Jornada de Trabalho e Jornada de Lazer

June 8, 2017 | Autor: F. de Lima Gomes | Categoría: Lazer, Ocio, Trabalho, ócio
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Jornada de Trabalho e Jornada de Lazer Compilação e comentário de Francisco de Lima Gomes – [email protected] – BSB (DF), Jan/2015 "Trabalho sem Lazer é castigo, Lazer sem Trabalho é Ócio”

Uma colega me enviou a URL (http://tab.uol.com.br/trabalho), assisti, li e acrescento 4 grandes obras do século XX sobre a temática, para quem está se preparando para a “Classe Ociosa” (meu caso) e para quem queira se planejar. 1) “A Teoria da Classe Ociosa”, do americano Thorstein Veblen, de 1899; 2) “Elogio ao Ócio”, do inglês Bertrand Russell, de 1932; 3) “História da Riqueza do Homem”, do americano Léo Huberman, de 1936, em 1999 estava na 21ª ed revisada; 4) “O Ócio Criativo”, do italiano Domenico De Masi, de 1995, 1ª edição. Alguns críticos atacam Veblen alegando que ele confundiu ócio com lazer, enquanto outros colocam a sua principal obra entre as 100 maiores do pensamento ocidental desde a Renascença e é ele um dos autores que mais inspiram a profissionalização do Mercado de Lazer e da Moda. No Brasil o Prof. PhD Murillo Cruz da UFRJ deve ser o maior especialista em Veblen, senão único. A “Classe Ociosa”, segundo Veblen, emergiu com a Propriedade Privada, passando por 4 estágios: Selvageria Pacifica, Barbarismo, Predatório e Pecuniário (dias atuais). Partindo da sociedade americana Veblen foi aos primórdios e trouxe a lume esse achado de Economia e Sociologia. Russell faz uma "menção honrosa ao ócio", praticamente, como força de expressão para dizer que "trabalhar demais" quase sempre significa "viver de menos" e que sempre existiu uma Classe Ociosa cuja banda inteligente nos legou tudo o que podemos chamar de civilização. Russell ressalta que existe um Viver Elevado e um Viver Utilitário que pouco ou nada tem a ver com Jeremy Bentham e John Stuart Mill e o Utilitarismo dos séculos XVIII e XIX. Huberman foi ímpar ao demonstrar em sua obra prima o intrincado e imbricado Mundo de Economia e História, desde o século X ou XII, até o 1º quartil do século XX. Por seu turno, De Masi faz um louvor “rasgado” ao ócio. O seu conceito “ócio criativo” não é uma ironia. É mais que uma provocação e deve ser degustado com parcimônia e desconfiança. Há muitas obras sobre a temática – Trabalho, Lazer e Ócio. Cá comigo, penso que há uma Ética do Trabalho que traz consigo o Lazer como elemento indispensável ao balanceamento e o termômetro é a fadiga: física e/ou mental. Entretanto, não é possível uma “Ética do Ócio”. Se Trabalho é virtude ócio é defeito. O ócio é a ausência de Trabalho. O Brasil vive de Educação Utilitária e Trabalho Utilitário e a expectativa econômica em torno deles. Salvo honoráveis exceções, não sabemos o que é “Ars Gratia Artis” ou “As 7 Artes Liberais”. Isto é péssimo ao Viver Bem: combinar valores materiais e supramateriais não necessariamente espirituais. Vivemos como quelônios estranhos: uma miséria interior obrigada a carregar a carapaça enorme, pesada e asfixiante. Gordo por fora e esquálido por dentro, um perfeito quasímodo. “Mais Platão, Menos Prozac”, de Lou Marinoff já ajudaria contra a mercê do “deixa a vida me levar, vida leva eu”. Não é questão de inteligência, mas sim de estímulo ao exercício da vontade individual como alavanca da evolução civilizatória. Mas, afinal, é possível pertencer à “Classe Ociosa”? Claro! Constitua algum lastro – Patrimônio Ativo e Renda Passiva – e se entregue a Atividades não Utilitárias: pinte, borde, dance, toque e cante; leia muito, escreva, fale, viaje, corra e plante. Quem sabe alcançará notoriedade por destreza em alguma arte? E se for possível Lazer e Consumo Conspícuos, parabéns! Senão, seja feliz com pouco! Frugalidade relaxa. Megalomania tensiona e envenena o corpo e a alma. Bem... precisamos mesmo é da essência do ser gente!

1) Destaques da Matéria no Site: http://tab.uol.com.br/trabalho Confira o ranking crescente de 100 profissões com probabilidade de extinção.

Presenteísmo: "Estar presente no trabalho, mas não - necessariamente - trabalhando", por defeito de gestão. (Adaptado da fala de Luiz Edmundo Rosa, diretor de educação da Associação Brasileira de Recursos Humanos)

Outros: "Nós temos de viver o tempo, criar pessoas com essa visão moderna de que você é o mestre do seu tempo" (Luiz Edmundo Rosa)

"A discussão sobre o tamanho da Jornada de Trabalho faz parte desde a Revolução Industrial e Capitalista desde o século XVIII" (Adaptado da fala de Wilson Amorim, Professor Doutor da FEA/USP)

"Sim, é viável um modelo que permita trabalhar menos e viver mais. Mas não sem muito trabalho antes..." (Paulo Terron)

"Armas de fogo não são boas nem ruins - são usadas para o bem ou para o mal. O mesmo ocorre com a tecnologia, ela pode nos libertar ou nos escravizar". (Nigel Marsh, especialista em equilíbrio entre vida pessoal e trabalho) "Precisamos repactuar a duração da jornada socialmente, algo que os europeus fazem mais; colocar numa mesa empresários, trabalhadores e governo para construir um pacto" (Prof Dr Mário César Ferreira, do Departamento de Psicologia Social e do Trabalho do Instituto de Psicologia da UnB)

"Tudo que não te deixa espaço é muito mais produtor de mal estar. Somando isso a uma vivência duradoura, é promotor de doença" (Prof Dr Mário César Ferreira)

Muito interessante! A questão é que o trabalho é uma peça essencial na vida de qualquer pessoa adulta - e não só como provedor de salário. Ele funciona também como estruturador psíquico, algo que está fundamentalmente ligado à vida de cada indivíduo. "Não é à toa que, quando pessoas se encontram pela primeira vez, as primeiras perguntas que aparecem são: 'O que você faz?' e 'Onde você trabalha?'. "O trabalho, no limiar do século nas sociedades ocidentais, virou sinônimo de emprego e salário e quem não os tem não tem cidadania". (Explica o Prof Dr Mário César Ferreira) Então, se o trabalho tem essa importância toda, por que queremos trabalhar menos?

Os maiores argumentos a favor de uma jornada de trabalho mais curta ou mais flexível, são: (a) o crescimento da produtividade; (b) o aumento da criatividade e a melhoria na saúde, e; (c) redução do estresse dos funcionários. FUTURO DIFERENTE: SEU TRABALHO PODE SER EXTINTO: Não existe revolução sem mudanças radicais; um estudo da Universidade de Oxford analisou a possibilidade de extinção de profissões nas próximas décadas, substituídas por computadores. - O Programador de Computar tem 48% de probabilidade de extinção. Que ironia!? - A operadora de telemarketing 99%; ih, o governo terá que criar o Bolsa Operadora de Telemarketing.

2) Destaques do livro “Elogio ao Ócio”, de Russell: “Desde o início da civilização até a Revolução Industrial, um homem podia, como regra geral, produzir com trabalho duro um pouco mais do que o necessário para a subsistência de si próprio e de sua família, ainda que sua mulher trabalhasse pelo menos tanto quanto ele, e seus filhos colaborassem desde muito cedo. O pequeno excedente acima das necessidades básicas não era deixado para aqueles que o produziram, mas era apropriado por guerreiros e sacerdotes. Em tempos de fome não havia excedente; os guerreiros e sacerdotes, entretanto, ainda tinham tanto quanto em outros tempos, e como resultado muitos dos trabalhadores morriam de fome. Este sistema persistiu na Rússia até 1917.” Adendo: Leo Huberman relata: “A sociedade feudal consistia de 3 classes: sacerdotes guerreiros e trabalhadores, sendo que o homem que trabalhava produzia para ambas as outras classes: eclesiástica e militar.”

"O lazer é essencial à civilização, e em outros tempos o lazer para uns poucos somente era possível pelo trabalho de muitos. Mas seu trabalho era valioso não porque o trabalho seja bom, mas porque o lazer é bom." "Quando sugiro que a jornada de trabalho deveria ser reduzida para quatro horas, não quero dizer que todo o tempo restante deveria necessariamente ser gasto em frivolidade pura. Quero dizer que um dia de trabalho de quatro horas deveriam ser suficientes para as necessidades e confortos elementares da vida, e que o resto de seu tempo deveria ser seu para usá-lo como achasse conveniente. (...). Os prazeres das populações urbanas se tornaram na maior parte passivos: ver filmes no cinema, assistir jogos de futebol, escutar rádio, e assim por diante. Isto resulta do fato de que suas energias ativas são totalmente gastas com o trabalho; se tivessem mais lazer, iriam aproveitar novamente os prazeres nos quais tem um papel ativo." "O fato é que mudar corpos de lugar, ainda que em certa quantidade seja necessário à nossa existência, não é, em absoluto, um dos objetivos da vida humana. Se fosse, teríamos que considerar todo operador de britadeira superior a Shakespeare. Temos sido enganados neste aspecto por duas razões. Uma é a necessidade de manter os pobres aplacados, o que levou os ricos, por milhares de anos, a defender a dignidade do trabalho, enquanto cuidavam eles mesmos de se manterem indignos a este respeito. (...) Se se perguntar a ele qual é a melhor parte da sua vida, não é provável que ele diga: "Eu gosto do trabalho manual porque ele me faz sentir que estou fazendo a tarefa mais nobre do homem, e porque eu gosto de pensar o quanto o homem pode transformar o planeta. É verdade que o meu corpo necessita de períodos de descanso, que devo preencher da melhor forma possível, mas eu nunca fico tão feliz quanto quando chega a manhã e eu posso retornar ao trabalho duro do qual provém o meu contentamento". Eu nunca ouvi trabalhadores dizerem este tipo de coisa. Eles consideram o trabalho como ele deve ser considerado, um meio necessário à sobrevivência, e é de seu lazer que eles obtém qualquer felicidade que possam ter."

A Classe Ociosa: (já citado, objeto da obra “A Teoria da Classe ociosa” de Thorstein Veblen) "No passado havia uma pequena classe ociosa e uma grande classe trabalhadora. A classe ociosa desfrutava de vantagens para as quais não havia base em justiça social; isto necessariamente a fez opressiva, limitou sua simpatia, e levou à invenção de teorias para justificar seus privilégios. Isto fez diminuir enormemente a sua excelência, mas apesar disto ela contribuiu com quase tudo do que chamamos de civilização. Ela cultivou as artes e descobriu as ciências; escreveu os livros, inventou as filosofias, e refinou as relações sociais. Mesmo a libertação dos oprimidos foi geralmente iniciada de cima. Sem a classe ociosa, a humanidade nunca teria emergido da barbárie. O método da classe ociosa sem deveres, entretanto, gerou enormes desperdícios. Nenhum de seus membros tinha que aprender a ser trabalhador, e a classe ociosa como um todo não era excepcionalmente inteligente. A classe podia produzir um Darwin, mas a ele se opunham dezenas de milhares de proprietários rurais que nunca pensavam em nada mais inteligente do que caçar raposa e punir invasores de propriedades. No presente, espera-se que as universidades forneçam, de forma mais sistemática, o que a classe ociosa fornecia acidentalmente (...). As instituições acadêmicas, portanto, úteis como são, não são guardiãs adequadas dos interesses da civilização em um mundo onde todos fora de seus muros estão ocupados demais para objetivos não-utilitários." “Em um mundo em que ninguém seja compelido a trabalhar mais do que quatro horas por dia, quem possuir curiosidade científica será capaz de satisfazê-la, e todo pintor será capaz de pintar sem passar por privações, qualquer que seja a qualidade de suas pinturas. Jovens escritores não precisarão procurar a independência econômica indispensável às grandes obras, para as quais, quando a hora finalmente chegar, terão perdido o gosto e a capacidade.” “(...) Uma vez que os homens não ficarão cansados em seu tempo livre, eles não exigirão somente diversões passivas e monótonas. Ao menos um por cento provavelmente devotará o tempo não gasto no trabalho profissional para objetivos de alguma importância pública e, como não dependerão destes objetivos para viver, sua originalidade não será tolhida, e não haverá necessidade de adaptar-se aos padrões estabelecidos pelos velhos mestres." "Os métodos modernos de produção nos deram a possibilidade de bem-estar e segurança para todos; escolhemos, ao invés disso, ter sobretrabalho para alguns e privação para outros. Ainda somos tão energéticos quanto éramos antes do surgimento das máquinas; neste aspecto temos sido tolos, mas não há razão para continuarmos sendo tolos para sempre. Desde então, os membros do Partido Comunista conseguiram o privilégio dos guerreiros e sacerdotes."

Francisco de Lima Gomes

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