Manuel Valente oficial entalhador da tribuna da Igreja de S. Pedro de Peniche - Contributo documental inédito

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Descripción

Jornal da Golpilheira

. entrevista . história .

21

Fevereiro de 2017

.história. Miguel Portela Investigador

Manuel Valente oficial entalhador da tribuna da Igreja de S. Pedro de Peniche - Contributo documental inédito A região de Peniche, entre os finais do século XVII e as primeiras décadas do século XVIII, evidenciou-se por um número significativo de empreitadas artísticas que foram levadas a efeito nos muitos edifícios religiosos existentes nessa vila, tendo aí convergido vários artistas, - arquitetos, pedreiros, aparelhadores, entalhadores, pintores, escultores, azulejadores, entre tantos outros. Os recentes estudos que temos vindo a publicar revelam e demonstram a importância desta região no contexto da História da Arte em Portugal (PORTELA, Miguel, Uma oficina de entalhadores em Serra d’El-Rei no século XVIII. Contributo para o estudo da obra de Luís Correia, mestre entalhador da tribuna da Igreja Matriz de Maiorga - parte I, Cadernos de Estudos Leirienses- 8, Editor: Carlos Fernandes, Textiverso, 2016, pp. 287303; Idem, Francisco dos Santos, mestre dos azulejos da Igreja de S. Sebastião de Peniche: da atribuição à contratualização - Contributo documental inédito, Jornal da Golpilheira, Diretor: Luís Miguel Ferraz, Ano XX, Edição 228, junho - 2016, p. 25; Idem, Manuel da Silva mestre dos azulejos da Igreja de Nossa Senhora da Ajuda de Peniche. Contributo documental inédito, O Figueiroense, Edição compartilhada com O Ribeira de Pera, Diretor: Fernando C. Bernardo, II Série, N.º 24, 16 de julho de 2016, pp. 8-9; Idem, Uma oficina de entalhadores em Serra d’El-Rei no século XVIII. Contributo para o estudo da obra de Luís Correia, mestre entalhador da tribuna da Igreja Matriz de Maiorga - parte II, Cadernos de Estudos Leirienses- 9, Editor: Carlos Fernandes, Textiverso, 2016, pp. 273281; Idem, Francisco da Silva, pintor de brutesco na Igreja de Nossa Senhora da Conceição de Peniche: da atribuição à contratualização - Contributo documental inédito, Jornal da Golpilheira, Diretor: Luís Miguel Ferraz, Ano XX, Edição 230, agosto - 2016, p. 21). A capela-mor da Igreja de S. Pedro de Peniche, recentemente intervencionada (2013-2014), é um desses muitos exemplos, a qual revela o esplendor e a riqueza de antanho permitindo-nos contemplar um dos mais significantes e admiráveis retábulos Portugueses. Permaneciam desconhecidos, até agora, os oficiais que trabalharam na tribuna dessa igreja, tendo sido apontado o período de execução dessa obra como situado entre os anos de 1710 e 1711 (FLOR, Susana V; FLOR, Pedro; FERREIRA, Sílvia; ALMADA, Carmen Olazabal, A igreja de São Pedro de Peniche no tempo do Barroco,  Invenire - Revista de Bens Culturais da Igreja, 2015, pp. 24-33). Constatamos também, que a Irmandade do Santíssimo Sacramento, responsável pelas obras desta capela-mor cujo seu compromisso foi confirmado pelo arcebispo de Lisboa, D. Luís de Sousa, em 6 de março de 1695. Neste contexto, alcançámos perceber que as quantias desembolsadas e arroladas nos livros de despesas desta Irmandade, concernentes a uma possível empreitada desta obra,

mais não são do que o pagamento dos trabalhos de execução e aplicação do emolduramento em talha das pinturas do pintor Pedro Peixoto, datadas de 1711, que hoje podem ser admiradas na capela-mor desta igreja. A originalidade, riqueza e particularidades da talha desta tribuna fazem-nos recuar no tempo e situar a obra da capela-mor na última década do século XVII. A documentação por nós compulsada veio revelar um ato notarial, lavrado no cartório notarial de Peniche, em 4 de fevereiro de 1699, onde se reconhece, “Manoel Vallente natural do lugar de Bucellas termo da cidade de Lisboa e ora asistente em esta villa por official de emtalhador da obra da tribuna da igreja de S. Pedro desta dita villa” (Documento 1). Com efeito, este é um dos nomes que nos finais do século XVII executaram a tribuna da Igreja de S. Pedro de Peniche. Esta obra retabular, produzida para esta igreja, comprova o estatuto alcançado por Manuel Valente. Lembremo-nos que este oficial de entalhador viveu em Lisboa, às Portas da Cruz, tendo em 21 de abril de 1703, sido fiador de Manuel Álvares, entalhador, conforme arrolado no contrato da empreitada do retábulo do Beato Estanislau, na Igreja Jesuíta do Colégio de Santarém, onde também presenciaram e assinaram como testemunhas desse ato notarial, António Jorge, oficial de carpinteiro e André de Matos, pintor (FERREIRA, Sílvia, A Talha Barroca de Lisboa (1670-1720). Os Artistas e as Obras. Tese de Doutoramento em História (Especialidade Arte, Património e Restauro) apresentada na Universidade de Lisboa, Faculdade de Letras em 2009, Volume 2, Documento n.º 80, pp. 347-349). Revisitámos assim, mais uma página pouco conhecida da História de Peniche, particularmente de Manuel Valente, oficial de entalhador, cuja vida e obra permanece completamente desconhecida. Esperamos que a revelação deste documento conduza a um aprofundamento da História da Arte na região de Peniche tendo em conta a verdade historiográfica dos factos alicerçada neste documento inédito, revelado pelo autor Miguel Portela.

Documento 1

1699, fevereiro, 4, Peniche - Procuração que fez Manuel Valente, morador em Bucelas, oficial de entalhador da obra da tribuna da Igreja de S. Pedro de Peniche, a seu irmão Vicente Valente de Bucelas. Arquivo Municipal de Peniche, Livro Notarial de Peniche [1699], Caixa 31, Livro 36, fls. 29v-30v. [fl. 29v] Fora Procuraçam bastante que faz Manoel Valente do lugar de Bucellas termo de Lixboa official emtalhador a qual fez a seu irmam Vicente Valente do mesmo lugar de Bucellas. Em nome de Deos Amem. Saibam quantos este publico instromento de

poder e procuraçam bastante feita pella melhor forma quiser possa e mais e tenha mais força e vigor em direito virem que no anno do nassimento de Nosso Senhor Jesus Christo deste presente anno de mil e seissentos e noventa e nove annos aos quatro dias do mes de fevereiro do dito anno nesta villa de Peniche terra e jurisdiçam de Dom Hironimo Casamiro d’Ataide Conde da villa de Atougia e Senhor desta dita villa e nas casas de morada de mim tabaliam ao diante nomeado pareceo presente Manoel Vallente natural do lugar de Bucellas termo da cidade de Lisboa e ora asistente em esta villa por official de emtalhador da obra da tribuna da igreja de S. Pedro desta dita villa pessoa conhecida de mim tabaliam e ahi por elle me foi dito perante as testemunhas ao diante nomeadas e no fim desta vão asignadas que elle por este publico instromento de sua bastante procuraçam fasia constituia e ordenava como de feito loguo fes constituio e ordenou por seu certo e suficiente em tudo bastante procurador em tudo ao bundoso e seo irmam Visente Valente morador em a dita cidade de Lixboa diguo morador em o dito lugar de Bucellas termo da cidade de Lisboa ademistrador da presente procuraçam ao qual disse que dava e outroguava todo o seu livre e com // [fl. 30] e cumprido poder mandado espicial e geral tanto quanto em direito se comcede pera que por elle outroguante como se elle pessoalmente estivesse possa dito seu procurador assim como dito lugar de Bucellas como em a cidade de Lisboa e em todo o seu termo e mais partes deste reino aonde quer que com este poder se achar procurar se queser defender e loguo todo o seu direito e justissa em todas as suas causas movidas e por mover pleitos demandas requerimentos que se tratem e tratarem perante quaisquer juizes menistros tribunais que seja seccollares e ecleziasticos assim em os que for autor como em os que for reo estando em juiso o fora delle e todos os termos e actos judiciais e extrajudiciais eleguendo defendendo mostrando por elle outorgante todo o seu direito e justissa fasendo projectos requerimentos pedimentos embragos desembragos sobre sospeissoins consentir em solturas as penhoras lanços posses pidindo instromentos e cartas testemunhaveis libellos artiguos pitisoins e outros comtrariarem darem e asignar accoins por petisois comtestar testemunhas papeis embargos e tudo o mais genero de prova presentar e jurar n’alma delle outroguante de calunia ou outro qualquer libello ou outro juramento que com direito lhe for dado e as partes adiverssas o fose dar e nellas deixar se bem lhes parecer e que possa por sospeicoins a todos os jolguadores e officiais de justissa que fintarlhe sam sospeitos e por tais os recusar em outros de novo comsentir ou se louvar nos recusados e não lhes tomar o comsentir sem sospeita e que possa comtrariar libellos asignar outros quaisquer papeis que comter elle outroguante em juizo e se ofrecerem e que possa faser todos e que possa fase todos [sic] e quaisquer justificacoins e faser asignar a todo petisois que fiserem

Pormenor da tribuna da Igreja de S. Pedro de Peniche a bem de sua justissa e necessarios lhe faser e que possa despachar as sentenssas ou dadas em seu favor comsentir e faser e executar das comtrarias apellar as suas embraguar e tudo seguir e renumciar emthemorallo [sic] do oficial despacho do supremo asignado o lancço nos bens que os devedores comdenados deçem a penhora como licença da justissa nam havendo lançador e pedirlhe sejão arrematados e tomara delles posse do qual fara seus instromentos e que especialmente lhe dam poder pera que elle dito seu irmam Vicente Valente seu procurador possa arrendar e aforar todas as suas fasendas que no dito lugar de Bucelas tiver e fora delle a quem quiser e lhe parecer pellos campos e pressos [sic] que lhos parecer e podendo cobrar as ditas rendas das quais dera quitacam cobrandoos assim em publico como em raso como pellas partes pedidas forem e dos arrendamentos que fiser tambem podera fazer escrito e asignados escrituras de rendas podera amanlhar e benefeiciar a dita fasenda nam dando della posse de coiza alguma e pessoa alguma senão todo defendendo na forma dita esta procuraçam bastante pera o que de todo sem ser a escritura dos poderes desta procuração nella contheudos declarados dos mais que pera o dito efeito necessario lhe forem e em direito so comcedem que aqui ha porá expressos declaradoss tam compridamente como se de cada mão delles fizera e expressa declarada mençam e que outrossim dava poder no dito seu procurador pera que possa sobreestabelecer os poderes desta procuracam e em hum em muitos [fl. 30v] em hum e muitos procuradores com estes limitados poderes que rovoguava quando quiser ficando este sempre firme e valiozo pera della usar e disse que rezervava pera sim toda a nova citaçam porque esta quer que seja feita em sua propria pessoa pera dar melhor imformaçam derogo pera o quantto lhe for feito em elle dito seu procurador e em todo o que dito lhe elle dito seu procurador e mais sobreestabalecidos e qualquer delles tudo tam inteiramente com toda a livre geral adeministraçam como se elle outroguante fizera e dissera se a presente estivera e outro assim disse que elle dava poder ao dito seu

procurador e mais sobeestabelecidos pera que possam cobrar das suas mãons hover todas e quaisquer dividas que lhe devam de qualquer estado e cendo [sic] com que seja assim em o dito lugar de Bucellas como em qualquer outra parte deste Reino e Senhorios de Portugual assim de fasendas mercadorias assim por escritos escrituras e conhocementos de qualquer callidade e sustancia que seja de qualquer pessoa ou pessoas que lhe devão e adiante tiverem e deverem ou de sentenssas verbos de livros testamentos heranças folhas de inventario cartas mesivas do redito contas correntes e fintadas por todo por qualquer via o resam que seja e lhe venha e que podera elle dito seu procurador e mais sobeestabelesidos a contas tomadas com emtregua a todas as pessoas que lhe devam e o hamde dar as poderem para isso mandar citar perante quem direito for fasendo a isso tanto e perante outrossim pello dito outroguamte for mais dito que tudo o que pello dito seu procurador e mais sobrestabelecidos for feito dito requerido e obriguado obrado asignado e elle outroguante o overa sempre por bem feito firme e valioso em tudo e no comthido nesta procuraçam disse mais que elles os relevam do emcarreguo da satisfaçam e fiadores que o direito em tal caso quer carregua em feé e testemunho de verdade assim o outorgou dallo ele todo o pedio a mim tabaliam lhe fisesse este instromento de sua bastante procuraçam em esta minha nota pera della dar os treslados que este theor são cumprirem que pedio e aseita e eu tabaliam o aseito em nome de quem tocar possa ausente como pessoa publica e estipollante e aseitante que este estipolei e aseitei testemunha que a tudo foram presentes que todos asignaram com o dito outroguante de seus signais que disseram costumavam faser Bertholomeu Soares moço solteiro homem do mar e Eusebio Ribeiro estudante filho de mim tabaliam moradores em esta villa e todos pessoas conhecidas de mim tabaliam e eu Manoel Nunes Ribeiro tabaliam do judicial que o escrevi. (a)E usébio Ribeiro (a) Bertholomeu + Soares (a) Manoel Vallentte

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