Liderança e Estratégia: as Guerras Púnicas (265-146 a.C.)

September 27, 2017 | Autor: Nuno Lemos Pires | Categoría: Military History, Strategy, Historia Militar, Liderança
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Publicado em "Estudos de Homenagem Abel Cabral Couto", coord. Luís Barroso e Luís Escorrega, Lisboa, Instituto de Estudos Superiores Militares: 2014, pp. 293-312

Liderança e Estratégia: As Guerras Púnicas (2656 (2656146 A.C.) Nuno Lemos Pires

Na origem do termo estratégia, somos levados até à antiguidade clássica. Não havendo sempre uma clara distinção entre os níveis políticos e militares da condução da guerra, o líder máximo era o estratego, o que liderava a frente da batalha na “stratos agein”, ou seja, na falange da frente. O strategos era, assim, o general, o comandante das forças, no fundo, o comandante do exército em campanha. Em síntese, e como afirma Mendes Dias (2012, pp. 2576258), a pala6 vra estratégia surge associada à arte de liderar exércitos, à forma e à qualidade do comando do líder supremo da força em campanha. Interessa ainda destacar que o strategos era mais do que um simples comandante da campanha militar, muitas vezes, assumia6se como o responsável máximo pela “prefeitura militar”, juntando a área do comando das forças à administração dos territórios e popu6 lações sobre o seu controlo, o seu “imperium”. Liderança e estratégia não se confundem, antes surgem com significados complementares. A arte de liderar e a forma como se elabora uma estratégia estão indissocialvelmente ligadas. Um grande líder propõe e utiliza uma grande estratégia, e uma grande estratégia apenas tem sucesso quando implementada por um grande líder. Foi de facto, neste alargado período da História, que os conceitos se autonomizaram e ganharam consistência. No período romano, as palavras liderança e estratégia surgiram em inúmeros relatos e obras publica6 das, por vários séculos, em variadíssimos contextos. Por esta razão decidimos utilizar esta época para ilustrar a ligação entre liderança e estratégia. Vamos estudar, como exemplo específico para análise, as denominadas Guerras Púni6 cas, que decorreram entre os séculos III e II a.C. Vamos tentar entender os líde6 res e estrategos que foram, entre muitos outros, Amílcar, Asdrúbal, Aníbal, Hanão, Régulo, Gneu, Cipião, Marcelo, Fábio, Catão ou Masinissa. Em 265 a.C. Roma tinha alargado o seu território e já abarcava, pratica6 mente, toda a península itálica a sul do vale do Pó. Embora fosse já bem mais do _____ 295

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que uma simples “cidade estado”, ainda estava longe do poder imperial que lhe será reconhecido no início do primeiro milénio e, paulatinamente, afastava6se do “pluralismo” do sistema grego para a “unidade” que caracterizaria a Roma do futuro (Couto, 1998, p. 24). Cartago constituía6se como um poder marítimo assumido, com uma ampla atividade comercial desenvolvida nos dois lados do mediterrâneo e com um controlo de territórios bem próximos de Roma, em especial, a Sicília e a Sardenha. Roma e Cartago cresciam, tornavam6se mais prósperas, mais influentes e, consequentemente, mais ambiciosas. Cada vez mais frequentemente, em vez de conseguirem acomodar os interesses recípro6 cos, porque estavam em busca dos mesmos objetivos (o primeiro tratado de amizade entre Roma e Cartago data de 509 a.C. – Bagnal, 2002, p. 7), começam a equacionar a possibilidade, crescente, de terem de confrontar6se. Como “suma sedes non capit duo” (o poder supremo não pode ser dividido), o confronto tornou6se mesmo inevitável. Com os primeiros combates, entre Roma e Carta6 go, estava6se ainda longe de poder antever que esta seria uma guerra de carac6 terísticas globais, que envolveria a esmagadora maioria das nações dos dois lados do mediterrâneo e que acabaria, apenas, com a completa aniquilação de uma das partes, mais de um século após o início das hostilidades. As guerras púnicas são habitualmente dividas em três e duram desde 265 até 146 a.C. Vamos falar das três e tentar relacionar os conceitos de estratégia e de liderança escolhendo alguns dos momentos, nem sempre os mais narrados ou descritos destas guerras, para ilustrar e refletir. Vamos falar de exércitos internacionais, com soldados e mercenários, formados por muitas nações e dirigidos por muitas línguas. Vamos descrever povos que combateram dos dois lados da contenda e mudaram de fação mais do que duas ou três vezes, que firmaram acordos não com poderes específicos, Roma e Cartago, mas quase sempre com os líderes do momento, aqueles que lhes inspiravam a possibilida6 de de vitória. As Guerras Púnicas foram globais, marcadas por momentos de enorme crueldade, por vezes “levando ao extremo” a violência, a destruição e, mesmo, o massacre. As ações dos estrategos, tanto foram comemorados em triunfo, como punidas exemplarmente, incluindo por exemplo, o de serem cruxificados por incompetência. Como afirma Adrian Goldsworthy, no seu livro de referência sobre as Guerras Púnicas (2012)1, a eficácia das campanhas e de muitas das batalhas esteve intimamente conectada à “capacidade de liderança dos coman6 dantes”. Opuseram6se líderes mas também se confrontaram diferentes concei6 tos de estruturação da força, se de um dos lados estavam os romanos que 1 O livro de Adrian Goldsworthy sobre as Guerras Púnicas (ver bibliogafia) constitui a grande referência deste artigo e a base principal da informação recolhida.

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apostavam em líderes que instruíam e preparavam cuidadosamente os seus homens antes de se arriscarem em combate, do outro lado a forma era muito distinta, conhecidas que eram as manobras audazes dos cartagineses, cientes dos diferentes níveis de preparação que as suas heterogéneas forças represen6 tavam. A lideranças distintas corresponderam estratégias diferentes, mas tam6 bém a organizações e estruturas muito diversas, escolheram6se estratégias e formas de agir possíveis e adaptadas ao momento, ao local e, fundamentalmen6 te, à conjuntural finalidade política. Na perspetiva de Fortunato Barreiros, a estratégia significava, nas suas raízes etimológicas, “o comando do Exército, a arte de dirigir as tropas”, mas como afirma Barrento, quando a decisão se encontra ao mais alto nível, ou seja, quando o nível político se confunde com o estratégico, tem de ser acompanhada de uma “direção estratégica esclarecida” (2010, pp. 101 e 144). Veremos que os grandes líderes, romanos e cartagineses, estão neste patamar político e militar. Mais autónomo para os cartagineses, mais subordinado para os romanos. Lopes Alves acrescenta que a Estratégia diz respeito tanto aos comandantes militares da mais alta hierarquia como também aos comandantes militares de qualquer escalão, ou às entidades políticas mais elevadas como de uma elite de “homens conscientes das necessidades e imperativos da política do Estado” e, por fim, simultaneamente, “das altas entidades políticas e militares” (1998, p. 98). De facto, como veremos, foi muito diferente a atitude de Cartago e a de Roma face aos seus contingentes de cidadãos e aliados. Por exemplo, as nações reagiam de forma diferente de acordo com a proximidade do inimigo às mura6 lhas das respetivas capitais. O momento e a eminência da ameaça ajudam a explicar a natureza da decisão política e a dimensão do envolvimento de cada uma das nações, ou seja, da finalidade da política e dos respetivos objetivos políticos (Couto, 1998, p. 64), de acordo com o momento, e com os interesses a defender. Em estudos mais recentes, tentou6se entender o “leader6centric warfare” como forma de explicar as grandes opções tomadas e as estratégias escolhidas, da capacidade de adaptação a situações muito diversas e dos atributos essen6 ciais que os líderes tinham de possuir: iniciativa, flexibilidade, criatividade, capacidade de julgar, empatia, carisma, sociabilidade, dedicação, integridade e organização (Moyar, 2009, pp. 169). Em 2009 ou em 216 a.C., os atributos são intemporais, talvez variem apenas a importância relativa entre cada um dos elencados, mas veremos que todos, de uma forma ou de outra, estão bem pre6 sentes na maioria dos líderes analisados. Antes de entrarmos no detalhe de alguns dos confrontos das Guerras Púnicas, importa destacar que houve, e é possível identificar, uma relação direta _____ 297

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entre a atitude dos líderes e as estratégias implementadas ou escolhidas. Por exemplo, a um ímpeto inicial romano de procurar o confronto o mais rapida6 mente possível seguiu6se uma estratégia de natureza indireta que ficou com o nome do líder que a determinou: Fábio – estratégia fabiana. Praticamente encon6 tram6se todos os “ingredientes” da estratégia e da liderança nesta longuíssima guerra que ultrapassou um século de duração e, como em qualquer objeto de estudo do ser humano, se não entendermos as origens dos fenómenos nunca os conseguiremos explicar. Não se irá contudo descrever as Guerras Púnicas nem tentar explicar o significado e a forma que tomaram as principais campanhas e batalhas, para esse fim sugerimos a bibliografia referida no final. Iremos apenas selecionar alguns episódios que nos ajudem a relacionar, e a ilustrar, a estraté6 gia com a liderança e vice6versa.

Da Primeira Guerra Púnica (264 A 241 A.C.) Interessa relevar o lado humano por detrás da política, da estratégia e das próprias ações táticas. Nos assédios (ou sítios ou cercos) às populações, em espe6 cial na Sicília, houve um equilíbrio entre as que foram tomadas através de meios convencionais, ou seja, por intermédio de sítios prolongados e criação de brechas e assalto, como também foi comum encontrar situações em que se conseguiu entrar contando com os atos de traição de algun(s) do(s) sitiados. Fazer um assal6 to a uma cidade era uma operação que consumia muitos recursos, como tal, táti6 cas alternativas eram sempre equacionadas. O lado humano, os interesses e as emoções, estão sempre presentes e um líder perspicaz sabe lidar, de igual forma, com as dimensões estratégicas, as técnicas emocionais, dentro e fora das suas forças, de e para os cidadãos e, finalmente, para com o governo que serve. No início da Primeira Guerra Púnica, o domínio do mar era inquestioná6 vel por parte dos cartagineses mas o esforço romano nesta área diz6nos muito da determinação de um povo e da correta escolha por uma sábia estratégica genética e estrutural. Se não há marinha constrói6se uma, decidiram os roma6 nos. Se não há uma organização e a aptidão para lutar no mar estrutura6se uma marinha de guerra, inovam6se procedimentos, procuram6se vantagens alterna6 tivas para fazer face a uma marinha cartaginesa mais experimentada e treinada. Para surpresa de Cartago, de 256 a 255 a.C., os romanos projetaram força e atacaram os territórios africanos, exaurindo os recursos disponíveis que deve6 riam estar a sustentar os cartagineses enviados para a Sicília. Através de expe6 dições de pilhagem, capturando gado, incendiando quintas dos ricos latifundiários cartagineses e capturando ou aceitando a defeção de mais de _____ 298

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20.000 escravos, Roma conseguiu desequilibrar a vantagem marítima de Carta6 go. Os líderes de Roma decidiram combinar estratégia militar com estratégia económica e estratégia psicológica. Usaram a surpresa e fizeram de uma apa6 rente vulnerabilidade (o menor valor naval) numa vantagem operacional, ata6 cando por terra, junto à capital da potência inimiga. Em suma, usaram de todas as vertentes da estratégia estabelecidas nas intemporais leis permanentes: o movimento, a força, a ofensiva, a proteção, a surpresa, o atrito ou o desgaste e as forças morais (Alves, 1998, pp. 58659 e Couto, 1998, pp. 1686169). Esta audaciosa estratégia romana tem um líder: Marco Atílio Régulo. Por detrás da ação de um grande líder surgem, geralmente, mitos e exageros e assim, é comum ler relatos históricos que se confundem com elegias. O caso de Régulo é exemplo do que escrevemos e que nos obriga a cuidados especiais na interpretação dos relatos e na leitura das memórias da época, mas foi efetiva6 mente o homem, Marco Atílio Régulo, o líder, o estratego, que criou uma forma diferente e eficaz para alterar resultados. Que demonstrou uma “visão estraté6 gica, como prerrogativa dos líderes de exceção” (Dias, 2012, p. 270). Para fazer face a esta ameaça Cartago mandou regressar da Sicília, um dos seus líderes mais capazes, Amílcar Barca (Barca = raio ou fulgor da espada). Mas Régulo não se deixou surpreender, o seu objetivo não era a conquista de território mas sim a derrota de Cartago e, como veremos, este objetivo podia ser conseguido em muitos e variados tabuleiros. Entrou também aqui a estratégia diplomática e os romanos foram rápidos em propor condições que surpreendentemente, muitos dos líderes de Cartago estavam dispostos a aceitar. As condições roma6 nas propostas eram duríssimas: Cartago tinha de abandonar a Sicília e a Sarde6 nha, libertar todos os prisioneiros romanos, pagar pelos cartagineses cativos, pagar uma indeminização e um tributo anual, ficar dependente de Roma sem6 pre que decidissem fazer guerra a outros povos, perder toda a sua marinha (apenas poderiam ficar com um navio e tinham de entregar 50 aos romanos). Esta viria a ser uma constante nas três Guerras Púnicas, os romanos pratica6 mente não negociavam, impunham condições duras (muito duras) e humilhan6 tes. Como constante também será a atitude de Cartago, pelo menos por parte significativa dos seus líderes políticos, em mostrar disponibilidade para aceitar estas condições. Pelo contrário, em Roma, sempre houve uma continuada indisponibilidade em aceitar condições de Cartago, mesmo quando estes estive6 ram em clara vantagem estratégica, como veremos no decorrer da Segunda Guerra Púnica. Para uma correta interpretação dos acontecimentos, teremos de saber determinar também as diferenças entre quem decide, aos vários níveis político e estratégico, e identificar claramente “os estilos diferentes de direção, as

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personalidades dos dirigentes” (Barrento, 2010, p. 147), bem como da determina6 ção, efetiva ou não em momentos decisivos, dos povos que estes governavam. Roma não conseguiu, neste caso, impor as suas humilhantes condições e Cartago, com um general mercenário no comando das suas forças, Xantipo, obrigou Régulo a capitular e a abandonar África. Régulo, um líder de facto invul6 gar, ainda aceitou voltar a Cartago depois de comunicar em Roma a derrota das suas forças, mesmo sabendo o terrível destino que o esperava: foi torturado e morto por um elefante. Roma perdia esta fase da guerra mas, e a exemplo do seu líder militar, provava que estava longe de se querer submeter. O combate princi6 pal iria voltar6se, de novo, para os mares e o território da Sicília. Cartago contava nesta região com uma enorme marinha, elefantes de guerra e alguns dos habitan6 tes como combatentes diretos ou em apoio. Roma, por seu lado, tinha bastantes aliados na Sicília e, acima de tudo, uma forte determinação em vencer. Roma tinha infligido um duro golpe em África mas tinha sido obrigada a retirar, no entanto, na Sicília, os combates estavam a dar bons resultados para o lado romano. Em 247 a.C., os cartagineses estavam confinados a um pequeno enclave na ilha. Consciente da situação em que se encontravam, Cartago recorre de novo ao seu grande comandante militar, o general Amílcar Barca. Na Sicília os objetivos determinados pelo governo de Cartago não tinham a mesma importân6 cia que os exigidos a Amílcar em África. Junto a Cartago combatia6se por objeti6 vos vitais (segundo a hierarquia dos interesses em: vitais, importantes e secundários – Cabral Couto – 1998, p. 65), na Sicília eram apenas objetivos impor6 tantes e, como tal, o governo de Cartago não proporcionou ao seu general os recursos necessários e decidiu apostar, fundamentalmente, “na sorte” dos comba6 tes no mar. A guerra naval da primeira guerra púnica foi um dos maiores conflitos navais da antiguidade. Cartago partiu em nítida vantagem mas Roma empe6 nhou6se decisivamente em alterar o equilíbrio, construindo uma frota de 100 quinquerremes e 20 trirremes e, após cada uma das gigantescas batalhas navais, mesmo para os padrões dos nossos dias, continuou a construir, a treinar e a aprontar substanciais meios humanos e materiais. Como afirma Golds6 worthy, além das centenas de navios que se concentraram em combates, como o de Ecónomo ou o de Milas, os romanos apresentaram ainda uma vantagem técnica que fez a diferença e desequilibrou a aparente superioridade cartaginesa – o corvus (corvo). O corvo era uma ponte de abordagem com cerca de 10,9 metros de comprimento e 1,2 de lado, fixo ao convés do navio que, através de roldanas, era baixado e se prendia aos navios inimigos (imobilizando6os) permitindo uma rápida abordagem a bordo. Ou seja, a par de uma capacidade genética de produ6 zir navios (em 254 a.C., em apenas três meses, foram construídos e lançados à _____ 300

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água 220 navios), de treinar tripulações e soldados para as abordagens, foi ainda criada uma vantagem técnica, através do corvo, que sustentada numa tática de combate naval inovadora (através das abordagens com fixação), fizeram pender a vantagem para o lado romano, embora, sem conseguir resultados decisivos imediatos. Exaustos do esforço de guerra, Roma pediu a ajuda direta aos seus cidadãos para financiarem, em 243 a.C., mais navios para afrontarem os carta6 gineses na Sicília. “O desgaste é uma arma de dois gumes que, mesmo quando manejada com habilidade, acarreta uma tensão em quem a emprega” (Hart, 1963, p. 54) mas Roma estava determinada em prosseguir. Era uma espécie de estratégia total demonstrando que havia da parte dos cidadãos um genuíno patriotismo e uma elite romana identificada intimamente com o Estado. Roma empenhava6se decisivamente e Cartago pouco ou nada fizera evoluir na sua, até aí superior, marinha de guerra. Em 241 a.C., Cartago apostou no que considerava ser um dos seus gran6 des Almirantes, Hanão. Travou6se a última das grandes batalhas navais desta guerra – a Batalha das Ilhas Égates e os romanos tiveram uma vitória significa6 tiva. Os restantes cartagineses, agora isolados na Sicília, tiveram de abandonar a ilha e voltar para Cartago. Hanão (ou Hano) foi executado, de forma bastante cruel, em Cartago devido ao insucesso da campanha (Leckie, 1998, pp. 26628). Fora uma guerra extenuante, tanto em terra mas principalmente no mar, onde se calcula que os romanos tenham perdido cerca de 700 navios de guerra e os cartagineses quase 500. Finalmente tinham sido criadas as condições para Roma impor as suas pesadas condições a Cartago que, com algumas variantes, recuperava e agravava as já referidas propostas estipuladas por Régulo. “Quan6 to maior o poder, mais ambiciosos podem ser os objetivos visados” (Couto, 1998, p. 75) e Roma mostrava grande e crescente ambição. Cartago pagou pesadas indeminizações, ficou sem os territórios mediterrânicos e não tinha dinheiro para pagar aos seus enormes contingentes de mercenários. Capitulou e pagou a Roma mas viu6se imediatamente numa nova guerra contra os merce6 nários que lhe exigiam os pagamentos em falta. A Primeira Guerra Púnica tinha terminado com uma clara vitória de Roma e uma pesadíssima humilhação de Cartago, mas ambos estavam completamente extenuados e exauridos. Precisa6 vam de tempo para recuperar e foi o que ocorreu nas décadas seguintes.

Da segunda guerra púnica (218 a 201 a.c.) a.c.) Esta tem sido a mais comentada, analisada e descrita das três Guerras Púnicas e que, de uma forma geral, mais leitores conhecem. Entre a primeira e a _____ 301

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segunda guerra passaram 23 anos, de 241 a 218, daí serem comuns as comparações com as grandes guerras do século XX, não só pelo tempo entre as guerras mas também pelas condições impostas à Alemanha no final da I Guerra Mundial. Foi, no século II a.C., um período consideravelmente longo numa época em que os Estados se guerreavam com frequência. A segunda guerra iniciou6se na Península Ibérica, para onde os cartagi6 neses tinham enviado uma forte comunidade a fim de desenvolver esta região e, assim, pagarem as indeminizações impostas pelos romanos no final da primeira guerra. Vai ser o filho de Amílcar Barca, Aníbal, que comandará (entenda6se comando como definido por Belchior Vieira: “a autoridade investida, a chefia, a influência a exercer e a administração dos recursos a aplicar”, 1998, p. 5) as forças contra os aliados dos romanos na cidade de Sagunto (que se mantém, na atualidade, com o mesmo nome junto à cidade de Valência em Espanha) dando início à guerra, o “causis bellum” da Segunda Guerra Púnica. A declaração de guerra foi então inevitável entre as duas margens do Mediterrâneo e em breve Aníbal avançou contra os romanos. O que Roma não esperava era que ele avançasse sobre a sua capital. O princípio da campanha em Sagunto foi apenas o início de uma série de surpresas estratégicas e de demonstração de uma enorme iniciativa por parte de um líder invulgar, Aníbal Barca. A razão da retomada da guerra por parte dos cartagineses está bem explicada pelo conhecido historiador romano Políbio: em primeiro lugar porque existia um forte sentimento de ressentimento entre os cartagineses pela humi6 lhação imposta por Roma em 241 a.C., embora os governantes tenham aceitado submeter6se, a maioria da população tinha6se sentido humilhada; em segundo lugar porque, mesmo depois de terem assinado a capitulação, os romanos não hesitaram em atacar os territórios de Cartago e conquistaram a Sardenha, em 238 a.C. (quando os cartagineses se encontravam em guerra com os seus anti6 gos mercenários por falta de pagamento, ou seja, impossibilitados de respon6 der) e, por último, constituindo6se a terceira grande razão, porque Cartago sabia crescer e era muito forte economicamente, registando paulatinamente, a cada ano, um enorme crescimento, em especial na Península Ibérica, que lhes deu confiança para sentirem o seu poder de volta. O ódio, ou como diria de forma muito diferente dois milénios depois Clausevitz, “a paixão”, estava bem presente no juramento que Aníbal fez a seu pai Amílcar de “nunca ser amigo dos romanos”. A “paixão” é ainda considerada nos dias de hoje, como afirma o antigo presidente da GE, Jack Welch, como a característica que distingue os melhores líderes dos, apenas, bons líderes (2012, p. 149). Aníbal criou uma força conseguida pela sua capacidade de negociação mas, acima de tudo, através da persuasão, demonstrando a inúmeros povos e _____ 302

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regiões, que ele, note6se bem esta particularidade, ele – Aníbal, seria um comandante que lhes daria vitórias e recompensas. “Maquiavel propunha a intimidade da política com a estratégia colocando o príncipe como dirigente da guerra” (Barrento, 2010, p. 153) e assim, Aníbal impôs e coordenou as condi6 ções que escolhia para fazer a sua campanha. Iberos, Lusitanos e Celtiberos entregaram os seus melhores soldados a Aníbal porque nele confiavam. Não os entregaram propriamente a Cartago. Com soldados oriundos de muitos povos no seu exército, Aníbal utilizou bem o sistema de informações e, antes de partir em direção à península Itálica, enviou homens para reconhecer a sua possível rota além Pirenéus. Em 218 a.C. Aníbal tinha 28 anos, fora educado por e dentro do sistema grego, como afirma Políbio, como “um general helenístico” que planeava todas as suas operações ao detalhe, conhecedor do tempo, da engenharia e das ciên6 cias naturais, das técnicas de guerra. Era cauteloso mas audaz e com grande e reconhecido carisma entre os seus homens, partilhando as provações físicas, dormindo ao relento apenas com uma capa militar por cima e vestindo6se como um simples soldado (apenas se distinguia dos restantes soldados pela imponên6 cia das suas “soberbas” montadas). Era considerado um homem de coragem, que gostava de liderar na frente da batalha e coerente nas decisões que tomava e assumia. Aníbal partiu para Roma e na Península Ibérica deixou Hanão com 1.000 cavaleiros e 10.000 infantes para controlar a região. Embora tenha reunido um grande exército, agora que tinha iniciado a sua marcha, Aníbal sabia que não podia transportar e sustentar grandes efetivos, pelo que libertou 10.000 dos hispânicos para voltarem a sua casa (ou parte desertaram segundo Bagnall, 2002, p. 48) e atravessou os Pirenéus com 9.000 cavaleiros e 50.000 infantes (ou seja bastante abaixo dos prováveis 12.000 cavaleiros e 90.000 infantes que con6 tou ainda na Península Ibérica; Heally, 1994, p. 12). Quando Aníbal começou a transposição do rio Ródano (na atual França que desagua junto a Arle) os romanos tiveram de mudar a sua resposta. A um plano inicial que previa o envio de um exército para África e outro para a His6 pânia, os comandantes romanos tiveram de decidir outra manobra. Públio Cor6 nélio Cipião, que comandava a expedição à Península Ibérica, decidiu enviar o grosso do seu exército nessa direção sob o comando do seu irmão Gneu mas ele decidiu voltar com as restantes forças para o norte de Itália. Os líderes romanos, embora fortemente coordenados desde Roma, tinham a autonomia suficiente para executarem a sua estratégia e o seu próprio tipo de liderança escolhido. Liderança, para os romanos, corresponde à definição atual de Bel6 chior Vieira: “um processo de influenciar, para além do que seria possível através _____ 303

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do uso exclusivo da autoridade investida, o comportamento humano com vista ao cumprimento das finalidades, metas e objetivos concebidos e prescritos pelo líder organizacional designado”; 1998, p. 7). Aníbal ia surpreendendo mas, mesmo sem a oposição direta dos seus adversários, tinha de ultrapassar enormes dificuldades causadas por dois fato6 res muito distintos: a pouca confiança que lhe inspiravam os ocasionais aliados e as temíveis montanhas dos Alpes. Só depois de 9 penosos dias conseguiu atravessar esta cordilheira e foi preciso uma forte ação de liderança, quase sempre atuando pelo exemplo (Vieira, 1998, p. 24), para convencer muitos dos seus soldados a não o abandonar, incluindo entusiásticas arengas apontando a planície lombarda garantindo6lhes saque e glória (Leckie, 1998, p. 144). Chegou à base dos Alpes, depois da travessia, com 6.000 cavaleiros e 20.000 infantes (dos quais 12.000 eram líbios e 8.000 hispânicos), ou seja, uma pequena parte do que originalmente tinha levado para a Gália. A preocupação passou então a ser a de recrutar novos aliados e incluir contingentes com valor combativo. Para convencer os povos locais usou a arma do terror, massacrando resistentes e, simultaneamente, usando habilmente a capacidade atrair, seduzir, através de grandes ofertas de recompensas. Aníbal passou os Alpes e começou uma sucessão de vitórias mas já não era o mesmo líder vitorioso da Hispânia e da Gália. Nos Alpes perdera o único filho e, na primeira Batalha contra os romanos, a sua mulher tinha sido barba6 ramente assassinada enquanto esperava no acampamento cartaginês. Ortega y Gasset defende que, mesmo um grande líder, não deixa de ser o “homem e a sua circunstância” e a circunstância da solidão tinha6se instalado num coração, que desde novo crescia em raiva contra Roma, agora embrutecido pela violên6 cia da morte da sua amada (Leckie, 1998, pp. 1646168). As decisões, a estratégia, a visão seriam, inevitavelmente, marcadas por este drama. Aníbal escolhe os momentos, os locais e o modo de cada batalha. Tem a iniciativa e a e proficiência de um exército bem adestrado e muito bem dirigido. Em Trébia o exército cartaginês combate como um corpo único e coeso, con6 centrado sobre os flancos romanos. Em Trasismeno, a 21 de junho de 217 a.C., surpreende ainda mais e faz uma manobra inovadora num local pouco prová6 vel. “As atitudes estratégicas são as formas gerais de estar, agir e reagir a um problema estratégico (…) podem ser de iniciativa, de expetativa, ou de atenção estratégica” (Barrento, 2010, p. 162). Aníbal não parava de surpreender e demonstrava saber escolher a estratégia correta face aos múltiplos fatores que tinha de enfrentar. No caminho para a batalha espalhou terror (“um massacre sem resistên6 cia não pode ser considerado como batalha”, Hart, 1963, p. 59), ganhou respeito _____ 304

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e força e, no local, liderando uma força heterogénea, formada por inúmeros povos e nacionalidades, conseguiu esconder todos os seus soldados em posi6 ções nunca descobertas pelos romanos. As perdas romanas foram gigantescas. “Pugna magna victi summus” gritaram os principais líderes de Roma, tinham sido derrotados numa grande batalha, o pânico apoderava6se por parte de mui6 tos romanos ao verem os inúmeros milhares de mortos e feridos. Mas Roma não se rende! Tempos excecionais requeriam medidas únicas e Roma nomeou um dita6 dor (desde 249 a.C. que não necessitava de o fazer) para coordenar a defesa contra Aníbal. Aníbal deixou que os seus homens pilhassem vilas e aldeias de forma brutal e marcante, e quando chegou à costa mandou descansar os seus homens. Só nesse momento, quase 2 anos após o início das hostilidades, decidiu Aníbal enviar uma mensagem a Cartago a avisar dos seus sucessos. Mas ainda não lhes relatou a grande vitória que obteria em Canas em 02 de agosto de 216 (descrição da Batalha de Canas, “Cannae”, em Heally,1994). Esta tremenda bata6 lha, referência incontornável dos livros de história militar, alvo de inúmeras comparações e estudos, parecia ser o golpe fatal sobre Roma. Uma derrota (e um massacre) desta magnitude, indicava que os romanos tinham sido levados a “um estado psicológico de capitulação pela deterioração das suas forças morais” (Couto, 1998, p. 85) mas, contra todas as evidências e expetativas cria6 das, mais uma vez, Roma não se deixou conquistar. Entre os milhares de romanos derrotados está Públio Cipião, então com 19 anos, que conseguiu juntar um grande número de romanos, que tinham escapado ao massacre, impedindo que fugissem. Seria este o grande líder que Aníbal iria defrontar muitos anos mais tarde. O destino tinha6os posto no mes6 mo campo de batalha pela segunda vez (a primeira pensa6se que terá sido quando Cipião socorreu o seu pai gravemente ferido em Ticino; Leckie, 1999, pp. 1896192). Aníbal, depois da retumbante vitória em Canas, decidiu não atacar Roma. As explicações sobre esta decisão ainda hoje dividem historiadores e analistas mas, o que se sabe, é que Roma ficava a 400 km de Canas e, um assé6 dio prolongado a uma enorme cidade, seria uma tarefa altamente arriscada e que exigiria muitos recursos, em ambiente bastante hostil para com a presença cartaginesa. Sabia6se ainda que Aníbal queria tentar que os povos do sul de Itália passassem para o seu lado, por forma a reforçar o seu potencial, antes de um possível ataque a Roma. Porque haveria então Aníbal de arriscar tudo em Roma se nos últimos três anos tinha conseguido rebelar os povos do norte con6 tra os romanos, tinha vencido três grandes batalhas que causaram mais de 100.000 baixas (cerca de 10% da população apta para o serviço militar) e um terço dos senadores mortos em combate. Tudo indicaria que Roma iria, mais _____ 305

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tarde ou mais cedo, ceder e capitular, mas os factos começariam a demonstrar que esta perceção estava errada. Roma não iria ceder. Aníbal percebeu, talvez já demasiado tarde, esta determinação romana, quando o emissário que enviara a Roma, para negociar condições, tinha visto a sua entrada recusada e que os romanos se recusavam a pagar os regastes dos soldados que tinham ficado em poder dos cartagineses. Ainda mais grave, proibiam os seus cidadãos de o fazer, ou seja, das famílias poderem, com o seu dinheiro, pagarem o resgate dos seus familiares. Roma preferia deixar morrer os soldados em cativeiro cartagi6 nês a ceder o que quer que fosse a Aníbal. Tal como ocorrera durante grande parte da Primeira Guerra Púnica, também agora era tempo para o papel desempenhado pelas cidades fortificadas e praças6fortes. As legiões romanas, ao invés de concentradas como em 216 a.C., passaram a estar repartidas e a operarem em vários teatros de operações e, até 211 a.C., registaram6se avanço e recuos sem grandes vantagens significa6 tivas para nenhum dos lados. A estratégia romana tinha sofrido uma profunda alteração com a liderança de Fábio que, em vez do confronto direto apostava na estratégia indireta: “a estratégia de Fábio consistia não numa fuga à batalha para ganhar tempo, mas numa ação premeditada para obter efeitos morais sobre o inimigo e, mais particularmente, sobre os seus aliados potenciais. Era, assim, primordialmente uma política de guerra ou uma grande estratégia” (Hart, 1963, p. 53). No ano de 211 a.C., Aníbal, para afastar os romanos dos seus aliados em Cápua, decidiu fazer (o que recusara fazer após Canas) e acampou junto às muralhas de Roma. Mas Roma estava bem defendida, devidamente reforçada com tropas adicionais e, assim, sem alimentos em quantidade sufi6 ciente, Aníbal sabendo da aproximação de mais reforços, decidiu levantar o acampamento e nunca mais voltaria à cidade. Durante este período, Aníbal apenas recebeu reforços cartagineses em 214 a.C. quando Bolmícar conseguiu fazer desembarcar tropas, elefantes e suprimentos em Lócrida, enquanto os romanos se reforçavam, continuamente, recorrendo a tudo a que podiam deitar mão, incluindo o recurso a escravos e criminosos. Goldsworthy diz6nos que Roma atingiu um auge na mobilização dos recursos, nos anos 2126211 a.C., com 23 legiões representando aproxima6 damente 100.000 infantes, 7.500 cavaleiros e, provavelmente, outro tanto de soldados aliados. Roma, de acordo com a estratégia escolhida, atuava em todos os teatros de operações simultaneamente, tentando enfraquecer e isolando Aníbal na Península Itálica. Na Sicília, entre 215 e 210 a.C., Roma utilizava duas legiões e uma poderosa esquadra naval nunca permitindo a Cartago uma linha segura entre África e as suas bases em Itália. Roma afirmava6se como uma nação _____ 306

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determinada e coesa, ou seja, íntegra, afirmando valores intemporais que, atualmente, as grandes empresas tentam valorizar: “nada é mais importante que a integridade de uma grande empresa” (Welch, 2012, p. 276). Roma credibiliza6 va6se perante aliados e adversários pela sua constância, determinação, integri6 dade e, assim, tanto os adversários como os aliados, verificavam melhor o valor dos compromissos de longo prazo que podiam fazer com Cartago ou com Roma. Siracusa foi uma das cidades que tentou manter6se independente do poder romano e, através de uma forte defesa das suas muralhas, reforçadas pelas geniais invenções de Arquimedes, ainda resistiu por muito tempo. Mas, em 211 a.C., Siracusa capitulou e com ela muitas outras grandes cidades da Sicília juntaram6se aos romanos. Aníbal ficava mais isolado. Na Hispânia os romanos atacavam e conseguiam causar cada vez maio6 res dificuldades aos cartagineses levando, inclusivamente, a que alguns dos povos locais mudassem a sua lealdade. Mas foi apenas a partir de 209, com a entrada em cena de Cipião o africano, que Roma começou a contabilizar suces6 sos. Os cartagineses viviam cada vez mais cercados nos seus territórios da His6 pânia (Asdrúbal Barca combatia os Carpetanos, Magão Barca combatia nas colunas de Hércules 6 a atual Gibraltar 6 e Asdrúbal Giscão combatia os Lusita6 nos). Cipião, embora muito novo, demonstrou então porque era um líder invul6 gar. Prometeu recompensas aos melhores soldados, dividiu a sua força em grupos pequenos para melhorar a flexibilidade e marchou a velocidades muito superiores ao que era normal. Escolheu um objetivo que tanto os restantes líde6 res romanos como os seus principais adversários consideravam impossível nas circunstâncias do momento – atacar a capital cartaginesa na Hispânia, Nova Cartago. Numa combinação entre forças terrestres e navais atacou a cidade, assumiu, diretamente, a frente da batalha no local mais exposto das muralhas (protegido dos projéteis por 3 soldados com grandes escudos) e demonstrou assim, não apenas a sua bravura como, também, a vontade de controlar direta6 mente os principais momentos do combate. Cipião venceu, conquistou Nova Cartago e, imediatamente após a vitória, distinguiu publicamente todos os romanos e aliados pelo seu sucesso. Promete6 ra e cumprira, condições essenciais de uma liderança esclarecida. Capturou e escravizou os soldados de Cartago mas libertou os restantes cidadãos, tratando os mais importantes reféns, com cortesia e respeito. Cipião conseguiu assim novos aliados na Hispânia, a sua diplomacia, a par da audácia, determinação e coerente estratégia, garantiu6lhe que, no ano seguinte, pudesse contar com melhores e mais fortes aliados (incluindo Indíbilis dos Ilergetes que, até aí, tinham sido aliados firmemente leais dos cartagineses).

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Na batalha de Bécula, em 208 a.C. (provavelmente na área da atual Bai6 lén), Cipião afrontou o principal líder cartaginês, Asdrúbal Barca, e numa manobra que muitos comparam à de Aníbal em Canas causou cerca de 8.000 mortos aos cartagineses. Asdrúbal decidiu retirarar6se antes da batalha estar terminada (o objetivo de Asdrúbal deveria ser o reforço de Aníbal em Itália) e conservou assim grande parte do seu potencial de combate. Mais tarde, em 206 a.C. em Ilipa (perto da atual Sevilha), Cipião derrotou outro Asdrúbal, filho de Giscão, conjuntamente com as tropas de Magão (outro dos irmãos de Aníbal) e do seu principal aliado, Masinissa. Foi a batalha final contra os cartagineses na “Hispânia”. A vitória romana obrigou à retirada das últimas forças de Asdrúbal Giscão. Este retumbante sucesso forneceu novos aliados a Roma, ou melhor, a Cipião, porque na sua maioria os líderes aliavam6 se com líderes que respeitavam, muito mais, do que com os povos de onde pro6 vinham. Asdrúbal e Masinissa fugiram para África enquanto Magão se retirou para Gades. Sem líderes de respeito o exército cartaginês colapsou na Península Ibérica. Cipião voltou então a Roma, em triunfo, mas ainda demasiado novo para lhe entregarem o comando das principais forças romanas, no entanto, conseguiu em 205 a.C. ser eleito para o consulado. Em breve seria reconhecido como o líder que poderia vencer Aníbal. Estando a situação a melhorar para os romanos, o cartaginês Asdrúbal Barca (o já referido irmão de Aníbal, que tinha tentado, sem sucesso, entrar em Itália em 215) deslocou6se, em 2086207 a.C. após a descrita batalha de Bécula na Hispânia, com o objetivo de reforçar Aníbal e atacar na frente norte da Península Itálica. Mas acabou por ser derrotado e morto (ou suicidou6se conforme as ver6 sões) na Batalha de Metauro ocorrida junto ao rio de mesmo nome em 207 a.C.. Em 205 foi a vez de Magão, o outro dos irmãos de Aníbal que, abando6 nando Gades na Hispânia, levando as últimas forças cartaginesas que aí se tinham refugiado, desembarcou junto a Génova com 2.000 cavaleiros e 12.000 infantes. Embora tentasse, não conseguiu juntar6se às restantes forças cartagi6 nesas e ficou isolado nesta região. Em 203 a.C. teve de defrontar6se contra os romanos, acabaria derrotado, e forçado a deslocar6se com o remanescente das forças para Cartago (morreria durante a viagem devido a ferimentos sofridos). Aníbal não podia contar com mais reforços, com a morte dos seus dois irmãos, decidiu que teria, também ele, de abandonar a Península Itálica. Os romanos desde que tinham derrotado as forças de Asdrúbal em 207 a.C. que tinham surpreendido Aníbal e, confiantes nas novas forças e sucessivas vitórias, tinham mandado desmobilizar parte das suas legiões para permitir o trabalho dos campos agrícolas. Roma preparava6se agora para atacar Cartago e Aníbal, sem nunca ter perdido uma única batalha, mas incapaz de vencer Roma, _____ 308

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teve de partir para defender a sua própria capital no final do ano de 203 a.C. Nitidamente tinha havido um envolvimento total de Roma e dos seus cidadãos, que mantiveram um objetivo “claramente definido e exequível” (Couto, 1998, p. 186) para expulsar Aníbal mas, de Cartago, poucas ou nenhumas vezes vieram apoios, preocupações ou diretivas. Cipião partiu então para África no comando das forças romanas e Aníbal estava encarregado de garantir a defesa de Cartago. Os dois grandes líderes iam, inevitavelmente, confrontar6se. Cipião fez um profundo trabalho de reco6 lha de informações antes de provocar os cartagineses: enviou centuriões disfar6 çados de escravos para estudar o adversário e apelou a diversas táticas de persuasão, demonstração, intimidação e propaganda junto do adversário e dos seus aliados (entre os antigos aliados de Cartago estava agora Masinissa ao lado de Cipião). Afinal, as grandes estratégias dos dois adversários eram, apa6 rentemente, similares: atacar o coração do adversário: Aníbal marchou em 218 a.C. sobre Itália e Cipião marchava agora sobre África. Pelo meio houve inúme6 ras batalhas, cercos, incursões e manobras de grande audácia que fizeram, conjunturalmente, a diferença nos equilíbrios entretanto alcançados. As forças atuavam e organizavam6se de forma diferente fazendo uso das suas vantagens comparativas: Cartago tinha um maior rácio de cavalaria sobre a infantaria e, de forma geral, contava com líderes mais aptos e adestrados para guerra – Roma tinha uma infantaria que aprendia e evoluía de batalha em batalha e, embora não tivesse alguns dos melhores generais, tinha muitos generais e sol6 dados em abundância e sob comando coerente e bem articulado (ver “o poten6 cial estratégico” em Couto, 1998, pp. 2416243). Cipião, depois de entrar em África, tentou obter algumas vantagens ini6 ciais, “ao invés de investir sobre Cartago, destruiu, sistematicamente, as suas áreas de abastecimentos e dos seus aliados” e, depois, esperou, “recuou para uma pequena península que fortificou para servir como um protótipo das Linhas de Torres Vedras de Wellington” (Hart, 1963, pp. 58659). No momento certo procurou a batalha decisiva. A Batalha de Zama, em 19 de outubro de 202 a.C. perto da cidade de Cartago, não foi por isso uma surpresa, foi o culminar de uma adequada estratégia e de uma política consequente. Cipião derrotou Aníbal e Roma derrotou Cartago, foi a soma dos dois fatores. Cipião aprendera o que Aníbal fizera e os romanos aprenderam a fazer melhor. Através de uma alteração na tática conseguiram anular a aparente van6 tagem cartaginesa no uso dos elefantes e, simultaneamente, conseguiram criar uma cavalaria de elite própria, no mínimo, ao mesmo nível da cartaginesa. Mas, acima de tudo, foi Roma que venceu Cartago. Roma nunca se rendeu, não capi6 tulou, não vacilou perante o horror e, de forma coerente e unida, lutou sempre. _____ 309

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Para além da sua atitude de feroz resistência acresce ainda afirmar que Roma se organizava como uma sociedade em torno do seu aparelho militar, formando, sempre, um exército com todos os seus cidadãos. Era uma entrega total dentro de uma estratégia total. Cartago foi diferente, desde a primeira Guerra Púnica que se mostrou disposta a negociar e, inclusivamente, a aceitar, humilhantes condições que lhe foram, sucessivamente, impostas (como as referidas em 255, em 241 e, agora, em 203 e 202). Cartago, também na estruturação dos seus exércitos, tinha sido diferente, optando por uma clara separação entre a socie6 dade e as suas forças expedicionárias e mercenárias. Naturalmente, que a políti6 cas tão diferentes entre Roma e Cartago, teriam de corresponder estratégias muito diferentes.

O longo período até à 3º Guerra Púnica (201 A 149 A.C A.C.) Cartago fora derrotada de novo e, tal como no final da primeira guerra, forçada a aceitar pesadas (pesadíssimas) condições impostas por Roma. A paz com Cartago permitiu a Roma concentrar as suas forças em outras áreas em que desejava expandir a sua influência. Entre elas a Hispânia, onde enfrentava forte resistência, em especial, por parte dos lusitanos. Quando acabou a Segunda Guerra Púnica, Roma tinha soldados e líderes experientes, bem preparados e eficazes mas, tal como nos lembra o poeta Francis Quarles (159261644) num famo6 so poema que escreveu no século XVI, terminada a Guerra, “Deus é esquecido e o Soldado desprezado” (God’s forgotten, and our Souldiers slighted) e, rapidamente, os cidadãos romanos, cansados da longa guerra contra Cartago, deixaram de dar a devida importância à manutenção e preparação de forças militares. As Guerras Púnicas tinham permitido criar novas províncias romanas permanentes e, com os novos territórios, vieram novas e prolongadas campa6 nhas. Aníbal e Cipião não se voltariam a encontrar. Aníbal refugiou6se entre os adversários de Roma e Cipião tentou a entrada na política mas, como tantos outros grandes generais ao longo da história, não foi bem6sucedido. Cartago, embora sujeita a pesadas indeminizações recuperou rapidamente a sua econo6 mia e em poucos anos já fazia temer, de novo, Roma. Começaram então a ecoar, repetidamente, entre os principais líderes romanos a frase: “Delenga Cartago”. Pedia6se a destruição de Cartago, em especial, por um dos mais conhecidos senadores de Roma, Catão. Até 151 a.C. Cartago teve de pagar, anualmente, uma indemnização a Roma e, mesmo nunca falhando esse pagamento, os romanos continuavam preocupa6 dos. Catão, então com setenta e muitos anos, continuou a pedir continuamente a _____ 310

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destruição de Cartago. Com tamanha insistência e, porque Roma precisava desesperadamente de uma vitória significativa face aos sucessivos desaires que sofria na Península Ibérica (que descreveremos brevemente de seguida), começou finalmente um processo de aprontamento de forças. Foi estabelecida uma instru6 ção rigorosa de novos recrutas, uma sólida preparação logística e escolheram6se os melhores líderes para uma campanha contra Cartago. Na Península Ibérica, Roma enfrentava então uma forte ameaça dos lusi6 tanos que lhes causavam constantes embaraços. Em 155 a.C., muitas das legiões romanas tinham sentido o peso da derrota, o que provocou graves anseios e um sentimento de crise entre a governação de Roma. Os romanos recorreram então a todos os estratagemas possíveis para derrotar os lusitanos. Públio Sul6 pício Galba, que foi um dos pretores que Roma enviou para a região, não hesi6 tou em usar as mais vis estratégias. Conseguiu enganar as várias tribos lusitanas prometendo6lhes a paz e, dividindo6os em três grupos, chacinou6os. Escapou a este massacre um dos mais famosos líderes dos lusitanos, Viriato, que em breve reverteu esta traição contra os próprios romanos. A campanha romana contra Viriato e os Lusitanos iria durar muitos anos, até 140 a.C., quando, mais uma vez, um golpe traiçoeiro, através do suborno de um dos companheiros de Viriato, este acabou por ser assassinado. Partes da Hispânia submeteram6se mas ainda assim, outras áreas, continuaram a combater e, talvez por isso, como afirma Goldsworthy, a campanha pela destruição de Cartago assumiu uma crescente importância, pois era necessário um momento de elevado prestígio para uma Roma fortemente abalada pela ação de uns temíveis lusitanos. Uma crise local entre Masinissa e Cartago foi o pretexto, o “causis bel

lum”, que os Romanos buscavam para atacar em África. Para evitar a guerra contra Roma, Cartago ainda se dispôs a aceitar, mais uma vez, pesadas condi6 ções, mas desta vez, eram demasiado humilhantes, obviamente inaceitáveis. Entre outras, as imposições romanas incluíam a obrigação de abandonarem a sua própria cidade capital (e a população teria de escolher outro local para viver, pelo menos a 15 km do mar), Cartago seria arrasada e ficariam apenas os santuários e os cemitérios. A guerra, como pretendiam insistentemente os romanos, tornou6se pois inevitável. A atitude, até aí submissa de Cartago, mudou completamente mas, natu6 ralmente, tarde demais. Surgiram manifestações de forte resistência, enquanto os que apelavam à conciliação com Roma eram linchados por uma população desesperada, as mulheres de Cartago cortavam os cabelos para fazer cordas para as catapultas. Tudo o que podia ser utilizado para edificar armamentos foi aproveitado para se estabelecer a defesa. Começava, assim, porque Roma dese6 java e impusera, a Terceira Guerra Púnica. _____ 311

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“Delenga Cartago” – A Terceira Guerra Púnica (1496 (1496146 A.C.) A.C.) Roma decidira dar o máximo de visibilidade a esta campanha e, para a liderar, foi escolhido mais um Cipião, neste caso, Cipião Emiliano (Públio Cor6 nélio Cipião Emiliano Africano, também conhecido como o Jovem, neto por adoção de Cipião “o africano”) e foi6lhe permitido recrutar todos os homens que pensassem necessários. Cipião tentou, e conseguiu, apelar a uma estratégia psicológica que levasse romanos e cartagineses a recordarem o outro Cipião seu avô: libertou cartagineses para estes avisarem que Cipião ia a caminho de Cartago e Asdrúbal (mais um Asdrúbal), no comando da defesa de Cartago, desesperado, mandou torturar e matar prisioneiros romanos do alto das mura6 lhas (era um sinal evidente que os cartagineses desejavam levar a guerra até às últimas consequências). Cipião começou então um cerrado cerco, metódico e implacável. Do lado cartaginês, tal como Roma fizera em 216 a.C. após a derrota em Canas, toda a população se envolvia pela sua defesa, mulheres e crianças traba6 lhavam e, quem apelava ou simplesmente sugeria a possibilidade de rendição, era imediatamente mandado executar por Asdrúbal. A guerra atingia os seus extremos e, quando alguns dos soldados de Cipião ameaçaram debandar, foi o próprio general (e outros comandantes romanos) que os matou. De um lado e de outro a determinação parecia total. Em pouco tempo todas comunidades vizinhas de Cartago renderam6se a Cipião e Cartago ficava, inevitavelmente, sozinha. Rua a rua os romanos avançaram dentro de Cartago. Levaram o seu tempo para o saque e para a pilhagem. Cipião mandou incendiar as casas perto da última muralha defensiva para preparar o assalto final, os edifícios ruíram e sobre os escombros construíram vias de acesso e rampas para o ataque. Então, no último momento, grande parte da população cartaginesa, perante a inevitá6 vel vitória romana, rendeu6se. 50.000 homens, mulheres e crianças foram apri6 sionados ou feitos escravos. No interior, barricados junto ao Templo de Esculápio, ficaram apenas cerca de 900 defensores: Asdrúbal com a sua família, alguns soldados cartagineses e os desertores romanos (que sabiam o terrível destino que lhes estava destinado quando fossem capturados). Quando os romanos avançaram e, antes de serem capturados, os poucos combatentes suicidaram6se. A mulher de Asdrúbal matou os próprios filhos e, imolando6se, mandou6se para o meio das chamas. Cipião venceu, de forma completa, absolu6 ta e ofereceu aos seus homens vários dias de pilhagens. Seguiu6se uma metódi6 ca destruição de Cartago. _____ 312

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Se Cipião vencera e destruíra Cartago, então não seria surpresa entender porque fora ele o escolhido para, em 134 a.C., submeter a rebelde Hispânia. No final da terceira Guerra Púnica, Roma criara o seu império e contava agora com 6 províncias ultramarinas: Sicília, Sardenha, Córsega, Hispânia Citerior, Hispâ6 nia Ulterior, África e Macedónia (no final do século II seriam adicionadas mais duas províncias: Ásia e Gália Cisalpina). “Suma Sedes Non Capit Duo” e Roma governava, finalmente, sozinha.

Da Estratégia Estratégia e da liderança Grandes líderes? Sim. Mas acima de tudo, grandes e ambiciosas políti6 cas, com adequadas estratégias em todos os setores, com a abrangência e envolvência da quase totalidade da população. Apenas a soma de todos estes fatores permitiram a vitória de Roma. Foi uma liderança esclarecida, decorrente de uma política determinada e acompanhadas de estratégias partilhadas que, para além da estrita liderança e das fortes forças militares, explicam o caminho e os sucessos alcançados. Como nos recorda Goldsworthy, Roma construíra quase 1.000 navios entre 260 e 241 a.C., aprendera e copiara o melhor que Cartago tinha, fizera6o continuamente não parando de evoluir. Roma envolveu6se como um todo na guerra, ao longo de mais de um século, enquanto Cartago apenas o fez no final de cada uma das três Guerras Púnicas. Para Roma o Estado estava em Guerra, para Cartago, o seu exército e marinha faziam a guerra do Estado. “No esforço para derrotar Cartago, Roma se encontrou a si mesma” (Leckie, 2001, p. 235) e firmou um Império que durou muito mais, muitíssimo mais, tempo que qualquer outro, anterior ou futuro. Não há grandes líderes sem grandes estratégias. Não há grandes estra6 tégias sem políticas esclarecidas, determinadas e consequentes. Grandes políti6 cas requerem grandes líderes políticos e a aplicação das políticas no terreno necessitam de grandes líderes estratégicos, em todas as áreas, incluindo a mili6 tar. Como afirma o General Abel Cabral Couto, as manobras estratégicas têm de “assentar num bom tema político (ideia6força), concebido em função das grandes motivações de momento e bem adaptado ao fim visado” (Couto, 1998, p. 361) e apenas grandes líderes conseguem a clareza das grandes ideias6força para motivar e guiar os seus soldados à vitória. Assim foi há dois milénios e possivelmente continuará a ser em tempos futuro.

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