Las transformaciones tecnológicas que proyectan e generan ubicuidad en el periodismo “transsocial-media”

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Descripción

Las transformaciones tecnológicas que proyectan e generan ubicuidad en el
periodismo "transsocial-media"[1]


As mudanças tecnológicas que projetam ubiquidade e o jornalismo
"transsocial-media"


Renato Essenfelder [2]
Paulo Rodrigo Ranieri [3]
Edson Capoano[4]

Resumen: Los sitios de redes sociales se han tornado tan populares en la
Internet hoy en día que se configuran como un medio de comunicación aparte
dentro de la red. Según la consultoría We Are Social, mientras que la
penetración de Internet en Brasil alcanza 49% de la población, el acceso a
las redes sociales es de rutina para 43% de los ciudadanos: es decir, en
otras palabras, que 98% de usuarios de Internet en Brasil tienen al menos
un perfil activo en las redes sociales como Facebook. En este escenario, el
artículo señala la posibilidad deontológica de considerar una nueva
habilidad para el periodista posmoderno: la calidad transmídiassocial. Esto
se caracterizaría por dominar las diferentes narrativas específicas de las
redes sociales digitales, saber explotarlas de forma individual y en
conjunto para producir narrativas cruzadas ricas y diversas.

Palabras clave: periodismo; transmedia; crossmedia; redes sociales;
Internet.

Resumo: Os sites de redes sociais se tornaram tão populares na internet
que, hoje, se configuram como um meio de comunicação à parte dentro da
rede. Segundo a consultoria We Are Social, enquanto a penetração da
internet do Brasil atinge 49% da população (mesmo percentual encontrado
pelo IBGE), o acesso a redes sociais é rotina para 43% dos cidadãos: ou
seja, em outros termos, 98% dos utilizadores de internet do Brasil têm ao
menos um perfil ativo em redes sociais como o Facebook. Nesse cenário, o
artigo aponta para a possibilidade deontológica de se considerar uma nova
especialização – e proficiência – para o jornalista pós-moderno: o
jornalismo transmídiassocial. Este se caracterizaria pelo pleno domínio da
narrativa específica dos sites e aplicativos de redes sociais digitais,
sabendo explorá-las individualmente e em conjunto para produzir narrativas
transversais ricas e diversificadas.

Palavras-chave: jornalismo; transmídia; crossmedia; redes sociais;
internet.




A tecnologia digital ampliou as possibilidades de comunicação (blogs,
redes de relacionamento) e vem atualizando a chamada "mídia tradicional"
num processo que pode ser chamado de convergência. O estudioso americano
Henry Jenkins (2009) aponta convergência como uma palavra que abrange
profundas transformações tecnológicas, mercadológicas, culturais e sociais,
dependendo de quem está falando e do que imaginam estar falando. Para ele,
vivemos a cultura da convergência, onde as velhas e as novas mídias se
cruzam, mídia corporativa e mídia alternativa se chocam, e o poder do
produtor de mídia e do consumidor interagem de maneiras imprevisíveis.
Outro estudioso no tema, Carlos Alberto Scolari (2009), segue a mesma linha
de Jenkins e remete ao termo "prossumidor" em mais de uma ocasião para
sinalizar a convergência entre produtores e consumidores de conteúdo.
Também nesse sentido, Orozco Gómez afirma que todos os meios, tanto os
velhos quanto os novos, coexistem, conformando ou não convergências em
sentido estrito, porém constituindo ecossistemas comunicativos cada vez
mais complexos. "A chegada de um novo meio ou tecnologia não supõe
necessariamente, nem tampouco imediatamente, a suplantação do anterior"
(GÓMEZ, 2006, p.84).
Para Torres (2008, p. 275), com a apropriação das novas tecnologias
comunicativas pelos indivíduos e organizações populares, vemos surgir uma
sociabilidade tecnológica capaz de se autorrepresentar e inaugurar novas
formas de atuação.
Uma dessas formas, exemplifica Jenkins, se configura pela participação,
às vezes direta, dos fãs nas produções da indústria do entretenimento.

As práticas da cultura tradicional foram empurradas para o
underground – as pessoas ainda compunham e cantavam
canções, escritores amadores ainda rascunhavam versos,
pintores de final de semana ainda davam suas pinceladas,
as pessoas ainda contavam histórias e algumas comunidades
pequenas ainda promoviam bailes na praça. Ao mesmo tempo,
comunidades alternativas de fãs surgiram como reação ao
conteúdo dos meios de comunicação de massa (JENKINS, 2009,
p.192).

Assim, pessoas comuns deixaram de ser apenas fãs e se apropriaram de
novos dispositivos tecnológicos para arquivamento, recirculação e mesmo
criação de conteúdos de mídia. Exemplo notório em inúmeros países ao redor
do globo é o dos jovens YouTubers – pessoas que criam canais no YouTube
para divulgar ideias, opiniões e conteúdos de entretenimento e
ocasionalmente atingem o status de olimpianos, para usar a expressão de
Edgar Morin disseminada no Brasil por Cremilda Medina[5]. A despeito dos
talentos artísticos, esportivos ou retóricos, o século XXI parece nos dizer
que todos podem, efetivamente, tornar-se olimpianos, indo muito além dos 15
minutos de fama preconizados por Andy Warhol nos anos 1960.

A necessidade de participação do ser humano nas mais diversas
manifestações sociais (família, comunidade, trabalho, luta política,
manifestações culturais e artísticas, comunicação social) é natural, e
nesse contexto o surgimento das redes e da interligação entre elas foi
fundamental. As pessoas participam, segundo Bordenave (2008, p.11), porque
nenhum homem é uma ilha e desde as suas origens vive agrupado com seus
iguais. Há duas bases, complementares entre si, possíveis de serem
percebidas na participação: uma base afetiva (o prazer de participar) e uma
instrumental (fazer coisas com os outros é mais eficaz e eficiente do que
fazer sozinho).

A participação é o caminho natural para o homem exprimir
sua tendência inata de realizar, fazer coisas, afirmar-se
a si mesmo e dominar a natureza e o mundo. Além disso, sua
prática envolve a satisfação de outras necessidades não
menos básicas, tais como a interação com os demais homens,
a autoexpressão, o desenvolvimento do pensamento
reflexivo, o prazer de criar e recriar coisas, e a
valorização de mesmo pelos outros (BORDENAVE, 2008, p.
16).

Bordenave ressalta o prazer do ser humano de criar e recriar coisas, e
ainda vai além, quando ressalta a necessidade de termos uma sociedade
plenamente participativa: "tudo indica que o homem desenvolverá seu
potencial pleno numa sociedade que permita e facilite a participação de
todos. O futuro ideal do homem só se dará numa sociedade participativa"
(BORDENAVE, 2008, p. 16).
Nesse contexto, as velhas tecnologias sofreram adaptações, e a
tendência é que seus potenciais se concentrem cada vez mais em poucos
dispositivos. O público, que ganhou poder com as novas tecnologias, que
está ocupando um espaço na intersecção entre os velhos e os novos meios de
comunicação, está exigindo o direito de participar intimamente da cultura.
Produtores que não conseguirem fazer as pazes com a nova cultura
participativa enfrentarão uma clientela declinante e a diminuição dos
lucros. As contendas e as conciliações resultantes irão redefinir a cultura
pública do futuro. (JENKINS, 2009, p. 51).
O professor Sérgio Amadeu também discute como o intensivo processo de
digitalização vivido nos últimos anos interferiu na criação de uma cultura
de convergência e suas implicações na esfera pública. A arquitetura
informacional deixa de ser unidirecional e se torna distribuída,
multidirecional, interativa, interconectada. Os custos de comunicação são
menores, a possibilidade de o indivíduo se tornar um ativo na esfera
pública é maior. Logo, é maior o potencial democrático das redes do que o
dos veículos de comunicação de massa.
Interessante ainda remeter esta reflexão a Manuel Castells e ao seu
conceito de mass self communication. Segundo o sociólogo espanhol, a base
da comunicação da sociedade em rede é a web global de redes de comunicação
horizontal, que incluem o intercâmbio multimodal de mensagens interativas
de muitos para muitos, tanto sincrônicos (em tempo real) quanto
assincrônicos (sem a ideia do tempo real).

A difusão da internet, a comunicação móvel, os meios
digitais e uma variedade de ferramentas de software social
tem impulsionado o desenvolvimento de redes horizontais de
comunicação interativa que conectam local e globalmente em
um tempo determinado. O sistema de comunicação da
sociedade industrial se centrava nos meios de comunicação
de massa, caracterizados pela distribuição massiva de uma
mensagem unidirecional de um para muitos. (CASTELLS, 2009,
ONLINE).

Em relação à escrita, podemos relembrar o salto do texto impresso para
o eletrônico. Roger Chartier, em A Aventura do Livro – do leitor ao
navegador, afirma que com o texto eletrônico, enfim, parece estar ao
alcance de nossos olhos e de nossas mãos um sonho muito antigo da
humanidade, que se poderia resumir em duas palavras: universalidade e
interatividade (CHARTIER, 1988, p.133). Chartier se refere ao texto
eletrônico como "a cultura que será complementar ou concorrente à cultura
impressa [e antes dela a manuscrita] por numerosos decênios" (IBID.,
p.139). A cultura do texto eletrônico, para o autor, é forçosamente um
"mundo de telas", computadores cujas formas "impõem limites que parecem
distanciados dos hábitos mais íntimos, mais livres, da relação mantida com
a cultura escrita". No entanto, Chartier faz uma importante observação em
jeito de questionamento, demonstrando que a cultura da escrita e da
leitura, a partir dos textos eletrônicos, poderiam vir a substituir a
anterior cultura impressa a partir dos novos suportes [que hoje podemos
associar com telas de telefones celulares inteligentes, ou smartphones,
ipads e kindles, por exemplo].


Afirma-se frequentemente que não dá para imaginar muito
bem como se pode ler na cama com um computador, como a
leitura de certos textos que envolvem a afetividade do
leitor pode ser possível através dessa mediação fria, mas
sabemos o que virão a ser os suportes materiais da
comunicação dos textos eletrônicos? (IBID., p.142).

Independentemente do suporte, e essa é uma das características fortes
da cultura da convergência, não existe um aparelho mágico pelo qual toda
mídia passe, e mesmo que este aparelho exista um dia, nós conectamos na
mente as peças da mídia que consumimos, em nome da participação que nos é
possibilitada pela web, acima de tudo como fãs.
A mídia é capaz de nos cercar com suas narrativas cruzadas
(transmidiáticas), imagens e sons que podem ser reproduzidos em plataformas
distintas, que Jenkins vai chamar "franquias". Na cultura das histórias em
quadrinhos, por exemplo, está presente a narrativa transmídia, já que não
fica apenas no que é relatado nas revistas, a história é estendida para
outras publicações ou até para as telas de cinema, desenhos animados e
seriados. Jenkins chama este fenômeno de narrativa transmídia, pelo fato
cruzar mídias, mas também fala em "narrativa ampliada", pelo fato de partir
de uma origem, sem modificar o contexto.
Para Jenkins, existe uma componente mercadológica que não pode ser
ignorada. Segundo o autor, a mídia passa por estas plataformas, em parte,
porque as empresas querem que ela passe, mas também porque os consumidores
querem, então isso é moldado pelas decisões da diretoria das empresas e
pelas decisões tomadas nos quartos dos adolescentes. De qualquer forma,
diz, o fluxo da mídia será em diferentes plataformas de mídia e vai
convergir no consumidor.
Para ele, podemos pensar na TV, por exemplo, como um aparelho de
entrega, a caixa que possuímos e ligamos. Por outro lado o conteúdo da TV
está por toda parte hoje em dia, nunca foi tão popular, os formatos dele
estão por toda parte na internet. Não vai haver uma novela em celular, mas
o celular pode sim contar uma parte da novela; se pensarmos na trama da
telenovela situando-se em todos estes canais de mídia, poderemos ter
diários em vídeo de alguns personagens falando sobre algo que aconteceu com
eles, isso seria um material extra que nos liga à novela, nos lembra dela,
nos diz que devemos assistir; o celular não reproduzirá toda a experiência
de ver a novela, mas vai criar uma forma de se envolver com esse conteúdo
que nos deixa conectados ao sistema de histórias mais amplo.


O jornalista transsocial-media
Na Cultura da Convergência, ambientes crossmedia, narrativas transmídia
e o cruzamento entre as redes sociais mais populares são fenômenos novos
que estão no entretenimento, na publicidade e também no jornalismo. O
crescimento da internet e de sua integração ao cotidiano de milhões de
pessoas é já fato inconteste, facilmente notado por meio de estatísticas e
pela simples observação empírica do que acontece nas ruas de qualquer
cidade brasileira.
Segundo dados do IBGE com base na última Pnad (Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios) divulgados em abril de 2015, 85,6 milhões de pessoas
com mais de 10 anos de idade acessaram a internet ao menos uma vez nos
últimos três meses de 2013 no país todo. Quase metade da população total,
de 201 milhões de habitantes[6].
Para dimensionarmos o que representa esse fenômeno de crescente
conexão, convém lembrar que, conforme afirma Bucci, a internet não pode ser
considerada, em seu atual estágio de desenvolvimento, apenas uma nova
mídia, como frequentemente aparece designada. É mais do que isso. Para o
professor, em artigo de 2011 no jornal "O Estado de S.Paulo":


Ela [a internet] é tão ampla como são amplas as atividades
humanas: aceita declarações de amor, assim como aceita
lances ousados da especulação imobiliária. Nela, a vida
social alcança plenamente outro nível, que não é físico,
mas é real, tão real que afeta diretamente o mundo físico,
sendo capaz de transformá-lo. Mais que meio de
comunicação, a internet é, antes, a sociedade num segundo
grau de abstração. Se quiserem comparações, ela tem mais
semelhança com a rede de energia elétrica do que com um
aparelho de TV ou com o alto-falante na praça do coreto.
(BUCCI, 2011, ONLINE)


Assim, Bucci entende a internet como uma espécie de segunda realidade,
tão real quanto a física, em que ocorrem ações e interações capazes de
modificar a primeira realidade, o primeiro grau de abstração, na qual se
dão as nossas relações físicas ou "tradicionais" - adjetivo que faz cada
vez menos sentido num contexto de crescimento das conexões e das
possibilidades de interação no ambiente digital, que já pode envolver não
apenas os sentidos da visão bidimensional e da audição, mas também da visão
tridimensional, espacializada, do tato e do olfato, em avançados
experimentos de realidade virtual.
Aqui, de maneira um pouco mais arrojada, ousamos afirmar que se tornou
impossível dissociar atualmente a internet das redes sociais. Se é crucial
que o jornalista navegue por essa segunda realidade, que é a internet, que
conheça suas regras, fronteiras e possibilidades, para deste modo obter e
disseminar informações, para se relacionar com fontes, colegas,
instituições, marcas e o público em geral, é igualmente imprescindível que
conheça, frequente e, idealmente, domine estas redes sociais.
A compilação de estatísticas da consultoria We Are Social[7] com base
em fontes como o Internet World Stats, Facebook e US Census Bureau mostra
que, enquanto a penetração da internet do Brasil atinge 49% da população
(mesmo percentual encontrado pelo IBGE), o acesso a redes sociais é rotina
para 43% dos cidadãos. Em outras palavras, nada menos do que 98% dos
utilizadores de internet do Brasil têm ao menos um perfil em redes sociais
como o Facebook, e 72% deles acessaram uma rede social ao menos uma vez no
mês anterior à pesquisa - ou seja, mantêm perfis ativos, e não avatares-
fantasma. O interesse do brasileiro por redes sociais é digno de nota: os
usuários nacionais passam, em média, 3h08min diários conectados a alguma
rede.
Tendo em vista esse cenário, que é realidade não só no Brasil, mas no
mundo inteiro, a extrapolação é plausível: quem está na internet, está
também nas redes sociais e informa-se ao acessá-las.
Paralelamente a esse fenômeno, de aumento das conexões e de acessos às
redes sociais, que hoje parece inexorável, outras transformações ocorrem
paralelamente com grande intensidade e potencial de disrupção na maneira
como encaramos a distribuição e consumo de informação (jornalismo incluído)
no mundo:
1 - A internet das coisas - ou seja, a tendência de surgimento de cada
vez mais e melhores aparelhos inteligentes, conectados à internet, tema no
qual este artigo não pretende se aprofundar;
2 - a explosão de acessos à internet por meio de dispositivos móveis.
No caso brasileiro, embora a maior parte da população ainda use o
computador para realizar o acesso à rede, esse cenário vem mudando
rapidamente, favorecendo as conexões via dispositivos móveis, em especial
smartphones. Em alguns Estados, o acesso feito exclusivamente por celular
ou tablet supera o feito via computadores, como em Sergipe, Pará, Roraima,
Amapá e Amazonas, segundo o IBGE[8].
Atualmente, o Brasil possui mais linhas de celular ativas do que
habitantes, numa surpreendente proporção de 134% (268 milhões de linhas
ativas para 201 milhões de habitantes).
Esse avanço e popularização de instrumentos tecnológicos, aliado às
transformações sociais e culturais no país na contemporaneidade, impõe,
forçosamente, mudanças no campo jornalístico, em que tecnologia e sociedade
confluem para modificar o modo de produzir, consumir e distribuir notícias.
O jornalista multimídia, tão celebrado e discutido no final dos anos 1990,
até o início do novo século, logo cedeu espaço ao jornalista hipermídia,
conhecedor da lógica do meio digital e capaz de explorar a linguagem dos
links e hipertextos para ampliar ad infinitum a experiência de leitura.
No início do novo século, contudo, ganhou força a demanda por um
jornalista crossmedia e, posteriormente, transmídia - ou seja, capaz de
articular os recursos únicos de variadas mídias de modo a proporcionar uma
experiência informativa rica, variada e única, sem remeter vários canais a
um só, como ocorre nas reportagens multimídia hospedadas em sites de
internet, e tampouco sem aplicar desastrosamente a linguagem de uma mídia a
outra - contraexemplos clássicos são as primeiras transmissões de TV, que
registravam apresentações em teatros (teleteatros), sem aproveitar os
potenciais da nova linguagem, e também o primeiro estágio de migração dos
jornais impressos para a internet, quando apenas acontecia a reprodução
digital da edição impressa, frequentemente no formato estático de um
arquivo eletrônico tipo PDF.
A definição de transmídia não é pacífica entre estudiosos. Para Jenkins
(2006), considerado pioneiro no emprego do termo (porém no contexto do
entretenimento e da publicidade), transmídia é um "processo onde os
elementos integrais da ficção são sistematicamente dispersos através de
múltiplos canais de distribuição para criar uma experiência unificada e
coordenada de entretenimento." Scolari, no entanto, lembra que outros
autores utilizam termos como narrative media studies, transmedial
narratology, cross media, multimodality, multiplataforma, enhanced
storytelling, dentre outros (2009) para abordar as narrativas
transmidiáticas. Neste estudo, que se ocupa de trazer o conceito ao campo
do jornalismo e introduzir a noção de jornalismo transsocial-media,
empregamos o termo transmídia entendendo-o, como referido acima, como modo
narrativo (portanto associado aos estudos de storytelling) em que são
exploradas mídias diferentes capazes de proporcionar contribuições únicas à
interpretação de uma narrativa global, que atravessa inúmeras plataformas
explorando o que de mais característico possuem (o texto e a imagem
estática do impresso, o som do rádio, a interatividade breve e instantânea
de uma rede social como o twitter, a emotividade áudio-imagética da
televisão etc.) e de alguma forma dependentes da interação com o público,
que se torna coautor das hitórias à medida em que define espontaneamente e
de modo imprevisível seu percurso de leitura - os pontos de contato com a
rede transmidiática.
O transmídia ao qual chamamos a atenção neste momento, contudo, pode
ser essencialmente social - e jornalístico. O jornalista transsocial-media
aqui referido está sintonizado com o atual momento da internet, e não
ignora que:
1 - A internet é hoje tomada por redes sociais digitais em que a troca
e disseminação de conteúdos segue lógica própria, independente do desejo
das indústrias jornalísticas;
2 - a tendência de crescimento da internet, expressa em diversos
projetos de democratização digital ao redor do mundo, é irreversível e
alavanca os acessos a redes sociais;
3 - o acesso à rede por meio de plataformas móveis, como celulares,
tablets, relógios e outros dispositivos, cresce exponencialmente à medida
em que caem custos de hardware e de tráfego de dados em todo o planeta;
4 - é preciso conhecer e saber explorar as diferenças e potencialidades
das várias redes sociais disponíveis a qualquer momento na internet, como,
hoje, Facebook, Twitter, Instagram, YouTube, Snapchat, WhatsApp, LinkedIn,
Vine e outras, para criar verdadeiras narrativas transmidiáticas
entrelaçadas nas redes.
Toda essa nova conjuntura comunicacional produzirá, como é de se
esperar, abalos profundos na relação do jornalista com o público, com
outros jornalistas e consigo mesmo.
Em "Hackear el Periodismo" (2011), o jornalista e pesquisador argentino
Pablo Mancini afirma que, ainda que o público busque hoje a credibilidade
do texto produzido por jornalistas, já não o acessa diretamente (por meio
de jornais ou sites de grupos de comunicação, por exemplo). O texto
noticioso cada vez mais circula em espaços completamente alheios ao domínio
do jornalista, como as redes sociais.

Considerações Finais


Nada caracteriza melhor os tempos atuais do que a ubiquidade das redes
sociais na internet e os cruzamentos possíveis entre elas. Pessoas, espaços
e tecnologias estão o tempo todo hiperconectados. O conhecimento é
individual, mas também coletivo, cruzado e compartilhado. Hoje não se deve
falar mais em online e off-line, já que todos estão conectados o tempo
inteiro, comportamento facilitado, acima de tudo, pelo uso de dispositivos
móveis com ligação à internet.
Nos grandes jornais paulistanos, as matérias e reportagens que mais
repercutem não são mais as das manchetes das homepages cuidadosamente
elaboradas por competentes gatekeepers. São as notícias veiculadas em redes
sociais as que alcançam maior audiência – descobertas por leitores,
indicadas por leitores, postas em circulação por leitores e,
frequentemente, expandidas por leitores – que, agora, se tornam
crescentemente usuários de notícias. Naturalmente se poderá afirmar que
isso sempre foi assim, desde que existem jornais, há três séculos, leitores
indicam a outros leitores suas matérias favoritas. Mas a internet muda o
fenômeno de escala, e o multiplica exponencialmente.
O leitor descobre e acessa o texto jornalístico por indicação de outros
leitores. Muitas vezes, o texto que lê não está mais no site do veículo
original. Já aparece comentado e expandido em redes sociais ou blogs.
Dados do próprio Facebook corroboram a imporância de o jornalista
contemporâneo não apenas "saber usar", mas sim dominar efetivamente as
potencialidades das várias redes sociais disponíveis hoje. É lá que grande
parte dos leitores está - em especial, leitores jovens, em formação. Metade
dos usuários do Facebook – maior rede social do planeta, com cerca de 1,5
bilhão de usuários – usa essa plataforma para encontrar e ler notícias, e
78% afirmam que a leitura de notícias pela rede é incidental, ou seja, que
não estão em busca de notícias nem acessando especificamente perfis de
grupos noticiosos. Eles simplesmente veem as notícias em suas "timelines" e
têm seu interesse despertado conforme a redação da postagem, a fotografia
veiculada, a curadoria de seus amigos virtuais, entre outros fatores.
O caminho para o jornalista parece sem volta. Nesse sentido, este
trabalho buscou orientar e expandir o cenário para que outros estudos
possam igualmente pensar sobre o presente e o futuro do jornalismo num
contexto transsocial-mediático.





Referências

BORDENAVE, Juan E. D. O que é participação. (8ª ed.). São Paulo:
Brasiliense, 2008.

BUCCI, Eugenio. A Internet não é um Meio de Comunicação. O Estado de
S.Paulo, São Paulo, 20 out. 2011.

CASTELLS, M. Comunicación, poder y contrapoder en la sociedad red. Los
medios y la política. In: Telos: Cuadernos de comunicación e innovación,
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http://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=2545714.


CHARTIER, Roger. A aventura do livro: do leitor ao navegador. Moraes,
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GOMEZ, Guillermo Orozco. Comunicação Social e mudança tecnológica: um
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MANCINI, Pablo. Hackear el periodismo. Buenos Aires: Futuribles, 2011.

MEDINA, Cremilda. Notícia: Um produto à venda – Jornalismo na Sociedade
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MORIN, Edgar. Os Olimpianos. In: Cultura de Massas no Século XX. 2 ed. Rio
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SCOLARI, Carlos A. Alrededor de la(s) convergencia(s). Conversaciones
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TORRES, Julliana C. Cyborgcracia: entre gestão digital dos territórios e
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redes: a comunicação digital e as novas formas de participação social. (pp.
227-286). São Caetano do Sul: Difusão, 2008.
-----------------------
[1] Eje 6: Periodismo transmediático en la era digital. Convergencias
tecnológicas e hibridación de géneros.
[2] Colunista do Estadão.com, doutor em Ciências da Comunicação pela
Universidade de São Paulo (USP) e mestre em Língua Portuguesa pela PUC-SP.
É graduado em Jornalismo pela Universidade Federal do Paraná. Atualmente é
professor na graduação e no Mestrado Profissional em Produção Jornalística
e Mercado da ESPM-SP. E-mail: [email protected].
[3] Doutor em Educação, Arte e História da Cultura (Universidade
Mackenzie), com tese relacionada ao uso de dispositivos móveis em sala de
aula; mestre em Ciências da Comunicação pela Universidade do Minho. É
professor de jornalismo nas universidades Mackenzie e ESPM, em São Paulo. E-
mail: [email protected].
[4] Pesquisador do Mestrado Profissional em Produção Jornalística e Mercado
da ESPM-SP. Doutor pela Universidade de São Paulo (USP); mestre
pela Universidade Católica de São Paulo (PUC-SP); pós-
doutorando pela Universidade de Navarra (UNAV-Espanha). E-mail:
[email protected].
[5] Empregamos o termo olimpiano aqui na acepção consagrada por Morin
(1969, p. 111-115), que em "Cultura de Massas no Século XX" usa o epíteto
para qualificar os que recebem, da mídia, uma espécie de papel mitológico,
como deuses modelares em seu comportamento e conduta. Mantêm, contudo, uma
dupla natureza, humana e sobrehumana, que permite a identificação do
público às dimensões mais comezinhas (gafes, discussões públicas,
acidentes, falecimentos) da vida das celebridades ao mesmo tempo em que
despertam certo valor aspiracional em sua dimensão divina, ligada à riqueza
e à beleza, à realização de sonhos e fantasias. No Brasil, esta noção é
explorada com precisão por Medina (1988).
[6] http://www.ibge.gov.br, acesso em 20 de julho de 2015.
[7] http://wearesocial.net/blog/2014/01/social-digital-mobile-worldwide-
2014/. Acesso em 21 de julho de 2015.
[8] Mais sobre o tema pode ser encontrado em
http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2015/04/150429_divulgacao_pnad_ibge_l
gb. Acesso em 22/07/2015.
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