JUSTIFICAÇÃO RACIONAL DAS CRENÇAS CIENTÍFICAS EM KUHN

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JUSTIFICAÇÃO RACIONAL DAS CRENÇAS CIENTÍFICAS Introdução A preocupação central deste trabalho é compreender como a Epistemologia Social pode contribuir para o esclarecimento da justificação epistêmica de crenças no domínio da ciência, tendo em vista, que, por ciência, entendemos que se trata de uma arena específica da vida social, institucionalizada, com uma prática discursiva que lhe é particular e que lhe permite ser diferente de outras formas de conhecimento como a religião, arte e o senso comum. A diferença da ciência em relação a outras formas de conhecimento pode ser marcada pelo modo como a comunidade que a pratica trata a natureza de suas crenças com o mundo que procura investigar. A manifestação dessas crenças é expressa pelo discurso teórico, onde se supõe, além da existência de um conjunto de metodologias e técnicas que podem orientar esse discurso na avaliação de entidades teóricas e da própria teoria, a existência de uma “visão de mundo”, uma ontologia cujo fundamento pode estar em um conjunto de crenças. Podemos afirmar, na linguagem cotidiana, inicialmente, que o conhecimento é uma crença fundamentada em uma proposição verdadeira, não havendo sentido em separá-los porque a argumentação científica tem um fundamento pressuposicional, que não é verificável empiricamente1. Entretanto, quais seriam as razões para se considerar uma crença como verdadeira? Segundo SMITH e SIEGEL, o conhecimento tem sido uma crença verdadeiramente justificada. Essas condições (justificação, verdade e crença) são necessárias e suficientes para o conhecimento2?. Embora a epistemologia tradicional aceite que o conhecimento científico é um conhecimento verdadeiro e que, para se afirmar uma verdade, é necessária uma metodologia que utilize critérios de verificação lógica, há uma resistência em se aceitar que a base de uma verdade seja uma crença, pois crenças não expressam a verdade, são meras suposições e, na maioria das vezes, são consideradas irracionais. De um modo geral, essas considerações sobre a crença são 1

COBERN, W.W. The Nature of Science and Role of Knowledge and Belief. Science & Education, 9, pp. 219-246. Nesse texto, o autor procura mostrar a importância da compreensão, no Ensino e História das Ciências, o paralelismo que há entre Crença e Conhecimento. 2 SMITH, M. U. & SIEGEL H. Knowing, Believing and Understanding: What goals for science education. Science & Education, 13, pp.553-582, 2004

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feitas por influência de um senso comum científico derivado de interpretações superficiais do positivismo e de uma imagem social da superioridade científica. Ainda que, tenhamos uma reação à epistemologia tradicional, como nas críticas pósmodernas sobre a ideologia do discurso científico, no ceticismo de filósofos da ciência quanto à existência de um método universal ou alcance de um conhecimento verdadeiro (GOLDMAN, 1999, p.221) e na sociologia do conhecimento científico que, em parte, crê que o conhecimento científico não passa de uma disputa de interesses políticos, o problema da justificação epistêmica de crenças científicas não está claro. Um exemplo que pode demontrar essa falta de clareza quanto à compreensão do seja uma crença científica está no pensamento de Thomas Kuhn que, embora faça uma importante descrição do desenvolvimento do conhecimento científico, não faz uma análise do fundamento desse conhecimento quanto a justificação de uma crença, pois limita a mesma à circularidade entre paradigma e comunidade científica. As noções de crença e racionalidade, em Thomas Kuhn, tem atravessado o conjunto de suas obras, especialmente, em “A Estrutura das Revoluções Científicas”, e em “O Caminho desde da Estrutura” sem explicitar o que significam claramente.

1. O Problema da Justificação Epistêmica em Kuhn O conceito de Racionalidade da Crença que surge no ensaio “O Problema com a Filosofia Histórica da Ciência” em “O Caminho desde a Estrutura”(KUHN, 2003, pp.133-151), parece tentar explicar o problema da escolha teórica e da avaliação de teorias, porém não deixa claro o que Kuhn quer dizer por Racionalidade, uma vez que, pretende afastar-se das concepções epistemológicas tradicionais que se baseiam em critérios de verificação lógica, das epistemologias marcadas pelo problema da divergência das interpretações históricas de fatos/fenômenos científicos e, ainda, de uma sociologia do conhecimento científico. Muitas das crenças encontram-se fundamentadas em diversas concepções filosóficas a respeito do método científico. A filosofia tradicional da ciência avalia as crenças científicas com relação a suas probabilidades de serem verdadeiras de duas maneiras: Pela correspondência ou pela utilidade. Na formulação principal da tradição pregressa em filosofia da ciência, as crenças deveriam ser avaliadas com respeito à sua verdade ou à probabilidade de serem

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verdadeiras, entendendo-se por verdade algo como correspondência ao real, ao mundo externo independente da mente. Havia também uma formulação secundária que sustentava que as crenças deveriam ser avaliadas com respeito à sua utilidade, mas terei de omitir aqui essa formulação, por falta de tempo: uma afirmação dogmática de que tal formulação não dá conta de aspectos essenciais do desenvolvimento científico terá de substituir uma argumentação. (KUHN, 2003, p.143)

Entretanto, o posicionamento de Kuhn sugere que os critérios, comumente adotados para a avaliação das crenças quanto à sua verdade, tais como exatidão, consistência e simplicidade, são insuficientes para garantirmos a aceitação de uma teoria. Além disso, Kuhn não diz o que seja uma crença e as condições para a construção dessas crenças em uma justificação epistêmica. O que é relevante, para Kuhn, não são as condições e as garantias epistêmicas, em termos de processos cognitivos (por ex.: percepção, memória, testemunho, etc.) que um indivíduo ou uma comunidade científica fundamente seus motivos de escolha teórica, mas sim uma análise da estrutura do desenvolvimento científico em bases sóciohistóricas. A maneira como uma comunidade científica lida com suas crenças é tácita, aceitando o sucesso que uma teoria tem em resolver quebra-cabeças sem maiores questionamentos filosóficos sobre a natureza dos processos cognitivos. Embora Kuhn defenda uma “Gestalt” na transição de uma crença científica para outra, em um período de Revolução Científica (KUHN, 1998, p.146), nessa mudança de crenças, não há explicitação de justificativas epistêmicas para se assumir novas crenças, há apenas uma consideração de que a mudança de Gestalt seja uma mudança de percepção em um novo modelo teórico ou, até mesmo, em um novo mundo (ontologia), sem explicar as razões dessa nova forma de perceber. Nesse sentido, não vejo possibilidade de falar de sujeitos que, com suas garantias epistêmicas, debatam as condições que o levaram a formular e justificar suas crenças científicas numa comunidade (Razões Transindividuais3) que não é auto-reflexiva e auto-conhecedora, uma comunidade que pratica ciência normal. Assim, a noção de justificação necessita de um tratamento

A Concepção de Razões Transindividuais afirma, segundo Frederick Schmitt, que “uma crença p que é justificada pelo testemunho de determinada testemunha T é justificada com base nas razões pelas quais p é possuído por T.” Essa concepção é externalista porque implica que um sujeito acreditará em uma justificação se houver uma testemunha e se as razões da testemunha forem suficientes para tornar a crença justificada. Cf. SCHMITT, Frederick. Epistemologia Social in:GRECCO, John e SOSA, Ernest. Compêndio de Epistemologia. Ed. Loyola, São Paulo, 2008, p.574. 3

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filosófico, pois uma análise do conhecimento requer uma teoria da justificação, o que evidencia uma preocupação epistemológica. Apesar de Kuhn não fazer justicações mais claras sobre a racionalidade da crença, embora possamos interpretar que o mesmo entenda que o termo “crença” seja o ponto de partida para o desenvolvimento das explicações teóricas na ciência e que não deve ser compreendida como um simples confiar, mas como uma construção, a racionalidade, dessa forma, não está abandonada, como muitos críticos4 acreditaram que sim, pois o acusaram de irracionalismo na escolha teórica por considerarem que essa tarefa seria produto de uma espécie de “psicologia”. Pelo contrário, há uma forma de racionalidade que descreve o desenvolvimento do conhecimento científico com bases sócio-históricas, visto que, as condições para a construção do conhecimento científico requerem uma contínua problematização e renovação de conceitos sobre a natureza e as relações entre seres humanos, diferenciando-se de uma espistemologia da ciência com bases trancendentais que suponha um modelo de racionalidade universal e abstrata. Ainda que, a perspectiva sócio-histórica da ciência tente explicar os conceitos de racionalidade, normalmente, ela está fundada numa narrativa a respeito de crenças sobre a natureza em determinada época de tal forma que o principal é descrever como os cientistas construíram essas crenças que constituem um corpo teórico e compreender o porquê das mudanças dessas crenças para outro modelo teórico, ou seja, segundo Kuhn “[...] por que, dado o corpo de crenças com o qual começam, os membros de um grupo científico decidem alterá-lo, em um processo que raramente é um mero acréscimo, e que costuma demandar o ajuste ou abandono de algumas crenças admitidas?” (KUHN, 2003, pp. 141-142) Do mesmo modo, como a Filosofia Histórica da Ciência, o Construcionismo Social, pode deparar-se com o problema da divergência entre as interpretações teóricas dadas a uma crença científica, ocasionando um relativismo que poderia desmerecer a confiança em qualquer hipótese e teoria sobre o mundo no discurso científico. Assim, há outra maneira de salvar o consenso de uma comunidade científica quanto à divergência de interpretações?

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Críticos que o acusaram de irracionalismo: Karl Popper e Imre Lakatos.

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O argumento da negociação, presente no “Programa Forte”5 da Sociologia da Ciência, parecia resolver o problema, entretanto, estaríamos convertendo toda a atividade científica em representações do interesse de classes sociais, o desejo de controle social e o poder de harmonizar conflitos de diversos grupos sociais ligados a um conjunto de crenças (KUHN, 2003, p.139). Obviamente, Kuhn rejeita essa concepção porque a racionalidade, a verdade e a crença seriam expressões de uma retórica, o que, ao meu ver, descaracteriza não só a tentativa da epistemologia em lidar, analiticamente com a argumentação científica, mas também por reduzir radicalmente a categoria “ciência” a um dos discursos de vários grupos ideológicos que disputam o poder. Embora seja relevante a crítica do “programa forte” para uma compreensão política da ciência, não podemos desprezar os aspectos concernentes a atividade científica que é a sua habilidade de resolver problemas teóricos que mais tem uma preocupação com uma explicação razoável sobre o mundo do que ser uma expressão retórica.

2. Justificação Epistêmica na Epistemologia Social Partindo de uma perspectiva teórica do Externalismo Epistemológico, especificando-a na Epistemologia Social, diferenciando-a da Sociologia do Conhecimento, podemos ter a seguinte compreensão inicial do papel dessa epistemologia na sua análise sobre justificação: A Epistemologia Social pode ser definida como o estudo conceitual e normativo das dimensões sociais do conhecimento. Ela estuda a relevância de relações, interesses, papéis, e instituições sociais – que denominarei “condições sociais” – nas condições conceituais e normativas do conhecimento. Ela difere da sociologia do conhecimento por ser um estudo conceitual e normativo, e não essencialmente empírico, e por delinear o necessário e não somente as condições sociais e contingentes do conhecimento. A questão central da epistemologia social é se, e até que ponto, as condições de conhecimento incluem as condições sociais. (SCHIMITT, 2003, pp.547-548)

Notemos que as condições sociais do conhecimento estão relacionadas às condições conceituais e normativas do conhecimento, pois não são apenas as condições sociais e empíricas que determinam o modo como conhecemos, mas sim, até que ponto, as condições sociais estão inclusas nas condições conceituais do conhecimento.

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Corrente de pensamento da Sociologia da Ciência, também conhecida como Escola de Edinburgo, cujos principais representes foram David Bloor e Barry Barnes que afirmavam um relativismo metodológico para o sociólogo do conhecimento do que ceticismo ou relativismo filosófico geral, cf. Alan Sokal e Jean Bricmont em Intellectual Impostures: Postmodern philosophers abuse of science, Ed. Profile Books, 2003.

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Dessa forma, também devemos acentuar que, quando falamos das condições conceituais do conhecimento (crença, verdade e justificação), estamos nos afastando da concepção da epistemologia tradicional de que crença verdadeira e justificada é conhecimento. Nem sempre, temos conhecimento quando todas as condições de conhecimento estão preenchidas, pois dependendo do tipo de conhecedores, de conhecimento e das relações envolvidas entre os conhecedores, podemos, por exemplo, justificar uma crença, como verdadeira, pelo testemunho de outro sujeito desde que o mesmo tenha condições de garantir que sua crença seja confiável. Para a Epistemologia Social, as condições do conhecimento (crença, verdade e justificação) vão depender de como os indivíduos possuem conhecimento, de como o trabalho cognitivo se organiza socialmente e, por fim, de como o conhecimento é possuído coletivamente. Essas três dependências apresentam três ramos que a Epistemologia Social investiga, sendo que todos os três giram em torno da questão: As condições de conhecimento são individuais ou coletivas? Esse questionamento lança também, para o problema da justificação epistêmica das crenças sobre o conhecimento científico, a dúvida de que se a construção dessas condições pode depender das capacidades cognitivas dos indivíduos na elaboração do conhecimento científico ou depender da aceitação coletiva nos mais diversos graus de confiabilidade de suas crenças sobre o modelo teórico que seguem. Assim, se aceitarmos que a manifestação da confiabilidade de crenças ou a justificação delas não se faz por outro meio a não ser o meio coletivo no conhecimento científico, então o individualismo, nesse conhecimento, não é defensável, como forma de justificar crenças, porque a atividade científica reflete uma atividade social e sua epistemologia é também de natureza social. Entretanto, já que a preocupação da Epistemologia Social voltasse para as condições sociais do conhecimento nas condições conceituais, faz-se necessário saber se sua investigação é de natureza normativa ou descritiva. Isso remonta a uma discussão que já foi traçada desde os debates entre a epistemologia tradicional (postura normativa) e a epistemologia naturalizada (postura descritiva). A postura normativa enfatiza o caráter de verificação das condições do conhecimento em aspectos de rigor lógico e conceitual, tal como é a postura, por exemplo, do neopositivismo que, dessa forma, propõe regras, por meio das quais, podemos dizer se uma opinião pode formar um conhecimento verdadeiro ou não. Por sua vez, a postura descritiva diz respeito às questões de fato, descrições de fatos cognitivos e não somente às regras puramente abstratas (DUTRA, 2010,

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p.165). Nesse sentido, se a Epistemologia Social, constantemente, refere-se a aspectos cognitivos de justificação de crenças, como a memória, a percepção, o testemunho, o raciocínio (materialmente expresso), sem ambições de fundar o conhecimento em estipulações a priori, podemos afirmar que ela aproxima-se de uma concepção naturalizada da epistemologia. Entretanto, não devemos reduzir a análise da Epistemologia Social a uma total inserção na Epistemologia Naturalizada, uma vez que, essa última epistemologia parece destacar que das diversas formas de conhecimento que temos, o conhecimento científico, especialmente nas ciências naturais, passa a nos dar uma melhor forma de conhecer o mundo (AUDI, 2005, p.227). Por sua vez, apesar da Epistemologia Social ser útil para uma análise dos mecanismos perceptuais produtores de crenças, ela não reduz a sua análise somente à ciência, mas também a outras formas de conhecimento. Não querendo fazer uma análise do conhecimento em geral, mas, ainda, de forma concentrada na justificação do conhecimento científico, naturalizando o mesmo, encontramos no pensamento de Alvin Goldman uma argumentação sobre os processos formadores de crenças (1986, p.51). Seu pensamento é uma forma de externalismo epistemológico porque uma crença só pode ser considerada como verdadeira se for produzida por processos confiaveis, mesmo se o sujeito não tiver consciência do processo ou das razões que o levaram a adotar suas crenças. O confiabilismo de Goldman pode ser apresentado como histórico e cognitivo, o que também o aproxima de uma “Epistemologia Naturalizada” por compreender que os processos cognitivos acontecem na natureza, mesmo na vida cognitiva mais simples, mas que não tenha as pretensões do projeto original da Epistemologia Naturalizada de abandonar a filosofia (QUINE, 1981, p.72). O que Goldman pretende fazer, inicialmente, é naturalizar a justificação sem o caráter fundacionista, levando em consideração uma teoria causal da cognição e um confiabilismo histórico. Assim, a avaliação epistêmica de crenças científicas pode ter algum respaldo no pensamento de Goldman, porém, apenas se as condições de justificação sobrevêm de condições sociais, possibilitando um confiabilismo social que exija razões transindividuais para uma justificação testemunhal na ciência (SCHMITT, 2008, pp.552 e 576). Dessa forma, a escolha teórica e a avaliação de teorias estariam sendo justificadas não apenas por critérios formais, lógicos e verificacionistas apenas, mas por razões de que nossas crenças possam ser confiavéis em mecanismo cognitivos que a comunidade científica com base no

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seu testemunho, que é social, aceita como razoável e natural. Aqui, não há um abandono do papel das ciências puras, mas, diferentemente, da epistemologia tradicional que as vê como único fundamento importante para a normatividade do conhecimento científico, a questão da demarcação entre ciências puras, ciências naturais, ciências humanas e disciplinas tecnológicas seria menos rígida, evitando-se assim fundamentos trancendentais e permitindo a naturalização do conhecimento científico. Outras formulações, mais recentes sobre a epistemologia naturalizada, procuram enfatizar o papel da natureza nas teorias da negociação (diferente da sociologia do conhecimento científico) e na conseqüente criação de crenças, juízos e valores epistêmicos. Acredito que tal preocupação com a natureza e o consenso da comunidade científica aproxima-se muito da epistemologia naturalizada e externalista como a de Fred D’Agostino, que em uma de suas passagens fala de uma segunda tensão essencial de Kuhn: In any event, this is, I think, an empirical analogue of Kuhn’s tension, and focusing on it will enable us to continue the work of naturalizing social epistemology, or, in the order words, of bringing it into contact with evidence, derived from psychology and organization theory, of how, empirically, human beings functions within knowledgeproducing groups.(AGOSTINO, 2010, p.15)

Considerações Finais Se temos como objetivo de pesquisa analisar a justificação epistêmica do conhecimento científico a partir da Epistemologia Social, esse mesmo objetivo já deve compreender que o conhecimento científico é uma das diversas arenas de debates de crenças com uma linguagem que lhe é peculiar. O modo como se trata uma crença na ciência diverge de outras formas de conhecimento porque a justificação dos processos cognitivos envolvidos parece envolver uma normatividade e descrição que possui regras metodológicas, mas não é que essas regras fundem determinem o que seja uma crença verdadeira e justificada e tão pouco exista um fundamento a priori de tais regras. Esse conhecimento é social tem por base o testemunho e envolve processos cognitivos que necessitam estar naturalizados, como a percepção, memória e raciocínio. O pensamento de Kuhn pode ilustrar uma espécie de epistemologia naturalizada e que não tenha caráter fundacionista, externalista e de cunho social, porém não se aprofunda na justificação de crenças e tão pouco considera necessário fazê-la por prevalecer uma análise descritiva de como

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desenvolve-se o conhecimento científico. Ao não fazer uma análise sobre a justificação de crenças, seu pensamento tornou-se alvo de críticas sobre a escolha teórica e avaliação teórica. Assim, cabe avaliar: 1º) As críticas que Kuhn recebeu, após lançar a Estrutura das Revoluções Científicas, e que se tratam de ataques a possibilidade de racionalidade ao seu pensamento: a) Acusações de Irracionalismo; b) Acusações de Relativismo; c) Problema da Escolha de Teorias; d) Conhecimento Tácito e Intuição; e) Lógica da Descoberta x Psicologia da Pesquisa. 2º) Compreender o que Kuhn quer dizer por Racionalidade da Crença e Racionalidade da Mudança de Crença, uma vez que, na filosofia histórica da ciência de Thomas Kuhn, tem sido discutida sobre sua importância para a análise do desenvolvimento do conhecimento científico devido suas considerações acerca da natureza da ciência, contudo muitas críticas, que o próprio Kuhn ressalta, fazem referência à questão do método científico, à racionalidade de escolha de teorias e aos processos avaliativos que estão ligados a conceitos que são explorados pela reflexão filosófica: As noções de realidade, verdade e evidência; 3º) Qual o papel da Epistemologia Social ao investigar as condições sociais nas condições de conhecimento, especificando-a no conhecimento científico e, tomando, como exemplo, a falta de clareza do pensamento de Kuhn, que compreende o conhecimento científico como construção social, na justificação epistêmica de crenças coletivas. REFERÊNCIAS AGOSTINO, Fred D’. Naturalizing Epistemology: Thomas Kuhn and The Essential Tension. Ed. Palgrave Macmillan, 2010 AUDI, Robert. A Contemporary Introduction to the Theory of Knowledge. Taylor & Francis e-Library, 2005 COBERN, W.W. The Nature of Science and the Role of Knowledge. Science & Education, 9, pp.219-246 CROTTY, Michael. The Foundations of Social Research: meaning and perspective in the research process. London: Sage, 1998

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DUTRA, Luiz Henrique de A.Introdução à Epistemologia. São Paulo: Editora UNESP, 2010. GRECCO, John e SOSA, Ernest. Compêndio de Epistemologia. Ed. Loyola, São Paulo, 2008 __________________. Epistemology and Cognition. Cambridge: Harvard University Press, 1986 __________________. Knowledge in a Social World. Oxford: Oxford University Press, 1999 KUHN, Thomas. A Estrutura das Revoluções Científicas. Ed. Perspectiva, 1998 _____________. O Caminho desde a Estrutura. Ed. UNESP, 2003 QUINE, W. Theories and Things. Cambridge: HUP, 1981 SMITH, M. U. & SIEGEL, H. Knowing, Believing and Understanding: What goals for Science Education? Science & Education, 13, pp. 553-582 SOKAL, Alan e Bricmont. Intelectual Impostures: Postmodernism philosopher’s abuse of science, Ed. Profile Books, 2003

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