçosa, Alandroal, Viana do Alentejo e Vendas Novas (Fig. 2.2). No entanto, o território do actual distrito de Évora, a Oeste do Guadiana (que configura uma área de estudo com cerca de 7100 Km 2), apresenta uma clara unidade geográfica, aferida historicamente pela própria centralidade natural da cidade de Évora; as raízes deste território remontam, pelo menos, até à época romana e decorrem de uma lógica espacial cujos fundamentos parecem adequar-se razoavelmente ao fenómeno menírico regional. Pretendi, por outro lado, confrontar, numa realidade paisagística bem definida, as presenças e ausências de menires. Na verdade, a escassez deste tipo de monumentos na região da serra d’Ossa (Calado, 2001a), onde, por diversas razões, as prospecções têm sido, nos últimos anos, particularmente intensas, constituiu uma das questões fundamentais no arranque deste projecto. Para a caracterização fisiográfica do Alentejo Central, utilizei principalmente os dados sintetizados nos mapas do Atlas do Ambiente (Comissão Nacional do Ambiente), na escala de 1:1 000 000, e as respectivas Notícias Explicativas, a par de outros trabalhos de carácter geográfico, assentes igualmente em cartografia de pequena escala (Daveau, 1977: 92, 96; 1985:29, 30; Ferreira, 1981: 18, 20); a imagem resultante beneficiou ainda, em alguns aspectos, do conhecimento directo do território, como resultado indirecto do trabalho de prospecção. Trata-se de uma área que, em termos geomorfológicos, se integra, quase na totalidade, no Maciço Antigo e, dentro deste, na zona de Ossa-Morena. É atravessada pela chamada falha da Messejana, ou falha do Alentejo, a grande fractura geológica que percorre no sentido SW-NE, todo o Alentejo, prolongando-se, a partir de Campo Maior, pelo território de Espanha (onde é conhecida como falha “de Plasencia”). No Alentejo Central, o relevo apresenta-se frequentemente muito movimentado (declives entre os 8% e os 35%) nas manchas de rochas metamórficas do complexo xisto-grauváquico, que predomina na região da serra d’Ossa e na serra de Portel; nestes contextos, os recursos aquíferos subterrâneos são muito limitados (com produtividades inferiores a 50 m3-dia/Km2) e os solos com fraco potencial de uso agrícola (classes D e E). Nas áreas de granitos/quatzodioritos/granodioritos/tonalitos e outras rochas magmáticas afins, o relevo é normalmente muito mais suave (declives geralmente inferiores a 4%) e, embora o aquífero subterrâneo seja igualmente pouco significativo (produtividades inferiores a 50 m3/dia/Km2), os solos são, por regra, mais aptos para a actividade agrícola (dominam as classes B e C); esta paisagem, que constitui, por assim dizer, o núcleo central do Alentejo Central, é determinante na distribuição do megalitismo regional . Dentro deste grupo, os granitos propriamente ditos aparecem bem representados, estendendo-se, numa

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Fig. 2.9 - Cartografia geológica simplificada do Alentejo Central e localização dos menires.

linha quase contínua, de S. Geraldo (Montemor-o-Novo) por Santana do Campo (Arraiolos) até Pavia (Mora). De um modo geral, dentro das rochas magmáticas, as áreas graníticas aparecem-nos particularmente desfavorecidas em termos de capacidade de uso dos solos (dominam actualmente as classes D e E - uso não agrícola), característica que podemos relacionar com os declives mais acentuados e com uma maior pedregosidade dos terrenos. As rochas carbonatadas, por sua vez, definem áreas de relevo ocasionalmente vigoroso (nos rebordos do Maciço Calcário de Estremoz, por exemplo, os declives atingem os 35%), com assinaláveis recursos aquíferos subterrâneos (produtividades entre os 250 e os 300 m3-dia/Km2) e com boas manchas de terras agrícolas, potenciadas pela abundância de água e pela presença de solos argilosos que resultam da alteração dos calcários (terra rossa). Note-se, porém, a ocorrência significativa de extensas áreas com solos muito pedregosos, sem qualquer viabilidade para uso agrícola, nomeadamente nas zonas centrais do Maciço Calcário de Estremoz, de substrato dolomítico. A mancha de terrenos detríticos, correspondente às bordas das bacias terciárias do Tejo e do Sado, abrange boa parte dos concelhos de Montemor-o-Novo e Mora, e quase a totalidade do concelho de Vendas Novas. Trata-se de áreas de relevo geralmente pouco acidentado, com fortes limitações em termos de capacidade de uso dos solos, no caso das formações oligocénicas, e em que a rede hidrográfica, densamente hierarquizada, abriu vales de fundo aplanado, preenchidos com aluviões, geralmente aptos para agricultura de regadio; os interflúvios são actualmente terrenos de montado, em que é notório, com raras excepções, o

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escasso potencial agrícola (classes D, E e, apenas pontualmente, C). Apesar da importante produtividade actual dos recursos aquíferos subterrâneos que, no troço inferior das bacias atinge valores superiores a 400 m3 (dia/km2), a elevada profundidade a que se encontra uma boa parte dos lençóis freáticos deve ser tomada em consideração, no contexto das épocas que nos interessam. São ainda de assinalar as manchas detríticas paleogénicas, algumas das quais intimamente relacionadas com a falha da Messejana. Estas áreas, aparecem como oásis de solos agricultáveis (classes B e C), considerando sobretudo o “deserto” de terrenos xistosos em que se inserem. Em termos hidrográficos, o Alentejo Central partilha as três principais bacias do Sul do País, que convergem num ponto localizado algures entre Évora e Arraiolos. Cursos de água e festos representam, para os tempos pré-históricos e até recentemente, os principais elementos da rede viária natural da região, que, como veremos, desempenha um papel aparentemente fulcral na distribuição dos principais recintos megalíticos alentejanos. O Guadiana, cujo leito se encaixa profundamente nos xistos (pontualmente também nos quartzodioritos) é, na verdade, o grande acidente hidrográfico do Alentejo Central, uma vez que o contacto com as outras bacias é feito apenas através dos troços superiores de alguns dos respectivos afluentes. Climaticamente, verifica-se, nesta região, uma diminuição progressiva da pluviosidade a par de um aumento da insolação (com valores médios anuais que atingem as 3000-3100 horas), da radiação solar (que atinge as 165 kcal/m2) e das amplitudes térmicas, à medida que, a partir do Oeste, nos aproximamos do Guadiana. Estas elevadas amplitudes térmicas resultam sobretudo da ocorrência de estios “muitíssimo quentes” (mais de 33o C, 137 dias, ou mais, com máximo superior a 25o C) (Daveau, 1985: 47, 52). Orlando Ribeiro observou que “no vale do Guadiana, que é durante o Estio uma fornalha que nenhum vento refresca, as plantas crestam-se com o ar ardente e seco” (Ribeiro, 1987: 107). De entre as causas que permitem explicar esta conjuntura destaca-se o maciço da serra d’Ossa, que intercepta os ventos húmidos do Noroeste e desencadeia localmente chuvas “orográficas”, sendo, por isso, responsável por uma diminuição da pluviosidade na parte Leste da região; a bacia do Guadiana, por outro lado, é “caminho fácil das influências climáticas continentais”, oriundas dos planaltos da Meseta Sul (Daveau, 1985: 29). Note-se, em todo o caso que, mesmo mantendo reservas que se impõem sobre a extrapolação dos dados climáticos actuais para épocas para as quais não existem ainda reconstituições paleo-ambientais suficientes, como é o caso do Alentejo Central, a estabilidade dos principais factores climáticos envolvidos (topografia, continentalidade e direcção dos ventos dominantes) permite admitir que, mesmo com valores absolutos distintos, as relações fundamentais se tenham conservado basicamente idênticas. Em termos ecológicos, as áreas de cotas superiores (Maciços de Elvas, Estremoz, serra d’Ossa e Monfurado), apresentam características fitoclimáticas submediterrâneas, com a presença do zambujeiro (Olea europaea,var. sylvestris), do Pinheiro bravo (Pinus pinaster, var. atlantica), do pinheiro manso (Pinus pinea), do carvalho cerquinho (Quercus faginea) e do sobreiro (Quercus suber). Nas áreas com cotas mais baixas (com um limite em torno dos 350 m), distingue-se uma zona de tipo ibero-mediterrâneo que coincide com a bacia do Guadiana e uma zona de transição que reúne características ibero-mediterrâneas e submediterrâneas e corresponde aos troços superiores das bacias do Tejo e do Sado.

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Na bacia do Guadiana, as espécies autofíticas dominantes são o zambujeiro e o sobreiro, enquanto na zona de transição, a par da ausência do carvalho cerquinho e dos pinheiros, encontramos as mesmas espécies que nas anteriores e ainda o zimbro vermelho (Juniperus oxycedrus). Quanto aos recursos mineiros, de que apenas interessam, no âmbito deste trabalho, as mineralizações cupríferas, o Alentejo Central não parece constituir uma região particularmente rica. Destacam-se, no entanto, algumas ocorrências na serra de Monfurado, na serra de Portel e, em especial, na região da serra d’Ossa (Ferreira e Viana, 1956: 528; Carta Mineira de Portugal, 1960; Allan, 1965; Ferreira, 1970:99; Perdigão, 1971, 1974; Gonçalves, 1974, 1988; Castro, 1985: 82-84; Domergue, 1987:518). Outra das matérias-primas cuja presença é altamente pertinente, o anfibolito, encontra-se bem representada na região, em afloramentos que permitiam uma exploração superficial que não parfece ter deixado rastos. O sílex e outras rochas siliciosas, utilizadas pelo menos desde o Neolítico antigo, ocorrem, sob a forma de pequenos seixos rolados, nas cascalheiras quaternárias do Guadiana, embora para as indústrias laminares, o sílex fosse certamente proveniente de áreas exteriores ao Alentejo Central; o uso do material do Guadiana parece, em geral, ter sido sobretudo de âmbito local. Também o quartzito ocorre, na região, exclusivamente nas cascalheiras do Guadiana; a distribuição dos achados avulsos de seixos talhados neste material, demonstram essa proveniência e uma irradiação, com um certo gradiente, de Leste para Oeste (mapa 8).

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Capítulo 3: Considerações teóricas e metodológicas

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3.1. Os pressupostos teóricos Procurei, neste trabalho, tomar em consideração e conjugar as diversas propostas teóricas que, nas últimas décadas, se têm vindo a confrontar no pensamento arqueológico contemporâneo. Postos de lado os casos mais exacerbados e radicais de cada corrente, estamos hoje em condições de reconhecer em todas elas contributos críticos positivos e avanços metodológicos que podem enriquecer cumulativa ou alternativamente a investigação arqueológica (Alarcão, 1996; Gallay, 1986). Efectivamente, os anos noventa do século passado viram surgir tentativas de síntese ou de conciliação que implicam quer o reconhecimento dos pontos fracos e dos becos sem saída de alguns paradigmas, quer das propostas mais fecundas que cada um deles gerou (Bradley, 1993; Kohl, 1993; Bell, 1994; Renfrew, 1994a, 1994b; Zubrow, 1994; Shanks e Hodder, 1995; Hodder, 1999). Na tradição europeia continental e da própria escola onde me integro, adoptei uma valorização básica do trabalho de campo, da recolha e análise dos dados, consciente, apesar de tudo, da insuficiência das velhas crenças positivistas: não basta, efectivamente, acumular evidências e estas raramente falam por si. Trata-se, antes de mais, de uma perspectiva integralmente arqueológica, daquelas que nascem, crescem e se reproduzem nos Departamentos de História da nossa tradição cultural. Não procurei, por coerência e por opção, travestir este trabalho de superficiais matizes antropológicos. Evitei, por norma, fundamentar interpretações em paralelos etnográficos (ou mesmo estudos etno-arqueológicos), embora não deixe de referir autores que se abalançaram nesses terrenos ou de invocar, eu próprio, um ou outro exemplo. É certo que o meu tema de estudo (por ser tão transversal no tempo e no espaço) se presta a exercícios desse tipo; no entanto, prefiro, mesmo que sem muita rigidez, tratá-lo num contexto cultural concreto. É, pois, numa abordagem muito mais histórica do que neo-arqueológica que este trabalho se tece: as cronologias, por muito instáveis que ainda sejam, são, a par das especificidades geográficas, as referências fundamentais em que se procura dar sentido aos cacos e pedras que, não constituindo um fim em si mesmos, são, por definição, uma das principais matérias-primas arqueológicas. Por formação humanista (e, em parte, por defeito) tenho horror aos números e gráficos, sobretudo quando eles não fazem mais do que dar roupagem científica àquilo que, por outros meios, já sabíamos ou acreditávamos (Djindjain, 1991: 28); mesmo assim, procurei, modestamente, alguma quantificação dos dados e, das análises efectuadas, apresentar aqui as mais significativas. Em contrapartida, tenho fascínio pelos mapas e pela relação entre os homens e as paisagens que, em diversas escalas, eles nos permitem visualizar; sou, talvez, neste pormenor, influenciado pela antiga simbiose entre História e Geografia e, indirectamente, pela obra do grande Mestre da minha Universidade que foi Orlando Ribeiro. A Nova Arqueologia e os seus contributos, pelo menos nas versões mais mitigadas que hoje subsistem, emergem, aqui e ali, de uma forma estruturante, em algumas opções metodológicas. De facto, a tese que aqui se defende partiu de um modelo, construído indutivamente, de que resultaram hipóteses testadas por novas investigações. E, como seria de esperar, nesse percurso, foram surgindo outras versões e alternativas, como resultado das novas evidências entretanto avaliadas. É verdade também que, alertado para o carácter redutor do método hipotético-dedutivo, não recusei

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interpretações aparentemente menos escoradas, na expectativa de reavaliações e reformulações inevitáveis. A arqueologia e a história têm, em suma, como destino, oscilar entre a arte e a ciência, num processo em que a intuição e o teste, a razão e a emoção não são antinomias exclusivas (Gonçalves, 2004: 181). Trata-se, não o esqueçamos, do fenómeno humano como objecto e como sujeito. Os menires impõem, pela sua própria natureza, a formulação de questões de ordem simbólica e ideológica: nem por isso estarão ausentes deste trabalho algumas reflexões sobre os contextos económicos e tecnológicos que lhes subjazem. Sem partilhar as perspectivas funcionalistas que fizeram furor nos anos sessenta e setenta, procurarei integrar, na medida do possível, o fenómeno e as sociedades que lhe deram origem nas circunstâncias ecológicas e demográficas concretas que, mesmo que não tenham sido sempre as causas da mudança são, certamente, elementos a ponderar. A perspectiva fenomenológica (Ingold, 1993; Tiley, 1994; Bradley, 1998; Cooney, 2000; Scarre, 2002) na relação dos menires com as paisagens, é certamente uma das mais fecundas: são monumentos que, partindo de uma determinada percepção das paisagens naturais, lhes acrescentaram significados e condicionaram a leitura. As questões mais complexas colocam-se, naturalmente, com os recintos megalíticos. Numa escala crescente, importa interpretar, em primeiro lugar, a escolha da própria região, atendendo à concentração peculiar de recintos no Alentejo Central; em seguida, a escolha dos locais, no âmbito da paisagem regional e, por último, a implantação, a forma e a decoração dos monumentos. Na verdade, estes aspectos são abordados, pela ordem inversa, nos capítulos 6, 7 e 8. A condicionar uma análise deste tipo, como qualquer outra de carácter interpretativo, colocam-se, à cabeça, os problemas cronológicos. Desde logo, e apesar de partilharem, em maior ou menor grau, um certo número de características comuns, os recintos megalíticos não foram concerteza construídos todos ao mesmo tempo; por outro lado, menires isolados, monumentos funerários, arte rupestre e povoados implicam, por definição, sincronias e diacronias em relação aos recintos que, na exacta medida em que os dados o vão permitindo, tendem a revelar-se mais complexas. As cronologias são, portanto, dentro de limites ainda estreitos, abordadas, neste trabalho, cruzando o maior número possível de dados e indícios: associações espaciais, datações radiocarbónicas, artefactos, paralelos; por outro lado, devido ao carácter localizado dos monumentos cujas especificidades apelam para explicações muito contextualizadas, poderia afirmar-se que, para além dos menires, é o próprio Alentejo Central, numa perspectiva paisagística, que constitui o tema deste trabalho. A paisagem, concebível como área de captação de rescursos ou como território político, não é excluída nesta aproximação; no entanto, a natureza eminentemente simbólica dos menires obriga a uma leitura simbólica das paisagens que eles requalificaram. Difícil, se não impossível, será destrinçar, na visão do mundo dos construtores de menires, esses diferentes níveis de relação. Os menires representam um novo capítulo na história da arte europeia; efectivamente, é no domínio do comportamento simbólico e cognitivo, que se colocam as questões mais pertinentes e, de certo modo, os

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menires são indissociáveis de um estudo contextual da arte rupestre. Trata-se, evidentemente, “das áreas do comportamento que, ao fim e ao cabo, nos tornam distintivamente humanos e nos separam mais claramente dos animais” (Scarre,1994: 75). 3.2. Metodologia 3.2.1. Os trabalhos de campo Uma base de dados constitui o terceiro volume deste trabalho; nela, procurei, desde o início, reunir a informação disponível na bibliografia, genericamente atribuível ao Neolítico e ao Calcolítico, no âmbito da área de estudo definida. No capítulo seguinte será feita referência, na perspectiva da história da investigação, às principais fontes utilizadas. Os dados novos que, por muito que nos custe, são o contributo mais sólido num exercício desta natureza, resultaram principalmente de um programa extensivo de prospecções arqueológicas; em boa medida, a eficácia das abordagens macro-espaciais, de ordem paisagística ou territorial, depende fundamentalmente da consistência dos dados proporcionados pela prospecção de superfície. Apesar das óbvias limitações que afectam a informação arqueológica de natureza exclusivamente superficial, nomeadamente a falta de estratigrafias, de cronologias absolutas e de dados paleoeconómicos directos, a prospecção é o único método que permite ultrapassar o estudo casuístico dos sítios arqueológicos; estes deixam de ser vistos como ilhas e, naturalmente, adquirem significados distintos, conforme os contextos em que se inserem, tal como os artefactos que, podendo ser estudados isoladamente, ganham novos sentidos, se integrados em contextos estratigráficos. Por outras palavras, os “sítios ganham sentido em virtude das suas relações com outros sítios e com aspectos físicos da paisagem social pré-existente.” (Preucel , 1999: 170) . De resto, como sabemos, o carácter parcelar da informação de superfície é extensivo a todas as áreas da investigação arqueológica, e não só. Os modelos e as interpretações que podemos e devemos produzir assentam, quase todos, em informação muito truncada e, quase por rotina, encontramos na literatura arqueológica, esse reconhecimento; prospecção, escavação, estudo de artefactos são, entre outras, áreas fundamentais da investigação arqueológica cujas diferenças exigem metodologias próprias e que, em boa verdade, correspondem a escalas de análise distintas e complementares e, cada uma por si, produz resultados específicos, aptos a responder a questões de diversas ordens. No âmbito deste trabalho, em que se procura valorizar a contextualização regional dos menires centroalentejanos, a prospecção de superfície foi, desde o início, definida como prioritária. Muitas das prospecções que efectuei ou dirigi, no Alentejo Central, sobretudo a partir de 1990, inseriramse em projectos sectoriais, de alcance diacrónico, nomeadamente a elaboração de Cartas Arqueológicas municipais (Calado, 1993a; Calado e Mataloto, 2001; e.p.), Inventários Arqueológicos inseridos nos Planos Directores Municipais (Calado, 1992; 2003a), Estudos de Impacte Arqueológico (Calado, 1995c; Calado e Mataloto, 1999; Calado, 2002b) ou simples levantamentos arqueológicos de propriedades privadas (Gonçalves et al, 1992; Calado, 2001c); outras, enquadraram-se num projecto de investigação académica, concluído em 1995, dirigido especificamente para o estudo do povoamento neolítico e calcolítico na região da serra d’Ossa

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(Calado, 1995a; 2001a); por último, desde 1997, novas prospecções foram efectuadas no contexto do projecto MAC (Menires do Alentejo Central), com o apoio do Instituto Português de Arqueologia. Esta última fase, que decorreu em paralelo com alguns dos projectos acima mencionados, foi particularmente orientada para a colmatação de lacunas de prospecção, em áreas que, por diversas razões, não tinham ainda sido contempladas. Tratou-se, na generalidade, de prospecções selectivas, cujos resultados podem, até certo ponto, constituir uma amostragem informal do potencial efectivo da área de estudo (Calado, 2001a). Embora tivessem sido usadas sistematicamente as técnicas clássicas de prospecção “de gabinete”, nomeadamente a análise cartográfica (toponímica, topográfica, geológica e mineira, pedológica, etc.) e aerofotográfica, e, no terreno, a recolha de informação oral, a verdade é que a grande maioria dos sítios inéditos foi identificada com base na observação directa e programada do terreno. Num balanço global, verifica-se que o único tema em que, na minha área de estudo, as prospecções não alteraram significativamente a informação de partida, foram as sepulturas megalíticas. O universo funerário, conectável, mais ou menos directamente, com os menires foi, mesmo assim, consideravelmente acrescentado, em particular no que diz respeito às sepulturas que designei como submegalíticas, aquelas que, por serem mais discretas e frágeis, escaparam mais frequentemente aos inventários clássicos que tiveram como objecto o megalitismo regional (Leisner e Leisner, 1956; 1959). A arte rupestre, até há pouco irrelevante no Alentejo Central, veio abrir um capítulo inesperado cuja conjugação com a problemática dos menires, por enquanto apenas esboçada (Calado, 2004), aguarda o estudo detalhado das gravuras e a respectiva publicação. Foi, no entanto, no âmbito do povoamento neolítico e calcolítico que a estratégia adoptada produziu frutos mais abundantes e diversificados: de uma base de dados irrisória, há quinze anos, passámos para uma densidade notável de sítios de habitat de que se destacam, pela novidade e, como defendo, pela concordância espacial com as principais concentrações de menires, os que são enquadráveis no Neolítico antigo/médio (Calado, 1995a; 1995-96; Diniz e Calado, 1997). Quanto aos menires propriamente ditos, as prospecções sistemáticas permitiram acrescentar dois novos recintos megalíticos e um bom número de menires isolados ou agrupados em conjuntos, dos quais, em parte, já tive oportunidade de publicar referências mais ou menos circunstanciadas (Calado e Sarantopoulos, 1996; Calado, 1997a; 2000b; 2003b). Embora sem relevância directa para o tema em estudo, destacaria ainda os efeitos colaterais traduzidos na abertura de “dossiers” em matérias (épocas ou tipos de sítios) sobre as quais se registavam, anteriormente, vazios mal compreendidos, como foi, por exemplo, o caso da I Idade do Ferro (Calado e Mataloto, 1999; Calado, 2002b; Mataloto, 2004) ou que eram totalmente ignorados, como foi o caso dos chamados recintos ciclópicos (Calado, 1994-1995). Foram, igualmente, acrescentadas e sistematizadas, as listagens referentes ao Bronze final (Calado e Rocha, 1996-1997) e à Idade do Ferro (Calado e Rocha, 1997), no Alentejo Central. A natureza dos dados obtidos em prospecção, acarreta, como referi, várias limitações de difícil ultrapassagem.

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Os problemas tafonómicos que afectam, nesta como noutras regiões mediterrânicas, as estratigrafias neolíticas e os respectivos conteúdos, são também, infelizmente, responsáveis pelo insucesso na obtenção de dados paleoeconómicos directos ou de cronologias absolutas, dados que apenas as escavações arqueológicas modernas poderiam, em princípio, obter (Calado, 2000b; 2003b); o mesmo se pode, aliás, afirmar, por exemplo, a propósito das questões micro-espaciais relacionadas com as estruturas de habitat (Diniz, 2004). No contexto deste trabalho, focado prioritariamente nas mais antigas sociedades camponesas da região, também não foi possível avaliar as questões relacionadas com a perenidade dos sítios de habitat: é provável que, de entre os 845 sítios registados, exista uma ampla variedade de situações, desde os mais efémeros, pelas mais diversas razões, até aos mais duradouros. À primeira vista, um critério aceitável para ultrapassar tal indefinição poderia ser o da quantidade de materiais recolhidos e da dimensão da área de dispersão dos mesmos. No entanto, a experiência ensina-nos que a escassez de evidências superficiais esconde, muitas vezes drasticamente, as realidades enterradas. Dado que a lista apresentada não inclui, em princípio, vestígios anteriores ao Neolítico, a classificação de um determinado sítio como sendo de habitat depende, fundamentalmente, da presença de cerâmica. A dúvida mais pertinente, de entre o universo em análise, diz sobretudo respeito aos sítios sem cerâmica, em que ocorrem artefactos supostamente de uso habitacional, como são, por exemplo, os dormentes de mós manuais. Esta situação verificou-se repetidamente na área de Pavia, em que, por outro lado, existem indícios de que a conservação das cerâmicas é problemática. A possibilidade de alguns sítios com cerâmica representarem os restos visíveis de estruturas funerárias, não pode, em última análise, ser descartada, embora, por diversas razões, tal não se aplique, concerteza, à maioria dos casos em apreço. Na verdade, a classificação de um sítio como monumento funerário implicou a existência (em raros exemplares, apenas com base na bibliografia ou na informação oral) de estruturas pétreas ou tumulares, pelo que as lacunas que certamente existem serão, principalmente, por defeito. De facto, estão excluídas do universo funerário registado, modalidades sem monumentalidade aparente que, suspeita-se, corresponderiam às práticas funerárias das mais antigas sociedades neolíticas da região; por ora, o único sítio deste tipo, parece ser, apesar de algumas reticências entretanto surgidas (Soares, 1995), a gruta do Escoural (Santos, 1971; Araújo et al., 1993; Araújo e Lejeune, 1995). Por último, é possível que alguns dos vestígios que habitualmente interpretamos como habitacionais, correspondam a instalações de natureza ritual, mesmo que não funerária; porém, com os dados disponíveis, apenas os monumentos e a arte rupestre podem, pacificamente, inscrever-se nesta categoria. As muitas questões que a prospecção deixa, inevitavelmente, por resolver, levaram-me, desde o início deste projecto, a delinear um programa de escavações, cujas metodologias específicas serão apresentadas no capítulo 5. 3.2.2. O registo e apresentação dos dados gerais Os dados provenientes das prospecções e das recolhas bibliográficas foram registados numa Base de

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Dados informatizada (Access e Excel), em que se consideraram os seguintes campos: 1. Número de inventário Atribuído sequencialmente, primeiro aos recintos megalíticos e conjuntos de menires, em seguida aos menires isolados (uns e outros ordenados em função do respectivo peso estimado) e, por fim, a todos os restantes sítios, ordenados alfabeticamente dentro das folhas da Carta Militar de Portugal, na escala 1:25000, que, por sua vez, foram também ordenadas sequencialmente. 2. Designação Foi, por norma geral, utilizado o topónimo cartográfico mais próximo (na folha da CMP 1: 25000), excepto nos sítios recolhidos da bibliografia, em que se manteve, na medida do possível, a designação usada na fonte mais antiga. Como é também habitual, sempre que existem vários sítios referidos pelo mesmo topónimo, foram individualizados pela adição de números sequenciais (Ex. Almendres 1, Almendres 2). Para evitar duplicações e lacunas, foram alterados os números sequenciais de alguns sítios publicados, por forma a que, dentro de cada folha da CMP, não existam sítios com designações idênticas. 3. Tipo Com base nos critérios mais ou menos habituais na classificação dos dados de superfície, a informação reunida foi integrada nas seguintes categorias: 3.1. Achado avulso Como é habitual, foi atribuída esta classificação aos sítios cujas evidências se resumem a um ou alguns artefactos dispersos e mal contextualizáveis de que se excluem, por regra, as cerâmicas. Trata-se, provavelmente, na sua maioria, de evidências de tipo off-site, que traduzem actividades pontuais relacionadas com habitats localizados alhures, em áreas mais ou menos próximas, reveladoras em última análise, das áreas de captação de recursos e das linhas de circulação nos territórios. Outros, porém, e deparei várias vezes com esta situação, correspondem à ponta de “icebergs”, que, com melhores condições de visibilidade do terreno, se revelam como verdadeiros sítios de habitat. Um ou outro caso poderia, também, teoricamente, corresponder, como refri a propósito dos habitats, a materiais provenientes de estruturas funerárias destruídas (lâminas de sílex, pontas de seta, ou machados de gume intacto, por exemplo). A informação que os achados avulsos proporcionam é, em função da natureza dos mesmos, muito problemática; permitem, no entanto, avaliar, em conjunção com a restante informação disponível, aspectos gerais relativos à distribuição do povoamento, no tempo e no espaço. 3.2. Povoado aberto Corresponde a sítios de habitat implantados em áreas pouco declivosas, logo sem defensabilidade natural, e geralmente em solos com elevado potencial agrícola relativo. Uma boa parte deles - de acordo com os

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dados praticamente inéditos das escavações que dirigi no Alqueva, em três povoados abertos - Juromenha 1 (nº876), Malhada das Mimosas 1 (nº882) e Águas Frias (nº1465), todos com escassa evidência de superfície (Calado, 2002b), assim como das escavações no povoado dos Perdigões (nº2053) (Lago et al., 1998) devem corresponder a povoados com fossos. Este tipo de estruturas, que só nos últimos anos se tornou patente na região, encontra inúmeros paralelos, alguns deles já clássicos, em outros sectores do Sudoeste peninsular (Fernandez e Oliva, 1986; Cruz-Auñon et al., 1992; Martin de la Cruz e Miranda, 1988; Hurtado Perez, 1995a; Soares, 1994), sendo, por outro lado, recorrente em muitas outras áreas europeias (Darvill e Thomas, 2001; Whittle, 1995). Conhecem-se, para além disso, dois casos em que povoados abertos revelaram, de uma forma algo insuspeitada, vestígios de sistemas de muralhas: o Monte da Ponte (nº1854), em Évora (Kalb e Höck, 1997), e o Monte Novo dos Albardeiros (nº2383), em Reguengos de Monsaraz (Gonçalves, 1988-1989), situação que se repete no povoado de San Blas, na margem espanhola do Alqueva (Hurtado Perez, 2002). 3.3. Povoado de altura Foram assim classificados os sítios implantados em locais com evidente defensabilidade natural, no topo de colinas ou de esporões. Muitos deles podem encerrar estruturas de tipo defensivo, como as escavações demonstraram no caso do Porto das Carretas (Mourão) (Silva e Soares, 2002), já fora do âmbito deste trabalho, ou no do povoado de S. Pedro (nº1452) e, aparentemente no do S. Gens (nº770) (Redondo) (Calado, 1995a; 2001a; Rui Mataloto, informação pessoal); outros, mesmo sem terem sido escavados, são fortemente suspeitos de encerrarem sistemas defensivos, atendendo à existência, mais ou menos explícita, de evidências microtopográficas. Sabemos, hoje, também, que nem todos os povoados de altura, mesmo os que classificamos genericamente como calcolíticos (e que, constituem a esmagadora maioria), são fortificados. Esse fenómeno foi perfeitamente ilustrado no Porto das Carretas, onde, por cima das ruínas arrasadas das muralhas do Calcolítico pleno, foram construídas cabanas com cerâmica campaniforme associada (Silva e Soares, 2002); essa fase sem fortificações foi também bem documentada no povoado de Miguens 3 (nº2112) (Alandroal) (Calado, 2002b) e, de uma forma menos inequívoca, no povoado de S. Gens (nº1451) (Alandroal) (Calado, 1993a, Calado, 2002). 3.4. Povoado “megalítico” aberto Este tipo foi definido com base na avaliação dos dados obtidos nos últimos anos, em que se tornou notória, na região, uma localização preferencial junto de afloramentos destacados, em áreas de relevo pouco pronunciado, de vestígios de habitat neolítico e calcolítico e, mais raramente, posterior. Trata-se, em todos os casos, de terrenos de substrato granitóide, em que os afloramentos, devido sobretudoa fenómenos de erosão diferencial, se organizam em “ilhas”, separadas por espaços mais ou menos libertos de blocos naturais. A designação “megalítico” alude, em sentido directo, aos referidos afloramentos, formados por amontoados de blocos que evocam as arquitecturas megalíticas e, de uma forma menos denotativa, ao facto de se tratar, como adiante procurarei demonstrar, dos povoados dos presumíveis construtores e utentes dos primeiros monumentos

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megalíticos da região. 3.5. Povoado “megalítico” de altura Trata-se de povoados, de que foram identificados escassos exemplares, que diferem dos anteriores por se localizarem em locais com algum comando sobre a paisagem envolvente. 3.6. Anta O termo, muito generalizado no Sul do país, tem sido frequentemente usado tanto para referir os monumentos de maiores dimensões, como as pequenas sepulturas, que outros designam como proto-megalíticas (Leisner e Leisner, 1956; 1959). Neste trabalho, os monumentos funerários neolíticos e calcolíticos foram, de uma forma simplificada, divididos em dois tipos fundamentais, seguindo, aliás, uma prática com fortes tradições na investigação peninsular e não só: é certo que, como em todas as classificações, existem zonas de indefinição e que, por outro lado, subdivisões mais complexas teriam sido possíveis. A opção prende-se, sobretudo, com a dificuldade de, com os dados disponíveis, classificar, com mais detalhe, uma boa parte dos monumentos; por outro lado, tomei em consideração um modelo teórico, aparentemente aplicável noutros contextos do megalitismo funerário europeu, em que, mais do que a geometria da planta dos monumentos, se valoriza o modo como se presume que funcionaram (Barrett, 1988; Bradley, 1998: 62; Cooney, 2000: 16), permitindo ou não o acesso dos vivos ao espaço funerário. Esta linha de separação implica igualmente, na maioria dos casos, que umas (fechadas) correspondam geralmente a enterramentos individuais, enquanto as outras (abertas), contenham, por norma, múltiplas tumulações. Para além destes dois tipos básicos, foram igualmente consideradas as sepulturas de falsa cúpula (tholoi) e as mamoas. O termo anta foi reservado exclusivamente para os monumentos cujo alçado comportaria, presumivelmente, o acesso repetido. Incluem-se neste tipo tanto os monumentos com corredor, como os que, pelo menos actualmente, não aparentam possuí-lo. 3.7. Sepultura submegalítica Trata-se estruturas funerárias cuja escala, sobretudo em termos de alçado, as distingue do grupo anterior. A designação proposta atende apenas aos aspectos dimensionais, sem implicar, portanto, nenhuma posição cronológica (Le Roux, 2000: 212). Mesmo que, como vários autores têm vindo a defender, a maioria destes monumentos seja efectivamente mais antiga (Silva e Soares, 1983; Silva e Soares, 2000; Cardoso et al., 2000), a magreza dos dados provenientes de escavações modernas (e não só), recomenda, por ora, uma classificação suficientemente aberta para integrar igualmente monumentos que, segundo alguns dados provenientes de regiões contíguas (Bueno, 1994; Oliveira, 1998; 2000b), serão provavelmente mais recentes. 3.8. Mamoa Trata-se de restos de construções tumulares, mais ou menos bem conservadas, que não aparentam estruturas

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pétreas, quer por, efectivamente, estas nunca tenham existido, quer por terem sido retiradas, quer ainda por se encontrarem, eventualmente, soterradas. 3.9. Tholos As sepulturas de falsa cúpula, ou tholoi, por serem geralmente de difícil detecção, estão certamente subrepresentadas. Incluiram-se apenas os exemplares razoavelmente bem identificados, quase todos objecto de intervenções arqueológicas. 3.10. Pedra com covinhas Foram incluídos nesta categoria os painéis decorados com covinhas, associados às quais surgem, ocasionalmente, sulcos de diversas morfologias mas, em nehum caso, identificáveis com motivos reconhecíveis. Os suportes podem ser constituídos por afloramentos ou por blocos soltos. As antas ou os menires com covinhas não são incluídos nesta categoria. 3.11. Rocha com gravuras Foram inseridas neste tipo, todos as restantes manifestações de arte rupestre, à excepção do Complexo de Arte Rupeste do Alqueva que, atendendo à natureza dos dados disponíveis, é apresentado, no final do Volume 3, numa tabela autónoma. 3.12. Monumento natural Esta categoria integra uma selecção de algumas formações rochosas mais proeminentes, na paisagem regional e que, de uma forma ou de outra, podem ter algum tipo de relação com o objecto deste trabalho. Em alguns casos, trata-se de geomonumentos que a investigação arqueológica tem vindo a associar ao ambiente das verdadeiras arquitecturas megalíticas (Correia, 1921; Gonçalves, 1970, 1972, 1975; Santos, 1974; Oliveira e Oliveira, 1998; Gomes, 1994; Gomes, 2002), apesar do “aviso à navegação” avançado prudentemente pelos arqueólogos/geólogos dos Serviços Geológicos de Portugal que expressamente evitaram listar “algumas formações geológicas indicadas erradamente como menires e cromlechs” (Ferreira e Leitão, 1983: 182). Noutros, os critérios de escolha assentaram em associações espaciais sugestivas, em que os afloramentos destacados se localizam nas proximidades de sítios de habitat neolíticos ou de menires. Procurei, com este conjunto, a que se poderiam juntar outros exemplares, reunir uma amostra diversificada que ilustre o eventual papel destes elementos da paisagem natural na estrutura das paisagens culturais megalíticas. 4. Cronologia Com base nos critérios correntes na atribuição cronológica dos dados de superfície (basicamente presenças e ausências de determinados tipos de artefactos), a informação reunida foi integrada em categorias mais ou menos abertas, conforme a qualidade/quantidade da informação disponível.

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4.1. Neolítico antigo/médio Este patamar cronológico pretende incluir, sem, por enquanto, as diferenciar, as evidências que correspondem, por definição, às primeiras sociedades neolíticas, já instaladas, na região, por volta de 5000 a.C. e prolonga-se até meados do IV milénio a.C, altura em que surgiram modelos económicos, sociais e mentais muito distintos, a que correspondem, arqueologicamente, novas formas de implantação na paisagem e novos tipos de estruturas e artefactos. Os elementos de diagnóstico disponíveis foram, na sua maior parte, constituídos pela presença de cerâmicas com decoração (impressa, incisa ou plástica) e por lamelas ou micrólitos (mapa 5) ; escasseiam a pedra polida, as mós e os percutores e, por outro lado, o sílex atinge, frequentemente, percentagens elevadas dentro das amostras recolhidas. 4.2. Neolítico final Esta classificação cronológica foi reservada para os sítios (ou, nos casos escavados, as fases) de habitat em que dominam as cerâmicas carenadas e onde não foram recolhidos bordos espessados. Ocorrem, geralmente, associadas a cerâmica mamilada. Os sítios conhecidos apresentam todos uma notória escassez de artefactos, à superfície, embora os poucos que foram escavados, todos com estruturas negativas, se tenham revelado, surpreendentemente, muito bem conservados. 4.3. Neolítico final/Calcolítico Foram incluídos nesta categoria os sítios de habitat em que as formas carenadas estão bem representadas, mas em que existem igualmente os bordos espessados. 4.4. Calcolítico Os elementos de diagnóstico que estiveram na base desta categoria, são, no que respeita aos sítios de habitat, sobretudo os bordos espessados, geralmente acompanhados de pesos de tear (crescentes e placas), barro de cabanas, pedra polida, mós, percutores ou xisto jaspóide; são muito raros e, quase todos provenientes de escavações recentes, os elementos que permitem uma melhor definição cronológica, nomeadamente os que remetem para o final do Calcolítico, como são as cerâmicas campaniformes ou as pontas de tipo Palmela. Também os tholoi foram genericamente incluídos nesta categoria. 4.5.Neolítico/Calcolítico Contempla todos os sítios para os quais não existem elementos fiáveis para um diagnóstico mais circunstanciado, nomeadamente a maioria dos monumentos funerários e dos achados avulsos e muitos dos sítios de habitat.

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5. Coordenadas As coordenadas dos sítios são apresentadas na Base de Dados geral, em dois campos, correspondendo o primeiro, ao Meridiano e, o segundo, ao Paralelo. Trata-se de coordenadas Militares (GAUSS), uma vez que a cartografia de base utilizada foi a cartografia digital fornecida pelo Instituto Geográfico do Exército, na escala 1: 250.000. O Programa SIG que permitiu a cartografia automática foi o MapInfo 7.0. As coordenadas, expressas em metros, foram directamente calculadas a partir das folhas 1: 25000 da CMP, nos casos das cartas mais antigas, em que o único sistema de coordenadas rectangulares expresso é o sistema GAUSS, ou convertidas através do Utilitário “Transformação de Coordenadas” disponibilizado no site do IGEOE (Instituto Geográfico do Exército), nos casos em que a cartografia militar apresenta expressas as Coordenadas rectangulares UTM (Sistema europeu, 1950) ou em que as mesmas foram obtidas através de GPS. 6. CMP Número da Folha da Carta Militar de Portugal. 7. Rigor cartográfico É indicada a base cartográfica em que os dados foram publicados ou registados, nos casos em que os estes foram cartografados pelos métodos tradicionais; estão nesta situação todos os dados recolhidos da bibliografia e uma parte dos dados inéditos. Nos restantes, quer sejam sítios inéditos quer sejam sítios relocalizados, as coordenadas foram obtidos com GPS, tendo sido, para este efeito, usado um aparelho de bolso (Garmin, GPS III Plus). Nos sítios que ocupam áreas mais extensas, as coordenadas referem-se, como é habitual, a um ponto central. Para além dos casos em que terá havido erro humano na localização cartográfica dos sítios e que só podem ser identificados mediante uma revisão no terreno, o rigor cartográfico varia, por definição, em função da escala da base cartográfica utilizada: os erros de localização serão, à partida, mais acentuados nas situações em que foi utilizada cartografia de pequena escala, no caso presente, a escala 1: 100000 - muitas das antas listadas pelos Leisner (Leisner e Leisner, 1951; 1956; 1959) - ou 1: 50000 - sobretudo as antas inéditas registadas nas várias Cartas Geológicas - e menos importantes, nos casos, que correspondem à generalidade dos trabalhos mais recentes, em que os dados foram cartografados em extractos de folhas da CMP 1: 25000 (Calado, 1993a; 1993c; 1995c; 2001b; 2003a; Calado e Mataloto, 1999; Calado e Mataloto, 2001; Calado e Mataloto, e.p.; Lima, 1992; Mascarenhas, 1995), ou em que foram publicadas as coordenadas obtidas nesse tipo de base cartográfica (Calado, 1995a; Calado, 2001a; Rocha, 1996; 1999; Silva, 1996; 1999; Oliveira, 2001). Nesta última situação, teria sido possível distinguir entre as coordenadas apresentadas com arredondamentos diferentes. O rigor ressente-se mais nos casos em que o arredondamento é feito aos 100m (Silva, 1996; 1999) ou aos 50 m (Calado, 1995a; Calado, 2001a; Rocha, 1996; 1999). Nos dados inéditos apresentados neste trabalho, exceptuando os que foram localizados com GPS, reduziu-se o arredondamento para 25 m.

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8. Concelho Este campo foi preenchido com base nos limites concelhios patentes na CMP 1: 25000 e na cartografia dos sítios, sendo de admitir alguns erros decorrentes quer de inexactidões contidas na CMP, no que diz respeito aos limites dos concelhos (algumas delas detectadas e corrigidas), quer dos eventuais erros de cartografia. 9. Bibliografia Foram registadas, de forma sintética, as principais fontes bibliográficas utilizadas. 10. Materiais Este campo, refere-se, por norma, apenas aos achados avulsos e aos povoados. Foram discriminados os principais elementos de diagnóstico cronológico e cultural, tendo em conta que se trata, na esmagadora maioria, de sítios que não foram objecto de escavações arqueológicas nem, na maioria dos casos, do estudo quantitativo dos dados de superfície. No que diz respeito aos sítios escavados, é apresentado, no capítulo 5, uma listagem dos materiais exumados e os desenhos de alguns dos mais significativos. São apresentados, ainda, em anexo (Capítulo 15.3), os desenhos de materiais, provenientes de recolhas de superfície, em alguns dos sítios de habitat mencionados no texto. 3.2.3. O registo e apresentação dos dados relativos aos menires Dada a especificidade deste trabalho, foi dado um tratamento especial aos menires, em termos de ficha descritiva (Volume 2). Para além dos campos atrás enunciados, em que foram seguidos preceitos idênticos aos da Base de Dados geral, foram ainda preenchidos os seguintes: a) Dimensões e forma As dimensões consideradas foram basicamente aquelas que, por convenção tácita, têm sido utilizadas pela maioria dos autores, nomeadamente: -C1: Comprimento mensurável, acima do solo (em metros). -C2: Comprimento total; no caso dos menires exentos, trata-se do comprimento real; no caso dos menires implantados ou fracturados é, geralmente, o comprimento estimado, considerando que, nos menires implantados a parte enterrada corresponde a 20% do total (em metros). -L: Largura máxima (em metros). -E: Espessura, medida por um plano perpendicular à Largura máxima (em metros). -P: Peso estimado (em toneladas). Este valor foi calculado de acordo com a seguinte fórmula: P=(C2 x L x E x Factor de forma x densidade). Os Factores de forma utilizados foram obtidos adaptando os valores calculados a partir dos volumes dos sólidos regulares, de que resultou a seguinte tabela: menires ovóides=0,52;

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Fig. 3.1 - Esquema dos factores utilizados para o cálculo do volume dos menires.

menires cilíndricos=0,65; menires prismáticos=0,76 (Fig. 3.1). Os valores usados para as densidade, foram os seguintes: Granito=2,65; Xisto=2,65; Calcário e Arenito=1,8. -IAL: Índice de alongamento; corresponde à razão Comprimento (C2)/Largura (L); -IAC: Índice de achatamento; corresponde à razão Largura (L)/Espessura (E). -Forma: As formas consideradas foram, dentro do possível, aquelas que têm sido mais frequentemente usadas para a descrição dos menires. Foram classificados como Ovóides os menires arredondados cuja largura e/ou espessura diminuem sensivelmente do meio para as extremidades; os menires Cilíndricos são menires arredondados cuja largura se mantém constante, na área mesial, na extensão de, pelo menos, um terço do comprimento total do bloco; os menires Prismáticos são blocos de secção transversal geralmente quadrangular ou triangular, em que predominam as arestas angulosas. b)Contexto Arqueológico: Foram referidas as realidades arqueológicas consideradas mais pertinentes para o enquadramento arqueológico do monumento. c)Contexto Paisagístico: Foram considerados aspectos como a exposição do terreno em que o monumento se localiza ou o respectivo enquadramento geológico e, eventualmente, outras características da paisagem considerados relevantes, nomeadamente de carácter topográfico ou hidrográfico. Os monumentos foram ordenados em função do peso estimado, dentro das seguintes categorias: 1. Recintos e conjuntos 2. Menires isolados 3. Monumentos desaparecidos 4. Monumentos naturais

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A ficha de cada um destes sítios foi acompanhada, sempre que houve condições para tal, pelo desenho dos menires individuais, compreendendo uma vista principal (a face mais regular ou, de alguma forma, com mais informação arqueológica) e uma secção transversal, desenhada por um plano considerado mais representativo. Os desenhos, executados na escala 1: 20 e apresentados na escala 1: 40, foram tratados digitalmente em Adobe Photoshop e Adobe Illustrator. As decorações foram desenhadas com base na observação directa e com o apoio de imagens nocturnas, obtidas com luz rasante. Nos casos em que existiam desenhos publicados, estes foram adaptados graficamente e foi-lhes acrescentada, quando dela careciam, a secção transversal. Também as dimensões dos menires, quando disponíveis na bibliografia, foram aqui reproduzidas, com uma ou outra adaptação pontual. As medidas inéditas foram obtidas por meio de um pied-de-coulisse especial, com 2 m x 1 m, em alumínio, feito especificamente para este propósito. Paralelamente, cada ficha foi acompanhada por uma ou mais imagens fotográficas. Nos cinco sítios que, no contexto deste projecto, foram objecto de escavações/sondagens, é apresentada documentação gráfica complementar, no capítulo 5. Em termos cartográficos, para além dos mapas de enquadramento geográfico apresentados no capítulo 2, são reunidos em anexo, no capítulo 15.1, os mapas temáticos, de carácter analítico, e, ao longo do texto, foram incorporados mapas temáticos em áreas ampliadas. Os mapas foram construídos sobre uma base cartográfica digital, na escala 1: 250000, disponibilizada pelo Instituto Geográfico do Exército e os dados foram cartografados, a partir de uma base de dados em Excel, com Map Info 7.0. A análise e construção de mapas sectoriais foi feita com o auxílio do Map Info Pro Viewer 7.0.

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Capítulo 4: História da investigação em Portugal

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4. História da investigação em Portugal 4.1. Os menires 4.1.1. As descobertas A mais antiga referência aos menires, no Alentejo Central, deve-se a Gabriel Pereira (Pereira, 1880), que interpretou como tal um monólito, conhecido localmente como o Padrão do Mouro. Trata-se efectivamente de um menir de secção transversal achatada, “a recordar a lâmina de um punhal gigante” (Pereira, 1880: 254) - o menir de Vale de Besteiros (nº 39) - que teria sido demolido por camponeses, pouco antes da visita de reconhecimento efectuada pelo arqueólogo eborense. O monumento relaciona-se igualmente com uma tradição, de origem renascentista, transcrita pelo padre Julião Sarmento Guião, no Dicionário Geográfico (Memórias Paroquiais de 1758) na Memória 204, referente à Freguesia de S. Bento de Pomares: “na herdade do Garducho se acha hum vale a que dão o titulo de besteyros e no alto do mesmo vale para a parte do Sul distante trezentos paços pouco mais ou menos se acha hum pedrão hé tradição levantara Viriato em memória de huma das vitórias que alcançou o mesmo Viriato contra os romanos no mesmo vale de besteyros no simo do dito vale se acha huma fonte manacial de todo o anno de agoa excelente.” (Guião, 1758)

Fig. 4.1 - Ilustração que acompanhava a notícia da descoberta do primeiro menir alentejano (seg. Pereira, 1880: 253).

Tudo indica que terá sido o próprio André de Resende quem, provavelmente partindo de uma interpretação imaginativa do Padrão do Mouro e empenhado na construção de uma “história” apologética de Évora, fixou o episódio das “Guerras lusitanas” em S. Bento dos Pomares, inventando, para reforçar o “facto”, uma lápide nada convincente (Encarnação, 1991: 197-198). Gabriel Pereira que, aparentemente, desconhecia a história da pretensa relação entre o menir e Viriato, estava, no entanto, consciente de que este tipo de megálito era “vulgar noutras partes” mas, ao mesmo tempo, convencido de que era “excepcional no ocidente da península, único representante dessa espécie” (Pereira,

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1880: 255); na verdade, por essa altura, conhecia-se já, a Norte do Tejo, uma escassa meia dúzia de menires (Ferreira, 1864; Costa, 1868; Vilela, 1876; Silva, 1877). A Sul do Tejo, só em 1891 viriam a ser publicados os primeiros menires do Algarve, os do Monte de Roma, Monte Branco e Cumeada (Veiga, 1891). Apesar do interesse de Gabriel Pereira por um tema que, em Portugal, era, nessa altura, ainda praticamente inédito, o Padrão do Mouro caiu, entretanto, no esquecimento; foi redescoberto e novamente publicado, por Paulo Lima (Lima, 1992), embora sem qualquer tipo de descrição ou referência bibliográfica. Entretanto, acabou por ser só com Georg Leisner, nos anos quarenta do século vinte (Leisner, 1944), que o tema, ainda que de forma indirecta, voltou a receber alguma atenção. De facto, os arqueólogos alemães, Georg e Vera Leisner, apesar de terem feito um registo bastante exaustivo dos monumentos megalíticos funerários alentejanos, passaram literalmente ao lado dos menires e recintos megalíticos. As excepções são constituídas pelo menir associado ao sepulcro de Vale de Rodrigo (nº 46) e pelo recinto de Vale d’El Rei (nº 15), em Pavia, ao qual os descobridores não dedicaram nenhuma atenção especial (Leisner e Leisner, 1956). Publicaram-no com uma nota breve, juntamente com outros recintos de duvidosa cronologia pré-histórica e com um levantamento sumário e deficiente. Curiosamente, também este monumento foi esquecido, redescoberto e publicado com outro nome, cerca de duas décadas mais tarde (Zbyszewski et al, 1977). O casal Leisner publicou também um hipotético (mas improvável) recinto megalítico, de dimensões desmesuradas, hoje destruído por trabalhos agrícolas, na área da Tourega, Évora (Leisner e Leisner, 1956). Ainda nos anos quarenta e cinquenta do século vinte, Manuel Heleno descobriu e anotou, nos seus cadernos de campo, pelo menos mais dois menires: um no interior de uma anta (a anta do Arneiro dos Pinhais, hoje desaparecida), e um outro, junto à povoação de S.Geraldo (nº 67), segundo informação de L. Rocha, que tem vindo a estudar os cadernos inéditos de M. Heleno. Finalmente, nos anos 60-70, os menires tornaram-se um tema grande da arqueologia pré-histórica alentejana: Henrique Leonor Pina, em Évora e José Pires Gonçalves, em Reguengos de Monsaraz, ambos arqueólogos amadores, descobriram e deram à estampa a maior parte dos mais importantes recintos megalíticos da Península Ibérica: Almendres (nº 1), Portela de Mogos (nº 4) e Xarez (nº 6); descobriram e publicaram ainda um bom número de menires isolados ou recintos de menor entidade, nomeadamente os menires do Outeiro (nº 29), da Belhoa (nº 44), dos Perdigões (nº 13) e das Vidigueiras (nº 56), em Reguengos de Monsaraz, ou os menires do Monte dos Almendres (nº 32), de Vale de Cardos (nº 35), da Casbarra 1 (nº 31), da Correia (nº 41), da Oliveirinha (nº 27) e das Veladas (nº 36), em Évora. (Pina, 1969, 1971, 1976;Gonçalves, 1970, 1972, 1975). Quintino Lopes, que integrou com Leonor Pina e Galopim de Carvalho o chamado “Grupo do Hospital”, descobriu, por seu turno, o recinto do Monte da Ribeira (nº 9) (Gonçalves, 1970; Pina, 1971). Já na década de oitenta do século passado, Pires Gonçalves (Gonçalves, 1981) localizou e publicou os menires da Pedra Longa (nº 16) e Mário Varela Gomes escavou esses menires, assim como o recinto megalítico de Cuncos (nº 7), que publicou juntamente com referências ao menir da Courela das Casas Novas (nº 48), ao menir do Sideral (nº 42) e aos restos do recinto megalítico das Casa de Baixo (nº 12) (Gomes, 1986). Nos finais da década, M.V. Gomes escavou o recinto dos Almendres (Gomes, 2002) e Colin Burgess, no âmbito de um projecto de prospecção arqueológica, localizou e publicou os menires de S. Sebastião (nº 8)

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(Burgess, 1987: 40). A década de noventa voltou a trazer novidades sobre os menires centro-alentejanos. Foi descoberto e escavado o recinto de Vale Maria do Meio (nº 2) (Calado e Sarantopoulos, 1996; Calado, 1999) e escavado o recinto da Portela de Mogos (nº4) (Gomes, 1997); foi ainda descoberto e sondado o recinto do Tojal (nº5), escavado o menir do Monte do Tojal (nº57) (Calado, 2003b) e os menires de S. Sebastião, trabalhos cujos resultados integram o presente estudo. Foram, por outro lado, efectuadas várias campanhas de prospecções, de que resultou um número significativo de novos menires, a maior parte dos quais permanecem inéditos e foram inseridos na base de dados apresentada no segundo volume deste trabalho. 4.1.2. As interpretações As primeiras tentativas de interpretação dos significados e das funções dos menires coincidem, até certo ponto, com o nascimento do próprio megalitismo; porém, mais do que os monumentos funerários, os menires mantêm, ainda hoje, nesse aspecto, uma elevada margem de incerteza. A bibliografia arqueológica portuguesa reflectiu, como seria de esperar, as interpretações surgidas nas áreas megalíticas europeias em que, por diversas razões, os menires chamaram mais precocemente a atenção dos estudiosos. Gabriel Pereira, no texto em que fez referência a menir de Vale de Besteiros (nº 39), discorreu genericamente sobre os padrões e marcos delimitadores de territórios, sublinhando que estes se implantavam “antigamente com grande solenidade e formalidades”, “com testemunhas e cerimónias simbólicas” (Pereira, 1880: 254). Trata-se, como veremos, de uma linha interpretativa bastante actual, em que se cruza uma função pragmática com um contexto eminentemente simbólico e ritual. Na década seguinte, tendo em mente, sobretudo, os menires do Algarve, Estácio da Veiga, defendeu igualmente a função de “demarcação de um determinado território”, acrescentando, como alternativa, a possibilidade de que tivessem tido um propósito memorialista “representando um feito memorável ou uma consagração de piedosa lembrança” (Veiga, 1891, IV: 235). Sobre os alinhamentos e recintos, o mesmo autor sugeriu, remetendo para as ideias correntes na Europa da época, que seriam “campos de reunião pública, em que se tratavam os assuntos mais graves e se procedia à eleição dos chefes (...) ou em que se praticavam solenidades religiosas” (Veiga, 1891, I: 89). Uma outra versão da função memorialista dos menires fundamenta-se num texto clássico e, nesse aspecto, apresenta um interesse peculiar: “diz Aristóteles (...) que iberos ou hispanos elevavam em volta do túmulo tantos monólitos como os inimigos mortos pelo indivíduo nele sepultado. É importantíssima esta passagem por ser a mais antiga referência aos menhires e cromeleques (IV século A. C.) e por indicar o motivo de erecção de alguns, pelo menos. Os grandes alinhamentos comemorariam grandes batalhas.” Alves, 1934: 557-558 Por outro lado, a evidência proporcionada pelo menir de Luzim (Penafiel), um dos primeiros identificados em Portugal e localizado a poucos metros de uma mamoa, sugeriu, que “embora o significado exacto dos menhires não esteja estabelecido com absoluta precisão, parece haver uma certa relação entre estes monumentos megalíticos e práticas rituais funerárias” (Aguiar e Júnior, 1940: 6).

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Na verdade, nos casos em que se localizam nas imediações de sepulturas megalíticas, os menires foram geralmente interpretados, de uma forma mais ou menos axiomática, como marcos indicadores (Ferreira, 1864; Jorge, 1977; Silva e Silva, 1994; Almeida, 1979: 14; Bénéteau, 2000; Cassen et al., 2000); foi precisamente essa a proposta avançada para o menir centro-alentejano de Vale de Rodrigo, numa época em que, aparentemente, não se conheciam, na região, menires claramente independentes das antas (Leisner, 1944). Porém, a maior parte das propostas posteriores aos anos sessenta do século vinte, em que se procurou já contextualizar os menires no universo ideológico das primeiras sociedades camponesas, fixou sobretudo o discurso no suposto carácter fálico dos monólitos, remetendo-os para rituais de fecundidade/fertilidade (Gonçalves, 1970; Zbyszewski et al, 1977). H.L. Pina constitui, neste aspecto, uma excepção notável: apesar de alinhar, em várias passagens, com a interpretação dominante, oscila, frequentemente, entre esta e o antropomorfismo que, por sua vez, lhe sugere “o culto de antepassados ou de divindades” (Pina, 1971: 159) Outros autores nacionais, na década de setenta, preferiram contornar a questão, limitando-se a apresentar listas e descrições (Vicente e Martins, 1979), enquanto C. A. Brochado de Almeida, para além dos rituais de fertilidade, avançou um leque de outras possibilidades nomeadamente: “locais de descanso para a alma dos mortos” ,“para-raios” ,“calendário solar” , interrogando-se ainda se “seriam ídolos aos quais se prestariam culto e sacrifícios (...)?” ou, recuperando a proposta de Estácio da Veiga, se “recordarão factos importantes, tratados, alianças, feitos de guerra?” (Almeida, 1979: 14). Paralelamente, a influência da literatura arqueoastronómica inglesa, particularmente os trabalhos de Alexander Thom, G. Hawkins e Fred Hoyl, fez-se sentir, sem grandes consequências imediatas, a partir dos anos setenta; a equipa dos Serviços Geológicos de Portugal, por exemplo, apesar de não ter arriscado qualquer análise arqueoastronómica, sublinhou a necessidade de se “rever todos os monumentos megalíticos não funerários, começando por um levantamento topográfico suficientemente preciso, para permitir um estudo cuidadoso das suas características e da sua orientação.” (Zbyszewski et al, 1977: 68); efectivamente, nesse mesmo trabalho, os autores apresentaram, com um rigor aceitável, as plantas dos recintos megalíticos das Fontaínhas e do Vale d’El Rei (que designaram como Monte das Figueiras). Poucos anos depois, Marciano da Silva apresentou, pela primeira vez, em 1980, um trabalho concreto com observações e propostas sobre as orientações astronómicas do recinto dos Almendres e do menir do Monte dos Almendres, trabalho que só viria a ser publicado vinte anos depois (Silva, 2000). Nesta análise, privilegiou-se a orientação solar dos monumentos, particularmente em função do equinócio e do solstício, embora sugerindo já a possibilidade das orientações lunares. Em meados dos anos oitenta, Mário Varela Gomes tentou também aplicar ao recinto megalítico de Cuncos um modelo interpretativo de base arqueoastronómica (Gomes, 1986). O esquema proposto, nesse artigo, apresenta, porém, duas fortes limitações: por um lado, as supostas orientações, determinadas a partir das posições relativas dos menires na estrutura do monumento, são altamente discutíveis, uma vez que todos os monólitos se encontravam tombados e não foram claramente identificados os respectivos alvéolos; por outro lado, as linhas traçadas entre o recinto e outros monumentos (menir da Courela da Casa Nova e do Sideral)

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ou acidentes naturais (indicated foresights), nas proximidades do recinto, e às quais o autor atribuíu significados astronómicos, não podem ser consideradas pelo facto de o recinto ter sido, nesse trabalho, erroneamente cartografado. Muito recentemente, foram publicadas novas observações de carácter arqueoastronómico, nas quais as orientações lunares ganharam um relevo especial (Silva e Calado, 2003; Silva e Calado, 2004; Alvim, 2004). Trata-se de trabalhos em que as orientações astronómicas são encaradas como o resultado da valorização simbólica e ritual de certos eventos celestes que e serão comentados, com mais algum detalhe, no capítulo 8. A obra de Mircea Eliade (Eliade, s.d.; 1974; 1978), historiador das religiões que viveu alguns anos em Portugal, inspirou algumas das leituras em uso sobre significados e funcionalidades simbólicas dos menires. Nessa óptica, os menires 1- teriam funções de axis mundi, ligando o Céu, a Terra e o mundo subterrâneo; 2- teriam feito parte de rituais de fundação e consagração, transformando o Caos em Cosmos; 3- teriam feito parte de rituais hierogâmicos, enquanto elementos de carácter celeste, fecundando a terra; 4- representariam a “essência do universo” (imago mundi) (Gomes, 1979, 1997; Jorge, 1977; 1990). A esta leitura estritamente religiosa, M.V. Gomes acrescentou entretanto uma dimensão ideológica e social: “os menires isolados ou estruturados são artefactos ideotécnicos conotados com a actividade religiosa (maioritariamente propiciatória destacando-se, por isso, o falimorfismo de grande número dos monólitos) cuja ideologia seria, afinal, o maior meio de coesão social” (Gomes, 1986: 15); esta vertente tinha, aliás, sido avançada, anos antes, por Brochado de Almeida, num artigo em que sublinhou a “importância” da “sua função sociológica”, defendendo que “só uma sociedade com o sentido da unidade e da coesão pode aspirar a concretizar projectos” dessa dimensão (Almeida, 1979: 15). Mais tarde, M.V. Gomes introduziu, no seu discurso, a função territorial: “verdadeiros axis-mundi, capazes de organizar o espaço, em termos físicos e psicológicos, estruturando o território como “lugares centrais”, sendo conotados com a fecundidade em geral e ligados às observações e previsões astrais” (Gomes, 1994: 339). Noutro texto posterior, sobre o recinto dos Almendres, este foi visto como “ símbolo da autoridade político-religiosa, no seio de populações de economia agro-pastoril e semi-nómadas que habitaram aquela região” (Gomes, 1997: 32) A vinculação dos menires às questões territoriais tem sido, talvez, uma das opiniões mais consensuais. V. Gonçalves, por exemplo, afirmou que “os menires marcam efectivamente territórios e a sua visibilidade e impacto simbólico são componentes indispensáveis do processo da sua construção” (Gonçalves, 1999: 58); o mesmo autor, num texto anterior, admitiu outras funcionalidades eventualmente sobrepostas: “culto da fecundidade”, “sinais de orientação na paisagem”, “santuários” e “lugares de observação astronómica” (Gonçalves, 1992). O carácter antropomórfico dos menires tem sido particularmente defendido por Primitiva Bueno e Rodrigo Balbín no contexto dos estudos sobre a arte megalítica ibérica (Bueno-Ramírez, 1990; Balbín-Behrmann e Bueno-Ramírez, 1993; Bueno-Ramírez e Balbín-Behrmann, 1996); num trabalho sobre o menir do Monte da Ribeira, com V.S. Gonçalves, afirmou-se que “o tema principal é claramente antropomórfico. Pela sua própria

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forma, o menir constitui uma referência à imagem humana” (Gonçalves, Balbín-Behrmann e Bueno-Ramírez, 1997: 246), e que esta grafia básica “se entrelaça com as mudanças ideológicas e sociais propiciadas pelo estabelecimento dos modos de vida neolíticos” (Gonçalves, Balbín-Behrmann e Bueno-Ramírez, 1997: 247). Noutro trabalho, apresentado na mesma reunião científica que o anterior, M. V. Gomes defendeu igualmente o antropomorfismo de alguns menires, aludindo em particular às chamadas estátuas-menires; sugeriu, para além disso, que “o falimorfismo de certos monólitos contém clara alusão antropomórfica, reproduzindo alguns naturalisticamente a glande, com recorte semelhante ao da cabeça humana” (Gomes, 1997: 256). Também, na mesma ocasião, eu próprio escrevi que “o papel central dos motivos antropomórficos (que, nos menires, se configuraria, em geral, na própria forma do suporte) continua a aparecer-nos como uma das linhas de força da Arte Megalítica: o Homem torna-se a medida de todas as coisas.” (Calado, 1997: 296) Parece-me, aliás, pertinente, recordar a observação de Giot, em defesa do carácter antropomórfico dos menires: “ a sua aparência no horizonte dá, à distância, a impressão de figuras humanas. A ilusão antropomórfica é confirmada por numerosas lendas populares sobre soldados petrificados, dançarinos ou festas de casamento”, não deixando de admitir que os “rituais de fertilidade sugerem outras semelhanças óbvias” (Giot, 1988: 320, 321) Nos últimos anos, reflectindo o impacto dos trabalhos de Ian Hodder, Christopher Tiley, Julian Thomas, Richard Bradley, entre outros, (Hodder, 1990; Tiley, 1996; Thomas, 1991; Bradley, 1993) os menires começaram a ser interpretados, no contexto de uma nova leitura sobre o Neolítico, como formas de domesticação do espaço (Jorge, 1999; Gomes, 2002), conceito que, até certo ponto, se pode aproximar da noção eliadiana de cosmização do caos; nesta perspectiva, os menires fariam parte de um fenómeno mais amplo de emergência da monumentalidade que, em momentos e lugares diversos, marcaria a mentalidade neolítica e, talvez sobretudo, de comunidades em vias de neolitização. 4.1.3. A cronologia Até aos anos setenta do século passado, a posição cronológica dos menires foi, por absoluta falta de dados, negligenciada; dessa situação resultou m modelo vago, em que menires e antas eram considerados como facetas do mesmo fenómeno cultural, sem que tenha havido sequer qualquer tentativa de atribuição dos menires a uma das duas grandes fases que, já desde os trabalhos de Manuel Heleno, se desenhavam para os monumentos funerários. Estácio da Veiga, por exemplo, manifestou dúvidas sobre a cronologia dos menires de Silves e S. Bartolomeu de Messines “cujo lavor ornamental parece excluí-los do período neolítico” (Veiga, 1891, I, 89). Curiosamente, foi com base numa análise comparativa superficial dos motivos iconográficos patentes num menir do recinto dos Almendres (menir 57), que Leonor Pina arriscou, pela primeira vez, um enquadramento cronológico (deixando no ar a hipótese de as gravuras serem posteriores à construção do monumento), por volta dos inícios do III milénio a. C. (Pina, 1971: 154-155). O carácter tardio dos menires, dentro da sequência megalítica, foi retomado, alguns anos depois, por outros autores (Gomes, Monteiro e Serrão, 1978), com base sobretudo no pressuposto de que o menir de

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Vale de Rodrigo 1 (nº 46) seria contemporâneo do dólmen de falsa cúpula, em cuja mamoa se insere, e de que essa suposta contemporaneidade seria aplicável à generalidade dos menires. A sugestão inicial foi entretanto consolidada e desenvolvida num modelo de cariz normativo, em que a construção dos menires era considerada obra das populações do Neolítico final, as mesmas que construíram os grandes dolmens de corredor; os menires ou, pelo menos alguns, teriam sido destruídos ou reformulados pela chegada de populações calcolíticas, de origem exterior à região (Monteiro e Gomes, 1978; 1994; 2002; Gomes, Gomes e Santos, 1993). Essa cronologia, apesar de assentar em evidências extremamente discutíveis e ignorar outras que a contrariavam (Almeida e Ferreira, 1971), não foi, curiosamente, objecto de qualquer reserva por parte da comunidade científica, uma vez que parecia inserir-se, sem contradições, nas leituras de base marxista, muito em voga nos anos setenta e oitenta, e conjugar-se com as datas atribuídas aos monumentos, aparentemente similares, de outras áreas europeias. Na verdade, os autores da proposta, numa primeira fase, tiveram o cuidado de sublinhar as incertezas ainda subsistentes, como se pode apreciar no seguinte excerto: “No Alentejo, (...) pode-se concluir, com a prudência aconselhada pela escassez e insuficiência dos dados, que os menires se associam ao complexo cultural megalítico numa fase evolucionada deste, constituindo uma das suas expressões culturais durante o Neolítico Final e o Calcolítico Inicial.” (Monteiro e Gomes, 1979: 365, 366) Passados alguns anos, porém, aquilo que a princípio era uma mera hipótese de trabalho, tornou-se uma verdade indiscutível: “o Cromeleque de Cuncos constitui um raro testemunho, da ideologia, da superstrutura religiosa e da capacidade técnica das comunidades agro-pastoris, seminómadas, que, no Neolítico final – Calcolítico inicial, em torno aos finais do IV milénio, e na primeira metade do III milénio A.C. (...), frequentaram aquele local do Alto Alentejo.” (Gomes, 1986) No mesmo sentido, a propósito dos menires e “cromeleques”, escrevia-se que “a colectividade, durante a primeira metade do III milénio a.C., ainda investia prioritariamente o seu esforço na construção de grandes monumentos funerários ou religiosos, que eram um precioso elemento aglutinador do tecido social” (Jorge, 1990: 122). Em 1990, surgiu a primeira brecha nesta leitura cronológica, assente numa releitura crítica dos dados disponíveis e despoletada pela descoberta de dois povoados do Neolítico antigo/médio, nas imediações do recinto dos Almendres (Gomes, 1989: 264; Calado, 1990); a par dos dados que, por essa altura, começavam a subverter as sequências cronológicas bretãs, foi recuperada a interpretação, avançada pelos escavadores da Anta da Granja de S. Pedro (Almeida e Ferreira, 1971), para quem o monumento funerário teria sido construído sobre dois menires pré-existentes. De uma forma ainda esboçada e cautelosa, propunha-se, basicamente, que “os menires poderiam representar os primeiros momentos da ocupação da região pelas gentes megalíticas” e sugeria-se já que a Neolitização do Alentejo teria sido “ um movimento de desbravamento de florestas, partindo do litoral para o interior” (Calado, 1990: 24), sem que, no entanto, se tivesse procurado especificar esses presumidos focos

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de origem. Em 1993, escrevia que “os menires corresponderiam a uma fase de penetração num território virgem, onde havia que estabelecer bases, abrir caminhos, prospectar recursos” (Calado, 1993b: 299). A identificação dos eventuais responsáveis pela neolitização do Alentejo interior foi, pouco depois assumida, num texto de 1995, entretanto publicado, nos seguintes termos: “O abandono dos concheiros e o eventual colapso do modelo económico em que estes floresceram, poderiam estar na origem da instalação das respectivas populações no interior alentejano, no limiar dos territórios tradicionalmente explorados com um modelo económico de largo espectro” (Calado, 2001a: 127). Este reposicionamento cronológico foi um dos alicerces do modelo interpretativo sobre o qual assenta o presente estudo; nos últimos anos, o trabalho de campo desenvolvido no Alentejo Central (escavações e prospecções), trouxe novos elementos que, contrastados com evidências de outras áreas megalíticas, serão mais à frente apresentados e discutidos em detalhe. Convém, finalmente, acrescentar que M.V. Gomes reformulou, nos últimos anos (Gomes, 1994; 1996; 2000b; 2002) a sua proposta cronológica, mantendo uma sequência de base evolucionista, em que os menires de pequenas dimensões, como os do Xarez (nº6) (Reguengos de Monsaraz) e do Vale d’El Rei (nº15) (Pavia), seriam mais antigos que os menires grandes, e em que é sugerido algum paralelismo cronológico e conceptual entre os primeiros e as sepulturas submegalíticas e, por outro lado, entre os segundos e as antas. A perspectiva cronológica adoptada tem, evidentemente, consequências interpretativas e o autor, referindose aos menires que considera mais antigos, afirma que “integram o mesmo contexto outras construções protomegalíticas, mas com função funerária ou seja, utilizando elementos pétreos de pequenas dimensões e, portanto, demarcando o espaço, ou construindo o território, se preferirmos, embora não se reconheça evidente necessidade de monumentalizar a paisagem, conforme acontecerá em tempos ulteriores.” (Gomes, 2002: 157). Estas questões serão discutidas, no capítulo 9, em conjugação com a apresentação dos dados de natureza cronológica directa ou indirecta, actualmente disponíveis.

4.2. O contexto arqueológico: sepulturas, povoados e arte rupestre No Alentejo Central, como nas outras áreas megalíticas do território nacional, as antas começaram a ser inventariadas na sequência da criação da Real Academia de História setecentista (Pina, 1733). Este impulso inicial teve um desenvolvimento importante, na segunda metade do século dezanove, tendo, nessa altura, sido dada a conhecer uma série de novos monumentos (Pereira, 1875; 1880; Simões, 1878; Silva, 1878; Nogueira, 1887; Espanca, 1894; Vasconcellos, 1894, 1898; Cartaillac, 1878, 1886), muitos dos quais entretanto danificados ou destruídos. Já no século vinte, Vergílio Correia levou a cabo o primeiro projecto sistemático, em Portugal, de estudo do megalitismo funerário, num quadro regional (Correia, 1921).

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54 Quanto ao trabalho de Manuel Heleno (Machado, 1964), cujo mérito tem sido justamente posto em causa por ter permanecido praticamente todo inédito, só em breve, com a análise e consequente publicação dos cadernos de campo, poderemos efectivamente começar a avaliar o respectivo alcance. Foram, finalmente, os incansáveis arqueólogos alemães Georg e Vera Leisner quem reuniu, ampliou e publicou, de forma exemplar, a base de dados de referência para o conhecimento do megalitismo dolménico centro-alentejano (Leisner, 1944; Leisner, 1948, 1949; Leisner e Leisner, 1956, 1959). Posteriormente, houve significativas ampliações da informação coligida pelos investigadores alemães, como resultado das novas metodologias de prospecção arqueológica, menos dependentes da informação oral; destacam-se os resultados obtidos nas áreas de Pavia (Rocha, 1999) e Redondo (Calado e Mataloto, 2001), em que o número de antas inéditas foi da ordem dos 30 %, e ainda Alandroal (Calado, 1993), Portel (Lima, 1992) Arraiolos (Silva e Perdigão, 1998), Montemor-o-Novo (Oliveira, 2001; Calado, 2003b), Évora (Burgess, 1987). Para além das prospecções, os anos noventa trouxeram, sobretudo no concelho de Reguengos de Monsaraz, importantes avanços que resultaram da escavação, com métodos modernos, de um conjunto de monumentos megalíticos, de diversas tipologias (Gonçalves, 1992, 1995, 1999, 2002; 2003; Gonçalves e Sousa, 1997, 1999; Gomes, 1997; Correia, 2002). Quanto aos povoados neolíticos e calcolíticos, para além de só terem começado a ser reconhecidos muito tardiamente, apenas numa mão cheia de casos foram objecto de sondagens ou escavações. O primeiro a ser publicado foi, provavelmente, o Castelo Velho (nº 1398), no concelho de Alandroal, onde J.L. Vasconcellos reconheceu apenas a ocupação pré-romana, relacionando-o com o santuário de Endovélico, embora o sítio tivesse sido também ocupado no Bronze final, em época islâmica e calcolítica (Vasconcelos, 1895; Calado, 1993a). Na verdade, coube a Vergílio Correia a identificação, em Pavia, dos primeiros povoados pré-históricos da região. O Castelo de Pavia (nº148) e o povoado de Brissos (nº285, 286) foram, tanto quanto sei, os primeiros a ser reconhecidos como tal (Correia, 1921). Décadas mais tarde, foi a vez do Castelo do Giraldo (nº1600) , nos arredores de Évora (Paço e Ventura, 1961), povoado que foi também objecto de trabalhos de escavação, tendo apresentado vestígios de ocupação calcolítica, mas também de épocas posteriores; os materiais exumados, deficientemente publicados, tal como os contextos de recolha, encontram-se depositados no Museu de Évora. Em 1963, a descoberta acidental da gruta do Escoural (nº 57), cuja ocupação paleolítica ofuscou a importância dos vestígios neolíticos e calcolíticos (respectivamente, no interior e no exterior da gruta) veio colocar, no mapa da pré-história regional, mais um povoado calcolítico e, sobretudo, aquele que foi, durante mais um quarto de século, o único sítio do Neolítico antigo interior (Santos, 1964, 1971, 1985; Gomes, Gomes e Santos, 1983). A natureza da ocupação neolítica da gruta do Escoural, sobretudo das fases mais antigas, a que correspondem nomeadamente as cerâmicas cardiais e impressas, permanece mal esclarecida. A revisão crítica dos dados antigos e a realização de novos trabalhos (Araújo e Lejeune, 1995) permitiram apenas atestar, com relativa segurança, o uso funerário, no Neolítico final.

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Em 1970, foram dados a conhecer, acompanhados da publicação de alguns materiais de superfície, dois outros povoados calcolíticos, Velhacos (nº1772 ) e Santa Susana (nº1770), ambos no concelho de Redondo (Ventura, 1970; Calado e Mataloto, 2001) e, no ano seguinte, os povoados de Famão (nº460) e Aboboreira (nº455), em Vila Viçosa (Arnaud, 1971). Em meados dos anos oitenta, C.T. Silva e J. Soares, no âmbito das primeiras prospecções sistemáticas na área do Regolfo do Alqueva, descobriram e, num caso ou outro, sondaram, alguns povoados pré-históricos nos concelhos de Alandroal, Reguengos de Monsaraz e Portel, sendo de destacar a identificação dos primeiros povoados abertos do Neolítico antigo centro-alentejano (Soares e Silva, 1992). Pouco depois eram igualmente identificados, em Évora, dois povoados dessa época, espacialmente conectados com o recinto dos Almendres e com o menir do Monte dos Almendres (Gomes, 1989: 264). A partir dos finais da década de oitenta, no início daquilo a que V. S.Gonçalves definiu, para a área de Reguengos de Monsaraz, como a fase “das novas perspectivas de pesquisa” (Gonçalves, 1999: 149), foi descoberto, escavado e publicado um conjunto de novos sítios do Neolítico final e Calcolítico, nomeadamente o Monte Novo dos Albardeiros (nº2252), a Torre do Esporão 3 (nº2410) e o Marco dos Albardeiros (nº2348) (Gonçalves, 1988-89, 1989, 1990-91), e identificados novos locais de habitat, como resultado de uma campanha de prospecções centrada na Herdade do Esporão (Gonçalves et al., 1992). Foi também nos finais dos anos oitenta e inícios dos noventa que, em Évora e Montemor-o-Novo, foi levado a cabo um programas de prospecções arqueológicas, direccionado para o estudo da área envolvente do recinto dos Almendres (Burgess, 1987), de que resultaram alguns novos povoados pré-históricos. Finalmente, a partir dos anos noventa, o número de povoados neolíticos e calcolíticos, conhecidos no Alentejo Central, disparou para valores antes insuspeitáveis; esses dados foram publicados, na sua maioria, nos inventários já referidos (Lima, 1992; Calado, 1993a, 1995; Silva e Perdigão, 1998; Silva, 1999; Calado e Mataloto, 2001) ou integram a base de dados apresentada no segundo volume deste trabalho. O conhecimento sobre o povoamento neolítico e calcolítico do Alentejo Central foi, nestes últimos anos, incrementado por escavações em sítios de diversas épocas e tipos; destacam-se os casos da Valada do Mato (nº1119), em Évora, (Diniz e Calado, 1997; Diniz, 2000; Diniz, 2003b) e do Xarez 12 (nº2139), em Reguengos de Monsaraz, (Gonçalves, 1999, 2002a), com ocupação do Neolítico antigo, no primeiro caso, e Neolítico antigo e final, no segundo. No contexto de intervenções de salvamento (Alqueva e A6) foram ainda feitas curtas campanhas de escavação em outros sítios do Neolítico antigo/médio, nomeadamente Patalim (nº 66), em Évora (Diniz 2003c) , Xarez de Cima 4 (nº 2166), Fonte dos Sapateiros (nº2105) e Carraça 1 e 2 (nº2276), em Reguengos de Monsaraz (Gonçalves, 2002a). Com datas da segunda metade do IV milénio a. C., destacam-se também as escavações no povoado com fossos de Juromenha 1 (nº878), no Alandroal; neste mesmo concelho, foram ainda escavados os povoados das Águas Frias (nº1467) e Malhada das Mimosas 1 (nº884), ambos com ocupações do Neolítico final e Calcolítico inicial (Calado, 2002b). Um quarto povoado com fossos, o dos Perdigões (nº 13), com uma ocupação que parece arrancar no Neolítico final e se prolonga por todo o III milénio a. C., foi escavado nos arredores de Reguengos de

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56 Monsaraz (Lago et al., 1998), tendo, antes disso, sido objecto de uma breve sondagem inédita, ainda nos finais dos anos oitenta (Gomes, 1989: 259). Trata-se do mais extenso povoado pré-histórico conhecido na região, com cerca de 15 ha de área cercada por duas linhas de fossos, eventualmente reforçados por muralhas de pedra e com uma necrópole adjacente. Finalmente, foram também escavados ou sondados alguns povoados calcolíticos, nomeadamente, no concelho do Alandroal, o povoado de Miguens 3 (nº2114) (Calado, 2002), com cabanas de pedra circulares e ocupação da segunda metade do III milénio a. C, com cerâmica campaniforme de tipo internacional, e o povoado de S. Gens (nº1453), com abundantes vestígios de metalurgia do cobre e cerâmica campaniforme internacional e incisa; no concelho de Évora foram efectuadas sondagens no povoado calcolítico do Monte da Ponte (nº1856) (Kalb e Höck, 1997), com muralhas de pedra, cuja cronologia ainda se encontra por esclarecer, mas que se integra provavelmente no Calcolítico pleno. Outro tema, globalmente relacionável com os menires, que conheceu recentes desenvolvimentos notáveis, foi o da arte rupestre. De facto, até 2001, eram praticamente desconhecidos, no Alentejo Central, vestígios de arte rupestre holocénica, com a excepção das covinhas, que ocorrem em afloramentose blocos soltos de diversas origens geológicas ou em monumentos megalíticos, de todos os tipos. Para além das covinhas, conheciam-se, desde o princípio do século, dois rochedos graníticos com cruciformes, no concelho de Arraiolos - a Pedra das Taliscas (nº377) e a Pedra das Gamelas(nº376) (Correia, 1921) e um outro foi dado a conhecer, há cerca de 25 anos, no concelho de Mora - o Penedo das Almoinhas (nº378) - o qual inclui igualmente motivos antropomórficos (Zbyszewski et al., 1978). No topo do cabeço que encerra a gruta do Escoural, tinham sido também observados, em 1963, alguns painéis com covinhas, mas só quase duas décadas depois se identificaram outros temas mais complexos, nomeadamente bucrâneos e um possível arado (Santos, Gomes e Monteiro, 1981: 212, 213). Mais recentemente, foram descobertos alguns casos isolados de cruciformes, associados ou não a covinhas, nos concelhos de Arraiolos e Redondo, (Calado, 1995; Calado e Mataloto, 2001) e, ainda inédito,um afloramento com motivos circulares, num afloramento de granito, nos arredores de Évora (Porro, nº 93). Constrastando com esta imagem extremamente modesta, descobriu-se, em 2001, um importante complexo de arte rupestre, na área da barragem do Alqueva, com a maior parte das gravuras identificadas integráveis em cronologias epipaleolíticas, neolíticas e calcolíticas, localizadas sobretudo em rochas do leito do próprio Guadiana e dispersas ao longo de cerca de 60 Km do curso deste rio (Calado, 2001b; 2004; Baptista, 2002; Collado, 2004). É certo que já desde os anos setenta se conheciam gravuras no vale do Guadiana, na área do Pulo do Lobo, em Mértola (Baptista e Martins, 1978), aparentadas estilisticamente, tal como a maioria das que foram localizadas no Alqueva, com as descobertas, no início dos anos setenta, no vale do Tejo;numa perspectiva de conjunto, tudo indica que as gravuras do Guadiana baixo alentejano (Mértola e Serpa) são uma irradiação a partirdo polo localizado no Molino Manzanès/Casa da Moinhola.

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Capítulo 5: As escavações

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5.1.Introdução A escavação de menires não constitui, em geral, um trabalho muito compensador. A ausência ou, pelo menos, a escassez de artefactos associados a este tipo de monumentos, tem sido, como referi, um dos motivos mais imediatos de algum desinteresse dos investigadores. As próprias datações radiocarbónicas, de uso quase universal, são dificilmente aplicáveis aos menires, uma vez que as associações entre estes e os materiais orgânicos passíveis de datação podem ser, e têm sido, justamente questionadas; efectivamente, qualquer material recolhido, por exemplo, no interior dos alvéolos de implantação dos monólitos pode, teoricamente, ser muito anterior à abertura dos mesmos. Em contrapartida, o carácter por vezes muito monumental dos menires e recintos e o facto de, em Portugal, a maioria dos monólitos se encontrar tombada, têm constituído um estímulo para a realização de escavações, cujo objectivo mais imediato é a obtenção de dados que permitam o restauro dos monumentos. No que respeita aos exemplares a seguir apresentados, esta vertente de valorização patrimonial não esteve ausente e, em três dos casos, os trabalhos culminaram mesmo com a anastilose dos menires. No entanto, os critérios que presidiram à selecção dos sítios a intervencionar foram, prioritariamente, de ordem científica; procurei, por um lado, estudar sítios de diferentes tipos (recintos megalíticos morfologicamente distintos, par de menires e menir isolado) e que, ao mesmo tempo, se distribuíssem de uma forma equilibrada no território do Alentejo Central (um recinto e um par de menires, no concelho de Évora, um recinto e um menir no concelho de Montemor-o-Novo e um recinto em Pavia). Em termos de metodologia geral, foi importante ter em conta a escassez de artefactos observada na escavação dos Almendres, no final dos anos oitenta; esse aspecto exigiu a utilização de métodos de escavação particularmente minuciosos, incluindo a crivagem sistemática das terras. Essa opção permitiu reunir, em todos os sítios escavados, um conjunto diminuto, mas nem por isso menos significativo, de artefactos associados aos monumentos. Foram detectados, por outro lado, problemas tafonómicos comuns a todos os sítios: mesmo quando os alvéolos dos menires se conservaram total ou parcialmente, o certo é que em nenhum caso sobreviveram estratigrafias positivas.Os materiais provêm, pois exclusivamente, ou quase, da camada superficial, afectada por fenómenos naturais e antrópicos de várias origens. Para além destes cinco sítios megalíticos, foram, nos últimos anos, efectuadas escavações, mais ou menos extensas, nos recintos dos Almendres (nº 1) (Gomes, 1997b; 2002), Portela de Mogos (nº 4) (Gomes, 1997a), Cuncos (nº 7) (Gomes, 1986) e Xarez (nº 6) (Gomes, 2000b), nos menires de Pedra Longa (nº 16) (Gomes, 1989), Barrocal (nº 28) e Vidigueiras (nº 56) (Gomes, 1997d) e ainda no complexo megalítico da Tera (nº 14) (Rocha, 1997, 1999, 2000), todos eles no contexto geográfico do Alentejo Central. Além destes, foram igualmente intervencionados, nos últimos anos, alguns menires isolados e um conjunto de menires (interpretado como recinto), no distrito de Portalegre (Oliveira, 1985; 1997; 1998; Oliveira e Oliveira, 1998; Albergaria e Lago, 1995).

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Fig. 5.1 - Numeração dos menires e implantação dos Sectores escavados (seg. Calado, 2000b: 176, corrigida).

5.2. O recinto de Vale Maria do Meio 5.2.1. A escavação: estruturas e estratigrafia. O recinto megalítico de Vale Maria do Meio (nº2) foi descoberto em 1993 e foi prospectada a área envolvente em 1994; as escavações decorreram no Verão de 1995, tendo, desde essa data, sido objecto de várias publicações (Calado e Sarantopoulos, 1996; Calado, 1997a; Calado, 2000b). Antes da escavação, os menires foram numerados de 1 a 33, tendo, no decorrer dos trabalhos, sido descoberto o menir 34. A maior parte dos monólitos (24) encontrava-se intacta, embora tombada, com maior ou menor inclinação, conservando a base ainda parcialmente implantada no respectivo alvéolo; dos restantes, os menires 12 e 8 estavam fracturados (tendo, entretanto, sido satisfatoriamente restaurados), enquanto dos menires 7 e 12, restava apenas a extremidade proximal, embora ainda in situ. Os sete restantes (4, 5, 16, 20, 21 e 24) correspondem, mais propriamente, a fragmentos de menires de que não foi possível recuperar conexões, nem estruturas de implantação. Finalmente, nos casos dos menires 1, 13, 14 e 15, apesar de, aparentemente, se encontrarem todos (com a eventual excepção do primeiro) muito próximos da sua posição original e de se conservarem todos intactos, não foi possível detectar vestígios convincentes das respectivas estruturas de implantação. A escavação abrangeu uma área de mais de trezentos metros quadrados, dividida em oito sectores definidos em torno dos menires e duas sanjas perpendiculares, atravessando longitudinal e transversalmente toda a área

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Fig. 5.2 - Planta das estruturas de implantação, com sobreposição da planta dos menires antes da escavação (seg. Calado, 2000b: 177, corrigida).

do recinto. Para além dos próprios menires e das respectivas estruturas de implantação, a estratigrafia resumiu-se à camada [1], constituída por terra de cor castanha clara e de matriz mais ou menos argilosa; esta Unidade Estratigráfica revelou-se bastante homogénea em toda a área intervencionada, correspondendo ao horizonte afectado pelas lavouras. Sob esta camada definiu-se o substrato geológico, na maior parte de teor argiloso, correspondendo certamente ao resultado de processos pedogénicos naturais, anteriores à construção e utilização do monumento, e relacionados com a alteração dos gnaisses subjacentes. Em vários pontos da área escavada foi possível detectar sulcos de arado no substrato geológico, mais ou menos paralelos às curvas de nível, o que implica que qualquer estratigrafia arqueológica positiva tenha sido inevitavelmente perturbada por acções pós-deposicionais; na verdade, a observação dos alvéolos de sustentação dos menires (em muitos dos quais, reduzidos a uma ligeira depressão, a coroa de sustentação se limitava a um anel de pedras, assente próximo da base do alvéolo) e a sua relação topográfica com a superfície actual do terreno, levam-nos a concluir que não só não se conservaram eventuais estratos de ocupação do monumento, como o próprio solo de ocupação contemporâneo da construção do recinto sofreu fenómenos erosivos, em diversas escalas. Concretamente, esses fenómenos erosivos tiveram um efeito muito mais profundo na área central e oriental do recinto; na extremidade ocidental, onde se localiza a maior concentração de menires, esses efeitos foram

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muito paliados, graças, aparentemente, ao obstáculo oferecido pelos monólitos à acção erosiva do arado e ao facto de o declive ser, aí, ligeiramente menos acentuado. Note-se que, ao que tudo indica (foram registados abundantes vestígios romanos, nas imediações, nomeadamente vários pesos de lagar), a área foi intensamente agricultada desde, pelo menos, o início

Fig. 5.3 - Os menires 9, 10, 11 e 12, tombados para Sul.

dos tempos históricos, até aos nossos dias. Curiosamente, a própria destruição intencional do monumento remonta, no mínimo, a eesa época, uma vez que a mutilação de vários menires, dos quais foram deixados, in loco, as extremidades proximais e distais, sugere a utilização das partes mesiais dos monólitos para produção de silhares. Esta hipótese viu-se reforçada pela descoberta da extremidade distal de um menir, num habitat romano das imediações (cerca de 2 Km a NE do recinto de Vale Maria do Meio). Foram registadas as estruturas negativas (alvéolos de implantação dos menires e os respectivos conteúdos (coroas

Fig. 5.4 - Os menires do lado Oeste, após o restauro.

de sustentação e terras de colmatação) de 21 menires (2, 6, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 17, 18, 19, 23, 25, 26, 27, 28, 30, 31, 32, 33 e 34). Os alvéolos melhor conservados apresentam um perfil dissimétrico característico, acentuadamente rampado de um dos lados (quase todos, o lado Sul) e abrupto, do outro. A coroa pétrea é inexistente, ou muito rudimentar, no lado mais abrupto e muito robusta no lado oposto. Observou-se igualmente, em todos os casos bem conservados, que os menires tombaram sempre para os lados rampados. Estamos certamente perante técnicas de erecção dos menires muito padronizadas, com paralelos, aliás, em outras regiões megalíticas europeias ( Richards e Whitby, 1997: 239; Beneteau, 2000: 222). A coincidência da orientação dos lados rampados dos alvéolos, parece indicar a direcção de onde seriam provenientes os respectivos monólitos; de facto, no quadrante a Sul do recinto de Vale Maria do Meio existem notáveis afloramentos de granito, a cerca de 300 m, enquanto os tonalitos, com afloramentos menos conspícuos afloram, por seu turno, a Norte do recinto, a uma distância sensivelmente idêntica. 5.2.2. Os materiais Tendo em conta a relativa extensão da área escavada, os materiais recolhidos foram muito escassos. Saliente-se que, à excepção da camada superficial (de onde, aliás, proveio a maioria do material e que foi apenas crivada por amostragem) as restantes (os enchimentos dos alvéolos) foram integralmente crivadas.

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Fig. 5.5 - Planta das estruturas de implantação identificadas e localização dos materiais recolhidos. (seg. Calado, 2000b: 178, corrigido).

Fig. 5.6 - Materiais líticos da escavação do recinto de Vale Maria do Meio (seg. Calado, 2000b: 174).

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De entre o espólio destaca-se um fragmento de mó manual de vaivém, em granito, recolhido, juntamente com algumas pedras, sob o menir 15 e certamente inserido no interior do alvéolo original; na estrutura de implantação do menir 7, reduzida apenas à parte inferior, identificou-se também um fragmento mesial de um instrumento de pedra polida, de secção arredondada e corpo picotado; infelizmente, este artefacto foi saqueado por clandestinos, durante a escavação do alvéolo. Se exceptuarmos alguns fragmentos de cerâmica muito rolados, em relação aos quais não se pode excluir a hipótese de uma cronologia pré-histórica e alguns artefactos genericamente recentes, o resto do espólio consistiu num conjunto muito diminuto , em relação ao volume de terras escavado, constituído por restos de talhe (alguns com córtex) e artefactos líticos de sílex, de que se destaca uma ponta de flecha transversal, de tipo “Montclus” (Fig. 5.6, nº8). 5.2.3.O monumento e a paisagem A escavação confirmou, em boa parte, a planta aparente do monumento. Trata-se de um recinto alongado segundo um eixo mais ou menos perpendicular às curvas de nível, com cerca de 37 m de comprimento por 25 m de largura. A orientação do eixo maior é sensivelmente W-E, se considerarmos os . menires mais oriental (menir 25) e

Fig. 5.7 - Vista geral do recinto após o restauro.

ocidental (menir 12) do conjunto, embora a linha de menires que conforma o lado Sul, muito rectilínea, sugira um certo desvio para Norte. Na verdade, conforme já foi sugerido (Silva e Calado, 2004) é possível que existam duas fases de construção independentes, com um recinto em forma de ferradura, num primeiro momento, e uma adição/remodelação, constituída pelo referido troço rectilíneo, o qual inflecte quase 90º em relação à curva suave desenhada pelos menires 1, 4, 5, 6, 7, 8, 9, 10 (Fig. 7.2). Este “alinhamento” parece orientado em função da direcção do nascer da Lua, na Pausa Menor. O monumento apresenta, no lado ocidental, uma notável concentração de monólitos, quase todos de dimensões destacadas, situados junto ao topo de uma elevação muito suave; o resto do conjunto estende-se na vertente exposta a Nascente, acompanhando a linha do declive. O menir de maiores dimensões (menir 11) centra-se mais ou menos no lado ocidental, constituindo, com o menir 17 e, de uma forma menos clara, com o menir 18, um conjunto independente do perímetro do monumento e indiscutivelmente inserido no interior do recinto. A planta fechada desta estrutura, inicialmente implícita na interpretação avançada (Calado, 2000b), em consonância com as leituras em voga (Gomes, 1986; 1989; 1994b; 1997a; 1997b), não me parece hoje aceitável. De facto, como veremos, a descoberta do recinto do Tojal (Montemor-o-Novo) veio permitir-me

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repensar este tema e, com base numa revisão dos dados disponíveis, avançar uma leitura alternativa (Capítulo 7). Vale Maria do Meio (nº2) localiza-se, curiosamente, a pouco mais de 1 Km de um outro recinto com características muito semelhantes, o recinto da Portela de Mogos (nº4). Esta proximidade flagrante, que, aliás, se repete noutros casos da região, levou Pedro Alvim a considerá-los um “par de recintos” (Alvim, 2004), conceito aparentemente operativo, que estabelece um certo paralelismo com os pares de menires (Burl, 1993). Por outro lado, os dois recintos alinham-se, num esquema de intervisibilidades parciais, com o menir da Casbarra 1 (nº31) e o menir do Mauriz (nº38), ambos monólitos de boas dimensões. Sobre as possíveis implicações arqueoastronómicas deste alinhamento, que foi já, parcialmente, objecto de duas breves referências (Calado e Rocha, 1996; Silva e Calado, 2004), tratarei no capítulo 8. Em termos paisagísticos, o monumento de Vale Maria do Meio insere-se na fronteira entre paisagens diferentes, em termos topográficos e geológicos: os terrenos graníticos, relativamente dobrados e sem vocação agrícola, que se estendem para Sul e Sudeste e onde se encontra uma grande concentração de vestígios de habitat do Neolítico antigo/médio (mapa 3), os terrenos muito aplanados, de tonalitos, que se estendem para Norte e Nascente e que correspondem à maioria das paisagens dolménicas (e também agrícolas) da região e ainda os terrenos de gnaisse/migmatito que dão corpo aos relevos mais destacados das faldas orientais da serra de Monfurado, onde se localizam os recintos dos Almendres (nº1), da Portela de Mogos e os menires de S. Sebastião (nº8). Também em termos hidrográficos, a localização do monumento pode ser descrita como uma situação de fronteira, uma vez que o Vale Maria do Meio se implanta a cerca de 500 m do festo Tejo-Sado. 5.3. O menir do Monte do Tojal O menir do Monte do Tojal (Calado, 2003) (nº57) foi descoberto pelo signatário, nos finais de 1999, no âmbito de um programa de prospecções de superfície na área do concelho de Montemor-o-Novo. Trata-se de um monólito de granito, com cerca de 2, 35 m de comprimento e cerca de 1,00 m de diâmetro máximo, na área mesial. Aquando da descoberta, o menir encontrava-se tombado, em posição inclinada, com a base enterrada e o topo ligeiramente acima da superfície do solo. Esta posição constituía, desde logo, um indício claro de que a base do menir se encontrava in situ, aspecto que a escavação confirmou plenamente. No topo, e apenas na superfície virada para cima, ostentava um conjunto de covinhas de diversas dimensões que, ao que tudo leva a crer, foram executadas já com o monólito tombado, situação reconhecida num número razoável de menires da região, nomeadamente o de Vale de Cardos, o menir central (menir 1) do recinto do Xarez (nº6) ou o menir 1 dos Perdigões (nº13). Em termos de implantação, o menir do Monte do Tojal localiza-se junto ao topo de uma vertente exposta a Nascente, num terreno com uma cobertura de depósitos de idade terciária, de matriz argilosa; trata-se da extremidade meridional de uma elevação dominante, que emerge por entre terrenos enquadrados por afloramentos graníticos, e em cuja extremidade Norte se localiza o recinto megalítico do Tojal; este, foi igualmente objecto de uma pequena intervenção de valorização e diagnóstico.

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Fig. 5.8 - Implantação do menir do Monte do Tojal.

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Fig. 5.9 - Plantas sequenciais da escavação do menir do Monte do Tojal.

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68 Os trabalhos de escavação decorreram em Abril de 2000 e tiveram como objectivo a obtenção de dados sobre a morfologia e as estruturas de implantação do menir, para além de eventuais informações de natureza contextual. A 22 de Junho, como corolário dos trabalhos de escavação, procedeu-se à reimplantação do menir no respectivo alvéolo No início dos trabalhos, foi implantada uma quadrícula com 8 m2 (4m x 2m) centrada no menir e, posteriormente, referenciada no levantamento topográfico efectuado; com o desenrolar dos trabalhos, optouse por reduzir a área a intervencionar, pelo que, para além da escavação do enchimento do alvéolo, foram apenas escavados os 2 m2 da extremidade meridional da área inicialmente aberta. A escavação e o registo dos materiais foram feitos por Unidades Estratigráficas e todas as terras retiradas da escavação foram crivadas, tendo sido prestada uma atenção particular aos sedimentos provenientes do interior do alvéolo. 5.3.1. Listagem das Unidades Estratigráficas [0] - Camada de terra castanha clara, pouco compacta, com alguns seixos de quartzo, mais ou menos rolados; [1] - Camada de terra castanha, compacta, com alguns seixos de quartzo, mais ou menos rolados; [2] Estrutura constituída maioritariamente por blocos de granito e alguns blocos de quartzo, de pequena e média dimensão, que preenchem os limites do alvéolo (U.E. 5) ; não foi desmontada; [3] – Bolsa de terra castanha escura que constitui o enchimento do alvéolo (U.E. 5); não continha materiais arqueológicos; [4] – Camada de terra castanha ligeiramente avermelhada, com pequenos blocos de quartzo, mais ou menos rolado, que assentava no substrato geológico e onde foi parcialmente escavado o alvéolo [5]; [5] – Estrutura negativa com cerca de 1, 40 m de diâmetro máximo e secção E-W assimétrica, de perfil mais abrupto no lado E.

Nº 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11

5.3.2. Listagem dos materiais U.E. Tipo 1 Bordo 1 Lamela 1 Lamela 0 Lamela 0 Resto de talhe 0 Buril diedro 1 Bordo 4 Fundo 4 Bordo 4 Lasca 4 Resto de talhe 5.3.3. Avaliação dos resultados

Fabrico/Material Manual Sílex Sílex Sílex Sílex Sílex Manual Manual Manual Sílex Sílex

Data 19.04.00 19.04.00 19.04.00 18.04.00 18.04.00 18.04.00 18.04.00 22.04.00 21.04.00 23.04.00 23.04.00

Obs.

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Fig. 5.10 - Materiais líticos e bordos cerâmios do menir do Monte do Tojal (seg. Calado, 2003: 366).

De entre os resultados obtidos na escavação do menir do Tojal, destaca-se, em primeiro lugar, a confirmação, sem qualquer margem para dúvidas, do respectivo local de implantação, assim como a determinação das dimensões, forma e estruturas de fixação do monólito. Apesar de escassos, os artefactos recolhidos fornecem alguma informação pertinente sobre a cronologia do monumento. Os fragmentos cerâmicos são, infelizmente, pouco expressivos: consistem num pequeno conjunto de peças lisas, com bordos simples. Porém, os artefactos de sílex, sobretudo o buril diedro e as lamelas, indicam uma presença, no local, de grupos neolíticos, genericamente enquadráveis no Neolítico antigo/ médio. Na verdade, a escavação de menires e recintos megalíticos centro-alentejanos tem vindo a revelar a presença sistemática de indústrias micro-laminares, a par de uma ausência ou escassez de cerâmicas, o que sugere uma utilização não habitacional desses sítios arqueológicos. Outro aspecto a registar, pela negativa, foi a ausência de materiais embalados nas terras do enchimento do alvéolo [3], o que pode implicar uma anterioridade da implantação do menir em relação à deposição dos materiais nas terras que o envolvem.

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Fig. 5.11 - O Menir do Tojal antes do início dos trabalhos

Fig. 5.12 - O Menir do Tojal durante a escavação do alvéolo

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Fig. 5.13 - O menir do Tojal, após a escavação e restauro

Fig. 5.14 - Detalhe das covinhas no topo do menir

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5.4. O recinto do Tojal O recinto megalítico do Tojal (nº5) foi descoberto, nos finais de 1999, juntamente com o menir do Monte do Tojal (nº57). Trata-se de um conjunto de 17 menires, de dimensões variáveis, tombados junto ao topo de uma vertente exposta a Leste, com um declive excepcionalmente acentuado, em relação aos restantes recintos do mesmo tipo, conhecidos no Alentejo Central. Na altura da descoberta, os menires jaziam envoltos em vegetação arbustiva muito densa, atendendo a que o terreno, por ser muito declivoso, não era habitualmente cultivado; efectivamente, de início, só foram referenciados 16 monólitos, tendo o 17º sido encontrado na sequência da limpeza do terreno. Os menires distribuem-se em ferradura, com o lado aberto virado a Nascente, e, como referi, foi com base nesta evidência (e numa revisão crítica da restante informação disponível) que reconsiderei a interpretação tradicional que considerava os recintos alentejanos como monumentos de planta fechada; de facto, as lacunas (sistemáticas) verificadas no lado oriental dos restantes “cromeleques” da região (Almendres, Portela de Mogos, Vale Maria do Meio, Cuncos, Fontaínhas, Vale d’El Rei) permitem levantar a hipótese de ter sido essa, com algumas variações, a forma matricial da planta destes monumentos. Outra das características comuns aos grandes recintos megalíticos alentejanos, e igualmente verificada no Tojal (Menir 15), é a presença de vários menires de maiores dimensões, centrados no lado ocidental

do

conjunto,

apresentando, por norma, o maior de todos, uma posição ligeiramente desfasada, para Norte, em relação ao eixo maior do monumento. Os trabalhos efectuados não passaram pela remoção de qualquer menir, pelo que não podemos afirmar, com segurança, a inexistência de monólitos decorados; no menir 15, na face exposta, foi, em todo o caso, identificada uma gravura de época Fig. 5.15 - O menir “central” do recinto (menir 15). histórica – um conjunto de 5 triângulos dispostos em cruz, tema que se repete num dos esteios de uma anta, localizada a meia distância entre o recinto e o menir do Tojal – e que devem corresponder a símbolos identificadores de propriedade. A campanha efectuada no recinto do Tojal consistiu, quase exclusivamente, na limpeza da vegetação arbustiva (e de algumas árvores de menor porte) que infestava o local, ocultando, total ou parcialmente, a maioria dos menires.

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Procedeu-se igualmente à remoção, por meios mecânicos, dos líquenes que recobriam grande parte das superfícies expostas dos monólitos. Fizeram-se, por último, duas pequenas sondagens com 2,25 m2 e 1,5 m2, em torno, respectivamente, dos menires 15 e 16; pretendeu-se, basicamente, confirmar ou infirmar a existência de estruturas de implantação conservadas. As sondagens foram efectuadas por Unidades Estratigráficas. 5.4.1. Listagem das Unidades Estratigráficas [0] – Camada de terra castanha muito escura, humosa, contendo alguns materiais de época romana. Sondagem 1 – Menir 15 [1] – Camada de terra castanha clara, identificada apenas na metade ocidental da sondagem, contendo alguns materiais de época romana/medieval. [2] – Bolsa de terra castanha avermelhada que preenche uma depressão [5], junto à base do menir 15. [3] – Terra muito avermelhada, sem materiais arqueológicos, que parece corresponder ao substrato geológico; foi sondada, até à base do menir, no quadrante NE da sondagem. [4] – Bolsa de terra castanha escura, com materiais romanos/medievais. [5] – Depressão que pode corresponder aos restos, muito afectados, do alvéolo do menir 15. Sondagem 2 – Menir 16 [1] – Camada de terra castanha alaranjada, com alguns materiais romanos/medievais e pré-históricos (sílex). [2] – Bolsa de terra castanha clara, pouco espessa; sem materiais. [3] – Conjunto de blocos de quartzo e granito de dimensões pequenas e médias, que podem corresponder aos restos da coroa de sustentação do menir 16. 5.4.2. Listagem dos materiais (registos individuais) Nº Sondagem U.E. Tipo Fabrico/Material 1 2 1 Bordo extrovertido Roda 2 2 1 Bordo Roda 3 2 1 Lasca Sílex 4 2 1 Resto de talhe Sílex 5 1 0 Lamela (?) Sílex

Data 27.04.00 27.04.00 28.04.00 28.04.00 29.04.00

5.4.3. Avaliação dos resultados Os trabalhos realizados, apesar de escassos, permitiram melhorar significativamente a imagem disponível sobre este sítio arqueológico. Importantes foram, sem dúvida, os trabalhos de limpeza da vegetação que, para além de terem permitido identificar mais um monólito, revelaram a planta do conjunto, tornando possível o respectivo levantamento

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Fig. 5.16 - Plantas da escavação do menir 15 (UE 0 e UE 1)

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Fig. 5.17 - Plantas da escavação do provável alvéolo do menir 15 (UE 2, 3 e 4) e UE 5.

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topográfico. Pelo contrário, as duas sondagens foram escassamente conclusivas: a avaliar pela amostra intervencionada, as estruturas de implantação não parecem encontrar-se em bom estado de conservação; provavelmente terão sido afectados pela ocupação romana/medieval detectada no local, sendo que o declive acentuado, só por si, favoreceu certamente os processos erosivos. Em boa verdade, as sondagens foram demasiado contidas para que se possam extrapolar os resultados para o conjunto do recinto; no entanto, sabemos que na escavação do recinto de Cuncos, também em Montemor-o-Novo, não se encontrou nenhuma das estruturas de implantação dos menires. Por outro lado, é praticamente garantido que, pelo menos, o menir 2 conserva ainda as referidas estruturas, atendendo a que se encontra numa posição inclinada, com a base enterrada. Em última análise, nos menires 15 e 16 e, em particular, no primeiro deles, só poderíamos resolver a questão, deslocando os menires, uma vez que é muito natural que os próprios monólitos tenham “protegido” o que eventualmente reste das estruturas de implantação. Por razões orçamentais, tal não foi, por enquanto, viável. Outro aspecto a referir prende-se com o facto de que, mesmo que as estruturas de implantação se tenham deteriorado, o recinto apresenta uma planta sem anomalias notórias, o que implica que os menires se conservaram muito próximo do local onde um dia se ergueram. De entre os materiais romanos/medievais não se recolheram indicadores de cronologias finas: a maioria do espólio dessa época é constituído por fragmentos de imbrex, espessos, e alguma cerâmica comum; recolheuse ainda um bordo extrovertido que aponta para uma presença da Idade do Ferro de que não se detectou, na área do recinto, mais nenhum indício. No entanto, merece ser igualmente mencionada um fragmento de dormente de mó de sela, a cerca de 200 m para Sul do recinto do Tojal. Por fim, e apesar de muito escassos, parece ser muito significativa a presença de restos de talhe e artefactos de sílex, situação que encontra paralelo em todos os recintos intervencionados recentemente no Alentejo Central e também, de uma forma mais expressiva do que aqui, no menir do Tojal. 5.5. Vale d’El Rei 5.5.1. A história do monumento e a escavação O recinto megalítico de Vale d’El Rei (nº15), também conhecido por cromeleque do Monte das Figueiras foi, pela primeira vez, dado a conhecer, nos anos cinquenta do século vinte, pelos arqueólogos alemães, Georg e Vera Leisner (1956). O trabalho dos Leisner incidiu, como se sabe, quase exclusivamente sobre o estudo das sepulturas megalíticas, pelo que a referência ao recinto de Vale d’El Rei constitui uma excepção, relegada, aliás, para uma espécie de apêndice, onde foram reunidos monumentos de diversas índoles (tanto em termos morfológicos como cronológicos) tendo, como denominador comum, um certo “ar” megalítico. Embora, no texto, o recinto tenha merecido apenas uma breve menção, os autores entenderam por bem

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incluir no trabalho, para além de uma planta pouco rigorosa, uma excelente fotografia do local. De resto, essa referência passou de tal forma despercebida que, nos anos setenta, a equipa dos serviços Geológicos de Portugal voltou a “descobrir” o monumento, rebaptizado, desta vez, como cromeleque do Monte das Figueiras (Zbyszewski et al., 1977). Esta equipa publicou

Fig. 5.18 - Família do proprietário, no recinto de Vale d’El Rei (anos 60).

também algumas fotografias e uma nova planta do recinto, agora de forma suficientemente rigorosa. Apesar de o monumento ser conhecido e, até certo ponto, protegido pela família Mexia, proprietária da Herdade, em finais dos anos setenta, um rendeiro procedeu, de moto proprio, à desmontagem e amontoamento dos doze menires que o constituíam, com a finalidade de libertar o terreno e facilitar as lavouras. Os objectivos da escavação centraram-se na obtenção de artefactos e, eventualmente, ecofactos que permitissem contextualizar o monumento, assim como das evidências estruturais necessárias para a subsequente

Fig. 5.19 - O amontoado de menires, antes do início dos trabalhos (seg. Rocha, 1999: 225)

recuperação da sua forma original. As plantas e as fotografias do recinto de Vale d’El Rei, antes de ter sido desmantelado, constituíram o ponto de partida para as decisões sobre onde escavar; tive, para além do material publicado, acesso a algumas fotos do arquivo pessoal dos proprietários da herdade. Através de recolha de informação oral, foi possível, antes da escavação, concluir que os trabalhos agrícolas, posteriores à destruição

Fig. 5.20 - Aspecto do local, após a retirada dos menires e antes do início da escavação.

do recinto, tinham sido apenas muito superficiais, sendo, por isso, muito pouco provável que os alvéolos dos menires tivessem sido seriamente afectados; por outro lado, parti do princípio de que, por razões práticas (economia de meios), pelo menos um

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dos menires não deveria ter sido arrancado e de que os restantes teriam sido acumulados por cima dele. Observando o amontoado de menires, havia efectivamente um que parecia ilustrar essa suposição: era o único que aparecia inclinado e, aparentemente, com a base semi-enterrada, pelo que só restava identificá-lo, na planta, entre os doze que originalmente integravam o monumento. Foi o facto de um dos informadores se recordar da existência, antes da destruição, de um arbusto (murteira) que ainda existe actualmente junto do menir inclinado, que permitiu, com relativa segurança, resolver a questão. De facto, as fotografias antigas onde o arbusto aparecia visível, levaram-me a identificá-lo como o menir 7 (da numeração proposta por Zbyszewski et al., 1977). Procurei, com base na planta publicada pelos investigadores dos Serviços Geológicos de Portugal, implantar uma malha de escavação e, dentro dela, definir as áreas a escavar, em função da posição aproximada que deveriam ocupar os alvéolos dos menires. Foi, assim, possível rentabilizar os limitados meios disponíveis e efectuar uma escavação meticulosa, com crivagem integral das terras escavadas, o que permitiu reunir um pequeno conjunto coerente de artefactos, provavelmente relacionáveis com a utilização do monumento. A área da escavação foi concebida de forma flexível, tendo sido alargada ou encurtada em função dos resultados obtidos e foi feita, sempre que possível, na ordem inversa da deposição das unidades estratigráficas. 5.5.2. Estratigrafia [0] – Camada superficial, composta por terra castanha clara, com seixos rolados de quartzo, revolvida pelas lavouras. Assenta, em toda a área do monumento, no substrato geológico ou no topo das coroas dos menires (e, em metade dos casos, também nos restos das bases dos menires). [1] – Menir de granito, intacto, de forma ovóide achatada, com 1.33 m de comprimento, por 0.62 de espessura máxima e 0.48 m de espessura mínima. [2] – Menir de granito, com a base, cónica achatada, fracturada in situ; forma geral ovóide achatada, com 1. 58 m de comprimento total, por 0.77 m de espessura máxima e 0.58 m de espessura mínima. [3] – Menir de granito com uma pequena extremidade da base, fracturada in situ e associada a um conjunto de fragmentos em conexão; forma geral ovóide achatada, com 1. 02 m de comprimento total, por 0.66 m de espessura máxima e 0.42 m de espessura mínima. [4] – Menir de granito, intacto, de forma ovóide achatada, com 1.77 m de comprimento, por 1.02 m de espessura máxima e 0.67 m de espessura mínima. [5] – Pequeno menir de granito, com restos da extremidade da base, cónica achatada, fracturados in situ. Mede 0.78 m de comprimento, por 0.60 m de espessura máxima e 0.48 m de espessura mínima [6] – Menir de granito, intacto, de forma ovóide achatada , com 1. 02 m de comprimento total, por 0.66 m de espessura máxima e 0.40 m de espessura mínima. [7] – Menir de granito, intacto, de forma ovóide achatada, com 1.61 m de comprimento, por 0.89 m de espessura máxima e 0.70 m de espessura mínima. [8] – Menir de granito, com a base, cónica achatada, fracturada in situ; encontra-se severamente fracturado,

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Fig. 5.21 - Base do menir 2, in situ, e parte da respectiva coroa de sustentação.

Fig. 5.23 - Parte do alvéolo e da coroa do menir 4.

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Fig. 5.22 - Alvéolo e coroa do menir 2.

Fig. 5.24 - Alvéolo, coroa e fragmento do menir 4.

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longitudinal e transversalmente, pelo que a forma geral, aparentemente ovóide achatada, é difícil de avaliar e, por isso, as medidas apresentadas são meramente aproximativas; cerca de 1. 00 m de comprimento total, por 0.75 m de espessura máxima e 0.50 m de espessura mínima. [9] – Menir de granito, intacto, de forma ovóide ligeiramente achatada, com 1.27 m de comprimento, por 0.74 m de espessura máxima e 0.62 m de espessura mínima. [10] – Menir de granito, com a base, cónica achatada, fracturada in situ; forma geral ovóide achatada, com 1. 28 m de comprimento total, por 0.58 m de espessura máxima e 0.40 m de espessura mínima. [11] – Menir de granito, fracturado, de forma ovóide muito achatada, com 1.55 m de comprimento total, por 0.69 m de espessura máxima e 0.36 m de espessura mínima. [12] – Menir de granito, intacto, de forma ovóide achatada, com 1.46 m de comprimento, por 0.74 de espessura máxima e 0.46 m de espessura mínima [13] – Enchimento do alvéolo do menir 1, após a remoção do mesmo; trata-se de terra castanha clara, com alguns seixos de quartzo rolados, dificilmente destrinçável da camada superficial. [13 b] – Base do enchimento do alvéolo do menir 1, constituída por uma delgada camada de terra argilosa, castanha avermelhada, mais compacta e correspondendo eventualmente ao topo do próprio substrato geológico. [15] – Coroa de sustentação do menir 1, constituída por escassas pedras de granito, no lado oeste do alvéolo, e terra de coloração castanha clara. [16] – Alvéolo do menir 1; depressão alongada com cerca de 0.90 m x 0.80 m e cerca de 0.20 m de profundidade. [17] – Enchimento do alvéolo do menir 2, constituído por terra de textura pouco compacta, de cor castanha clara, análoga à camada superficial. [18] – Coroa do menir 2; estrutura muito compacta, com pedras de granito de grande e médio calibre, sobretudo no lado Sul. [19] – Alvéolo do menir 2; depressão alongada com cerca de 0.90 m x 0.75 m e cerca de 0.45 m de profundidade. [20] – Enchimento do alvéolo do menir 3, constituído por terra de textura pouco compacta, de cor castanha clara, análoga à camada superficial. [20 b] – Enchimento da base do alvéolo do menir 3, constituído por um estrato pouco espesso, compacto, com muitos seixos e eventualmente resultante da alteração do substrato geológico. [21] – Alvéolo do menir 3; depressão alongada com cerca de 0.75 m x 0.70 m e cerca de 0.37 m de profundidade. [22] – Coroa do menir 3, constituída por escassas pedras de granito de dimensão média. [23] – Enchimento do alvéolo do menir 4 constituído por terra de textura pouco compacta, de cor castanha acinzentada. [23 b] – Enchimento da base do alvéolo do menir 4, constituído por um estrato muito compacto, de cor

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2

1

Fig. 5.25 - Aspecto da área escavada, no final dos trabalhos; 1: lado Sul; 2: ladoNorte.

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avermelhada, com muitos seixos e semelhante à terra que envolve as pedras da coroa de sustentação. [24] – Coroa do menir 4; estrutura muito compacta, com pedras de granito de grande e médio calibre, concentrada no quadrante NW do alvéolo. [25] – Alvéolo do menir 4; depressão alongada, com uma acentuada dissimetria E-W; mede cerca de 1.35 m x 1.20 m e cerca de 0.50 m de profundidade. [26] – Enchimento do alvéolo do menir 5, constituído por terra de textura pouco compacta, de cor castanha clara, análoga à camada superficial. [27] – Coroa do menir 5, constituída por apenas uma pedra in situ (e por mais algumas deslocadas), todas de granito de dimensão média e pequena. [28] – Alvéolo do menir 5; ligeira depressão subcircular, com cerca de 0.60 m x 0.50 m e cerca de 0. 15 m de profundidade. [29] – Enchimento do alvéolo do menir 6, constituído por terra de textura pouco compacta, de cor castanha clara, análoga à camada superficial. [29 b] – Base do enchimento do menir 6, constituída por uma delgada camada de terra castanha, compacta. [30] – Coroa do menir 6, constituída por pedras de granito e quartzo, de dimensão média, concentradas no lado NW do alvéolo. [31] – Alvéolo do menir 6; depressão alongada com cerca de 0.85 m x 0.75 m e cerca de 0.22 m de profundidade. [32] – Enchimento do alvéolo do menir 7, constituído por terra compacta, de cor castanha clara, com alguns seixos de quartzo. [33] – Coroa do menir 7, formada por uma carapaça de pedras de granito de média dimensão, concentrada no lado NW do alvéolo, e embalada em terra castanha clara. [34] – Alvéolo do menir 7; depressão subcircular com cerca de 1.25 m x 1.20 m e cerca de 0.30 m de profundidade. [35] – Enchimento do alvéolo do menir 8, constituído por terra compacta, de cor castanha clara, com alguns seixos de quartzo. [36] – Coroa do menir 8, constituída por pedras de granito e quartzo, de dimensão pequena e média, dispersas em volta da base do menir. [37] – Alvéolo do menir 8; depressão alongada com cerca de 0.90 m x 0.80 m e cerca de 0.25 m de profundidade. [38] – Enchimento da [39], constituído por terra de cor cinzenta, solta, com alguns seixos de quartzo. [38 b] – Enchimento do alvéolo do menir 9, constituído por terra pouco compacta, de cor castanha mais escura que o substrato, com alguns seixos de quartzo. [39] – Estrutura negativa entre o menir 9 e o menir 10; de forma alongada, pouco profunda, com cerca de 0.60 m, por 0.75 m, com uma profundidade máxima conservada de cerca de 0.15 m.

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[40] – Enchimento do alvéolo do menir 10, composto por terra castanha amarelada e seixos de quartzo, análoga à que envolve as pedras da coroa. [41] – Coroa do menir 10, formada por uma carapaça de pedras de granito de média dimensão, concentrada no lado W do alvéolo, e embalada em terra castanha amarelada. [42] – Alvéolo do menir 10; depressão alongada com cerca de 0.75 m x 0.70 m e cerca de 0.37 m de profundidade. [43] – Enchimento do alvéolo do menir 11, constituído por terra relativamente solta, de cor castanha acinzentada, com alguns seixos de quartzo. [43 b] – Enchimento da base do alvéolo do menir 11, constituído por terra compacta, de cor castanha amarelada, com alguns seixos de quartzo, semelhante à que embala as pedras da coroa. [44] – Coroa do menir 11, formada por uma carapaça de pedras de granito de média dimensão, concentrada no lado E do alvéolo, e embalada em terra castanha amarelada. [45] – Alvéolo do menir 11; depressão ligeiramente alongada com cerca de 0.77 m x 0.70 m e cerca de 0.37 m de profundidade. [46] – Enchimento da [47] constituído por terra compacta, de cor castanha avermelhada, com alguns seixos de quartzo. [47] – Depressão larga e pouco profunda, eventualmente de natureza geológica, localizada a Norte do menir 12, e recortada pelo alvéolo deste menir [51] e pela U.E. [54]. Mede cerca de 1.30 m x 1.10 m, por cerca de 0.20 m de profundidade máxima. [48] – Alvéolo do menir 9; depressão alongada com cerca de 1.00 m x 0.85 m e cerca de 0.50 m de profundidade máxima (limite apenas conservado, no lado N; o lado Sul e E foi afectado pela U.E. [39]). [49] – Coroa do menir 9, formada por uma carapaça de pedras de granito de grande e média dimensão, concentrada no lado N do alvéolo, e embalada em terra castanha. [51] – Alvéolo do menir 12; depressão subcircular, com cerca de 0.85 m x 0.80 m e cerca de 0.30 m de profundidade máxima [52] – Enchimento do alvéolo do menir 12, constituído por terra compacta, de cor castanha avermelhada, com alguns seixos de quartzo. [53] – Coroa do menir 12; carapaça de pedras de granito de pequena e média dimensão, a toda a volta do alvéolo, excepto o lado W, e embalada em terra castanha avermelhada. [54] – Pequena depressão alongada, de secção afunilada, entre o menir 11 e o menir 12, correspondente certamente ao negativo de uma raíz carbonizada. [55] – Enchimento da [54], constituído por terra muito escura, com abundantes micro-carvões. O substrato geológico é constituído por depósitos terciários, com seixos de quartzo pouco rolados, embalados numa matriz mais ou menos argilosa, nem sempre fácil de distinguir dos depósitos de origem antrópica.

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5.5.3. Listagem de materiais Nº UE Tipo Material Fabrico

Data

1 2

0

sílex sílex

13.08.2001 15.08.2001 x = 11976.776; y = -85463.231; z = 168.338; com córtex

3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45

20 Ponta de seta (?) 0 Lasca Raspador 0 Lasca 0 Lamela 0 Lasca 0 Furador Carena 0 Carena (?) 0 Parede Carena 29 Lasca 29 Lasca 29 Furador (?) 13 Lasca 13 Lasca 13 Lasca 13 Lasca 29b Lasca 38 Parede 38 Parede 23 Lasca 23 Furador 23 Lasca 23 Lasca 23 Lasca 23 Furador 23 Lasca 23 Lasca 23 Lasca 23 Lasca 23 Furador 32 Furador 32 Lasca 32 Lasca 32 Lasca 46 Lasca 46 Lasca 46 Lasca 46 Lasca 46 Lasca Parede 38 Lasca

xisto silicioso sílex sílex sílex sílex sílex sílex cerâmica manual cerâmica manual cerâmica manual cerâmica manual quartzo quartzo quartzo quartzo quartzo quartzo quartzo quartzo cerâmica manual (?) cerâmica manual (?) quartzo quartzo quartzo quartzo quartzo quartzo quartzo quartzo quartzo quartzo quartzo quartzo quartzo quartzo quartzo quartzo quartzo quartzo quartzo quartzo hialino cerâmica manual quartzo

21.08.2001 20.08.2001 13.08.2001 14.08.2001 15.08.2001 15.08.2001 15.08.2001 15.08.2001 15.08.2001 13.08.2001 21.08.2001 22.08.2001 22.08.2001 22.08.2001 21.08.2001 21.08.2001 21.08.2001 21.08.2001 23.08.2001 23.08.2001 23.08.2001 22.08.2001 22.08.2001 22.08.2001 22.08.2001 22.08.2001 22.08.2001 22.08.2001 22.08.2001 22.08.2001 22.08.2001 22.08.2001 22.08.2001 22.08.2001 22.08.2001 22.08.2001 21.08.2001 21.08.2001 21.08.2001 21.08.2001 21.08.2001 20.08.2001 21.08.2001

Nº UE Tipo

Material

Data

46 38 Lasca 47 23 Lasca

quartzo quartzo

Lasca Resto de talhe

Fabrico

21.08.2001 21.08.2001

Observações

retocada

retocada

x = 11976.807; y = -85464.306; z = 168.347 x = 11978.111; y = -85466.534; z = 168.402 x = 11979.420; y = -85466.842; z = 168.410

x = 11985.170; y = -85461.846; z = 168.335

Observações

84

Menires do Alentejo Central 48 49 50 51 52 53 54 55 56 57 58 59 60 61 62 63 64 65 66 67 68 69 70 71 72 73 74 75 76 77 78 79 80 81 82 83 84 85 86 87 88 89 90 91 92 93 94 95

43 43 43 43 43 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0? 0? 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0 0

Lasca quartzo Lasca quartzo Lasca quartzo Lasca quartzo Lasca quartzo Parede cerâmica manual Parede cerâmica manual Parede cerâmica manual Parede cerâmica manual Parede cerâmica manual Parede cerâmica manual Parede cerâmica manual Parede cerâmica manual Parede cerâmica manual Parede cerâmica manual Parede cerâmica manual Parede cerâmica manual Parede cerâmica manual Parede cerâmica manual Parede cerâmica manual Arranque de asa cerâmica manual (?) Parede cerâmica manual Parede cerâmica manual Parede cerâmica manual Lasca quartzo Núcleo quartzo hialino Lasca rocha siliciosa Lasca rocha siliciosa Lasca quartzo Lasca quartzo Lasca quartzo Lasca quartzo hialino Lasca quartzo Lasca quartzo Lasca quartzo hialino Lasca quartzito Lasca quartzo Lasca quartzo Lasca quartzo Lasca quartzo Lasca quartzo hialino Lasca quartzo Lasca quartzito Lasca retocada quartzito Lasca quartzo Lasca quartzo Lasca quartzo Furador quartzo

85

22.08.2001 22.08.2001 22.08.2001 22.08.2001 22.08.2001 20.08.2001 20.08.2001 20.08.2001 17.08.2001 17.08.2001 17.08.2001 17.08.2001 17.08.2001 14.08.2001 21.08.2001 21.08.2001 17.08.2001 17.08.2001 14.08.2001 x = 11979.499; y = 85466.546; z = 168.455 x = 11979.748; y = 85466.962; z = 168.489 15.08.2001 15.08.2001 15.08.2001 15.08.2001 13.08.2001 13.08.2001 exausto 17.08.2001 17.08.2001 17.08.2001 17.08.2001 17.08.2001 20.08.2001 20.08.2001 20.08.2001 17.08.2001 17.08.2001 com córtex 17.08.2001 17.08.2001 17.08.2001 17.08.2001 17.08.2001 17.08.2001 14/15.08.2001 14/15.08.2001 com córtex 14/15.08.2001 14/15.08.2001 14/15.08.2001 14/15.08.2001

5.5.4. Comentários Vale d’El Rei (nº15) destaca-se, no conjunto dos recintos do Alentejo Central, pelo facto de ser o único cuja planta se conservou integralmente até aos nossos dias (mesmo tendo sofrido, extemporaneamente, as

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1

2

Fig. 5.26 - 1: Planta do recinto e levantamento topográfico da área envolvente; 2: planta da área escavada, com a localização dos menires, antes do desmantelamento (seg. Zbiszewski et al., 1977).

Menires do Alentejo Central

Fig. 5.27 - Planta das estruturas de implantação dos menires.

Fig. 5.28 - Planta geral dos alvéolos, no final dos trabalhos.

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agressões acima referidas). Os outros monumentos da região apresentam lacunas difíceis de colmatar (resultantes, em geral, de amputações antigas) para além de graus de complexidade formal totalmente distintos deste. Como já referi, os restantes “cromeleques” alentejanos foram, logo desde a descoberta dos Almendres (nº1), interpretados como recintos fechados (ovais ou circulares), sendo as lacunas, sistematicamente observadas no lado nascente, lidas como o resultado de amputações; no entanto, a integridade da planta em ferradura do Vale d’El Rei nunca foi posta em causa, nem seria lógico fazê-lo, atendendo ao grau de conservação do conjunto. As dimensões são outro detalhe que afasta o sítio de Vale d’El Rei da maioria dos seus congéneres, numa escala regional. De facto, não temos qualquer informação fidedigna sobre as verdadeiras dimensões de alguns dos recintos mal conservados e/ou que nunca foram objecto de escavação, como são os casos do Monte da Ribeira (nº9) (Reguengos de Monsaraz), do Alminho (Ponte de Sôr) ou do Torrão (Elvas), todos eles pequenos e, segundo creio, periféricos em relação ao “núcleo duro” dos arredores de Évora. Esse carácter periférico pode, aliás, ajudar a explicar as dimensões e a pureza formal do Vale d’El Rei e relaciona-se, eventualmente, com a escassez de vestígios de povoamento do Neolítico antigo, na área de Pavia, em contraste com o que se verifica na área de Évora. Outro aspecto, muito sui generis, deste monumento diz respeito ao padrão de implantação; a escolha do local obedeceu, sem dúvida, a uma lógica diferente daquela que subjaz aos recintos de Évora e Montemoro-Novo, por exemplo. Nota-se, em todo o caso, um ajustamento muito cuidadoso ao terreno (Fig.5.26, 1) e uma orientação equinocial muito clara. Recorde-se, finalmente, que o recinto de Vale d’El Rei se enquadra numa área restrita de grande riqueza megalítica, com monumentos funerários (sepulturas protomegalíticas e antas de várias dimensões) pré-históricos, assim como com um monumento, sem qualquer paralelo conhecido, constituído por um alinhamento de menires e um tumulus funerário, com menires, que também foi recentemente escavado e datado da 1ª Idade do Ferro (Rocha, 1999). A escavação do recintode Vale d’El Rei permitiu obter dados suficientes para, na sequência da colagem/ restauro dos monólitos, se poder avançar com o processo de restauro do monumento: foram localizados e escavados todos os alvéolos dos doze menires e foi igualmente possível reunir grande parte dos fragmentos de seis menires fracturados, todos eles com troços da base ainda enterrados in situ; destes, o pior conservado é o menir 8 que, por se encontrar demasiado amputado, não foi passível de restauro. Os dados de carácter cronológico são escassos e limitam-se a um conjunto de artefactos líticos e cerâmicos que apontam, sobretudo para o Neolítico final (cerâmica carenada, ponta de seta); a relativa abundância de sílex sugere, em todo o caso, uma maior antiguidade, possibilidade que é também sugerida pela presença de uma lamela; destaca-se o facto de não terem sido recolhidos quaisquer artefactos dentro dos alvéolos intactos dos menires, à semelhança dos resultados obtidos nos outros recintos megalíticos estudados, nos últimos anos, na região; os materiais provêm exclusivamente das terras exteriores aos alvéolos, pelo que devem ser interpretados como correspondendo à utilização do monumento e não, necessariamente, à sua construção.

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Em todo o caso, e em consonância com os resultados obtidos em monumentos análogos, confirma-se o carácter não habitacional dos recintos, com base na quantidade e no padrão dos conjuntos artefactuais, em contraste com o que parece ocorrer, com carácter mais ou menos sistemático, nos menires algarvios. 5. 6. S. Sebastião 5.6.1. Os antecedentes A decisão de escavar os menires de S. Sebastião ficou a dever-se, desde logo, à referência (Burgess, 1987: 40) de que, no local, teria sido recolhida cerâmica com decoração impressa, informação compatível com um pequeno conjunto cerâmico, depositado na C.M. Évora, com a indicação “S. Sebastião”, embora as circunstâncias da obtenção deste material nunca tenham sido convenientemente esclarecidas. A ideia transmitida por Colin Burgess foi a de que esses materiais seriam provenientes de uma violação recente, cujos intervenientes não foram, nessa publicação, identificados. Note-se que, ao contrário do que ocorre no Barlavento Algarvio, a presença de cerâmica do Neolítico antigo, directamente associada a menires, não se encontra documentada na informação disponível sobre a maioria dos recintos megalíticos alentejanos, escavados nos últimos anos – Almendres, Vale Maria do Meio, Cuncos e Tojal. As únicas excepções provêm das escavações do recinto do Xarez (Gomes, 2000b: 104, 105) em que foram recolhidos apenas dois fragmentos cerâmicos decorados com impressões e do da Portela de Mogos, que foram objecto de uma muito breve referência (Gomes, 2002: ). Assim sendo, era importante confirmar a eventual presença de cerâmicas decoradas associadas aos menires de S. Sebastião. Por outro lado, a localização do monumento, era também, à partida, um estímulo importante: de facto, parecia certamente significativo o facto de a implantação dos menires de S. Sebastião ser análoga à dos recintos megalíticos dos Almendres e da Portela de Mogos (localizados na mesma paisagem, à vista de S. Sebastião), no que respeita à topografia, à hidrografia, à geologia e à orientação; em contrapartida, o Menir 1 é claramente anómalo, em termos morfológicos, se o compararmos com os menires dos referidos recintos; para além disso, tanto na Bretanha, como na Grã-Bretanha, a maior parte dos pares de menires conhecidos apresentam, tal como sucede com os menires de S. Sebastião, um notório dimorfismo (Burl, 1993: 181, 182). Trata-se de dois menires tombados, mantendo ambos a extremidade proximal enterrada obliquamente; distam cerca de 7 m um do outro e são ambos feitos em rochas granitóides, aparentemente os quartzodioritos, rochas cujas manchas mais próximas ocorrem a cerca de 2 Km, em cotas mais baixas, enquanto o cabeço de S. Sebastião é geologicamente constituído por gnaisses/migmatitos. O Menir 1, fracturado transversalmente em duas partes, tombadas em conexão, e sem a extremidade distal, tem uma forma cilindróide muito regular e alongada, enquanto o Menir 2, a que falta uma lasca longitudinal no lado E da face exposta, tem uma forma ovóide, característica de grande parte dos menires da região, as conhecidas “pedras-talhas”. 5.6.2.A escavação A escavação incidiu inicialmente sobre duas áreas delimitadas em torno da base de cada um dos menires,

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com 16 m2 cada, inseridas numa quadrícula com 11m x 4m. A escavação foi efectuada por Unidades Estratigráficas e, no decorrer dos trabalhos, foi aberto, como estava previsto, um “corredor”, com 1 m de largo, estabelecendo a ligação entre os dois quadrados de 4 x 4 m inicialmente abertos; neste alargamento, no entanto, não foi possível desmontar mais do que as duas camadas superficiais [0] e [1], por falta de tempo; pelo mesmo motivo, e atendendo à complexidade inesperada dos vestígios detectados, foi reduzida, após a retirada das camadas superficiais, a área de escavação, junto ao Menir 2, para cerca de 50%. As terras foram integralmente crivadas, método que permitiu recolher um conjunto pequeno, mas significativo de lamelas e restos de talhe, em sílex. No final da escavação e uma vez que os trabalhos efectuados não confirmaram a presença de cerâmica com decoração impressa, procurei indagar as circunstâncias em que teriam sido obtidos os materiais, supostamente provenientes da violação ocorrida em 1987; essa tarefa não se revelou fácil, uma vez que os intervenientes eram muito jovens na altura e, decorridos 13 anos, ninguém parecia recordar-se do episódio; depois de uma série de pistas e de tentativas infrutíferas, foi graças ao Dr. Rui Arimateia, da Câmara Municipal de Évora, que entrei em contacto com um dos elementos desse grupo, o Sr. António Melgão, natural de S. Sebastião e residente actualmente em Valverde. A descrição bastante minuciosa que me fez da violação efectuada junto ao Menir 1e dos materiais recolhidos, sugere que as cerâmicas impressas observadas por Colin Burgess, deverão ser provenientes de outro local, que ainda não foi possível localizar, na freguesia de S. Sebastião da Giesteira. 5.6.3. Listagem das Unidades Estratigráficas [0] – Camada de terra castanha escura, solta e muito orgânica. [1] – Camada de terra castanha ligeiramente acinzentada, mais compacta que a U.E. [0], constituindo, aparentemente um diferente horizonte pedológico dentro da camada arqueológica superficial. [2] – Camada de terra avermelhada, argilosa, com materiais pré-históricos e romanos. [3] – Concentração de blocos de pedra, embalados em terra castanha escura, muito solta, a SW do menir 1. O topo desta U.E. apresenta cotas com valores superiores às da restante área intervencionada junto ao Menir 1. [4] – Camada de terra castanha escura, acinzentada, que preenche uma estrutura negativa em torno do Menir 1 e embala materiais pré-históricos e romanos; foi deixado por escavar um testemunho a E do Menir 1. [5] – Amontoado de pedras e terra vegetal, com muitas raízes, que cobria a base do Menir 2 e preenchia uma depressão junto à base desse monólito. [6] – Bolsa de terra castanha escura que preenchia uma depressão pouco profunda, ovalada; continha escassos materiais pré-históricos. [7] – Estrutura negativa, natural ou artificial, com cerca de 0.60 m x 0.40 m, colmatada pela U.E. [6]. [8] – Estrutura negativa escavada em torno da base do Menir 1, de forma aparentemente alongada, com cerca

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de 2 m de comprimento e cuja largura não foi totalmente desvendada; esta fossa parece ter esvaziado parcialmente, no lado W, o alvéolo do Menir 1 e deve ter sido aberta com a finalidade de derrubar o referido monólito. Preenchida pela U.E. [4]. [9] – Bolsa pouco espessa de terra muito escura, sem materiais arqueológicos, subjacente à U.E. [3] [10] - Bolsa pouco espessa de terra muito escura, sem materiais arqueológicos, subjacente à U.E. [3] e paralela à U.E. [9]; ambas devem corresponder à mesma realidade. [11] – Camada de terra castanha clara que preenche, aparentemente, a parte não perturbada do alvéolo. [12] – Concentração de blocos de gneiss, embaladas na U.E. [2]. Podem corresponder a restos de estruturas desmanteladas. [13] – Anel de blocos de calibre grande e médio que circunda a base do menir 2. [14] – Camada de terra avermelhada, com materiais pré-históricos e romanos, assenta no substrato geológico. Foi identificada na área do Menir 2 e deve ser equivalente à U.E. [2], designação atribuída a uma realidade semelhante, na área do Menir 1. [15] – Restos da coroa de sustentação do Menir 1, embalada na U.E. [11]. [16] – Estrutura negativa, escalonada em dois degraus, que corresponde ao alvéolo do Menir 1; foi parcialmente esvaziada em época romana. [17] – Camada de terra castanha acinzentada que colmatou a parte do alvéolo U.E. 16 esvaziada em época romana. [18] – Camada de terra avermelhada no canto NE da área aberta em torno do Menir 2; deve ser equivalente às U.E.s [2 e 14]. Continha materiais pré-históricos e romanos. [19] – Camada de terra castanha, com pedras de pequeno calibre e escassos materiais romanos e préhistóricos que se depositou na superfície do alvéolo do Menir 2, provavelmente na sequência do abate do monólito. [20] – Camada de terra avermelhada, com algumas manchas escuras que colmatava a fossa [22] aberta junto à base do Menir 1; continha materiais pré-históricos e romanos. [21] – Camada de terra avermelhada, com algumas lentículas mais escuras, que preenche uma depressão, natural ou artificial, parcialmente definida a E da base do Menir 1, nas coordenadas x= 102-104; y= 100-102. Esta realidade prolonga-se para Sul da área escavada. [22] –Fossa adjacente ao alvéolo do Menir 2; deve ter sido aberta, em época romana, eventualmente com a finalidade de derrubar o referido monólito. [23] – Conjunto de pedras, na base da U.E. 16 e parcialmente envoltas pela U.E. [17], que devem corresponder a restos mais ou menos perturbados da coroa de sustentação do Menir 1. [24] – Camada de terra castanha escura, muito compacta e contendo pequenas pedras, na base do enchimento da U.E. [16]. Sem materiais arqueológicos. [25] – Camada de terra castanha clara, compacta, encostada ao limite N da U.E. [16], que parece corresponder a um resto do enchimento pré-histórico do alvéolo, pelo que seria equivalente à [11]. [26] – Bolsa de terra castanha acinzentada, com algumas pequenas pedras, que preenche parte do fundo da

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U.E. [22]; continha alguns materiais romanos e pré-históricos. [27] – Estrutura negativa que corresponde à parte conservada do alvéolo de implantação do Menir 2; este, foi recortado pela fossa U.E. [22]. 5.6.4. Avaliação dos resultados A intervenção efectuada nos menires de S.Sebastião produziu alguns contributos interessantes para o estudo do megalitismo regional. Por um lado, ficou razoavelmente excluída a possibilidade de a cerâmica com decoração impressa, referida na bibliografia, assim como os materiais em depósito na Câmara Municipal de Évora, serem provenientes do sítio de S. Sebastião 1: apesar de limitada, a Cerâm ica m anual: registos individuais

intervenção foi suficientemente extensa e a metodologia da escavação (com crivagem integral) suficientemente minuciosa; além disso, a

6%

informação prestada pelo Sr. António Melgão foi

50%

igualmente peremptória, nesse aspecto. Em contrapartida, foi identificada uma

1%

10% Bord o C arena Bord o p equeno esférico Bord o taça carenada Outros

33%

ocupação do sítio, em época romana, que a informação disponível não contemplava; a ausência de estruturas de habitat pode, teoricamente, explicar-se pela posição

Fig. 5.29 - Representação gráfica dos diversos tipos de cerâmicas recolhidas.

descentrada dos menires (e da escavação) em relação ao topo do cabeço, onde eventualmente se localizariam as supostas construções: este aspecto, pode explicar igualmente a escassez de cerâmica de construção detectada na escavação, uma vez que a maioria dos materiais recolhidos são fragmentos de cerâmica comum (também alguma terra sigillata e cerâmica de paredes finas). Trata-se, na verdade, de um dos casos raros em que podemos datar o derrube dos menires: os materiais romanos provêm dos sedimentos que colmataram as fossas abertas à volta da base de cada um dos monólitos; essas fossas, de diâmetros muito superiores aos dos alvéolos dos menires, foram certamente abertas com os menires ainda erectos e estão directamente relacionadas com o derrube dos mesmos. As marcas de corte longitudinais, visíveis nos dois menires, indicam tentativas falhadas de debitagem dos blocos. No Menir 1, no entanto, as duas tentativas de cortes transversais tiveram êxito, embora apenas tenha sido utilizada a extremidade distal; a parte mesial, talvez por ter falhado uma tentativa de corte longitudinal, foi abandonada no local. As marcas de corte, presumivelmente contemporâneas do colapso dos menires, sugerem, como é óbvio, uma intervenção oportunista, com o objectivo de aproveitar a matéria-prima dos blocos, fenómeno que está bem estabelecido noutros monumentos da região. Não podemos excluir, no entanto, a possibilidade de outras motivações, nomeadamente a clássica caça ao tesouro ou mesmo motivações de ordem religiosa, atendendo a que o local não corresponde aos padrões de implantação da generalidade dos sítios romanos e que, por

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Fig. 5..30 - Cerâmicas da Idade do Bronze, da escavação dos menires de S. Sebastião

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Fig. 5.31 - Cerâmicas da Idade do Bronze, provenientes da escavação dos menires de S. Sebastião

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hipótese, se pode vir a revelar, ele próprio, um santuário. Foi também identificada uma importante ocupação do sítio, nos inícios da Idade do Bronze; trata-se, ao que parece, de uma presença de tipo ritual ou funerário, atendendo à morfologia das peças cerâmicas abundantemente recolhidas: todas de pequenas dimensões (pequenos esféricos e taças carenadas, na maior parte, excluem liminarmente uma função de carácter doméstico. A mesma conclusão resulta da análise do estado de conservação das cerâmicas deste conjunto que, apesar da perturbação, em época romana, das eventuais estratigrafias pré e proto-históricas (em todas as áreas intervencionadas, foram recolhidos materiais romanos até ao substrato geológico), se apresentam relativamente pouco fragmentadas, tendo, muitas delas, permitido reconstrução gráfica integral. Finalmente, foi confirmada uma ocupação mais antiga, atribuível ao Neolítico antigo/médio ou mesmo ao Mesolítico), atestada pela recolha de restos de talhe de sílex e duas lamelas (uma de dorso abatido), igualmente de sílex (Estampa 20, 6-11) ; trata-se de mais um elemento, sem dúvida limitado, a somar aos que têm sido sistematicamente recolhidos nas escavações de quase todos os sítios com menires, escavados, nos últimos anos, no Sul do país e que, com as devidas precauções, é legítimo relacionar com a eventual fundação do monumento. Ficaram, ainda assim, por resolver algumas das questões que se tinham colocado à partida, assim como outras abertas com base nos resultados obtidos. Não foi possível, por exemplo, esclarecer cabalmente, atendendo às dimensões limitadas da área escavada, se estamos efectivamente em presença de um verdadeiro par de menires ou apenas do que resta de um recinto megalítico (ou mesmo de um alinhamento), apesar de a hipótese do par de menires ter ganho alguma consistência e de se tratar de um fenómeno largamente documentado em outras áreas da Europa atlântica (Burl, 1993: 18; Giot, 1988: 322); em contrapartida, tem sido igualmente observado, em muitos casos, o desaparecimento dos menires de menores dimensões que faziam parte de conjuntos de que restam, hoje em dia, apenas os monólitos demasiado grandes e que, por isso, levantavam problemas técnicos de difícil resolução (Béneteau, 2000; Le Roux, 1999). Também não foi possível caracterizar funcionalmente, de forma inequívoca, a ocupação da Idade do Bronze, devido às perturbações pós-deposicionais provocadas pela ocupação romana do sítio; a abertura de um sistema de sondagens em áreas diferentes criteriosamente seleccionadas, poderia, teoricamente, esclarecer, no futuro, esta questão. Por falta de tempo e de meios técnicos, não foi ainda possível escavar o que resta do enchimento préhistórico do alvéolo do Menir 1, U.E. [11]; este, aparentemente, encontra-se parcialmente preservado, juntamente com com o que sobrou da respectiva coroa de implantação; porém, para levar a cabo esta operação, haveria que deslocar o monólito da sua posição actual. Também no caso do Menir 2, haveria que escavar o espaço à volta da respectiva extremidade proximal o que, pelo menos do lado Norte, só será possível removendo o monólito. Apesar dos muitos aspectos que ficam em aberto, importa desde já salientar que os menires de S. Sebastião constituem, em vários aspectos, um monumento excepcional: o Menir 2 é, sem dúvida, o mais volumoso de

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Fig. 5.32 - Fossa de violação do menir 1, em fase de escavação

Fig. 5.33 - Fossa de violação, alvéolo e restos da coroa de sustentação, no final dos trabalhos.

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Fig. 5.34 - Perfis estratigráficos da área do menir 1

Fig. 5.35 - Perfis estratigráficos da área do menir 2

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Fig. 5.36 - Vista geral dos trabalhos de escavação.

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Fig. 5.37 - O menir 1, no início da escavação da fossa de violação

Fig. 5.38 - O menir 1, no final da escavação

Fig. 5.39 - O menir 2, no final da escavação.

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todos os que estão inventariados no Alentejo Central, enquanto o Menir 1 devia ser igualmente, quando intacto, um menir de comprimento apreciável; para além disso, localizam-se na cota mais alta, em relação a todos os menires da região, e a uma distância considerável das fontes de matéria prima mais próximas. Tendo em conta as relações espaciais, parece evidente que os menires de S. Sebastião fazem parte integrante de um conjunto de monumentos excepcionais, de que se destacam os “cromeleques” dos Almendres (nº 1) e da Portela de Mogos (nº 4), todos localizados nos cabeços mais destacados da extremidade oriental da serra de Monfurado, sobre terrenos de gnaisses e implantados junto ao topo de vertentes expostas a Nascente. 5.7. Síntese dos resultados das escavações Os resultados do conjunto das escavações realizadas devem, naturalmente, ser cruzados e confrontados com a informação obtidas noutras escavações e, de um modo mais geral, sobre os menires e os respectivos contextos. Tratando-se de uma realidade complexa, com notória variabilidade inter e intrarregional, é natural que uma parte da informação obtida reforce o carácter único de cada sítio, com um projecto próprio e uma história exclusiva. Por outro lado, existe, certamente, um fundo comum e laços de parentesco generalizáveis, em diversos graus e qualidades. De entre os resultados específicos destas escavações convém desde já destacar: 1. a ocorrência, em número sempre muito limitado, de artefactos líticos, em sílex, nomeadamente lamelas, buris, furadores, raspadeiras e outros, que denunciam um momento antigo dentro da sequência neolítica regional. Em contraponto, note-se a ausência ou a escassez relativa de cerâmicas, com consequências certamente no tipo de utilização reservada aos monumentos; 2. a ausência de materiais dentro dos alvéolos dos menires; a ocorrência de fragmentos de mós e machados de secção circular, integrados nas estruturas de menires, constitui a única, mas muito significativa, excepção. 3. a reocupação/reutilização de alguns sítios com menires. Essas reutilizações não parecem ter sido nem sistemáticas, nem simultâneas; 4. a presença recorrente de alvéolos assimétricos, com um lado rampado, preenchido por uma coroa de sustentação reforçada. Este detalhe permite, inclusive, conjecturar sobre as áreas de origem eventual dos blocos. Esta observação foi feita, recentemente, também a propósito dos menires da Vendeia (Beneteau, 2000: 217-223) (Fig. 5.39); 5. de uma forma geral, em termos de perspectivas futuras, no estudo dos menires, é de sublinhar o facto de, nos sítios escavados, ter sido possível recuperar informação sobre a posição original da maior parte dos monólitos. Os aspectos, ainda mal balizados, relacionados com as plantas dos recintos, poderão, no futuro, vir a ser esclarecidos através da escavação de recintos como o Tojal, as Fontaínhas, o Monte da Ribeira, o Sideral ou as Casas de Baixo, para além dos Perdigões, onde os fenómenos sedimentares foram mais complexos e as estratigrafias prometem resultados mais consistentes. Por outro lado, é importante, logo que possível, testar métodos de datação alternativos, nomeadamente a

Menires do Alentejo Central

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OSL, que, mesmo que necessite ainda de alguma contenção, parece constituir uma esperança indiscutível para o estudo dos menires.

Fig. 5.40 - Proposta de reconstituição do método de erecção e fixação dos menires (seg. Beneteau, 2000: 222, adaptado.

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Capítulo 6: Caracterização morfológica dos menires do Alentejo Central

Menires do Alentejo Central

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6. Caracterização morfológica dos menires do Alentejo Central 6.1. Aspectos preliminares Antes de avançar com uma caracterização dos menires do Alentejo Central, parece-me útil discutir algumas das questões relacionadas com a própria identificação genérica dos menires. Deixando as questões da atribuição cronologico-cultural para o capítulo 9, ficamos, mesmo assim, com um problema epistemológico fundamental: como distinguir um bloco natural alongado, de forma meniróide (considerando as diferentes morfologias conhecidas), de um verdadeiro menir, isto é, um bloco natural alongado, na maioria das vezes, como veremos, sem qualquer afeiçoamento, mas que, por razões

Fig. 6.1 - Suporte de vedação, no concelho de Castelo de Vide.

de ordem simbólica/ritual, foi transportado e implantado em posição vertical? O problema agrava-se, no caso dos menires alentejanos, pelo facto de serem muito raros, ou mesmo inexistentes, os que sobreviveram erectos até aos nossos dias; na verdade, alguns dos que se encontram actualmente implantados são efectivamente muito duvidosos, como é o caso dos menires da Lucena (nº 26), da Furada (nº 24), da Chaminé (nº 76) ou os menires 1 e 3 do Vale d’El Rei 2 (nº22).

Fig. 6.2 - Suporte de vedação, no

Para além destes em que, por não ter sido possível determinar-lhes

concelho de Montemor-o-Novo.

outras funcionalidades, me parece preferível, por ora, incluí-los, mesmo se com reservas, na lista dos menires, excluí, à partida, um número elevado de blocos alongados, cravados ao alto, por se tratar de: a) blocos, cujas dimensões raras vezes ultrapassam os 2 m, implantados em época mais ou menos recente, com a finalidade de servirem de reforço/apoio a vedações (Fig. 6.1, 6.2); esta situação, aparentemente unívoca, pode no entanto complicar-se nos casos em que verdadeiros menires foram (re)utilizados, em época recente, com finalidade idêntica, como aconteceu, por exemplo, na Portela de Mogos (nº 4). Outra realidade relativamente frequente, na região, e que pode perturbar o megalitista distraído, diz respeito aos alinhamentos de blocos, de boas dimensões, que correspondem, efectivamente, aos “alicerces” de antigos muros de taipa, ou de pedra seca (Fig. 6.3). b) Menires decorativos, isto é, blocos meniróides usados para

Fig. 6.3 - “Alinhamento” do Trambolho (Évora): restos de muro antigo.

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decorar rotundas, jardins, entradas de quintas, etc. Esta moda, inócua na maioria dos casos, pode, no entanto, criar algumas confusões, tanto mais que não são demasiado raros os casos em que verdadeiros menires serviram para fazer menires falsos; a reimplantação de verdadeiros menires na “pars urbana” de propriedades agrícolas verificou-se, recentemente, com o menir do Monte da Ribeira (nº 40) que, na sequência do achamento, devido a trabalhos agrícolas, foi erecto junto ao Monte da Herdade, situação que, graças à intervenção do Centro de Arqueologia da Universidade de Lisboa e da empresa J.M. da Fonseca foi, entretanto, alterada e o menir encontra-se, actualmente, depositado nas instalações da empresa vinícola, em Reguengos de Monsaraz.. Também os menires do Monte das Flores (nº23) foram, em data recente, retirados do local onde foram descobertos; o menir 1, exibe-se, actualmente, no relvado fronteiro ao palacete do Monte. É bastante provável que uma história semelhante tenha ocorrido com os menires do Monte da Tera (nº 74), da Courela da Casa Nova (nº 48) e da Sousa (nº 64), embora, atendendo aos contextos arqueológicos, seja igualmente possível que, nos dois primeiros, os Montes sejam posteriores à implantação dos menires. A usurpação de menires de sítios arqueológicos conhecidos foi, por outro lado, recentemente atestada, nos arredores de Évora: um dos menires do recinto da Portela de Mogos (o menir 41) tinha sido retirado e reimplantado junto ao Monte de Vale Maria do Meio, situação que entretanto foi regularizada (por intervenção da Câmara Municipal de Évora) com a redeposição do menir na área do recinto de origem; infelizmente, perdeu-se, no processo, a informação sobre a localizção anterior do menir. A divulgação turística dos menires de Évora e uma certa sensibilidade desenvolvida, graças a isso, pala população local, deu origem a dois episódios anedóticos ocorridos recentemente no próprio aro da cidade: numa obra particular, o proprietário decidiu

Fig. 6.4 - Pseudo-menir do Modelo (Évora).

ornamentar o relvado de uma oficina com um bloco sugestivamente meniróide, desenterrado durante os trabalhos de escavação de uma cave (Fig. 6.4); a observação do bloco pouco depois de ter sido extraído, permitiu confirmar o carácter natural do mesmo. Três outros supostos menires foram desenterrados na abertura de uma vala para infraestruturas, junto ao bairro do Frei Aleixo (Fig. 6.5); neste caso, foram os operários que, conscientes de que

Fig. 6.5 - Pseudo-menires do Frei Aleixo.

estavam perante blocos naturais (trata-se de nódulos extraídos da massa rochosa) decidiram, ao implantá-los

Menires do Alentejo Central

105

num local bem visível, para chamar a atenção dos transeuntes. Convém acrescentar que, nos dois exemplos referidos, se trata de locais muito expostos, adjacentes a vias de grande circulação. Estes pseudo-menires ilustram, aliás, dois dos critérios que permitiram excluir alguns dos casos mais duvidosos: a observação do grau de frescura das superfícies (que, em ambos os casos, indicava claramente uma extracção recente) e a informação oral que permitiu reconstruir o processo de extracção e identificar o contexto geológico dos blocos.

Fig. 6.6 - Bloco decorativo na entrada do Monte das Veladas (Évora).

A morfologia, só por si, é um fraco indicador para identificar, como tal, um menir, excepto no que diz respeito aos grandes menires cilíndricos, cuja forma dificilmente poderia ser encontrada, sem afeiçoamento, na natureza. Na verdade, os recintos megalíticos identificados, monumentos cuja classificação dentro da família dos menires neolíticos não pode suscitar actualmente qualquer tipo de reservas, revelam-nos um amplo leque de formas e dimensões,

Fig. 6.7 - Arranjo urbanístico com falsos menires,

sendo alguns dos menires tão irregulares, em termos de padrão morfológico, que, encontrados fora do contexto, dificilmente

na aldeia do Escoural (Montemor-o-Novo)

seriam classificados como tal (Fig. 6.15 e 6.16). Todos os sítios que classifiquei como recintos, mesmo os que se apresentam actualmente desmantelados ou muito amputados, se impõem como indiscutíveis monumentos megalíticos; efectivamente, mesmo que outros indicadores não estejam presentes (e geralmente estão), o próprio número de monólitos meniróides exentos, reunidos no mesmo espaço, dificilmente poderia admitr interpretações alternativas.

Fig. 6.8 - Rotunda “megalítica” em Portimão.

No entanto, existem outros critérios que permitem reconhecer, com alguma segurança, um menir: um dos mais recorrentes é a descontextualização geológica dos monólitos. Esta característica, cujo significado cultural parece evidente, está presente também noutros territórios megalíticos europeus (Ruiz et al., 1993; Molinero, 2000; Bénéteau, 2000; Tarrús, 2002) e, felizmente, em muitos dos monumentos alentejanos. Por outro lado, apesar de, na actualidade, a maioria dos menires não permanecer erecta, alguns deles, mesmo

Fig. 6.9 - Rotunda “megalítica” no aeroporto de Lisboa

Manuel Calado

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tombados, apresentam uma ligeira inclinação, mantendo a extremidade proximal parcialmente enterrada. Tratase de menires que tombaram gradualmente, num processo que, em última análise, se prende com a morfologia das estruturas de implantação. Este fenómeno, só por si, permitiu identificar, sem margem para dúvidas, alguns menires que, de outra forma, as poderiam suscitar, como foi, entre outros, o caso do menir isolado do Monte do Tojal (nº 57), entretanto escavado e reimplantado, ou do menir 2 de S. Sebastião, cuja forma e dimensões, por serem pouco comuns, não convenceram os descobridores (Burgess, 1987: 40) . Também a exposição dos locais de implantação, por norma abertos a nascente, apesar de não dever, só por si, um critério definitivo, permite reforçar, na maioria dos casos, uma classificação que, naturalmente, se deve sobretudo basear em algum dos outros aspectos referidos. Foram reavaliados e eliminados, da lista dos menires, alguns exemplares referenciados na bibliografia. Estão nestas circunstâncias o “recinto” da Madre de Deus, em Pavia (Rocha, 1999: 128), os “menires” da Aresa e do S. Bento, em Portel (Lima, 1992: 47, 55); foram eliminados outros por serem demasiado vagas as informações disponíveis e por não terem sido relocalizados, como aconteceu com o da Herdade da Comenda, o da Herdade dos Pretos ou o do Vidigal, em Montemor-o-Novo (Gomes, 1996: 8, 13). Evitei igualmente incluir monólitos mais ou menos meniróides, cujas dimensões e localização aconselham a classificação como marcos miliários anepígrafos (Bilou, 2000). Os monumentos incluídos na listagem que acompanha este trabalho foram ainda, cruzando e ponderando, de uma forma subjectiva, os vários indícios disponíveis, organizados em três categorais, tendo em conta a fiabilidade da respectiva classificação: menires Seguros (1), Prováveis (2) e Duvidosos (3).

Fig. 6.10 - Classificação dos menires do Alentejo Central, com base nos critérios de fiabilidade.

Menires do Alentejo Central

107

6.1.1. Matéria-prima, forma e dimensões Numa primeira abordagem específica, podemos Menires por tipo de sítio

classificar os sítios com menires em três categorias: recintos megalíticos, conjuntos e menires isolados. Se, em relação ao primeiro grupo, a maioria não

13%

8%

suscita grandes dúvidas, apesar de dois ou três Recintos

casos menos claros, a categoria “conjuntos” engloba

Conjuntos

precisamente as situações que, por ora, não permitem aproximações mais detalhadas; de facto,

Menires isolados

79%

podem corresponder aos restos muito maltratados de verdadeiros recintos ou, pelo contrário, representar outras modalidades, porventura de

Fig. 6.11 - Representação gráfica da distribuição dos menires por tipo de sítio (1,2)

diferentes tipos, de que, por ora, não temos, na região, nenhuma confirmação credível. Os menires isolados, que, à primeira vista, representam uma categoria bem definida, podem, eles próprios não ser mais do que os últimos testemunhos de realidades mais complexas. A matéria-prima dos menires centro-alentejanos é, praticamente sem excepções, constituída por rochas magmáticas granitóides, nomeadamente granitos, quartzodioritos, granodioritos e, sobretudo, tonalitos, um tipo largamente maioritário no Maciço de Évora (Cardoso et al., 2000: 40). Na verdade, apenas um caso, atípico a todos os títulos, constitui excepção a esta regra: trata-se do menir da Casa da Moinhola (nº 50), um possível menir de xisto, inédito, descoberto no leito do Guadiana. A distância entre as fontes de matéria-prima e o local dos monumentos é, hoje em dia, muito difícil de estabelecer com precisão; efectivamente, dado que os menires são, por norma, na região, blocos seleccionados de entre os afloramentos naturais, sem que tenha havido necessidade de extracção a partir de massas de maiores dimensões, não existem verdadeiras pedreiras ou “cicatrizes” que possam denunciar o local de origem dos blocos. A complexificar a questão, há que considerar ainda que, ao longo dos tempos, muitos afloramentos (tal como os próprios menires e antas, aliás) foram certamente utilizados como material de construção; a atestar este facto, conhecem-se inúmeros vestígios, nomeadamente os negativos dos blocos extraídos, as escombreiras ou as recorrentes marcas de cunha, de que as mais fáceis de observar são, naturalmente, aquelas que correspondem a tentativas de corte falhadas. Para além destas limitações, os estudos aprofundados sobre a origem das matérias-primas dos monumentos megalíticos só são, efectivamente, viáveis, em áreas muito circunscritas, uma vez que exigem prospecção geológica e análise petrográfica detalhada, como as que foram levadas a cabo, na região de Évora, por W. Dehn, P. Kalb e W. Vortisch (Dehn et al., 1991; Kalb, 1996; Vortisch, 1999), na área de Vale de Rodrigo, ou por J. Cardoso e A. Carvalhosa, no recinto da Portela de Mogos (nº) (Cardoso et al, 2000b). O estudo petrográfico dos monumentos de Vale de Rodrigo (quatro antas e um menir) permitiu concluir que os blocos devem ser provenientes de diversas manchas de rochas granitóides ( tonalitos, granitos e granodioritos), disponíveis na área envolvente, num raio de cerca de 8 Km; os monumentos, por seu turno, implantam-se em terrenos de gnaisse (Kalb, 1996: 683). O menir de Vale de Rodrigo (nº 46), assim como um

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dos esteios do tholos megalítico, teriam mesmo sido transportados de uma distância não inferior a 10 Km. Esta constatação, à primeira vista surpreendente, foi interpretada como um artifício ritual para representar, na arquitectura do monumento, a paisagem que o rodeava: o conjunto de Vale de Rodrigo seria, através desse processo, visto como o centro simbólico de um determinado território. Trata-se certamente de uma possibilidade a reter, sugerida igualmente para outras regiões megalíticas europeias (Patton, 1991; Bradley, 1998c) e que se pode relacionar com a ideia de que os monumentos eram, prioritariamente, marcadores territoriais, destinados a criar âncoras na paisagem, em sociedades ainda muito pouco estabilizadas (Renfrew, 1976). A intencionalidade da escolha dos locais de origem dos blocos é sugestiva, mas difícil de comprovar: na verdade, parece-me que não bastava haver, em determinada área, o tipo de rocha teoricamente adequado, uma vez que a forma e as dimensões dos blocos disponíveis, à superfície, eram, seguramente, uma condicionante fundamental. A distância maior percorrida pelos blocos de maiores dimensões, como é o caso do menir de Vale de Rodrigo, enquanto os pequenos monumentos, na mesma área, “estão construídos com blocos das proximidades e apenas de um tipo de material” (Kalb, 1996: 683), reforça a hipótese de a escolha dos locais de origem dos blocos se dever, em primeiro lugar, à disponibilidade de afloramentos apropriados. Esta hipótese foi, aliás, avançada pela própria Philine Kalb, a propósito de dois monumentos megalíticos peninsulares que integram blocos oriundos de distâncias bastante superiores às que foram propostas para o menir de Vale de Rodrigo 1 (nº43), designadamente Carapito 1 e Matarrubilla (17 e 20 Km, respectivamente). No caso de Vale de Rodrigo, se a escolha dos locais de origem dos blocos pretendesse, como foi defendido, representar simbolicamente um território, é óbvio que só seriam representadas as áreas onde existisse a matéria-prima adequada, ficando omissas as restantes. Trata-se, em todo o caso, de um modelo cuja aplicabilidade à generalidade dos monumentos megalíticos alentejanos, parece deveras problemática. Por outro lado, convém, desde já, esclarecer que o tipo de blocos e, até certo ponto, a forma de os obter, são diferentes nas antas e nos menires. No que diz respeito às antas (Vortisch, 1999; Gouletquer, 2000; Scarre, 2004), os esteios são geralmente lajes achatadas, extraídas a partir de diaclases, com as faces expostas (na natureza e nos monumentos) mais arredondadas e as faces de extracção, viradas para o interior dos monumentos, aplanadas ou mesmo ligeiramente côncavas. Estes blocos, relativamente solidários com o batólito, exigiam algum trabalho de extracção, mediante a utilização provável de alavancas, entalhes, cunhas e processos crio-térmicos, de que se encontram ocasionalmente alguns vestígios nos restos de afloramentos.

Menires do Alentejo Central

109

Os menires, na sua maioria, são blocos que, na natureza, se encontravam praticamente exentos e cujas formas oblongas e arredondadas, frequentemente com uma ou mais faces planas ou plano-convexas, resultam de fenómenos puramente geológicos (diaclase, como resultado de acções mecânicas tardi-cinemáticas, e disjunção esferoidal), que são, por sua vez, condicionados pela micro-estrutura das próprias rochas (Cardoso et al., 2000; Servelles, 2002: 102). Em alguns casos menos frequentes, como acontece com o menir do Monte da Ribeira (nº 29), são notórios, numa das faces, os efeitos de uma meteorização significativa (weathering) que, teoricamente, tanto podem ser anteriores como posteriores à sua utilização como megálitos, mas que certamente correspondem a uma fase em que os blocos estiveram tombados. Infelizmente, não existem estudos específicos sobre os efeitos dos processos de meteorização das rochas que constituem os menires da região; esses fenómenos dependem, naturalmente, de aspectos específicos, como são a resistência do material ou as próprias condições ambientais. Dominique Selliers estudou detalhadamente as microformas resultantes desses processos num dos conhecidos alinhamentos de Carnac, o de Kerlescan (Selliers, 1991) e identificou algumas evidências que, na sua opinião, deveriam corresponder a fenómenos posteriores à erecção dos menires: trata-se sobretudo de microformas que ocorrem nas extremidades distais dos monólitos; as mais significativas seriam, porém, anteriores à construção dos monumentos. A observação dos afloramentos naturais da área envolvente do recinto de Vale Maria do Meio (nº2) e a comparação dos resultados com as microformas de alteração das superfícies dos menires desse recinto sugerem, em todos os casos, uma anterioridade em relação à construção do monumento. Num caso particular, o do menir 18, uma fissura longitudinal no topo do monólito foi aproveitada como limite do lado direito do trapézio, esculpido em baixo-relevo, e outra parece marcar o limite da curva do báculo, também em baixo-relevo, representado no lado direito. Por outro lado, os estigmas patentes nas extremidades distais de alguns menires do Vale Maria do Meio (Fig.6.12) implicam, provavelmente, que esses blocos se encontravam, na Natureza, já em posição vertical ou oblíqua. Efectivamente, a análise dos afloramentos ainda intactos nos arredores do recinto, tanto na mancha granítica, a Sul, como na mancha tonalítica, a Norte, revelou a presença de muitos blocos com desenvolvimento vertical (Fig. 6.13). Os resultados dos estudos geo-arqueológicos realizados no recinto da Portela de Mogos e, em menor grau, em Vale de Rodrigo,

Fig. 6.12 - Marcas de erosão no topo do menir 27 do recinto de Vale Maria do Meio.

constituem uma amostra fundamental para uma melhor caracterização técnica e económica do processo de construção dos menires da região. No entanto, esse estudo apresenta algumas conclusões que foram, no essencial, inquinadas por um erro de cartografia, uma vez que o monumento se localiza, efectivamente, cerca de 1Km a WSW do local onde foi cartografado (Cardoso et al., 2000: 46).

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110

Fig. 6.13 - Afloramentos, com desenvolvimento vertical, nos arredores de Vale Maria do Meio.

Na verdade, a identificação rigorosa dos diferentes tipos de rochas presentes na arquitectura do monumento permite concluir, sem margem para dúvidas, que o mesmo foi intencionalmente construído num local em que não existia (nem ali, nem nas proximidades imediatas) nenhuma dessas rochas e não que “ foram (...) as adequadas características mineralógico-estruturais das rochas tonalíticas, a par da sua abundância no próprio local de implantação do cromeleque que explicam o seu aproveitamento predominante na confecção dos menires” (Cardoso et al., 2000: 40. Os tonalitos/trondjemitos são o tipo de rocha melhor representado na Portela de Mogos (93%), o que, em termos de transporte, implica uma distância mínima de cerca de 500 m, atendendo à cartografia geológica publicada (Carvalhosa, 1998); nesta, porém, observa-se uma ligeira discrepância em relação à “carta geológica da área envolvente” apresentada no estudo sobre a Portela de Mogos (Cardoso et al., 2000: 46); efectivamente, duas pequenas manchas, referidas, neste trabalho, como granitos e localizadas em redor do monumento, a distâncias da ordem dos 200-300 m, são representadas, na folha 36-C da Carta Geológica de Portugal, como tonalitos, ficando, portanto, algumas dúvidas sobre a eventual proveniência do único monólito de granito registado; segundo os autores, este poderia ser proveniente da grande mancha de granitos porfiróides que dista cerca de 1,5 Km. Um outro menir, de diorito, pode, teoricamente, ser proveniente da área mais próxima em que este material ocorre, a cerca de 700m. Uma confusão semelhante parece ter ocorrido com o recinto de Cuncos, cujo escavador escreveu, a propósito da origem dos menires, que “os monólitos que constituem o Cromeleque de Cuncos podem ser provenientes de um afloramento existente no cabeço em que o monumento está instalado” (Gomes, 1996: 11); efectivamente, tanto a Carta Geológica, como a observação do terreno permitem concluir que o monumento está claramente implantado sobre terrenos de gnaisse e nenhum dos menires é feito desse material. No recinto de Vale Maria do Meio (nº 2) (Fig. 6.14), a análise macroscópica dos blocos permitiu classificar

Menires do Alentejo Central

a matéria-prima da maioria deles como granitos (o menir 26, com algumas dúvidas) e apenas seis (menires 5, 9, 12, 16, 22 e 28) como tonalitos, para além de outros

111 Vale Maria do Meio: matéria-prima

24%

dois, também com algumas dúvidas (menires 21 e 29). O Granito

resultado é, em todo o caso, esclarecedor: a relação entre

Tonalito

os granitos e os tonalitos é inversa da que se verifica na Portela de Mogos, o que implica uma utilização oportunista do material adequado, disponível nas imediações.

76%

Na verdade, a maioria dos recintos megalíticos alentejanos encontra-se implantada sobre substratos não granitóides, quer sejam as rochas gnaissicas/migmatíticas,

Fig. 6.14 - Representação gráfica das matérias-primas identificadas no recinto de Vale Maria do Meio

como nos exemplos da Portela de Mogos (nº 4), Almendres (n º 1), Vale Maria do Meio ou Cuncos (nº 7), ou as rochas detríticas de idade terciária, como acontece com as Fontaínhas (nº 11), Vale d’El Rei (nº 15) ou Tojal (nº 5). Em Reguengos de Monsaraz, pelo contrário, os recintos localizam-se todos em terrenos granitóides (tonalitos, granodioritos, quartzodioritos); o Xarez (nº 6) e o Monte da Ribeira (nº 9) aparecem bem centrados nessas manchas geológicas, enquanto os Perdigões (nº 13) e a Capela (nº 87) se implantam na transição entre os granodioritos e os gabro-dioritos.

Fig. 6.15 - Menir de forma irregular, no recinto dos Almendres.

Em relação aos menires isolados, parece ter havido uma maior flexibilidade de padrões, embora, mais uma vez, a maior parte dos de maiores dimensões tenha sido transportada para fora da seu contexto geológico original. Quanto à forma, verifica-se que, entre os menires do Alentejo Central, predominam largamente as formas ovóides (67%), com secções transversais em que um lado, pelo menos, apresenta um achatamento muito acentuado. As formas arredondadas, em que se incluem também as cilíndricas, perfazem, por seu turno, um total de 88% de todos os menires inventariados. De entre as formas prismáticas, maioritariamente paralelipipédicas, poderíamos ainda distinguir as que ocorrem nos recintos, de arestas mais ou menos boleadas, e outras, que surgem em diversos

Fig. 6.16 - Menir de forma irregular recinto do Xerez.

Manuel Calado

112

contextos, com arestas mais angulosas. Na esmagadora maioria dos casos, a variabilidade morfológica resulta, como referi, da

Formas dos menires (recintos)

selecção de blocos naturais, sem qualquer tipo de

11%

afeiçoamento; esta selecção não parece, aliás, ter sido demasiado exigente, quanto à regularidade das

14%

Ovóides

formas ou às dimensões (Fig. 6.15, 6.16). Nos recintos, as formas ovóides representam

Cilíndricos Prismáticos

cerca de 75 % dos menires conservados; porém,

75%

nos restantes tipos de monumentos, as formas prismáticas (se contabilizarmos o alinhamento da Tera), aparecem com valores percentuais equivalentes às formas ovóides e às formas

Fig. 6.17 - Representação gráfica da distribuição, em função da forma, dos menires que integram os recintos mrgalíticos Formas dos menires (menires isolados e conjuntos)

cilíndricas. Apesar de se tratar, quase sempre, de blocos

33%

34%

não trabalhados, existem alguns menires cujas Ovóides

formas dificilmente poderiam resultar exclusivamente de fenómenos naturais: trata-se

Cilíndricos Prismáticos

sobretudo dos grandes monólitos cilindróides, de perfis muito regulares, com índices de alongamento superiores a 4 (a média nos Almendres, onde não

33%

Fig. 6.18 - Representação gráfica da distribuição, em função da forma, dos menires isolados e integrados em conjuntos.

existem menires desse tipo, é de 1,96, enquanto o valor máximo não ultrapassa 2,95) e, eventualmente, das estelas-menires, em forma de lâmina de punhal; em ambos os casos, aliás muito raros, estamos em presença de blocos que podem ter sido objecto de um trabalho, mais ou menos importante, de regularização. Esta, a ter efectivamente existido, incidiu sempre sobre

blocos com formas não muito diferentes daquelas que iriam apresentar no resultado final. O desbaste do volume inicial incidiria sobretudo nas arestas e, eventualmente, sobre as faces laterais, sendo, logicamente, conservada a espessura original. Contudo, no caso do Alentejo Central, a maior parte dos menires seria, sem grande esforço, obtida, à superfície, a partir dos thors e caos de blocos arredondados que caracterizam, ainda hoje, as paisagens graníticas da região. Observações análogas têm, aliás, sido feitas a propósito de outros territórios megalíticos europeus (Le Roux, 1999; Giot,1988: 320; Burl, 1993: 6; Selliers, 1991; Servelles, 2002), sendo, em muitos casos, igualmente válidas para construções funerárias (Scarre, 2004). A forma supostamente fálica de alguns menires, nomeadamente quando parecem ter marcada a glande peniana, é rara no Alentejo Central; o menir do Outeiro (nº29), em Reguengos de Monsaraz, é, de todos, aquele que, atendendo à forma geral, melhor encaixaria nesse estereótipo, apesar de não apresentar o referido

Menires do Alentejo Central

113

pormenor anatómico, mas sim, supostamente, o meato (Gonçalves, 1972: 496) O pequeno menir da Bota (nº81), possuindo, aparentemente, demarcada a glande, não tem uma forma geral suficientemente sugestiva. Na verdade, atendendo a que o sulco que lhe confere o curioso aspecto fálico não afecta todo perímetro do menir, pode tratar-se, muito provavelmente, de tentativas de debitagem mal sucedidas, tanto mais que marcas análogas ocorrem igualmente no menir do Aldeão (nº60) e, fora da minha área de estudo, no menir grande do Alminho (Fig. 6.19); nestes dois casos, os sulcos aparecem, respectivamente, nas áreas proximal e mesial. A questão do falimorfismo versus antropomorfismo, já acima abordada sem qualquer discussão, será objecto de considerações mais circunstanciadas, no capítulo 12. No que diz respeito aos grandes menires ovóides, os exemplares que ocorrem isolados ou apareados têm quase sempre maior

Fig. 6.19 - Menir do Alminho: pormenor do sulco que afecta tranversalmente a face virada para baixo.

regularidade morfológica do que os que integram os recintos, não sendo de excluir a possibilidade de um ou outro, como o da Casbarra 1 (nº 31) e o menir 1 da Pedra Longa (nº 16), ter beneficiado de algum afeiçoamento; estes menires

Comprimento dos menires (1,2,3)

são exclusivos da área de Évora. Os cilíndricos

6%

grandes e muito grandes, sempre em número muito escasso, distribuem-se pelas áreas de Évora, Pavia, Cuncos e Reguengos de Monsaraz.

41%

Grandes Muito grandes

facto de outros possíveis candidatos de (nº 8) e menir 1 dos Perdigões (nº 13) - destacamse, quanto ao comprimento, o menir do Barrocal (nº 28), com 5, 4 m e que teria, pelo menos, mais

Pequenos Médios

Ainda em termos globais, e atendendo ao encontrarem truncados - menir 1 de S. Sebastião

3%

50%

Fig. 6.20 - Representação gráfica da distribuição dos comprimentos dos menires (todos os registos).

0,3 m, na extremidade distal, e o menir do Outeiro (nº 29), com 5,6 m. Porém, no que respeita ao peso, o exemplar mais significativo é o menir 2 de S. Sebastião, com cerca de 12 toneladas estimadas. É, claramente, entre os menires isolados que encontramos os menires de maiores dimensões, nomeadamente no que diz respeito ao comprimento e ao peso; em contrapartida, é nos recintos que se registam os valores mínimos. Este último aspecto pode, teoricamente, resultar de uma distorção induzida pelos critérios de registo. No entanto, do ponto de vista monumental, é de supor que os menires pequenos só fariam, eventualmente, sentido, se integrados num conjunto; nesse caso, a monumentalidade seria sempre garantida pelos menires de

Manuel Calado

114 Comprimento dos menires (recintos)

maior envergadura e, em última análise, pela totalidade dos

2%1%

menires. No limite inferior da escala, destacam-se alguns

34%

Pequenos Médios

monólitos, no recinto do Xarez (nº 6), com comprimentos

Grandes Muito grandes

próximas de 0, 5 m e pesos que não atingem uma centena

63%

de quilos - valores que encontramos igualmente no recinto do Torrão, no distrito de Portalegre (Fig. 6.22); convém referir que o processo de restauro do Xarez pode ter introduzido algum ruído, actualmente impossível de

1 Fig. 6.21 - Representação gráfica da distribuição dos menires que integram os recintos, em função do comprimento.

controlar. Se considerarmos apenas os recintos, verificamos que, no total, a percentagem de menires

apenas residuais (3%). No que diz respeito aos três recintos da área de Évora, estão absolutamente ausentes os menires com mais de 4,

Xerez

0,9

Torrão

0,8 0,7

Largura (m)

pequenos aumenta (63%), em relação aos menires médios (34%), e que os menires grandes e muito grandes são

1,0

0,6 0,5 0,4 0,3 0,2 0,1

5 m (muito grandes) e, no caso dos Almendres, apenas se registam menires médios e pequenos.

0,0 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5

Comprimento (m)

Dos restantes, apenas o possível recinto do Sideral Fig. 6.22 - Gráfico de dispersão das dimensões dos menires (C, L) dos recintos do Xarez e do Torrão (Elvas) um menir

(nº 10), monumento muito pouco convencional e, certamente, muito mal conservado, integra

(menir 5) com mais de 4,5 m; porém, há que considerar ainda a possibilidade de o menir 1 dos Perdigões (nº 13) (com 3, 75 m) e menir 1 do Xarez (nº 6) (com 4,25 m), ambos amputados, poderem ter atingido valores próximos dos do Sideral. São, também eles próprios, monumentos problemáticos, pelo que se torna, com os dados disponíveis, impossível avaliar que outras diferenças acompanhariam estes menires de dimensões menos comuns; permanece, obviamente, a possibilidade de os grandes menires, cilíndricos ou ovóides alongados, que acompanham esses supostos recintos, corresponderem a episódios construtivos anteriores ou posteriores aos monumentos compósitos em que se inserem. Os recintos do Tojal (nº 5), de Cuncos (nº 7), das Fontaínhas (nº 11) e das Casas de Baixo (nº 12), diferencialmente conservados, têm todos um menir de dimensões destacadas, que poderíamos, com alguma propriedade, designar como “menir central”; apresentam, todos eles, proporções semelhantes aos da área de Évora, embora em escala mais ou menos reduzida, reflectindo, aliás, as dimensões das plantas dos próprios recintos. O recinto do Vale d’El Rei (nº 15), em Pavia, que aparentemente se conservava intacto, não tem propriamente um menir central, embora o menir 4, com cerca de 1, 85 m de comprimento, pudesse eventualmente ter desempenhado um papel semelhante.

Menires do Alentejo Central

115

A análise comparativa dos gráficos de dispersão das dimensões dos menires (Comprimento, Largura e Espessura), tomando os dos Almendres como termo de comparação, revela padrões muito semelhantes entre os vários recintos, embora com uma certa variabilidade. As diferenças mais sensíveis dizem respeito aos menires isolados, que se destacam sobretudo no que diz respeito ao comprimento e ao índice de alongamento; em relação aos recintos, o contraste é bastante notório em relação ao recinto do Xarez, em que, como se viu, muitos dos menires apresentam dimensões realmente diminutas. O recinto de Vale d’El Rei apresenta igualmente valores muito reduzidos. Nestes último caso, porém, as proporções mantêm-se relativamente homogéneas, conforme se pode verificar comparando as distribuições dos índices de alongamento (IAL) e de achatamento (IAC) (Fig.

Compr i ment o dos meni r es ( Val e Ma r i a

Comprimento dos menires (Almendres)

Comprimento dos menires (Portela de Mogos)

do Mei o)

3%

4% 33%

Pequenos

40%

Médios

Médios

Médios Gr andes

67%

Pequenos

43%

Pequenos

Grandes 54%

56%

Comprimento dos menires (Monte da Ribeira)

Comprimento dos menires (Xarez)

Comprimento dos menires (Perdigões)

2% 13%

20%

20%

42%

Pequenos

Pequenos

Pequenos

Médios

Médios

Médios

Grandes

Muito grandes

58%

60%

85%

Comprimento dos menires (Tojal)

Comprimento dos menires (Cuncos)

Comprimento menires (Casas de Baixo)

29% 33%

Pequenos

Pequenos

Médios

Médios

Pequenos

45%

Médios 55%

67%

71%

Comprimento dos menires (Vale d'El Rei)

Comprimento dos menires (Sideral)

Comprimento dos menires (Fontaínhas)

13%

10% 20% 36%

13%

Pequenos Médios Muito grandes

Pequenos

Pequenos

Médios

Médios Grandes

64%

74% 70%

Fig. 6.23 - Gráficos comparativos dos diferentes tipos de menires, em função do comprimento, nos recintos megalíticos alentejanos.

Manuel Calado

Almendres

Vale Maria do Meio

Portela de Mogos Fig. 6.24 - Menires dos recintos da área de Évora

116

Menires do Alentejo Central

117

Xarez

Monte da Ribeira

Tojal

Fontaínhas

Cuncos

Casas de Baixo

Vale d’El Rei

Fig. 6.25 - Menires dos recintos melhor conservados, fora da área de Évora.

Manuel Calado

Cilíndricos

118

Ovóides alongados

Ovóides

“Lâminas de punhal”

Fig. 6.26 - Menires isolados e apareados: principais grupos morfológicos (1: Caeira; 2: menir 1 de S. Sebastião;3: Vale de Cardos; 4: Velada; 5: Almerndres 2; 6: Menir 2 da Pedra Longa; 7: Outeiro; 8: Oliveirinha; 9: Sideral; 10: Fonte do Abade; 11: menir 1 da Pedra Longa; 12: Aldeão; 13: Alto da Cruz; 14: Sobreira; 15: Casbarra 1; 16: Azinhal; 17: Monte do Tojal; 18: Esbarrondadoiro; 19: Casas 1; 20: Patalim; 21: Barrocal; 22: Monte da Ribeira; 23: Belhoa; 24: Vidigueiras; 25: Monte dos Almendres; 26: Vale de Rodrigo; 27: Vale de Besteiros; 28: Fazendas; 29: Fragosa).

Menires do Alentejo Central

1,60

1 ,6 0

1,40

1 ,4 0 1 ,2 0

1,00 Almendres

0,80

Vale Maria do Meio

0,60

Largura (m)

Largura (m)

1,20

1 ,0 0 Alm e n d re s

0 ,8 0

P o rte la d e Mo g o s

0 ,6 0

0,40

0 ,4 0

0,20

0 ,2 0

0,00 0,00

0 ,0 0

1,00

2,00

3,00

0 ,0 0

4,00

2 ,0 0

1,60

1,60

1,40

1,40

1,20

1,20

1,00 Almendres

0,80

Tojal

0,60

Largura (m)

Largura (m)

4 ,0 0

6 ,0 0

Com pr im e nto (m )

Comprimento (m)

1,00 Alm endres

0,80

Monte da R ibeira

0,60

0,40

0,40

0,20

0,20 0,00

0,00 0,00

119

1,00

2,00

0,00

3,00

1,00

2,00

3,00

Comprimento (m )

Comprimento (m)

1,6

A lmendres

1,4

Xerez

1,60 1,40

1,00 Almendres

0,80

Vale d'El Rei

0,60

0,6

0,2

0,20 0,00 0,00

1,0 0,8

0,4

0,40

0,0 0,0

0,50

1,00

1,50

2,00

2,50

3,00

0,5

1,0

1,5

2 ,0

2,5

3 ,0

Co m p r im e n to (m )

Comprimento (m)

Almendres 3,0

Menires isolados

2,5

Largura (m)

Largura (m)

1,20

Largura (m)

1,2

2,0 1,5 1,0 0,5 0,0 0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0

Comprimento (m)

Fig. 6.27 - Gráficos comparativos das dimensões (C, L) de menires e recintos do Alentejo Central, em função do recinto dos Almendres.

120

1,60

1,40

1,40

1,20

1,20

1,00

1,00 Almendres

0,80

Vale Maria do Meio

0,60

Espessura (m

Espessura (m

Manuel Calado

0,40

Almendres

0,60

Portela de Mogos

0,40 0,20

0,20 0,00 0,00

0,80

0,50

1,00

1,50

0,00 0,00

2,00

1,40

1,40

1,20

1,20

1,00

1,00

0,80

Almendres

0,60

Tojal

0,40

0,50

1,00

2,00

Almendres

0,60

Monte da Ribeira

0,40

0,00 0,00

1,50

0,50

1,00

1,50

Largura (m)

1,40

1,20

1,20

1,00

1,00

0,80

Almendres

0,60

Vale d'El Rei

0,40

Espessura (m

1,40

0,80

Almendres

0,60

Xarez

0,40 0,20

0,20

0,50

1,00

0,00 0,00

1,50

0,50

1,00

1,50

Largura (m)

Largura (m)

1,40 1,20 Espessura (m

Espessura (m

1,50

0,80

Largura (m)

0,00 0,00

1,00

0,20

0,20 0,00 0,00

0,50

Largura (m)

Espessura (m

Espessura (m

Largura (m)

1,00 0,80

Almendres

0,60

Menires isolados

0,40 0,20 0,00 0,00

0,50

1,00

1,50

2,00

Largura (m)

Fig. 6.28 - Gráficos comparativos das dimensões (L, E) de menires e recintos do Alentejo Central, em função do recinto dos Almendres.

3,50

3,50

3,00

3,00

2,50 Almendres

2,00

Vale Maria do Meio

1,50 1,00

Adelgaçamento

Adelgaçamento

Menires do Alentejo Central

121

2,50 Almendres

2,00

Portela de Mogos

1,50 1,00 0,50

0,50 0,00 0,00

1,00

2,00

3,00

0,00 0,00

4,00

1,00

3,50

3,00

3,00

2,50 Almendres

2,00

Tojal

1,50 1,00

Adelgaçamento

Adelgaçamento

3,50

3,00

4,00

2,50 Almendres

2,00

Monte da Ribeira

1,50 1,00 0,50

0,50 0,00 0,00

1,00

2,00

3,00

0,00 0,00

4,00

Alongam ento

1,00

2,00

3,00

4,00

Alongam ento

3,50

3,00

3,00

2,50 Almendres

2,00

Vale d'El Rei

1,50 1,00

Adelgaçamento

3,50

2,50 Almendres

2,00

Xarez

1,50 1,00 0,50

0,50 0,00 0,00

1,00

2,00

3,00

0,00 0,00

4,00

2,00

4,00

6,00

Alongam ento

Alongam ento

3,50 Adelgaçamento

Adelgaçamento

2,00 Alongam ento

Alongam ento

3,00 2,50 Almendres

2,00

Menires isolados

1,50 1,00 0,50 0,00 0,00

2,00

4,00

6,00

8,00

Alongam ento

Fig. 6.29 - Gráficos comparativos dos índices de alongamento e de adelgaçamento de menires e recintos do Alentejo Central, em função do recinto dos Almendres.

Manuel Calado

122

6.29). Note-se que, se considerarmos, como defendo, que a grande maioria dos menires são blocos naturais, é provável que as diferenças observadas remetam principalmente para os fenómenos geológicos que deram origem aos diferentes tipos de rocha utilizados localmente; o agenciamento humano circunscrevia-se, presumivelmente, à decisão sobre o tamanho (e peso) dos menires, enquanto as formas seriam, certamente, objecto de uma selecção em função do material disponível num raio que, como vimos, não deveria exceder os 10 Km. Num certo sentido, adaptando a proposta de P. Kalb, poderíamos considerar que o monumento espelhava, não tanto os territórios que o rodeavam, mas certos aspectos da geologia da área denvolvente. Por outro lado, em termos gerais, é de esperar que, nos recintos mais amputados, se verifique um enviesamento nas dimensões dos menires. Com efeito,

Fig. 6.30 - Menir tombado de Locmariaquer e fossas de implantação dos menires que completavam o alinhamento (seg. Giot et al., 1998: 287, adaptado).

os menires de maiores dimensões resistiriam, em princípio, melhor às depredações, sendo, sobretudo, os menires de tamanho mais manipulável, os que foram abatidos. Isso mesmo foi claramente observado no recinto de Vale Maria do Meio (nº 2) (Calado, 2000b: 173), em que sobreviveram apenas as extremidades de vários menires pequenos, cujas porções mesiais terão sido, segundo parece, transformadas em silhares. Este tipo de conservação diferencial dos menires aplica-se, aparentemente, ao recinto das Fontaínhas (nº 11) e, em menor grau, ao de Cuncos (nº 7), em que parecem ter sobrevivido exclusivamente ou quase, apenas os menires mais volumosos. Nos alinhamentos da Vendeia, no SW francês, foi igualmente confirmado um fenómeno análogo (Beneteau, 2000); numa escala muito diferente, e em contexto neolítico, foi o que aconteceu com o menir de Locmariaquer: de um alinhamento de 19 menires, aparentemente de dimensões escalonadas, sobreviveu apenas, in loco, o maior de todos (Fig. 6.30). 6.2. Decoração Se excluirmos as covinhas e um ou outro caso mais duvidoso, os menires alentejanos decorados (24 exemplares) representam apenas cerca de 6% do total de monólitos individuais registados (403 exemplares); a maior parte (19 exemplares) ocorre nos três maiores recintos megalíticos da região, enquanto os restantes são exclusivamente menires isolados, de tipo “lâmina de punhal”, restritos às áreas de Évora e Reguengos de Monsaraz. Nas áreas de Pavia, Cuncos e Tojal, todos os menires são, ou parecem ser, anicónicos, tal como acontece com todos os grandes menires isolados, de formas cilíndricas ou ovóides, patentes nas áreas de

Menires do Alentejo Central

Fig. 6.31 - Principais tipos de motivos gravados nos menires do Alentejo Central.

6. 32 - Distribuição dos menires decorados (excepto covinhas).

123

Manuel Calado

124

Évora e Reguengos de Monsaraz. É claro que existe a possibilidade de estarmos perante uma realidade distorcida (atendendo a que a pintura ou a gravura fina poderiam ter sido as técnicas mais generalizadas); de facto, se assim fosse, os motivos gravados ou pintados teriam desaparecido ou exigiriam, para ser identificados, uma abordagem muito específica. A decoração conhecida foi, quase sempre, executada em baixo-relevo, embora existam ainda outras soluções técnicas, mais raras e cujos motivos são mais difíceis de identificar, de forma inequívoca. Por norma, os motivos foram gravados nas superfícies mais aplanadas e regulares, as quais, na maior parte dos casos, correspondem aos planos de diaclase, menos afectadas pela disjunção esferoidal (Le Roux, 2003: 373). A ideia, defendida por M. Varela Gomes, de que se tratava de superfícies artificialmente rebaixadas, com a finalidade de receberem os motivos gravados (Gomes, 1997c: 269), não me parece resistir a uma observação cuidadosa de alguns menires decorados, como o menir 18 de Vale Maria do Meio ou o menires 25 e 33 Portela de Mogos, em que, claramente, não houve desbaste do bloco original, para além do mínimo necessário para a execução do baixo-relevo; naqueles menires, entre outros, são bem visíveis os bordos das superfícies desbastadas. Note-se que a utilização de blocos com faces naturalmente aplanadas foi igualmente observada em muitos menires, aparentemente anicónicos, que integram os recintos alentejanos, e é igualmente muito recorrente noutros conjuntos de menires da fachada atlântica europeia (Sellier, 1991; Beneteau, 2000). Apesar de serem relativamente pouco abundantes, os menires decorados alentejanos apresentam, ainda assim, uma certa variedade de motivos e, sobretudo, de modos de organização dos mesmos. O tema mais repetido e com maior dispersão geográfica é, sem dúvida, o do báculo (9 menires com báculos e 19 exemplares, no total, nas áreas de Évora e Reguengos de Monsaraz), sempre representado em baixo-relevo e, por norma, numa posição de destaque na superfície do menir. Também em baixo-relevo e logo a seguir ao báculo, em termos de frequência relativa, surge o crescente lunar, associado a uma figura trapezoidal ou rectangular e, em muitos casos, a dois pequenos círculos dispostos de um e de outro lado dessa figura, formando um jogo gráfico com óbvias sugestões antropomórficas. As linhas onduladas ou serpentiformes são outro dos temas presentes, com vários exemplares, na iconografia dos menires alentejanos; trata-se, sobretudo, de linhas múltiplas que (ao contrário das antas, onde ocorrem também, frequentemente, na horizontal) se desenvolvem sempre na vertical. Por último, são de referir alguns círculos simples, fechados ou abertos, círculos com covinhas (cup and ring), um círculo radiado (sol) e dois círculos abertos, cada um com dois segmentos de recta paralelos (menir 64 do recinto dos Almendres). Para além destes, existem ainda outros motivos que, por serem de difícil leitura, exigem algumas reservas e recomendam, por agora, um tratamento menos circunstanciado. Na verdade, parece existir uma certa “hierarquia das grafias”, distinguindo, originalmente, os “motivos realizados de uma tal maneira que são quase invisíveis ao olho, enquanto outros realizados sobre o mesmo suporte podem ser facilmente apreciados” (Bueno e Balbín, 2002: 614, 615). O trabalho de identificação destes temas ocultos está quase todo por fazer e as características físicas dos

Menires do Alentejo Central

125

granitos não ajudam certamente nessa tarefa. Por esta razão, há que assumir algum grau de incerteza nos desenhos publicados, inevitável nos suportes mais friáveis e sujeitos a agressões externas mais violentas e, por outro lado, não esquecer que, se efectivamente, a pintura tiver sido usada na decoração dos menires, estamos perante uma amostra muito truncada das iconografias que completavam in illo tempore a mensagem dos monumentos. Teoricamente, os motivos mais frequentes e mais conspícuos (em função da técnica utilizada ou da posição que ocupam no suporte), terão desempenhado um papel de relevo no sistema ideológico intrinsecamente associado aos menires. Os outros, por serem raros ou demasiado discretos, terão, nesta ordem de ideias, um papel secundário, podendo implicar, nalguns casos, acrescentos posteriores e, por isso, relacionáveis com outros contextos, mas implicando, ao mesmo tempo, alguma continuidade nos discursos simbólicos. 6.2.1. O báculo A importância do báculo na iconografia (e na ideologia) dos construtores de menires é indiscutível; na verdade, esse estatuto parece ter sobrevivido no objecto móvel, fortemente estilizado, que acompanhou alguns enterramentos megalíticos na região alentejana e áreas limítrofes. Outro aspecto que torna o báculo um símbolo fundamental para a descodificação do ambiente mental em que foi forjado o fenómeno do megalitismo não-funerário, é o facto de este tema ser igualmente recorrente nos menires do ocidente francês e, em particular, da Bretanha, onde, na maioria dos casos, foi igualmente gravado em baixo-relevo. O báculo, por ter, aparentemente, perdurado em diferentes contextos culturais, mantendo-se vivo praticamernte até aos nossos dias, pareceria, à primeira vista, fácil de interpretar. Efectivamente, a denominação que vingou na bibliografia arqueológica portuguesa, remete, automaticamente, para o báculo episcopal, cujo significado radica, metaforicamente, no cajado dos pastores. Esta abordagem é, possivelmente, a que mais se generalizou por ser certamente a mais óbvia, tanto mais que, ainda hoje, é possível encontrar, entre os pastores de ovicaprinos, um instrumento semelhante (Gonçalves, 1992: 97; Calado, 2002: 29) (Fig. 6.33). Segundo Charles-Tanguy Le Roux, “on y voit un symbole d’autorité dérivé de l’houlette du berger, signification qui s’est perpétuée jusqu’à nos jours à travers la crosse épiscopale” (Le Roux, 1995: 15); a mesma lógica foi adoptada por Serge Cassen e Jean L’Helgouac’h que admitem uma inspiração do símbolo num objecto concreto da vida quotidiana “auxiliaire du berger chargé de la conduite et de la sauvegarde du troupeau. Ainsi le symbole de la crosse dans la réligion chrétienne, emblème hierarchique

Fig. 6.33 - Pastor alentejano, com cajado curvo. (Foto de José M. Rodrigues)

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du pouvoir réligieux des évèques et des abbés, s’appuie-t-il sur cette notion de pasteur, bien affirmée dans le Nouveau Testament” (Cassen e L’Helgouac’h, 1992). Note-se, desde já que, num trabalho mais recente (Cassen et al., 2000), um destes autores adoptou uma outra via interpretativa que terei, mais adiante, oportunidade de comentar. Na verdade, têm sido muito diversas as interpretações propostas; mesmo assim, pode afirmar-se que a maioria assume uma certa relação genética entre o símbolo neolítico e o báculo que, com ligeiras variantes, reemergiu em culturas tão distintas como a egípcia faraónica, a grega, a romana ou a cristã. Esta relação aparente, cuja verosimilhança é perfeitamente aceitável, não implica, evidentemente, que o símbolo tenha mantido, nas várias circunstâncias referidas, o mesmo significado. O báculo parece ser, na sua origem, indissociável da “invenção” do próprio megalitismo e, neste sentido, as implicações do símbolo deveriam obrigatoriamente ser distintas, nesta fase genesíaca, de todas as adaptações e reinterpretações posteriores,em sociedades seguramente muito diferentes. Um dos aspectos em que quase todos os autores concordam, mesmo que tacitamente, diz respeito à ideia de que o báculo representa um instrumento ou uma arma, isto é, um objecto que, de uma forma ou de outra, funcionaria como uma extensão do braço humano, remetendo para um contexto iconográfico de forte expressão antropomórfica. No que diz respeito aos protótipos funcionais, uma parte das propostas avançadas teve em mente, não os báculos gravados nos menires (descobertos, como vimos, tardiamente) mas tão-só os objectos móveis, da família das placas de xisto, que integram alguns mobiliários funerários megalíticos do Sudoeste peninsular. É este o caso das propostas de Manuel Heleno (Heleno, 1942: 462) , Georg e Vera Leisner (Leisner e Leisner, 1951: 138) ou O. Veiga Ferreira (Ferreira, 1985: 89). Todos estes autores, mesmo reconhecendo algumas fragilidades nessa leitura, procuraram explicar o báculo como uma evolução estilizada do machado encabado, símbolo com fortes repercussões noutras áreas da europa neolítica e que teria uma certa correspondência com as enxós encabadas calcolíticas ou com a forte presença da pedra polida nos espólios fúnebres. Esta hipótese, lançada por M. Heleno (1942: 462) apoiava-se num exemplar da Lapa da Galinha (Alcanena), cuja forma em ângulo recto, sugere efectivamente um machado encabado e que seria o arranque de uma evolução estilística que culminaria nos exemplares mais recurvados e, logo, mais afastados do modelo funcional. O. Veiga Ferreira que, num trabalho específico sobre os báculos, acabou por aderir à tese de Manuel Heleno (a quem, aliás, dirigiu algumas críticas póstumas muito violentas), concluindo que os báculos poderiam “estar ligados ao culto do machado encabado” (Ferreira, 1985: 89), tinha escrito anteriormente, numa obra em parceria com Manuel Leitão, que “...parecem ter o valor de símbolos de autoridade (...) e não de machados ou foices, ou alabardas.” (Ferreira e Leitão, 1983: 179). Quanto ao protótipo que teria dado origem ao símbolo, esses autores sugerem, com base na interpretação do báculo da Anta da Herdade das Antas, que se trate de um artefacto compósito; nesse belíssimo exemplar, destacam a existência de “uma pega com ressalto anterior na sua extremidade, para o instrumento não deslizar e cair da mão do seu utente, quando impulsionado de cima para baixo num movimento de machete”, assim como “o gume serrilhado e o bordo cortante, possivelmente constituído por enxertos de sílex.” (Ferreira e Leitão, 1983: 179).

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Victor S. Gonçalves, refuta, de forma taxativa, o modelo evolucionista de Heleno, com o argumento (já esboçado por G. e V. Leisner de que os exemplares da “variante em 7”, eram casos isolados, correspondendo a quase totalidade dos báculos conhecidos à “variante em 9” , “sendo muito improvável, talvez mesmo absurda, a sua associação a machados encabados” (Gonçalves, 1992: 93. Este autor, admitindo que, no caso dos exemplares em ângulo recto, se podia tratar da representação de machados encabados, propõe igualmente o cajado de pastor, como referente funcional do objecto simbólico ou do símbolo gravado. Quanto ao significado, recordando que “o peixe não significava , para os cristãos primitivos, a indicação de uma venda de pescado”, afirma que “o báculo do pastor é mais que um instrumento, torna-se frequentemente num símbolo de riqueza e consequentemente de poder”. (Gonçalves, 1992: 93). Nesta ordem de ideias, a raridade relativa dos báculos de xisto, quando comparados com as placas, e a distribuição espacial dos mesmos no território de Reguengos de

Fig. 6.34 - Exemplo do uso contemporâneo do báculo como símbolo de poder.

Monsaraz, levaram este autor a questionar se não “corresponderiam assim a chefaturas, distribuídas em função de espaços territoriais bem delimitados?” (Ibidem). A escavação da anta 2 de Vale de Rodrigo permitiu a descoberta de um bloco de granito decorado, tombado no interior da câmara. Esse bloco, para o qual se propôs uma funcionalidade absolutamente inédita - servir de pedra de fecho da câmara, expondo o lado decorado na fachada do monumento - tem, entre outros motivos, um possível báculo (Fig. 6.35) que o descobridor interpreta como machado e compara, mesmo assim, aos símbolos gravados nos menires da região (Larsson, 2001: 38). Esta aparente confusão interpretativa, entre machados e cajados, talvez seja mais emic do que etic: nuns casos, o símbolo aproxima-se mais da imagem do machado encabado, sempre que, como em Vale de Rodrigo (nº 1688) ou no Monte dos Almendres (nº32), a curvatura é pouco acentuada, ou do cajado, nos outros casos; uma fórmula, aparentemente sincrética, de representar essa ambiguidade, é a que encontramos

Fig. 6.35 - Bloco decorado de Vale de Rodrigo 2 (seg. Larsson, 2001)

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plasmada nos machados-báculos bretões. Outra proposta recente, também baseada exclusivamente na análise dos báculos de xisto, sugere que o protótipo funcional seria, efectivamente, uma arma de arremesso, de tipo maça, comparável aos “boomrangs” australianos (Brandherm, 1995). Brandherm admite que, para além de armas de combate pessoal, pudessem ter servido igualmente como armas de caça, embora desvalorize esta possível função, argumentando que “ como instrumento exclusivamente de caça seria difícil tornar-se num símbolo de ‘status’ elevado nas sociedades da antiga europa do quarto e terceiro milénio, sociedades nas quais a caça muito provavelmente ainda não se tinha transformado num passatempo desportivo de algumas pessoas privilegiadas” (Brandherm, 1995: 92). O casal Leisner, cuja preferência, embora cautelosa, pela tese do machado, já foi acima referida, achou, por outro lado, que “a comparação com o bumerang (...), também não” era “convincente” (Leisner e Leisner, 1951: 138). No entanto, esta hipótese, recuperada primeiramente num trabalho colectivo (Bailloud et al, 1995) foi retomada, em força, em trabalhos mais recentes (Cassen et al., 2000; Cassen e Vaquero Lastres, 2004), com argumentos e uma visão de conjunto muito elaborados. Subjacente a esta linha interpretativa que, no que respeita à identificação dos báculos como símbolos inspirados numa arma de arremesso, não é propriamente original, está a proposta de vinculação dos menires (e da iconografia que lhes está associada) ao mundo dos últimos caçadores-recolectores mesolíticos. Trata-se, metaforicamente, de uma arma de arremesso contra uma certa mainstream que tende a identificar o megalitismo como um fenómeno decorrente da implementação ou do desenvolvimento da economia agropastoril e em que a monumentalidade, megalítica ou outra, é vista como parte integrante de um conjunto de inovações especificamente neolíticas. É certo que a própria atribuição da génese do megalitismo às últimas comunidades mesolíticas, não sendo completamente inusitada (Bradley, 1993, 1997), exige dados de que, aparentemente, não dispomos e que, em boa verdade, Serge Cassen sugere a atribuição dos monumentos com báculos a uma fase de transição entre os últimos caçadores-recolectores e os primeiros neolíticos, embora com um papel particularmente activo para os primeiros (Cassen et al., 2000: 550. No entanto, ao contrário da proposta de Brandherm (1995), a arma de arremesso seria aqui basicamente uma arma de caça miúda, destinada nomeadamente à captura de lagomorfos; à primeira vista, esta função parece insuficientemente relevante para justificar a figuração do báculo lado a lado com animais de grande porte, potencialmente perigosos, como o cachalote ou os cornúpetos ou mesmo com um símbolo tão fecundo na Europa neolítica como foi o do machado. Na verdade, creio que as grandes estelas bretãs reunem símbolos que poderão, eventualmente, ser atribuídos ao mundo dos caçadores-recolectores, com outros que reflectem as inovações com que, na segunda metade do VI milénio a.C, eles entraram em contacto e que, de uma forma ou de outra, lhes condicionaram as trajectórias. Nesse sentido, quer a representação de animais, quer a representação, relativamente pouco frequente nas estelas, de arcos e flechas, parecem evocar o mundo dos caçadores-recolectores; o machado

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e o báculo, especialmente por aparecerem associados no contexto de suportes excepcionais, poderiam, por seu turno, referir-se, respectivamente, à pastorícia (de ovi-caprinos) e à agricultura/desflorestação. A domesticação dos animais e a domesticação das plantas. No entanto, é verdade que alguns báculos, sobretudo os menos recurvados, se afastam da forma típica do cajado pastoril e a possibilidade de o artefacto ter sido adaptado a partir de uma arma curva pré-existente não parece totalmente inverosímil. Num painel com pinturas rupestres de Medbo (Barfendalen, Bohuslan, Suécia) atribuíveis ao Mesolítico escandinavo, a par de antropomorfos e representações de animais selvagens, aparece, relativamente centrado na parede vertical de um rochedo, o que parece ser a representação de um báculo (Tilley, 1996: 49). Note-se que as dificuldades inerentes à datação da arte rupestre e as datas tardias do Mesolítico escandinavo não permitem definir, neste caso, a antiguidade relativa, face aos báculos dos menires alentejanos ou bretões. São, por outro lado, bem conhecidas as “importações” de itens neolíticos, no Mesolítico escandinavo, durante séculos, sem alterações sensíveis nos padrões económicos dessas sociedades. Na perspectiva em que me coloco, admitindo que o cajado surgiu, ab ovo, como intrumento de pastores, com funções muito específicas (ajudar a capturar os animais individualmente, para ordenha, tosquia ou outros fins), nada obsta a que passasse igualmente a ser utilizado, pelos mesmos pastores, como arma de caça

Fig. 6.36 - Painel decorado de Medbo (Bohusla, Suécia, de temática mesolítica, com um possível báculo na área central (seg. (Tilley, 1996: 49).

oportunista. A tese do boomerang assenta, fundamentalmente, no cruzamento de dados etnográficos de proveniências muito diversificadas (Austrália, África, América), de dados históricos e iconográficos (relativamente ambíguos) do mundo clássico e de alguns escassos dados iconográficos europeus, embora a proposta tenha, aparentemente,

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surgido de uma leitura peculiar da temática expressa nas grandes estelas decoradas bretãs e, em particular, da estela de Gavrinis/Table des Marchands (Cassen e Vaquero-Lastres, 2003; Cassen e Vaquero-Lastres, 2004). Nessa leitura, para sublinhar a interpretação do báculo como arma de caça e, por isso, associável ao ambiente económico/ideológico dos caçadores-recolectores, o próprio machado foi desvinculado dos contextos neolíticos ou neolitizantes em que, por norma, se insere e considerado um “objecto simbólico, tão próximo da singularidade e da raridade dos animais figurados, como afastado da ferramenta pletórica dos agricultores” (Cassen et al., 2000: 651). No extremo oposto, em termos interpretativos, refira-se ainda a proposta recente de I. Thorpe que, assumindo, sem discussão, que os báculos bretões seriam símbolos “da celebração da introdução da agricultura na área” (Thorpe, 1999: 60) aceita, como igualmente viáveis, duas leituras muito distintas, mas complementares: o báculo tanto poderia referir-se, de acordo com a opinião mais generalizada, à criação de ovelhas, como representar uma espiga de cereal e ter, portanto, conotações agrícolas.Esta última interpretação tem, ela própria, uma história já longa, com base nos báculos, quase todos com a haste muito aberta, patentes na estela/esteio de cabeceira da Table des Marchands (Cassen et al., 2000: 608). Recorde-se, para terminar, que o báculo ocorre, esporadicamente, como um elemento decorativo, em recipientes cerâmicos neolíticos, tanto na Bretanha como no Alentejo (Cassen e L’Helgouac’h, 1992). Tratase, pelo menos no Alentejo, de prováveis evidências da continuidade do símbolo, cuja longevidade se presta, naturalmente, a alguns equívocos cronológicos. 6.2.2. A Lua e o Quadrilátero Nos menires alentejanos, estes dois motivos aparecem quase sempre associados e, apesar de algumas ligeiras variações, em termos de formas e de dimensões, apresentam sempre a mesma posição relativa, com o crescente por baixo do quadrilátero e ambos numa posição de destaque. A mesma associação pode ser também observada na face posterior da estela de cabeceira da Table des Marchands, na Bretanha (Fig. 11.9) (Boujot e Casse, 1997: 220; Cassen et al., 2000: 296); em contrapartida, um outro menir bretão, o de Kermaillard (Fig. 11.10) (Briard, 1990: 5), apresenta os dois símbolos lado a lado. Não se conhecem, no Alentejo, exemplares em que o quadrilátero apareça separadamente, como acontece em alguns menires bretões (Fig. 11.8) (Shee, 1981; Cassen et al., 2000: 291, 294; Lecerf, 1999: 78) ou no caso, excepcional a todos os títulos, de Stonehenge (Burl, 1999) e ainda em monumentos peninsulares mais tardios (Bueno e Balbín, 1997). A distribuição geográfica da associação Lua/Quadrilátero é muito mais restrita que a dos báculos; de facto, só foi, até agora, identificada nos três grandes recintos de Évora: Almendres, Portela de Mogos e Vale Maria do Meio e, à excepção do menir 18, no último destes recintos, esses símbolos são, aparentemente, sempre acompanhados por dois pequenos círculos, dispostos um de cada lado do quadrilátero. De uma forma geral, em todos os casos, a disposição dos diferentes motivos entre si e em relação ao próprio suporte, evoca claramente a figura humana. Segundo Mário Varela Gomes (Gomes, 1997c; 2002b), responsável pela interpretação e pelo desenho dos menires decorados dos Almendres (nº 1) e da Portela de

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Mogos (nº 4), os círculos e o quadrilátero seriam, respectivamente, representações dos olhos e do nariz do personagem; o crescente lunar, por sua vez, representaria um colar. A reforçar o carácter antropomórfico do conjunto, foram ainda identificados alguns detalhes anatómicos (seios) ou de indumentária (cinto), perfeitamente integráveis no contexto, mas cuja existência efectiva, atendendo ao grau de conservação das superfícies decoradas dos menires, me parece discutível. Note-se que, nestes menires, o crescente poderia igualmente, ser visto como a figuração da boca, tanto mais que o quadrilátero pode ser interpretado como o nariz. Esta possibilidade que, nunca foi equacionada em relação às estátuas-menires de Évora, foi, no entanto sugerida, por Vergílio Correia, com base na análise do ídolo cilíndrico da Folha das Barradas (Correia, 1921: 89) . No menir 18 do recinto de Vale Maria do Meio (nº 2), o aspecto antropomórfico pode, eventualmente, ter sido sugerido por um arranjo diferente: os dois báculos dispostos simetricamente poderiam substituir graficamente os círculos que, nos restantes, são interpretados como a representação dos olhos (Vol. 2, fig. 21). Seja como for, o antropomorfismo do conjunto não implica que cada um dos elementos não tenha, por si só, um significado específico. Tudo leva a crer que, nos menires de Évora, tenham sido usados símbolos com vida própria, articulados em jogos gráficos que lhes atribuem novas dimensões simbólicas. O crescente lunar aparece, nos menires de Évora, igualmente associado a outros motivos, embora, nesses casos, a forma seja menos explícita. Um deles, é o do menir 17 da Portela de Mogos, um monólito esguio e anguloso, com uma iconografia, em que se incluem nomeadamente figurações antropomórficas, bastante distinta da dos restantes menires decorados desse mesmo recinto; o outro é o menir 57 dos Almendres (Fig. 6.37), com um conjunto de báculos e com um crescente, do qual foram publicadas fotografias, feitas após tratamento bicromático (Gomes, 1989: 257; Bueno e Balbín, 1995: 371), e que, num trabalho mais recente, foi interpretado também como báculo (Gomes, 1994b: 337). Existe ainda um conjunto de motivos em arco de círculo, presentes nos menires de Évora e de Reguengos, assim como noutros contextos (Bueno e Balbín, 1997: fig. 18) que podem, por hipótese, ser representações

Fig. 6.37 - Lua e báculo, em baixo-relevo, no menir 57 do recinto dos Almendes.

lunares, embora se afastem do inconfundível rigor gráfico dos crescentes, em baixo-relevo, que ocorrem associados aos quadriláteros. A importância simbólica dos astros e, dentro destes, do Sol e da Lua, evidenciada pelas relações espaciais entre os monumentos e a paisagem, parece ter-se materializado igualmente em iconografias específicas, recorrentes, em posições de destaque nas superfícies dos menires. O círculo, cujo significado, por se tratar de uma forma demasiado universal, é sempre difícil de balizar,

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poderia, neste contexto, corresponder também a representações astrais e, atendendo à presença do crescente, eventualmente solares. A interpretação do crescente, nessas figurações antropomórficas, como objecto de adorno (colar), é uma boa possibilidade que remete, sobretudo, para paralelos mais tardios, na região e fora dela (Bueno, 1995; Kinnes, 1995;Marinis, 1995; Bueno e Balbín, 1998; Gonçalves, 2004: 170). No entanto, na referida estela-menir/esteio de cabeceira da Table des Marchands, elementos análogos apresentam um arranjo de tal forma distinto, que as interpretações avançadas não aludem sequer à possível figuração antropomórfica do conjunto. De facto, o crescente foi interpretado como uma evocação do mundo subterrâneo e o quadrilátero, como uma representação da terra; neste caso particular, o quadrilátero é encimado por dois semi-círculos que, por sua vez, foram interpretados como uma figuração do Céu; existem ainda dois pequenos semi-círculos que, nas bordas da estela, enquadram os outros motivos e que foram interpretados como representações astrais (o Sol ou a Lua) (Boujot e Cassen, 1997: 220). Não deixa de ser curioso que, nesta leitura (em que se procurou um paralelo com a decoração de um vaso do monumento funerário de Lannec er Gadouer) se interpretem como figurações astrais dois motivos pouco explícitos e se omita o sentido mais óbvio do crescente. Numa perspectiva semelhante, baseada na história comparada das religiões, propôs-se uma certa ligação entre conceitos como lua-chuva-fertilidade-mulher-serpente-morte-regeneração periódica, como um fundo comum que “surge com frequência nas sociedades agrícolas” (Jorge, 1990: 222). O crescente é, evidentemente, a forma mais inequívoca de representar a Lua; no entanto, admitindo a possibilidade de os mesmos símbolos gráficos representarem, polissemicamente, realidades distintas, mesmo que, de algum modo, relacionáveis, o crescente poderia remotamente remeter para as plantas em ferradura que encontramos nos recintos alentejanos ou ambos reproduzirem um conceito comum. Ascorrespondências formais entre alguns símbolos básicos da arte rupestre esquemática e plantas de estruturas arquitectónicas, sempre muito hipotéticas e criticáveis (Bradley, 1997: 51), não deixam, mesmo assim, de suscitar alguma reflexão (Zuchner, 1989; Arcà, 1995; Avner e Avner, 1995). O carácter ambíguo de alguns destes símbolos, parece observar-se, por exemplo, no menir 57 dos Almendres, em que, como se viu, o crescente se confunde com a extremidade curva dos báculos, ou no menir 17 da Portela de Mogos, em que o possível crescente se aproxima graficamente de um motivo interpretado como corniforme, cujos paralelos bretões são muito idênticos (Fig. 11.18). Esta ambiguidade permite compreender melhor a interpretação avançada por um autor bretão, para quem as lúnulas são também uma variante do símbolo cornudo (Lecornec, 1996: 128). Quanto ao quadrilátero que, nos exemplares melhor conservados, assume normalmente a forma de um trapézio, com a base para cima, o significado é, aparentemente, mais difícil de estabelecer. A forma quadrangular (e, sobretudo, trapezoidal) poderia, atendendo ao contexto, remeter para o simbolismo do machado, fazendo, como acontece frequentemente nos exemplares bretões, contraponto com as representações dos báculos. Por outro lado, a forma trapezoidal (e, por vezes rectangular), com dimensões muito semelhantes às do motivo representado nos menires de Évora, é característica de um artefacto simbólico muito específico do

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Alentejo Central: as placas de xisto decoradas que ocorrem, em contextos funerários do Neolítico final e Calcolítico, onde, por vezes, têm como contraponto, precisamente os báculos de xisto. A associação do báculo com uma forma rectangular, em baixo-relevo, que foi interpretada como paleta, surge também no menir de Navalcán (Bueno e Balbín, 1995: 375,376) e figuras quadrangulares incisas surgem, como referi, esporadicamente também em esteios de sepulturas megalíticas, nomeadamente nas da Granja de Toniñuelo, Soto e Alberite (Bueno e Balbín, 1997: 115). Para ampliar o leque das ambiguidades, note-se que, no caso específico das placas de xisto, a forma do suporte parece assumir igualmente carácter antropomórfico, reforçado, nalguns casos de forma muito explícita, pela decoração (olhos, braços) ou por detalhes anatómicos recortados (ombros, braços, olhos) (Gonçalves, 2003c; 2004a). Convém ter em mente que o trapézio tem também, tal como os semi-círculos, correspondência em formas arquitectónicas neolíticas; tanto as casas longas como muitos dos grandes monumentos tumulares da Europa Central e Ocidental, apresentam plantas trapezoidais e a analogia formal com a forma do machado é, aliás, uma observação antiga (Cassen et al., 2000: 607), retomada em trabalhos recentes (Patton, 1991; Tilley, 1996a).A forma trapezoidal está igualmente latente, nos alinhamentos de menires, organizados em leque, de muitos monumentos bretões e britânicos. Em contrapartida, ignoramos quase tudo sobre as plantas das cabanas neolíticas peninsulares; num contexto um pouco mais antigo, a única excepção, funcionalmente muito mal compreendida, é a fossa trapezoidal que sobrepõe o recinto de postes dispostos em semi-círculo, no concheiro mesolítico da Moita do Sebastião (Roche, 1972); a aparente raridade desta estrutura deve, como se sabe, ser matizada pela escassez de escavações modernas, em área aberta, tanto nos sítios mesolíticos como nos neolíticos antigos. 6.2.3. A Serpente Trata-se de um dos símbolos mais universais, de entre os que estão presentes nos menires alentejanos. Recorrente na arte rupestre de ar livre, nomeadamente no complexo rupeste do Guadiana, é igualmente um tema central na arte megalítica peninsular (Shee, 1981). A interpretação das linhas ondulantes que, nos menires, se orientam sempre na vertical, não é pacífica (Bueno e Balbín, 1995): alguns autores propõem que se trate, efectivamente, da representação da serpente, animal que integra, muitas iconografias e mitologias, um pouco por todo o lado (Clottes e Lewis Williams, 1998: 28; 94; Dowson, 1998: 79; Jolly, 1998: 259; Whitley, 1998: 16,17), podendo implicar ou não uma certa ofiolatria; as dúvidas resultam, naturalmente, do facto de, na maioria dos casos, não serem perceptíveis caracteres anatómicos inequívocos. As implicações simbólicas da serpente são culturalmente determinadas: uma das leituras possíveis e, de certo modo, aquela que cristalizou na tradição cristã, é a que identifica a serpente com o mundo subterrâneo, com conotações mais ou menos tenebrosas (Boujot e Cassen, 1997). Num texto recente, a propósito de um menir em que foi identificado um grande serpentiforme vertical, foi sugerido que “o facto de as serpentes serem gravadas como se subissem a partir da terra (i.e. movendo-se

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134 verticalmente para cima desde a base da pedra) ecoa o carácter ctónico frequentemente atribuído às serpentes nas mitologias documentadas” (Scarre e Raux, 2000: 758). Dentro deste campo semântico, outro sentido possível remete para o mundo dos mortos e para conceitos de morte/renascimento que o megalitismo funerário pressupõe (Bueno e Balbín, 1995). Aparentemente noutro extremo, David Calado, num estudo sobre os menires do Algarve, interpreta as linhas ondulantes como representações de ondas, tendo como referente o próprio mar, com o qual os monólitos mantêm uma relação de proximidade relativa (D.Calado, 2000a). A associação entre este símbolo e a água - as ondas, a chuva ou os rios - conta igualmente com interessantes paralelos etnográficos (Dowson, 1998). No Alqueva, os serpentiformes estão bem representados nos três principais núcleos de gravuras - Molino Manzanès, Casa da Moinhola (Fig. 6.38) e Retorta - por outro lado, sugerindo analogias formais, numa outra escala, o complexo rupestre concentra-se claramente junto das curvas mais acentuadas do Guadiana (Calado, 2004), pelo que não deixa de ser sugestiva a possibilidade de os símbolos aludirem, ou aludirem também, ao curso

Fig. 6.38 - Rocha 10 da Moinhola (Alqueva), com serpentiformes, associados a antropomorfos e círculos (seg. Baptista, 2002: 162).

serpenteante do rio. Nada obsta, no entanto, a que a serpente e a água fossem identificadas pelo mesmo símbolo e que, numa base analógica, uma e outra fossem tidas como manifestações de uma mesma realidade. Sabe-se, por exemplo, que entre os aborígenes australianos “o movimento da serpente ancestral criou os meandros dos cursos de água” (Tilley, 1994: 40) e a própria linguagem corrente refere metaforicamente o curso serpenteante dos rios ou os movimentos ondulantes das serpentes. A escavação do povoado tardo-neolítico das Águas Frias (Calado e Rocha, 2004) revelou um sistema de fossos sinuosos, semelhantes aos que, em Papa Uvas (Martin de la Cruz, 1985, 1986) e em Juromenha 1 (Calado, 2002b), tinham sido apenas muito parcialmente observados; um deles, o fosso mais interior, cuja extremidade Sul foi integralmente escavada, apresenta uma curiosa e funcionalmente incompreensível, redução progressiva das dimensões (largura e profundidade) o que, aliado à forma ondulante, sugere a representação de uma cauda de serpente.

Fig. 6.39 - Distribuição das gravuras picotadas ao longo do Guadiana, na área do Alqueva.

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Reduzindo mais a escala, note-se que é muito sugestiva a presença, em dois povoados com fossos sinuosos, Juromenha 1 e Papa Uvas (Martin de la Cruz, 1985, 1986), de cerâmicas decoradas com serpentiformes. Recentemente, num estudo específico sobre o tema da serpente na pré-história peninsular, Primitiva Bueno e Rodrigo Balbín observaram uma frequente associação entre as representações mais convincentes da serpente e os temas antropomórficos que, nos menires, são expressos pelo próprio suporte (Bueno e Balbín, 2002). É difícil, neste contexto, resistir a comparações culturalmente transversais; recorde-se, por exemplo, o símbolo da medicina ocidental, atributo de Esculápio, em que se reúne a serpente e o cajado ou a serpente Fig. 6.40 - Planta dos fossos do povoado das Águas Frias (Alandroal) (seg. Calado e Rocha, 2004) Kundalini da fisiologia/filosofia oriental. 6.2.4. O Círculo Já fiz acima referência às possíveis conotações astronómicas (nomeadamente solares) dos círculos que surgem, com diversas variantes, nos menires alentejanos. A representação solar mais indiscutível é a do menir da Belhoa, enquanto o círculo gravado na extremidade superior do menir 17 da Portela de Mogos (nº 4), também muito sugestivo, aparece duplicado pelo antropomorfo com sol

Fig. 6.41 - Motivo serpentiforme, em fragmento cerâmico de Juromenha 1.

que lhe subjaz; também os três círculos do menir 58 dos Almendres (nº 1) já foram interpretados como representações solares (Gomes, 1989: 264) e poderíamos, certamente com algum risco, sugerir um significado semelhante para os pequenos círculos interpretados como representações oculares nas chamadas “estátuas- menires”. Essa ambiguidade de sentidos verifica-se, aliás, claramente, na síntese olhos-Sol que ocorre, por exemplo, nas placas de xisto alentejanas (Gonçalves, 2004: 169-170). No entanto, é muito provável que, na arte megalítica peninsular, o círculo tenha também outros referentes. Trata-se, mais uma vez, de uma forma básica, relativamente universal, apta, em termos iconográficos, para representar realidades e conceitos muito diversos.

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136 É curioso que, na arte paleolítica europeia, dominada pelas figurações, mais ou menos naturalistas, de animais de grande porte, mas em que os temas geométricos não são raros, o círculo esteja praticamente ausente. Em contrapartida, no complexo rupestre do Alqueva, como noutros contextos pós-glaciares, os círculos, isolados ou inseridos em grafias mais complexas, ultrapassam com grande margem, os restantes temas (Calado, 2004; Collado, 2004). Fosse qual fosse o significado que assumia, podemos certamente relacionar este símbolo com as profundas mudanças que acompanharam o processo de neolitização, entre as quais se destaca uma marcada tendência para a sedentarização: é possível que o espaço linear do caçador-recolector nómada (Nash, 2000: 5) se tenha graficamente transformado no espaço centrado, circular, concêntrico, do sedentário. No entanto, é pouco provável que as implicações simbólicas dos círculos se esgotem nas leituras de carácter topográfico que, em alguns contextos genericamente contemporâneos, parecem fazer sentido e a que já fiz referência. Um caso particularmente interessante, é o dos círculos com covinha central, do menir do Monte da Ribeira (nº 40), em Reguengos de Monsaraz. A raridade deste tema, na região, contrasta com a sua frequência noutras regiões megalíticas mais setentrionais, com um particular destaque para as Ilhas Britânicas, onde ocorre também em menires (Burl, 1999), sugerindo, apesar da universalidade do tema, contactos de longo curso, em que o Noroeste da Península poderia ter funcionado como estação intermédia. A posição secundária, em relação ao báculo, com o qual contrastam em termos técnicos (o báculo é em baixo-relevo) e a ausência de paralelos nos outros menires da região, podem, eventualmente, implicar o carácter tardio destas gravuras. As covinhas poderiam, como grafemas autónomos, pertencer, eventualmente, à mesma categoria simbólica que os próprios círculos e remeter igualmente para as conotações astronómicas, representando eventualmente estrelas (Belmonte, 2003: 82-85), ou mesmo, mais especificamente, o próprio Sol (Bueno e Balbín, 2003: 421). No entanto, as covinhas conhecidas nos menires alentejanos parecem geralmente tardias (Calado, 1997b; Gomes, 2002), uma vez que ocorrem, com bastante regularidade, apenas ao longo das faces expostas dos monólitos tombados, situação igualmente observada na Bretanha, embora de uma forma aparentemente menos sistemática (Le Goffic, 1997: 363). Nos Almendres (nº1) e na Portela de Mogos (nº4), as covinhas ocorrem muito pontualmente e não parecem articuladas com as restantes gravuras, enquanto no Vale Maria do Meio(nº2) não foi identificado nenhum monólito com covinhas; este motivo está também, aparentemente, ausentes nos recintos do Tojal (nº 5), Cuncos (nº 7), Sideral (nº 10) e Fontaínhas (nº 11). 6.2.5. Síntese As gravuras dos menires alentejanos inserem-se numa tradição gráfica e num fundo cultural com raízes que, segundo parece (Bueno e Balbín, 2002; Collado, 2004) remontam, sem esforço, ao epipaleolítico e, numa perspectiva mais abrangente, ao próprio paleolítico superior; no entanto, alguns elementos parecem retratar, simultaneamente, uma ruptura profunda. O carácter artificial da implantação dos suportes e o investimento que esta operação implicava, são uma inovação fundamental que condicionou, decerto, a lógica dos temas representados. À especificidade cronológica e cultural dos menires corresponde, naturalmente, uma iconografia peculiar.

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Sem pretender reduzir o potencial simbólico dos temas representados, com significados que, como vimos, se adivinham complexos, a esquemas estritamente descritivos, nem, por outro lado, entrar em terrenos interpretativos demasiado arriscados, creio que podemos hierarquizar a temática dos menires alentejanos em dois grandes blocos: as referências antropomórficas e as astronómicas. Ambos remetem directamente para a transição Mesolítico-Neolítico, no sentido mais amplo possível. A sedentarização, a territorialização e a domesticação são as palavras-chave de um processo que, em termos económicos e sociais, não está ainda bem compreendido, mas que, em vários registos, se pode conjugar com a simbólica global dos menires. Se, nas orientações astronómicas dos monumentos, encontramos uma boa materialização das ideias que os símbolos astrais, numa duplicação aparente, evocam, elas próprias parecem inserir-se num “projecto” que, para além da domesticação do espaço, procurava igualmente domesticar o tempo. Por outro lado, a descoberta do “calendário cósmico” proporcionada pela observação dos movimentos do Sol e da Lua, no horizonte, é necessariamente uma consequência da sedentarização. Dentro das representações antropomórficas a que os menires, pela primeira vez, deram corpo, em grande escala e a três dimensões, o báculo dá-nos informações sobre quem eram e o que proclamavam os construtores de menires; trata-se, segundo creio, de uma indicação de carácter económico, mas cujo alcance simbólico é indiscutível. Segundo J. Cauvin (1999: 195), “o desejo humano de dominação dos animais”, explicaria, só por si, a adopção da pastorícia, mais do que as supostas vantagens de ordem económica; no entanto, com ou sem vantagens na relação quantitativa entre o investimento e o retorno (Sahlins, 1983), é bem possível que a pastorícia, certamente complementada pela caça e pela recolecção, tenha sido a base de subsistência dos construtores de menires alentejanos. A exibição “alto e bom som” do símbolo da pastorícia (de ovi-caprinos), como um atributo dos personagens figurados, implica, eventualmente, num cenário de disputa, que os destinatários da mensagem seriam os grupos que não se identificavam, eles próprios, com a pastorícia e esses corresponderiam, por exclusão de partes, às últimas sociedades mesolíticas. A agricultura detinha ainda, segundo tudo leva a crer, um estatuto pouco mais do que simbólico. De entre os motivos mais sugestivos, os serpentiformes parecem constituir o grupo menos inovador. A possibilidade, que me parece lógica, de o rio ter constituído um dos referentes materiais deste símbolo, remete para uma origem paleolítica do conceito.Na verdade, a escolha das curvas do rio ou, pelo menos, da mais acentuada delas, foi certamente obra dos primeiros “artistas” que frequentaram o Molino Manzanès (Collado, 2004). É curioso o facto de a serpente ser abundante na arte megalítica dolménica peninsular, sobretudo porque, no Alentejo Central, esta modalidade é praticamente inexistente; destacam-se, neste contexto de aparente pobreza, os possíveis serpentiformes da Anta Grande do Zambujeiro (nº3) (Rocha, 2004) . O carácter ambíguo dos símbolos, que, algumas vezes, está na origem dos desacordos interpretativos entre os investigadores, não parece ter sido acidental; trata-se, ou pelo menos parece tratar-se, de efeitos que foram intencionalmente explorados, de forma gráfica e talvez também conceptual.

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138 Na verdade, por serem formas muito básicas, estes símbolos prestam-se a leituras polissémicas que, hoje em dia, perdidos os contextos em que foram inventados, não é fácil descodificar. O machado e o báculo, o báculo e a lua, o machado e a figura humana, a lua e o corno, o olho e o Sol, são alguns dos binómios que, como se viu, não deixam de causar uma certa perplexidade.

Fig. 6.42 - Jogos gráficos com símbolos elementares, em dois logotipos recentes (2004).

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Capítulo 7: Os contextos arqueológicos

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7. O contexto arqueológico 7.1. Menires e conjuntos de menires Em termos operativos, existe alguma ambiguidade no conceito de menir: se, por um lado, um menir isolado é, só por si, um monumento completo, por outro, num alinhamento ou num recinto, o menir pode ser lido como apenas um elemento do conjunto, análogo, de certa forma, ao esteio de uma anta. Foi, aliás, com base nestes considerandos que, no volume 2, separei os menires em dois grandes grupos: monumentos compósitos - recintos e conjuntos -, por um lado, e menires isolados, por outro. Tendo escolhido como unidade de análise o menir, importa agora avaliar as diferentes formas de associação dos menires entre si e em relação a outros elementos da “paisagem megalítica”. Monumentos compósitos e menires isolados foram, por sua vez, hierarquizadadas em função do peso total estimado, tendo em conta que, com algumas correcções, esse valor deve ser directamente proporcional ao esforço investido e à própria monumentalidade dos sítios. No Alentejo Central, em que uma parte importante dos monumentos compósitos se encontra seriamente afectada, conhecem-se actualmente exemplares de algumas das principais modalidades conhecidas nas restantes regiões megalíticas da Europa atlântica, enquanto outras parecem estar definitivamente ausentes. Em boa verdade, apenas podemos garantir, de forma inequívoca, a existência de recintos e menires isolados e, com menos segurança, de pares de menires. Quanto aos alinhamentos, conhece-se apenas o caso da Tera que, em última análise, tem muito pouco a ver com a maior parte dos alinhamentos curtos ou longos, simples ou complexos, relativamente abundantes noutras áreas europeias. 7.1.1. Os recintos Os recintos

megalíticos,

tradicionalmente também conhecidos por cromeleques, são, certamente, a modalidade mais monumental e aquela que, na região, parece ter desempenhado um papel central na articulação dos restantes menires e conjuntos de menires. Como se viu (capítulo 5.2.), as plantas da maioria destes recintos, nos casos em que os respectivos estados de conservação o permitem avaliar, apresentam formas de hemiciclo ou ferradura, abertas genericamente a Nascente. Esta morfologia, que não é exclusiva do megalitismo alentejano (capítulo 11.2.2), apresenta aqui

Fig. 7.1 - Plantas de recintos megalíticos do Alentejo Central

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uma complexidade completamente original: para além dos menires que, com alguma irregularidade, definem os circuitos dos recintos, temos evidências incontestáveis da existência de menires no interior e, provavelmente no exterior, dessa linha mais ou menos imaginária. Esta aparente desordem na implantação dos monólitos, traduzida naquilo que parece, à primeira vista, uma falta de rigor geométrico é particularmente visível no recinto dos Almendres(nº 1). De facto, os menires não descrevem uma linha contínua e bem definida, como é de norma na generalidade dos recintos megalíticos europeus, quer estes tenham plantas fechadas (a maioria), quer tenham plantas abertas. Este aspecto levou Mário Varela Gomes a propor, para o caso concreto dos Almendres que é, claramente, o mais complexo de todos, a existência de duas ou três linhas paralelas de menires (Gomes, 2002), descrevendo figuras geométricas regulares (círculo e elipse) solução que, a meu ver, é demasiado forçada; isto porque, por um lado, deixa de fora um número demasiado elevado de menires cuja localização não pode ser posta em dúvida e, por outro, pressupõe outros tantos de que não foram encontrados quaisquer vestígios. Na verdade, creio que é mais razoável, com base na informação disponível, aceitar que os construtores dos recintos não tiveram a preocupação de obter uma figura geométrica pura; os menires teriam, pelo contrário, sido dispostos ao longo de uma linha mais ou menos pré-definida, em forma de ferradura, mas em que a colocação de cada menir, em concreto, admitiria alguma flexibilidade; é possível que essa operação não fosse aleatória, embora, no estado actual dos nossos conhecimentos não me pareça possível definir os critérios a que terá eventualmente obedecido. Convém recordar que, embora os vários monumentos pareçam seguir um plano básico comum, a verdade é que existem diferenças claras, entre todos eles, no que diz respeito quer às dimensões dos recintos, quer às dimensões, formas, decorações e posições relativas dos monólitos. As diferenças observadas entre os vários recintos devem-se, muito provavelmente, também a remodelações e acrescentos, numa dinâmica em que cada sítio parece ter uma história própria, a partir de um protótipo comum, concretizado, em cada caso, de uma forma “personalizada”. Os dois recintos alentejanos em que, para já, parece existir mais do que uma fase construtiva, tendo implicado alterações substantivas na fisionomia do espaço ritual, são o dos Almendres (nº 1) e o de Vale Maria do Meio (nº 2); pelo contrário, o do Vale d’ElRei (nº 15), é, pelos mesmos critérios, certamente monofásico, em termos construtivos. Quanto aos restantes, ou não dispomos de informações mínimas para avaliar as respectivas plantas originais, como acontece com todos aqueles que classifiquei

Fig. 7.2 - Proposta de faseamento da planta do recinto de Vale Maria do Meio. A linha recta, do lado Sul, (azul), seria um acrescento à ferradura (castanho).

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como indeterminados, ou possuíam, muito provavelmente, plantas complexas (com menires no interior e, eventualmente, no exterior do circuito), e, na minha opinião, provavelmente em forma de ferradura. A generalização da planta em ferradura, como modelo para a interpretação dos recintos alentejanos, comporta alguns riscos que só o desenvolvimento da investigação pode esclarecer; de momento, a comparação das plantas publicadas, nos casos melhor conservados, permitem indiscutivelmente essa leitura. Na verdade, apesar de o Vale d’El Rei ter sido, efectivamente, o primeiro dos recintos megalíticos publicados na região (Leisner e Leisner, 1956), e de apresentar uma inequívoca planta em ferradura, este aspecto foi sempre ignorado ou considerado excepcional, quando se tratou de interpretar as plantas dos restantes recintos. Para além deste esquecimento, é também um facto que, por diversas razões (dimensões, estado de conservação, história da investigação), a planta do recinto dos Almendres, aparentemente fechada, acabou também por ofuscar a leitura dos restantes recintos alentejanos. No entanto, se se admitir, como desde sempre se admitiu, embora com perspectivas diferentes (Pina, 1971; Gomes, 2002), que o actual recinto dos Almendres é o resultado cumulativo de mais do que uma fase construtiva, torna-se possível discernir, na parte superior do recinto, a planta em ferradura, coincidente, em termos de forma, proporções e de disposição cénica, com a da maioria dos outros recintos alentejanos; vejase, por exemplo, se ajustarmos as escalas, a coincidência quase perfeita com a planta do recinto do Tojal (até na posição dos respectivos “menires centrais”) (Fig. 7.3). Esta imagem permite-nos, aliás, recuperar a proposta original avançada por H.L.Pina (Pina, 1972) de que a parte inferior (oriental) do recinto dos Almendres constituía uma espécie de antecâmara de acesso, acrescentada ao recinto

Fig. 7.3 - Sobreposição das plantas do Tojal (vermelho) e

principal. Na verdade, talvez se possa considerar

dos Almendres (preto)

essa parte como uma segunda planta em ferradura irregular, integrando, no seu lado ocidental, os menires de maiores dimensões que, nas leitura tradicionais, permitiriam “fechar” a ferradura do recinto ocidental e interpretá-lo como uma elipse (menires 22,26,44,45). Sendo bastante provável que as plantas da maior parte dos recintos alentejanos sejam variações de um mesmo projecto arquitectónico baseado no arco de ferradura, com mais ou menos complexificações, uma das questões fundamentais que se nos colocam é, naturalmente, a da origem deste modelo que, como veremos (Capítulo 6), é relativamente comum na Bretanha (Scarre, 1998b) e apresenta ainda algumas sequelas nas Ilhas Britânicas (Burl, 1999). As semelhanças entre alguns recintos em ferradura bretões e alentejanos são bastante sugestivas, implicando, na minha perspectiva, contactos entre as duas áreas que, nos capítulos seguintes serão mais amplamente comentados. Em contrapartida, uma das principais diferenças entre as duas áreas reside, como acima referi, no facto

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de os grandes monumentos alentejanos apresentarem plantas mais complexas, enquanto, na Bretanha, se trata de circuitos simples, sem menires fora ou dentro de uma linha contínua, em forma de ferradura ou de arco de círculo e que, neste aspecto, se aproximam mais da aparência do recinto de Vale d’El-Rei (nº 15). Apesar das reservas a que uma tal comparação nos deve obrigar, creio que os paralelos formais mais próximos (no espaço e, eventualmente, no tempo), para as plantas em ferradura dos recintos alentejanos, se encontram nos concheiros do Tejo e do Sado. A escavação do concheiro mesolítico da Moita do Sebastião, no estuário do Tejo (Roche, 1960: 92), revelou os restos de uma estrutura formada por cerca de 70 buracos de poste, com uma planta em arco de círculo, aberta a Sul, a qual foi considerada uma das “mais bem conservadas estruturas habitacionais do Mesolítico até agora conhecidas a nível europeu” (Arnaud, 1987: 53). Apesar de o escavador a ter interpretado como os restos de uma cabana (Roche, 1960: 99), a verdade é que existem vários aspectos que permitem pensar em funções e, eventualmente, morfologia alternativas. As dimensões da estrutura não parecem facilmente compatíveis com a existência de uma cobertura, o que levou J. Arnaud a reinterpretá-la como um “quebra-vento” que serviria apenas de protecção em relação aos ventos dominantes (Arnaud, 1987: 53). Resta ainda a questão da acumulação de buracos de poste, que se verifica principalmente no lado ocidental da estrutura e que chega a dar à “parede”, deste lado, uma “espessura” de cerca de 2 m, sendo pouco plausível a proposta de Jean Roche de que se trataria do resultado de restauros e substituições de postes da suposta cabana (Roche, 1960: 99); além disso, parece incontornável uma certa contemporaneidade

Fig. 7.4 - Planta composta das estruturas e enterramentos da Moita do Sebastião (Seg. Arnaud, adaptado)

e articulação entre os buracos de poste (e, obviamente, dos postes que estes contiveram) e os enterramentos, os quais, de uma forma igualmente irregular, parecem prolongar os “braços” da estrutura. Nada obsta, à partida, a que se considere a estrutura como um espaço de carácter ritual, relacionado, de alguma forma, com as próprias sepulturas: o conjunto poderia, logo à partida, ou por acrescentos sucessivos, ter desenhado um padrão em ferradura, mas com postes lado a lado, de forma aparentemente anárquica, criando uma cenografia semelhante àquela que se pode observar na parte ocidental do recinto dos Almendres. A utilização simbólica da forma em ferradura nos rituais funerários está, aliás, bem patente no Vale do

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Sado. Com efeito, o concheiro de Vale de Romeiras, nas proximidades do Cabeço do Pez, foi, ao que parece, integralmente escavado e, numa área muito contida de cerca de 30 m 2 , foram descobertos os restos mortais de 25 indivíduos, dispostos em arco de círculo, desta vez aberto a SE, e intercalados com blocos de concreções calcárias (Arnaud, 1999). A estabelecer um nexo cronológico entre os dois sítios, estão as datações radiocarbónicas que, tanto na Moita do Sebastião como no Vale de Romeiras apontam para momentos que são, em ambos os casos, dos mais antigos no Mesolítico dos respectivos estuários, caindo ambas dentro da primeira metade do VI milénio a.C. A disposição das sepulturas em arco de ferradura parece observar-se igualmente no concheiro mesolítico escandinavo de Skateholm II, com uma abertura muito canónica, a SE, uma notável concentração no lado ocidental e uma implantação numa encosta exposta a Sul (Larsson, 1990); note-se que, nesta necrópole, pelo menos um dos enterramentos, a Sepultura 20, era assinalada por um grande poste de madeira. De uma forma menos explícita, os enterramentos do concheiro de Bogebakken, na Dinamarca (Tiley, 1996: 38,39), concentram-se numa encosta exposta a Sudeste e poderiam teoricamente apresentar uma disposição

Fig. 7.5 - Planta dos enterramentos de Vale das Romeiras (Seg. Arnaud, adaptado)

semelhante. Note-se que, neste caso, se definiu uma área de habitat a jusante da necrópole. Estamos, em todo o caso, perante realidades mais tardias, embora manifestamente conservadoras; as eventuais convergências com o Tejo/Sado implicariam a continuidade de práticas rituais a partir de um fundo comum de que os enterramentos em concheiros, só por si, já seriam um bom testemunho. Em Téviec, cuja planta parece pouco organizada, os escavadores anotaram que “na origem, o habitat-necrópole de Téviec apresentava-se com o aspecto de uma série de

Fig. 7.6 - Planta dos enterramentos do concheiro de Skateholm II (Seg. Larsson, 1990)

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‘cairns’ sobreelevados marcando a localização das sepulturas” ((Péquart et al., 1937: 25), o que sugere que estas necrópoles, por muito que estivessem imbricadas no espaço habitacional, terão funcionado como verdadeiros monumentos, visíveis na paisagem. É um facto que os estudos sobre o Mesolítico, foram muito marcados, nas últimas décadas, pela agenda da Nova Arqueologia. Depois de uma fase primordial, em que os enterramentos atraíram toda a atenção, no âmbito da antropologia física, mas igualmente do ritual funerário, os aspectos rituais foram relegados para segundo plano, ou mesmo totalmente ignorados, a favor de perspectivas mais ou menos funcionalistas, circunscritas aos domínios tecnológicos, económicos, demográficos ou ecológicos. É também certo que os concheiros do Tejo e do Sado constituem um manancial de informação preciosa, sobre diversos aspectos da vida quotidiana das populações que os produziram; no entanto, subsistem muitas dúvidas sobre a forma como foram “construídos” e utilizados, tanto mais que os vestígios inequívocos de habitat praticamente não existem, enquanto a utilização dos amontoados de restos de cozinha (e não só), nos espaços funerários, está sobejamente atestada. É possível que os povoados propriamente ditos fossem constituídos, não exactamente por cabanas, mas por tendas - o que tornaria mais compreensível a invisibilidade arqueológica das verdadeiras estruturas de habitat – e, por outro lado, que as acumulações de detritos domésticos, eventualmente organizadas de forma intencional e culturalmente determinada, se localizassem junto dos povoados (Tilley, 1996), mas não necessariamente sobrepostas ou infrapostas, como implicitamente se tende a admitir. A estruturação dos enterramentos em arco de círculo, no caso de Vale de Romeiras, ou articulados com um arco de círculo definido por postes de madeira, como na Moita do Sebastião, podem servir de pistas ou de pretextos para uma discussão sobre o significado funcional dos recintos megalíticos, o que procurarei aprofundar, dentro do possível, no capítulo 12. Por enquanto, são raros os concheiros extensivamente escavados, pelo que, com o avançar da investigação, é de esperar a descoberta de outros paralelos e, eventualmente, outras modalidades de organização formal do espaço funerário mesolítico; note-se, aliás, que na escavação do concheiro das Poças de S. Bento, no vale do Sado, foram detectadas “algumas estruturas, que podem ser interpretadas como buracos de poste” embora “as áreas até agora escavadas” não sejam “suficientemente amplas para permitirem detectar qualquer padrão bem definido” (Arnaud, 1999: 29). A eventual relação, de carácter genético ou não, entre os menires e os postes de madeira, é praticamente um topos na literatura arqueológica e etnográfica (Giot et al., 1998: 512; Burl, 1999: 85-97; Cassen et al., 2000: 196; 198; 345; Bradley, 2002: 97). Na verdade, existem casos bem definidos (e outros nem tanto), em que estruturas rituais construídas com postes de madeira parecem preceder ou acompanhar o aparecimento de verdadeiros menires, como são, por exemplo, os de Stonehenge ou dos alinhamentos de Saint-Just. No primeiro caso, as escavações levadas a cabo, junto ao monumento, no local onde tem funcionado, nos últimos anos, o parque de estacionamento para os visitantes, permitiram descobrir estruturas compostas por buracos de poste, de cronologia mesolítica, cuja relação com o monumento posterior é discutível, mas sugestiva (Cleal et al., 1995). No caso de Saint-Just, no contexto de uma sequência muito complexa revelada por escavações

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em área, verificou-se que os menires eram apenas a parte visível de um conjunto de realidades em que, segundo o escavador, se incluiriam postes de madeira (Le Roux, 1999: 215). Um caso particualrmente interessante é o do monumento de Lannec er Gadouer, em Erdeven, Bretanha, em que, na sequência de uma ocupação mesolítica do sítio, terá sido construído um semi-círculo de postes de madeira que viria, noutra fase, a ser substituído por uma estrutura funerária com esteios de pedra, sendo todo o conjunto coberto por um tumulus de planta trapezoidal (Cassen et al, 2000: 344-346).

Fig. 7.7 - Proposta de faseamento do monumento funerário de Lannec er Gadouer (fases 4 -7) (seg. Cassen et al., 2000: 345).

Em Itália, no complexo de Aosta, um alinhamento de postes precedeu e, aparentemente, condicionou a orientação e a própria localização dos alinhamentos de menires (Mezzena, 1998). As gravuras em baixo-relevo que ocorrem quase exclusivamente nos menires e, sobretudo, nos da Bretanha, do Alentejo e do Algarve, poderiam ser réplicas em pedra, de técnicas eventualmente desenvolvidas, numa primeira fase, no trabalho da madeira. Recordemos que, nos estuários do Tejo e do Sado, não existia matéria-prima para a construção de monumentos megalíticos, pelo que, não seria de estranhar o uso da madeira, como o substituto mais viável.

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Por outro lado, a ideia de uma filiação mesolítica para o megalitismo atlântico também não é, ela própria, nada original; na verdade, vários autores têm sugerido uma génese das sepulturas megalíticas bretãs (aquelas que, por enquanto, detêm, à escala europeia, o recorde de antiguidade) em algumas das sepulturas mesolíticas, com estrutura pétrea, de Téviec (Sherratt, 1990; Scarre, 1992; Thorpe, 1996). Também as mamoas que, melhor ou pior conservadas, constituem uma constante na maior parte dos monumentos funerários neolíticos (megalíticos ou não), têm sido relacionadas com os amontoados de restos de cozinha e terra que cobriam as necrópoles mesolíticas (Sherratt, 1995: 247). Note-se também que a utilização de terra transportada a partir dos povoados para os locais de enterramento, apesar de surpreendente, parece ser uma prática que se conservou, entre nós, até à Idade do Bronze (Silva e Soares, 1981: 159). Finalmente, tem ganho terreno, nos últimos anos, a ideia de que algumas sociedades do final do Mesolítico, com estruturas sociais complexas, como seriam, por definição, as dos concheiros do Tejo e do Sado, teriam, no contexto de um forte incremento da territorialidade e da sedentarização, e baseadas numa economia bem sucedida, de largo espectro, iniciado comportamentos, na esfera do simbólico, que podem ter incluído, eventualmente, a construção de monumentos (Bradley, 1993). A mesma argumentação, baseada na assunção de que a complexidade social não é, necessariamente, um derivado da economia neolítica, foi recentemente, aplicada a datas mais antigas, epipaleolíticas, ou, no mínimo, do Mesolítico inicial, para explicar o aparecimento dos menires, ainda no VII milénio a.C. (Calado et al., 2004). A propósito das plantas dos recintos alentejanos, escrevi recentemente que “a forma de ferradura, ou de semi-círculo, corresponde a uma disposição básica do habitat humano, aplicada em tendas e abrigos desde o paleolítico e até mesmo na maneira com um grupo humano se dispõe à volta de uma fogueira (Binford, 1991)” (Calado, 2004). Trata-se, além disso, de uma geometria apropriada à cenografia de alguns actos sociais e políticos, como demonstram os nossos hemiciclos parlamentares... Na verdade, no contexto do megalitismo funerário, as sepulturas abertas, em forma de ferradura, de que as antas de corredor parecem ser um desenvolvimento conceptual e arquitectónico, poderiam, de certa forma, ter recuperado preceitos mais antigos. Fora da região e de uma forma transversal, poderíamos trazer também à colação os recintos semi-circulares dos povoados com fossos das Tavoliere, com finalidades basicamente habitacionais, os “C-compounds”, ou estruturas rituais como os “Heel Shaped Cairns” escoceses, ou mesmo os monumentos, à primeira vista análogos, conhecidos no Norte de África Fig. 7.8 - Recinto ritual, em forma de ferradura orientada a ESE, (Milburn, 1976). dos índios Keres (Novo México) Note-se que, à excepção dos “C(seg. Snead e Preucel, 1999: 183, adaptado).

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compounds” italianos, os outros apresentam, com marcada regularidade, orientações a Nascente/Sul, situação que voltamos a encontrar em contextos etnográficos insuspeitos de contactos com as realidades aqui em estudo, como é o caso dos altares em forma de ferradura dos Kere, no Novo México (Fig. 7.8) (Snead e Preucel, 1999: 183), ou das arquitecturas elementares dos Bamangwato e dos Basarwa, no Botswana Fig. 7.9 - Recinto em forma de ferradura, (Fig. 7.9); estas últimas foram, aliás, já dos Bamangwato, no Botswana comparadas às estruturas da Moita do (seg. Fewster, 1999: 183). Sebastião (Fewster, 1999:194). A planta em ferradura dos recintos alentejanos carece, na maior parte dos casos, de confirmações indiscutíveis, tanto mais que, como se viu, alguns monumentos sofreram acrescentos e/ou alterações estruturais. No entanto, as reconstituições dos recintos como monumentos fechados, de plantas circulares, ovais ou elípticas, são, na minha opinião, um tanto forçadas e, provavelmente, influenciadas pelo facto de “as formas mais comuns das plantas dos cromeleques europeus” serem “o círculo e a elipse” (Gomes, 2002: 168); o próprio recinto do Vale d’El Rei (nº 15) foi interpretado como tendo “planta em forma de elipse assimétrica,”

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Fig. 7.10 - Propostas de reconstituição de recintos do Alentejo Central. 1: Almendres; 2: Portela de Mogos; 3: Vale Maria do Meio; 4: Cuncos; 5: Vale d’El Rei; 6: Fontaínhas (seg. Gomes, 2002: fig. 163).

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apesar de se admitir a possibilidade alternativa de ter tido “ inicialmente planta em forma de ferradura (Gomes, 2002: 170). Para além das plantas em forma de ferradura, abertas a Nascente, os recintos alentejanos, apresentam, quase todos, outras características comuns, em termos das respectivas estruturas internas, nomeadamente: 1. a maior monumentalidade nas cotas mais altas (no lado ocidental). Esta particularidade, que, como veremos, tem uma certa analogia com a disposição dos menires nos alinhamentos de Carnac e em Stonehenge, não se verifica, no entanto, no recinto paviense de Vale d’El Rei; 2. a existência de um menir “central”, de maiores dimensões, anicónico, geralmente acompanhado por outros monólitos, no interior do recinto, aspecto em que também o monumento do Vale d’El Rei é, manifestamente, uma excepção. O menir central ocorre sempre no lado ocidental do recinto, quase sempre com um ligeiro desvio para Norte. Uma nota final para o recinto do Xarez (nº 6), cuja forma quadrangular não pode, tanto quanto sabemos, ser aceite sem profundas reservas. Os argumentos aduzidos por Mário Varela Gomes em defesa da reconstituição produzida por Pires Gonçalves, são claramente insuficientes (Gomes, 2000b). Na verdade, o único alvéolo sobre cuja identificação parece não restarem dúvidas é o do menir central; todo o resto foi baseado em observações certamente cuidadosas, mas insuficientemente escoradas em dados objectivos. É verdade que a forma quadrangular tem alguns raros paralelos noutros contextos megalíticos europeus e que, por isso, não é legítimo afastar rotundamente essa possibilidade; note-se, porém, que um dos paralelos invocados, o do recinto de Crucuno, teria, segundo parece (Le Roux, 1999: 217), sofrido um restauro abusivo, e, em vez de um rectângulo regular, teria provavelmente, uma forma trapezoidal irregular.. Quanto ao Xarez, apenas com base nos factos conhecidos, seria sempre arriscado tomar como genuína uma Fig. 7.11 - Planta de Crucuno, anterior ao restauro (seg. Le Roux, 1999: 217) tal reconstituição, tanto mais que os dois lados paralelos e equidistantes, em relação ao menir central, em que Pires Gonçalves se terá baseado (Gomes, 2000b: 26, 28) poderiam ser os restos dos braços de uma planta em ferradura. É curioso o facto de o conjunto de pequenos menires (Xarez 2, nº 25), referenciados por Pires Gonçalves, a escassas centenas de metros do recinto do Xarez, terem gravados como temas únicos, embora com ligeiras variantes, o círculo e a ferradura. A forma dos menires não é concordante com o padrão dos menires pré-históricos do Alentejo Central ou, para fazer uma comparação mais próxima, dos do recinto do Xarez (nº 6). Morfologicamente, poderiam, com mais verosimilhança, aproximar-se das fórmulas utilizadas na necrópole da Tera e remeterem para um fenómeno tardio, eventualmente sidérico; não faltam, na área envolvente, os sítios do Bronze Final e da I Idade do Ferro, nem sequer temos razão para duvidar do

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interesse que, nessa época, terão suscitado os monumentos megalíticos, como se pode comprovar, a poucos quilómetros, com o caso da Belhoa (Gomes, 1997a), uma necrópole sidérica, de incineração, descoberta junto de uma anta e de um magnífico menir decorado. Os círculo e as ferraduras do Xarez 2 (nº 25), gravados em sulcos profundos, tampouco se aproximam graficamente das outras gravuras conhecidas, em menires, apesar de se tratar de temas (sobretudo o círculo) bastante recorrentes.

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7.1.2. Relações espaciais entre recintos A escolha dos locais de implantação de alguns recintos megalíticos parece ter sido feita em função de outros monumentos pré-existentes; embora seja conveniente, nesta matéria, manter, pelo menos por enquanto, uma atitude prudente, tudo leva a crer que a distribuição dos menires (e das antas) não constitui um palimpsesto, em que os novos textos ignoram tudo sobre os anteriores, fazendo deles tábua rasa. Atendendo ao facto de alguns recintos e menires se terem mantido erectos até praticamente aos nossos dias - Courela dasCasas Novas (nº 48), Vale d’El-Rei (nº 15), Vale de Besteiros (nº 39) ou mesmo S. Sebastião (nº 8) - e que, pelo menos alguns outros, parecem ter sido utilizados até à Idade do Ferro, a acumulação de novos monumentos megalíticos terá funcionado no contexto de uma monumentalização consciente das paisagens, de acordo com os diferentes tempos e modos de ocupação dos territórios. O conceito de par de recintos, proposto por Pedro Alvim para a área de Évora/Montemor-o-Novo (Alvim, 2004) exigiria, se aplicado ao resto do Alentejo Central, alguma flexibilidade; em todo o caso, é evidente que casos como Portela de Mogos/Vale Maria do Meio, Cuncos/Sideral, ou Tojal/Casas de Baixo, deixam supor uma relação de qualquer tipo que não pode, em princípio, ser acidental. É verdade que as “geminações” de recintos podem ter assumido formas muito diversas, tanto mais que, como já vimos, não existem dois monumentos iguais. No caso específico da Portela de Mogos (nº 4) e do Vale Maria do Meio (nº 2), localizados a pouco mais de 1 Km um do outro, é de sublinhar o facto de o prolongamento para Este, da linha formada pelos dois recintos, passar pelo menir da Casbarra 1 (nº 31) e pelo menir do Mauriz (nº 38), dois dos maiores menires isolados desta área, e de essa linha poder ter, eventualmente, um significado astronómico, (Calado e Rocha, 1996; Silva e Calado, 2004), possibilidade a que voltarei a fazer referência, no capítulo 8. No mesmo círculo geográfico, o recinto dos Almendres (nº 1) assume, também nesta matéria, foros de excepcionalidade, uma vez que não se conhece, nas suas proximidades imediatas, nenhum outro recinto megalítico. Já em Pavia, onde existem dois recintos megalíticos, Fontaínhas (nº 11) e Vale d’El Rei (nº 15), as distâncias entre eles são muito superiores àquelas que separam os restantes pares de recintos, embora, não sendo intervisíveis, pareçam demarcar um território bastante coerente. Por outro lado, em Reguengos de Monsaraz existem relações muito sugestivas, em termos de proximidade, contacto visual e, eventualmente, relação com a paisagem, nos recintos muito mal conhecidos dos Perdigões (nº 13), Monte da Ribeira (nº 9) e Capela (nº 87), enquanto o monumento do Xarez (nº 6) aparece desgarrado dentro do área megalítica de Reguengos. Na verdade, se dermos crédito à possibilidade de alinhamentos, de base arqueoastronómica, entre monumentos não intervisíveis (Giot, 1988: 322), o Xarez poderia, conforme já tive ocasião de anotar (Calado e Rocha, 1996), constituir, com os Almendres, um par de recintos muito sui generis.

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7.1.3. Recintos e menires isolados Para além destas relações, aparentemente não aleatórias entre alguns recintos megalíticos, existem também algumas situações em que os menires isolados parecem associados espacialmente a recintos megalíticos. Um exemplo, já clássico, em que um grande menir isolado pode ser (e tem sido) relacionado com um recinto megalítico, é precisamente o do menir do Monte dos Almendres (nº 32), que estabelece um alinhamento solsticial com o recinto dos Almendres (nº 1) (da Silva, 2000: 115; Alvim, 1996-1977: 16). No caso do Tojal (nº 5)/Casas de Baixo (nº 12), a articulação entre os dois recintos, seja ela de que natureza for, é fortemente sublinhada pela interposição, exactamente na mesma linha, do menir do Monte do Tojal (nº 57) (Calado, 2003b). A orientação do conjunto não se enquadra nos azimutes astronómicos reconhecidos; no entanto, o alinhamento observado ajusta-se, de uma forma bastante clara à orientação do relevo, aspecto que, como veremos, se aplica também aos monumentos da Herdade da Tera, em Pavia Monte da Tera (nº 74), Tera (nº 14) e Vale d’El Rei (nº 15). Em Montemor-o-Novo, o conjunto formado pelo recinto de Cuncos (nº 7), pelo menir das Casas Novas (nº 48) e pelo menir do Sideral (nº 42) foi igualmente considerado significativo e foi-lhe mesmo atribuída uma implicação arqueoastronómica (Gomes, 1986); descartada, como se viu, essa interpretação, permanece o facto de que estes três monumentos, a que há que somar o menir da Sobreira e o recinto do Sideral, para além dos dois menires do Monte do Álamo (nº 18) (estes, um pouco mais afastados), formam um cluster muito definido, em que, numa base diversa da que foi anteriormente ensaiada, talvez seja legível uma sequência, conjugando a estrutura da paisagem terrestre e, pelo menos, um evento celeste importante. Num primeiro momento, teríamos o menir do Sideral, instalado em função do festo e do relevo (trata-se do ponto mais destacado, topograficamente, num raio visual muito extenso); marcada, deste modo, a área, teríamos, de seguida, o recinto de Cuncos, orientado pelo cabeço de Montemor-o-Novo, alinhado a 100 º, e, finalmente, a posição destes dois, teria sido utilizada para a implantação dos restantes. Também em Pavia, o grande menir cilíndrico da Caeira (nº30) parece estabelecer uma associação espacial significativa com os recinto de Vale d’El-Rei, o mais próximo, e o das Fontaínhas (nº 11), a uma distância já considerável. Na verdade, os três monumentos materializam, à semelhança da maioria dos restantes conjuntos, uma relação genericamente equinocial, com o habitual desvio para Sul. Embora os dados sejam muito escassos, A seqeência cronológica mais plausível, seria, de Oeste para Leste, Fontaínhas, Vale d’El Rei e Caeira. 7.1.4. Os pares de menires A confirmação do menir 2 de S. Sebastião (as primeiras referências só consideraram o menir 1 como indiscutível) (Burgess, 1987: 40) abriu caminho à identificação de uma modalidade, de que havia já alguns raros indícios, mas que nunca tinham chamado a atenção dos investigadores: os pares de menires. Trata-se de monumentos muito frequentes nas Ilhas Britânicas e, um pouco menos, também na Bretanha, cuja característica mais notável é o dimorfismo acentuado entre os dois monólitos (Burl, 1993: 181-202); este aspecto é muito notório no par de S. Sebastião, em que o menir 1 é cilíndrico, de silhueta esguia, e, em

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contrapartida, o menir 2 é ovóide e muito volumoso. Convém recordar que, sem intervenções arqueológicas específicas, é sempre possível que os pares de menires sejam apenas o que resta de arranjos mais complexos; por isso, é sempre com algumas reservas que se poderiam incluir os menires do Monte do Álamo (nº18) ou da Pedra Longa (nº 16) dentro desta categoria, embora também nestes dois casos, os menires que os compõem sejam morfologicamente diferenciados. Os pares de menires da Lucena e da Abaneja (hoje desaparecido) são certamente monumentos de outra natureza. As formas angulosas, as dimensões modestas e o facto de serem blocos muito semelhantes entre si, exigem outras explicações (e, eventualmente, segundo creio, outras cronologias) que, só a escavação poderia, com sorte, vir a sustentar. O “par” do Monte das Flores (nº 23), proveniente de um local onde, à superfície, existem indícios de uma necrópole da Idade do Ferro, deve, por comparação com o monumento paviense da Tera (nº 14), ser o que resta de um monumento funerário previsivelmente mais complexo. 7.1.5. Os alinhamentos O único alinhamento inequívoco, no Alentejo Central, é, efectivamente, o do monumento da Tera, cuja cronologia sidérica é, actualmente, um dado inquestionável. No entanto, é possível que os três menires do Carrascal (nº 17), no Redondo, sejam também eles parte de um alinhamento destruído; na verdade, os monólitos formam uma linha bastante credível, embora só um deles (menir 3) pareça estar in situ. É igualmente sugestivo o facto de a linha que definem apontar para o cume mais alto da serra d’Ossa, o do S. Gens, cuja silhueta se recorta no horizonte, a Norte do Carrascal. 7.1.6. Os menires isolados Os menires isolados constituem, como se compreende, o conjunto mais heterogéneo e mais difícil de avaliar. Extrapolando as óbvias lacunas presumíveis em boa parte dos recintos, é praticamente certo que muitos menires isolados desapareceram sem deixar rasto. As relações entre menires isolados resumem-se, quase todas, a uma articulação, aparentemente difusa, com áreas geográficas discretas. As eventuais relações “programadas” entre os menires isolados, se existiram, não foram, por enquanto, tornadas perceptíveis. 7.2. Menires e monumentos funerários Em termos muito gerais, é possível afirmar que, no Alentejo Central, existe uma certa coincidência entre as áreas com menires e as principais manchas de megalitismo funerário, tanto mais que umas e outras se relacionam intimamente, como veremos, com a distribuição das rochas granitóides na região (Fig. 7.12). Nesta escala, não deixa de ser notável a coincidência entre a grande mancha dolménica alentejana e a distribuição dos menires e recintos; uma certa coincidência verifica-se, aliás, também noutras áreas peninsulares. Porém, numa escala mais detalhada, esta imagem revela-se, pelo menos em alguns casos mais significativos, bastante enganadora. Em Évora, os três grandes recintos megalíticos e muitos dos menires que com eles se podem relacionar espacialmente - S. Sebastião (nº 8), Monte dos Almendres (nº 32), Vale de Cardos (nº 35), Veladas (nº 36),

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Azinhal (nº 33), Esbarrondadouro (nº 53), Casbarra (nº 31), Mauriz (nº 38) - parecem demarcar um território onde, como veremos, se concentram os povoados mais antigos e onde são raras as evidências de megalitismo funerário (Fig. 7.13), apesar de estas estarem muito bem representadas nas áreas imediatamente adjacentes. Em Reguengos de Monsaraz, são sobretudo o recinto do Xarez (nº 6) (Fig.7.14) e, em menor grau, o dos Perdigões (nº 13) que aparecem bastante isolados em relação às principais concentrações de antas. Os recintos de Cuncos (nº 7) e Sideral

Fig. 7.12 - Distribuição das sepulturas megalíticas, na Península Ibérica (seg. Oliveira, 1997: 57)

(nº10) e os menires que os rodeiam (Fig. 7.15), ocupam o centro de um território virtualmente vazio de megalitismo funerário, com uma única excepção que confirma a regra, a anta da Sobreira, monumento muito especial por integrar, aparentemente, um grande menir na sua construção. O mesmo se passa, segundo parece, com o recinto das Fontaínhas (nº 11), na área de Pavia (Fig. 7.16). No entanto, no núcleo montemorense do Tojal (nº 5) ou, em Pavia, na área de Vale

Fig. 7.13 - Monumentos funerários na área envolvente dos recintos de Évora;1: Almendres; 2: Vale Maria do Meio; 3: Portela de Mogos.

d’El-Rei (nº 15), o panorama difere substancialmente: nos dois casos, existem monumentos funerários, de diferentes tipos, nas áreas envolventes dos recintos, sugerindo fenómenos de monumentalização cumulativa das paisagens. Existem, por outro lado, alguns indícios que apontam para a utilização ou a reutilização de menires na construção de antas. Trata-se, em quase todos os

Fig. 7.14 - Monumentos funerários na área envolvente do recinto do Xarez.

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casos, de blocos que, apenas por razões morfológicas se podem classificar como menires. O mais interessante, por ser o mais seguro, é o do menir de Vale de Rodrigo 1 (nº 46), hoje ligeiramente deslocado, mas que deveria originalmente estar implantado junto à entrada do corredor do monumento funerário, encaixando, por isso, perfeitamente, no clássico conceito de menir indicador; menos canónicos, em termos

Fig. 7.15 - Monumentos funerários na área envolvente do recinto de Cuncos.

morfológicos, os menires da Correia (nº 41), o “menir” 6 e, de forma menos óbvia, o “menir” 7 da Anta do Zambujeiro (nº 3), parecem inserir-se igualmente nesta categoria. Note-se que, na Bretanha, junto à entrada do corredor do dolmen das Pierres Plates ergue-se também um monólito paralelipipédico. Todos os outros casos correspondem a monólitos, mais ou menos meniróides, inseridos, como esteios da câmara, nas próprias estruturas das antas, como acontece

Fig. 7.16 - Monumentos funerários na área envolvente do recinto das Fontaínhas.

com a anta da Sobreira, em que o possível menir se conserva intacto, ou com as antas do Escoural (nº 54) ou da Mitra 2 (nº 55), em que os monólitos suspeitos se apresentam ambos amputados e reutilizados no lado norte da estrutura. Um outro grupo, menos sugestivo, é constituído por antas com monólitos esguios que funcionam como pilares, como se observa na anta do Zambujeiro (menires 1 a 5) e na das Cabeças (nº 64), com inúmeros paralelos, fora da presente área de estudo. 7.3. Menires e vestígios de habitat A contextualização arqueológica dos menires do Alentejo Central, indispensável para uma leitura integrada dos monumentos, foi, desde a raíz, uma das prioridades deste trabalho e aquela que, na prática, exigiu maior investimento de tempo e recursos; na verdade, os cerca de 2500 sítios listados, para além de representarem um manancial que, neste trabalho, fica longe de ser esgotado, fazem, para já, da região, uma das melhor conhecidas, no que diz respeito sobretudo à cartografia dos vestígios de habitat das primeiras sociedades

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Fig. 7.17 - Povoados do Neolítico antigo, na área de Évora.

camponesas. Convém recordar que, ao elevado volume de dados de natureza superficial cuja informação, em muitos casos, é de “baixa intensidade”, se juntam os resultados de escavações de emergência (a maioria) e uma ou outra integrada em projectos de longo curso. Penso que tentar compreender aspectos como as dinâmicas do povoamento das sociedades neolíticas, apenas através dos vestígios de habitat, omitindo o capítulo da monumentalidade megalítica, equivale a estudar o Egipto sem fazer referência às pirâmides ou a sociedade medieval sem contemplar as catedrais. Mutatis mutandi, o estudo dos monumentos exige uma avaliação, obviamente ponderada, dos vestígios arqueológicos que, apesar de serem, por norma, muito mais discretos, são o reflexo dos comportamentos e das opções, em diversos domínios, dos respectivos construtores e utentes. A distribuição dos menires alentejanos apresenta uma concentração sem paralelos numa área relativamente compacta (Mapa 2), com cerca de 15 Km de diâmetro, localizada a Oeste de Évora, onde, em termos regionais, ocorre igualmente a maior densidade de sítios de habitat com cerâmicas decoradas e/ou indústrias micro-laminares (Estampas 1-15; 18; 20, nº1,2,3,5; 21; 22; 23, nº1; 24), atribuíveis ao Neolítico antigo/ médio (Mapas 3 e 5). De entre estes, destaca-se, de várias formas, mas sobretudo por ter sido recentemente objecto de um estudo aprofundado, o povoado da Valada do Mato (nº1119) (Diniz, 2004). Na verdade, se alargarmos ao resto da área de estudo a comparação entre a intensidade da fenómeno menírico (sobretudo se avaliada em função do peso dos monólitos) e a intensidade do povoamento atribuível ao Neolítico antigo/médio, verifica-se igualmente uma clara correlação entre as duas manchas, destacandose, a seguir a Évora, a área megalítica de Reguengos de Monsaraz. Por outro lado, na lista relativamente extensa de sítios de habitat que, por ausência de dados mais específicos, atribuí genericamente ao Neolítico/Calcolítico, é natural que uma boa parte se venha igualmente a poder

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atribuir ao Neolítico antigo/médio; efectivamente, aqueles sítios, geralmente com escassos materiais de superfície, apresentam, a Oeste de Évora - e também na área de Reguengos(Estampa 19; 23, nº2) - uma maior frequência de artefactos ou restos de talhe em sílex (Mapa 6), material que, só por si, parece ser um indicador de antiguidade na sequência neolítica regional. Mesmo os achados avulsos reforçam esta imagem global, ocorrendo, com mais frequência, nas áreas mais ricas em menires, os artefactos e os restos de talhe de sílex (Mapa 11), e com menos intensidade relativa, os percutores ou a pedra polida (Mapas 9 e 10). É igualmente notável, pela negativa, a escassez de sítios de habitat do Neolítico final ou do Calcolítico, nas áreas onde ocorrem, por um lado, as maiores concentrações de menires e, por outro, as manchas mais significativas de vestígios de habitat do Neolítico antigo/médio. Esta ausência é particularmente notória na “Baixa do Xarez” ou no triângulo Almendres/Portela de Mogos/Évora. Fora destes dois principais núcleos de menires alentejanos, a presença de vestígios de povoamento do Neolítico antigo/médio está relativamente bem definida, junto ao recinto de Cuncos (Fonseca, 1987: 179), enquanto nas áreas do Tojal (Estampas 16 e 17) ou de Pavia (Calado, 2001: 230, nº14) essas evidências, embora existam, são muito pouco expressivas. Se, em termos gerais, a imagem resultante é relativamente clara, continua a ser muito difícil tentar estabelecer vínculos entre monumentos e povoados concretos. As relações de proximidade entre os recintos de Cuncos (nº 7), dos Almendres (nº 1), do Vale Maria do Meio (nº 2), dos Perdigões (nº 13), ou até mesmo do Xarez (nº 6), e os povoado adjacentes ou, pelo menos, localizados nas proximidades imediatas, são certamente sugestivas; seria, porém, necessário, dispor de cronologias finas que, infelizmente, não existem. Em todo o caso, parece lógico, atendendo aos recursos humanos necessários para a construção dos menires e, sobretudo, dos recintos, que esta fosse obra de comunidades dispersas por vários povoados e não apenas dos habitantes de um qualquer povoado individual; a ideia de uma congregação de esforços intercomunitários, com laços que a construção dos monumentos reforçaria, foi igualmente proposta no contexto de outros monumentos neolíticos europeus (Edmonds, 1999). Apesar de um ou outro caso menos explícito, como é o caso dos Perdigões (nº 13) e eventualmente da Pedra Longa (nº 16), não podemos falar de coincidência espacial entre os menires e os povoados; pelo contrário, a imagem que se impõe é a de que, em termos gerais, os presumíveis povoados dos construtores e utilizadores dos monumentos se localizam nas proximidades mas não nos próprios locais de implantação desses mesmos monumentos. Neste aspecto, os menires alentejanos diferem substancialmente do padrão observado no Algarve ocidental, em que se chegou a falar de “povoados com menires” (Gomes e Cabrita, 1993; David Calado, 2000b; David Calado et al., 2004) embora a eventual discrepância cronológica entre uns e outros possa matizar esta leitura. 7.4. Menires e arte rupestre Até à descoberta recente do complexo rupestre do Alqueva, eram raras e, à primeira vista, irrelevantes para os objectivos deste trabalho, as manifestações de arte rupestre no Alentejo Central, exceptuando, até

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Fig. 7.18 - Painéis com cruciformes; 1: Penedo da Almoinha (seg. Zbiszewski et al, 1977: 41); 2, e 4: Pedra das Gamelas (seg. Correia, 1921: 103, 104); 5, 6: Pedra da Talisca (seg. Correia, 1921: 106).

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2 Fig. 7.19 - Rochedos com cruciformes; 1: Pedra das Taliscas (seg. Correia, 1921: La. XXVIII, 1); 2: Pedra das Gamelas.

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Fig. 7.20 - Rochedos com cruciformes; 1: Penedo das Almoinhas; 2: Pedra da Loba.

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certo ponto, as pedras com covinhas. No entanto, a maior parte das covinhas são, aparentemente, tardias em relação aos menires e ocorrem praticamente em todos os contextos geológicos, nomeadamente nos xistos onde, como veremos, estão ausentes, por regra, os menires e os povoados do Neolítico antigo. Na verdade é a partir do Neolítico final e, sobretudo, do Calcolítico que as covinhas surgem, embora com pouca frequência, em contextos mais ou menos controláveis, nomeadamente povoados e sepulturas. A escavação, actualmente em curso, do povoado de S. Pedro (nº1452), no Redondo, permitiu contabilizar um número elevado de blocos soltos decorados com covinhas, inseridos ou não nas construções, (Rui Mataloto, inf. pessoal). Por outro lado, é notória a ausência de covinhas, no território balizado pelos recintos dos Almendres (nº1), Vale Maria do Meio (nº2) e Portela de Mogos (nº 4), enquanto nos territórios adjacentes, onde se localiza a maioria das antas da região, esse tipo de gravuras surge com alguma pujança (Calado e Bairinhas, 1994). Os painéis com cruciformes, que constituem um grupo temática e espacialmente muito coeso, a que se acrescentou recentemente a Pedra da Loba (nº374), no concelho de Arraiolos (descoberta pelo Dr. Francisco Bilou), balizam uma área quase sem menires - exceptua-se o menir do Alto da Cruz ( nº 71), nem monumentos funerários, localizada entre as grandes áreas megalíticas de Pavia, a Nordeste, e de Arraiolos/Évora, a Sudoeste. Esta discrepância notória em relação à distribuição espacial das antas e dos menires poderia ter, desde logo, implicações cronológicas; no entanto, a contenção geográfica dos cruciformes pode, alternativamente, corresponder a especificidades culturais de âmbito localizado; numa escala maior, não deixa de ser sugestiva a proximidade em relação a um núcleo algo desgarrado do grupo de Évora, de povoados do Neolítico antigo/ médio, de que se destaca o povoado da Pedra da Moura (nº375), com cerâmica cardial. Esta associação, se se viesse a comprovar, implicaria alguma sincronia com os menires, num contexto eventualmente diferenciado do resto da região. Os afloramentos onde foram gravados, sempre em paredes verticais, os motivos cruciformes, correspondem todos a “monumentos naturais” relativamente destacados da envolvência geológica, com morfologias vagamente zoomórficas; os cruciformes surgem associados a outras variantes de antropomorfos esquemáticos, estilisticamente muito distintos dos que se conhecem, em número razoável, no complexo do Alqueva (Baptista, 2002; Calado, 2004; Collado, 2004). Quanto aos painéis do santuário exterior da gruta do Escoural (Santos, Gomes e Monteiro, 1981), localizada muito póximo da área de maior concentração de menires (e, sobretudo, do par de menires de S.Sebastião) tudo aponta para uma cronologia tardo-neolítica ou calcolítica; seja como for, o suporte, o contexto arqueológico e os próprios temas tornam-no uma ocorrência única na região; essa peculiaridade relaciona-se, provavelmente, com a própria gruta que estaria, nessa altura, inacessível e é a única ocorrência cársica conhecida no Alentejo Central. De facto, a gruta do Escoural, apesar da reocupação neolítica, esteve total ou parcialmente abandonada (pelo menos no interior) durante um largo período de tempo. Coloca-se aqui, naturalmente, a questão de, até

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Fig. 7.21 - Painéis do santuário exterior do Escoural (seg.Gomes et al., 1993: 107).

Fig. 7.22 - Localização da Gruta do Escoural, no contexto dos menires do Alentejo Central.

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que ponto e de que forma, o antigo santuário paleolítico, mesmo oculto, se teria mantido na memória dos primeiros reutilizadores do espaço da gruta e se teria, numa fase final, vindo a plasmar no santuário exterior. Efectivamente, segundo Tim Ingold, “a paisagem é constituída como um registo duradouro - e testemunho - das vidas e trabalhos das gerações passadas que moraram nela, e ao fazê-lo, deixaram qualquer coisa de si próprios” (Ingold, 1993: 152). Por último, apesar de ser cedo para

Fig. 7.23 - Relações macro-espaciais entre os menires, os concheiros e os santuários rupestres do Tejo e do Guadiana (seg. Calado, 2004).

um balanço circunstanciado sobre as eventuais relações entre os menires e a arte rupestre do Alqueva - tanto mais que não foram ainda publicados os resultados dos estudos de pormenor, sobre os motivos e a respectiva distribuição espacial – avancei, num artigo recente (Calado, 2004) algumas reflexões possíveis sobre o tema, numa escala de análise ampla, em termos espaciais e cronológicos. A comparação global entre a arte rupestre do Alqueva e a arte megalítica dos menires alentejanos, feita sobretudo em termos dos respectivos contextos paisagísticos, mas considerando igualmente os suportes, as técnicas e os motivos, revelou um conjunto de diferenças, certamente significativas, entre os dois fenómenos. Recorde-se que, noutras perspectivas, a arte rupestre de ar livre e a arte magalítica têm vindo a ser consideradas indissociáveis, genericamente contemporâneas e, até certo ponto, como duas manifestações, integradas num mesmo fundo cultural comum e partilhando, no essencial, as mesmas regras iconográficas e simbólicas. Na verdade, os menires e arte rupestre do Guadiana inserem-se, claramente, na grande família das manifestações artísticas e simbólicas que, desde o Paleolítico Superior, se desenvolveram, em vários círculos específicos, mas em que se pode, a priori, postular um continuum demográfico e cultural. Os dados actualmente disponíveis sobre o povoamento pré-histórico no Alentejo Central, ainda que ténues no que diz respeito ao Paleolítico superior e ao Epipaleolítico, apenas sugerem o abandono da região no Mesolítico final, num período que, em última análise, foi relativamente curto e em que as populações se fixaram em áreas contíguas. No quadro que a seguir se apresenta, são listadas as principais diferenças; elas não implicam, porém, que não existam igualmente pontos de contacto, alguns dos quais foram referidos já no capítulo 6.

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Arte Rupestre

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As cotas mais baixas Rio Húmido Xisto Horizontal Picotado Círculos e antropomorfos Continuidade Natural Oculto Sem paralelos na Bretanha

As cotas mais altas Festo Seco Granito Vertical Baixo-relevo Báculos e crescentes Ruptura Artificial Exposto Com paralelos na Bretanha

As diferenças observadas podem, de alguma forma, relacionar-se com o hiato demográfico que parece ter afectado a região durante o Mesolítico final (Araújo, 2003b); é certo que a ausência de provas não é a prova da ausência, mas a hipótese do esvaziamento mesolítico da região, que se presume em benefício da formação dos concheiros estuarinos do Tejo e do Sado, para além de lógico, beneficia dos resultados negativos das prospecções e sondagens intensivas levadas a cabo, no contexto dos trabalhos arqueológicos do Alqueva, por uma equipa experiente que, em contrapartida, registou e escavou um sítio epipaleolítico (Almeida et al., 2002; Almeida et al., 1999). Convém recordar que, em função dos padrões expectáveis, a ter havido ocupações mesolíticas no Alentejo Central, seria junto ao Guadiana a área mais provável; no entanto, foi esta a área mais intensamente estudada nos últimos anos e os resultados não parecem deixar demasiada margem para dúvidas. Porém, alguma permanece: a escavação do extraordinário povoado do Neolítico antigo do Xarez 12 (nº 2139), (Gonçalves, 2002a), localizado na margem direita do Guadiana, revelou uma indústria lítica muito rica, de carácter micro-laminar e geométrico, que levou o escavador a admitir ser “possível a existência de uma ocupação mais antiga” (Gonçalves, 2002a: 103). Por outro lado, as prospecções que efectuei, na região, permitiram identificar dois novos sítios com indústrias líticas cujas características parecem indiciar igualmente uma origem mesolítica: o sítio do Barrocalinho 17 (nº1990, foto 1-3), em Reguengos de Monsaraz, e o Alto de S. Bento (nº1698, Foto 4), em Évora. No primeiro caso, a par de algumas escassas cerâmicas lisas uma com decoração plástica (Estampa 23, 2) - recolheu-se um interessante conjunto de artefactos micro-laminares, de que destacam dois trapézios assimétricos, de truncaturas côncavas, em rochas siliciosas de provável origem regional (Estampa 19); no segundo, para além de lamelas, recolheu-se um triângulo, num contexto em que as cerâmicas decoradas também parecem

Fig. 7.24 - Trapézios do Barrocalinho 17 (Reguengos de Monsaraz).

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ausentes (Estampa 18, 1-26) . É claro que podemos estar perante sobrevivências técnicas, relacionadas com práticas económicas atávicas, em comunidades de caçadores-recolectores recentemente neolitizadas ou mesmo em vias de neolitização. O hipotético abandono da região (num processo que teria, na generalidade, afectado os territórios do interior) seria o resultado das alterações climáticas do período atlântico, traduzidas directamente numa “densificação da floresta” (Araújo, 2003: 111) e, por isso, em piores condições de transitabilidade. Num tal cenário, é aceitável uma interrupção ou uma redução drástica do uso dos santuários rupestres do interior pelas populações do Mesolítico final; isso poderia explicar a ausência, nesses santuários, dos símbolos que certamente terão surgido, no seio das últimas comunidades de caçadores-recolectores, na eminência das profundas mudanças que o modo de vida neolítico acabou por introduzir. Essa fase implica, teoricamente, um ambiente de tensões e rupturas e, por isso mesmo, propício ao aparecimento de novos símbolos e novas práticas rituais. Convém não esquecer que as condições geológicas dos estuários não eram propícias ao desenvolvimento da arte rupestre; neste cenário, a madeira pode ter desempenhado um papel de substituto natural dos suportes clássicos da arte rupestre. 7.5.

Menires e monumentos naturais Conforme já referi, no capítulo 3, verifica-se, com alguma expressão na bibliografia arqueológica portuguesa,

uma certa tendência para confundir menires e afloramentos naturais, sobretudo quando estes apresentam formas mais ou menos meniróides. Num trabalho académico recente, centrado no recinto dos Almendres (nº 1), foi expressamente defendido que “alguns penedos naturais, integrados em contextos, tanto arqueológicos como etnográficos, demonstrando terem sido associados a rituais de fertilidade e a outras práticas mágico-religiosas, talvez com origens préhistóricas, sejam classificados como menires” (Gomes, 2002: 154). Também Jorge de Oliveira, em vários trabalhos sobre o megalitismo no distrito de Portalegre, classificou como menires três monumentos naturais: Porra del Burro, Pombais e Sete. Para os dois primeiros, este autor defendeu uma situação mista: tratar-se-ia de afloramentos naturais, embora afeiçoados pela mão humana; no terceiro caso, “a configuração natural do afloramento, dispensou grande investimento de talhe” (Oliveira e Oliveira, 1999-2000: 158). Na minha opinião, o próprio afeiçoamento do “menir” da Porra del Burro ou do “menir” dos Pombais, poderia ser questionado; trata-se de afloramentos cujas formas caprichosas são relativamente frequentes e que resultam normalmente da acção de fenómenos exclusivamente naturais, como, aliás, é reconhecido em relação à Rocha dos Namorados (nº96) e à Pedra Alçada (nº94). Com ou sem afeiçoamento, geralmente difícil de confirmar nos granitos, não creio que os afloramentos naturais se devam confundir com os menires. Uma das diferenças tem a ver com a óbvia anterioridade de uns em relação a outros: os primeiros, como elementos proeminentes da paisagem natural, foram provavelmente usados, muito antes da erecção dos menires, como referências espaciais e, eventualmente, simbólicas. O carácter mais inovador dos menires e, de certa forma, também dos outros tipos de monumentos, cujo

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arranque acompanhou, de perto, a neolitização da Europa atlântica, é precisamente o facto de serem inequivocamente obra humana e de traduzirem um esforço colectivo extraordinário que era, suponho, um dos ingredientes mais importantes do processo. Na erecção dos menires parecem manifestar-se, de forma simbólica, as ideias-chave daquela que, tendo sido certamente uma revolução económica e tecnológica, o foi também no âmbito da estrutura social e ideológica; estava em causa, entre outros aspectos, a redefinição do papel do Homem face à Natureza (Barnatt, 1998: 96; Guilaine e Zammit, 1998: 124), exigida pelo confronto entre o modo de vida tradicional, representado pelos caçadores-recolectores, e as profundas inovações introduzidas pela pastorícia e pela agricultura. A instalação, no Alentejo Central, de uma economia neolítica, por muito incipiente que fosse, tinha, necessariamente, que passar, pelo menos numa fase inicial, por uma domesticação drástica das paisagens (e uma concomitante apropriação dos territórios); tratava-se, no mínimo, de desbravar áreas de cultivo e de pastoreio, instalar povoados e abrir caminhos numa paisagem densa e, durante vários séculos, desabitada (Araújo, 2003). É precisamente, segundo creio, este ambiente de intenso investimento laboral, que permite enquadrar o extraordinário esforço colectivo necessário à construção dos monumentos megalíticos, tarefa para a qual não se vislumbram, com facilidade, nem antecedentes óbvios, nem motivações de ordem económica. É de supor que estivessem em causa, eventualmente, mecanismos sociais de tipo competitivo, jogos de poder, como consequência dos confrontos e rupturas que seriam de esperar em sociedades cujas bases tradicionais estavam em vias de contestação e desagregação. Os construtores de menires eram, por definição, os adeptos da mudança. Vistos nesta perspectiva, os rochedos naturais e os menires representam, aparentemente, conceitos antagónicos, mesmo que, à primeira vista, sejam morfologicamente muito semelhantes. A relação fundamental entre uns e outros deve ter sido, no entanto, de carácter genético (Cassen et al., 2000; Scarre, 2002d); efectivamente, os próprios blocos que, ao serem transportados e erigidos, se transformavam em menires, existiam já nas paisagens naturais e é possível que, ainda nessa condição, carregassem significados específicos, eventualmente relacionados com as funções que se lhes vieram a destinar. Por outro lado, a sacralização dos acidentes naturais mais importantes, entre os quais se inscrevem os afloramentos rochosos mais eminentes, está perfeitamente atestada em inúmeras ocorrências arqueológicas (Fig. 7.19 e 7.20) e etnográficas (Fig. 7.28), quer em termos genericamente rituais, quer em contextos funerários. É, sobretudo, nas sociedades com maior mobilidade, com são, por regra, os caçadores-recolectores, que os marcadores naturais das paisagens ganham importância acrescida (Taçon 1994: 126; Barnatt, 1998: 98; Cooney, 1998: 110; Ouzman, 1998: 39; Nash, 2000: 5; Swartz, 2000: 160; Alves, 2002: 61; Bergh, 2002: 139; Cummings, 2002: 107). Não é raro, antes pelo contrário, que os “santuários” de arte rupestre correspondam também a lugares com grandes afloramentos naturais: o Buraco da Pala, El Pedroso, Peña Tú, são alguns dos mais conhecidos no ocidente peninsular, embora se trate indiscutivelmente de um fenómeno de alcance geográfico quase planetário (Klassen, 1998: 69).

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Fig. 7.25 - Monumentos naturais meniróides; 1: Peramanca (Evora); 2: Barrocal (Évora); 3: Sete (Monforte).

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No Alentejo Central, as mesmas paisagens graníticas que foram o cenário privilegiado do fenómeno megalítico, são, por outro lado, muito ricas em afloramentos naturais sugestivos. Blocos alongados, alguns

Fig. 7.26 - Pedra da Moura (Pavia, Mora) (seg. Rocha, 1999: 221).

dispostos na vertical, caos de blocos, “recintos” naturais ou alinhamentos são, efectivamente, características recorrentes da paisagem geológica, mesmo descontando as amputações a que, desde época megalítica até ontem à tarde, ela tem estado sujeita. De uma forma relativamente intuitiva, herdeira das perspectivas românticas sobre a Natureza e a Paisagem, Vergílio Correia classificou, na área de Pavia, alguns afloramentos graníticos mais notáveis, em particular aqueles em que julgou ver algum agenciamento pré-histórico, como santuários ou “lugares de religião” (Correia, 1921: 97); as escavações que conduziu num desses sítios - a Pedra da Moura (nº269; fig. 7.26) - e que permitiram recolher alguns artefactos neolíticos, convenceram-no da justeza da sua interpretação. Merece destaque a observação desse autor, a propósito de outro suposto santuário natural, os Barroqueiros

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Fig. 7.27 - 1-3: formações de aspecto meniróide do lapiás de Negrais (Granja dos Serrões); 4: vista parcial, do lado Norte.

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de Oliveira; nas suas palavras “outro motivo (...) que seguramente provocou e facilitou a consagração das penhas foi o aspecto de uma delas, a maior (...); corroída, fortemente escavada na parte inferior das suas faces Norte e Sul, parece um gigantesco cogumelo ou a carapaça de um tatú descomunal” (Correia, 1921: 99). A semelhança deste afloramento com a Rocha dos Namorados (nº96) ou com a Porra del Burro é assinalável. Também noutros contextos geológicos, em áreas não muito afastadas, a atracção provocada por acidentes naturais monumentais, a partir do Neolítico antigo (ou talvez antes) contitui motivo de reflexão sobre os ambientes paisagísticos e mentais de onde emergiu o megalitismo. Um dos exemplares mais curiosos é o que resta do lapiás de Negrais, um verdadeiro campo de menires naturais, ordenados em função do declive do terreno, com o blocos maiores nas cotas mais altas. O eventual papel inspirador deste santuário natural eventualmente conhecido e frequentado pelas populações dos concheiros (Roche, 1972: 57) - na concepção dos primeiros recintos megtalíticos alentejanos, é uma hipótese a considerar; também na área da serra da Lua, poderíamos destacar um outro caso muito sugestivo, o “cromeleque” da Barreira (Fig. 10.10 e 10.11), como um geomonumento capaz de suscitar réplicas megalíticas. A valorização simbólica dos grandes blocos naturais, de aspecto mais ou menos rude parece, por outro lado, ser uma característica específica recorrente do megalitismo (Scarre, 2002d; 2004). O facto de a maioria esmagadora dos monumentos megalíticos (e, em particular, os menires alentejanos) serem feitos de blocos naturais, sem qualquer afeiçoamento, revela uma síntese curiosa entre duas atitudes aparentemente contraditórias: por um lado, criaram-se espaços claramente culturais, rompendo, em locais bem escolhidos, a estrutura natural da paisagem e, por outro, usaram-se elementos que, nesta ordem de ideias, remetem para valores tradicionais (Bergh, 2002; Bradley, 1998). Isto significa, provavelmente, que a verdadeira inovação, aquela que implica efectivamente uma ruptura de fundo, foi o próprio acto de, com elementos já fortemente carregados de significados, reorganizar o espaço, impondo-lhe novas valências e sentidos. Alterando a terra. Não surpreende, pois, que, na região, as relações de proximidade entre afloramentos notáveis e menires não sejam particularmente sugestivas: os monumentos tendem a localizar-se em áreas libertas de competidores naturais. Por outro lado, como veremos, nem todas as áreas graníticas, mesmo com afloramentos notáveis como é o caso da Pedra Alçada (nº94) - têm menires. Em termos de proximidade física, o caso mais interessante é provavelmente o do recinto de Vale Maria do Meio (nº 2): com efeito, a escassas centenas de metros deste recinto, localiza-se uma área com grandes afloramentos (de onde se presume, aliás, que seja oriunda a maioria dos menires); trata-se de imponentes formações graníticas, de estrutura orientada, compostas maioritariamente por blocos alongados, dispostos na vertical, cujas dimensões decrescem notóriamente no sentido do declive do terreno. Merece igualmente referência o curioso afloramento antropomórfico dos Macedos (nº 97), muito próximo do menir do Monte dos Almendres (nº 32) e em articulação visual com o recinto dos Almendres (nº 1). Também junto ao menir do Mauriz (nº 38), a uma escassa dezena de metros, localiza-se um afloramento natural, de dimensões modestas, o qual, num certo ângulo, se assemelha a um verdadeiro menir erecto (Volume 2, fig. 117, 4).

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Porém, um dos resultados mais recorrentes das prospecções de superfície levadas a cabo, nos últimos anos, na região, foi, efectivamente, a associação espacial quase sistemática entre os afloramentos mais destacados na paisagem e os vestígios de povoamento do Neolítico antigo (Calado, 1995a; 1997a; 2000a; 2001a; 2002d; Soares e Silva, 1992; Gonçalves, 2002a). As sobreposições espaciais entre estes e os menires, numa escala ampla, justificam alguns comentários. A implantação de povoados do Neolítico antigo junto de grandes afloramentos graníticos tem sido igualmente atestada, nos últimos anos, noutras áreas do ocidente peninsular, nomeadamente no povoado do Prazo (Sanches, 2002: 194; Monteiro-Rodrigues, 2000; 2002) e no povoado de S. Pedro de Canaferrim (Simões, 1996; 1999; 2003), entre outros. A articulação micro-espacial entre as estruturas de habitat e os afloramentos não está ainda bem esclarecida. Há casos em que as cabanas se terão adossado aos blocos, preenchendo os intervalos entre eles; noutros, tudo indica que os povoados se instalaram em clareiras de maiores ou menores dimensões, delimitadas pelos afloramentos, ou nos espaços devolutos em volta dos mesmos.

Fig. 7.28 - Gravura representando uma aldeia kiaka, instalada junto a um inselberg granítico (seg. Lima, 1988: capa).

O carácter funcional desta opção é uma questão em aberto: a escavação do povoado do Prazo sugeriu, a propósito das lareiras e empedrados postos a descoberto que “a sua disposição mais ou menos periférica a grandes afloramentos graníticos leva a supor que eles terão sido usados como ponto de apoio de outras estruturas, provavelmente de madeira, as quais definiriam abrigos ou cabanas” (Monteiro-Rodrigues, 2000:

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163). Numa notícia muito preliminar sobre o povoado do Xarez 12 (nº2137), em Reguengos de Monsaraz, o responsável pelas escavações aponta o facto de os fornos cerâmicos estarem “protegidos por um conjunto de grandes afloramentos” (Gonçalves, 2002a: 103; 2003: 92), aspecto que dificilmente se pode aplicar aos fornos da Carraça 1 (Gonçalves, 2002: 101). No entanto, fosse qual fosse a forma como os espaços de habitat se articulavam estruturalmente com os afloramentos, tirando eventualmente partido das condições oferecidas nos diferentes casos, parece claro que a escolha dos locais deve ter obedecido mais a razões de ordem simbólica do que pragmática. No centro de Angola, entre os Kiaka, os grandes afloramentos graníticos serviram tanto para recolher os crânios de personagens importantes, escondidos em abrigos formados por caos de blocos, em locais de difícil acesso, como para estabelecer a residência dos chefes. O rei kiaka habitava um “inselberg formado por grandes pedras que pesam, provavelmente, várias toneladas, afastadas umas das outras, criando, assim, clareiras ou recintos, onde os Kiaka construiram cabanas e que servem, igualmente, de pátios interiores” (Lima, 1992: 115); as cabanas não se adossam, neste caso, aos afloramentos. Num trabalho recente, explorei algumas das questões em torno dos menires e afloramentos naturais, no contexto particular do Alentejo Central (Calado, 2002). Em síntese, defendi a possibilidade de uma valorização ritual desses “menires naturais” pelas comunidades mesolíticas do Tejo/Sado que, em fase de neolitização, terão instalado, junto deles, os primeiros povoados da região. Paralelamente, os afloramentos terão funcionado como um dos elementos de continuidade, enraizando, no imaginário mítico das sociedades mesolíticas, o discurso inovador que foi a erecção dos primeiros menires. Esta leitura inscreve-se numa perspectiva assumidamente indigenista, não apenas no que diz respeito à forma como foi recebido o pacote neolítico, mas também como foram interpretadas as ideias que o acompanhavam. A vertente ideológica do pacote neolítico, que não tenho dúvidas em considerar de origem oriental (tal como as ovelhas e os cereais) depararam, na fachada atlântica, com sociedades relativamente complexas, cuja complexidade não parece ter sido apenas de ordem social ou económica: o mundo funerário revela – aparentemente mais do que estamos habituados a pensar – comportamentos rituais complexos, a que certamente correspondia uma estrutura ideológica elaborada. Os menires seriam, assim, uma síntese entre crenças difíceis de extirpar, fortemente articuladas com um modo de vida bem sucedido, e a revolução profunda que o vento leste foi fazendo chegar, a partir de meados do VI milénio a. C. A criação de novos sistemas de crenças, tendo como base outros anteriores, não nos é, de todo, estranha: sem precisar de recuar muito, as três grandes religiões do mundo ocidental têm, como sabemos, tanto de ruptura, como de continuidade. A invenção dos menires seguiu certamente o padrão habitual da inventividade humana: a partir de ideias ou objectos pré-existentes, acrescenta-se algo, altera-se um detalhe e o resultado é a criação de qualquer coisa que antes não existia. Neste caso, e porque os menires, como, de resto, a arte rupestre, são formas de

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comunicação de mensagens, penso que poderíamos falar na utilização de ideias antigas, partilhadas pelos destinatários, para fazer passar uma mensagem inovadora. Uma avaliação recente sobre o megalitismo no país de Gales e a relação deste com afloramentos naturais, sugere que “as origens conceptuais da monumentalidade” se poderiam encontrar no Mesolítico e que os monumentos parecem ter sido “cuidadosamente instalados numa paisagem já preenchida com sítios simbólicos e importantes” (Cummings, 2002: 107). Tratar-se-ia, segundo a autora, “de uma apropriação do passado mítico pelos vivos” (ibidem: 119). A relação espacial entre os estuários e o Alentejo Central poderia, como veremos no Capítulo seguinte, ter proporcionado uma relação deste tipo.

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Capítulo 8: Os contextos paisagísticos

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8. Os contextos paisagísticos No capítulo 3 foi feita, em traços gerais, a caracterização fisiográfica da área de estudo. No entanto, a contextualização paisagística dos menires tem que passar, necessariamente, pelo cruzamento dos dados da geografia física com a informação arqueológica disponível, analisada em diversas escalas. Trata-se, desde logo, de procurar, no território físico, as paisagens invisíveis de que os monumentos megalíticos são, hoje em dia, os vestígios mais palpáveis. À escala local, os menires e, sobretudo, os recintos, constituíram, indiscutívelmente, importantes intervenções na “arquitectura” da paisagem natural; as próprias orientações astronómicas, exigindo alguma visibilidade nas direcções mais significativas, sugerem a existência de clareiras, mais ou menos amplas, em redor dos monumentos. Por outro lado, a lógica da distribuição e da implantação dos monumentos, supõe, numa escala mais alargada, um conhecimento prévio da região e uma eventual valorização simbólica de certos elementos paisagísticos fundamentais. Aceitemos, sem discussão, que o Alentejo Central tinha sido abandonado, no início do Atlântico, no contexto da litoralização das comunidades humanas, cujos últimos vestígios estão, pelo que parece, documentados, na região, junto ao Guadiana (Almeida et al., 1999; 2002; Collado, 2004). Para os habitantes dos concheiros, instalados, durante séculos, numa paisagem dominada pela água, com uma economia muito dependente dos recursos aquáticos e com rituais em que as próprias conchas desempenharam, aparentemente, um papel importante, o Alentejo Central (e, em particular, a área de Évora) seria, provavelmente, visto como uma região inóspita, selvagem, face aos espaços habitados, explorados e, de certa forma, domesticados, que constituiriam, em termos de subsistência, as suas áreas de captação de recursos. A transitabilidade natural e a contiguidade, garantiam, no entanto, ao Alentejo Central, um estatuto privilegiado na geografia dos concheiros, com incidências mais prováveis na estruturação simbólica das paisagens (Knapp e Ashmore,1999: 8), do que na vida económica; neste aspecto, sendo certo que os mesolíticos exploravam os recursos cinegéticos dos respectivos hinterlands, não parece que os habituais territórios de caça se estendessem, de forma quotidiana, até ao Alentejo Central. Trata-se, desde logo, de um território relativamente equidistante e igualmente acessível, em relação aos dois estuários. Nestes aspectos, a região surge como uma fronteira e, eventualmente, uma espécie de terra de ninguém, entre os territórios do Tejo e do Sado. As diferenças, de várias ordens (Arnaud, 1987), e a própria separação territorial, entre os concheiros do Tejo e do Sado, permitem interpretar o Alentejo Central, antes da instalação dos primeiros povoados, como um palco natural de interacções entre os habitantes dos dois estuários. Os grandes penedos naturais das paisagens graníticas alentejanas que se vieram a tornar, no Neolítico antigo, os nós principais da rede de povoamento neolítico regional (Fotos 1 a 38; mapa 7), e que, como vimos, podem ter sido os modelos que inspiraram a construção dos primeiros menires, entraram provavelmente no universo simbólico das comunidades mesolíticas, tal como as principais linhas de transitabilidade natural que, no território do Tejo/Sado, ligam o litoral e o interior e que condicionaram a própria percepção das paisagens. Essas formações geológicas, cujo suposto papel, na génese do megalitismo, tem vindo a ser reforçado por algumas contribuições recentes (Tilley, 1996b; Cummings, 2002; Scarre, 2004) - e que ultrapassa, obviamente, os meros condicionalismos geológicos - são, a par da ausência de água, um dos elementos que implicam um contraste absoluto com os territórios estuarinos, de solos arenosos e sem afloramentos de qualquer tipo. Também em termos topográficos, o interior, relativamente acidentado, contrasta com os estuários, com paisagens muito mais monótonas; a articulação dos menires com os pontos mais altos da região revela-se, tanto na própria localização de alguns dos mais importantes monumentos - Almendres (nº 1) e S. Sebastião(nº

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8), como na escolha dos pontos destacados no horizonte, usados como back-sights nas orientações astronómicas (Evoramonte, S.Gens, Monsaraz, Montemor-o-Novo). Por outro lado, o Alentejo Central, de onde poderão, pelo menos em parte, ter sido originárias as populações dos concheiros, seria, também por isso, um território carregado de significados e, eventualmente, conotado com a terra dos antepassados. O antigo santuário do Guadiana, acessível a partir da área de Evora - que, em termos viários, era uma verdadeira plataforma giratória - e o próprio santuário do Escoural, poderão igualmente, cada um a seu modo, ter desempenhado um papel na fixação dessa referência. O povoamento neolítico do interior alentejano não parece corresponder, no entanto, a um avanço contínuo, a partir dos estuários (ou do litoral): o vazio arqueológico entre o Alentejo Central e as áreas dos concheiros pode, efectivamente, corresponder também ao padrão observado noutras áreas europeias, em que, entre mesolíticos e neolíticos, se criaram espaços fronteiriços, desocupados, formando “uma espécie de no man’s land de 20 a 30 quilómetros de largura” (Guilaine e Zammit, 2001: 128). Convém referir que, com os dados actualmente disponíveis, a lacuna em causa não parece ser apenas um vazio da investigação. É certo que podemos e devemos invocar razões de ordem mesológica, uma vez que as areias e cascalheiras terciárias só seriam atraentes junto aos estuários; porém, os eventuais confrontos entre os “partidos” em disputa, poderão ter aconselhado uma fronteira física entre os dois lados da fronteira cultural. Em princípio, as relações paisagísticas entre os territórios estuarinos e o Alentejo Central , serão sempre relevantes para o entendimento do processo que conduziu à neolitização, relativamente precoce, desta área; os construtores dos primeiros povoados neolíticos, quer fossem indígenas quer colonos, teriam sempre coexistido com os últimos mesolíticos do Tejo/Sado e quase inevitavelmente interagido com eles. 8.1. Geologia A relação de proximidade entre os menires e as manchas de rochas granitóides, no Alentejo Central, já antes foi referida, a propósito das questões da matéria-prima dos menires e da eventual relação entre estes e os monumentos naturais. Também já fiz menção, como um dos critérios mais seguros para a identificação dos menires, à descontextualização geológica que afecta um bom número de monumentos (mapa 15); esta deslocação dos blocos pode ter implicado vários quilómetros, como no caso de Vale de Rodrigo (nº 46) ou do S. Sebastião (nº 8), ou escassas centenas ou mesmo dezenas de metros, como parecem ser os casos do Tojal (nº 5) ou do Vale d’El Rei (nº 15). Outra situação muito recorrente é a dos menires que se implantam ainda em terrenos graníticos mas junto aos limites da mancha geológica; estão neste caso, por exemplo, o menir de Vale de Besteiros (nº 39), os menires do Carrascal (nº 17) ou os da Cegonheira (nº 20). Esta situação de fronteira, num contexto cultural em que se prestava, certamente, uma atenção especial à geologia, não pode deixar de ser altamente significativa (Taçon, 1999: 41) , tendo sido, igualmente observada num conjunto de menires e “menires” naturais do distrito de Portalegre, implantados em linha, junto ao contacto entre os xistos e os granitos (Oliveira, 1998; Oliveira e Oliveira, 1999-2000). Em contrapartida, é notória a ausência de menires nos terrenos xistosos, muito bem representados na região e onde se localizam, aliás, alguns núcleos muito interessantes de antas e sepulturas sub-megalíticas (Leisner e Leisner, 1955; Calado, 1993a; 1994; Calado e Mataloto, 2001a), para além do próprio santuário rupestre do Alqueva (Calado, 2004); com efeito, a única excepção, é o menir da Moinhola que, nesse como noutros aspectos, destoa fortemente do conjunto dos menires da região, podendo, na verdade, relacionar-se com os povoados da I Idade do Ferro estudados nas proximidades (Casa da Moinhola, Moinho Novo de Baixo, Espinhaço de Cão) (Calado, 2002b); esta possibilidade, certamente difícil de confirmar, ajustar-se-ia certamente melhor à forma angulosa do monólito. Note-se que o menir da Moinhola se localiza num vau

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natural, entre a margem e a ilha que separa um braço do Guadiana do curso principal do rio. Também nos terrenos calcários, maioritariamente integrados na grande mancha de calcários cristalinos e dolomíticos que constitui a extremidade Nordeste da presente área de estudo, os menires estão completamente ausentes , embora, neste caso, o megalitismo funerário seja igualmente muito raro. A presença de vestígios de habitat, com cronologias que arrancam no Neolítico antigo (Calado, 1995-1996) e continuam, sem aparentes hiatos, até ao Calcolítico final (Calado, 2001a), tornam ainda mais incompreensíveis estes vazios; podemos, eventualmente, invocar problemas tafonómicos, relacionados com a intensa exploração a que os mármores têm sido sujeitos desde, pelo menos, a época romana, quer para uso directo, quer para o fabrico de cal. Seja como for, apesar de, em termos estritamente tecnológicos, tanto os xistos como os calcários poderem fornecer matéria-prima viável (recorde-se que, noutras áreas europeias, nomeadamente na Bretanha, não são raros os menires de xisto ou de calcário) o certo é que no Alentejo Central (como, aliás, noutras áreas limítrofes), parece terem funcionado regras mais estritas; na região, os menires são, quase por definição, inseparáveis das paisagens graníticas. O mesmo se passa, como se viu, com os povoados do Neolítico antigo que, com raríssimas excepções, são igualmente exclusivos das áreas graníticas ou, pelo menos, das imediações destas. No entanto, os povoados do Neolítico antigo, tal como os menires, repartem-se de forma muito irregular nas próprias manchas graníticas da região, pelo que devemos concluir que os afloramentos graníticos são uma condição necessária, mas não suficiente, para a presença de uns e outros. As condicionantes meramente técnicas impostas pela presença/ausência de matéria-prima adequada aplicam-se, por exemplo, às áreas onde não existem afloramentos rochosos, de qualquer tipo, disponíveis a uma distância razoável. No entanto, a exclusão de umas rochas a favor de outras, parece ultrapassar as verdadeiras limitações técnicas e apelar a explicações de ordem cultural. As formas arredondadas dos geomonumentos graníticos, em contraste com as formas angulosas das rochas xistosas (neste aspecto, os calcários são, mais uma vez, um caso à parte) poderiam inserir-se num fundo “iconográfico” mais amplo, cujas primeiras manifestações arrancaram, segundo parece, no Epipaleolítico, época em que a arte rupestre terá começado a privilegiar os motivos arredondados - zoomorfos e, eventualmente, antropomorfos (Collado, 2004). 8.2. Topografia À escala do sítio, as regras topográficas que ditaram a implantação dos menires e dos recintos megalíticos parecem relativamente flexíveis: mesmo nos monumentos que, por diversos motivos, integramos sem hesitação no mesmo patamar cronologico-cultural, encontramos alguns implantados em altura, como os Almendres (nº 1), a Portela de Mogos (nº 4) ou o S. Sebastião (nº 8), enquanto outros são, pelo contrário, monumentos de planície ou de vale, como o Vale Maria do Meio (nº 2), o Mauriz (nº 38), ou o recinto do Xarez (nº 6). No entanto, em todos eles, sob diversas formas, os locais de implantação apresentam inequívocas exposições a Nascente, com prováveis implicações arqueoastronómicas. Recorde-se que, reforçando a orientação do terreno, os próprios recintos se orientam para Nascente. Clive Ruggles, um dos renovadores mais consistentes da arqueoastronomia actual, defende que “as visões do mundo não ocidentais não separam a terra do céu; a astronomia é uma parte integral de todas as cosmologias indígenas, e isto significa que é pouco avisado estudar as paisagens sagradas isoladamente em relação ao céu” (Ruggles, 1998: 208). Na verdade, é difícil, em qualquer estudo sobre megalitismo, contornar o problema das orientações astronómicas; a arqueoastronomia megalítica, apesar das relações tradicionalmente conturbadas com o discurso arqueológico dominante e da necessidade sentida, sobretudo a partir dos anos oitenta, de uma certa reorientação metodológica, tem vindo a ocupar (ou a recuperar) um lugar de algum relevo na descodificação dos sistemas

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178 simbólicos e rituais das sociedades pré-históricas (Heggie, 1981a; 1981b; Aparicio et al., 1993; Iwaniszewki, 1994; Ruggles,1999; Barnatt, 2001: 98; Bradley, 2002b). No entanto, persiste, da parte dos arqueólogos, um certo distanciamento, sobretudo nos casos em que manifestamente a arqueoastronomia “tem estado divorciada do estudo das sociedades neolíticas como tais” (Giot, 1998: 324). Tendo, tal como Giot, a Bretanha megalítica como referência, mas pensando em termos mais gerais, C.-T. Le Roux, embora aceite algumas orientações astronómicas concretas e destaque algumas regularidades, manifesta-se prudente sobretudo em relação às orientações estelares, chamando também a atenção para as dificuldades emergentes do estado de conservação dos monumentos e das paisagens (Le Roux, 1993). Efectivamente, tem sido no domínio das orientações azimutais mais elementares, envolvendo apenas o Sol e a Lua, que a adesão dos pré-historiadores tem sido mais incondicional. Trata-se, nesta perspectiva, de monumentos construídos de acordo com observações que não exigiam, de forma alguma, conhecimentos científicos elaborados; de resto, os próprios astros e os eventos celestes seriam certamente percebidos no contexto de uma rede de significados de carácter mágico-religioso, articulada com o significado específico dos próprios monumentos. Como seria de esperar, os dados e as interpretações referentes às orientações astronómicas dos menires resumem-se, nos textos arqueológicos, a apêndices ou comentários breves, e este trabalho não será, neste aspecto, excepção. As excepções, por enquanto as únicas, são, para não fugir à regra, da responsabilidade de não arqueólogos (Alvim, 1996-1997; 2004; da Silva, 2000; da Silva e Calado, 2004). Trata-se, basicamente, nos primeiros textos, dos resultados da análise da estrutura interna do monumento dos Almendres e das putativas implicações arqueoastronómicas da mesma, tipo de abordagem que receio enfermar de algumas fragilidades conceptuais e metodológicas: a mais importante resulta do facto de uma parte importante do monumento ter sido restaurada, sem controle arqueológico e sem registo, pelo proprietário. Nos textos mais recentes, ambos os autores analisaram sobretudo as localizações dos monumentos em função uns dos outros e, sobretudo, de relevos destacados no horizonte e as implicações astronómicas dessas posições relativas. Os resultados confirmam, sem margem razoável para dúvidas, a frequência das orientações astronómicas solares e, sobretudo, lunares, dos principais monumentos avaliados: foram, apenas, testadas as orientações básicas em função dos nascentes ou ocasos solares, nos solstícios e nos equinócios, e das pausas maior e menor da Lua. Marciano da Silva, para além de ter testado, no terreno, alguns destes alinhamentos fundamentais, avançou recentemente uma hipótese explicativa para as orientações das antas alentejanas, aplicável igualmente a algumas orientações recorrentes nos menires (da Silva, 2004; da Silva e Calado, 2004). Basicamente, essa proposta assenta na coincidência notável entre o leque de orientações observadas nos monumentos e um evento celeste de grande potencial simbólico, como era certamente o nascer da primeira Lua-Cheia depois do Equinócio – a que o autor chamou de Lua de Primavera (da Silva, 2004). As orientações verdadeiramente equinociais são raras e, muito provavelmente, não foram intencionais; segundo C. Ruggles, esse tipo de orientação astronómica “não encontra suporte em nenhum estudo sistemático da evidência de grupos regionais de monumentos” Fig. 8.1 - Nascer do Sol sobre a colina de Monsaraz, visto a partir dos Perdigões, (Ruggles, 1998: 204). dois dias antes do Equinócio (seg. da Silva, 2000: 127).

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Na verdade, para observar os Solstícios ou as pausas lunares, basta anotar diariamente as posições do nascer ou do por dos astros, no horizonte; o Equinócio, pelo contrário, não pode ser controlado pelo mesmo processo: são necessários cálculos, ainda que para nós, relativamente simples,para determinar o evento. A observação da Lua de Primavera, seria, portanto, um método de observação e celebração do Equinócio e, precisamente por ocorrer em datas Fig. 8.2 - Nascer do Sol sobre Evoramonte, no Solstício de Verão, variáveis, permite explicar a visto a partir da Portela de Mogos (seg. da Silva e Calado, 2003: 87). oscilação das orientações dos monumentos, dentro de um arco que se centra nos 105º e que raríssimas vezes é inferior a 90º. Num estudo arqueosastronómico sobre as antas de Valencia de Alcántara, na bacia do Tejo, em que uma parte se orienta para zimutes inferiores a 90º, chegou-se a uma conclusão muito semelhante, embora com base na Lua Cheia de Outono (Belmonte e Fig. 8.3 - Histogramas dos azimutes de 110 Luas de Primavera e de antas Belmonte, 2000). do SW peninsular, incluindo as do Alentejo Central (seg. da Silva, 2004). No Alentejo Central, são vários os monumentos ou conjuntos de monumentos meníricos cujas disposições sugerem, de alguma forma, orientações azimutais em função da Lua de Primavera. Destaca-se, sobretudo porque implica um conjunto de monumentos de primeira categoria, o alinhamento formado pelos recintos da Portela de Mogos (nº 4), do Vale Maria do Meio (nº 2) e pelos menires da

Fig. 8.4 - Alinhamento de recintos e menires, a Noroeste de Évora.

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Casbarra 1 (nº 31) e do Mauriz (nº 38). Abstraindo da vegetação actual e assumindo a existência de clareiras em torno dos monumentos, teríamos os dois primeiros intervisíveis, assim como o primeiro e o terceiro. O menir da Casbarra 1 estabelece, por sua vez a ligação visual entre a Portela de Mogos que se destaca, no horizonte ocidental, e o Mauriz que aparece enquadrado por uma entalhe no horizonte mais próximo. Esta linha está orientada aos 101º. Os recintos e menires de Pavia, por sua vez, distribuem-se ao longo de uma banda genericamente WNWESSE; se considerarmos apenas os dois recintos pré-históricos podemos mesmo falar numa orientação em torno dos 106º. O recinto de Cuncos, cuja implantação é bastante canónica, com um declive relativamente acentuado, orientado a Nascente, encontra-se alinhado, a 100º, com o cabeço do castelo de Montemor-o-Novo que se destaca, de forma imponente, no horizonte oriental. Os recintos do Monte da Ribeira (nº 9) e dos Perdigões (nº 13) estão, por sua vez, equinocialmente apontados ao cabeço de Monsaraz, num ângulo que dependeria, naturalmente da parte do cabeço que seria usada como mira. Fora do âmbito geográfico deste trabalho, mas com ele certamente relacionado, podemos ainda mencionar o recinto desmantelado do Alminho, no distrito de Portalegre, de onde, na direcção dos 100 º, a intersecção do horizonte longínquo com o horizonte mais próximo pode ter definido um eixo de observação. Menos credível, devido à distância envolvida, é o alinhamento, orientado aos 105º e definido pelos recintos dos Almendres (nº 1) e do Xarez (nº 6). Por outro lado, contribui para dar alguma credibilidade a esta linha, o facto de ela incluir ainda a Anta Grande do Zambujeiro (nº 3) e o povoado dos Perdigões (nº 13) (Silva et al., 1998), dois sítios que, à escala regional e cada um dentro do seu género, dispensam certamente adjectivos. É claro que não é possível generalizar a todos os recintos, conjuntos ou menires isolados estas ou outras orientações de base astronómica: mesmo que originalmente todos tivessem sido implantados em função de critérios desse género, a verdade é que os monumentos actualmente conhecidos não passam de uma amostra mais ou menos amputada do universo original e nem todos os nexos, infelizmente, se mantiveram. Além disso, não é certo que os monumentos tenham sido todos, ou tenham sido apenas, orientados em função de eventos celestes: conhecem-se bastantes casos em que, aparentemente, os monumentos foram conjugados com a estrutura da paisagem envolvente, sem que tenham sido identificadas orientações de carácter astronómico. As linhas definidas pelos monumentos da área do Tojal (Fig. 8.5) ou de Cuncos (Fig. 8.6), tal como o alinhamento da Tera, parecem ilustrar essa alternativa. Uma relação preferencial com aspectos oro-hidrográficos foi defendida, a propósito de Stonehenge, por T. Darvill que sugeriu a articulação do monumento com “uma cosmologia terrestre baseada na paisagem mais do que nos céus e talvez originalmente derivada de mitos e lendas dos antigos caçadores-recolectores que primeiro ocuparam a área” (Darvill, 1997: 181). Porém, a articulação dos monumentos com os eventos celestes mais espectaculares e fáceis de observar, através da interposição de determinados pontos destacados no horizonte, parece ter sido bastante frequente nas estratégias de implantação dos menires alentejanos. Fig. 8.5 - Alinhamento dos recintos e menires da área do Tojal.

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Fig. 8.6 - Alinhamento dos recintos e menires da área de Cuncos.

Pedro Alvim, num trabalho circunscrito à área da serra de Monfurado (Alvim, 2004), defendeu que os elementos da paisagem terrestre fariam parte de uma rede de significados que conjugava, num mesmo sistema espacial, as linhas do céu (os astros) e da terra (festos e horizonte). Partindo da relação evidente entre a distribuição dos menires (e, sobretudo, dos recintos) e as principais linhas de festo que intersectam a região (Calado, 1990; 1997; 2000), o autor verificou que estas linhas coincidem, de uma forma bastante coerente, com algumas direcções astronómicas elementares. Na sua opinião, os construtores do recinto dos Almendres (nº 1) tiraram partido desta coincidência, amplificando, “à escala dos limites da visibilidade a monumentalidade do sítio” (Alvim, 2004: 9,10). A leitura proposta por Pedro Alvim sugere, naturalmente, um primado da paisagem (e de um conhecimento circunstanciado da mesma) na determinação dos diferentes locais de implantação dos monumentos. Na prática, esta perspectiva atribui ao par de menires de S. Sebastião um certo papel de pivot, a partir do qual, por prolongamento dos dois troços do festo que nele convergem, teria sido determinada a posição do conjunto do Tojal (nº 5)/Casas de Baixo (nº 12) ou do recinto dos Almendres (nº 1). Esta função central ou genesíaca do monumento de S. Sebastião é muito sugestiva, sobretudo se tivermos em conta que o menir 2 de S. Sebastião é o mais pesado de todos os menires alentejanos e que o monumento se localiza na cota mais alta em relação a todos os restantes. Por outro lado, a possibilidade de alguns monumentos terem sido intencionalmente implantados no prolongamento das principais linhas de festo, poderia Fig. 8.7 - Orientações internas dos menires dos eventualmente aplicar-se, com alguma propriedade, aos Almendres incluindo a orientação solsticial que se prolonga para o menir do Monte dos Almendres menires isolados que continuam, para Noroeste, o (seg. Alvim, 1996-1997: 16).

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Fig. 8.8 - Esquema das relações entre os monumentos, os festos e as orientações lunares e solares (seg. Alvim, 2004).

Fig. 8.9 - Projecções dos troços do festo principal, a partir dos menires de S. Sebastião (seg. Alvim, 2004).

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segmento definido pelo festo Sado/Guadiana, a partir do único ponto em que os três festos principais (e, com eles, as bacias do Tejo, Sado e Guadiana) se encontram (Fig. 8.10, 1). Na verdade, com alguma imaginação, poderíamos ainda ver, nos menires de Reguengos de Monsaraz, o prolongamento dessa mesma linha, na direcção inversa Fig. 8.10 - Projecções de troços de festos, eventualmente relacionadas (Fig.8,10, 2), e, nos monumentos com localizações de menires. de Pavia, o prolongamento, também para Noroeste, do festo Tejo-Sado, a partir do ponto de inflexão localizado em Evoramonte (Fig.8.10, 3). Para além destas relações aparentes, entre os monumentos e a trama estrutural da região, há ainda a considerar a importância dos principais relevos no horizonte; destaca-se, de entre estes, o perfil da serra d’Ossa e, em particular o detalhe mais imponente, visto a partir do quadrante ocidental, que é o cabeço de Evoramonte. É óbvio que a serra d’Ossa, sendo exterior aos territórios em que foram construídos menires, foi integrada na estrutura simbólica dos monumentos; na verdade, a serra d’Ossa representa, no contexto geográfico do Alentejo Central, o principal acidente orográfico, cujo potencial simbólico, numa região de horizontes abertos, é perfeitamente compreensível. À escala local, os aspectos topográficos da paisagem parecem ter sido igualmente determinantes na escolha dos locais de implantação dos monumentos: os da área de Cuncos e do Tojal (Fig. 8.5 e 8.6) configuram, pelo que parece, uma disposição relativa dos elementos que os compõem, claramente condicionada pela topografia local. 8.3. Hidrografia Como acabamos de verificar, a rede hidrográfica parece ter desempenhado um papel fundamental nas implantação paisagística dos menires alentejanos, em particular dos de Évora e Montemor-o-Novo e, de um modo diferente, dos de Reguengos de Monsaraz ou Pavia. Os festos, tal como os cursos de água com os quais se relacionam, constituem caminhos naturais por excelência e foram, certamente, usados como tal pelos construtores dos menires da região. Neste sentido, a área de Évora, onde, segundo parece, se concentra o principal foco de menires alentejanos e a maior concentração de povoamento do Neolítico antigo, corresponde, efectivamente, a uma situação peculiar: é neste território que convergem os festos principais dos três grandes rios do Sudoeste peninsular, o que implica uma clara centralidade geográfica, baseada em condições de transitabilidade privilegiadas. De certo modo, pode afirmar-se que, nesta mesopotâmia definida pelo Tejo, o Sado e o Guadiana, todos os caminhos naturais vão dar a Évora. Numa escala mais detalhada, verifica-se que, nesta área, a maioria dos monumentos que aqui nos interessam se relacionam, directa ou indirectamente, com as bacias do Tejo e do Sado. Numa outra perspectiva, relacionada com os recursos hídricos, é importante anotar o facto de a área de Évora carecer de cursos de água significativos: com efeito, este território é drenado por uma rede hidrográfica incipiente que só vai ganhando corpo à medida que se afasta dele e se aproxima dos antigos limites dos estuários do Tejo e do Sado. Trata-se, efectivamente, de uma área de nascentes, as cabeceiras dos regatos

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que alimentam os afluentes dos referidos rios. Este divórcio entre monumentos e cursos de água é menos evidente fora da área Évora-Montemor-oNovo. De facto, nas restantes áreas em que ocorrem recintos megalíticos e que, com base em critérios quantitativos e geográficos, podemos considerar periféricas, as relações com os festos são igualmente a norma, embora se trate sempre de festos secundários, sugerindo adaptações a realidades locais de um modelo cuja génese pode, por hipótese, ter sido eborense. Note-se, por outro lado, que, em Reguengos de Monzaraz, os menires não manifestam nenhuma proximidade preferencial pelo Guadiana, sendo, ainda assim, o enigmático recinto do Xarez (nº 6) a excepção mais notável. Quanto aos restantes recintos, sobretudo o dos Perdigões, mas também, de forma mais atenuada, os do Monte da Ribeira (nº 9) ou da Capela (nº87) - tal como os menires isolados mais importantes implantam-se sobre ou perto das linhas de festo que separam o Degebe, o Álamo e o Azevel, e, em todo o caso, em posições muito interiores em relação ao Guadiana. Em Pavia, os principais monumentos parecem também relacionados com linhas de transitabilidade natural consubstanciadas pelos festos secundários. Esta preferência pelos festos não deve apenas ser lida numa óptica funcionalista: as implicações simbólicas dessas linhas de fronteira entre bacias hidrográficas, os “meios-mundos” da toponímia popular (Alvim, 2004), pesaram provavelmente mais do que a função hodológica, que certamente também tinham, na escolha dos locais de implantação dos monumentos.

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Capítulo 9. O Tempo: dados e hipóteses para uma leitura cronológica

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9. O tempo: dados e hipóteses para uma leitura cronológica São muito raros, quando existem, os dados que permitam datar, de forma inequívoca, estes tipo de monumentos; na verdade, o problema não é exclusivo dos menires e afecta uma série de outros aspectos da arqueologia pré-histórica: sem contar com a arte rupestre de ar livre que, pela sua própria natureza, é também quase sempre muito difícil de datar, assistimos hoje em dia a sérias discussões e desacordos a propósito das cronologias (sobretudo de fundação) dos monumentos funerários que são, apesar de tudo, muito mais adequados à obtenção de datas absolutas. Não dispomos, por enquanto, de datações radiocarbónicas para os menires do Alentejo Central; foram, em todo o caso, publicadas, recentemente, três datações de termoluminescência (TL), efectuadas a partir de fragmentos cerâmicos do recinto dos Almendres (nº 1); porém, o desvio elevadíssimo a que estas datas estão sujeitas e a fraca contextualização das amostras, inviabilizam qualquer tipo de utilização das mesmas (Gomes, 2002: 125), para além de uma vaga indicação sobre o período de utilização/frequentação do recinto. Mesmo assim, as escavações realizadas, nas últimas duas décadas, em vários tipos de monumentos meníricos centro-alentejanos, forneceram elementos de índole cronológica que, não sendo suficientemente seguros para arrumar de vez a questão, contribuíram, em diferentes graus, para uma aproximação melhor fundamentada; paralelamente, um investimento muito direccionado, em termos de prospecção regional, permitiu, pela primeira vez, o estabelecimento de pautas espaciais, cujas implicações cronológicas vieram reforçar a base de dados disponível. Por fim, o cruzamento desta com a informação referente a outras áreas com as quais se podem, legitimamente, numa perspectiva histórica, admitir afinidades, permitiu, com alguma coerência, construir o esboço cronológico a seguir apresentado. 9.1. Os dados do Alentejo Central 9.1.1. A Idade do Ferro No Alentejo Central, o monumento menírico cuja cronologia parece, actualmente, melhor estabelecida é o alinhamento da Tera (nº 14), em Pavia (Rocha, 1996, 1997, 1999, 2000a, 2000b, 2003). Trata-se, aliás, do único alinhamento bem documentado na Península Ibérica, aspecto que, desde logo, lhe permitiu atribuir algum carácter excepcional; mesmo assim, quando foi descoberto, foi, naturalmente, considerado um monumento pré-histórico, aparentado com os que, por essa altura, já eram conhecidos na área de Pavia, com destaque para o recinto de Vale d’El Rei (nº 15), a menos de 2 Km de distância. No entanto, a subsequente escavação do alinhamento e, sobretudo, do conjunto de menires que jaziam amontoados a cerca de 100m, permitiu, sem margem para dúvidas, concluir que estamos em presença de um complexo funerário da I Idade do Ferro. A necrópole propriamente dita, de onde seriam certamente provenientes os menires amontoados, é constituída por um cairn, onde foram, até agora, em escavação, descobertos Fig. 9.1 - Alinhamento da Tera, em fase de escavação mais dois monólitos) e várias urnas cinerárias, (seg. Rocha, 1997).

Menires do Alentejo Central acompanhadas de oferendas (contas de colar e anforiscos de pasta vítrea, objectos metálicos e cerâmica). A surpresa deste contexto cronológico-cultural resultou, antes de mais, da ausência virtual de paralelos, embora, em boa verdade, pouco se saiba ainda hoje sobre as necrópoles e os rituais funerários da I Idade do Ferro, no Alentejo Central. Teoricamente, é também possível que dois conjuntos de menires publicados, nos últimos anos, em regiões não muito afastadas - o de S. Cristóvão (Resende) (Silva, 1997) e o de Fregenal de la Sierra (BerrocalRangel, 1991) - sejam igualmente monumentos tardios, eventualmente sidéricos. Curiosamente, o paralelo mais sugestivo para o complexo da Tera ocorre num contexto geográfico e cultural dificilmente relacionável com o Alentejo Central: trata-se do sítio de Fossa, nos Abbruzzi, em Itália. Esta necrópole de inumação, datada também da I Idade do Ferro, de carácter orientalizante, é composta por monumentos constituídos igualmente por um alinhamento, cujos menires, tal como na Tera, apresentam alturas decrescentes, na direcção do cairn funerário, o qual aparece claramente delimitado por um círculo de menires (Cosentino et al., 2003). Uma das várias questões que o sítio da Tera levanta, na perspectiva que aqui nos interessa, é a da relação entre este monumento e o relevante contexto megalítico pré-histórico patente na área envolvente: a hipótese de se tratar de menires pré-históricos reutilizados na construção da necrópole proto-histórica, não parece sustentável, atendendo à morfologia muito sui generis dos monólitos: de facto, os menires da Tera são muito mais esguios e angulosos que os dos recintos de Vale d’El Rei (nº 15) (Fig. 9.5) ou das Fontaínhas (nº 11),

Fig. 9.2 - Planta das estruturas do alinhamento da Tera (seg. Rocha, 1999: 67).

Fig. 9.3 - Planta geral dos menires da Tera (alinhamento e necrópole) (levantamento de Pedro Alvim)

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Fig. 9.4 - Menires descobertos na escavação, junto aos prováveis limites do “cairn” (seg. Rocha,).

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B

Fig. 9.5 - Os menires do recinto de Vale d’El Rei (A) e da necrópole da Tera (B).

ambos presumivelmente pré-históricos. No entanto, se parece aceitável que o monumento da Tera seja integralmente de feitura sidérica, e não tenha havido reutilização de monólitos mais antigos, não deixa de fazer sentido a hipótese de o conjunto se ter, de alguma forma, inspirado nos monumentos neolíticos que certamente não passaram despercebidos na época, uma vez que se mantiveram intactos, ou quase, até aos nossos dias. Num estudo recente sobre as paisagens míticas da Idade do Ferro britânica, o autor propõe que os monumentos neolíticos “continuaram como um elemento significante na paisagem” (Barrett, 1999: 258) e que “ a natureza dos monumentos e os depósitos associados são entendidos como a representação da organização de uma sociedade antiga” (Ibidem: 262). Também Richard Bradley, numa obra muito recente, apontou vários exemplos, no Norte de França e nas Ilhas Britânicas, em que necrópoles ou santuários da Idade do Ferro sobrepoem, de formas que excluem a

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simples coincidência, estruturas rituais mais antigas (Bradley, 2003: 130-146) Convém sublinhar, por outro lado, que, em Pavia, os dados disponíveis não suportam uma eventual continuidade, sem rupturas, desde o Neolítico até à Idade do Ferro; na verdade, nessa área, apesar de intensamente prospectada (Calado, 1995; Calado, 2001a; Calado e Rocha, 1996; 1996-1997; 1997; Fig. 9.6 - Povoamento do Bronze Final, no Alentejo Central Rocha, 1996; Rocha, (seg. Mataloto, 2003: Est. 65) e localização da necrópole da Tera. 1999) existe um vazio absoluto de evidências de povoamento, entre o Calcolítico e a Idade do Ferro, sugerindo um abandono da área durante, pelo menos, um milénio; a confirmar-se esta situação, os menires da Tera seriam, no máximo, uma reinterpretação, no domínio dos rituais funerários, de um fenómeno bem presente fisicamente, mas cujo significado original deveria, nessa altura, estar completamente perdido ou, no mínimo, transfigurado. Note-se que, em termos de orientação, enquanto, nos recintos pavienses, se observam os cânones habituais (estão orientados genericamente a Nascente), o alinhamento da Tera é, nesse domínio, completamente anómalo (322º-142º). Verifica-se, no entanto, uma boa coincidência entre a orientação do alinhamento (e do conjunto alinhamento/necrópole) e a orientação do relevo. A valorização de monumentos megalíticos pré-históricos, em contextos funerários da Idade do Ferro, teve, há poucos anos, uma confirmação bastante sugestiva, no Alentejo Central: a escavação de uma anta muito destruída (anta da Belhoa, em Monsaraz), de que apenas restava um esteio, no local, levou à descoberta de uma necrópole da Idade do Ferro, nas imediações (Gomes, 1997). De facto, os materiais da Idade do Ferro dispersam-se, à superfície, até junto do famoso menir da Belhoa (localizado a uns escassos 200 m), sugerindo que, de alguma forma, o menir e o esteio da anta teriam sido “reutilizados” na estrutura ritual do cemitério. A presença de vestígios da Idade do Ferro, em estreita articulação espacial Fig. 9.7 - Espólio da necrópole com menires, foi igualmente observada na área do recinto do Tojal: a breve da Belhoa (seg. Gomes, 1997a) sondagem efectuada no local, junto aos menires 15 e 16 (ver capítulo 5.2.), permitiu recolher alguns artefactos, de entre os quais um bordo extrovertido, de provável cronologia sidérica e, a meia distância entre este recinto e o menir do Monte do Tojal, à superfície, foi observado um fragmento de dormente de mó “de sela” . Por outro lado, no sítio da Quinta do Gato 8 (nº), também nas imediações do recinto, foi recolhido, em prospecção de superfície, um bordo extrovertido, com asa “de cesto”, característico dos conjuntos cerâmicos da I Idade do Ferro regional (Estampa 16, 6) (Calado, 2003. No recinto megalítico da Portela de Mogos (nº 4), o responsável pela escavação refere, também sem as

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discriminar, a presença de cerâmicas da Idade do Ferro (Gomes, 1997a: 38); neste caso, como no do recinto do Tojal (nº 5) não foi possível esclarecer se se trata ou não de utilização funerária. Por outro lado, a revisão, no contexto deste trabalho, dos menires do Monte das Flores (nº23), nos arredores de Évora (Oliveira e Sarantopoulos, 1994), permitiu, na área envolvente do local onde os dois monólitos tinham sido descobertos, identificar indícios da presença de uma necrópole da Idade do Ferro, nomeadamente cerâmicas e uma concentração de blocos de pequenas dimensões, análogos aos que integram o cairn funerário da Tera. Finalmente, um outro caso em que se poderia conjecturar uma cronologia da Idade do Ferro, é o do menir da Casa da Moinhola (nº 50); este menir, muito heterodoxo em termos de matéria-prima (xisto) e de implantação (jaz em pleno leito do Guadiana), localizase nas imediações de um povoado da I Idade do Ferro, a Casa da Moinhola 2 (Calado, 2002b); no entanto, convém observar que, Leito do rio no mesmo contexto geográfico, a escassas dezenas de metros, existe um significativo conjunto de gravuras pré-históricas, constituído sobretudo por antropomorfos em painéis horizontais. Num balanço global, a título provisório, pode concluir-se que os menires da Idade do Ferro, nas diversas modalidades possíveis, não parecem ter sido um fenómeno muito expressivo, no Alentejo Fig. 9.8 - Implantação do menir da Moinhola. Central. 9.1.2. A Idade do Bronze Para a Idade do Bronze, porém, os dados são ainda mais raros. As escavações efectuadas recentemente no par de menires de S. Sebastião (nº 8) (Capítulo 5.6) e no recinto da Portela de Mogos (Gomes, 1997a), permitiram identificar ocupações, certamente de carácter ritual e, eventualmente, funerário, traduzidas na presença de um elevado número de peças de cerâmica, tipologicamente atribuíveis ao Bronze antigo/médio. Note-se que a utilização funerária de monumentos mais antigos que, aparentemente, não foram originalmente concebidos para uma tal finalidade, é um fenómeno reconhecido noutras áreas megalíticas europeias (ver capítulo 11) e que, mais à frente, comentarei com mais pormenor. 9.1.3. Neolítico final/Calcolítico Na região, existem também vários casos em que, associados aos menires, foram recolhidos materiais atribuíveis ao Neolítico final ou ao Calcolítico. No presumível recinto dos Perdigões (nº 13) (Gomes, 1994), a escavação do menir 4 (referido, na obra citada, como menir 5), permitiu registar, para além de uma lareira e de fragmentos de cerâmica calcolítica, uma estrutura pétrea, de planta quadrangular, “formada por um muro baixo, totalmente pavimentada com pequenas lajes de xisto”, constituindo, segundo o escavador, uma reestruturação posterior à erecção do menir (Gomes, 1994: 327). No concelho de Montemor-o-Novo, Mário Varela Gomes, Rosa Varela Gomes e Manuel Farinha dos Santos, efectuaram sondagens, nos inícios dos anos oitenta do século passado, junto dos menires da Pedra Longa (nº 16), tendo obtido um conjunto artefactual, aparentemente homogéneo, atribuível ao Neolítico final. No recinto de Cuncos (nº 7), também em Montemor-o-Novo, a escavação não permitiu obter “espólio significativo”, mas o responsável pelos trabalhos refere, num primeiro texto, a recolha, por Gil Miguéis Andrade “em prospecções de superfície e quando do plantio da actual vinha”, de “abundante material atribuído ao Neolítico final-Calcolítico inicial” (Gomes, 1986: 15); anos mais tarde, num texto em que, pela primeira vez, o

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mesmo autor admitiu uma cronologia mais antiga para alguns menires, esclarece-se que, afinal, de entre o material recolhido por Gil Miguéis Andrade na área adjacente ao recinto de Cuncos, havia também “cerâmicas almagradas, incisas e impressas” e, pelos vistos, também lamelas (Gomes, 1994: 327). Também a escavação do recinto de Vale d’El Rei (nº 15), em Pavia, forneceu apenas materiais que genericamente se poderão inserir no Neolítico final, nomeadamente duas carenas e um possível fragmento de ponta de seta, em xisto jaspóide, para além de escassos artefactos e restos de talhe de sílex e, sobretudo, de quartzo, pouco eficazes como elementos de diagnóstico cronológico (Capítulo 5.5). É claro que, em nenhum dos casos conhecidos, os dados atestam a erecção dos menires no Neolítico final ou no Calcolítico, embora tal não se possa excluir liminarmente; na verdade, em todos eles, os materiais Fig. 9.9 - Estruturas do menir 4 dos Perdigões referidos provêm de áreas exteriores aos alvéolos dos (seg. Gomes, 1994: 329) menires, pelo que podem corresponder, efectivamente, a fases de utilização do monumento. A ausência sistemática de materiais no interior dos alvéolos sugere, naturalmente, a inexistência, nos respectivos locais de implantação, de ocupações anteriores à construção dos monumentos. As únicas excepções, que eu saiba, são, neste aspecto, pouco conclusivas: trata-se de um fragmento de dormente de mó manual e um fragmento de machado de pedra polida, de secção transversal arredondada, inseridos (supõe-se que intencionalmente) nas coroas de sustentação de dois menires, no recinto megalítico de Vale Maria do Meio (nº 2), tal como aconteceu, aliás, no recinto da Portela de Mogos (nº 4), com dois artefactos de pedra polida (machado e enxó) também inseridos nas coroas de sustentação de dois menires (Gomes, 1997a: 38). 9.1.4. Neolítico antigo/médio Para além dos casos referidos, em que, exceptuando o alinhamento da Tera (nº 14), todos parecem implicar cronologias relacionadas com as épocas, mais ou menos longas e, provavelmente, descontínuas, em que os sítios foram frequentados (mesmo que de formas distintas daquelas para as quais os monumentos foram concebidos), existem alguns artefactos que, por se repetirem de uma forma mais sistemática e por implicarem cronologias mais antigas, podem ser considerados contemporâneos da fundação ou das primeiras utilizações dos menires alentejanos. De entre eles, são sobretudo as indústrias líticas de feição microlaminar que, nos últimos anos, se têm vindo a encontrar reiteradamente associadas aos menires e recintos megalíticos da região. Trata-se de um fenómeno que tinha sido repetidamente observado também no contexto dos menires algarvios (Gomes, 1996; David Calado, 2000a; 2000b), se bem que neste último caso, ocorram igualmente, em muitos casos, as cerâmicas decoradas, atribuíveis ao Neolítico antigo. Nos Almendres, a escavação, levada a cabo há cerca de quinze anos, foi muito avara em termos artefactuais: para além de dois fragmentos ~de cerâmica decorada, recolheram-se restos de duas lâminas de sílex e um crescente do mesmo material. Mais uma vez, segundo o responsável pela escavação, estes materiais indicam “com fortes probabilidades, tratar-se de indústria do Neolítico antigo ou dos inícios do Neolítico médio” (Gomes, 2002: 126-128).

Manuel Calado

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Também no recinto de Vale Maria do Meio (nº 2) (Calado, 1997a; 2000b), foi recolhido, em escavação, um espólio constituído quase exclusivamente por restos de talhe, lascas e uma lamela de sílex, para além de uma flecha transversal, de tipo Montclus (Gouraud e Marchand, 1999:18), com truncaturas não secantes, de comprimentos e obliquidades idênticas, sobre suporte lamelar, e apresentando retoques inversos abruptos e retoque directos invasores. Trata-se de um tipo de artefacto praticamente inédito em Portugal, de que recolhi, na região de Évora, dois outros exemplares em prospecções de superfície, nos povoados da Valada do Mato (nº 1119) e do Penedo do Ouro 1 (nº 1220) (Estampa 20, 1 e 2 ) e que genericamente apontam para o Neolítico antigo ou mesmo para o Mesolítico. A ausência de cerâmicas manuais, num contexto, como foi o do Vale Maria do Meio, em que as terras foram integralmente crivadas, é, sem dúvida um dos aspectos a reter, com implicações que, sendo eventualmente também cronológicas, serão sobretudo de ordem funcional. No recinto do Xarez (nº 6), recolheu-se um trapézio, lamelas e outros artefactos de pedra lascada, em sílex, para além de dois fragmentos de cerâmica impressa (Gomes, 2000b); note-se que, na região, o Xarez é um dos raros sítios com menires (os outros são os recintos dos Almendres e da Portela de Mogos) onde também foram recolhidas, em escavação, cerâmicas impressas. Estes materiais foram interpretados pelo escavador como indicando uma cronologia “dos finais do Neolítico antigo ou dos inícios do Neolítico médio” (Gomes, 2000b: 108), precisão que, com base na amostra disponível, me parece manifestamente exagerada. Na escavação do menir do Tojal (nº 5), em que o volume de terras removidas foi diminuto, foram recolhidos restos de talhe, um buril e lamelas de sílex, para além de alguns fragmentos de cerâmica manual lisa, entre os quais três bordos simples. Em termos cronológicos, os materiais líticos apontam, em traços gerais, para o Neolítico antigo/ médio, proposta que as cerâmicas, por serem muito incaracterísticas, não contrariam nem confirmam. Fig. 9.10 - Materiais líticos do recinto do Xarez (seg. Gomes, 2000: 101) No par de menires de S. Sebastião (nº 8), para além das cerâmicas atribuíveis à Idade do Bronze, há que destacar os materiais líticos, constituídos por restos de talhe, lascas e lamelas (uma de bordo abatido) de sílex, tipologicamente integráveis no Neolítico antigo/médio, mas que tampouco destoariam num contexto Mesolítico. Na Portela de Mogos (nº 4), cujos dados permanecem, na sua maioria, inéditos, sabemos apenas que, para além das evidências de ocupações protohistóricas, foram igualmente recolhidos materiais calcolíticos e “fragmentos de cerâmicas atribuíveis a fase evolucionada do Neolítico antigo ou já do Neolítico médio”; em termos de indústrias líticas, o autor faz uma referência vaga a “pequenos artefactos de pedra lascada” (Gomes, 1997a: 38) cuja tipologia desconhecemos, embora, pelos exemplos que tenho vindo a apontar, seja Fig. 9.11 - Cerâmicas do recinto do Xarez de supor a presença de indústrias micro-laminares. (seg. Gomes, 2000: 105)

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Ainda que de uma forma indirecta, no que diz respeito à datação dos menires, a escavação do povoado da Valada do Mato (nº 1119) (Diniz, 2004), permitiu obter, nos últimos anos, um conjunto de dados fundamentais para a discussão do povoamento do Neolítico antigo no Alentejo Central e, em particular, na área de Évora, onde, de facto, se ubica a maior densidade de menires da Península Ibérica. Foi possível obter cinco datas radiocarbónicas que, genericamente, confirmaram as cronologias expectáveis a partir da análise dos dados da cultura material. Na verdade, por razões que se prendem com o tipo das amostras e com a fiabilidade dos métodos de datação utilizados, apenas uma dessas datas foi considerada utilizável, sem reservas (Diniz, 2004: 268-270); trata-se de uma datação feita sobre carvões, de espécie não identificada, provenientes de uma estrutura pétrea, a U.E. 5, que forneceu uma data, calibrada a 2σ, de 50404790 cal BC. As restantes datações, feitas sobre ossos queimados, apresentam valores mais elevados, que arrancam do segundo quartel do VI milénio cal BC. Atendendo à estratigrafia, aquela data foi interpretada como “o momento terminal da ocupação da estrutura pétrea U.E. 5” (Diniz, 2004: 270), o que, naturalmente, supõe datas mais antigas para a génese do povoado. Paralelamente, as escavações, nos arredores do recinto megalítico do Xarez (nº 6), de três sítios com ocupação do Neolítico antigo - a Fonte dos Sapateiros (nº2103 ), o Xarez 4 (nº 2164) e o Xarez 12 (nº2137) (Gonçalves, 2002a) - apesar de ainda se encontrarem em fase de estudo e de não se conhecerem, por enquanto, datações radiocarbónicas, parecem fornecer um contexto muito coerente com os escassos indícios recolhidos na escavação do recinto. Na verdade, como se viu, os artefactos atribuíveis ao Neolítico antigo/médio e que, por serem os mais antigos, são conotáveis com a fase de construção e de utilização inicial dos monumentos, são sempre muito escassos, inclusivamente nos casos em que foram escavadas áreas consideráveis, aspecto que importa certamente ponderar a propósito do respectivo significado funcional. Perante esta realidade, não espanta que, na maior parte dos casos, não tenha sido possível recolher, nas prospecções de superfície, qualquer tipo de indicador cronológico. Uma das excepções é o recinto dos Almendres (nº 1), onde, em recolhas de superfície, surgiram, recentemente, novos artefactos de sílex, nomeadamente lamelas (Estampa 18, 27-37), o que naturalmente veio reforçar o conjunto muito modesto, obtido na escavação. Note-se que, nos Almendres, as condições de visibilidade do solo são habitualmente muito boas, uma vez que a presença constante dos visitantes não permite o crescimento da vegetação herbácea, no local (criando, infelizmente, problemas erosivos muito severos). Para além dos Almendres, foram recolhidas algumas lascas e restos de talhe de sílex, junto do menir do Mauriz (nº 38) e do recinto das Fontaínhas (nº 11); embora o valor destes achados, como elementos de diagnóstico cronológico, seja muito limitado, a própria presença de sílex, sem outros materiais, sugere cronologias altas na sequência pré-histórica da região. Porém, o principal contributo das prospecções de superfície, no Alentejo Central, para a resolução das questões relacionadas com a cronologia dos menires, prende-se com a definição dos contextos arqueológicos, de tipo macro-espacial, em que estes se enquadram. Efectivamente, a proximidade espacial entre um qualquer monumento singular e, por exemplo, um povoado de uma determinada época, não implica, automaticamente, uma relação de contemporaneidade entre ambos. Essa relação ganha, no entanto, plausibilidade e consistência se o fenómeno se repetir de uma forma sistemática. Na verdade, descontando as lacunas que inevitavelmente existem, se analisarmos os dados reunidos para o Alentejo Central, no seu conjunto, podemos observar uma nítida sobreposição entre as áreas de maior densidade de monumentos meníricos e aquelas em que se concentra a maior parte dos vestígios de habitat do Neolítico antigo/médio. Concretamente, as densidades de uns e outros são mais elevadas no território a Oeste de Évora e, em segundo lugar, na planície de Reguengos de Monsaraz e perdem expressão, de forma directamente proporcional, nas área de Montemor-o-Novo e de Pavia; nas restantes áreas, tanto os menires,

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Menires por concelho

194 Habitats Neolítico antigo/médio por concelho

10%

4%

4% 2%

Reguengos de Monsaraz

2%

Évora 14% 50%

Montemor-o-Novo

7%

Reguengos de Monsaraz

Évora

Redondo

Montemor-o-Novo Mora Redondo

Arraiolos 19%

62%

Outros

Mora

21%

Outros

Antas por concelho

Habitats Calcolítico por concelho

% 3% 2%1 6%

5%

3%

5%

Évora

23%

Reguengos de Monsaraz

Redondo 25%

6%

Arraiolos

14%

Montemor-o-Novo

Arraiolos Alandroal

7%

Reguengos de Monsaraz

Mora Redondo Estremoz

Évora

Borba

9%

21%

15%

Portel Outros 15%

21%

Vila Viçosa

9% 10%

Mora

Fig. 9.12 - Representação gráfica da distribuição de monumentos e sítios, por concelho.

como os sítios do Neolítico antigo, são meramente vestigiais. Em contrapartida, os habitats mais tardios, do Neolítico final e Calcolítico, cuja distribuição apresenta um padrão muito mais ubíquo, dificilmente se poderão relacionar com as principais manchas de menires alentejanos. A título de exemplo, estes povoados existem de forma muito significativa, nos concelhos de Borba, Vila Viçosa ou Alandroal, onde, até à data, não se conhecem quaisquer menires - à excepção do da Casa da Moinhola (nº 50). Para além da distribuição dos povoados em que a informação proporcionada pelos materiais de superfície permitiu, minimamente, os respectivos enquadramentos cronológicos, é possível igualmente, rastrear, nos sítios menos bem definidos, integrados, de uma forma mais aberta, no Neolítico/Calcolítico, assim como nos achados avulsos, distribuições diferenciadas de alguns indicadores cronológicos, em função da presença/ ausência de menires. Note-se que, por exemplo, o sílex, sempre muito abundante nos espólios do Neolítico antigo/médio da região (Diniz e Calado, 1998; Gonçalves, 2002a; Diniz, 2004), ocorre, sistematicamente, em percentagens muito diminutas nos povoados do Neolítico final/Calcolítico (Calado, 2001a; 2002b; 2002c; Gonçalves e Sousa, 2000); pelo contrário, os percutores, atingem percentagens relativamente elevadas nos povoados mais recentes, enquanto, por norma, escasseiam nos mais antigos. Com base nestas observações, parece significativa a relação positiva entre as áreas com maior presença de sílex e menires e a relação negativa entre a distribuição destes e dos percutores. Numa escala mais aproximada, podemos aduzir outro tipo de relação negativa, visível sobretudo na área de Évora: trata-se de uma exclusão bastante nítida entre menires e antas, situação bem referenciada noutras áreas da fachada atlântica (Capítulo 11) e, com menor nitidez, também em Reguengos e Pavia. Um outro aspecto a ter em conta, no que diz respeito à cronologia dos menires mais antigos, relaciona-se com as descobertas revolucionárias que, na Bretanha, a partir dos anos 80, permitiram identificar, nas arquitecturas funerárias megalíticas, um fenómeno quase sistemático de reutilização de menires decorados; com efeito, começaram igualmente a dar frutos, no Alentejo Central. Efectivamente, nos últimos tempos, têm

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Fig. 9.13 - Povoamento do Nerolítico Final e Calcolítico, na região da serra de Ossa (seg. Caldo, 2001: 248).

vindo a ser identificados alguns prováveis menires usados ou reutilizados nas estruturas de antas (Calado, Alvim e Henriques, n.p.). É certo que as implicações cronológicas deste facto são ainda muito vagas, tanto mais que as cronologias das referidas arquitecturas funerárias não estão ainda suficientemente esclarecidas. Por último, as gravuras que reforçam a simbologia dos monumentos, apesar de, em vários aspectos, remeterem para um fundo ideológico comum ao megalitismo funerário e à própria arte rupestre de ar livre, apresentam, nos menires alentejanos (e bretões), temáticas e técnicas muito sui generis, sem paralelos nos outros tipos de suportes (Calado, 2004). O baixo-relevo ou o falso baixo-relevo, por exemplo, considerados por E. Shee como técnicas tardias (Shee, 1981), são hoje vistos como um claro indicador de antiguidade (Bueno e Balbín, 2002: 617). De resto, na óptica, até certo ponto, independente, da arte megalítica “os seus temas e técnicas têm antecedentes muito mais antigos, sob a forma de estátuas, estelas ou menires, por exemplo na Bretanha (...) ou na Península Ibérica” (Bueno e Balbín, 2002: 615). 9.2. Povoados, antas e menires, nas áreas limítrofes Nas áreas que estão, mais ou menos directamente, em contacto com o Alentejo Central, os menires são relativamente escassos, tal como os povoados do Neolítico antigo; em contrapartida, as antas e os povoados do Neolítico final e Calcolítico estão, em algumas delas, relativamente bem representados. A Norte, no distrito de Portalegre, cujos menires (sobretudo os mais monumentais) sugerem, como veremos, estreitas relações com os do Alentejo Central, conhecem-se, por enquanto, apenas raras evidências de povoamento do Neolítico antigo/médio (Martins et al., 1999; Deus, 2002), reflectindo, aparentemente, a fraca densidade relativa de menires (Oliveira, 1998; Oliveira e Oliveira, 1999-2000); por outro lado, a presença de povoados do Neolítico final/Calcolítico surge, com alguma força, em sectores onde foram efectuadas prospecções recentes (Boaventura, 2001; Martins et al., 1999; Deus, 2002), e onde, concomitantemente, as antas estão muito melhor representadas que os menires. Para além desta imagem geral, muito coerente com as observações efectuadas mais a Sul, destaca-se a datação radiocarbónica obtida a partir de carvões recolhidos no alvéolo do menir da Meada, o mais comprido da Península Ibérica; trata-se de uma data estatisticamente idêntica àquela que, na Valada do Mato (nº1119), corresponde, aparentemente, a um dos momentos finais do povoado: 5010-4810 cal BC, para um intervalo de confiança de 2 sigmas (Oliveira, 1997: 234).

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Recorde-se que o menir da Meada possui, em termos morfológicos, bons paralelos no Alentejo Central, como o menir 1 de S. Sebastião (nº 8) ou o menir 1 dos Perdigões (nº 13), entre outros, e que a implantação, próxima do topo de uma vertente exposta a Leste remete, claramente, para o padrão dominante nos recintos e nos grandes menires isolados da área de Évora. No distrito de Beja, a Sul da serra do Mendro, os menires são ainda mais raros, resumindo-se a dois exemplares, cujas morfologias, dimensões e implantações os aproximam igualmente dos menires do Alentejo Central (Mantas et al., 1986; Lopes et al., 1997: 34-36). O Neolítico antigo/médio está igualmente mal representado nesta área: no povoado da Foz do Enxoé (Soares, 1992; Diniz, 1995), que dista cerca de 2,5 Km do menir da Aldeia dos Testudos, foram recolhidas algumas cerâmicas decoradas, inseridas num contexto do Neolítico final, e, na Toca da Galiana (Soares, 1992), em frente à Sala nº1 (Gonçalves, 1989c), recolhi um fragmento de cerâmica decorada com ungulações, associada a lascas e restos de talhe de sílex. As sepulturas megalíticas estão melhor representadas que os menires e, paralelamente, Fig. 9.14 - Menir do Mau Cabrão (Vidigueira) conhece-se igualmente um número razoável de povoados do Neolítico finalCalcolítico (Gonçalves, 1989b; 1989c; Lopes et al., 1997). Na margem esquerda do Guadiana, no território imediatamente a Leste da presente área de estudo, conhecem-se apenas dois sítios, de escassa entidade, atribuíveis ao Neolítico antigo/médio: a Fábrica da Celulose e a Quinta da Fidalga (Soares e Silva, 1992; Silva e Soares, 2002). Note-se que, apesar da “fronteira” natural que o rio, até certo ponto, representa, ambos se localizam junto ao Guadiana, em frente da baixa do Xarez, área com a qual, de algum modo, se podem contextualizar; em todo o caso, para Fig. 9.15 - Sepultura do Monte do Cabeça (Ponte Leste, não se conhecem menires, nem outros povoados de Sor). do Neolítico antigo/médio. Tal como no Alentejo Central, também nas áreas limítrofes têm sido detectados alguns menires inseridos na estrutura de construções funerárias; neste âmbito, merecem um destaque particular os possíveis menires inseridos em sepulturas submegalíticas, monumentos que, apesar das dúvidas que legitimamente persistem, são considerados, por alguns autores, os mais antigos (Cardoso et al., 1995; 2000a; Calado, 2003b; Silva e Soares, 1983; 2000). Trata-se da sepultura do Monte do Cabeço, em Ponte de Sor, localizada nas imediações do recinto do Alminho (Martins et al., 1999) e, também no distrito de Portalegre, e em relação Fig. 9.16 - Sepultura junto ao recinto do estreita com o outro recinto megalítico conhecido neste Torrão (Elvas). distrito, o do Torrão, uma pequena estrutura funerária

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em cuja construção foram utilizados blocos meniróides (Silva e Albergaria, 2001), eventualmente provenientes do recinto desmantelado. 9.3. Os dados de outras áreas Noutras áreas mais afastadas, mas espacialmente relacionáveis com o Alentejo Central, é igualmente possível determinar uma relação sugestiva entre a presença de menires e de povoados do Neolítico antigo/ médio. O Algarve é, neste aspecto, o paralelo mais esclarecedor: na metade oriental da região, praticamente não existem os menires, nem os povoados do Neolítico antigo/médio, enquanto, pelo contrário, na parte ocidental, o Barlavento algarvio, existem uns e outros, em número bastante elevado. As datas surpreendentemente antigas, obtidas pelo método da OSL, apontando para um patamar cronológico demasiado amplo e anterior ao VI milénio a.C., não podem, por enquanto, ser levadas à letra; aceitá-las, sem reservas, implicaria uma revisão demasiado profunda do próprio enquadramento cultural dos menires algarvios (Calado et al., 2003; 2004) e colocaria sérias dificuldades a uma comparação com os dados mais antigos que, com muitas resistências, começam a ser aceites noutras áreas. No entanto, mesmo que essas datações sejam revistas em baixa, é possível que os menires algarvios sejam efectivamente muito antigos, havendo, seguramente, alguns indícios que apontam nessa direcção. Particularmente importante, neste contexto geográfico, é a datação de uma estrutura de combustão junto da base do menir do Padrão, considerada de carácter ritual, que aponta para meados do VI milénio aC. Por outro lado, a presença de vestígios de habitat do Neolítico antigo, nomeadamente cerâmicas decoradas e estruturas de combustão, em estreita associação espacial com os menires (Gomes et al., 1978; Gomes e Cabrita, 1993; Gomes, 1996: 155; Calado, 2000a; 2000b), destoa claramente do padrão observado nos menires alentejanos e, em boa verdade, na esmagadora maioria dos menires europeus; a separação sistemática entre monumentos e habitats sugere, naturalmente, uma utilização exclusivamente ritual dos monumentos, pelo que, no Algarve, poderíamos estar perante uma reutilização, como povoados, de sítios originalmente concebidos para outras funções. Isto se se tratar, efectivamente, de povoados... Uma certa relação entre os menires algarvios e alentejanos é, no entanto, sugerida pelos motivos gravados no menir actualmente exposto no Museu de Silves (Fig. 9.17 e 10.8), um dos exemplares algarvios mais notáveis; este menir apresenta uma decoração claramente inserida nos padrões regionais, a que parecem ter-se acrescentado, posteriormente, dois objectos de tipo báculo (com pouca curvatura) que remetem para a iconografia alentejana (Gomes, 1996). No Alentejo Litoral, foram obtidos novos dados, ainda inéditos, que parecem constituir a primeira evidência estratigráfica para a antiguidade dos menires Fig. 9.17 - Báculos do menir exposto no Museu de portugueses: de facto, a reescavação de Vale Pincel 1, Silves. em Sines, permitiu identificar um pequeno monólito, sob uma lareira do Neolítico antigo, cuja cronologia antiga (neolítica ou anterior) parece incontestável (C.T. Silva, informação pessoal). Note-se, aliás, que outros pequenos monólitos meniróides foram igualmente identificados na escavação. Se se confirmarem as datas obtidas em Vale Pincel 1, as quais, uma vez calibradas, rondam os meados do VI milénio a.C., podemos estar em presença de restos de um monumento construído ainda na primeira metade

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desse milénio, eventualmente contemporâneo das estruturas funerárias, de planta em ferradura, de Vale das Romeiras e da Moita do Sebastião. As dimensões dos monólitos remetem, em todo o caso, para realidades que, por muito que pareçam desempenhar já um papel ritual, carecem ainda de verdadeira monumentalidade e, nesse aspecto, não são, efectivamente, comparáveis aos monumentos que constituem o objecto deste estudo. Note-se que, no mesmo contexto paisagístico, foi identificado, numa cota superior ao(s) povoado(s) neolítico(s) de Vale Pincel 1 e 2, um povoado calcolítico, Monte Novo, com um recinto (supostamente defensivo) interpretado como a reutilização de um conjunto de menires (Gomes, 1989: 262). No entanto, uma observação atenta do local e da envolvente geológica, não permitem, sem fortes reservas, manter uma tal leitura (Fig. 9.18). Em relação às restantes áreas meníricas peninsulares, que serão, aliás, objecto de uma caracterização genérica, no capítulo 6, é difícil, no estado actual dos nossos conhecimentos, avançar com dados cronológicos seguros. De uma maneira geral e atendendo sobretudo às propostas publicadas, estaríamos, na maioria dos casos, perante monumentos tardios, em comparação com o panorama que parece delinear-se no Alentejo e Algarve; a única excepção aparente, em relação à qual, por ser um caso isolado, são preciso cuidados redobrados, localiza-se na Cantábria (Serna, 1997). Na Bretanha, apesar da longa história da investigação sobre o tema (Cassen et al., 2000) e da monumentalidade excepcional de alguns monumentos, os menires carecem, em geral, de elementos cronológicos seguros; mesmo assim, como veremos, existem indícios que permitem enquadrar alguns deles em datas à volta de 5000 a.C., ou mesmo anteriores (Le Roux, 1999; Cassen et al., 2000 ; L’Helgouac’h et al., 2001; Patton, 1993; Thorpe, 1996; Giot et al., 1998; Bueno e Balbín, 2002: 615). As fortes analogias entre os menires e recintos bretões (sobretudo do Morbihan) e alentejanos, deixando em aberto a possibilidade de uma maior antiguidade num ou noutro Fig. 9.18 - Dois aspectos do recinto do Monte grupo, reforçam, em todo o caso, a proposta de uma génese Novo. contemporânea do processo de transição MesolíticoNeolítico. 9.4. Síntese e propostas As cronologias propostas, com base em dados ainda muito fragmentários, não podem, nem pretendem, ser aplicadas indiscriminadamente a todos os monólitos listados no Volume 2. Recordo aqui a opinião prudente expressa por V. Gonçalves, perante um tipo de monumentos cujas variantes (morfológicas, tipológicas e, necessariamente, cronológicas e culturais) precisam ainda de ser cabalmente esclarecidas: “ a atribuição firme dos menires a uma ‘cultura’, ou mesmo a uma dada faixa diacrónica, é objectivamente impossível, tal como impossível é considerá-los em bloco como uma única realidade” (Gonçalves, 1992:). Como já fiz notar, as cronologias antigas para os primeiros menires alentejanos (ou algarvios) têm sido difíceis de integrar nos modelos correntes, tanto para a neolitização como para o megalitismo; os principais

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obstáculos teóricos são “uma densidade populacional relativamente baixa; um modo de vida baseado na exploração extensiva de territórios (com uma grande mobilidade residencial), que, em princípio, não está de acordo com os princípios sociais e simbólicos que presidem à primeira marcação monumental da paisagem” (Jorge, 1999: 25). No mesmo registo, compreendem-se igualmente as resistências dos que interpretam o megalitismo como a “superestrutura ideológica ao serviço da consolidação da formação social de tipo segmentário” (Soares, 1996: 48). Para João Cardoso que, numa síntese recente, exprimiu o mesmo tipo de reservas “tal significa que, embora possível, ainda não se pode atribuir com segurança, com base nos argumentos aduzidos, a cronologia do fenómeno menírico como remontando ao Neolítico antigo Evolucionado” acrescentando, no entanto, que não se pode negar que, “especialmente os pequenos bétilos (...) como os encontrados no povoado de Vale Pincel I (escavações de J. Soares e C. Tavares da Silva) sejam efectivamente de tal época” (Cardoso, 2002: 229). Para além das dificuldades relacionadas com o suposto patamar social e económico atingido pelas comunidades do Neolítico antigo, existem sérias reservas de carácter metodológico, que derivam da inexistência de métodos de datação directa dos menires e do risco de as datações absolutas obtidas sobre materiais orgânicos (ou outros) se referirem a realidades anteriores aos monólitos em cujo contexto aparente foram recolhidos (Gomes, 1994; Oliveira, 1997; Zilhão, 1998). No entanto, os modelos podem e devem ser adaptados face às novas evidências e, por muito frágeis que sejam os dados disponíveis, é com eles que temos que ir construindo e reconstruindo as leituras possíveis. A presença de indústrias líticas ou cerâmicas, atribuíveis tipologicamente, ao Neolítico antigo/médio, acaba por ser, objectivamente, a “prova” mais directa da antiguidade de alguns menires alentejanos. Na verdade, se não houvesse outras evidências, poderíamos sempre argumentar com a possibilidade de os monumentos terem sido construídos em locais onde permaneciam os vestígios de ocupações anteriores; essa situação tem vindo, aliás, a verificar-se, com alguma regularidade, em relação aos monumentos megalíticos funerários, em vários quadrantes da Europa megalítica (Boujot et al., 1998; Bueno et al., 1999; 2002; Cooney, 2000: 30; 0’Sullivan, 2002; Correia, 2002). Porém, essa possibilidade teórica dificilmente se conjuga com o facto de, no Alentejo Central, os referidos artefactos serem recorrentes (e, muitas vezes, os únicos) em todos os sítios com menires, escavados a partir dos anos noventa; por outro lado, se fossem anteriores aos menires, seria natural que alguns desses artefactos ocorressem no interior dos alvéolos, o que, até à data, nunca se verificou, nas várias dezenas de alvélos escavados. Por outro lado, mesmo que só uma parte dos menires tivesse, efectivamente, sido erguida no Neolítico antigo, isso bastaria para que as ilacções fundamentais sobre a neolitização e a origem do megalitismo regional fossem idênticas. Recorde-se que a cronologia relativa dos menires alentejanos, que se começou a desenhar, no início da década de noventa (Calado, 1990), assentava, num primeiro momento, nos seguintes argumentos: 1. a descoberta de dois povoados do Neolítico antigo/médio, nas proximidades imediatas do recinto dos Almendres e do menir do Monte dos Almendres; 2. a associação recorrente, no Algarve ocidental, entre menires e povoamento do Neolítico antigo; 3. as semelhanças iconográficas entre os temas dos menires alentejanos e os do Morbihan, e a cronologia recuada sugerida pela reutilização destes últimos nas arquitecturas funerárias; 4. a observação estratigráfica, atestada pelos escavadores da anta da Granja de S. Pedro, de que os menires tinham precedido a mamoa. 5. a valortização do carácter elementar da arquitectura menírica, em comparação com a complexidade estrutural das grandessepulturas megalíticas.

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As prospecções na área envolvente do Vale Maria do Meio (nº2), iniciadas em 1992/1993 e concluídas em 1995, durante a escavação do recinto, revelaram, entretanto, a intensidade do povoamento do Neolítico antigo, no contexto geográfico dos três grandes recintos de Évora. A somar às evidências acumuladas, surgiram, na primeira metade dos anos noventa, as datas dos menires do Padrão e da Meada. A partir de 1995, começaram a ser recolhidos, em escavação, sistematicamente associados aos menires, os materiais líticos (e, residualmente cerâmicos) tipologicamente enquadráveis no Neolítico antigo/médio. É reconfortante observar, por exemplo, que se considerarmos, numa perspectiva hipotético-dedutiva, o potencial preditivo do modelo cronológico que foi sendo escorado nestas evidências sucessivas, era de esperar que: 1. a prospecção da área envolvente do recinto do Xarez (nº 6) confirmassem uma ocupação intensa, no Neolítico antigo/médio; 2. a escavação do recinto identificasse a presença de materiais atribuíveis genericamente a essa época. 3. a escavação dos povoados confirmasse uma presença significativa de comunidades dessa época, na área. Na verdade, embora não tenham sido especificamente desenhadas para testar essas hipóteses, as investigações desenvolvidas, a partir de 1998, nessa micro-paisagem que á a Baixa do Xarez, confirmaram, uma por uma, todas as previsões. A reavaliação das plantas dos recintos e a valorização da planta em ferradura permitiram, por seu turno, sustentar paralelos em relação às estruturas rituais mesolíticas, com implicações cronológicas imediatas. A constatação da antiguidade relativa dos menires, em geral, e a atribuição da maior parte deles ao Neolítico antigo/médio, são apenas, como na maior parte das questões científicas, o despoletar de um semnúmero de outros problemas cronológicos. Algumas das considerações que se seguem, mais do fornecer respostas de que por ora carecemos, pretendem lançar pistas, entre outras que seriam possíveis e que, no estado actual da questão, importa ponderar. A forma e dimensões dos menires, tal como as plantas dos conjuntos, parecem ter, pelo menos até certo ponto, implicações cronológicas. Com efeito, tomando como referência o Alentejo Central e, dentro desta região, os monumentos que foram escavados e para os quais se possuem informações de teor cronológico, podemos afirmar que, nos menires atribuíveis ao Neolítico antigo, são raras as formas angulosas, dominando largamente os perfis arredondados e bojudos (variando entre as formas ovóides e as cilindróides, quase sempre um pouco achatadas). Pelo contrário, os menires da 1ª Idade do Ferro, bem representados pelo monumento da Tera, apresentam formas muito mais angulosas e esguias; note-se que os monumentos da Tera (nº 14) e do Vale d’El Rei (nº 15), se localizam a menos de 2 Km um do outro, estando, portanto, sujeitos aos mesmos condicionalismos, em termos de matéria-prima. Nesta mesma ordem de ideias, não deixa de ser curioso que, na Bretanha, os famosos alinhamentos de Carnac que são, ao que parece, relativamente tardios, na sequência regional (Sherratt, 1998), apresentem maioritariamente formas irregulares e angulosas - tal como, por exemplo, acontece com os alinhamentos de Monteneuf (Lecerf, 1999) - enquanto que os grandes menires-estelas se aproximam morfologicamente dos menires neolíticos alentejanos. Como se sabe (Calado, 2002b), existem outras semelhanças notáveis entre os menires alentejanos e bretões, apenas evidentes entre os que, numa e noutra área, são, aparentemente, dos mais antigos. Na verdade, essa analogia verifica-se, entre outros aspectos, na planta dos recintos: trata-se, com efeito, das duas únicas áreas meníricas europeias em que os recintos apresentam, recorrentemente, plantas “em ferradura” (Fig. 7.1; 7.2; 11.7). Na Grã-Bretanha e Irlanda, pelo contrário, existem centenas de recintos megalíticos, praticamente todos de planta fechada e, todos eles, aparentemente mais tardios (Burl, 1979, 1999).

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Com tudo isto, em síntese, podemos concluir – provisoriamente – que os indícios cronológicos, directos e indirectos, de que dispomos permitem, com alguma segurança, considerar, pelo menos, duas épocas de construção de menires, no Alentejo Central: uma, a mais antiga, a que pertence a maior parte dos monumentos registados, que corresponde, grosso modo, à fase de instalação, na região, das primeiras comunidades neolíticas; a outra, a que pertence um número muito restrito de monumentos, que poderíamos designar como epimegalítica e que corresponde cronológica e culturalmente à I Idade do Ferro. O carácter orientalizante desta fase, bem patente nalguns aspectos da cultura material, deve ter revestido, aqui, um acentuado matiz local, embora, ecoando, eventualmente, realidades exteriores à região. A raridade do monumento da Tera, remete igualmente para a posição claramente marginal que o monumento apresenta, tendo em conta a distribuição conhecida do povoamento proto-histórico da região (Calado e Rocha, 1996-1997; 1997). Pelo meio, no Neolítico final/Calcolítico e na Idade do Bronze, não é certo que tenha havido erecção de novos menires; houve, isso sim, utilizações e reutilizações dos monumentos mais antigos; por outro lado, o conceito parece ter sobrevivido, pontualmente, no contexto da construção de monumentos megalíticos funerários, como pode ser o caso dos monólitos esguios, usados como pilares na arquitectura da Anta do Zambujeiro (nº 3) ou da Anta das Cabeças (nº 64) ou das próprias estelas, pouco frequentes, que ocorrem junto à entrada de alguns deles - Zambujeiro (nº 3), Correia (nº 41) e, no distrito de Portalegre, Saragonheiros (Fig. 9.19). No grupo mais recente, para além do monumento da Tera e, com menos certezas, do do Monte das Flores (nº 23), poderíamos, em função da morfologia dos menires, incluir, eventualmente, monólitos mais duvidosos, como os da Lucena (nº 26), da Abaneja (nº 88), da Chaminé (nº 76), da Bota (nº 81), do Carrascal (nº 17) ou do Xarez 2 (nº 25). No grupo mais antigo, podem incluir-se todos os recintos, todos os menires grandes (3m-4,5m) e muito grandes (>4,5m), todos os menires decorados e, com menos segurança, muitos dos menires de dimensões médias (1,5m-3m), de formas arredondadas. Fig. 9.19 - Monólito tombado junto à entrada do corredor Considerando apenas os recintos megalíticos, da anta dos Saragonheiros. e atendendo às cronologias dos contextos habitacionais identificados, os monumentos da área de Évora parecem ser os mais antigos da sequência neolítica; pesam, igualmente, nesta hipótese, a manifesta centralidade geográfica desta área, em função das redes de caminhos naturais que estruturam a região e, por isso também, um vínculo especial com os estuários do Tejo e do Sado. Tendo em conta as densidades diferenciais de vestígios do Neolítico antigo (e a própria presença de cerâmica cardial), Reguengos de Monsaraz corresponderia a uma progressão, a partir de Évora, ainda numa fase antiga, enquanto os restantes núcleos - Cuncos , Tojal e Pavia - seriam todos mais tardios (Fig. 9. 20). Esta sequência sugere uma instalação, em força, dos primeiros grupos neolíticos alentejanos numa área nuclear, a partir da qual, em etapas sucessivas, numa lógica de enxameamento (Gonçalves, 1989b),os territórios periféricos se neolitizam e megalitizam . A hipótese de uma colonização em ilhas de povoamento, concentrando efectivos demográficos em áreas seleccionadas, restritas, baseia-se, por um lado, nas evidências da distribuição dos próprios vestígios de

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202 habitat da fase inicial e, por outro, da distribuição dos recintos megalíticos; no entanto, se considerarmos as dificuldades logísticas necessárias à “domesticação” de uma paisagem densamente florestada e à própria construção de monumentos altamente exigentes, em termos de mão de obra, é óbvio que um povoamento concentrado, traduzido numa capacidade laboral acrescida, baseada eventualmente num sistema de cooperação e entreajuda, seria muito mais eficaz do que uma colonização dispersa em pequenos núcleos isolados. A ocupação extensiva das paisagens regionais, em redes contínuas, sem grandes espaços vazios entre os sítios de habitat é, aparentemente, um fenómeno muito mais recente, visível a partir do Neolítico final e, de uma forma inequívoca, a partir do Calcolítico (mapas 6-11). Por outro lado, a hierarquização cronológica das diferentes áreas fundamenta-se igualmente numa notória intensidade diferencial, em termos da presença de vestígios de habitat do Neolítico antigo e das dimensões e complexidade dos recintos. Uma anterioridade da área de Reguengos de Monsaraz, em relação aos outros núcleos periféricos, justificase, antes de mais, pela posição igualmente privilegiada deste território, no contexto do Alentejo Central: por um lado, pela relação com o Guadiana (e com o santuário rupestre do Alqueva) e, por outro, pela presença das incontornáveis paisagens graníticas. Os indícios desta aparente anterioridade encontram-se, nesta perspectiva, nos vestígios de habitat do Neolítico antigo, concentrados, na sua maior parte, nas proximidades do recinto do Xarez (nº 6) (Calado e Mataloto, 1999; Gonçalves, 2002a) e na presença de vários menires decorados que, à excepção da área de Évora, não foram até agora identificados nos restantes núcleos. Uma alternativa a esta leitura, passaria, com os dados disponíveis, por uma instalação virtualmente simultânea em Évora e Reguengos de Monsaraz, em que as diferenças, em vez de décalages temporais, traduzissem, efectivamente, personalidades culturais distintas ou em vias de diferenciação. De uma forma geral, entre os recintos e os menires isolados, a imagem disponível favorece uma anterioridade dos primeiros; esta hipótese, que pode não ser generalizável, baseia-se principalmente nos Fig. 9.20 - Proposta de sequência evolutiva da neolitização do Alentejo alinhamentos astronómicos Central. identificados, os quais, atendendo à orientação dos recintos e à exposição dos locais em que recintos e menires se implantam, parecem ter sido projectados de Oeste para Leste. Nesta situação, teríamos, por exemplo, o menir do Monte dos Almendres (nº 32) (e, eventualmente, o de Vale de Cardos), projectados em função dos Almendres (nº 1), ou os menires da Casbarra 1 (nº 31) e do Mauriz (nº 38), projectados em função dos recintos da Portela de Mogos (nº 4) e do Vale Maria do Meio (nº 2).

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A montante desta possível sequência, poderíamos ainda admitir, por hipótese, uma fase inicial, em que teria sido feita uma primeira marcação da paisagem, através da implantação de grandes menires isolados e, só num segundo momento, e apenas em alguns casos, se teriam construído os recintos. Nesta variante, os menires “centrais”, de formas ovóides, todos anicónicos, seriam contemporâneos de alguns dos grandes menires isolados, ou associados em pares, com morfologia análoga, de que se destaca o menir 2 de S. Sebastião. Neste quadro hipotético, os grandes menires cilíndricos poderiam ser genericamente mais recentes que os menires ovóides de tipo “pedra talha” e teriam desempenhado, eventualmente, essa mesma função de marcação inicial em paisagens só ocupadas numa segunda ou mesmo terceira vaga. Note-se que, exceptuando o menir 1 de S. Sebastião (nº 8) (que poderia, aliás, ter sido acrescentado numa fase mais recente) e o do Mauriz (nº 38), que ocupa a extremidade do alinhamento que se inicia na Portela de Mogos (nº 4) e pode, por isso, ser o também o mais recente, essa modalidade está ausente da área de Évora. Pelo contrário, os grandes menires da Meada e do Patalou, no distrito de Portalegre (Oliveira e Oliveira, 1999-2000), são de formas cilíndricas e localizam-se em territórios onde o Neolítico antigo ainda não foi identificado, até agora, de forma convincente. O menir da Caeira (nº 30), em Pavia, ou o menir 1 dos Perdigões (nº 13) e o menir 1 do Xarez (nº 6), poderiam também testemunhar o dito processo. Os problemas cronológicos não se esgotam, evidentemente, nas cronologias relativas acima esboçadas; mesmo que fosse possível, e estamos longe de consegui-lo, ordenar sequencialmente os monumentos, ficariam ainda por resolver as questões relacionadas com a duração do fenómeno. Os monumentos mais antigos podem, na minha opinião, ser atribuídos, sem grandes riscos, à segunda metade do VI milénio a.C., na sequência da colonização neolítica da região; quanto aos mais recentes – mesmo considerando apenas os recintos – creio que, por agora, é demasiado arriscado propor um limite, embora seja razoável que a maior parte tenha sido construída num lapso relativamente curto, de algumas gerações, com um limite superior que não deve ultrapassar os meados do V milénio a.C. Um dos cenários possíveis, no quadro do modelo de neolitização regional esboçado no capítulo 12, seria a construção de menires desde a fundação dos primeiros povoados neolíticos, até à extinção das últimas comunidades mesolíticas dos estuários. A construção de cada grupo intraregional corresponderia à instalação, em momentos diferentes, de novos colonos neolíticos, oriundos dos núcleos mais antigos ou do próprio esvaziamento progressivo dos concheiros. De momento, é preciso dar tempo ao tempo.

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Capítulo 10: Os menires da Península Ibérica

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10.1. Introdução Apenas com base na distribuição espacial dos dados actualmente disponíveis, é possível integrar os menires ibéricos em cinco grandes regiões, com características mais ou menos coerentes, embora, naturalmente, passíveis de subdivisões internas, por critérios geográficos, tipológicos e/ou cronológicos: o Algarve (sobretudo o Algarve Ocidental), o Alentejo (com uma concentração muito particular no Alentejo Central), o Noroeste Peninsular (Centro e Norte de Portugal e Galiza), a Cornija Cantábrica e os Pirinéus Ocidentais (Astúrias, Cantábria, Palencia, Burgos e País Basco) e a Catalunha. Para além de não ser exauativa, a cartografia apresentada não tem em conta, entre outros Fig. 10.1 - Distribuição dos menires na Península Ibérica. aspectos, as dimensões dos diversos tipos de monumentos meníricos; na verdade, se, por exemplo, na Catalunha, cada ponto do mapa corresponde a um menir isolado, no Alentejo Central, o recinto do Almendres, cartografado como um único ponto, integra quase uma centena de menires. É verdade que a informação disponível é muito desigual, para as diferentes áreas; faltam, em geral, datações radiocarbónicas que, mesmo sendo discutíveis, sê-lo-ão muito menos à medida que as séries se avolumem; faltam ainda, embora vão surgindo aqui e ali, materiais associados provenientes de escavações rigorosas; faltam estudos Fig. 10.2 - Menires e recintos da Península Ibérica espaciais, contextos arqueológicos; faltam mesmo, em alguns casos, dados descritivos básicos, como são as formas, as dimensões, as matérias-primas; estas lacunas limitam, à partida, as possibilidades de comparação entre as diferentes regiões. A base de dados reunida permite, contudo, concluir, desde já, que, por muito que progrida a descoberta de novos monumentos, alterando uma imagem global certamente parcelar, é no Sul de Portugal (Alentejo Central e Algarve Ocidental) que existem as maiores concentrações de menires da Península Ibérica, considerando aspectos como as dimensões e a quantidade dos menires, ou as dimensões e a complexidade dos monumentos compósitos. 10.2. Algarve Os menires do Algarve constituem um conjunto fortemente individualizado, no contexto da Europa atlântica: destacam-se, sobretudo, no que diz respeito à morfologia, à decoração e aos contextos arqueológicos com que a maioria se relaciona espacialmente. Mesmo assim e apesar de terem, desde cedo, contado com algum destaque na bibliografia arqueológica nacional, não foi, até hoje, publicada um corpus suficientemente informado sobre os menires algarvios, no seu

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Em termos geográficos, estes menires apresentam uma notável concentração no extremo ocidental do Algarve (nos concelhos de Vila do Bispo, Lagos, Portimão, Lagoa e Silves) e uma rarefacção progressiva, para oriente. Os menires referenciados perfazem um total de 259, distribuídos por cerca de 80 sítios; destes, efectivamente, apenas o conjunto do Lavajo (Cardoso, 2003), se localiza no Algarve oriental, já no concelho de Alcoutim. Os menires do Lavajo, para além do desgarramento geográfico em relação ao grosso dos menires algarvios, diferenciam-se deles também em termos de matéria-prima e decoração. Trata-se de um menir mais ou menos intacto e dois outros possíveis menires amputados (Lavajo I) e de um possível conjunto de estelas (Lavajo II) que foram objecto de escavações recentes. A matéria-prima, certamente relacionada com o substrato geológico da área, foi uma rocha metamórfica (o grauvaque) aspecto muito raro no panorama dos menires do Sul de Portugal; no Fig. 10.3 - Menir do conjunto dos Amantes entanto, com alguma frequência, observam-se blocos de grauvaque relativamente compactos e de perfis arredondados, adequados “a priori” para serem transformados em menires. A decoração, muito distinta daquela que caracteriza habitualmente os menires algarvios, apresenta, mesmo assim, alguns elementos desse universo gráfico, nomeadamente uma clara organização longitudinal do campo iconográfico e a presença de um símbolo, interpretado como representação vulvar, constituído por “uma elipse interiormente septada ao longo do eixo maior” (Cardoso, 2003: 64). Na verdade, e como seria, até certo ponto, de esperar, é possível identificar na decoração dos menires do Lavajo I, algumas reminiscências da temática e da organização gráfica de alguns menires decorados alentejanos, nomeadamente os círculos (com ou sem covinha no interior) ou as “ferraduras”. No sítio de Lavajo II, os escavadores concluíram tratar-se de um alinhamento de quatro Fig. 10.4 - Menir 1 do Padrão estelas-menires, anicónicas, actualmente muito afectadas e em relação ao qual, atendendo à ausência reconhecida de paralelos (Cardoso, 2003: 65), é preferível manter, por ora, algumas reservas. A matéria-prima (com apenas duas excepções - menos de 1%) é constituída por rochas sedimentares provenientes do substrato geológico regional: em primeiro lugar, o calcário, seguido pelo arenito, sendo que, muitas vezes, existe discordância entre a matéria-prima e o substrato local, implicando, como sucede noutras áreas, algum esforço de transporte e uma intencionalidade na escolha do local de implantação que transcende

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Fig. 10.5 - Menir do Lavajo I (seg. Cardoso, 2002: 230).

Fig. 10.6 - Menir com serpentiforme, da Caramujeira (seg. Cardoso, 2002: 228).

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obviamente esse tipo de condicionantes técnicas. Os menires algarvios correspondem geralmente a formas arredondadas, nomeadamente ovóides, ou subcilíndricas, muitas vezes com a extremidade distal demarcada, embora existam igualmente os menires de formas menos regulares e até mesmo angulosas. A maioria dos monólitos parece ter sido objecto de afeiçoamento, operação relativamente facilitada pela escassa dureza dos materiais utilizados e certamente muito menos frequente nas Fig. 10.7 - Menir da Pedra Escorregadia. restantes áreas peninsulares. A decoração, pouco variada, mas muito frequente, afecta, segundo Mário Varela Gomes (Gomes, 1997: 161), mais de 50% dos menires; em geral, repete esquemas gráficos/simbólicos geométricos em que os menos originais são certamente os conjuntos de linhas paralelas ondulantes, longitudinais, com diversas ressonâncias na arte megalítica atlântica (Bueno e Balbín, 1995). Dominam, de resto, os motivos geométricos, eventualmente simbólicos, organizados quase sempre ao longo de linhas longitudinais e, à primeira vista, sem paralelos imediatos nos restantes sistemas iconográficos do megalitismo europeu. Nos últimos anos, foram apresentados alguns dados novos e, concomitantemente, um modelo interpretativo (David Calado, 2000a; 200b; Calado et al., 2003; 2004), em que os símbolos gravados nos menires algarvios são interpretados, na sua maioria, como símbolos sexuais que representariam uma estrutura social emergente, de carácter linhagístico que, sendo coerente com os dados algarvios, dificilmente se poderia aplicar às outras áreas em que ocorrem menires decorados. Muitos dos menires isolados e, sobretudo, dos conjuntos de menires, ocorrem associados a vestígios de habitat neolíticos - e, muitas vezes, mais antigos (Gomes, 1996; Bicho et al., 2000) - aspecto que, como referi, constitui um dos traços mais originais dos menires algarvios (David Calado, 2000a, b; David Calado et al., 2003). É Fig. 10.8 - Menir depositado no Museu de Silves. verdade que a natureza dessa associação e as próprias cronologias envolvidas constituem, ainda, um problema em aberto. Na verdade, a segregação repetidamente observada, noutras regiões megalíticas europeias, entre menires e sítios de habitat, sugere uma certa diacronia entre uns e outros, em que, teoricamente, os menires deveriam ser anteriores. Por outro lado, contrariando uma ideia feita muito generalizada e, aparentemente, válida em algumas áreas megalíticas peninsulares (Ruiz et al., 1993; Serna Gonzalez, 1997; Tarrùs, 2000), os menires do Algarve ocidental ocupam territórios virtualmente vazios de megalitismo funerário. Esse aspecto tem sido igualmente aparente na distribuição das principais manchas Fig. 10.9 - Proposta de reconstituição da planta de menires do Alentejo Central (Calado, 2000a; 2002). A questão da relação funcional e cronológica entre os menires do possível recinto do Monte dos Amantes (seg. Gomes, 1996: 165).

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e os materiais que, por norma, lhes estão espacial, ou mesmo estratigraficamente, associados deve, por enquanto, permanecer em aberto, uma vez que os poucos dados disponíveis são, até certo ponto, discordantes. A maioria dos menires conhecidos no Algarve, tal como acontece, aliás, um pouco por todo o lado, encontra-se tombada (apenas cinco foram descobertos erectos) (Gomes, 1997: 157); para além disso, os conjuntos identificados, que se presume poderem corresponder, na maior parte dos casos, a recintos desmantelados, apresentam um tal grau de desarticulação que, até hoje, mesmo nos sítios que foram objecto de escavações, não foi possível reconstituir minimamente as respectivas plantas originais (Fig. 10.19). Na verdade, não foram, até hoje desenhados projectos de escavação que permitam recuperar a informação, que potencialmente existe (Gomes, 1996; Calado et al., 2004), sobre as plantas dos monumentos compósitos algarvios. Em termos paisagísticos, os menires evidenciam uma preferência pelos terrenos mais ou menos aplanados, com cobertura arenosa, localizados não longe da linha de costa, tal como os grandes menires-estelas do Morbihan; em contrapartida, na serra algarvia, estão totalmente ausentes. Recorde-se que, há uns anos, foram obtidas duas datações radiocarbónicas de uma lareira, junto ao menir do Pedrão (Vila do Bispo), com valores calibrados do terceiro quartel do VI milénio a. C.. O escavador refere que “a camada arqueológica a que correspondia a ocupação datada pelo 14C cobria as fossas de implantação dos dois menires” (Gomes, 1994b: 331), o que evidentemente implicaria alguma anterioridade do monumento em relação às datas obtidas. Esta prioridade dos menires em relação aos povoados com cerâmicas impressas foi, aparentemente, confirmada, mais recentemente, por novas datas para um dos menires da Quinta da Queimada, cuja inesperada antiguidade, no entanto, se revela, no mínimo, surpreendente e de problemática interpretação. O método de datação utilizado (OSL-Optical Stimulated Luminescence), tido, pelos autores da escavação, como fiável, incidiu sobre os cristais de quartzo capturados no alvéolo do monólito e deu, como limite mais recente uma data do último quartel do VII milénio A.C. (Calado et al., 2004). A aceitação, sem reservas, destas datas tão recuadas, implica uma revisão profunda dos modelos correntes sobre o aparecimento da monumentalidade megalítica europeia. Recusá-las liminarmente, seria, a meu ver, igualmente temerário, tendo em conta as enormes limitações da informação disponível. Por outro lado, a aceitação da antiguidade relativa destas datas, tal como se deduzia já das observações a propósito do menir do Padrão, excluiria de vez uma verdadeira contemporaneidade entre povoados neolíticos e menires: os povoados seriam posteriores aos menires e corresponderiam mesmo a uma alteração profunda, em relação ao modo como os monumentos teriam originalmente sido concebidos. Não se conhecem, no Algarve, pelo menos por enquanto, menires da Idade do Ferro. A continuidade do fenómeno para além do Neolítico restringe-se à reutilização de menires numa sepultura submegalítica e num tholos (Gomes, 1994c, 1996), e de um menir como estela funerária, da Idade do Bronze (Gomes, 1994a). 10.3. Noroeste Peninsular Centro/Norte de Portugal e Galiza O Centro e Norte de Portugal, assim como a Galiza, apresentam uma baixa densidade de menires, sendo a amostra disponível praticamente só constituída por menires isolados. Na verdade, os únicos casos de recintos megalíticos conhecidos, nesta área, correspondem a realidades muito atípicas, mal conhecidas e de cronologia e funcionalidades indeterminadas. Refiro-me aos “circos líticos” galegos (Maciñeira, 1929; Ramil, 1997), de A Mourela (As Pontes); Prao das Chantas (O Valadouro) e O Freixo (As Pontes), em relação aos quais, as descrições disponíveis não permitem considerá-los como verdaeiros monumentos megalíticos nem, provavelmente, como monumentos minimamente aparentados. Mais a Sul, os dois recintos de S. Cristóvão (Resende), atendendo aos resultados até à data publicados,

Menires do Alentejo Central

211

podem efectivamente corresponder a necrópoles da Idade do Ferro, com base em algumas analogias com o monumento do Monte da Tera (Silva, 2003); seja como for, a morfologia dos blocos e a disposição dos conjuntos não se integra, com facilidade, em nenhuma das categorias de monumentos meníricos conhecidos, pelo que se aguardam novos dados sobre a matéria. Já na bacia do Tejo, o “monumento” do Couto da Espanhola foi publicado inicialmente como um recinto megalítico, com muitas reservas (Henriques et al., 1993); no entanto, uma síntese recente, da autoria de um dos subscritores dessa primeira notícia e de outras referências posteriores, omite-o (Cardoso, 2002). Efectivamente, as dimensões e características deste recinto evocam uma série de estruturas de carácter agro-pastoril de época indeterminada, eventualmente histórica, de que se conhecem diversos modelos, no Alentejo Central (Burgess, 1987; Calado e Mataloto, 2001). Falta também confirmar o carácter megalítico do Fig. 10.10 - Menires naturais da Barreira (Odrinhas, Sintra). recinto da Fonte Fundeira, constituído por alguns monólitos estruturados em torno de um afloramento rochoso (Henriques,1974). Tal como nos recintos durienses, trata-se de uma questões em aberto, em relação à qual importa manter alguma prudência. Outro caso muito duvidoso é o do suposto recinto da Barreira (Sintra, Portugal), (Vicente e Andrade, 1973), onde uma observação atenta da geologia local e da área envolvente, aconselha a reconsiderar os “menires” como simples afloramentos naturais, embora, na verdade, extremamente sugestivos; a mesma leitura é igualmente válida, aliás, para os “menires” da Fonte de Anços e, aparentemente, também para o alinhamento de Caneças (Pereira, Fig. 10.11 - Menir natural da Barreira (Odrinhas, Sintra). 2004). A estela-menir da Caparrosa é, nesta área, um dos casos mais intrigantes, atendendo aos motivos gravados que dificilmente se inserem nas outras iconografias conhecidas. Por outro lado, a possibilidade de o menir fazer parte de um alinhamento, não parece muito sustentável: os pequenos blocos que se alinham junto ao monólito podem corresponder aos restos de um muro adossado a ele (Gomes e Monteiro, 1974-1977). Quanto aos menires isolados, geralmente menos duvidosos, têm sempre como suporte os granitos ou rochas granitóides e, com frequência, relacionam-se espacialmente com monumentos megalíticos Fig. 10.12 - Anta e menires da Granja de S. Pedro funerários. (seg. Almeida e Ferreira, 1971: est. 1, adaptado).

Manuel Calado

212

Nesta área, não dispomos, em geral, de qualquer tipo de evidências cronológicas, excepto em dois casos particularmente interessantes. O primeiro é o da Anta da Granja de S. Pedro (Idanha-a-Nova), onde foram descobertos dois menires soterrados pela mamoa do monumento funerário (Almeida e Ferreira, 1971), pelo que, obviamente, terão que ser mais antigos do que ele; note-se, porém, que as observações efectuadas pelos escavadores têm sido, sistematicamente, desvalorizadas; na verdade, a serem correctas, teríamos, na Granja de S. Pedro, uma situação semelhante àquela que, mais que uma vez, foi observada na Bretanha (Cassen et al., 2000). O outro caso, certamente mais invulgar, é o do curioso menir das Cegonhas (Cardoso et al., 1995), que é na verdade um dormente de mó manual préhistórica, reutilizado como menir; foi descoberto in situ e a escavação permitiu identificar as respectivas estruturas de implantação.Este exemplar remete, aliás, para o fenómeno, muito frequente, de inclusão de fragmentos de mós em construções megalíticas. Em termos de dimensões, os menires do Noroeste peninsular (em sentido amplo) apresentam dimensões moderadas, tendo, os maiores, comprimentos na ordem dos 3 m. A maior parte é anicónica, e os escassos motivos Fig. 10.13 - Menir de Gargantans (Bueno e Balbín, 1996: 43). reconhecidos são normalmente os cruciformes, motivos de difícil atribuição cronológica e cultural que ocorrem igualmente nos menires da Cantábria e Pirinéus ocidentais. O menir de Gargantans (Fig. 10.13) (Bueno e Balbín, 1996: 43, 45), na Galiza, decorado com um serpentiforme vertical, surge como um caso isolado e, de certo modo, atípico. O balanço, provisório por certo, da informação disponível, sugere uma escassa intensidade global do fenómeno menírico, inversamente proporcional à do megalitismo funerário, à da arte magalítica e mesmo à da arte rupestre de ar livre. Mais sugestiva, certamente, parece a relação entre os menires e a presença, igualmente escassa, de vestígios de habitat do Neolítico antigo, apesar das previsíveis lacunas da investigação, num tema que só recentemente começou a emergir, nesta área (Valera, 1998; Otero e Fabregas, 2000;MonteiroRodrigues, 2000; 2002; Sanches, 2000; 2003). 10. 4. Cornija Cantábrica e Pirinéus Ocidentais (Astúrias, Palencia, Cantábria, Burgos e País Basco) O Norte da Península, entre as Astúrias e Navarra, apresenta um número relativamente elevado de menires e recintos com menires, com uma gradação notória de Oeste para Leste, tratando-se, numa perspectiva global, de um fenómeno “de corte oriental mais que atlântico” (Ruiz, Diez e Lopez, 1993). Na verdade, a forte densidade aparente dos menires e recintos do País Basco, observável na cartografia apresentada, precisa de ser relativizada: a maioria esmagadora dos chamados cromlechs (ou ainda, em basco, baraltz) tem pouco ou nada a ver com os recintos megalíticos (também referidos com o mesmo termo bretão) da Europa atlântica: trata-se, pelo menos na sua maioria, de monumentos funerários proto-históricos (sobretudo da Idade do Ferro), que, muitas vezes, nem sequer incorporam verdadeiros menires (Blot, 1977, 1984, 1988, 1998; Altuna et al., 1990;Vegas, 2001). Em todo o caso, existem no País Basco bastantes menires isolados cuja funcionalidade, ainda que nalguns casos possa estar eventualmente relacionada com os baraltz, é certamente diversa e cujas dimensões se destacam normalmente dos pequenos monólitos que integram os referidos recintos. Merece, nesse sentido, uma referência especial o menir de Mugarriaundi, com cerca de 5,40 m (Peñalver, 1990). Mais para ocidente, sobretudo na Cantábria, mas com um número considerável também mais a Sul, na Província de Burgos, existem muitos menires isolados, a par de uma quantidade menos significativa de recintos

Menires do Alentejo Central

Fig. 10.14 - Menires do País Basco (segundo Altuna et al., 2000, adaptado).

Fig. 10.15 - Menires da Cantábria (segundo Ruiz et al., 1993, adaptado).

213

Manuel Calado

214

Menir

C1

C2

L

E

P

IAL

IAC

Forma

Material

Aitzpikoarri

2,55

3,06

0,90

0,35

1,32

3,40

2,57

Prismático

Arenito

Alitzia

2,50

0,80

0,70

2,13

3,13

1,14

Prismático

Calcário

Alto Gurieso

2,67

0,80

0,30

0,88

3,34

2,67

Prismático

Arenito

Arluze

1,62

1,75

0,30

1,29

0,93

5,83

Prismático

Calcário

Arriatara Ugarane I

1,35

2,12

0,92

0,30

0,80

2,30

3,07

Prismático

Arenito

Arriatara Ugarane II

2,70

0,90

0,40

1,33

3,00

2,25

Prismático

Arenito

Atauru Gañe

2,35

1,45

0,40

2,07

1,62

3,63

Prismático

Calcário

Cabañal

1,65

0,65

0,35

0,51

2,54

1,86

Prismático

Arenito

Cuquiello

1,82

0,55

0,45

0,62

3,31

1,22

Prismático

Arenito

El Cabezudo

3,85

4,85

1,20

0,40

3,54

4,04

3,00

Prismático

Calcário

El Cañon

2,55

3,68

1,10

0,45

2,49

3,35

2,44

Prismático

Arenito

El Peñuco

2,75

4,00

1,05

0,46

2,64

3,81

2,28

Prismático

Arenito

Equiriñao

2,13

0,38

0,20

0,22

5,61

1,90

Prismático

Arenito

Hitón

2,70

0,60

0,40

0,89

4,50

1,50

Prismático

Arenito Calcário

Igaratza III Ilso de Anguia

2,57

Ilso de Cerdigo

3,40

1,50

0,20

1,55

2,27

7,50

Prismático

3,08

0,80

0,35

1,18

3,86

2,29

Prismático

Arenito

1,00

0,28

0,16

0,06

3,57

1,75

Prismático

Arenito

Ilso de Hayas

3,20

1,07

0,70

3,28

2,99

1,53

Prismático

Arenito

Ilso de la Herrera

1,36

0,31

0,31

0,18

4,39

1,00

Prismático

Arenito

1,80

0,80

0,70

1,38

2,25

1,14

Prismático

Arenito

1,85

0,76

0,60

0,84

2,43

1,27

Cilíndrico

Calcário

Ilso de Linares

1,50

Ilso de Lodos Ilso de Mello

1,50

1,80

1,00

0,60

1,48

1,80

1,67

Prismático

Arenito

Ilso de Perutxote

1,15

1,38

0,98

0,30

0,56

1,41

3,27

Prismático

Arenito

Ilso Grande

1,87

2,24

0,72

0,45

0,99

3,12

1,60

Prismático

Arenito

3,16

1,80

0,22

1,71

1,76

8,18

Prismático

Arenito

1,95

1,00

0,35

0,93

1,95

2,86

Prismático

Arenito

1,38

0,90

0,30

0,57

1,53

3,00

Prismático

Calcário

2,35

0,96

0,40

1,23

2,45

2,40

Prismático

Arenito

Irazustako Lepoa Jentillarri Kapitarte

1,15

La Cuadra

3,78

1,10

0,32

1,82

3,44

3,44

Prismático

Arenito

La Matorra I

La Llaneda 1,60

1,92

0,50

0,50

0,66

3,84

1,00

Prismático

Arenito

La Matorra II

1,80

2,20

0,95

0,40

1,14

2,32

2,38

Prismático

Arenito

La Puentecilla

1,80

2,35

0,90

0,29

0,84

2,61

3,10

Prismático

Arenito

Langagorri

1,10

1,32

0,90

0,30

0,49

1,47

3,00

Prismático

Arenito

3,10

0,90

0,40

1,53

3,44

2,25

Prismático

Arenito

2,56

1,65

0,27

1,56

1,55

6,11

Prismático

Arenito

5,40

1,00

0,45

3,32

5,40

2,22

Prismático

Arenito

Mongarrido Mugarriluze

2,13

Mugarriaundi Pagozarrieta

3,85

1,00

0,15

0,79

3,85

6,67

Prismático

Arenito

Pedresites

3,00

0,90

0,80

2,95

3,33

1,13

Prismático

Arenito

Peñahincá Peñahincada

2,20

2,00

0,70

0,52

1,00

2,86

1,35

Prismático

Arenito

3,00

0,70

0,50

1,44

4,29

1,40

Prismático

Arenito

Saltarri

3,15

0,60

0,30

0,86

5,25

2,00

Prismático

Calcário

Supitaitz

2,45

0,75

0,60

1,51

3,27

1,25

Prismático

Arenito

Txoritokieta

1,95

2,34

0,95

0,25

0,76

2,46

3,80

Prismático

Arenito

Usobelartza

1,45

1,74

0,75

0,45

0,80

2,32

1,67

Prismático

Arenito

Zorrotzarri

1,35

2,10

0,60

0,25

0,43

3,50

2,40

Prismático

Arenito

Fig. 10.17 - Dimensões, forma e matéria-prima de menires isolados do País Basco e Cantábria.

Menires do Alentejo Central

215

megalíticos; alguns destes, localizados na Cantábria oriental, parecem integrar-se ainda na família dos cromlechs bascos, como sugerem os casos de Maya, Piruquito, El Henal, Biroleo 1 e 2 e Arriatara Ugarane, este último escavado e, com base nos artefactos líticos recuperados, atribuído ao Bronze final (Diez e Ruiz, 1993). Contudo, existem outras situações muito distintas, de que se destaca o recinto de Sejos (Fig. 10.16), constituído por cinco monólitos de arenito local, dois deles decorados com iconografias que, segundo os escavadores, remetem para cronologias calcolíticas e funcionalidade eventualmente ritual; a escavação permitiu, igualmente, neste caso, reunir alguns artefactos, nomeadamente um elemento de mó manual, um artefacto de pedra polida, um polidor e lascas de sílex pouco características (Bueno et al., 1985). Fig. 10.16 - O conjunto de Sejos (Bueno et al. 1995: 89). A atribuição cronológica proposta é, aliás, coerente com outra obtida no recinto de Peña Oviedo (Fig. 10.18), (Diaz, Diez e Robles, 1991) centrada nos inícios do III milénio a.C., onde se recolheram, também, alguns artefactos microlíticos e escassa cerâmica. Uma nota especial para o recinto da Corona de Campóo (Fig. 10.18), cujas dimensões e forma aparentemente aberta, parece Fig. 10.18- Plantas de recintos cantábricos (seg. Diaz et al., indicar uma realidade 1991, adaptado). diferente ((Diaz, Diez e Robles, 1991). Tal como nos Pirinéus ocidentais, alguns menires cantábricos atingem dimensões notáveis, próximas ou superiores a 3 m (Gutierrez Morillo, s.d.); um deles, o menir de El Cabezudo, tem um comprimento total de 4, 85 m (Montes Barquín, s.d.). Para os menires isolados, em geral, por falta de outro tipo de dados, as cronologias propostas assentam, quase invariavelmente, na premissa de que os menires são contemporâneos das sepulturas megalíticas; esta leitura é, em muitos casos (mas não todos) favorecida pela frequente proximidade espacial entre menires e dolmens (Peñalver, 1990: 428; Ruiz et al., 1993: 59; Teyra Mayolini, 1994), situação em que os menires são logicamente interpretados como marcos indicadores (Serna Gonzalez, 1997). É verdade que algumas escavações e recolhas de superfície têm igualmente contribuído para reforçar essa sincronia genérica, fornecendo alguns artefactos líticos pré-históricos (lascas, raspadeiras e lâminas de sílex), em associação espacial com os monólitos (Peñalver, 1990: 432, 433); na escavação do Ilso de Hayas, porém, os materiais líticos, de feição microlaminar, sugerem “os momentos iniciais do Neolítico”, em que se manteriam alguns aspectos técnicos de tradição epipaleolítica (Serna Gonzalez, 1997: 202). Uma datação radiocarbónica muito recuada, feita sobre carvões recolhidos próximo da base do menir, foi

Manuel Calado

216

considerada, naturalmente, anómala, e interpretada como indiciando “o início de umas ocupações habitacionais que poderiam ser sincrónicas com as que oferecem sítios de concheiros” (Srna Gonzalez, 1997: 204). As prováveis fontes de matéria-prima localizam-se sempre nas proximidades imediatas (0-2 Km), havendo casos em que menires de arenito se localizam sobre terrenos calcários e outros, sempre pouco frequentes, em que ocorre a situação inversa (Ruiz et al., 1993: 58). Na verdade, o arenito foi o material mais usado, seguido dos calcários. Exceptuando o caso de Sejos (Bueno et al., 1985) e um ou outro elemento desgarrado, como o menhir de Aitzpikoarri, em que aparece gravada a “silhueta de um pássaro” (Ruiz et al., 1993: 58), a decoração mais recorrente dos menires desta área é constituída por motivos cruciformes (Diez e Ruiz, 1993: 49; Ruiz et al., 1993: 58; Peñalver, 1990: 422); note-se que a cronologia pré-histórica dos cruciformes tem sido, com frequência, posta em causa, com base em alguns casos conhecidos de clara inspiração cristã, embora se trate igualmente de um tema bem representado na Arte Esquemática ibérica. Em termos morfológicos, os menires apresentam, geralmente, perfis muito angulosos, de secções rectangulares, sobre os quais não parece ter havido, por norma, nenhum trabalho de regularização: a forma dos monólitos relaciona-se, portanto, com as características da matéria-prima disponível, implicando “um processo de selecção da rocha base” (Ruiz et al., 1993: 58); Xavier Peñalver observou, a esse respeito, que o arenito, devido às suas componentes mineralógicas (nomeadamente as micas), possui características físicas que o “tornam apto” para produzir “grandes lajes planas”, enquanto os calcários se apresentam, por seu turno, “em grandes bancos estratificados”, onde a erosão lhes pode conferir um aspecto arredondado (Peñalver, 1990: 414). Em termos paisagísticos, está bem definida uma preferência por pontos relativamente elevados (cumes, lombas, portelas), em áreas predominantemente montanhosas; existem, no entanto, alguns menires localizados igualmente em fundos de vale, sobretudo nas áreas de relevo mais suave (Peñalver, 1990: 36, 411; Ruiz et al., 1993: 59; Serna Gonzalez, 1997: 199). 10.5. Catalunha A metade setentrional da Catalunha é também relativamente fértil em monumentos meníricos (Tarrús, 2002), sendo alguns de dimensões apreciáveis. A matéria-prima mais frequente é o granito e outras rochas granitóides, embora existam igualmente menires de rochas metamórficas (xisto e gnaisse); todos provêm teoricamente de fontes de matéria-prima disponível no contexto imediato, dentro de um raio de 500 m (Tarrùs, 2000).

Fig. 10.19 - Menires da Catalunha (segundo Tarrùs, 2000, adaptado)

Menires do Alentejo Central

Menir

C1 C2

L

E

3

3,60

1,90

0,90

10,60 1,89

2,11

Cilíndrico granito

Casa Cremada I

2,4

2,88

1,05

0,35

1,46

2,74

3,00

Ovóide

gneiss

Els Estanys I

2,1

2,52

1,25

0,55

2,39

2,02

2,27

Ovóide

granito

Camp de la Matalena

Els Estanys II

P

217

IAL IAC

Forma

Material

2

2,60

0,60

0,30

0,81

4,33

2,00

Cilíndrico granito

Menhir dels Palaus

2,5

3,20

0,80

0,40

1,76

4,00

2,00

Cilíndrico granito

Pedra Dreta d’Agullana

2,6

3,12

1,30

0,60

4,90

2,40

2,17

Prismáticogranito

Pedra Dreta de Cervera

2,8

3,90

0,75

0,35

2,06

5,20

2,14

Prismáticoxisto

Pedra Dreta de Maçanet de Cabrenys

2

2,40

0,70

0,40

0,93

3,43

1,75

Pedra Dreta de Riutort

3

4,00

0,70

0,50

2,41

5,71

1,40

Cilíndrico gneiss

Pedra Dreta de Sant Salvador

2,9

3,48

0,90

0,30

1,62

3,87

3,00

Cilíndrico xisto

1,95

0,80

0,50

1,57

2,44

1,60

Prismáticogranito

3,60

0,76

0,55

2,59

4,74

1,38

Cilíndrico xisto

3,45

1,70

0,45

4,55

2,03

3,78

Cilíndrico granito

Pedra Gentil II

1,17 1,70

0,75

0,49

0,86

2,27

1,53

Ovóide

granito

Quer Afumat I

2,40

1,30

0,75

3,22

1,85

1,73

Ovóide

granito

3,45

0,90

0,65

3,48

3,83

1,38

Cilíndrico granito

Pedra Dreta de Villartoli Pedra Dreta del Mas Roqué

2,5

Pedra Gentil

Rocs Blancs

1,4

Ovóide granito

Fig. 10.20 - Dimensões, forma e matéria-prima dos menires da Catalunha

Não se conhecem recintos megalíticos, pelo menos no sentido habitual da expressão; no entanto, J. Tarrús (2002) escavou, no Alt Empordà, o menir de Els Estanys I, em volta do qual foi registado um recinto constituído por um “ túmulo de terra, semi-circular, adossado” ao menir, pelo lado sudoeste, e por “um muro de pedra seca, ligeiramente semi-circular também”, pelo lado oposto; paralelo ao muro, pelo lado externo, uma depressão semi-circular com buracos de poste (Tarrús, 2002: 680-682). A cronologia pré-histórica desta estrutura parece indiscutível, atendendo sobretudo a que, na escavação, foram recolhidas cerâmicas manuais, lisas e de bordos simples e um fragmento de lâmina de sílex. Apesar do carácter relativamente incaracterístico dos artefactos referidos, o escavador sugere uma cronologia dentro do Neolítico médio regional, proposta que assente na ausência de determinados artefactos e na proximidade espacial com o dólmen de Els Estanys II) (Tarrús, 2002: 683). No entanto, a comparação global da distribuição dos vestígios de habitat do Neolítico médio (Martín, 1991a, 1991b) e da distribuição dos menires, parece demonstrar um desfasamento geográfico significativo entre os dois fenómenos; esta discrepância pode, em todo o caso, corresponder a problemas de investigação relacionados com a detecção dos habitats de ar livre, uma vez que a maioria dos sítios cartografados correspondem a ocupações em gruta. O interesse dos menires catalães e dos resultados do aprofundamento futuro do respectivo estudo, no contexto da Península Ibérica, prende-se com o carácter mediterrânico desta região e a possibilidade de vínculos a outras áreas meníricas que, por serem alheias (resta ver até que ponto) às correntes atlânticas, foram excluídas deste trabalho. Sem esquecer os menires tardios das Baleares, sistematicamente associados às taulas, conhecem-se, no Mediterrâneo, outros conjuntos de menires, recintos e, sobretudo, alinhamentos cujas cronologias oscilam, em grande parte, entre o Calcolítico e a Idade do Ferro, mas onde têm surgido, ultimamente algumas datações mais antigas. Um dos exemplos mais pertinentes são os resultados das escavações recentes nos menires corsos de Renaghju, em que a fase construtiva mais antiga remonta, ao que parece, a meados do V milénio a.C, embora se tenha datado, no mesmo local, uma ocupação, supostamente sem meniresr, atribuível ao Neolítico antigo da Córsega, com uma data, obtida a partir de carvões de uma lareira, da primeira metade do

Manuel Calado

218

VI milénio a.C. (D’Anna et al., 2000). Num outro texto, sobre os menires do Sartenais, deixa-se no ar a possibilidade, de “a origem destes monumentos” poder ser “mais antiga do que se pensava e situar-se no Neolítico Medio, como em Renaghju (D’Anna e Leandri, 2000: 131).

10.6. Outros Para além destas cinco áreas que, genericamente, possuem alguma coerência geográfica e arqueológica existe, na Península Fig. 10.21 - Menires del Rabano (1) e de la Ibérica, um conjunto de casos, aparentemente pontuais, quase todos Palanca del Moro (2), na serra de Huelva descobertos a partir dos inícios dos anos 90 do século passado e (seg. Dominguez et al., 1996) cujo isolamento pode, por hipótese, corresponder a lacunas da investigação. O menir da Sierra de la Tercia, na Província de Murcia (Ayala et al., 2000) é um monólito de calcário, com cerca de 4 m de comprido, em cuja base foram recolhidos materiais arqueológicos de tipologia genericamente neolítica (pontas de seta, lâminas de sílex e instrumentos de pedra polida); desconhece-se o significado cultural dessa associação, tanto mais que se trata de um fenómeno sem paralelos conhecidos, na Península Ibérica. Os dados publicados, embora pouco explícitos, parecem evocar um depósito votivo. Mais próximos de nós, conhecem-se alguns menires na Sierra de Huelva (Dominguez et al., 1996), em parte ainda inéditos (Leonardo Garcia, com. pessoal), para além de um pequeno conjunto publicado no início dos anos 90 (Berrocal, Fig. 10.22 - Menires de La Cerca (seg. Jímenez, 1991). Trata-se de monólitos para os quais, mais uma vez, 1999: 384, 385, 387). não se conhecem dados cronológico-culturais relevantes e que, por analogia com realidades mais ocidentais, têm sido considerados genericamente neolíticos ou calcolíticos; os menires del Rábano e o da Palanca del Moro (Fig. 10.21), ambos decorados com covinhas, apresentam morfologia e dimensões que, a priori, sugerem essa suposta sincronia. Os menires de Fregenal de la Sierra, de dimensões muito modestas, permitem talvez uma outra leitura, atendendo a que o sítio se localiza em aparente articulação espacial com o povoado da Idade do Ferro de Cantamiento de Pepina (Berrocal, 1991). Há ainda a acrescentar os menires de La Cerca (Fig. 10.22), na Alta Extremadura (Jímenez, 2000), cuja particularidade reside no facto de ostentarem gravuras incisas, em zig-zag, repetindo um motivo comum na arte megalítica dolménica, mas pouco ou nada representado nos restantes menires da Península Ibérica (onde os motivos serpentiformes, menos angulosos, são, efectivamente, muito Fig. 10.23 - Vista lateral da estátua-menir de mais frequentes). Navalcán (seg. Bueno et al., 1999: 57).

Menires do Alentejo Central

219

Também na Extremadura, destacam-se os menires (ou estátuas-menires) implantados no interior dos monumentos funerários de Navalcán e de Guadalperal, na Província de Toledo, numa área em que se conhecem também os menires isolados de Guadyerbas e de La Laguna del Conejo (Bueno et al., 1999). A peça mais interessante de Navalcán apresenta gravuras que se aproximam da temática (báculo, figura quadrangular, serpentiforme) e da técnica (baixo-relevo) documentadas nos menires do Alentejo Central e da Bretanha, aspecto que levou os descobridores a afirmar que “as representações megalíticas, os seus temas e técnicas, têm antecedentes muito mais antigos, sob a forma de estátuas, estelas ou menires” (Bueno e Balbín, 2002: 615). Efectivamente, as semelhanças apontadas podem indicar uma permanência pontual de um fundo iconográfico anterior ou, em alternativa, corresponde à reutilização de menires em contexto arquitectónico funerário, fenómeno perfeitamente atestado na Bretanha (L’Helgouach, 1983; Le Roux, 1984a; L’Helgouach, 1996; Cassen et al., 2000) e de que, no Alentejo Central, foram também ultimamente observados alguns indícios (Calado, Alvim e Henriques, n.p.). Finalmente, para fechar o círculo dos menires peninsulares, aquele que é, certamente, o conjunto mais próximo, espacial e culturamente, dos menires do Alentejo Central: os monumentos do distrito de Portalegre (Oliveira, 1985; 1997;1998; Martins et al., 1999; Oliveira e Oliveira, 1999-2000; Silva e Albergaria, 200; Lopez-Romero, 2004).Por enquanto, conhecem-se nesta área, apenas dois recintos megalíticos e cerca de uma dúzia de menires isolados. O recinto do Alminho (Fig. 10.24), em Ponte de Sor (Martins et al., 1999), actualmente muito destruído, apresenta características (forma e dimensões dos menires, implantação e exposição) que remetem, sem grandes ambiguidades, para os recintos complexos em forma de ferradura, como o de Cuncos, Fontaínhas, Casas de Baixo ou Tojal e localiza-se num contexto arqueológico que, significativamente, tem alguns indícios que remetem para uma fase antiga do Neolítico regional (Martins et al., 1999; Deus, 2002). O recinto do Torrão (Fig. 10.25) (Albergaria e Silva, 1995; Silva e Albergaria, 2001), destaca-se dos restantes monumentos Fig. 10.24 - Vista geral do recinto do Alminho. alentejanos, em dois aspectos particulares: as dimensões muito diminutas dos menires (para os quais não foi possível recuperar a disposição original, mas que, em termos do local de implantação, parecem corresponder aos padrões mais frequentes), assim como os vestígios associados; de facto, anexo aos menires, foi identificado um povoado de fossos, de cronologia aparentemente calcolítica, o qual, curiosamente, não ocupou a parte superior do cerro, onde se dispersam actualmente os monólitos. Por outro lado, foi identificada, a pouca distância do sítio, numa rechã, uma sepultura submegalítica, em cuja estrutura parecem ter sido reutilizados menires. No nordeste do distrito, localiza-se um conjunto muito interessante de menires isolados, de que vale a pena destacar, sobretudo, os três mais monumentais: o da Meada, o do Patalou Fig. 10.25 - Aspecto do recinto do Torrão, com o fosso calcolítico em primeiro plano. e o do Carvalhal (Fig. 10.26, 10.27 e 10.28) (Oliveira e Oliveira, 1999-2000). O menir da Meada é, certamente, o mais longo da Península Ibérica e talvez o mais pesado; é um menir de forma cilindróide e localiza-se perto do topo de uma encosta exposta a Este; uma data obtida a partir de

Manuel Calado

220

carvões retirados do fundo do alvéolo, aponta, como se viu, para um momento avançado do Neolítico antigo regional (Oliveira, 1997: 234). O de Patalou, de menores dimensões, é um menir perfeitamente integrável, em termos morfológicos, na categoria dos grandes menires cilíndricos (ou ovóides alongados) do Alentejo Central, com uma implantação também dentro das normas mais frequentes nesta última área. Pelo contrário, o menir do Carvalhal, de forma muito achatada e silhueta mitriforme, apresenta uma implantação/exposição um tanto ambígua e não tem, morfologicamente falando, paralelos óbvios no Alentejo Central, nem que se saiba, noutra área peninsular, se excluirmos os menires bascos que, sendo frequentemente achatados, têm silhuetas mais quadrangulares, de acentuada angulosidade. Todos os restantes menires do Noroeste do distrito de Portalegre, tendo em conta las dimensões, formas, implantações e contextos, são de difícil classificação; acrescentaria, no entanto, ao conjunto acima referido, o menir del Cabezo, em Alcántara, no lado español do mesmo território natural. Trata-se, ao que parece, de um grande menir cilíndrico (Bueno, 2000: 47). O granito foi a matéria-prima sistematicamente utilizada, embora muitos apareçam geologicamente descontextualizados: os do Noroeste, parecem relacionar-se positivamente com a 6fronteira geológica entre xisto e granitos (Oliveira, 1998); além disso parecem alinhar-se, como muitos do Alentejo Central, com orientação geral concordante com a da Lua de Primavera (Silva e Calado, 2004). Para além de algumas covinhas e uma ou outra suspeita, não se conhecem, efectivamente, menires decorados, nesta área. 10.7. Síntese No que diz respeito às dimensões dos menires individuais, as diferenças entre o Alentejo Central e as outras áreas peninsulares são pouco significativas; no entanto, se considerarmos os monumentos no seu todo, é evidente que não existe, em nenhuma outra área da Península, nenhum monumento que se compare, em termos do esforço investido, com os recintos complexos da área de Évora. Quanto às diferenças observadas, em termos morfológicos, entre os menires das diversas áreas peninsulares, a maior parte delas pode eventualmente explicar-se pelas especificidades das matérias-primas disponíveis,

1 Fig. 10.26 - Menir da Meada. (1, seg. Oliveira, 1997: 237)

Fig. 10.27 - Menir de Patalou.

2

1 Fig. 10.28 - Menires de Portalegre: 1- Carvalhal ; 2Água da Cuba (seg. Oliveira, 1998, adaptados).

Menires do Alentejo Central

221

nomeadamente o elevado índice de achatamento dos menires bascos, comparados com os do Alentejo Central, ou as semelhanças entre estes e o menires catalães. Em termos iconográficos, é igualmente notória a singularidade dos menires do Alentejo Central: nas restantes áreas - exceptuando o Algarve - a decoração não existe, ou é muito rara ou, no caso dos cruciformes cantábricos ou bascos, de complicada atribuição cronológica. No que diz respeito às orientações, quer em função de eventos astronómicos, quer de características fisiográficas do terreno, ou de ambas, que foram observadas nos menires alentejanos, não dispomos de estudos específicos sobre as restantes áreas, embora seja de supor a existência de padrões semelhantes. Em relação ao Algarve, as diferenças esbatem-se, em alguns aspectos fundamentais, como é a decoração ou os contextos arqueológicos associados ; porém, permanecem igualmente muitas interrogações, nomeadamente de carácter tafonómico e contextual, que dificultam as comparações entre as duas áreas. Provisoriamente, enquanto se aguardam dados mais eloquentes, os menires algarvios parecem ser os mais antigos; note-se, no entanto, que é difícil encontrar nos menires do Alentejo Central, elementos que indiquem uma filiação directa, apesar da proximidade geográfica relativa: os símbolos gravados nos menires de ambas regiões têm personalidades próprias, mas mesmo assim remetem para um ambiente cultural comum . Resta avaliar o papel do factor tempo nas convergências óbvias e naturais entre os menires do Sul de Portugal. Atendendo à intensidade relativa do fenómeno menírico no Alentejo Central, é provável que os raros menires que têm vindo a ser descobertos na Extremadura espanhola correspondam a uma penetração, para Leste, através do caminho natural que é o festo Tejo-Guadiana, no caso dos da província de Cáceres, e descendo e cruzando o Guadiana, nos da serra de Huelva; nesta perspectiva, os menires do distrito de Portalegre constituiriam uma escala intermédia (em termos geográficos, mas também em relação às intensidades relativas) entre o Alentejo Central e a Alta Extremadura. Em contrapartida, o Norte de Espanha ou a Catalunha dificilmente encaixariam nesta leitura: as distâncias e as diferenças sugerem realidades culturais sem relações directas, embora, eventualmente aparentadas.

Manuel Calado

222

Capítulo 11: Outras áreas da fachada atlântica

Menires do Alentejo Central

223

11. Outras áreas da fachada atlântica 11.1. Vendeia Um estudo monográfico recente (Béneteau, 2000), centrado num conjunto megalítico com forte personalidade, localizado no Sul da Vendeia, fornece-nos uma série de dados e de propostas, úteis como contraponto extrapeninsular para um enquadramento mais amplo dos menires alentejanos. Na verdade, se assumirmos alguns pontos comuns entre os menires alentejanos e bretões, a Vendeia poderia, teoricamente, corresponder a um passo intermédio, em termos geográficos, entre ambas as regiões. O tipo de monumento menírico mais característico desta área do Centro-Oeste francês, é o alinhamento curto, constituído por 3 a 7 menires alinhados de acordo com “cânones arquitecturais” bem definidos: em “cortejo”, em “frontispício” e “com satélite” (Béneteau, 2000: 172, 173), de acordo com a posição relativa dos monólitos de diferentes dimensões, de que se destaca sempre um menir “gigante”. Trata-se de modelos específicos ausentes da Península Ibérica - se deixarmos de lado algumas casos menos claros - envolvendo monólitos de dimensões muito monumentais, que chegam a atingir, como acontece com o menir grande do monumento de Champ de César, valores da ordem dos 6, 90 m de altura, acima do solo, com um peso estimado rondando as 80 toneladas. Para além destes alinhamentos curtos, existe, nesta região, um número significativo de menires isolados, alguns de dimensões muito mais modestas, de que se destaca um bom número cujas formas, em que houve, geralmente, algum ligeiro agenciamento, sugerem silhuetas antropomórficas. Existe igualmente um certo número de menires, de pequenas dimensões, que parecem relacionar-se com monumentos megalíticos funerários: uns localizam-se nas imediações dos dolmens e outros foram mesmo incluídos no interior das arquitecturas funerárias; num único caso que foi, aliás, objecto de escavação, um par

A

B

Fig. 11.1 - Menires que integram os alinhamentos curtos da Vendeia. A: Champ de César; B: La Pierre (Beneteau, 2000: 174, 182)

Manuel Calado

224

de menires surgiu inserido no interior de um fosso circular, com evidências de uso funerário, em época campaniforme (o recinto de Terriers) (Béneteau et al., 1993). Menir

C1

C2

L

E

P

IAL

Beauchêne 1

3,65

4,38

1,78

1,21

16,25

2,46

1,47

Beauchêne 3

3,88

4,66

3,56

1,37

39,11

1,31

2,60

Beauchêne 4

4,86

5,83

2,26

1,13

25,65

2,58

2,00

4,86

1,62

1,13

15,32

3,00

1,43

Beauchêne 5

IAC

Beauchêne 6

4,05

4,86

1,62

1,13

15,32

3,00

1,43

Beaulieu 2

4,30

5,16

3,90

2,60

90,13

1,32

1,50

Beaulieu 3

2,50

1,70

1,10

8,05

1,47

1,55

Bois de Fourgon G1-1

2,10

1,25

0,65

2,94

1,68

1,92

Bois de Fourgon G1-2

1,92

1,25

0,70

2,89

1,54

1,79

Bois de Fourgon G1-3

2,40

2,88

1,60

1,20

9,52

1,80

1,33

Bois de Fourgon G1-4

6,00

7,20

3,40

2,00

84,33

2,12

1,70

Bois de Fourgon G2-1

2,88

1,75

0,68

5,90

1,65

2,57

Bois de Fourgon G2-2

3,81

2,30

0,78

11,77

1,66

2,95

Bois de Fourgon G2-3

6,10

2,60

1,20

32,78

2,35

2,17

Bois de Fourgon G2-4

4,15

2,85

0,90

18,34

1,46

3,17

Bois de Fourgon G2-5

2,50

1,80

0,70

5,43

1,39

2,57

3,24

2,70

1,15

17,33

1,20

2,35

2,20

1,50

1,55

8,81

1,47

0,97

Bois de Fourgon G3-1

2,70

Bois de Fourgon G3-2 Bois de Fourgon G3-3

1,80

2,16

1,65

1,45

8,90

1,31

1,14

Bois de Fourgon G3-4

0,45

0,54

0,85

0,65

0,51

0,64

1,31

3,50

3,15

1,90

36,08

1,11

1,66

Bois de la Garde Camp de César 1

6,90

8,28

2,80

2,10

83,86

2,96

1,33

Camp de César 2

4,45

5,34

2,26

1,62

33,68

2,36

1,40

Camp de César 3

4,20

5,04

2,90

1,13

28,45

1,74

2,57

La Boilière 1

3,70

4,44

2,10

1,15

18,47

2,11

1,83

1,80

0,95

0,50

1,47

1,89

1,90

La Chenillée

4,40

5,28

2,90

1,20

31,65

1,82

2,42

La Garnerie 1

5,20

6,24

2,80

2,40

72,23

2,23

1,17

La Pierre 1

2,25

3,15

1,80

1,10

10,74

1,75

1,64

La Pierre 2

5,20

6,24

2,70

1,50

43,53

2,31

1,80

La Pierre 3

2,05

3,12

2,10

1,15

12,98

1,49

1,83

La Pierre qui vire 1

4,00

4,80

2,90

1,30

31,17

1,66

2,23

La Pierre qui vire 2

2,90

3,48

2,00

0,65

7,79

1,74

3,08

La Rainière 1

4,20

5,04

3,30

1,75

50,14

1,53

1,89

La Rainière 2

3,30

3,96

3,10

1,30

27,49

1,28

2,38

5,30

2,65

1,70

41,13

2,00

1,56 1,21

La Boilière 2

Le Grand Plessis Le Plessis 1

5,70

7,00

2,30

1,90

52,69

3,04

Le Plessis 2

3,80

4,56

2,35

1,70

31,38

1,94

1,38

1,60

0,80

0,75

1,65

2,00

1,07

3,60

1,60

1,40

13,89

2,25

1,14

2,54

2,54

1,00

11,11

1,00

2,54

4,68

4,80

1,90

73,52

0,98

2,53

Les Franches Boisières 4 Les Jaunières

3,00

Puy Durand 1 Puy Durand 2

3,90

Fig. 11.2 - Dimensões dos menires da Vendeia (Seg. Beneteau, 2000)

G. Béneteau, à margem do estudo específico sobre os alinhamentos de menires do Sul da Vendeia, traçounos um quadro geral bastante circunstanciado sobre os menires conhecidos entre a margem esquerda da foz do Loire, no Pays de Retz, e o rio Lay, que delimita, pelo lado Sul, a Vendeia.

Menires do Alentejo Central

225

Trata-se de uma área repartida por diferentes paisagens megalíticas, com realidades fisiográficas (nomeadamente em termos dos substratos geológicos) bastante diferenciadas, mas unidas por uma importante via natural de trânsito, ao longo da planície litoral (L’Helgouach et al., 2001: 31). É interessante observar que, Fig. 11.3 - Gravuras setecentistas representando menires da Vendée em toda esta vasta área, não se (seg. Beneteau, 2000: 287, 288). conhecem recintos megalíticos, monumentos que, pelo contrário, são relativamente frequentes no Sul da Bretanha; estão igualmente ausentes os grandes complexos megalíticos que são a imagem de marca do megalitismo do Golfo do Morbihan. As distribuições espaciais dos menires e das sepulturas de corredor apresentam aqui algumas discrepâncias bem vincadas; note-se que os alinhamentos curtos já referidos, concentrados na região de Avrillé (Sul da Vendeia), ocupam uma área onde aqueles monumentos funerários estão ausentes; o mesmo se passa, aliás, junto ao estuário do Loire, no plateau de Corsept-Chauvé, nas Mauges e no Choletais (no Sudoeste do Maine-et-Loire e Norte da Vendeia), enquanto em Pornic-Le Clion temos a situação inversa (L’Helgouach et al., 2001; Cassen et al., 2000: 198). Em geral, pode afirmar-se que os menires desta área são um fenómeno de forte expressão litoral, quer pela existência de maiores concentrações de menires “de forma nitidamente mais ‘organizada’ na franja costeira”, quer pelas dimensões do menires que, nas áreas mais afastadas da costa, raras vezes ultrapassam os 3 m de altura (Beneteau, 2000: 29). Para além de um ou outro conjunto amputado, que teoricamente podem corresponder a monumentos mais complexos, os menires aparecem, tal como no Sul da Vendeia, quase sempre agrupados em alinhamentos curtos, mais ou menos destruídos, ou surgem como menires isolados. As matérias-primas utilizadas variaram em função dos recursos disponíveis nas imediações dos monumentos: aparecem documentados os granitos, os gnaisses, os arenitos, os calcários e o quartzo. Parece sobressair, no conjunto, “o pragamatismo das populações que se limitaram à rocha local” Beneteau, 2000: 30); no entanto, existe, pelo menos um caso, o do menir de de La Tonelle, feito de uma rocha granitóide cujas jazidas mais próximas se encontram na ilha de Yeu, a cerca de 25 Km, em linha recta; mesmo considerando que a ilha parece ter estado ligada ao continente, na época da construção do menir, e admitindo a existência, actualmente submersa, de afloramentos daquela rocha, a uma distância menor, trata-se, sem dúvida de um caso que destoa do padrão geral. A morfologia dos menires parece, mais uma vez, depender da morfologia dos blocos naturais disponíveis, sendo raros e de alcance muito limitado, os casos em que houve afeiçoamento; destaca-se notoriamente, sobretudo quando comparamos com os menires da Península ibérica, a robustez de muitos dos menires gigantes, traduzida numericamente por índices de alongamento e de adelgaçamento reduzidos; trata-se de menires muito volumosos que, mesmo sem se destacarem demasiado, em termos de altura, ultrapassam largamente a tonelagem dos menires peninsulares mais pesados; em contrapartida, comparada com a Bretanha, que constitui o prolongamento, para Norte, da área analisada por Gérard Béneteau, esta fica claramente a perder, quanto à volumetria dos menires mais imponentes. Em termos de implantação na paisagem, predominam as posições dominantes, embora existam excepções a este padrão. Algumas dessas excepções beneficiam, aliás, da possibilidade teórica de serem aproximativamente

Manuel Calado

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datadas, com base na cronologia das oscilações do nível do mar. As cronologias são ainda, para a generalidade dos casos, um problema complexo, a exigir dados em que os menires são, por norma, muito avaros. Sobre esta matéria, dispomos, por ora, de mais interrogações do que conclusões; Gérard Béneteau arrisca, para os monumentos que, apesar de tudo, são melhores conhecidos, na região, os referidos alinhamentos curtos, uma “relação com os ‘movimentos culturais’ que modificam estruturalmente a sociedade neolítica, no decurso do período de transição entre o Neolítico médio e o Neolítico recente” (Béneteau, 2000: 284). Esta cronologia foi, entretanto criticada, com base nos dados recentemente publicados sobre o Alentejo e Algarve ocidental, e na já referida exclusão territorial entre os alinhamentos e as sepulturas de corredor da Vendée (Cassen et al., 2000: 198). 11.2. Bretanha Na Bretanha, e, em particular, no Sul da Bretanha, encontramos a maior concentração de menires da Europa e, eventualmente, do mundo; para além disso, de entre os milhares de monólitos sobreviventes, existem alguns dos maiores blocos de pedra alguma vez transportados e erectos pelo Homem. No Golfo do Morbihan, destacam-se os alinhamentos de Carnac e o menir de Locqmariaquer que são, certamente, os exemplos mais impressionantes; porém, o fenómeno atingiu igualmente picos notáveis na Finisterra (alinhamentos como o de Lagatjar e menires gigantes como os de Kergadiou ou de Kerloas); trata-se, nos dois casos, de áreas muito próximas do litoral, embora existam também algumas manifestações complexas no interior do maciço armoricano, de que o exemplo mais famoso, por ter sido objecto de trabalhos extensos (Le Roux et al., 1989), é o dos alinhamentos de Saint Just , na Ile-et-Vilaine. A diversidade litológica das matérias-primas condicionou, obviamente, a morfologia (e a dimensão) dos menires bretões. As estelas-menires decoradas que foram, na sua maioria, reutilizadas em monumentos funerários, são quase todas de ortognaisse. Trata-se de uma rocha granitóide, em cujos afloramentos foram identificadas duas variantes: uma deu origem aos “blocos mais ou menos fusiformes”, como o de Locmariaquer, com cerca de 20 m de comprimento; a outra, com estrutura mais orientada, deu origem a blocos de tendência tabular, como é o caso da estela decorada que cobre a sepultura do Mané-Rutual (Le Roux, 1997: 9). Fig. 11.4 - Estelas-menires A maior parte dos menires bretões é feita de granito, muitos deles com formas de Locqmariaquer. muito irregulares que denunciam, sem margem para dúvidas, o carácter inteiramente natural da forma dos monólitos (Sellier, 1991; Le Roux, 1999a). As formas irregulares, mas com perfis mais angulosos, são particularmente características dos menires de quartzo filoniano, frequentes nos terrenos metamórficos do interior da Bretanha. Também no interior, são conhecidos alguns menires em xisto, quartzito e em arenito (Giot, 1988: 320), sendo os primeiros constituídos geralmente por lajes muito achatadas, como as que se podem observar, por exemplo, nos alinhamentos de Monteneuf (Lecerf, 1999). Apesar das dimensões impressionantes dos grandes menires da Bretanha (o Grande Menir Quebrado de Locmariaquer ocupa, em todo o caso, um lugar à parte, uma vez que aquele que se segue no ranking tinha, quando inteiro, um comprimento de “apenas” cerca de 14 m (trata-se do menir reutilizado na Table des Marchand, em Er-Grah e em Gavrinis), “apenas meia dúzia de outros monólitos bretões ultrapassa os 7 m e sem dúvida mais uma dúzia acusariam mais de 5m” (Le Roux, 1999a: 213); a somar aos grandes menires, erectos ou tombados, mas que permanecem no local original de implantação, haveria que contabilizar ainda os

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Fig. 11.5 - Mapa da distribuição, na Bretanha, de conjuntos de menires (seg. Le Roux, 2003: 379).

Fig. 11.6 - Litografia oitocentista representando os alinhamentos de Carnac (seg. Giot et al., 1998: 549).

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fragmentos dispersos, reutilizados em monumentos mais recentes que, nos últimos anos, se têm vindo a identificar no Morbihan (Briard, 1990: 29, 30; Giot et al., 1998: 283-Giot, 1988). A par destes monumentos, conhecese igualmente cerca de uma dezena de recintos megalíticos com plantas em ferradura ou quadrangulares. O caso melhor conservado é o de Er-Lannic, com dois recintos em ferradura, escalonados em função da topografia do local, ficando, actualmente, o recinto Sul totalmente submerso, e o recinto Norte, parcialmente. As plantas dos dois recintos, tal como as dimensões dos menires que os constituem, são muito distintas: enquanto o recinto Norte, tem uma planta sub-quadrangular e os menires se encostam lado a lado, o recinto Sul tem uma planta em ferradura e os menires são espaçados; além disso, os menires do recinto Sul apresentam dimensões muito superiores. As escavações no recinto Norte - o único sobre o qual existem indícios cronológicos - apontam para datas, em função dos materiais recolhidos, de meados do V milénio a. C. O recinto Sul, como tudo leva a crer, deve ser mais antigo; a construção de um novo recinto ficaria, naturalmente, a dever-se à subida do nível da água do mar. A própria ocupação que as escavações revelaram, com um abundante conjunto de cerâmica de tipo Castelic (a mesma que, em Locmariaquer marca uma ocupação anterior aos monumentos funerários), pode ser posterior (quanto?) ao monumento. Fig. 11.7 - Os recintos de Er-Lannic (seg. Em todo o caso, a comparação com as plantas dos Gouezin, 1998: 6, 7, adaptado) recintos alentejanos, revela semelhanças muito maiores entre estes e o recinto Sul de Er-Lannic. Alguns dos recintos do Morbihan parecem, por outro lado, ter constituído os focos a partir dos quais foram estruturados os vários troços de alinhamentos (Le Roux, 1999a: 221, 222; Sherratt, 2001: 121). A associação dos menires com as estruturas funerárias é, no geral, ambígua. De facto, e esta observação pesou certamente nas cronologias tardias que, tradicionalmente, eram admitidas, existem casos em que os menires são certamente posteriores a essas estruturas (ou, no mínimo, contemporâneos), enquanto noutros, os menires as antecedem (Lecornec, 1994, 1997); de facto, numa listagem não exaustiva, coligida recentemente, foram contabilizados 49 blocos com gravuras, alegadamente colocados em posição secundária, em diversos contextos funerários (Cassen et al., 2000: 199). No que diz respeito às relações entre os menires bretões e a paisagem, C.-T. Le Roux chamou a atenção para a gradação observada, nos grandes alinhamentos, em que os menires de maior volumetria ocupam as cotas mais altas e em que, progressivamente, as dimensões dos monólitos diminuem no sentido do declive, solução que aquele autor atribui a uma intenção de distorcer a perspectiva (Le Roux, 1999a: 222; 2003); esta característica, assim como a implantação dos recintos junto ao topo de elevações, “embora nunca mesmo no topo” (Giot, 1988: 321) são dispositivos cénicos que, como se viu, estão bem documentados, por exemplo, nos recintos alentejanos; o mesmo autor observou igualmente, a propósito dos menires isolados, que estes, com frequência, se encontram implantados no alinhamento de vales, facilitando a visualização de e para o monumento. Os estudos, nem sempre muito consistentes, sobre a arqueoastronomia dos menires bretões, remonta ao século XIX. Os excessos, muitas vezes delirantes, criaram, aqui como nas Ilhas britânicas, potentes anticorpos no meio arqueológico, ainda hoje oscilando entre o cepticismo absoluto e um interesse muito limitado (Giot et al., 1998).

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Salienta-se, em todo o caso, o aparecimento, a partir dos anos setenta, de hipóteses baseadas nos alinhamentos lunares, como resultado dos trabalhos desenvolvidos na Bretanha, por Alexander Thom, centrados nos grandes alinhamentos do Morbihan (Thom e Thom, 1978). Note-se que as escavações efectuadas, recentemente, no conjunto de Locmariaquer, revelaram que o grande menir quebrado fazia parte de um alinhamento de 19 menires (Fig. 6.30), valor que parece reflectir o ciclo das pausas lunares (18, 6 anos). A decoração patente nas grandes estelas-menires da Bretanha consiste, sobretudo, em motivos figurativos, em que se destacam o báculo e o machado e um outro motivo, tradicionalmente designado como machado-charrua e que deve, mais Fig. 11.8 - Principais motivos decorativos dos menires bretões (segundo Lecerf, 1999: 86) provavelmente, representar um cetáceo (Cassen e Vaquero, 2000; 2003; 2004; Whittle, 2000); atendendo aos paralelos observáveis nos menires do Alentejo Central, são particularmente interessantes dois outros símbolos que aparecem associados (embora nem sempre da mesma maneira): o crescente e o quadrilátero. Existem ainda figurações mais raras, como é o caso dos herbívoros cornudos (eventualmente caprídeo e bovídeo), entre outras (Lecerf, 1999: 86; Giot et al., 1998: 289-301). A técnica mais frequente é o baixo-relevo (Patton, 1993: 90, 91), seguida da gravura por picotagem. Como já referi, foram precisamente estas estelas que, depois de fracturadas, na sua maioria - e, por vezes, invertidas ou posicionadas com a decoração Fig. 11.9 - Decoração do reverso da estela/esteio de cabeceira oculta - foram reutilizadas na construção de monumentos funerários. da Table des Marchand A descoberta deste fenómeno implicou, entre outros aspectos, uma revisão (seg. Cassen et al, 2000: 296) da posição cronológica das estelas-menires: um primeiro modelo explicativo, em que se procurava manter, sem grandes danos, o status quo cronológico, sugeria que se tratava de “ídolos” que tinham sido erigidos para, acto contínuo, serem abatidos e inseridos na construção das necrópoles (L’Helgouac’h, 1983).O carácter intencional da destruição da maior parte das grandes estelas de ortognaisse tem sido contestado, com base em diversas evidências, sendo, em alternativa, aparentemente mais aceitável a destruição acidental devida à actividade sísmica (Cassen et al., 2000: 200-202). A anterioridade genérica dos menires e, em particular destes menires, em relação ao megalitismo funerário é, no entanto, uma ideia que, apesar de não abundarem evidências conclusivas, tem vindo a ganhar terreno, na última década, entre os megalitistas bretões (Giot et al., 1998; Cassen et al., 2000); nesta região, os menires parecem, efectivamente, constituir “a primeira expressão do monumentalismo” (Le Roux, 2003: 373). Na verdade, a questão complica-se, sobretudo, por haver algumas sepulturas megalíticas com datações radiocarbónicas muito altas, como, por exemplo, Barnenez (Giot, 1987) ou Bougon (Mohen e Fig. 11.10 - Quadrilátero e crescente do menir Scarre, 2002: 101), dentro da primeira metade do V milénio a.C.. de Kermaillard (Segundo Briard, 1990: 5, adaptado)

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Estas datas, ainda muito isoladas e, em todo o caso, provenientes de monumentos de notável complexidade e longevidade, têm suscitado algumas reservas (Boujot e Cassen, 1993; 1998); no entanto, mesmo que se considerem válidas, essas datas serão sempre posteriores às cronologias atribuíveis a alguns dos menires bretões (Patton, 1993: 87; Scarre, 1998: 61; Le Roux, 1999: 214; ; Cassen et al., 2000: 197). No limite, propôs-se mesmo, recentemente, que os temas inscritos nos grandes menires-estelas do Morbihan seriam “figurações próprias do mundo dos últimos caçadores-recolectores-pescadores do litoral” ou, de uma forma menos afirmativa , que “estas estelas seriam a obra das últimas sociedades ‘mesolíticas’, ou neolitizadas de fresco” (Cassen et a., 2000: 203). A possibilidade da atribuição dos primeiros monumentos megalíticos bretões a uma fase mesolítica já tinha, aliás, sido sugerida por Jean L’Helgouach, com base na descoberta de uma indústria microlítica sob o monumento de Dissignac, no estuário do Loire (L’Helgouach, 1976); esta hipótese foi, no entanto, rejeitada, com base numa releitura tafonómica da estratigrafia (Thorpe, 1996); na verdade, a maioria dos autores prefere discernir naqueles primeiros menires e, em particular, nos símbolos que eles exibem, a celebração do modo de vida neolítico (Bradley, 1989; Patton, 1993; Thorpe, 1996; Calado, 2002). Com os dados disponíveis, parece bastante viável a construção dos primeiros menires bretões algures na segunda metade do VI milénio a.C. ou, nas leituras mais cautelosas, nos meados do V milénio a. C.; um tal enquadramento implica uma certa contemporaneidade com o processo de neolitização da Bretanha, ele próprio deficientemente datado e compreendido (Scarre, 1992; Giot et al., 1998; Laporte, 2001; Marchand, 2003). Nesse contexto, há muito que se propôs uma relação directa entre as exuberantes manifestações megalíticas e as sociedades mesolíticas do Sul da Bretanha, conhecidas sobretudo a partir do estudo dos cemitérios/ concheiros de Téviec e Hoedic (Péquart et al., 1937; Péquart e Péquart, 1954), e que, comparadas com as de outras regiões, “teriam povoados maiores e mais permanentes e um maior grau de diferenciação social” (Patton, 1993: 64). A ideia de que os monumentos teriam sido uma resposta dos grupos neolíticos, num cenário de pressão demográfica e de conflito pelo controle dos recursos, foi avançada por Colin Renfrew, ainda nos anos setenta do século vinte (Renfrew, 1976). Depois disso, vários autores têm defendido um papel mais activo dos mesolíticos bretões na génese do megalitismo funerário, atendendo à utilização de estruturas pétreas nos enterramentos dos famosos concheiros bretões (Sherratt, 1990; Scarre, 1992; Whittle, 1995). Seja como for, a erecção de menires não se extiguiu nesse impulso inicial: um frenesim construtivo parece reflectir-se nos grandes alinhamentos de Carnac que, aparentemente, terão sido obra das comunidades do Neolítico final, algures no IV milénio a.C.. Por outro lado, o menir de Kerloas, o maior actualmente erecto, na Finisterra, incluía materiais da Idade do Bronze no alvéolo de implantação (Giot et al., 1998: 517), havendo ainda um ou outro caso de menires reutilizados na Idade do Bronze (Briard, 1989: 35; Lecerf, 1999: 72). Finalmente, na Idade do Ferro, foram erigidas estelas, muito afeiçoadas, cuja realação genética com os menires neolíticos, permanece meramente hipotética. 11.3. Ilhas Britânicas Na Grã-Bretanha e Irlanda, os menires ocorrem em número muito elevado e, para além dos monólitos isolados, existem diversos tipos de monumentos compósitos, desde os pares de menires, até aos grandes recintos megalíticos (alguns deles, com as recumbent stones), passando pelos alinhamentos curtos e longos, pelas avenidas e por associações complexas com sistemas de fosso e talude ou mesmo com monumentos megalíticos funerários (Burl, 1979, 1993, 1999; Malone, 2001; Cooney, 2000) (Fig. 11.12, 11.13, 11.14). As cronologias tardias, por comparação com outras realidades continentais, para o arranque da neolitização nas Ilhas Britânicas, colocam estes monumentos à margem da génese do megalitismo da Europa atlântica, pelo

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231 menos numa perspectiva histórica. Na verdade, tanto o clássico “pacote neolítico” como os mais antigos monumentos (incluindo aqui o megalitismo) acabam por chegar às Ilhas a partir do Continente, o que, evidentemente, não exclui, antes pelo contrário, o desenvolvimento de muitos aspectos originais. No que diz respeito aos menires, a maior parte insere-se em recintos circulares (ou sub-circulares), um tipo de monumentos que, tal como as avenidas ou as recumbent stones, está virtualmente ausente no continente, onde os recintos são quase todos (quando existem dados para este tipo de avaliação) de formas abertas, em semi-círculo ou ferradura. Em contrapartida, os casos conhecidos de recintos em ferradura, na Grã-Bretanha e Irlanda, são raríssimos e diferem, em muitos aspectos, dos seus congéneres continentais; o mais conhecido é, obviamente, o recinto circular de Stonehenge, no Sul da Inglaterra, que engloba duas Fig. 11.11 - Stonehenge, numa estruturas em forma de ferradura. Trata-se, efectivamente, de um gravura do século XVII recinto muito complexo, inicialmente constituído por um circuito d e (seg. Burl, 1999: 144). fosso e talude, ao qual se foram acrescentando novos detalhes; A. Burl inclina-se fortemente para uma origem bretã dos construtores do celebérrimo monumento inglês, com base não só nessas plantas, aparentemente estranhas às Ilhas Britânicas, mas também em alguns motivos gravados nos menires de Stonehenge, com paralelos mais ou menos óbvios no megalitismo bretão, e ainda numa série de paralelos artefactuais ( Burl, 1999: 152-167). Todos os restantes casos de plantas em ferradura, nas Ilhas Britânicas, se inserem no interior de monumentos mais complexos, alguns deles de madeira ou de terra; está contabilizada cerca de uma dúzia e, mesmo assim, alguns deleslevantam sérias dúvidas; note-se que, por outro lado, se conhecem cerca de 1300 recintos circulares, de planta fechada, noReino Unido e na Irlanda (Burl, 1999: 155). Os trilitos (uma forma de organizar os menires que é exclusiva de Stonehenge), para além da planta em forma de ferradura, apresentam, em alçado, outra característica reconhecível em monumentos bretões e alentejanos: a altura decrescente dos monólitos, de Oeste para Leste (Burl, 1999: 152). Em termos de matéria-prima existe uma grande diversidade: granitos, doleritos, quartzos, arenitos, xistos e até lavas vulcânicas foram usadas para a construção de monumentos meníricos. As distâncias entre os monumentos e as presumíveis fontes de matérias-primas são geralmente pouco expressivas. Stonehenge constitui um caso àparte: as blue stones (doleritos) teriam, segundo alguns autores (Atkinson, 1979: 105), sido transportadas de uma distância de centenas de quilómetros (variável de acordo com os trajectos propostos), uma vez que os afloramentos mais próximos se encontram nos Montes Preseli, no Sudoeste do País de Gales. Fig. 11.12- Recintos circulares, nas No entanto, não existe unanimidade sobre este ponto: A. Burl, Ilhas Britânicas (seg. Burl, 1979: 13). por exemplo, rejeita a possibilidade de uma tal empresa,

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Fig. 11.13 - Cartografia de diferentes tipos de menires agrupados, nas Ilhas Britânicas e Bretanha (seg. Burl, 1993).

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Fig. 11.14 - Cartografia de diferentes tipos de menires agrupados, nas Ilhas Britânicas e Bretanha (seg. Burl, 1993).

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defendendo antes que os referidos menires seriam blocos erráticos obtidos na própria planície de Salisbúria, onde actualmente, pelo menos, não parecem existir (Burl, 1999: 123). As dimensões e as formas dos menires irlandeses e britânicos são muito variadas: desde recintos cujos elementos afloram cerca de um metro ou menos, acima do solo, até blocos com dezenas de toneladas de peso e alturas da ordem dos cinco metros; em termos morfológicos, a matéria-prima parece ser a maior responsável pela diversidade, existindo blocos de formas muito regulares, cilíndricas ou ovóides, mas também menires extremamente irregulares e angulosos. A maior parte dos menires das Ilhas Britânicas não são decorados; no Sul, Stonehenge representa, também neste aspecto, uma excepção: para além de armas (adaga e machados), ostenta uma (ou talvez várias) figura rectangular e um possível báculo, no menir 57, temas que, como referi, têm sido relacionados com outros análogos da vizinha Bretanha (Burl, 1999: 162-167). Nas áreas mais setentrionais, a decoração surge com alguma frequência, embora quase sempre limitada às covinhas, muitas vezes com um ou mais anéis concêntricos e às espirais (Fig. 11.15). A cronologia dos menires britânicos e irlandeses dificilmente, com os dados disponíveis, recua além dos inícios do IV milénio a.C., prolongando-se, como fenómeno global, até, pelo menos, a Idade do Ferro (Burl, 1999; Bradley, 2004). Também as opções paisagísticas são enormemente variadas; em geral, parece haver uma exclusão, nos sítios seleccionados para a construção dos monumentos, dos afloramentos rochosos que lhes Fig. 11.15 - Gravuras no menir exterior do poderiam obscurecer a visibilidade. Num caso ou outro, parece, no recinto de Long Meg and Her Daughters entanto, haver um certo “diálogo” entre os menires e formações rochosas visíveis nas proximidades (Burl, 1999: 72-77). 11.4. Síntese Considerados no seu conjunto, os menires da Europa Ocidental correspondem certamente a momentos e movimentos diferentes, embora seja possível rastrear um fundo comum, que subentende a existência de “fortes continuidades em vez de rupturas assinaláveis” (Bueno e Balbín, 2002: 639), nas diversas expressões artísticas que se escalonam entre o epipaleolítico e, pelo menos, a Idade do Bronze. Porém, a análise do fenómeno, nessa escala, permite inventariar semelhanças e diferenças que escondem certamente sincronias e diacronias, mas também formas distintas de materializar as mesmas ideias e soluções adaptativas diversas, em função de sociedades diferentes, paisagens e recursos diferenciados. Um aspecto a reter, desde já, é uma persistente conexão aparente entre os menires e os contextos funerários, perfeitamente confirmada em muitos dos menires mais tardios, como são os de Pavia, ou os dos cromelechs pirenaicos.No Norte de Marrocos, o grande recinto funerário de Mzorah (Mavor, 1976; Jean-Pierre Daugas, comunicação pessoal), poderia eventualmente relacionar-se com esse megalitismo funerário extemporâneo. Em todo os caso, os menires mais antigos e, em particular, os do Alentejo e do Algarve exigem, por ora, explicações alternativas. Por outro lado, a vinculação cronológica e cultural dos menires isolados aos monumentos funerários que, muitas vezes, ocorrem nas suas imediações, não passa, na maior parte dos casos, de uma conjectura; é óbvio que, mesmo que exista uma relação, é possível concebê-la em termos de anterioridade dos menires em relação aos dolmens, ou vice-versa.

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100,00

Peso (Toneladas)

As histórias longas de alguns destes conjuntos 90,00 (Serna Gonzalez, 1997) permitem, no entanto, 80,00 70,00 propor vínculos diacrónicos em que, 60,00 eventualmente, os menires correspondam às fases 50,00 Vendée 40,00 mais antigas da monumentalização dos lugares e Almendres 30,00 os usos funerários surjam como uma consequência 20,00 das respectivas sacralizações. Com as devidas 10,00 0,00 reservas, poderíamos invocar o costume medieval 1 7 13 19 25 31 37 43 49 55 61 67 73 79 85 91 de sepultar os mortos em chão sagrado, no interior Menires ou nas imediações das igrejas, o que não as torna, Fig. 11.16 - Comparação gráfica dos menires dos Almendres só por isso, monumentos funerários, nem e da Vendeia, em função do peso. estritamente contemporâneas dos enterramentos. Note-se que, nalguns casos, como no dos já Alentejo Central referidos menires da Córsega, apenas as fases mais Catalunha recentes são claramente funerárias (D’Anna et al. 2000; País Basco D’Anna e Leandri, 2000); uma sequência semelhante Vendée vislumbra-se, por exemplo, no conjunto de Locmariaquer, em que o alinhamento dos menires parece preceder os monumentos funerários de Er-Grah e da Table des Marchand. Na verdade, essa mudança semântica, poderia eventualmente aplicar-se a todos os casos em que se suspeita da reutilização de menires em monumentos Comprimento (m) funerários. Fig. 11.17 - Comparação gráfica das dimensões (C e L), Convém, no entanto, evitar generalizações dos menires do Alentejo Central, Catalunha, precipitadas: efectivamente, alguns monumentos tardios, Pais Basco e Vendeia. como Stonehenge ou os alinhamentos de Carnac, dificilmente poderiam ser interpretados como monumentos funerários, embora não se possa excluir liminarmente algum tipo de relação com eventuais cultos dos antepassados. Creio que, nestes dois exemplos maiores do megalitismo europeu, os monumentos devem ser contextualizados nas paisagens culturais em que se inserem, onde, num e noutro caso, não faltam múltiplas evidências de monumentos funerários. As evidentes descontinuidades entre as diversas áreas atrás comentadas, não são só geográficas: são cronológicas e culturais, em proporções que, naturalmente, Alentejo Central constituem um desafio para futuros aprofundamentos da Catalunha País Basco matéria. É, por outro lado, necessário e urgente que, nas Vendée diversas áreas megalíticas, se reunam e contrastem os dados sobre os contextos (paisagísticos e arqueológicos) em que os menires ocorrem. Povoados, necrópoles, arte rupestre e monumentos são, nesta óptica, apenas as várias facetas da mesma questão. Por agora, a imagem global sugere uma certa sincronia entre a Bretanha, particularmente o Morbihan, e o Sul de Indice de adelgaçamento Portugal, áreas em que o aparecimento dos menires Fig. 11.18 - Comparação gráfica das formas (IAC, parece coincidir com a chegada dos primeiros impulsos IAL) dos menires do Alentejo Central, Catalunha, neolitizadores. 4,0

3,5

Largura (m)

3,0

2,5

2,0

1,5

1,0

0,5

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0,0 0,5 1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5 8,0 8,5 9,0

7,0

Indice de alongament

6,0

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1,0

0,0

1,0 1,5 2,0 2,5 3,0 3,5 4,0 4,5 5,0 5,5 6,0 6,5 7,0 7,5 8,0 8,5 9,0

Pais Basco e Vendeia.

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As semelhanças entre os menires alentejanos e bretões (sobretudo os do Morbihan) têm vindo a ganhar peso, nos últimos anos, à medida que uns e outros vão sendo melhor estudados (Calado, 2002d; Cassen et al., 2000; Bueno e Balbín, 2002) e se conhecem melhor as realidades geograficamente intermédias. Os aspectos mais apelativos são-nos proporcionados pela arte megalítica: báculos, crescentes e quadriláteros, executados em baixo-relevo, em menires-estelas (ou em estátuas-menires), não podem , razoavelmente, ser explicados por fenómenos de convergência. Também os recintos em forma de ferradura, cujas plantas, orientações e implantações são, na Bretanha, basicamente idênticas às dos monumentos alentejanos, seriam, só por si, suficientes para atestar algum tipo de contacto entre as duas áreas. Num grau menos explícito, por não serem exclusivas do Alentejo e da Bretanha, existem outras analogias que importa sublinhar como, por exemplo, as formas arredondadas dos menires e as reutilizações destes em monumentos funerários. Por último, em termos contextuais, são os concheiros mesolíticos que melhor permitem estabelecer as inevitáveis conexões; além disso, embora os dados sobre o povoamento neolítico bretão sejam ainda pouco consistentes, há indícios de uma penetração - em todo o caso, melhor caracterizada a Sul do Loire - da cerâmica cardial, com afinidades directas nas costas mediterrânicas do Sul de França. Existem, por outro lado, boas razões para admitir a chegada à Bretanha, de influências, mais ou menos diluídas, das culturas neolíticas oriundas do eixo reno-danubiano, através da Bacia parisiense (Cassen, 1993; Cassen et al., 1998b). O peso relativo desses dois fluxos é uma das questões mais polarizadoras na investigação actual sobre o Neolítico bretão; visto do Alentejo, o problema parece merecer uma solução salomónica: se admitirmos contactos tão longínquos como os menires parecem implicar, seria de esperar interacções e fluxos com as diferentes culturas que prosperavam, nos finais do VI milénio a.C., no quadro da Europa ocidental. Na verdade, existem indícios, talvez mais recorrentes do que os especialistas de uma ou de outra área geralmente admitem, de contactos entre as duas grandes tradições do Neolítico antigo da Europa ocidental (Guilaine e Manen, 1995). A presença, em latitudes superiores, de tradições cerâmicas relacionáveis com o mundo cardial, como a de La Hoguette ou a do Limbourg, há muito que sugere fronteiras de geometria variável, ao longo de um eixo litoral particularmente permeável. Seja como for, com os menires significativamente ausentes quer no mundo cardial, quer na Europa loéssica, e com um Mesolítico final indiscutivelmente pujante, em pontos-chave da fachada atlântica, é natural que se procure uma explicação indigenista para a origem do fenómeno menírico. Por outro lado, as principais diferenças entre os menires peninsulares e bretões, considerando apenas aqueles que, em ambas as regiões, parecem ser os mais antigos, são, antes de mais, diferenças de escala. Apesar de representarem apenas uma pequena minoria, no número muito elevado de menires bretões (também ele incomparável com o de qualquer área peninsular), os grandes monólitos do Morbihan, sobretudo, representam um fenómeno muito peculiar, explicável certamente, por diversos factores que determinaram um percurso histórico muito original; dentro deles, pesa concerteza um conjunto de características de ordem mesológica e económica, mas também geoestratégica (Giot et al., 1998). A título de exemplo, embora seja certamente, um exemplo extremo, anote-se que só o peso estimado do Grand Menhir de Locmariaquer (280 toneladas) é muito superior à soma do peso estimado de todos os menires dos Almendres (175 toneladas) (Fig.11.19). Esta diferença de escala, ainda que de uma forma mais atenuada, reflecte-se também nos menires da Vendeia (Fig. 11.16). As cronologias muito avançadas, admitidas para os menires das Ilhas Britânicas, em paralelo com o atraso mais geral da própria neolitização nesta área, sugerem, em conjunção com considerandos de ordem geográfica, uma certa inspiração nos menires bretões; esta explicação, por outro lado, é quase automática, quando se consideram os menires da Vendeia.

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Fig. 11.19 - Comparação entre o recintos dos Almendres e o grande menir de Locqmariaquer.

Na Península Ibérica, à excepção do Sudoeste, são mais as interrogações que as respostas; no entanto, vários indicadores sugerem cronologias avançadas para a maior parte dos menires. As implantações, tardias ou não, dos primeiros menires nos Pirinéus poderiam, também por critérios geográficos, apontar para uma origem directa, ou indirectamente, bretã; o Norte de Portugal e a Galiza, assim como, eventualmente, a Cantábria ocidental, poderiam, por idênticos critérios, corresponder a influências, embora certamente muito diluídas ou transformadas, com origem no Sudoeste peninsular. É fundamental, nestes exercícios comparativos, ter em mente as descontinuidades geográficas, relativamente bem vincadas, e as eventuais descontinuidades cronológicasenvolvidas. O facto, bastante provável, de que, mesmo excluindo os fenómenos epi-megalíticos que se prolongaram até à Idade do Ferro, estejamos perante uma longa diacronia, de dois ou três milénios, implica que seja, por enquanto, prematuro tratar os menires europeus, ou mesmo peninsulares. como um todo. Pelo contrário, é fundamental individualizar e caracterizar áreas geográficas e culturais bem definidas e contrastá-las com os respectivos contextos arqueológicos e paisagísticos, trabalho que, na maior parte das áreas, está todo por fazer. É curioso que na Bretanha ou no Sul de Inglaterra, provavelmente devido à ofuscação produzida, no curso normal da investigação arqueológica, pelos monumentos excepcionais, os dados sobre o povoamento são, de um modo geral, muito irrisórios (Bruck, 1999; Giot et al, 1998).

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Capítulo 12: Interpretações

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12. 1. Introdução No capítulo 4, procurei traçar uma panorâmica sintética da evolução do pensamento arqueológico, em Portugal, no que diz respeito às propostas de interpretação funcional dos menires. Um dos problemas de muitas dessas propostas (efectivamente, a maioria delas) reside na própria indefinição cronológica e cultural do tema. Hoje não restam dúvidas de que, por exemplo, a funcionalidade dos menires mais antigos, cujo carácter não sepulcral parece incontestável, se deve diferenciar bastante da dos menires da Idade do Ferro que, pelo menos no alinhamento da Tera, aparecem claramente imbricados na estrutura física da necrópole. Entre uns e outros, algumas utilizações e reutilizações de menires pré-existentes parecem inserir-se num fundo ideológico comum, mas testemunhar, ao mesmo tempo, uma evolução semântica que, certamente, reproduz outras mudanças em curso. Os significados e as funções dos menires alentejanos mudaram, certamente, entre o Neolítico e a Idade do Ferro, sendo necessário interpretar os diferentes monumentos dentro dos respectivos contextos culturais; no entanto, os dados disponíveis indicam que a maior parte dos menires e, sobretudo, os monumentos mais importantes, parecem inserir-se no mesmo patamar cronológico - a transição Mesolítico-Neolítico -, constituindo, nesse processo, um elemento inovador que, uma vez inscrito nas paisagens, inspirou certamente a erecção dos raros exemplares erguidos, posteriormente, na região. De uma forma ou de outra, os menires tardios são epifenómenos; na mesma categoria entram, até certo ponto, as estátuas e estelas (Bueno, 1995) que, entre o Calcolítico e o final da Idade do Bronze, definem, no ocidente peninsular, geografias algo distintas, mas sobrepostas, deixando, curiosamente, de fora, o Alentejo Central. O carácter tardio da maior parte delas é evidenciado pelas representações de armas metálicas (punhais e alabardas, sobretudo) que, até à chegada do domínio romano, se tornaram um dos adereços fundamentais da estatuária. Noutras áreas europeias e com cronologias igualmente avançadas, surgiram diversos grupos de estátuasmenires, algumas com iconografias (como é o caso dos crescentes e dos báculos) que denunciam uma provável inspiração nos menires bretões (Kinnes, 1995; D’Anna et al., 1995); no conjunto, pode afirmar-se que as estátuas-menires se “desenvolveram a partir de menires simples, dentro da tradição megalítica geral” (Barfield, 1995: 13). Também os esteios antropomórficos das antas, os betilos, os ídolos cilíndricos ou as placas de xisto, constituem, de certa forma, sucedâneos de um ambiente iconográfico inaugurado, tanto quanto parece, pelos menires, e em que a representação tridimensional da figura humana, fortemente estilizada, tem um relevo particular. 12.2. Os menires: significados e funções Os menires, nas suas diversas modalidades, são símbolos e, neste sentido, que creio ser o mais básico, constituem, tal como a arte rupestre, uma modalidade de linguagem gráfica. Trata-se, em última análise, de

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formas de registo e comunicação de informação. A durabilidade da pedra e o potencial metafórico dessa qualidade, não foram concerteza estranhos ao megalitismo, como não o foram à arte rupestre. Se nesta, como muitos autores admitem, o suporte tem um significado em si mesmo que as gravuras acentuam ou acrescentam (Alves, 2002; Bradley, 1997), no caso dos menires anicónicos, o suporte é ele próprio o símbolo. O considerável esforço exigido para a construção dos monumentos é revelador da importância das mensagens que se pretendia transmitir. Neste aspecto, em comparação com a arte rupestre, cuja feitura podia ser obra de “artistas” individuais, os menires traduziam certamente ideias, que podemos considerar de interesse colectivo e que envolviam e responsabilizavam toda a comunidade que os erigiu. Comparativamente, poderia mesmo afirmar-se que, enquanto muitos santuários rupestres, por serem virtualmente invisíveis, são como um segredo que se sussurra, os menires, pelo contrário, parecem mais um discurso que se proclama. Os menires começam por ser símbolos antropomórficos: efectivamente, de entre os vários significados que lhes têm sido atribuídos e que, em muitos casos, se podem sobrepor, aquele que, no contexto da transição Mesolítico/Neolítico, parece mais adequado, é o da representação da figura humana (Bueno e Balbín, 1996; 2002; Vazquez, 1997; Beneteau, 2000: 300). Na verdade, no contexto da arte neolítica europeia, os símbolos antropomórficos, para além de assumirem uma enorme variedade formal, são os mais recorrentes e transversais; na própria área de origem da Revolução Neolítica, o Próximo Oriente, o aparecimento da figura humana acompanha, ou antecede imediatamente, as primeiras experiências de domesticação de cereais, em sociedades em que a sedentarização e a complexificação social davam os primeiros passos (Cauvin, 1999a; 1999b). A representação extremamente simplificada da figura humana que, na maior parte dos casos nem sequer implicou qualquer transformação do “suporte”, coloca, por outro lado, os menires na linha dos desenvolvimentos conceptuais que subjazem à arte esquemática peninsular. Os menires alentejanos, em particular, exprimem, de uma forma muito minimalista, mas eficaz, a anatomia do corpo humano: a extremidade distal arredondada, sugerindo a cabeça, o achatamento característico da maior parte deles, que permite, quase sempre, definir uma face e a própria altura dos menires, cuja variabilidade pouco se afasta, por excesso ou por defeito, da altura do corpo humano. Em média, os menires dos três grandes recintos de Évora, apresentam comprimentos da ordem dos 1, 71 m, nos Almendres (nº1), 1, 73 m, no Vale Maria do Meio (nº2) e 1, 74 m, na Portela de Mogos (nº4), valores que se aproximam dos que seriam expectáveis para as populações que os conceberam. A organização dos motivos, nos menires decorados da área de Evora, reforça, como se viu, a mensagem antropomórfica; a própria localização de báculos, quer se trate de cajados ou armas, remete, também ela, para o antropomorfismo dos suportes. Por outro lado, as diferenças de tamanho (nomeadamente aquelas que se verificam entre os menires que compõem os recintos megalíticos), podem ser entendidas como a expressão dos diferentes estatutos das entidades evocadas, implicando, metaforicamente, uma provável estratificação social (Béneteau, 2000: 280;

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Cassen et al., 2000), em sociedades que, no entanto, a tradição considera geralmente igualitárias. Convém salientar que, dentro deste esquema interpretativo, os menires, sendo antropomórficos, não se referiam necessariamente a indivíduos concretos, nomeadamente aos construtores dos monumentos, embora, de uma maneira ou outra, os representassem; é possível que, pelo contrário, aludissem a antepassados, personagens míticos, heróis fundadores ou divindades e, por extensão, como preferem outros autores, possam relacionar-se com a emergência de linhagens, num ambiente de forte coesão social, que monumentos desta ordem de grandeza parecem exigir. Em segundo lugar, as eventuais conotações funerárias dos menires, difíceis de comprovar com base na evidência empírica, são, mesmo assim, sugeridas pelas realidades que, a montante e a jusante, se lhes podem, de algum modo, aparentar. As estruturas em forma de ferradura, indiscutivelmente funerárias, dos concheiros mesolíticos, poderão estar na origem directa dos recintos megalíticos; por outro lado, as sepulturas megalíticas que incluem, nalguns casos, verdadeiros menires na sua estrutura arquitectónica, e cujos esteios, alguns decorados, têm igualmente vindo a ser interpretados como alusões antropomórficas (Bueno e Balbín, 2002: 606, 628), são, de certo modo, um desenvolvimento desse primeiro megalitismo. Por último, as referidas estátuas e estelas que são, possivelmente, os herdeiros mais directos dos menires, parecem igualmente aludir, sempre que se lhes conhecem os contextos, ao mundo dos antepassados. Num certo sentido, pode afirmar-se que a própria arte rupestre participou, a par da arte megalítica, num programa de progressiva ancestralização das paisagens (Keates, 2000) que, no Alentejo Central, os menires parecem iniciar, dando, eventualmente, continuidade a práticas rituais mais antigas. Note-se que, curiosamente, não se conhecem ainda as estruturas ou os rituais funerários correspondentes aos povoados do Neolítico antigo do Alentejo Central e que, também por isso, convém manter em aberto a possibilidade de os recintos terem desempenhado algum papel (de onde parece excluir-se, liminarmente, em todo o caso, o de lugares de enterramento) nos rituais funerários (ou, pelo menos, no culto dos antepassados) dos seus construtores. A ligação dos menires ao mundo dos mortos, não lhes esgotaria, naturalmente, as implicações simbólicas e, sobretudo, as funções; a invocação e exibição (Beneteau, 2000: 284) dos antepassados (reais ou míticos), através da construção de monumentos, pode ser uma forma de legitimar apropriações territoriais, revelando, assim, competição, aberta ou latente, com outros grupos, no contexto de um processo de territorialização, próprio do modo de vida neolítico. Num sentido mais geral, “o culto dos antepassados refere-se aos rituais que proporcionam acesso contínuo aos mortos no além. Os antepassados neste sentido continuam a estar comprometidos nos assuntos dos seus descendentes, como participantes nas relações sociais, políticas e económicas” (Buikstra e Charles, 1999: 204). Os autores de inspiração materialista tendem a relacionar a construção dos mais antigos monumentos com o aparecimento de estratificação social, em articulação com as alterações na base económica; estaríamos, de algum modo, perante afirmações do poder político de elites emergentes, numa fase em que alguns pretendem situar a origem das desigualdades e relacionar estas, de uma forma mais ou menos directa, com a acumulação de excedentes (Testart, 1982; Calado et al., 2004).

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Chris Scarre, argumentando contra esta leitura, afirma que “na medida em que uma resposta emocional perante a morte é uma característica humana inata, abordagens centradas na questão do poder, devem ser consideradas desumanizadoras” (Scarre, 1998: 183). Por outro lado, dentro da linha estruturalista defendida, entre outros, por Ian Hodder e Julian Thomas, a transição Mesolítico/Neolítico pode ser entendida no contexto de uma valorização do doméstico face ao selvagem, em diversos planos (Hodder, 1990; Thomas, 1991a; Barnatt, 2001). Os monumentos e, dentro desta categoria, os menires, seriam, não só uma forma de domesticação das paisagens – traduzida igualmente na implantação de povoados, abertura de caminhos, desflorestação de campos de pasto e de cultivo - mas, sobretudo, de domesticação dos próprios lugares sagrados. Richard Bradley caracteriza essas mudanças como “ um corte radical”, das populações em vias de neolitização “com o que tinham conhecido antes”; esses grupos estariam “mudando as suas atitudes para com a natureza e o selvagem, domesticando plantas e animais” e, ao construirem monumentos, “mudando a sua percepção global dos lugares” (Bradley, 1993: 17). De uma forma mais específica, machados e báculos, por sua vez, parecem simbolizar a domesticação da natureza vegetal e animal, respectivamente; nesse sentido, o predomínio dos báculos na iconografia dos menires alentejanos, em detrimento dos machados que, na Bretanha, têm muito maior relevância aparente, encaixa inteiramente nos dados paleoeconómicos obtidos na escavações (ou antes, na ausência deles) (Gonçalves, 2002a; 2003; Diniz, 2004) e na relação dos menires e povoados neolíticos antigos da área de Évora, com a capacidade de uso dos solos dessa mesma área (Diniz, 2004). As orientações astronómicas, seriam, ainda nesta óptica, formas de “domesticação” dos astros - o Sol e a Lua - e do tempo, através da associação dos monumentos aos principais eventos celestes cíclicos, observáveis no horizonte; trata-se, provavelmente, de relações de poder em que o objecto, mais do que os outros homens, é o mundo natural, sendo que “o papel das representações humanas procura exprimir esta nova relação com a natureza” (Balbin e Bueno, 2002: 630). A domesticação da natureza, conjugando aspectos económicos, sociais e ideológicos, implicou a construção “de uma imagem de vencedor sobre um meio ambiente durante muito tempo suportado” , sendo legítimo querstionar “como, com efeito, a partir do momento em que se domine o mundo vegetal, animal e mineral, conceber as relações com a sua própria espécie?” (Guilaine e Zammit, 2001: 124). Na verdade, os menires serão, para além de símbolos do poder dos antepassados, manifestações do poder de quem os contruíu, quer consideremos a comunidade como um todo, quer apenas as eventuais elites que teriam dirigido os trabalhos e tomado as decisões. Num outro nível, os menires parecem proclamar o poder de uma nova ideologia, em fase de afirmação, alicerçada numa valorização do trabalho colectivo; esta tipo de organização laboral, era certamente indispensável, como etapa prévia, à instalação, num território economicamente difícil, de uma economia de base neolítica. O contexto ideológico acima esboçado não esgota o potencial simbólico dos menires; os símbolos têm vida própria e são capazes de gerar analogias que, sem a sua mediação, seriam menos óbvias. É, por exemplo, perfeitamente possível que as evocações fálicas dos menires, tenham tido, aos olhos dos

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construtores de menires, uma leitura semelhante à que os arqueólogos modernos fizeram. Mesmo sem ter sido, se é que não foi, concebido como um símbolo fálico, o menir faz um contraponto muito sugestivo com a simbologia uterina que, bem ou mal, se pode igualmente reconhecer nas antas (Giot et al., 1998). Descontando as eventuais questões de ordem psicanalítica, não é muito óbvia a associação automática entre os cultos da fecundidade ou da fertilidade e as preocupações específicas das sociedades agro-pastoris; a fecundidade e a fertilidade, tal como a sazonalidade dos recursos (calendários económicos), são igualmente questões do dia a dia dos caçadores-recolectores. A sexualidade como fonte de símbolos parece, em todo o caso, bem documentada na arte paleolítica, mesmo que não se aceite, na íntegra, o esquema estruturalista de André Leroi-Gourhan (Gourhan, 1983: 91); por outro lado, as recentes revisões sobre o significado de alguns temas gravados nas estelas do Morbihan, recuperaram, de certo modo, a ideia da sexualização dos símbolos (Cassen et al., 2000), tal como os trabalhos de David Calado, sobre a iconografia dos menires algarvios (Calado, 2000a), na linha de antigas propostas de Victor S. Gonçalves, em que este autor chamou a atenção para “o sincretismo entre o princípio masculino e feminino” de alguns deles (Gonçalves, 1992: 214). Os recintos (e eventualmente também os menires isolados) eram, supostamente, reconhecidos e utilizados como lugares sagrados, onde provavelmente seriam celebrados rituais e cerimónias públicas: as orientações astronómicas dão-nos, a este respeito, algumas indicações sobre os calendários que, presumivelmente, regiam esses acontecimentos. As plantas em ferradura dos recintos que, como referi, parecem aludir a formas elementares da organização do espaço humano, e que, possivelmente se inspiraram em modelos mesolíticos, simbolizavam, eventualmente, a casa dos mortos, significado que nas arquitecturas dolménicas se parece consolidar. A inspiração de monumentos funerários neolíticos nas arquitecturas domésticas é, desde meados do século vinte, uma ideia enraizada na pré-história europeia, com base, sobretudo na semelhança formal entre as estruturas habitacionais, de planta trapezoidal, características do neolítico da Europa central e os túmulos longos de morfologia análoga (Cassen et al., 1998: 66). A s plantas em ferradura das sepulturas submegalíticas, orientadas por preceitos idênticos aos que se observam nos recintos, são, elas próprias, mais simbólicas do que funcionais, uma vez que, apesar da abertura a nascente, os defuntos eram depositados, tal como nas cistas, a partir do topo. A aparente sequência evolutiva em que as antas de corredor curto antecedem as de corredor longo, reforçada por dados recente (Gonçalves, 2003: 224), sugere, por sua vez, a permanência, ao longo do IV-III milénios a.C. de um núcleo irredutível de ideias, esboçadas ou presentes, desde os alvores do Neolítico. Na verdade, são elas que dão ao megalitismo, nas suas diversas facetas, uma unidade que está muito para além de um certo ar de família que, a priori, justificou a inclusão de antas e menires na mesma categoria genérica. 12.3. Os primeiros construtores de menires A informação cronológica disponível (Capítulo 9) permite atribuir os primeiros menires alentejanos ao Neolítico antigo e, dentro deste, possivelmente a uma fase inicial; alguns indícios sugerem mesmo fortes relações

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com as sociedades do Mesolítico final, em concreto as sociedades de pescadores-caçadores-recolectores dos concheiros do Tejo e do Sado. Posto isto, torna-se indispensável revisitar, numa nova perspectiva, os principais modelos em debate, relativos à transição Neolítico/Mesolítico, no ocidente peninsular, e as implicações dessas propostas na realidade específica do Alentejo Central. O panorama resume-se ao velho dilema entre o modelo colonialista, com raízes profundas no pensamento arqueológico de meados do século vinte, e o modelo indigenista, numa forma mitigada, em que se assumem processos de difusão cultural, por mecanismos de contacto entre comunidades mais ou menos contíguas, uma vez que as propostas de neolitização autóctone, independente dos contributos oriundos do Mediterrâneo oriental, apesar de algumas reincidências (David Calado et al., 2004), não parecem resistir à revisão dos contextos em que as datas mais antigas foram obtidas (Fortea e Martí, 1984-1985; Zilhão, 1992; 1998). Nos últimos anos, o avanço da investigação tem demonstrado, em várias frentes, a complexidade das questões relativas à transição Mesolítico-Neolítico, no território português, e suscitado correcções ou adaptações às formulações iniciais daqueles modelos (Sanches, 1997; 2000; Valera, 1998; Calado, 2002d; Bicho et al., 2000; Bicho et al., 2002; Carvalho, 2002; Monteiro-Rodrigues, 2000; 2002; 2003; Diniz, 2004). Trata-se, em todos os casos citados, de propostas decorrentes de estudos regionais, condicionadas, portanto, por dados que correspondem, provavelmente, a situações históricas distintas e cujo contributo não se pode, automaticamente, generalizar. Ao contrário do que seria de esperar, atendendo aos dados que, nos últimos anos, têm vindo a lume, estão praticamente ausentes, nos diversos modelos e variantes, as questões relacionadas com aspectos rituais e simbólicos, nomeadamente as que se referem à construção de monumentos, considerada, sem qualquer discussão, um fenómeno mais tardio. A situação parece remeter, com as devidas adaptações, para a observação irónica de Richard Bradley de que “na literatura, no seu conjunto, agricultores de sucesso têm relações sociais uns com os outros, enquanto os caçadores-recolectores têm relações ecológicas com avelãs” Bradley, 1994: 11). Entre nós, efectivamente, Mesolítico e Neolítico antigo partilham, por convenção que nem a arte rupestre, funcionando num verdadeiro universo paralelo, consegue diluir, uma estranha ausência de dimensão simbólica. Por outro lado, está igualmente omissa, em praticamente todas as propostas, a possibilidade de contactos, no contexto da neolitização do Ocidente peninsular, em alternativa das habituais rotas mediterrânicas. É interessante observar que os fundamentos de indigenistas e colonialistas (Soares e Silva, 1979; Silva e Soares, 1981; Silva, 1989; Soares, 1992; Soares; 1995; Silva, 1997; Soares e Silva, 2003; Zilhão, 1992; 1993; 1995; 1998; 2000; 2001) tiveram, como pontos de partida, objectos de estudo totalmente diferentes: Carlos Tavares da Silva e Joaquina Soares, que foram os principais promotores do modelo indigenista, construíram-no com base nas prospecções e escavações desenvolvidas na Costa Sudoeste, sobretudo no povoado de Vale Pincel 1, nos anos setenta do século passado; em contrapartida, João Zilhão forjou o seu modelo de difusão démica, que serve de referência às restantes variantes entretanto surgidas, com base nos dados da Estremadura e, mais exactamente, da escavação da Gruta do Caldeirão, obtidos maioritariamente

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na segunda metade da década seguinte. A discussão, por vezes acalorada, que os promotores destes dois modelos têm vindo a travar, em defesa, entre outros aspectos, da maior antiguidade dos respectivos sítios (ou conjuntos de sítios) de referência, remete, aparentemente, para os laços afectivos que tendem a estabelecer-se entre os investigadores e os seus objectos de estudo; fora disso, a disjuntiva entre indigenismo e colonialismo, que tem sido um lugar comum na maior parte das regiões neolíticas europeias, mesmo naquelas em que a investigação de campo reuniu doses consideráveis de informação pertinente (Dennel, 1985; Whittle, 1995; Thorpe, 1996; Tilly, 1996; Pluciennik, 1998; Zvelebil, 1998; Arias et al., 2000; Barnett, 2000; Cooney, 2000; Zvelebil e Lillie, 2000; Marchand, 2003), está provavelmente longe de ser resolvida. Os dados disponíveis permitem várias leituras alternativas e houve certamente uma multiplicidade de situações que não facilitam a vida aos modelos demasiado abrangentes. A adopção de uma ou outra destas propostas depende, em primeiro lugar, das preferências teóricas de cada um e, em segundo lugar, das contingências da informação disponível que constitui, em cada momento, o “estado da arte”. Dentro destas, interessa-me em particular a proposta, recentemente apresentada por Mariana Diniz (Diniz, 2004), que partiu do estudo de uma realidade concreta – o povoado do Neolítico antigo da Valada do Mato – para uma reflexão sobre a neolitização do Alentejo interior. M. Diniz, mesmo aceitando, no essencial, as premissas teóricas da difusão démica, reclamou, para o Alentejo Central, o estatuto de enclave neolítico – estatuto que, nas propostas de J. Zilhão, mesmo nas suas formulações mais recentes, seria exclusivo da Estremadura e eventualmente, do Algarve. Foi igualmente questionado o carácter retardatário da neolitização do interior peninsular, que decorria tanto do modelo colonialista, como do modelo indigenista, e que os elementos cronológicos disponíveis para a Valada do Mato (Diniz, 2004: 269-270), permitem, até certo ponto, contrariar. Note-se que a antiguidade da neolitização regional era, na verdade, um dado adquirido desde a publicação da cerâmicas cardiais da Gruta do Escoural, há mais de trinta anos (Santos, 1971); novos trabalhos na gruta confirmaram essa realidade, sugerindo uma ocupação exclusivamente cardial, no interior da cavidade, e outra só com cerâmicas impressas, eventualmente restrita à área da entrada, a que se teria seguido uma terceira fase, no Neolítico final, novamente no interior da cavidade e, aparentemente, no santuário exterior. Esta última parece ser a única em que foi atestado o uso funerário (Araújo e Lejeune, 1995: 75). A continuidade de ocupação do velho santuário - que, apesaar do Coa, continua a ser a única gruta com arte paleolítica, no território português - a partir do Neolítico antigo, não surpreende, uma vez que se conhecem hoje outras evidências de neolitização precoce da região e de uma continuidade, sem hiatos, pelas fases seguintes. A questão mais importante coloca-se em relação à existência ou não de um nexo de qualquer tipo entre a reocupação neolítica do santuário e as ocupações anteriores; a esta questão, no entanto, os dados disponíveis não permitiram fornecer nenhuma resposta cabal: por um lado, não foi datada a camada estagmítica que sela os níveis paleolíticos (Ibidem: 41) e, por outro, foi escavada uma camada, estratigraficamente diferenciada

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246 “correspondendo a um eventual nível de transição entre os estratos superiores com cerâmica e os inferiores onde predominam os artefactos em quartzo”, onde foram recolhidos “alguns artefactos talhados em sílex (lascas incaracterísticas)” (Ibidem: 27). Dito de outro modo, sendo relativamente fácil compreender o abandono do santuário durante o “êxodo” do Mesolítico final, é também possível admitir algum tipo de frequentação, mesmo que esporádica, por parte das populações epipaleolíticas que, sabemo-lo hoje, frequentaram o interior alentejano; os vestígios podem estar “camuflados” nos níveis perturbados do interior da gruta ou, em função do tipo de uso do sítio, não se terem sequer depositado. Em todo o caso, a ocupação paleolítica parece estender-se até ao Magdalenense. Se admitirmos que, mesmo sem uso directo, o santuário rupestre se possa ter conservado no mapa mental dos descendentes dos seus fundadores e primeiros utilizadores, estamos, naturalmente a privilegiar uma perspectiva indigenista. Como alternativa que me parece um pouco menos viável, os portadores das cerâmicas cardiais podiam ser colonos recém-chegados à região (vindos da Andaluzia ou de Valência) e, certamente numa fase inicial, ter redescoberto a gruta - de acesso muito discreto - e reutilizado o santuário dos presumíveis antepassados dos indígenas. Por outro lado, o estudo detalhado dos artefactos líticos da Valada do Mato (nº 1119) permitiu detectar sintomas inequívocos de alguma identificação cultural com o substrato indígena; essa inesperada promiscuidade, na óptica de um colonialismo puro e duro, foi interpretada com o resultado da absorção, pelos grupos exógenos recém-chegados, assumidos como integralmente neolíticos, de elementos da cultura material mesolítica (Diniz, 2004: 354), na linha interpretativa preconizada, para o Oeste francês, por Grégor Marchand (Marchand, 2003). Esse fenómeno, designado como aculturação passiva, e integrável num processo mais amplo de “fusão diferencial”, poderia, de acordo com a referida proposta, ser explicável como um resultado de eventuais “fluxos de mulheres que partem de grupos de caçadores-recolectores para ingressarem nos grupos de produtores” (Diniz, 2004: 343). Arqueologicamente, a aculturação passiva das comunidades neolíticas implica que tenha existido uma fase inicial, por enquanto não detectada na Valada do Mato nem nos outros sítios reconhecidos na região, anterior à absorção dos elementos mesolíticos e em que, por isso, as ditas analogias tecnológicas ainda não estariam presentes; pelo contrário, uma primeira análise dos dados da escavação do Xarez 12, em Reguengos de Monsaraz, sugeriu uma eventual fase mesolítica, estratigraficamente não confirmada ou, em alternativa, um Neolítico antigo que, desde o início, incorpora artefactos de tradição indígena (Gonçalves, 1999; 2002a). Seja como for, atendendo às relações espaciais privilegiadas, entre os territórios dos concheiros mesolíticos do Tejo e do Sado e a Valada do Mato (que, na verdade, é apenas um ponto numa rede de povoamento particularmente densa), assim como às cronologias aceites para uns e outros, seria sempre de esperar alguma interacção entre ambos os lados da fronteira cultural. No entanto, a chegada, ao Alentejo Central, de colonos neolíticos oriundos de áreas relativamente longínquas, como são a região valenciana ou a Andaluzia oriental, sendo uma possibilidade, não é concerteza a única, nem, na minha opinião, aquela que melhor se ajusta aos dados disponíveis. O modelo da onda de avanço, em que se concebia um movimento colonizador lento e paulatino, de Leste

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para Oeste (Ammerman e Cavalli-Sforza, 1984), foi, recentemente, posto em causa, no Mediterrâneo ocidental, com base na revisão das datações publicadas (Zilhão, 2001). De facto, o curto lapso de tempo (não superior a 200 anos) decorrido entre a instalação das primeiras comunidades neolíticas no Norte de Itália ou no Sul de França e no Ocidente peninsular, exigiu, para que o modelo de difusão démica se pudesse manter, o conceito de colonização neolítica de

Fig. 12.1 - Distribuição dos sítios do Neolítico antigo,

longa distância, por via marítima, traduzido na

do Mediterrâneo ocidental, com datas consioderadas

formação, nos territórios de acolhimento, de verdadeiros enclaves neolíticos. Estranhos numa

fiáveis (seg. Zilhão, 1999).

terra estranha. Porém, esse tipo de mobilidade, envolvendo a deslocação de grupos de colonos neolíticos, para locais distantes, é, certamente, questionável, tanto mais que é possível conceber alternativas mais “económicas” para explicar os dados arqueográficos. O paralelismo entre a colonização neolítica do Mediterrâneo ocidental e a colonização das ilhas do Pacífico, com o qual, em última análise, se pretende justificar o modelo (Zilhão, 2001) esquece, a meu ver, os particularismos geográficos que separam os dois fenómenos; refiro-me, nomeadamente, ao facto de, nos espaços que separam os supostos enclaves neolíticos peninsulares, haver certamente territórios disponíveis, mais próximos e implicando, portanto, uma ruptura menos traumática com as raízes e um custo logístico muito inferior. Desde logo, não se afiguram fáceis de entender, as próprias motivações para a partida, estando, evidentemente, fora de causa as habituais explicações de ordem processual -pressão demográfica/escassez de recursos. Toda a orla mediterrânica tinha, em direcção ao interior, possibilidades de expansão (que, ainda no Neolítico antigo, se tornou efectiva) praticamente ilimitadas. A verdade é que os próprios “enclaves” cardiais, não se localizam propriamente no litoral, ao contrário do que seria de supor para quem, por hipótese, tivesse vindo de barco. O carácter relativamente interior do Caldeirão ou até da Cabranosa e, sobretudo, o da Gruta do Escoural, são, neste quadro, elementos a ponderar. Por outro lado, se aceitarmos a origem valenciana ou andaluza desses grupos, importa também questionar como foram escolhidos os locais de destino e porquê. Tratava-se, note-se, de uma odisseia sem regresso e, ao mesmo tempo, de colónias sem “metrópole”. A instalação em territórios desabitados e, segundo parece (Araújo, 2003), densamente florestados, exigiria, da parte desses pequenos grupos pioneiros, um esforço enorme de desbravamento das terras para fins agrícolas e pastoris, tanto maior quanto a distância em relação aos povoados de proveniência implicava um corte radical com a rectaguarda logística. Note-se que, no que diz respeito ao Alentejo Central, em particular, as

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características geológicas, pedológicas, hidrológicas e, de um modo geral, paisagísticas, eram certamente muito distintas das que os supostos colonos conheceriam em Valência ou na Andaluzia, obrigando a um esforço adicional de reconhecimento e adaptação. Nestas condições, a retoma de uma actividade agro-pastoril normal, tendo como termo de comparação os padrões praticados nos povoados de origem, demoraria sempre um certo tempo, durante o qual a qualidade de vida dos grupos seria obrigatoriamente afectada. Efectivamente, embora fosse possível o transporte, em barcos rudimentares (provavelmernte canoas monóxilas), de algumas cabeças de gado, a verdade é que o tempo necessário para refazer, nos territórios colonizados, um rebanho economicamente rentável, seria, certamente, de vários anos. Por outro lado, a partir das regiões valenciana ou andaluza, é possível, teoricamente, conceber rotas terrestres que tivessem

Fig. 12.2 - Distribuição do povoamento do Mesolítico final, no Centro-Sul de Portugal (seg. Araújo, 2003: 103).

permitido, aos putativos colonos, atingir o Alentejo Central ou mesmo (porque não?) a própria Estremadura. Mais uma vez, o obstáculo imposto pelas paisagens fechadas, que se admite terem acompanhado o óptimo climático atlântico, não favorece, porém, esta hipótese, pelo menos numa fase inicial do processo. A criação de novos povoados, no contexto do modelo clássico da onda de avanço, não comportava, naturalmente, nenhuma das dificuldades apontadas, uma vez que as novas instalações se implantariam em territórios adjacentes aos povoados-mãe, beneficiando, certamente, em fase de arranque, dessa proximidade. As causas geralmente admitidas para um tal movimento, inscrevem-se num registo funcionalista que, verdadeiro ou não, não suscita, a priori, grandes objecções: o esgotamento dos solos (ou apenas uma redução da produtividade dos mesmos), como resultado de uma suposta agricultura de queimadas, ou, alternativamente, mecanismos de fissão, como forma de regulação das tensões sociais; uma e outra supõem, em todo o caso, um significativo crescimento demográfico. No entanto, um impulso expansionista, de índole

Fig. 12.3 - Principais correntes de difusão dos sistemas técnicos neolíticos (seg. Marchand, 2001: 117).

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eventualmente religiosa/ideológica (Cauvin, 314-317), não pode, obviamente, ser excluído. Os argumentos invocados por J. Zilhão (e parcialmente adaptados por M. Diniz), em defesa do modelo colonialista, assentam sobretudo nos seguintes aspectos: 1- ausência de substratos indígenas nos territórios “colonizados” (reproduzindo, aparentemente, embora numa escala diferente, uma das características do Neolítico antigo da Europa central; 2- diferenças significativas nas técnicas de talhe, entre o Neolítico antigo e o Mesolítico; 3- semelhanças estilísticas entre as formas e decorações das cerâmicas e certos objectos de adorno do Neolítico antigo da Estremadura (e do Alentejo Central) e das presumidas regiões de origem; 4- escassos indícios de neolitização in situ das comunidades mesolíticas locais. A este modelo de neolitização, tal como tem sido defendido, subjaz uma desvalorização radical do papel das populações indígenas, as quais, nesta perspectiva, teriam aderido passivamente às inovações oriundas do Mediterrâneo oriental, apenas depois de pressionadas pelos grupos exógenos instalados nas vizinhanças. Ignora-se um aspecto, muito caro aos indigenistas, que é a profunda transformação que se adivinha nas sociedades mesolíticas mais complexas (Zvelebil, 1998: 25; Zvelebil e Dolukhanov, 1991: 238), no sentido da neolitização, e a própria história das sociedades mesolíticas europeias, dos seus contactos e influências. Por outro lado, o modelo indigenista, tal como tem sido esboçado, concebeu apenas mecanismos de neolitização in situ, nos quais os concheiros do Tejo/Sado não teriam estado substancialmente envolvidos; esta marginalização voluntária em relação às mudanças que iam alastrando, à sua volta, seria, de acordo com essa leitura, o resultado de condições ambientais particularmente ricas e, portanto, propícias a um certo conservadorismo, com paralelos noutras áreas da fachada atlântica europeia e não só. O destino dessas comunidades, cujos vestígios revelam uma forte personalidade cultural, seria, a médio prazo, uma estranha extinção sem descendência. Nessa mesma leitura, pensada a partir da área de Sines, a neolitização do interior teria sido feita a partir dos primeiros povoados neolíticos litorais, de substrato mesolítico, e seria, por natureza, um fenómeno secundário e “evolucionado”, o que dificilmente se enquadra nas cronologias relativamente antigas (directas e indirectas), tanto da Estremadura como do Alentejo Central. Esse avanço para o interior, carece, além disso, de uma trama geográfica credível, no que diz respeito à própria paisagem e aos dados arqueológicos que pudessem fazer a ponte. Carece também, pelo menos por enquanto, de motivações razoáveis: não creio concebível que o crescimento demográfico a partir de uns escassos núcleos populacionais instalados no litoral, fosse suficiente para justificar o enxameamento, tanto mais que a tendência, no Neolítico antigo, parece ser de concentração do povoamento em áreas restritas. Um crescimento demográfico optimista, num povoado como Vale Pincel, teria alimentado, em vários séculos, para além do seu próprio crescimento, a fundação de povoados interiores, como o da Salema; mas para que, em meados do VI milénio, essa expansão tivesse chegado à área de Évora ou de Reguengos, pujante como parece ter chegado, não se afigura suficiente; em paralelo, haveria sempre que encontrar um destino para o povo dos concheiros, cuja extinção ou mesmo diluição, em termos étnicos, parece pouco provável.

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A aparente velocidade excessiva com que a neolitização avançou, no Mediterrâneo ocidental afectou também, em menor grau, a ideia de uma difusão percolativa, implicando, em vez das relações lentas de vizinho a vizinho, relações de longa distância. Na verdade, o cerne da questão parece-me consistir na mobilidade e nos prováveis contactos inter-regionais desenvolvidos pelas populações de caçadores-recolectores do Mesolítico final. Desde logo, a economia destas populações era, por definição, muito mais apta para suportar deslocações de longo curso. A pesca, a caça e a recolecção poderiam alimentar indefinidamente um grupo de caçadores-recolectores que, em viagem, não precisava de alterar radicalmente os seus modos de subsistência. Acresce, ainda, o facto fundamental de se tratar de populações cujas aptidões náuticas estariam, em princípio, tanto ou mais desenvolvidas e

Fig. 12.4 - Cartografia do avanço da agricultura primitiva e dos cemitérios mesolíticos (seg. Bradley, 1993: 14).

exercitadas do que as das populações neolitizadas, suas contemporâneas (Patton, 1995: 21). As localizações dos concheiros, nunca longe das margens dos estuários, e alguns indícios de pesca de alto mar são, a este respeito, bastante eloquentes. As comunidades mariscadoras poderiam, sem grandes dificuldades técnicas, ter estabelecido laços de vários tipos, inclusivé de carácter genético, com populações já neolitizadas ou em vias de neolitização, nas costas andaluzas e valencianas. É, aliás, bastante plausível que essas relações sejam anteriores à chegada do pacote neolítico (que inclui, para além da pedra polida, da cerâmica, dos ovicaprinos e dos cereais, uma nova ideologia) ao

Fig. 12.5 - Zonas de interacção na Europa atlântica; A: Neolítico antigo; B: Neolítico final (seg. Bradley, 1997: 24, adaptado).

território peninsular (Martí Oliver e Juan-Cabanilles, 1997: 244, 245; Kunst e Rojo, 1999: 262-263). A navegação e as interacções culturais que ela teria suscitado entre grupos mesolíticos e neolíticos geograficamente separados, tem tido, nos últimos anos (e não só) muitos defensores (Bradley, 1997; L’Helgouac’h, 1995; Patton, 1995: 21;Cooney, 2000: 7; Courtin, 2000: 22), embora sob perspectivas

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cronológica e culturais distintas; efectivamente, para além de uma navegação de cabotagem, com trajectos mais ou menos longos, existem também indícios seguros de alguma navegação de alto mar: a colonização de Chipre, por grupos do PPNB, a qual teve lugar antes dos inícios do VII milénio a.C. (Cauvin, 1999b), ou, noutro contexto geográfico e cronológico e em menor grau, a neolitização das Ilhas Britânicas, comprovam, sem margem para dúvidas, esse fenómeno. As semelhanças (em termos de tecnologias líticas e, sobretudo, em termos de rituais funerários) entre os concheiros do Tejo/Sado e os do Golfo do Morbihan (aparentemente, sem escalas intermédias), apesar de terem merecido um ou outro comentário ligeiro, em estudos especificamente dedicados ao Mesolítico português (Roche, 1960; Arnaud, 1987), e mesmo estudos comparativos, no domínio tecnológico (Marchand, 2001b, 2001c), não foram, até à data, suficientemente exploradas, quanto às suas possíveis implicações no processo de neolitização da fachada atlântica. Por outro lado, as analogias flagrantes entre os menires da Bretanha e do Alentejo, também elas sem paralelos convincentes pelo meio, sugerem contactos directos, por via marítima. Esses contactos, a terem realmente ocorrido, seriam, naturalmente, mais lógicos entre as respectivas populações mesolíticas do que entre o Morbihan e o interior alentejano (Calado, 2002). Como alternativa ao modelo de difusão démica e, sobretudo, à versão mais radical dos enclaves neolíticos, os dados disponíveis para a neolitização do Alentejo Central podem, com vantagem, ser interpretados como o resultado do dinamismo das últimas sociedades de caçadores-recolectores dos estuários do Tejo e do Sado. A singularidade dos menires alentejanos, exige um contexto singular. Essas sociedades, em vias de sedentarização e de complexificação social, desde, pelo menos, a primeira metade do VI milénio, teriam, nesta perspectiva, estabelecido fluxos de informação em duas direcções: uma, pela fachada atlântica, focada particularmente no Sul da Bretanha e a outra, pela via mediterrânica, estendendo-se, pelo menos, até à região de Valência (Fig. 12.6; 12.7). As relações entre os concheiros do Tejo/Sado e a região valenciana, são sugeridas, por exemplo, por analogias tecnológicas entre as indústrias dos estuários portugueses e as de níveis mesolíticos da Cueva de la Cocina, próxima de Valência

Fig. 12.6 - Proposta de contactos litorais de longa distância, na transição Mesolítico Neolítico da Europa ocidental.

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(Aparício, 1989: 215). A presença, mesmo que rara, da cerâmica e a ausência de faunas domésticas (à excepção do cão), nos concheiros, implicam, por um lado, que os seus autores não ignoravam, certamente, as inovações chegadas do Leste e, por outro, que, perante elas, manifestavam um elevado conservadorismo, pelo menos em termos económicos. Na verdade, as pautas culturais neolíticas devem ter gerado, sobretudo nas comunidades mais complexas, como seriam as dos concheiros do Tejo/Sado, atitudes de adesão e de rejeição, traduzidas em conflitos e clivagens internas, cuja ultrapassagem passaria, eventualmente, pela saída dos partidários da mudança e pela instalação destes em áreas devolutas, na periferia dos territórios tradicionais (Ammerman, 2002: 19). Trata-se, em última análise, dos mesmos fenómenos de fissão que, curiosamente, foram

Fig. 12.7 - Proposta esquemática das principais relações interregionais envolvidas na neolitização/megalitização do Alentejo Central.

propostos como causas possíveis para as improváveis colonizações marítimas de longa distância (Zilhão, 2001: 14185). No entanto, parece mais difícil descortinar eventuais causas para a fissão nas sociedades neolíticas do que em sociedades confrontadas com umaprofunda revolução cultural. Os colonizadores do Alentejo Central teriam, nesta óptica, transportado consigo, a partir dos territórios dos estuários, alguns aspectos da cultura material mesolítica e, simultaneamente, os elementos essenciais da economia e da ideologia neolíticas, importados a partir de focos intermédios do Mediterrâneo ocidental. Os menires seriam inovações inspiradas, por um lado, em práticas rituais ancestrais e, por outro, na ideologia veiculada pelo próprio pacote neolítico. Note-se que a miscigenação cultural observada na Valada do Mato (nº1119), em que, a par de artefactos líticos e técnicas de talhe, oriundos do fundo cultural autóctone, existem cerâmicas e objectos de adorno, com analogias em áreas relativamente remotas, a ser explicada por fluxos de mulheres entre grupos diferentes,

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deveria ter-se feito em sentido inverso àquele que foi recentemente sugerido (Diniz, 2004): de facto, parece pouco provável que as mulheres tivessem levado consigo técnicas e tipos de artefactos “ligados à caça e à guerra” (Marchand, 2003: 193) que, em princípio, correspondem a actividades masculinas. Já as cerâmicas ou os objectos de adorno parecem mais consentâneos com a aquisição, por grupos de caçadores-recolectores, de mulheres oriundas de comunidades já neolitizadas. Outro aspecto em que se pode questionar o sentido da aculturação que a cultura material do Neolítico antigo centro-alentejano evidencia, diz respeito à “natural absorção, dos outros grupos por parte do sistema de maior complexidade social” (Diniz, 2004: 347); de facto, é difícil imaginar nos hipotéticos pioneiros recémchegados, em número reduzido, a um ecossistema mal conhecido e, portanto, mal dominado, uma complexidade social maior do que aquela que, em geral, se reconhece nas populações dos concheiros mesolíticos, instalados, havia vários séculos, num território particularmente favorável, e com índices de sedentarização que os rituais funerários deixam facilmente entrever. Note-se que, segundo M. Zvelebil, as “sociedades de caçadoresrecolectores, em algumas partes da Europa, desenvolveram estruturas sociais e estratégias de gestão dos recursos, análogas em complexidade e talvez mesmo produtividade às dos agricultores neolíticos” (Zvelebil, 1998: 25). Por outro lado, um tal cenário explicaria satisfatoriamente algumas das especificidades do Neolítico antigo do Alentejo Central, como são, por exemplo, os dispositivos rituais com planta em forma de ferradura, para os quais não se conhecem paralelos na Andaluzia ou na região valenciana e que, num contexto de ruptura e de inovação em relação ao modo de vida mesolítico, representariam, talvez mais do que as indústrias líticas, um importante elemento de continuidade cultural. É certo que a disponibilidade do pacote neolítico deve ter desencadeado outros tipos de respostas, por parte de outras comunidades de caçadores-recolectores locais: num dos extremos do leque, podemos supor uma situação como a que, aparentemente, caracterizou a neolitização da Escandinávia, em que os indígenas, mesmo absorvendo alguns itens do pacote neolítico, resistiram durante largos séculos aos ventos de mudança; no outro extremo, os grupos, eventualmente os menos bem sucedidos, ou que dispunham de menos recursos, agrupados em sociedades mais simples, cuja adesão pode ter sido fácil e sem traumas internos. A instalação de povoados neolíticos, um pouco por todo o interior da Península, em datas quase tão antigas como as do litoral, exige uma participação activa da população mesolítica que, por essa altura, se extingue como tal. Mesmo com um crescimento demográfico elevado, as colónias de neolíticos puros dificilmente poderiam ter desempenhado um papel de relevo nos efectivos demográficos envolvidos no processo. Para além do Alentejo Central onde, num percurso que pode ter demorado séculos, terão “desaguado” as populações dos concheiros do Tejo/Sado, são admissíveis outros fenómenos “de colonização interna”, a partir das mesmas ou, eventualmente, de outras bases mesolíticas. Quanto ao móbil das eventuais expedições mesolíticas de longa distância, é muito difícil atribuir-lhe fundamentos economicistas. Trata-se de empreendimentos que, possivelmente, envolviam apenas os segmentos mais jovens das comunidades mesolíticas e que poderiam, por isso, ser explicáveis como simples manifestações do espírito de

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aventura, ou, atendendo ao grau de dificuldade da operação, como eventuais rituais de iniciação. A aquisição de mulheres seria, como tem sido proposto, um dos objectivos mais pragmáticos e que melhor explicariam a neolitização subsequente das sociedades de caçadores-recolectores, ou parte delas; a existência de mecanismos de circulação de objectos raros, com valor simbólico, pode igualmente justificar as analogias com as cerâmicas ou os objectos de adorno de outras áreas distantes (Godelier, 1996). Chris Scarre defendeu, num texto recente, a peregrinação como um dos mecanismos responsáveis pela circulação de ideias e artefactos, nas sociedades pré-históricas (Scarre, 2001); trata-se, por definição, de viagens de ida e volta, presentes em sociedades muito diversas, por vezes com funções terapêuticas, cujos fundamentos religiosos incluem, por norma, a visita a lugares sagrados (Barnatt, 2001: 96). A valorização social dos indivíduos que participam em tais viagens tem resonâncias em contextos que nos são relativamente próximos. Perante a questão da receptividade das sociedades mesolíticas às inovações neolíticas, as posições de indigenistas e colonialistas não diferem muito: todos concordamos que, uma vez exposto, durante um tempo mais ou menos longo, ao contágio, o mundo mesolítico se desmoronou. Como se deu o contágio e o desmoronamento, é o que está em discussão. A existência de uma rede de contactos entre comunidades mesolíticas distantes, tornaria virtualmente instantânea a propagação do pacote neolítico, a partir do momento em que uma delas se neolitizasse. As diferenças cronológicas no processo de mudança, com um claro gradiente de Leste para Oeste, sugerem um tempo de maturação, diferente de umas comunidades para outras, em que as novidades estiveram disponíveis mas não foram adoptadas (Zvelebil e Rowley-Conwy, 1986). A ruptura expectável nas sociedades mesolíticas, corresponde, naturalmente, à fase de substituição, e é nesse contexto, que se pode adivinhar potencialmente tenso, que os mecanismos de fissão poderão ter dado origem ao (re)povoamento do Alentejo Central. A construção dos menires sugere uma sociedade coesa, motivada, empenhada em exibir as suias capacidades, num ambiente de ruptura e inovação e num território que pretende tornar seu e domesticar. Tem-se escrito muito, nos últimos anos, sobre as diferenças de fundo entre os modo de vida mesolítico e neolítico. Para além das importantes clivagens, em termos de quotidiano, entre as economias de caça e recolecção e as chamadas economias produtoras, implicando a introdução de novos artefactos (de que o machado e o báculo são emblemas privilegiados e onde a cerâmica desempenha igualmente um papel prático e simbólico importante), surgem novos hábitos alimentares (sobretudo o cereal e o leite), novos conceitos de organização social e laboral e uma nova relação com a Natureza; estas mudanças foram, necessariamente, traduzidas numa estrutura simbólica renovada. O cruzamento de dados seleccionados da literatura etnográfica, com algumas projecções, na pré-história, de velhas questões com que se debate a civilização ocidental, contribuiu para a construção de uma imagem de bom selvagem, com que os homens do Mesolítico têm sido retratados. Porém, não é certo que os concheiros tenham sido o Paraíso terrestre e o comunismo primitivo pode ter que recuar até ao Neanderthal, mas admite-se, nessas sociedades, um modo de vida e um sistema de crenças mais conservacionista, menos empreendedor do que a proposta revolucionária que acabou por se impor. Um dos aspectos que caracterizam, muitas vezes, as sociedades de caçadores-recolectores, mesmo as mais prósperas, ou, sobretudo, essas, parece ser o desenvolvimemto de mecanismos de nivelação social, através de limitações à acumulação de riquezas (Zvelebil, 1998: 6; Godelier, 1996). A intensidade do processo de neolitização do Alentejo Central, evidenciada na construção de um conjunto de monumentos, único à escala peninsular, é directamente proporcional à complexidade relativa do Mesolítico

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do Tejo/Sado. Concheiros funerários e menires, no Tejo/Sado e no Morbihan, correspondem, provavelmente, a binómios paralelos, os elementos mais visíveis de uma sociedade em vias de mudança. Trata-se, a confirmar-se esta proposta, não propriamente de uma neolitização instantânea, mas de uma substituição instantânea. O grupo que ontem era ainda mesolítico, hoje, recém instalado num mundo todo por fazer, traz consigo um projecto que o torna profundamente neolítico. Neste sentido, pode falar-se, com alguma propriedade, de uma verdadeira Revolução Neolítica. Procura-se, em última análise, encontrar um caminho intermédio entre a quietude do modelo evolucionista e a exaltação épica dos “pioneiros” orientais. 12. 4. As sequelas A maior parte dos menires europeus parece corresponder a fases avançadas da instalação das sociedades camponesas, mesmo atendendo aos ritmos diferentes em que isso aconteceu, nas diversas áreas; esse retardamento está bem confirmado nos diversos grupos de estátuas-menires que predominam na Europa mediterrânica (D’Anna, 2002) e é também a norma nos menires, geralmente anicónicos, das Ilhas britânicas (Burl, 1999), assim como, aparentemente, nos escassos exemplares escandinavos (Larsson, 2004). Do mesmo modo, mesmo na Bretanha ou na Península Ibérica, uma boa parte dos menires foi provavelmente erguida entre o Neolítico final e a Idade do Ferro. Estamos, antes de mais, perante o fenómeno da longevidade dos símbolos de que o báculo talvez seja o exemplo mais paradigmático; por outro lado, é pouco provável que os significados e funções dos primeiros monumentos se tenham mantido inalterados, uma vez que os contextos mudaram profundamente. De certo modo, a permanência dos mesmos símbolos religiosos durante largas centenas ou mesmo milhares de anos, atravessando barreiras culturais, étnicas, linguísticas e outras, é-nos perfeitamente familiar. No limite, os menires inauguraram uma prática, a da representação tridimensional da figura humana, em escala natural (em muitos casos, maior que a natural), a que a estatuária continuou e continua a dar actualidade. A quantidade (e a variedade) assinalável de monumentos meníricos, nas Ilhas Britânicas, e a ampla dispersão no território, implicam, por um lado, uma larga diacronia e, por outro, remetem para épocas em que extensas áreas do território se encontravam já ocupadas por sociedades agro-pastoris. A realidade do Alentejo Central parece ser muito diversa. É claro que houve menires tardios (pelo menos na Idade do Ferro) e é seguro que alguns dos menires neolíticos se mantiveram (ou voltaram a estar) em uso, até épocas proto-históricas, como demonstram os casos de S. Sebastião (nº 8) ou da Belhoa (nº 44). No entanto, a construção de menires parece ter-se concentrado num patamar cronológico relativamente estreito, aspecto que se deduz da variabilidade relativamente reduzida dos monumentos, da escassa quantidade global e da própria contenção geográfica. Por razões que importa averiguar, enquanto noutras áreas da Europa continuam a erguer-se menires, porventura mesmo com mais intensidade, no Alentejo Central (tal como no Algarve e, aparentemente, na Vendeia (Beneteau, 2000: 301), o impulso inicial parece ter esmorecido, com um ou outro avivamento pontual. Na Bretanha, pelo contrário, assistiu-se a uma fase inicial de grandiosidade única que se desenvolveu sob novos formatos, mas igualmente notáveis.

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256 No Sudoeste peninsular, os menires foram provavelmente substituídos, em termos rituais e simbólicos, pelos monumentos megalíticos funerários e pelos seus conteúdos; estas construções reproduzem, porventura numa escala ampliada, as dificuldades técnicas envolvidas na construção dos menires, e parecem dar continuidade a algumas das funções sociais que lhes costumam ser imputadas: marcação e domesticação das paisagens, exaltação de elites, demonstração de capacidade laboral, entre outras. A antropomorfização dos símbolos a que, supostamente, subjaz uma visão antropocêntrica do mundo, continua , sob novas formas, na cultura dolménica: as placas de xisto que provavelmente nasceram no Alentejo Central e daqui irradiaram, parecem ter herdado um certo protagonismo regional, num processo em que o antigo santuário do Guadiana pode ter tido, desta vez, um papel central. Os báculos de xisto são, por outro lado, um dos elos de ligação mais sugestivos, entre os menires e as antas e, na minha opinião, uma das causas de alguma confusão cronológica entre uns e outros. Na verdade, creio que o báculo de xisto representa a continuidade do símbolo gravado nos menires, agora graficamente mais estilizado e, por isso, mais distante do objecto funcional que funcionou como referente. A decoração dos artefactos votivos, em que predominam as soluções angulosas, afasta-se claramente dos cânones estéticos patentes nos menires (ou das cerâmicas do Neolítico antigo) e o próprio suporte - o xisto laminar - evoca paisagens onde os menires estão ausentes. Os dados, ainda inéditos, das escavações no povoado das Águas Frias(nº1465), apontam, sem margem para dúvida, para a existência de um centro produtor de placas de xisto, o único até agora identificado, pelo menos com uma tal exuberância de dados: efectivamente, foram recolhidas largas dezenasde placas de xisto, em todas as fases de fabrico, excepto produtos acabados (Fig. 12.9). A posição geográfica do sítio, com cronologias relativas da segunda metade do IV milénio a.C., aponta fortementepara uma relação, de ordem eventualmente ritual, entre o fabrico de placas de xisto e a proximidade dos núcleos mais importantes do santuário rupestre do Alqueva (Fig. 12.10). Na verdade, as mesmas bancadas de xisto do leito do Guadiana em que foram feitas as gravuras do Alqueva (Fig. 12.8), poderiam ter fornecido a matéria-prima - com implicações simbólicas fáceis de suspeitar - das placas de xisto fabricadas no povoado; por outro lado, a escavação, já referida, de dois outros povoados de fossos, artefactual e estruturalmente análogos às Águas Frias - Juromenha 1 (nº876) e Malhada das Mimosas 1 (nº882), onde não foi recolhida uma única placas de xisto, sugere, efectivamente, uma especialização daquele povoado, a que não deve ser alheia a proximidade privilegiada com o antigo santuário rupestre. Neste contexto, é curioso e, por ora, difícil de explicar, o vazio quase absoluto de antas nas proximidades das Águas Frias (Fig. 12.11). Os próprios círculos radiados (os olhos de sol) que constituem um dos elementos mais figurativos da gramática decorativa das placas de xisto - e das cerâmicas do Neolítico final/Calcolítico - podem ser reflexos da continuidade do mesmo símbolo que, de uma forma muito explícita no caso da Belhoa, domina o campo iconográfico do menir (Gonçalves, 1992: 218). A confirmação das orientações astronómicas dos menires torna, naturalmente, mais plausível a origem antiga deste símbolo e a sua permanência em contextos posteriores. Outro dos elementos que poderá, de alguma forma, implicar a continuidade, no Neolítico final/Calcolítico

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do Sul peninsular, de símbolos que surgiram, pela primeira vez, nos menires, são as lúnulas que, como artefacto votivo ou gravadas nos chamados ídolos cilíndricos, ocorrem, com alguma frequência, nas necrópoles do Maciço Calcário estremenho. As mudanças, a nível regional, entre o Neolítico antigo/médio e o Neolítico final/ calcolítico são muito sensíveis e vão muito para além da

Fig. 12.8 - Aspecto das bancadas de xisto, na área da Casa da Moinhola (Foto Rafael Henriques).

substituição dos menires pelas antas: os grandes povoados de fossos, inseridos num movimento que englobou todo o SW peninsular e instalados finalmente em solos de elevado potencial agrícola, sugerem um pleno desenvolvimento do modo de vida neolítico. A presença pontual de cerâmicas de tradição antiga, nomeadamente cerâmicas impressas, em alguns dos povoados de fossos escavados, como acontece em Juromenha 1, ainda inédito, em La Pijotilla (Hurtado, 1984) ou no povoado do TESP 3 (Gonçalves, 1990-1991), aponta para uma filiação indígena dos fundadores dos mais antigos desses povoados. A continuação de alguns deles (os maiores) ao longo de todo o calcolítico, a par do aparecimento dos pequenos povoados com muralhas de pedra, com culturas materiais virtualmente indestrinçáveis, não me parece apoiar a tese dos invasores calcolíticos, metalurgistas e iconoclastas que teriam trazido consigo novas divindades, traduzidas iconograficamente nos símbolos solares (Gomes, 2002).

Fig. 12.9 - Águas Frias: esboços de placas e placas inacabadas.

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Fig. 12.10 - O povoado das Águas Frias e as manifestações de arte rupestre, no Alentejo Central.

A óbvia interacção que certamente existiu ao longo das costas do mediterrâneo, no terceiro milénio a.C., traduzida, entre outros aspectos, na construção de muralhas e bastiões, desde Chalandriani até ao Zambujal, é provavelmente anterior: um dos fossos do povoado das Águas Frias (Fig. 6.40), colmatado no neolítico final, apresenta uma planta curiosamente semelhante à das muralhas calcolíticas... As próprias comparações entre as placas de xisto e as paletas egípcias pré-dinásticas, ou entre os báculos

Fig. 12.11 - O povoado das Águas Frias e o megalitismo funerário do Alentejo Central.

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e motivos gravados nas ditas paletas (Leisner e Leisner, 1951: 129-138), hoje caídas em desuso, poderiam ganhar um novo alcance se assumirmos uma corrente mediterrânica, nos dois sentidos, liberta das obrigatoriedade do ex oriente lux. O alastramento das redes de povoamento, para fora das paisagens graníticas do Alentejo Central, afectou primeiro os melhores solos agrícolas, até aí ainda devolutos - numa data ainda incerta, mas provavelmente por volta de 4000 a.C. - e, a partir dos inícios do terceiro milénio, um pouco para todo o lado. Em boa parte deste processo não deve estar ausente um factor clássico das abordagens funcionalistas: o crescimento demográfico. Em paralelo, et pour cause, uma acentuada complexificação social e sérios indícios de competição intercomunitária, marcam certamente uma nova era. Os velhos menires, nesta fase, estão moribundos e muitos deles mesmo enterrados. Nos recintos dos Almendres, de Vale Maria do Meio ou do Xarez, apesar da monumentalidade excepcional de cada um, não ficaram traços que sustentem qualquer tipo de continuidade de uso e, nos novos territórios para onde enxameou, a partir do Neolítico final, o povoamento pré-histórico da região, não parecem ter sido construídos novos monumentos meníricos.

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Capítulo 13: Para concluir

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O que sabemos ou julgamos saber sobre os menires do Alentejo Central e as sociedades que eles representam, continua a assentar numa base factual muito limitada e heterogénea. Neste cenário, que, previsivelmente não se alterará nos tempos mais próximos, é legítimo e salutar conceber soluções diferenciadas e tê-las em conta na avaliação dos novos dados e na própria gestão da investigação futura. Fechar os olhos a possibilidades alternativas, nesta fase, por muito coerente que seja cada uma das propostas, acarreta, certamente, riscos desnecessários e pode fazer-nos chegar, de forma perversa, a becos sem saída. Significa isto que é importante manter em aberto avenidas interpretativas distintas (e mesmo contraditórias). As limitações dos dados disponíveis exigem prudência, porque são eles que determinam o horizonte das conclusões possíveis que, por sua vez e por princípio, estarão sempre sujeitas a novos testes e revisões. Antes de mais, a atribuição da maior parte dos menires e, dentro destes, dos monumentos mais imponentes, ao Neolítico antigo, obrigou a um olhar muito diferente sobre a história da neolitização do Alentejo Central. O quadro das relações geográficas envolvidas no processo, alargou-se, para Norte, à fachada atlântica europeia e os grupos mesolíticos (ou pelo menos os mais dinâmicos) ganharam um protagonismo acrescido. É certo que este protagonismo, sendo mais fácil de encaixar nas perspectivas indigenistas, nem sequer é, necessariamente, contraditório com o modelo dos enclaves neolíticos: o papel dos presumíveis colonos, terse-ia, em última análise, diluído num substrato indígena forte, responsável por uma interpretação original das novidades oriundas do Mediterrâneo oriental, em articulação com um fundo cultural de claras afinidades atlânticas. Neste processo, não devemos também negligenciar o facto de os caçadores-recolectores do Tejo e do S ado apresentarem alguns dos sintomas das inovações que, no Próximo Oriente, prepararam o terreno para a emergência da economia agro-pastoril. Note-se, por outro lado, que o reconhecimento de mecanismos de contacto directo de longa distância, com eventuais consequências genéticas, permite relativizar os resultados, sejam eles quais forem, dos estudos genéticos comparativos, entre as populações mesolíticas e neolíticas. Jean Guilaine, adepto de uma neolitização de tipo intrusivo, embora com “deslocações limitadas” , sublinha, num texto recente, que “ a Europa não era um deserto quando se difundiram as primeiras comunidades de agricultores”, uma vez que “as populações indígenas, descendentes das brilhantes civilizações paleolíticas, povoavam o antigo continente” (Guilaine e Zammit, 2001: 125). Com ou sem colonos, uma leitura integrada dos dados disponíveis permite entrever o carácter eminentemente indígena do Neolítico alentejano. Metaforicamente, poderia afirmar-se que, em termos rituais, o Neolítico não fez mais do que acrescentar neologismos a uma linguagem pré-existente; em termos sociais e económicos, esta continuidade manifesta-se nas experiências em curso, desde os inícios do VI milénio a.C., no sentido da sedentarização e da complexificação social. O Alentejo Central surge, por outro lado, como uma área geograficamente coerente com os estuários do Tejo e do Sado; litoral e interior são, no contexto histórico que parece ter gerado os menires, concebidos como as duas faces da mesma moeda. Trata-se de realidades paisagísticas radicalmente distintas e, em muitos aspectos, mesmo contrastantes. A uni-las, uma rede de caminhos naturais (rios e festos) e, eventualmente, memórias mais antigas, materializadas, por exemplo, no santuário rupestre do Alqueva (e, eventualmente, na Gruta do Escoural) e que remetem para a presença, anterior à litoralização do povoamento, de grupos paleolíticos e epipaleolíticos, no interior alentejano. As noções de limites e fronteiras, com repercussões simbólicas não negligenciáveis (Barnatt, 2001: 96), sobretudo se olharmos a partir dos estuários, parecem ter estruturado a distribuição dos monumentos e sítios, pelo menos numa primeira fase; povoados e menires parecem reflectir

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262 um protagonismo da própria paisagem, numa forma de discurso simbólico em que o Homem domestica o Céu e a Terra, submetendo-se às suas formas e ritmos. Em textos anteriores, defendi a separação entre megalitismo funerário e não funerário e, partindo de uma anterioridade relativa dos menires no universo megalítico local, avancei a ideia de que o megalitismo, como fenómeno simbólico, só numa fase avançada, se teria “deslocado” do mundo dos vivos para o mundo dos mortos (Calado, 2000a). No entanto, mesmo sem evidências indiscutíveis e com outras aparentemente contraditórias, os menires parecem, desde o início, relacionar-se com o culto dos antepassados; o que falta, certamente, é definir as modalidades desse relacionamento. A possibilidade da construção simultânea de recintos e antas, não deve ser definitivamente afastada, sobretudo se atendermos às indefinições das fases terminais de uns e iniciais das outras. Porém, de um modo geral, parecem excluir-se espacialmente; os próprios casos, ainda raros e discutíveis, de menires reutilizados em antas, sugerem também alguma exclusão. Na verdade, é seguro que antas e menires coexistiram nas mesmas paisagens e mesmo que, como parece, não se tenham construído novos menires, alguns dos que sobreviveram mantiveram provavelmente alguma função na estrutura simbólica da paisagem dolménica. De um modo geral, a substituição dos menires pelas antas, no Alentejo Central, pode ser interpretada como uma evolução no seio da própria monumentalidade megalítica; os monumentos, em vez de representarem os antepassados, passam a conter os seus restos mortais; trata-se, de certo modo, da passagem de uma forma embrionária de escultura/estatuária para aquela que é, certamente, uma das mais antigas formas de arquitectura ritual. Esta passagem pode ter, e provavelmente tem, caminhos complexos. Por um lado, podemos supor uma evolução a partir das pequenas sepulturas, em ferradura ou rectangulares/trapezoidais, que parecem, nalguns casos mas não em todos, anteceder os verdadeiros sepulcros megalíticos e, por outro, uma conjunção com o saber fazer adquirido na erecção de menires. Algumas datas de monumentos de corredor do Centro-Oeste francês, a confirmarem-se, sugerem uma eventual origem das grandes arquitecturas funerárias megalíticas nessa área. A chegada, aparentemente tardia (Gonçalves, 2003c), desse modelo, ao Alentejo Central, pode ter implicado, desta vez, um movimento lento, de capilaridade (Jorge, 1999; Balbín e Bueno, 2002), muito diferente daquele que as semelhanças entre os menires bretões e alentejanos, sem paralelos no espaço geográfico que os separa, parecem traduzir. Note-se que, no Norte da Península, dispomos actualmente de datas para monumentos funerários (alguns deles, mais megaxílicos que propriamente megalíticos) bastante anteriores às datas disponíveis para o megalitismo funerário do Sul de Portugal (Blas, 2000: 223). A interiorização do povoamento e o abandono dos concheiros teriam, logicamente, contribuído para essa mudança global. Por outro lado, a reocupação sistemática do interior peninsular, ainda a partir do Neolítico antigo, e a expansão dessas comunidades, num quadro de prosperidade económica e de crescimento demográfico, criou, finalmente,uma rede de povoamento contínua, ou quase, que facilitaria a transmissão de ideias, modas e produtos, sem necessidade de viagens de longo curso. Se o início da construção dos menires se pode encaixar na crise vivida pelas comunidades mesolíticas mais dinâmicas e nos fenómenos de fissão que daí teriam resultado, o abandono dos monumentos e a transferência do investimento colectivo para outras arquitecturas, mais complexas e mais ubíquas, parece corresponder a outra crise. Trata-se, num primeiro momento, do fim das disputas e tensões ideológicas que se subentendem por detrás da sobrevivência, até à primeira metade do V milénio a.C., dos últimos caçadoresrecolectores renitentes às mudança; a esta situação global, em que o novo status quo se impôs definitivamente, seguiu-se, aparentemente, uma crise de crescimento, despoletada pela explosão demográfica e pelas novas possibilidades e exigências decorrentes de um melhor conhecimento do território e do respectivo potencial

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agrícola e pela consolidação de um sistema económico plenamente produtor. Nesta fase, a região manteve uma personalidade cultural muito forte,traduzida na construção de antas de inexcedível monumentalidade, como é o caso da anta do Zambujeiro (nº3); esta, localizada no mesmo enquadramento micro-paisagístico que os Almendres (a bacia da ribeira de Valverde), surge, possivelmente, como um substituto do recinto megalítico, numa época em que ele deveria já ter entrado em declínio. Em termos regionais, essa herança parece ter-se materializado na irradiação de um ícone tão bem sucedido, no tempo e no espaço, como foi a placa de xisto. Uma certa recentragem ritual da região, num território (o dos xistos) a que o Neolítico antigo tinha sido alheio, sugere um movimento pendular, desses que a focagem na longa duração atesta, em inúmeros registos,traduzido no regresso, depois da “experiência” dos festos, às paisagens fluviais. Por fim, o protagonismo do santuário ancestral, eventualmente interrompido durante o Mesolítico e durante a fase de construção dos menires, renova-se, expande-se e expande aparentemente o seu raio de acção, através da exportação das placas de xisto e dos báculos; trata-se, porventura, de um fenómeno que bem conhemos na nossa história recente: após os excessos das revoluções, por mais iconoclastas que tenham sido, muitas das antigas crenças e dos velhos santuários renascem ou recuperam vigor.

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Capítulo 14: Bibliografia

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Menires do Alentejo Central

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Capítulo 15: Anexos

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Capítulo 15.1: Mapas

Menires do Alentejo Central

Mapa 1 - Distribuição dos monumentos e sítios, neolíticos e calcolíticos, no Alentejo Central.

Mapa 2 - Representação cartográfica dos menires do Alentejo Central, em função do peso estimado.

313

Manuel Calado

Mapa 3 - Distribuição dos habitats do Neolítico antigo/médio, dos recintos megalíticos e conjuntos de menires.

Mapa 4 - Distribuição dos habitats do Neolítico antigo/médio e dos menires isolados.

314

Menires do Alentejo Central

315

Mapa 5 - Distribuição dos habitats do Neolítico antigo/médio, em função dos elementos de diagnóstico, no Alentejo Central.

Mapa 6 - Distribuição dos habitats do Neolítico/Calcolítico, em função da presença/ausência de sílex, no Alentejo Central.

Manuel Calado

Mapa 7 - Distribuição dos tipos de habitats neolíticos e calcolíticos, no Alentejo Central.

Mapa 8 - Distribuição dos achados avulsos (seixos talhados), no Alentejo Central.

316

Menires do Alentejo Central

Mapa 9 - Distribuição dos achados avulsos (percutores), no Alentejo Central.

Mapa 10 - Distribuição dos achados avulsos (pedra polida), no Alentejo Central.

317

Manuel Calado

Mapa 11 - Distribuição dos achados avulsos (sílex), no Alentejo Central.

Mapa 12 - Distribuição dos monumentos funerários e recintos megalíticos, no Alentejo Central.

318

Menires do Alentejo Central

Mapa 13 - Distribuição dos sítios com arte rupestre, no Alentejo Central.

Mapa 14 - Distribuição dos monumentos naturais inventariados e menires, no Alentejo Central.

319

Manuel Calado

Mapa 15 - Distribuição dos monires, em função dos substratos geológicos, no Alentejo Central.

Mapa 16 - Distribuição dos menires, em função das exposições do terreno, no Alentejo Central.

320

Menires do Alentejo Central

321

Capítulo 15.2: Fotografias

Manuel Calado

322

1

Foto 1 - O povoado Barrocalinho 17 (nº1990) (Reguengos de Monsaraz) , visto do lado Norte.

2

Foto 2 - Pormenor do povoado do Barrocalinho 17.

3

Foto 3 - Pormenor do povoado do Barrocalinho 17.

Menires do Alentejo Central

Foto 4 - Povoado doAlto de S.Bento (nº1698) (Évora).

Foto 5 -Povoado da Valada do Mato (nº1119) (Évora).

323

Manuel Calado

Foto 6 - Povoado do Azinhalinho (nº958) (Évora), visto da Valada do Mato.

Foto 7 - Afloramentos do povoado de Alcamizes (nº1554) (Évora).

324

Menires do Alentejo Central

Foto 8 - Aspecto dos afloramentos no povoado da Casbarra (nº980) (Évora).

Foto 9 - Aspecto dos afloramentos no povoado da Casbarra.

325

Manuel Calado

Foto 10 - Aspectos do afloramento central do povoado do Penedo do Ouro 1 (nº1220) (Évora).

Foto 11 - Aspectos do afloramento central do povoado do Penedo do Ouro 11 (Évora).

326

Menires do Alentejo Central

Foto 12 - Afloramentos do povoado da Abaneja 3 (nº941) (Évora).

Foto 13 - Afloramentos do povoado da Abaneja 3 (Évora).

327

Manuel Calado

Foto 14 - Afloramentos do povoado da Azinheira do Campo 3 (nº966) (Évora).

Foto 15 - Afloramentos do povoado de Monte do Cume (nº1929) (Évora)

328

Menires do Alentejo Central

Foto 16 - Povoado do Monte do Ramal (nº1931) (Évora).

Foto 17 - Povoado da Oliveira 5 (nº1059) (Évora).

329

Manuel Calado

Foto 18 - Afloramentos do povoado de Vale Maria do Meio11 (nº1136) (Évora).

Foto 19 - Afloramentos do povoado de Vale Maria do Meio 11 (Évora).

330

Menires do Alentejo Central

Foto 20 - Afloramentos do povoado de Vale Maria do Meio 11 (nº1136) (Évora).

Foto 21 - Afloramentos do povoado de Vale Maria do Meio 11 (Évora).

331

Manuel Calado

Foto 22 - Área do povoado do Porro (1659) (Évora).

Foto 23 -Pormenor dos afloramentos no povoado do Zambujal do Conde 1 (nº1865) (Évora).

332

Menires do Alentejo Central

Foto 24 - Afloramentos no povoado das Murteiras (nº2204) (Évora).

Foto 25 - Afloramentos no povoado das Murteiras (Évora).

333

Manuel Calado

Foto 26 - Afloramentos no povoado das Murteiras (nº2204) (Évora).

Foto 27 - Afloramentos no povoado das Murteiras (Évora).

334

Menires do Alentejo Central

Foto 28 - Afloramentos do povoado do Paicão 3 (nº1063) (Évora).

Foto 29 - Afloramentos do povoado do Paicão 1 (nº1061) (Évora).

335

Manuel Calado

Foto 30 - Afloramentos do povoado do Paicão 1 (nº1061) (Évora).

Foto 31 - Afloramentos do povoado do Paicão (Évora).

336

Menires do Alentejo Central

Foto 32 - Povoado da Carrascosa (nº1922) (Évora).

Fig. 33 - Povoado da Pedra da Moura (nº375) (Arraiolos).

337

Manuel Calado

Foto 34 - Afloramentos do povoado dos Atalhos (nº1253) (Redondo).

Foto 35 - Afloramentos do povoado da Pedra Alçada 3 (nº1780) (Alandroal).

338

Menires do Alentejo Central

339

Capítulo 15.3: Estampas de materiais

Manuel Calado

Estampa 1 - Valada do Mato: materiais de superfície (cerâmica) (seg. Calado, 1995).

340

Menires do Alentejo Central

Estampa 2 - Valada do Mato: materiais de superfície (cerâmica) (seg. Calado, 1995).

341

Manuel Calado

Estampa 3 - Valada do Mato: materiais de superfície (cerâmica) (seg. Calado, 1995).

342

Menires do Alentejo Central

Estampa 4 - Valada do Mato: materiais de superfície (cerâmica) (seg. Calado, 1995).

343

Manuel Calado

Estampa 5 - Valada do Mato: materiais de superfície (cerâmica) (seg. Calado, 1995).

344

Menires do Alentejo Central

Estampa 6 - Valada do Mato: materiais de superfície (pedra lascada) (seg. Calado, 1995).

345

Manuel Calado

Estampa 7 - Valada do Mato: materiais de superfície (pedra lascada) (seg. Calado, 1995).

346

Menires do Alentejo Central

Estampa 8 - Valada do Mato: materiais de superfície (pedra lascada e polida) (seg. Calado, 1995).

347

Manuel Calado

Estampa 9 - Casbarra 2 (2-5); S. Matias (6 e 7); Oliveirinha (8); Montinho 1 (9); Laranjal da Varge (10); Vale Maria do Meio 4 (11); Jarro (12) e Palheireiros (13,14): materiais de superfície (cerâmica) (seg. Calado, 1995).

348

Menires do Alentejo Central

349

Estampa 10 - Vale Maria do Meio 1 (1); Vale Maria do Meio 4 (2 e 3); Jarro 1 (4); Vale Maria do Meio 12 (5); Jarro 2 (6 e 9); Laranjal da Varge (7 e 8): materiais de superfície (cerâmica e líticos) (seg. Calado, 1995).

Manuel Calado

Estampa 11 - Carrascosa: materiais de superfície da (cerâmica) (seg. Calado, 1995).

350

Menires do Alentejo Central

Estampa 12 - Carrascosa: materiais de superfície (cerâmica) (seg. Calado, 1995).

351

Manuel Calado

Estampa 13 - Carrascosa: materiais de superfície (cerâmica) (seg. Calado, 1995).

352

Menires do Alentejo Central

Estampa 14 - Oliveira 5: materiais de superfície (cerâmica e líticos).

353

Manuel Calado

Estampa 15 - Oliveirinha (1-9); Alto de S. Bento (10-13): materiais de superfície (cerâmica).

354

Menires do Alentejo Central

Estampa 16 - Quinta do Gato 8: materiais de superfície (cerâmica e líticos).

355

Manuel Calado

Estampa 17 - Quinta do Gato 3 (1-2); Freiras (3-10): materiais de superfície (cerâmica e líticos).

356

Menires do Alentejo Central

Estampa 18 - Alto de S. Bento (1-26); Almendres (27-37): materiais de superfície (líticos).

357

Manuel Calado

Estampa 19 - Barrocalinho 17 (1-41); Barrocalinho 21 (42): materiais de superfície (líticos).

358

Menires do Alentejo Central

Estampa 20 - Valada do Mato (1); Penedo do Ouro 11 (2); Serra (3); Vale de Carregais (4); Paicão 1 (5): materiais de superfície. S. Sebastião (6-11); Vale d’El Rei (12-17): materiais de escavação.

359

Manuel Calado

Estampa 21 - Materiais de superfície do povoado do Jarro (cerâmica).

360

Menires do Alentejo Central

Estampa 22 - Vale Maria do Meio 4 (1);Vale Maria do Meio 11 (3, 5); Laranjal da Varge 5 (2) e Laranjal da Varge 2 (4): materiais de superfície (cerâmica).

361

Manuel Calado

Estampa 23 - Nó Poente (1); Barrocalinhjo 17 (2); Pedra da Moura (3); Vale de Anta (4): materiais de superfície (cerâmica).

362

Menires do Alentejo Central

Estampa 24 - Arredores de Vale Maria do Meio: materiais de superfície (cerâmica).

363

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