«Funções sociais da competência plurilingue nos séculos áureos peninsulares», in Á. Marcos de Dios, ed., Aula Bilingüe, vol. I, Investigación y archivo del castellano como lengua literaria en Portugal, Salamanca, Luso-Española de Eds., 2008, pp. 137-212.

July 22, 2017 | Autor: Pedro Serra | Categoría: Comparative Literature, Iberian Studies, Literatura Portuguesa
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FUNÇÕES SOCIAIS DA COMPETÊNCIA PLURILINGUE NOS SÉCULOS ÁUREOS PENINSULARES

Arquivo digital, processo de investigação e estudos de caso na constituição da BDCLLP

Pedro Serra O CATÁLOGO RAZONADO, COMPANHEIRO DO IMPÉRIO A Base de datos del castellano como lengua literária en Portugal ou, em menção abreviada, BDCLLP, é um catálogo e arquivo bibliográficos em formato digital.1 O projecto de investigação na origem deste acervo, El castellano como lengua literaria en Portugal, trata de prosseguir os esforços que têm vindo a ser realizados no sentido de potenciar os estudos comparados portugueses e espanhóis, favorecendo o papel catalizador da Universidade de Salamanca neste domínio. Criando, fundamentalmente, as condições materiais que permitam dar continuidade ao desenvolvimento de relações de investigação com outras instituções académicas do Estado Espanhol, de âmbito internacional – europeu, americano –, e de forma destacada do espaço académico português. Concretamente, o cronótopo contemplado por esta investigação inclui a produção literária dos finais do século XV a meados do século XVIII, fundamentalmente os conhecidos como sendo os ‘séculos clássicos’ de ambas as sociedades peninsulares. O núcleo duro textual visado pelo projecto de investigação, ao tomar como base de sustentação o conhecido Catálogo razonado biográfico y bibliográfico de los. autores portugueses que escribieron en castellano de Domingo Garcia Peres (1980)2, encontra-se Este trabalho insere-se no projecto de investigação “El castellano como lengua literaria en Portugal” HUM2005-01998 (MEC, Espanha) cujo investigador principal é o Prof. Ángel Marcos de Dios (Salamanca). A equipa de investigação integra os Profs. Dieter Messner (Salzburgo), Carlos Reis (Coimbra), Ana María García Martín (Salamanca), Eduardo Javier Alonso Romo (Salamanca), Pedro Serra (Salamanca) e Jacobo Sanz Hermida (Salamanca). Solicitado e concedido em 2005, vigente de 2006 a 2008. 2 Domingo Garcia Peres, Catálogo razonado biográfico e bibliográfico de los autores portugueses que escribieron en castellano, Madrid, Imprenta del Colegio Nacional de Sordo-Mudos y de Ciegos, 1890. As referências ao volume de Garcia Peres, neste texto, são abreviadas por Catálogo razonado, seguido da indicação da página. Ana Isabel Buescu esclareceu alguns dados biográficos do autor: “Nascido em Portugal de pais espanhóis em 1812, Garcia Peres doutorou-se em medicina em Cádiz, estabelecendo-se em Setúbal, por cujo círculo eleitoral chegou a ser deputado em 1852. Faleceu em 1902.” (“Aspectos do 1

vinculado à Monarquia Dual, se bem que é conhecida e manifiesta a extrema produtividade do uso do castelhano por autores portugueses aquém e além dessa etapa política e cultural. Tomando, pois, como centro gravitatório o Catálogo razonado de Garcia Peres, a muitos títulos imprescindível, mas insuficiente, o trabalho de investigação articulou a colação e análise crítica de outras fontes bibliográficas secundárias. Fundamentalmente, foram distinguidas obras de representação bibliográfica diversa e em suportes materiais também diversos. Por um lado, foi necessário compulsar obras generalistas como a Bibliotheca Lusitana, 1741-1759, de Diogo Barbosa Machado; o Dicionário Bibliographico Portuguez, 1858-1922, de Inocêncio Francisco da Silva; ou, ainda, inventários catalográficos especializados de genera discursivoliterários específicos, catálogos singularizados de autores específicos, de períodos cronológicos determinados ou repertórios de instituições específicas. Perspectivado como work in progress, necessariamente movido pela revisão crítica do volume de Garcia Peres, a materialização dos resultados passa pela constituição da BDCLLP. Contudo, sublinhe-se, não se esgota nela: há uma pulsão, digamos, temática, no horizonte prospectivo da investigação: o estudo do “castelhano como língua literária em Portugal”. Dado o perfil necessariamente crítico do trabalho de investigação, impõem-se algumas considerações prévias. Ora, que tipo de informação podemos encontrar no Catálogo razonado biográfico y bibliográfico de los autores portugueses que escribieron en castellano de Garcia Peres? De que modo podemos usar este volume como ponto de partida para uma Base de Dados do Castelhano como Língua Literária em Portugal? Qual é o capital heurístico da obra de García Peres para a configuração de um arquivo?3 bilinguismo portugués-castelhano na época moderna”, Hispania, LXIV/1, núm. 216, 2004, p. 14, n. 3). 3 A importância do catálogo é bem conhecida. Sirvam de exemplo as seguintes palavras de Francisco Bethencourt: “Le catalogue de Domingo Garcia Peres, publié en 1890, comprend environ 600 auteurs portugais qui ont écrit en castillan. Bien que ce très précieux outil de travail n’ait pas encore été corrigé et complété après plus de cent ans, l’importance d’auteurs et de traducteurs qui ont vécu en Castille – dont plusieurs n’ont pas fait l’objet d’étude – est évidente.” (in AA.VV., La littérature d’auteurs portugais en langue castillane, Lisboa/Paris, Centro Cultural Calouste Gulbenkian, 2002, p. IX). Entretanto, têm vindo a ser activados projectos de investigação vinculados ao Catálogo razonado, como é o caso de “O Teatro Escrito em Espanhol em Portugal durante os Siglos de oro”, levado a cabo por um grupo de investigadores da UNL (Lisboa) e da UCarlos III (Madrid). Cf. Teresa Araújo, “A dramaturgia de autores portugueses em língua espanhola (séculos XVI-XVIII): notas de uma investigação em curso”, Revista … à Beira, nº6, UBI, 2007, pp. 157-176.

Responder a estas questões é fundamental para estruturar um depósito crítico de informação bibliográfica. O processo de resposta a estas questões é produtivo na medida em que nos coloca perante as dificuldades inerentes a um trabalho de investigação desta natureza. Vejamos. O projecto bibliográfico de Garcia Peres, de recorte iberista,4 insere-se num programa de reintegração dos textos em língua castelhana escritos por autores portugueses ao Império da língua e cultura espanholas. Em palavras do próprio autor, o universalismo da língua castelhana é um facto do imperium de “exércitos e armadas”. O caso de Portugal, “país contíguo”, fora beneficiado pela proximidade da língua, religião e origem: Cuando en los dominios españoles no se ponía el sol, aun eran más extensos los horizontes por donde se dilataba la lengua castellana, crecida y robustecida por la savia con que la italiana, después del Renacimiento, se había desarrollado vigorosa. Una y otra lengua habían llegado a la perfección de poder hacer propios, sin pérdida de su galana concisión y nerviosa energía, los clásicos griegos y latinos; más ninguna como la castellana dispuso del medio poderoso de sus ejércitos y armadas, que la hicieron universal, oficial y de moda en las naciones que sometía, en los países que conquistaba y mundos que descubría. Su propagación e influjo fueron (a pesar de distancias y de diversidad de lenguas, religión, climas y aun de razas) tan grandes, como su imperio. Cual fuese el influjo que ejerció en un país contiguo, de casi la misma lengua, de una misma religión e igual origen, es lo que nos propusimos é intentamos averiguar en este modesto trabajo, que ofrecemos a la Nación española, ganosos de aliviar nuestro pecho del peso de la gratitud, pagándole el tributo que le debemos por toda nuestra educación literaria, que como a propio hijo nos dio generosa en su regazo. Movidos de este sentimiento, no tememos que pueda, ni aun presumirse, que nuestro fin sea defraudar el rico tesoro de la literatura castellana de algunas flores y perlas, que no porque

Ana Isabel Buescu chamou a atenção para a polémica gerada pelo Catálogo razonado, uma polémica associada precisamente à voga da “questão ibérica”, como é sabido detonada a partir de meados do século XIX. Cf. op. cit., p. 16, n. 13. 4

fuesen mandadas de las tierras y playas lusitanas, dejan de pertenecerle.5 A peça de Garcia Peres é notável a vários títulos. Resultado de uma investigação ingente que, todavia, é necessário manifestar ser “modesto trabalho”. O livro desmente a modéstia mas, sendo da ordem da “gratidão”, é da ordem de uma dívida que nunca se chegará a poder pagar, pois o pagamento aumenta a dívida. A obra pretende legitimar – auto-legitimando-se no mesmo lance –, a incorporação ao “tesouro da literatura castelhana” de “flores e pérolas” de uma massa textual marcada pela distância, se bem que pequena: uma massa textual que provém de um espaço – as “terras e praias lusitanas” – que é quase como o espaço a que pretende advir. Massa textual de um “país contíguo” e de “quase a mesma língua”, pode todavia perfazer a passagem porque, fazendo esse quase toda a diferença, não faz diferença nenhuma pois provém de uma “mesma religião” e uma “igual origem”. O que facilita as coisas, se as coisas forem comparadas com espacialidades mais marcadas ainda, onde a contiguidade com o espaço que estabelece todo o valor, o centro que é todo ele “tesouro”, é mais problemática: noutros lugares, a “diversidade de línguas, religão, climas e, ainda, de raças” obriga a levar a vanguarda de “exércitos e armadas”. Garcia Peres diz-nos desde logo que esses horizontes perderam “extensão”. Digamos que o mundo encolheu, isto é, perdeu espaço. Mas dessa geografia física e espiritual originária perdida, desse Planeta Católico – título de um livro de Campuzano y Sotomayor (1646) –, ficou precisamente uma espécie de mapa que é precisamente o “tesouro da literatura castelhana”. Mapa sem terra, ou com pouca terra, tem a vantagem de ser feito de fronteiras moventes, ou até nenhumas. As linhas divisórias podem ser cruzadas, mediante cortesias. Como a “modéstia” do Catálogo razonado, precisamente. Mas será assim? É que tanto o doador grato como a prenda dada em gratidão se situam num lugar instável, o de ser como. Vimos já que o espaço linguístico de onde provêm as “flores e as pérolas” é quase como aquele a cujo bojo pretendem regressar (ou que regressem). Também Garcia Peres, por seu turno, se representa na peça, textualmente, “como filho próprio”. Não exactamente ‘filho’, mas ‘como filho’. Como filho de um “regaço” que é a “Nação espanhola”. Em resumo, três variações desse “quase” que faz diferença: a língua portuguesa, a massa textual, o autor do livro.

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Catálogo razonado, p. XI.

O “regaço”, é bom de ver, terá de reconhecer serem todos eles – língua, textos, autor – filhos legítimos. A função desse reconhecimento é da responsabilidade da matriz que estabelece todo o valor: a Real Academia Espanhola. E é neste sentido que vamos agora interpretar o parecer do secretário da academia, Manuel Tamayo y Baus, que a 5 de Novembro de 1887 despacha favoravelmente a publicação da obra, a expensas do “Governo de S. M. com toda a bizarria que permitam as leis”. Efectivamente, para além do documento de Garcia Peres transcrito, o volume é ainda antecedido por paratextos que vale a pena analizar. Em primeiro lugar, temos um despacho do Director Geral da Instrução Pública, datado de 25 de Janeiro de 1888. Navarro y Rodrigo, em nome da lei régia (artigo 5.º e outras determinações do Real Decreto de 12 de Março de 1875) e da Rainha Regente, determina a publicação do volume com apoio do Estado Espanhol, ao abrigo da lei mencionada e do orçamento vigente para o Fomento das Letras e das Ciências. A ordem é tomada depois de Manuel Tamayo y Baus, já mencionado, ter emitido parecer positivo em nome da Real Academia Espanhola. Tratase, este, de um documento relativamente extenso, oscilando entre o elogio do trabalho de compilação levado a cabo por Garcia Peres e a exposição da importância do volume. O argumento central do texto de Tamayo y Baus reside na ideia de que o Catálogo razonado acrescenta um conhecimento que corrobora a unidade da Península Ibérica. No mesmo lance, Península Ibérica equivale a Espanha. Para tanto, o académico espanhol desvincula a fenomenologia cultural dos avatares históricos. Se os primeiros manifestam uma “pureza” intelectual e moral que transcende a dissensão territorial – isto é, a separação política e jurídica das nações portuguesa e espanhola –, “pureza” na medida em que os objectos morais e intelectuais são essências; os segundos decorrem de acidentes e circunstâncias. Eis o lugar do parecer em que se consignam estas noções: de suyo y desde luego autoriza este libro a elevar la importancia de esta obra a la categoría de nacional, puesto caso que en ella se entrañan y sintetizan cuestiones de primera importancia para nuestro país, relacionadas con la unidad de raza, de pensamiento y de lenguaje de la península ibérica; unidad que si en el campo de los hechos históricos tiene contradictores, en este esfera purísima intelectual y moral se impone irresistiblemente como obra de la misma naturaleza que en un

molde único y solo ha formado la región donde españoles y portugueses habitamos.6 Como podemos constatar, a “pureza” intelectual e moral é assistida por outras duas essências: a nação (com extensões na “raça”, no “pensamento” e na “linguagem”) e o território, que coalescem numa mesma unidade. Só assim se compreende que conceda ao Catálogo razonado ser elevado à “categoria de nacional” e seja de “primeira importância para o nosso país”. Ao dizer “nosso país”, claro está, refere-se exclusivamente a Espanha. Mais adiante, reconduz a unidade a uma categoria espacial: a geografia peninsular – a Península como território uno – é um a priori territorial que determina a “pureza” dos objectos intelectuais e morais nela produzidos. Estaba reclamando el progreso bibliográfico un libro semejante al que hoy se nos ofrece, donde se deslindan los elementos que cada idioma ha llevado a la cultura peninsular, y se pusiera como quien dice de bulto el curioso fenómeno que presenta la literatura portuguesa expresándose en castellano en aquellos períodos en que, al parecer, han sido los odios políticos más vehementes; señal indudable que fueron postizos y como impuestos por intereses bastardos y transitorios. La naturaleza prestaba contra lo artificial que se le imponía.7 O modelo dos processos históricos, da história literária e das línguas que subjaz ao parecer de Tamayo y Baus é um modelo históricolinguístico-literário nacional, por um lado teleológico e fazendo conter na Origem, isto é, no cronótopo do Planeta Católico, toda a história. Ainda, articula o nacional em função tanto de uma determinação geográfica – sempre regionalizante – como de um cosmopolitismo radical – universalizante na medida em que subsume regiões. John E. Joseph recordou recentemente que os sentidos etimológico e expandido de “nação” – comunidade unida pelos laços de nascimento, por um lado, e território habitado e governado por um centro de poder unificado, por outro – aparentemente coalescem na noção de Estado-Nação. Este seria, diz-nos, ainda, um mapa utópico para o purismo nacionalista.8 Catálogo razonado, p. V. Catálogo razonado, p. VI. 8 Cf. John E. Joseph, Language and Identity. National, Ethnic, Religious, Palgrave Mcmillan, 2004, p. 92. 6 7

E, todavia, atravessa o parecer de Tamayo y Baus uma tensão irresolúvel que radica, por um lado, na determinação geográfica dos autores reunidos no catálogo (“não somos nós”) e, por outro, no uso de uma língua literária – a castelhana – que, enquanto precisamente corpo literário, extravaza o vínculo geográfico. Os portugueses que escrevem em castelhano são universais na medida em que fazem uso de um valor universal dado que é a língua castelhana. Contudo, o castelhano dos portugueses é contraditório, pois têm de continuar a ser subsumidos pela determinação geográfica ou deixariam de “ser portugueses”: o que, de resto, não podem deixar de ser, pois a língua castelhana, neles, é contaminada (isto é, é marcada pela marca da situação excêntrica dos que a escrevem). Nem o próprio Catálogo razonado escapa a esta lógica: efectivamente, o secretario da Academia não deixa de corrigir o castelhano de Garcia Peres, falante da língua nascido em Portugal e de pais espanhóis; demasiado exposto a um espaço outro que lhe hibridiza a língua – uma geografia que a lusitaniza –, votando-a assim a uma necessária expurgação: “Finalmente ciertos portuguesismos de que el estilo puede adolecer, también serán fácilmente corregidos”.9 Corrige a língua castelhana de Garcia Peres, como de resto corrige uma falta certamente maior: do corpus do manuscrito do catálogo apresentado não fazem parte obras escritas por missioneiros portugueses que escreveram em castelhano. Uma ausência que fere directamente a unidade do castelhano como língua universal, isto é, língua evangelizadora: Corrección no menos fácil ofrecerá a los numerosos amigos que el autor se ha granjeado entre los literarios españoles y en esta misma Academia, que se honra contándole ha muchos años entre sus correspondientes, la falta de algunos datos encerrados en nuestras crónicas religiosas, principalmente de Indias y Filipinas, donde relativamente abundan frailes portugueses que en el idioma común a sus hermanos de hábito han expuesto de mil modos los servicios que a la religión y a la patria común los misioneros hacían, recordando a la Academia al P. Lisboa, muy versado en los dialectos filipinos, de que escribió Gramáticas y Diccionarios, a Fr. Manuel de Olivenza, apóstol de los montes de Baler en el siglo pasado, con cuyos trabajos tejió curiosas Relaciones impresas y manuscritas, y algunos otros.10 9

Catálogo razonado, p. IX. Catálogo razonado, p. IX.

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O corpus textual em castelhano dos ‘autores portugueses que escreveram em castelhano’ tem, assim, uma acomodação difícil no corpo transcendental dos “tesouros da língua espanhola universal”. Não é exactamente literatura espanhola, é antes um epifenómeno dela. Assim, reincorpora-se ao todo, mas funciona nele como um limite interno que, na sua degradação/corrupção, hipostasia a Origem, uma Origem que fosse unidade de “raça”, “pensamento” e “linguagem”. Origem que é um mundo sempre diurno, mapa utópico. Aliás, a metáfora do mapa está também no texto do secretário da academia. Garcia Peres pertenceria a uma estirpe de geógrafos das línguas e das literaturas peninsulares: “D. Nicolás Antonio y Barbosa, y en lo moderno Inocencio da Silva y Gallardo, mostraron siempre a las dos literaturas tan estrechamente unidas que en ellas es más difícil que en los mapas geográficos señalar con exactitud la alinea divisoria de cada pueblo.”11 Ainda assim, o double bind no cerne da reflexão autorizada de Tamayo y Baus reside no facto de a hipóstase de uma Península Una – unidade moral, intelectual, etc. – não rasurar por completo uma cisão topológica no seio da Península: a história que se conta dos ‘autores portugueses que escreveram em castelhano’ não se conta da mesma forma se for contada a partir de território espanhol ou se for contada a partir de solo português. Por outras palavras, não é a mesma história se contada por uma Real Academia Espanhola ou se contada por uma congénere situada nas “terras e praias lusitanas”. O mundo encolheu, mas há um pouco de terra a fazer toda a diferença sem deixar de fazer, ainda, diferença nenhuma. É esse pouco de terra que determina, enfim, a eleição do título. Pelo texto de Manuel Tamayo y Baus sabemos que Garcia Peres propõe dois possíveis: ou Ensayo de una biblioteca de libros castellanos de autores portugueses; ou Catálogo de los autores portugueses que escribieron en castellano. Tamayo y Baus recomenda a segunda hipótese, aduzindo as seguintes razões: Por lo pronto, la publicidad de títulos con que se espera, es tanto menos admisible, cuanto que el primero carece de prioridad, toda vez que no se trata siempre de libros escritos en castellano, ni aun de obras enteras en nuestro idioma, y el segundo titulo Catálogo de los autores portugueses que han escrito en castellano, sin más alteración que la que en el verbo hemos hecho

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Catálogo razonado, p. V.

expresa perfecta y propiamente el objeto de la otra, y debe ser el único que campée en su portada.12 Quando Tamayo y Baus opta por um dos títulos propostos por Garcia Peres, escolhe precisamente aquele que vincula a língua castelhana consignada no corpus textual do catálogo a autores cuja “nação” – isto é, cujo lugar de nascimento e este nascimento como nexo metafísico a uma comunidade imaginada com geografia discreta – é determinável. Garante do valor, isto é de correcções, escolhas e determinações, a peça do secretário da academia é percorrida por binómios que vão estabelecendo uma moral da história: há coisas “postiças”, “transitórias”, “artificiais”, por um lado; “verdades” e “natureza”, por outro. Dizer as verdades é pôr as coisas no sítio que devem ter. Neste sentido, Tamayo y Baus põe no lugar tanto o corpus dos autores portugueses como o autor do livro. Se diz que “puede asegurarse que los principales escritores de aquel reino prefirieron de un modo ostensible nuestro idioma al suyo”,13 também assevera que Garcia Peres é “un escritor portugués, que si no desciende de aquellos en línea recta como hablista, los aventaja quizá en amor verdadero a España y en conocimiento de nuestra literatura”. 14 Em suma, estamos perante um “catálogo companheiro do império”. O imprimatur significa que os filhos reconhecidos são, afinal, legítimos como filhos. A BDCLLP

E

A

QUESTÃO

DO

BILINGUISMO

LUSO -

CASTELHANO

A questão do “bilinguismo luso-castelhano” é, em grande medida, uma vexata questio. Tornou-se, como é sabido, num lugar comum dos estudos das relações latamente literárias entre os campos culturais português e espanhol. Como todo o lugar comum, é certamente um dos menos comuns dos lugares, pois a tópica tem vindo a ser acompanhada do reconhecimento de ser, ainda, o nosso, um conhecimento precário no que toca a este problema. Nas últimas décadas têm sido propostas algumas hipóteses de teoria, todas elas, contudo, cautas no alcance dessas mesmas teorias. Tudo se passa como se tudo soubéssemos sobre o problema – e daí a possibilidade de reduzi-lo a topos – e, Catálogo razonado, p. VIII. Catálogo razonado, p. VII. 14 Catálogo razonado, p. VIII. 12 13

simultaneamente, quase nada soubéssemos – daí as cautelas. Desde os inícios da década de 1980, por exemplo, Vázquez Cuesta retomava a matéria, na esteira de Dámaso Alonso, falando do uso “literário” de um castelhano aportuguesado, que “se transmitia directamente de escritor para escritor”15. A impureza deste uso do castelhano decorreria do seu uso “impostado”, isto é, cortesanesco, parte integrante não apenas das determinações de uma sociabilidade cortesã, como de um programa de distinção. Por outras palavras, uma moda interessada. Todavia, esta “teoria” tem várias tensões latentes por resolver. Indexa a cortesania, e especificamente o uso de uma competência lingüística, a uma noção de agência individual que não é certamente compatível com o modelo de sociabilidade e subjectivação no âmbito cortesão. Por outro lado, ao perspectivar um efeito de repetição do conjunto de usos de um castelhano aportuguesado assinala, na esteira de outros autores, terem fizeram sistema, mas sistema que é assolado pelo fantasma da possibilidade de cooptação. Que documentos materiais suportam esta teoria? Há divergências ponderosas, como sabemos, pois diferentes homens de letras intervieram no processo de impressão dos seus textos em castelhano auto-corrigindo-os.16 Usos manuscritos da língua castelhana, ou usos consignados em textos impressos? Por quem, onde, em função de que pragmática discursiva? Não conhecemos ainda cabalmente a competência linguística no uso do castelhano dos diferentes autores que vêm integrando o corpus do “bilinguismo lusocastelhano”. Como poderíamos reconstruir cada uma dessas competências? Sabemos, claro está, que não é o mesmo castelhano aquele que é usado pelo Condestável D. Pedro de Portugal, por Sá de Miranda ou por Francisco Manuel de Melo. Sabemos, entretanto, do suplemento de complexidade introduzido na questão pela instância mediadora que é a intervenção dos tipógrafos na correcção de castelhano na passagem do manuscrito para o impresso. Mas há diversas questões colocadas ao nível da materialidade e performatividade das línguas que não dominamos ainda. O núcleo argumentativo de Vázquez Cuesta reside na descrição da etapa central do uso do castelhano por autores portugueses – o seu momento álgido, ou seja, o cronótopo da monarquia dual – como decorrente de um estado diglóssico. A sociedade portuguesa, sem Cf. Pilar Vázquez Cuesta, A Língua e a Cultura Portuguesas no tempo dos Filipes, MemMartins, Publicações Europa-América, 1988, p. 43. 16 É o caso, entre outros, de Francisco Manuel de Melo. Cf. Joan Estruch Tobella, “Cuarenta sonetos manuscritos de Francisco Manuel de Melo”, Criticón, 61, 1994, pp. 730. 15

“autonomia” cultural suficiente, teria sido “colonizada” progressivamente pela cultura e língua castelhanas. Não sendo, digamos, um sujeito suficientemente auto-determinado, não teria oferecido resistência a ser subsumido pelo castelhano. Eis o lugar do ensaio onde podemos ler uma síntese deste argumento: “De tudo isto resultou que a penetração do castelhano em Portugal, sobretudo durante o período da monarquia dual, fosse tão intensa que ameaçasse fazer malograr a ainda pouco madura literatura portuguesa e deixasse marcas imperecíveis em algum género como o teatro e provavelmente a narrativa. Daí que comece a produzir-se um conflitivo estado de diglossia”. 17 A língua portuguesa, por conseguinte, como língua B, uma língua marcada na medida em que negativamente considerada do ponto de vista social. Esta descrição não coincide com aquela que é levada a cabo por outros estudiosos desta matéria. Vejamos dois casos, um deles proveniente do campo histórico-cultural, e outro do âmbito lingüísticocultural. Refiro-me, muito concretamente, a ensaios da responsabilidade da historiadora Ana Isabel Buescu e do linguista Ivo de Castro, ambos dialogando, até certo ponto, com o argumento de Vázquez Cuesta. O lugar do ensaio de Buescu em que se relativiza os postulados de Vázquez Cuesta prende-se com o axioma que, no argumento de Vázquez Cuesta, vincula língua e nação numa relação de determinação mútua subsumida ao primeiro termo. Buescu, reconhecendo a potenciação política do castelhano em virtude da nova situação político-jurídica da monarquia dual, faz uma importante ressalva: “A apreciação deste elemento deve, no entanto, obviar a uma interpretação unilateral e mecanicista dessa opção, ou seja, uma identificação simplista da utilização do castelhano como adesão ao domínio filipino, e a escolha do português como ‘bandeira’ de afirmação da nacionalidade. Ambas as situações se verificam, é certo, mas não pode estabelecer-se um paralelismo rígido entre a opção linguística e a lógica das fidelidades políticas”.18 A questão, fulcral, reside na necessidade – também hermenêutica – de desatar o nexo de “língua” e “nação” em que nação é, prioritariamente, um constructo da língua. O argumento diglóssico de Pilar Vázquez Cuesta não desautomatiza este nexo língua/nação. Indexar o uso da língua castelhana apenas ao facto da dominação é, porventura, o melhor exemplo de como o dispositivo diglóssico subsume a ampla fenomenologia comunicativa e expressiva seiscentista ao paradigma nacionalista de Vázquez Cuesta, op. cit., p. 53. Ana Isabel Buescu, “’Y la Hespañola es fácil para todos’. O bilinguismo, fenómeno estrutural (séculos XVI-XVIII)”, in Memória e Poder. Ensaios de História Cultural (Séculos XV-XVIII), Lisboa, Cosmos, 2000, p. 60. 17 18

oitocentos.19 Também o argumento de uma nefasta – ou, por simetria, bondadosa – influência do castelhano literário. A questão precisamente é que existia sentido e consciência de nacionalidade sem subordinar esse sentido e essa consciência a um uso linguístico exclusivo. Por outro lado, temos o ensaio de Ivo de Castro, que estabelece importantes discriminações conceptuais, a começar pela própria noção de bilinguismo.20 O panorama traçado por este linguista, neste sentido, relativiza diferentes pressupostos que têm marcado a reflexão sobre o Francisco Manuel de Melo, por exemplo, teria sido “uma vítima mais dessa diglossia de que tão poucos intelectuais lusitanos da época conseguiram salvar-se” (op. cit., p. 150), acrescentando o ter sido “tão difícil de erradicar o complexo de inferioridade lingüística que tinha produzido no povo português a anexão subordinada à monarquia espanhola durante sessenta anos” (ibidem, p. 151). Uma vez mais, estes são os termos de um nacionalismo de estado que não respondem pela forma como se entendia a nação e o Estado no cronótopo do Planeta Católico, para utilizar o título do livro de Campuzano y Sotomayor, de 1646, para o qual remete o ensaio de Fernando R. de la Flor, “Babilona colonial. Estrategias legitimadoras de la dominación en el barroco ibérico”, Estudios Portugueses. Revista de Filología Portuguesa, vol. 3, Salamanca, Caja Duero, 2003, pp. 143-157. A interpretação de Vázquez Cuesta, alinha a situação portuguesa durante a monarquia dual como sendo comparável à de uma “colónia africana ou americana” (cf. op. cit., p. 151), em estado de subsmissão tanto “pelo jugo das armas” como “pelo jugo da língua” (ibidem, p. 152). Colocada a questão nestes termos, retroprojecta sobre o período da monarquia dual um sentido para o uso do castelhano que reduz drasticamente as possibilidades da sua interpretação. A “nação portuguesa”, no ensaio de Vázquez Cuesta, é um sujeito transcendental que, no seu devir histórico infeliz teria “sucumbido” a Espanha. Significativamente começa em sede “pessoal” – o Condestável D. Pedro de Portugal por desgraça votado ao exilio e ao uso do castelhano – e conclui em sede também pessoal, interrogando-se sobre se teria sido, o de Francisco Manuel de Melo, “um caso de bilinguismo a nível pessoal e não social” (op. cit., p. 150). Entre ambos os casos, trágicos precisamente porque individuais, mas igualmente exemplares do sujeito transcendental português, o uso do castelhano vai sendo modelizado pelas seguintes fórmulas “morais”: “porque estava de moda na corte” (p. 44), “estão a deixar-se levar pela sua admiração” (p. 44), “oportunismo” (p. 48), “tentação de usá-lo” (p. 49), “capricho do público” (p. 49), “fascínio […] extraordinário” (p. 53). Parecem-me problemáticos, também, alguns dos termos da interpretação da apologética da língua dos gramáticos quinhentistas, sujeitos visceralmente patrióticos (cf. p. 55). A replicação dos gramáticos portugueses de quinhentos ao pioneirismo de Nebrija et alii não se afigura apenas solução reactiva ao avanço do império castelhano (isto é, apologia movida pela compensação de um generalizado, e supostamente interiorizado, “sentimento de inferioridade”) e ao prestígio culto do latim humanístico (um paradigma que sublinharia uma condição “pouco madura” da literatura, etc.). É, também, a construção de uma língua imperial por parte de uma nação/império dada. Uma nação, a portuguesa, um império, o português que, aliás, na universalização do Planeta Católico contribuiu com uma língua, a portuguesa, usada por agentes de catequização castelhanos. 20 Sobre esta questão, cf. o ensaio de Ana María García Martín incluído neste volume. 19

uso do castelhano por portugueses durante os séculos XVI a XVIII. Permito-me destacar, contudo, um distinguo importante levado a cabo no ensaio: entre o uso do português como segunda língua e o português como língua estrangeira, o que conduziria a dois modelos de falantes. Por um lado, falantes situados num estado de imersão linguística total e, por outro, falantes que convivem num espaço de ocorrência de duas línguas, sendo que uma delas é marcada como língua estrangeira.21 Este dispositivo permite a Ivo de Castro um desenvolvimento argumentativo que contorna a opção diglóssica de Vázquez Cuesta. Todavia, sobrelevo este modo de conceptualizar o uso do castelhano porque claramente expõe uma problemática que tem percorrido as reflexões sobre o bilinguismo: o que poderíamos chamar a espacialidade da língua e, ainda, o peso “teórico” que essa espacialidade detém na perspectivação das línguas.22 Este breve apontamento visa apenas sublinhar a pulsão material e performativa da BDCLLP enquanto arquivo bibliográfico e documental que pretende assistir ao estudo do “castelhano como língua literária em Portugal”. Como base de dados e arquivo não pode limitarse a uma dominante cumulativa de dados bibliográficos que se justificasse Cf. Ivo de Castro, “Sur le bilinguisme littéraire castillan-portugais”, in AA.VV., La littérature d’auteurs portugais en langue castillane, Lisboa/Paris, Centro Cultural Calouste Gulbenkian, 2002, pp. 14-15. 22 A competência do uso do castelhano vinculada à experiência do espaço, no texto de Ivo de Castro, faz sobressair a análise dos lusismos: “On dirait que la séparation des deux groupes d’écrivains selon leur compétence linguistique est detérminée par la fréquence et la persistence de leurs lusismes: plutôt rares dans le groupe ‘langue seconde’, abondants dans le groupe ‘langue étrangère’” (op. cit., pp. 15-16). Ora, esta analítica conduz a um resultado que, durante a monarquia dual, altera a lógica dos espaços diferenciados. Um António da Fonseca Soares, nunca residente em Espanha, regista na sua obra um número escasso de lusismos. O que nos alerta para a descontinuidade entre a geografia da língua e a geografia do espaço. É ainda aqui que Ivo de Castro faz um comentário em que podemos apreciar uma interpretação simetricamente oposta à de Vázquez Cuesta: “Je ne tomberai pas dans la piège de conclure que la cause de tout cela s’appelle Filipe II, III et IV. Boutade pour boutade, dire avec Magalhães Godinho que Philippe II n’a pas annexé le Portugal mais a été lui-même annexé par les classes dominantes portugaises se rapproche davantage de ce que doit être la vérité. L’union des deux couronnes répondait à un désir ressenti par des Portugais qui, bien avant, avaient été conquis par la culture espagnole (et peut-être par d’autres attraits plus matériels).” (op. cit., p. 18). Em Ivo de Castro, a “pénétration espagnole, consommé en 1580” (p. 19) é como que uma inevitabilidade histórica. Daí que a apologética da língua fosse uma espécie de resistência vazia: “Il s’agissait alors de résister contre l’inévitable” (ibidem). Trata-se, do meu ponto de vista, de um juízo ex post. E que, uma vez mais, como “teoria” faz coerência com os “factos” do uso do castelhano que reduz a sua ampla fenomenologia material e performativa. 21

apenas pela “descoberta” de novos autores e espécies biblográficas. A razão quantitativa é precisamente a que subordina o Catálogo razonado, e a que alimentava nele, ou na interpretação dele, a ideia reificada de um uso universal e preferencial do castelhano nos séculos áureos peninsulares. A BDCLLP E O MAL D ’ ARCHIVE É possível, digamos, pós-colonializar o aggiornamento do Catálogo razonado? Posto ser um catálogo “companheiro do império”, é talvez o próprio corpus material e textual que Garcia Peres submeteu às suas “razões” – é, o seu, um catálogo “razonado” – que pode trabalhar nesse sentido. Desde logo porque tanto o argumento de Garcia Peres como o parecer de Tamayo y Baus sobredeterminam a fenomenologia textual de uma península literária e culturalmente “bilingue” durante os séculos áureos a uma teleologia historicista e nacionalista com parâmetros oitocentistas. Já foram dados passos neste sentido, mas continua a faltar-nos instrumentos heurísticos que decorram de data textuais e bibliográficos de grande amplitude. Daí que uma revisão que pós-colonialize um arquivo deste corpus deva tomar como “arconte” a materialidade do acervo. É o nível material ou, se quisermos, performativo, do uso do castelhano por autores portugueses que a BDCLLP tem como horizonte “teórico”. Chamo a atenção, neste sentido, para um argumento de Vanda Anastácio num ensaio sobre a poesia em castelhano de Pero de Andrade Caminha, que me permito passar a citar extensamente: Il a été souvent signalé que le castillan écrit par les auteurs portugais du XVIe siècle presente de différences par rapport aux normes du castillan de l’époque. En effet, on trouve chez ces auteurs des constructions syntaxiques, des mots, des expressions, des traductions de phrases idiomatiques qui portent les marques de la langue portugaise. On y rencontré aussi des hésitations qui se traduisent, par hypercorrection, par des réalisations supercastellanisantes par l’application de certaines règles du castillan à des cas où elles ne devraient pas s’appliquer. L’examen de ces particularités révèle pourtant qu’il ne s’agit pas, le plus souvent, de fautes de “performance”, mais d’utilisations spécifiques de cette langue volontairement différenciées de l’usage de Castille. Sa cohérence relative a même permis de parler, comme l’ont fait Dámaso Alonso et Thomas Hart, d’un “langue littéraire”. Ces observations,

pertinents quand il s’agit du castillan d’auteurs des générations qui précèdent Caminha, comme Gil Vicente ou Sá de Miranda, ne correspondent pas à l’emploi du castillan par des écrivains comme Pero de Andrade ou Diogo Bernardes. Les différences que les poèmes de Caminha présentent par rapport au castillan de son temps son minimes, les rares lusismes qu’on trouve dans ses autographes correspondant à des lapsus de fixation écrite de la langue et ont un caractère purement orthographique.23 Para levar a cabo o up-to-date do Catálgo razonado, para configurar a BDCLLP, os termos que articulam este exemplo de leitura são importantes. Uma base de dados de, digamos, apenas meta-referências, não permite chegar ao nível material-performativo necessário para uma revisão cabal dos usos do “castelhano como língua literária em Portugal”. Há que, neste sentido, priorizar a representação de espécies bibliográficas manuscritas e impressas, de modo a poder localizar os documentos linguísticos e literários representativos para um avanço no conhecimento da competência plurilingue nos séculos áureos peninsulares. Por outras palavras, tanto a estrutura formal como o conteúdo da BDCLLP têm que permitir agilizar o acesso material aos documentos. Mais adiante, dou conta de dois exemplos distintos, com os quais pretendo demonstrar estes termos. O primeiro deles diz respeito a um conhecido texto, a “Carta de Mestre João”, como se sabe um dos textos que integram o corpus essencial da expedição e chegada de Pedro Álvares Cabral a Vera Cruz. É, do meu ponto de vista, um exemplo que permite objectivar diferentes questões. Peça escrita em castelhano – João Faras é de origem espanhola – e dirigida a D. Manuel, não deixa de ser um texto pontuado por lusismos. Não é um texto “literário”, pelo que não pode ser assimilado à casuística dos lusismos, e.g., de conhecidos autores teatrais castelhanos. Seja como for, do ponto de vista da pragmática discursiva e linguística, é um documento que concretiza os modos complexos de socialização dos individuos neste período. A carta, digamos assim, expôs diferentes agentes sociais a um “castelhano lusitanizado” de um falante cuja língua prioritária terá sido o castelhano. Opto, neste sentido, por falar de “competências plurilingues” para referir-me a uma agenciação social imersa num âmbito de performance linguística (e cultural) que supunha relação – ou bem “directa” (oral) ou “Réfléxions autor des poésies en langue castillane de Pero de Andrade Caminha”, AA.VV., La littérature d’auteurs portugais en langue castillane, Lisboa/Paris, Centro Cultural Calouste Gulbenkian, 2002, pp. 159-160. 23

bem “mediatizada” (escrita, quer manuscrita, quer impressa) – com várias línguas e culturas. Um Francisco Manuel de Melo não fez uso apenas do castelhano e da língua portuguesa. Usou também o francês e o italiano. Barbosa Machado deu conta desta competência plurilingue do polígrafo português: “Fallou com igual pureza que expediçaõ as linguas mais polidas da Europa explicando a fineza dos seus conceitos em qualquer dellas com tanta propriedade que parecia nascera em Madrid, Pariz, ou Roma”.24 Performance plurilingue que é, também, a exemplificada por um soneto quadrilingue de Vasco Mousinho de Quevedo Castelo Branco, a primeira quadra escrita em latim, a segunda em italiano, o primeiro terceto, em castelhano e o segundo em português.25 O caso de Pero de Andrade Caminha estudado por Vanda Anastácio mostra, ainda, a produtividade de uma perspectiva que interrogue a funcionalidade de cada língua na agência social em espaços concretos. A maior competência no uso do castelhano por autores seiscentistas em relação aos quinhentistas, não deixa de ser determinada por critérios de funcionalidade de extensão variável – o uso do castelhano num concreto genus é determinado pelo próprio género. Isto significa também, enfim, no exemplo que aduzi, que um documento como a Carta de Mestre João, em castelhano com lusismos, não nos autoriza a considerar automáticamente estarmos perante um falante cujas competências linguísticas sejam truncadas por interferência. Sejam um “erro performativo”, digamos. Seja como for, a casuística é irredutível a simplificações, a uma teoria de conjunto que homogeneizasse as competências plurilingues no cronótopo a que nos reportamos, dos séculos XVI a XVIII. A dimensão material e performativa a que tenta responder a BDCLLP relativiza, inclusivé, o conhecimento sobre o trabalho das línguas de autores como Francisco Manuel de Melo, que figura naquele corpus mais restrito de autores que viveram situações de imersão linguística castelhana continuada e prolongada no tempo. Se a base de dados apenas coligisse a referência bibliográfica às Obras Métricas, por exemplo – é o que faz um Garcia Peres –, não seria possível chegar ao nível material e performativo que dê conta do seguinte. Como estudou já há alguns anos Estruch Tobella, do cotejo dos sonetos em castelhano consignados no ms. autógrafo que se encontra na BNP (cód. 7644) com as respectivas Barbosa Machado, Biblioteca Lusitana, vol. XXX, p. 184, col. I. Cf. Discurso Sobre a Vida e Morte de Santa Isabel, Rainha de Portugal, e outras Varias Rimas, Lisboa, Manuel de Lira, 1596, fl. 85r. Apud Luís Gomes, “Les sonnets en Castillan de Vasco Mousinho Quevedo Castelo Branco”, in AA.VV., La littérature d’auteurs portugais en langue castillane, Lisboa/Paris, Centro Cultural Calouste Gulbenkian, 2002, p. 138. 24 25

versões das Obras Métricas, sobressai um ponderoso trabalho de autocorrecção linguística: “También hay que señalar que, en las ediciones, los epígrafes han sido modificados en casi todos los casos, haciéndolos más cortos. Por otra parte, se observa una preocupación por la corrección de anomalías ortográficas que con frecuencia aparecen en el manuscrito. Ello confirma que Melo vacilaba a la hora de utilizar una lengua que conocía bien, pero que no era la suya”. 26 Será suficiente a “correcção de anomalias ortográficas” para inferir uma competência linguística do castelhano truncada? A questão impõe-nos, sim, a necessidade de regressar ao arquivo, regressar aos documentos, impõe-nos a necessidade de uma aferição contrastiva com outros casos homólogos, etc. Enfim, o perfil crítico de uma base de dados requer o arquivo de documentos. O meio digital abre a possibilidade de potenciar a colação de documentos que permitam avançar no conhecimento destas questões, que não são outras que a questão do “castelhano como língua literária em Portugal”. Perante uma massa crítica e de data tão ampla, um dos âmbitos de desenvolvimento encetados é o do estudo da deriva do uso do castelhano, por um lado, e a deriva das competências plurilingues, por outra, se inscreve na mutação de espaços de acção comunicativa gremiais como são as Academias. Grosso modo, do âmbito das belles lettres cortesanescas de seiscentos – em que as academias de forte cunho “letrado” replicam a corte enquanto “lugar geométrico das hierarquias” (Emanuel LeRoy Ladurie)– à progressiva institucionalização de um novo tipo de identidade social, o moderno sujeito da ciência, vinculada no século XVIII com a invenção da objectividade racionalista, um novo modo de produzir conhecimiento e uma série de novos protocolos e determinações materiais de legitimação por parte desse novo modo de produzir saber e por parte do corpo de indivíduos especializados nessa produção. Do Barroco à Ilustração, do ‘cortesão’ ao ‘estrangeirado’, da corte à esfera pública, das “vésperas do Leviatã” (Antonio Manuel Hespanha) à configuração do Estado Moderno, do Planeta Católico ibérico ao cosmopolitismo universalista da Modernidade peninsular possível, os usos do castelhano e as competências plurilingues resemantizam-se: o problema intrínsecamente linguístico que se coloca (os seus actos, as suas performances, a produção e reprodução dos seus condicionalismos ideológicos e materiais) permite cruzar o estudo das representações, sobretudo o binómio nação/língua anterior aos termos vinculantes que o determinam com a consolidação do Estado-Nação “Cuarenta sonetos manuscritos de Francisco Manuel de Melo”, Criticón, 61, 1994, p. 8. Eu sublinho. 26

oitocentista. No século XVIII tão importante para a história peninsular (Subirats), cronótopo em que se joga, de forma decisiva, os avances e bloqueios de uma Modernidade peninsular certamente inconclusa ou “inacabada” (Harbermas), a convivialidade da “sociedade culta”, a sociabilidade dos novos sujeitos da ciência implicou reequacionar as competências plurilingues. En suma, trata-se de estudar e potenciar o estudo do papel que desempenharam as competências pluringues na configuração da solidariedade intelectual moderna. DISCURSOS

DO MÉTODO: PROCESSO E CONTINUIDADE DA INVESTIGAÇÃO

Façamos agora uma sinopse da forma como Garcia Peres procedeu ao reunir o material biográfico e bibliográfico inventariado no Catálogo razonado. Afigura-se necessário, ainda, descrever o modo como procedeu ao redigir cada uma das entradas ou verbetes. Há que interrogar, enfim, o rigor seguido na representação das obras “em castelhano” em cada uma das entradas. Teresa Araújo fez uma síntese muito certeira destes termos: “O manuseamento das suas mais de 600 páginas [...] primam pelo seu pioneirismo, mas também pelo seu carácter incompleto, por raramente indicarem o género dos títulos que referendam e por não serem rigorosas na informação linguística”.27 Os escolhos são, sem dúvida, muito ponderosos. A transcrição dos títulos, não sendo fidedigna nem sequer ao nível da língua, impõe um varejo crítico profundo e exaustivo. Anotar estas questões, entenda-se, tem uma dimensão construtiva, que não é outra que a de ponderar a possibilidade de rentabilizar informação aparentemente ociosa em cada um dos verbetes. O trabalho de Garcia Peres não teve como horizonte de recolha bibliográfica o compulsar “livro em mão” a bibliografia representada. Foi, prioritariamente, um trabalho realizado a partir de outros catálogos. Afirma, neste sentido: Y no pretendo vestirnos de ajenas plumas, á continuación publicamos la lista de algunos escritores, obras y documentos que hemos consultado para aprender, ejecutar y llevar á termino nuestro trabajo, del cual voluntariamente declaramos lo que el autor de la Biblioteca Asiática. “Decidiéndome á publicar esta obra, no la supongo exenta de omisiones y yerros, pero 27

Teresa Araújo, op. cit., p. 164.

desgraciadamente ésta es la falta de casi todas las obras de Bibliografía. Menester es no juzgarlas según debían ser, sino según el vacío que llenan.28 Assim, Garcia Peres compulsou catálogos bibliográficos de Amador de los Ríos, Nicolás Antonio, Pinelo, Barbosa, Inocêncio da Silva, Backer, Carayon, Sommervogel, Brunet, Franckenau, Morejón, Chinchilla, Cardoso, Souza, J. Figanière J., Teoph. Figanière, Aires d’Azevedo, Fonseca, Rivara, Castilho, Salvá, Costa e Siva, S. Rivero, Salazar e Castro, Barrera y Leirado, Sancho Rayón y Zarco, Ticknor ou Ribeiro dos Sanctos. 29 O aggiornamento que supõe a BDCLLP passa, então, pelo manejo de um corpo catalográfico fundamental. No final desta secção é apresentado um elenco selectivo de fontes bibliográficas, obras cuja consulta e estudo prévios são necessários para mediar a investigação in situ nas instituições bibliotecárias eventualmente visitadas. Obras de referência, sim, mas não apenas de carácter geral. Esta bibliografia, a título de exemplo, inclui desde trabalhos de índole catalográfica como os de Teresa A. S. Ferreira, (Catálogo da Colecção de Códices, 1999) ou Paulo J. S. Barata, (Catálogo da Colecção de Códices, 2001), ambos referentes a la Biblioteca Nacional de Lisboa, passando por inventários de leilões, catálogos de bibliotecas privadas, até catálogos que ainda permanecem manuscritos. O corpus tem de ser necessariamente português, espanhol e, mesmo, de outros âmbitos nacionais europeus e americanos. No que se refere à precariedade dos verbetes do Catálogo razonado, a potenciação do valor da base de dados passa pela configuração de uma acessibilidade à informação consignada em regime de pesquisas múltiples, facto que determinou o estabelecimiento de um conjunto de ‘campos’ que segmentam os registos. Neste sentido, foram concentrados esforços por encontrar as fórmulas mais idóneas que permitam optimizar as futuras pesquisas, uma vez que nãoo se trata de produzir um arquivo de descrições bibliográficas “estáticas”. Especial atenção mereceu a necessidade de colmatar a seguinte casuística: i. insuficiência da informação proporcionada tanto pelo matricial Catálogo de García Peres como, em muitos casos, pelas obras referenciais de carácter monográfico mencionadas; ii. indexação da produção literária anónima (a desvinculação do distinguo autoral agrava a certeza de proveniência das obras, suprida neste caso pela suficiência do critério 28 29

Catálogo razonado, p. XII. Idem, ibidem.

territorial/editorial), de que é exemplo o caso, muito copioso, do corpus de vilhancicos em castelhano que integra o acervo de reservados da Biblioteca Geral de Coimbra: da segunda metade do século XVII e primeira metade do século XVIII, somam 132 registos, integrando impressos em Lisboa, Coimbra e Évora;30 iii. discriminação dos registos referentes a obras monolingues e bilingues; iv. colação de obras de atribuição incerta; v. pesquisa de autores que não viveram apenas em território peninsular, mas também em França, Itália, Holanda ou Brasil; vi. integração coerente dos registos bibliográficos dos catálogos das diferentes instituições inquiridas: Biblioteca Nacional de Madrid, Biblioteca Nacional de Lisboa, Torre do Tombo (Lisboa), Biblioteca Pública de Évora, Biblioteca Universidad de Salamanca, Biblioteca Geral de la Universidad de Coimbra ou Biblioteca da Ajuda, entre outras. Esta casuística supõe um trabalho crítico evidente, ao obrigar a uma adequação ponderada de diferentes critérios de inclusão/exclusão na base de dados. O caso “v.” impõe desterritorializar a extensão “em Portugal” do título do projecto, já que obviamente existe obra em língua castelhana de autores portugueses produzida e editada fora das fronteiras peninsulares. Por outro lado, o caso “ii.” determina a ampliação do Catálogo razonado de García Peres, fundamentalmente um catálogo de “autores”. Ao mesmo tempo, a anonímia multiplica o espectro de genera, o que supõe a necessidade de limitar o conjunto de registos neste âmbito. Enfim, o caso “iii.” determina uma compulsão criteriosa do registo, uma vez que nem sempre os títulos em português ou castelhano representam obras monolingues. Por último, o caso “iv.” significa investigação suplementar da bibliografia secundária que confirme/infirme a genealogia do registo. Pelo que acaba de ser exposto, é conspícuo o perfil crítico da BDCLLP. Enfim, o desenvolvimento da BDCLLP, uma vez configurados os campos, protocolizada a descrição bibliográfica e sistematizada a prossecução da investigação, perfila-se como um processo iterativo. A acumulação de entradas repete um modelo operativo que, todavia, e em virtude da ampla casuística bibliográfica e fenomenologia textual, pode ir sendo ajustado às suas determinações materiais. É uma base de dados in progress, obviamente, cuja valência não passa apenas pelo “fechamento” do corpus textual processado. Neste sentido, contempla-se um desenvolvimento ‘modular’ de ‘estudos de caso’ autorais, de acervos específicos, áreas temáticas singularizadas ou genera concretos. Seja como for, do ponto de vista do estudo da competência plurilingue nos séculos 30

O trabalho neste corpus pertence ao Prof. Ángel Marcos de Dios.

áureos do campo cultural peninsular, prioriza-se do seguinte o desenvolvimento das entradas: i. ii.

iii.

iv.

v. vi.

Espécies bibliográficas de autores portugueses que viveram em Espanha dos séculos XV a XVIII e que utilizaram o castelhano como segunda língua; Espécies bibliográficas de autores do cânone da literatura portuguesa dos séculos XV a XVIII que ou utilizaram o português como segunda língua ou como língua estrangeira; Espécies bibliográficas de autores castelhanizantes desconhecidos ou escassamente representados no Catálogo razonado de Garcia Peres, tratados em regime de case study; Espécies bibliográficas em castelhano ou em português e castelhano que pertencem aos acervos da Biblioteca Nacional de Espanha, Biblioteca Nacional de Portugal e Universitárias de Coimbra e Salamanca; Espécies bibliográficas com documentos em castelhano vinculadas aos espólios das Academias literárias portuguesas dos séculos XVII e XVIII; Espécies bibliográficas de autores portugueses que escreveram em castelhano pertencentes às ordens religiosas agustiniana, dominicana e trinitária.

O desenvolvimento da DBCLLP simultaneiza estes ‘módulos’ de actuação prioritária, sem descurar muito embora o processo cumulativo de entradas cuja casuística não é, a priori, contemplada. A prossecução da investigação nestes termos tem por finalidade a produção de conteúdos informativos objectivamente úteis para o conhecimento da competência plurilingue nos séculos áureos peninsulares, especificamente no âmbito cultural de língua portuguesa. Ainda, os resultados parciais deste processo de investigação, tanto na sua dimensão bibliográfica como temática, dispõem de dois meios de publicitação. A secção de “Bibliofilia” da Revista de Estudios Portugueses (Salamanca, 2001-...) e a secção permanente de estudos sobre intercâmbios linguísticos português/espanhol da publicação ‘on line’ Aula Ibérica (2009-...); para além de outras publicações especializadas (dedicadas quer à história do livro, de estudos bibliográficos, literatura comparada ou lingüística contrastiva) de reconhecido prestígio. Neste sentido, a BDCLLP perfila o seu desenvolvimento, e a potenciação das

suas valências de investigação, em rede: contempla-se a possibilidade de estabelecimento de protocolos de trabalho com grupos congéneres de investigação e, ainda, com bibliotecas, instituições académicas e organismos oficiais que promovem a conservação e a recuperação do património intelectual peninsular. A dimensão colaborativa com resultados em aberto acumulará, ainda, a vinculação, através de novos projectos, de bolseiros de investigação. Qual a continuidade da pulsão arquivística digital da BDCLLP? Não se trata apenas da produção de um acervo bibliográfico de fácil acesso que agilize e rentabilize a investigação no âmbito dos estudos comparados portugueses e espanhóis. A pulsão arquivística da BDCLLP obedece também a um desígnio temático: por um lado, avançar positivamente no conhecimento do campo de estudos comparatísticos que incide sobre o cronótopo peninsular dos séculos XVI a XVIII; e, por outro, certamente prioritário, o de produzir modelos teóricos que permitam um conhecimento mais cabal dos problemas inerentes à sociabilidade em contextos plurilingues e, mais especificamente ainda, nos contextos institucionais de produção de conhecimento. Estudo, pois, da função identitária das línguas em contacto, sabendo que identidade e identificação resultam de uma imaginação do Outro e de uma auto-representação. Uma construção, neste sentido, com um aspecto notoriamente performativo: isto é, uma construção desenvolvida no tempo, mobilizando imagens consensuais e, justamente porque são produto de consensos, imagens passíveis de seres reequacionadas. Como processo, como pragmática discursiva, a “identidade” é un “acto” situado no tempo e no espaço. Neste sentido, a investigação de fenómenos linguísticos e culturales em contextos plurilingues não suspende a ponderação das suas determinações teóricas. Os factos linguísticos e culturais em territorialidades como a peninsular no cronotopo a que nos reportamos, são teorias miniaturizadas, isto é, só têm sentido em função de uma retícula teórica mais genérica. A valência da teoria depende do ajustamento ao facto, o valor do facto depende da sua adequação à teoria. Em virtude deste movimento circular inalienável, o desenvolvimento temático asociado à BDCLLP visa produzir um modelo comparativo de fenómenos linguísticos e culturais que seja congruente e consistente. A coerência de um modelo “comparativo” de línguas e culturas que gestionaram as suas identidades em função de uma complexa construção espacial é um dos valores sociais da investigação que a BDCLLP potencia.

Bibliografia de referência necessária para a revisão crítica do Catálogo razonado Para a elaboração deste corpo bibliográfico de referência foi tomado como ponto de partida, para o caso dos acervos portugueses, três trabalhos de índole catalográfica fundamentais: por um lado, os volumes preparados por António Joaquim Anselmo, Bibliografia das Obras Impressas em Portugal no Século XVI e por João Correia Arouca, Bibliografia das Obras Impressas em Portugal no Século XVII; e, por outro, o livro de Diogo Ramada Curto, Bibliografia da História do Livro em Portugal. Séculos XV a XIX.31 O sistema de abreviaturas visa facilitar a identificação do volume em causa e a sua representação com a maior economia de meios possível.32 Tanto Arouca como Ramada Curto priveligiam repertórios bibliográficos portugueses. O corpus que segue, contudo, incorpora volumes catalográficos do âmbito hispânico. Eis o elenco,33 anotando muito embora que se trata de uma selecção: Academia Almeida Ameal Anselmo

Academia das Ciências de Lisboa, Bibliografia Geral Portuguesa, vol. I-II, Lisboa, 1941/1942. Almeida, Francisco de, Documentos com informação bibliográfica de autores portugueses, 5 vols., 17211738. [Ms.]. Santos, José dos, Catálogo da notavel e preciosa livraria que foi do Ilustre Bibliófilo Conimbricense Conde do Ameal, Porto, 1924. Anselmo, António Joaquim, Bibliografia das Obras Impressas em Portugal no Século XVI, Lisboa, Oficinas Gráficas da Biblioteca Nacional, 1926.34

Excluo deste trabalho, de momento, a menção a publicações periódicas. Neste ponto a BDCLLP segue Arouca, fazendo muito embora algumas adaptações ponderosas e propondo algumas alternativas mais funcionais para o meio digital. 33 Assinalo com a fórmula [Ms.] os catálogos manuscritos. 34 Como recorda Ana Isabel Buescu: “Se é, pois, necessário atender à circulação das obras em língua castelhana que entravam no país, a própria imprensa reflecte também o ascendente castelhano, podendo apontar-se para o conjunto do século XVI, no que diz respeito à edição de obras em castelhano em Portugal, uma percentagem que não anda longe dos 15 por cento do total das obras impressas. Precisamente 13,7 por cento, percentagem que calculámos a partir do elenco das 1312 obras constantes da Bibliografia das Obras Impressas em Portugal no Século XVI de Anselmo que, embora incompleto, reflecte a orden de grandeza da questão que pretendemos sublinhar. O português alcança uma percentagem de 56 por cento e o latim de 30,3 por cento. Se deixarmos de lado as peças de circulação avulsa, o português desce para pouco mais de 50,8 por 31 32

Arouca

Arouca, João Frederico de Gusmão C., Bibliografia das Obras Impressas em Portugal no Século XVII, vols. Letras A-C, D-L e M-R, Lisboa, Biblioteca Nacional de Lisboa, 2001, 2003, 2005. Avila Perez Oliveira, Arnaldo Henrique de, Leilão Nº 75 (ao 80) Catálogo da riquíssima biblioteca Victor M. d’Avila Perez, Lisboa, 1939-1940. Azambuja Catálogo da rica e preciosa livraria que faz parte do espolio da fallecida Ex.ma Sr.ª Condessa de Azambuja, Lisboa, 1909. Azev.-Sam. Santos, José dos, Catálogo da importante e preciosissima livraria que pertenceu aos notáveis escritores e bibliófilos Condes de Azevedo e de Samodães, 2 vols., Porto, 1921-1922. Barbosa Machado, Diogo Barbosa, Biblioteca Lusitana, tomos I-IV, Coimbra, Atlântida, 1965-67. Barrera Barrera y Leirado, C. A. de la, Catálogo bibliográfico y biográfico del teatro antiguo español... hasta mediados del siglo XVIII, Madrid, 1860. Bertrand Algumas obras que tem mandado Jorge Bertrand para a Biblioteca, [s.d.]. [Ms.] BNE Catálogo colectivo del patrimonio bibliográfico español: siglo XVII, XX vols., Madrid, Arco Libros/Dirección General del Libro y Bibliotecas, 1988-. Bib. Luz. Barreto, João Franco, Bibliotheca Luzitana... Bib. Rib. Bibliotheca Ribeiriana, [s.d]. [Ms.] Braamcamp Freire, Anselmo Braamcamp, Vida e obras de Gil Vicente “Trovador, Mestre da Balança”, Lisboa, 1944. British British Museum Gerneral Catalogue of Printed Books, photolithographic edition to 1955, London, Published by the Trustees of the British Museum, 1966. Brito Ar. Aranha, Pedro Wenceslau de Brito, A obra monumental de Luiz de Camões. Estudos bibliographicos, 2 vols., Lisboa, 1886-1888.

cento. A esta realidade não é alheia, evidentemente, a presença de impressores espanhóis” (p. 55).

Brunet5

Brunet, Jacques-Charles, Manuel du libraire et de l' amateur des livres, 5ª ed., París, Librairie de Firmin Didot Frères, 1861. Br. Rebelo Costa, Augusto Sá da, Catálogo de duas importantes bibliotecas sendo uma delas a que pertenceu a erudito acadêmico, escritor e historiógrafo General J. I. de Brito Rebelo, Lisboa, 1933. BUC Albuquerque, António Maria Seabra d’, Bibliografia da Imprensa da Universidade de Coimbra, 13 vols., Coimbra, Imprensa da Universidade, 1874-1891. BUS Catálogo de manuscritos de la Biblioteca Universitaria de Salamanca, 2 vols., Manuscritos 1680-2777, Salamanca, Ediciones Universidad de Salamanca, 2002 CCI Catálogo colectivo de obras impresas en los siglos XVI al XVIII existentes en las bibliotecas españolas, sección I, Siglo XVI, letra C, Madrid, 1972. Carv.-Dic. Carvalho, Francisco Augusto Martins de, Diccionario Bibliographico Militar Portuguez, Lisboa, 1891. Cat. Bodoni Catalogo da Colecção Bodoni, [s.d.]. [Ms.] Cat. Pagl. Catalogo dos livros que Nicolau Pagliarini tem mandado para a Bibliotheca da Real Mesa Censoria pelo SubBibliothecario Thomaz Joze de Aquino, [1772-1775]. [Ms.] Cat. Pombal Catalogo da importante bibliotheca dos Marquezes de Pombal, Lisboa, 1988. Cat. RBPC Catalogo das compras efectuadas para a Real Bibliotheca Publica da Corte, desde a fundação até 1801, [s.d.]. [Ms.] Chaves Chaves, Luís, Subsídios para a História da Gravura em Portugal, Coimbra, 1927. Coimb. Res. Catálogo dos Reservados da Biblioteca Geral da Universidade de Coimbra, Coimbra, Acta Universitatis Conimbrigensis, 1970. Consiglieri Pedroso, Z. Consiglieri, Catalogo Bibliographico das publicações relativas aos descobrimentos portugueses, Lisboa, Academia das Sciencias de Lisboa, 1912. Cortez Pinto Pinto, Américo Cortez, Da Famosa Arte da Imprimissão, Lisboa, 1948.

Cruz

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Gallardo

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Ms. BNP

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Simón Díaz Impresos del siglo XVII. Bibliografía selectiva por matérias de 3500 ediciones príncipes en lengua castellana, Madrid, Consejo Superior de Investigaciones Científicas/Instituto “Miguel de Cervantes”, 1972. Tab. Rar. Tabella das Edições Raras até 1521 que há na Real Bibliotheca Publica da Corte, [s.d.]. [Ms.] Visc. Jur. Catalogo dos livros que pertenceram ao fallecido Ilustre Visconde de Juromenha, Lisboa, 1887. Façamos, uma vez mais a título de exemplum, a descrição sumária de uma incursão neste corpo bibliográfico de referência. É produtivo, para a revisão crítica sistemática de Garcia Peres, compulsar um catálogo de referência como o Catálogo de manuscritos de la Biblioteca Nacional con poesía en castellano de los siglos XVI y XVII, obra dirigida por Jauralde Pou. Um exemplo desta necessidade é a menção a textos de poetas portugueses como João de Matos Fragoso. Referencia-se, aí, no fol. 401 do Ms. 3672 um soneto – cujo incipit é “Apenas la palestra discurriste” – dedicado “A don Fernando Zerón y Girón… toreando en la plaça de Madrid. Por don Iuan de Matos Fragoso,… Soneto.” Eis, ainda, a descrição que este catálogo proporciona do ms. em causa: [Obra varia de la Academia de Huesca (1610-1612), y otros papeles] S. XVII (1610, aunque también hay papeles de fechas muy posteriores). 1h. 446 f., 310 x 215 mm. Muchas hojas de diferent tamaño, algunas restauradas (f. 330) y bastante deterioradas; otras muchas conservan los pliegues del papel suelto que se ha llevado de mano en mano. El f. 297, duplicado; un folio roto entre f. 270-1; uno cortado entre 331-2, antes de que el ms. fuera numerado; uno sin numerar entre f. 358-9. Se hayan totalmente en blanco los f. 63, 90, 127, 129, 137, 139, 141, 143, 146, 152, 296, 362, 365, 378, 430-2 y 440; en blanco, pero con sobrescrito o alguna nota en vuelto, los f. 8, 10, 14, 17, 19, 21, 23, 27, 29, 32, 34, 36, 38, 43, 48, 50, 53, 59, 66, 69, 81, 83, 86, 88, 93, 97, 101, 103, 116, 131, 133, 135, 148, 157, 163, 165, 167, 170, 175, 177, 179, 183, 185, 189, 192, 194, 196, 204, 209, 215, 219, 221, 224, 227, 229, 234, 236, 238, 242, 245, 247, 250, 253, 257, 262, 287, 301, 303, 306, 313, 315, 317, 319, 327, 329, y 392. Foliación a tinta; se conserva una antigua en los

f. 332-9 (91-8). Enc. en pergamino con correíllas de la época. Lomo: “Poesías varias”. Distintas manos; probablemente la mayoría de las composiciones son autógrafas. Todos los autores firman con seudónimos, pero en f. 341-60v y 366-v se desvela su identidad. Bajo algunos seudónimos, con letra muy posterior, que firma con “Guzmán” o “G” y pertenece casi con seguridad a J. Pérez Guzmán, se añade el nombre del autor. Gran parte de las composiciones están anotadas en el vuelto de su folio o en los posteriores, indicando el seudónimo, la academia y en ocasiones la fecha y el asunto; por ej.: f. 124: “El Desfaboreçido en 28 de octubre. Quedó premiado”. Prácticamente todas las composiciones acaban con la fórmula “sub correctione academia”. Los papeles no están ordenados cronológicamente, aunque algunos aparecen agrupados bajo portadillas referentes a diferentes sesiones: “Los papeles que se trajeron a la academia en la presidencia de Callado. Del mes de septiembre, 1610” (f. 124); “Presidencia de el Sufrido, siendo secretario el Religioso y Ausente. Enpeçó a 16 de abril de 1611, asta 16 de mayo” (f. 295); “Papeles que se dieron en el academia y presidencia del Solitario en el mes de enero de 1611, siendo secretario el Modesto” (f. 299). A partir del f. 331 los temas de academias se mezclan con obras varias, impresas (f. 395-414v, 433-4v, 4414v) o manuscritas, de fechas muy posteriores, hasta 1688. Muchos folios con marcas de pliegues, otros con anotaciones vagas y dispersas. En f. 1, grabado que representa a Minerva, firmado por Aguesca Osce, que en principio formaba parte de una página bastante mayor. En 263v y 285v, algunos dibujos, mediocres, a tinta; en 270, pentagrama con algunas notas. En 385v y 392v, sobreescrito y marca de sello de placa. Numerosas enmiendas, anotaciones y tachaduras, la mayoría de los propios autores. Algunas composiciones escritas con el folio apaisado o del revés. A veces aparece una hoja que, a manera de portada, indica el comienzo de otra sesión.35 Note-se: trata-se de um catálogo de manuscritos que, contudo, recolhe informação determinante sobre espécies impressas que muito Pablo Jauralde Pou, dir., Catálogo de manuscritos de la Biblioteca Nacional con poesía en castellano de los siglos XVI y XVII, vol. I, Madrid, Editorial Arco/Libros, 1998, pp. 436437. 35

importam para o conhecimento do castelhano como língua literária em Portugal. Para além do mais, a entrada deste soneto impresso pode, mediante a citação da descrição do ms. em que se encontra, ser cabalmente representada e documentada na BDCLLP. Acrescente-se que o Catálogo de manuscritos de la Biblioteca Nacional con poesía en castellano de los siglos XVI y XVII recolhe ainda outras três espécies bibliográficas do poeta e comediógrafo João Matos Fragoso. Limito-me, neste momento, a referenciar os títulos e manuscritos da BNE onde se encontram. Temos, então, um “Romance” de Matos Fragoso cujo primeiro verso é “A la Corte bas, Montano…” que se encontra no Ms. 10924, concretamente nos fls. 191v-4. Por outro lado, nesse mesmo manuscrito, é recolhido um outro “Romance”, “Del modo que has de portarte…”.36 Por último, para além destes dois “romances”, o catálogo colige a seguinte referência, nesta oportunidade de um “Soneto”, consignado nos fls. 324v-5 do Ms. 3921, cujo incipit diz “Qué ymporta que la infausta tiranía…”.37 Ora, o volume de Garcia Peres teve, neste sentido, diríamos, um valor deíctico: aponta para um autor, no caso, Matos Fragoso, sobreleva dele algumas espécies bibliográficas 38 – que, por serem Ibidem, vol. VI (2003), p. 3742. Transcrevo o passo: “50) f. 191v-4: Consejos políticos que dio don Juan Matos Fragoso a un mozo para vivir en la Corte. [Romance]. “A la Corte bas, Montano…” § 51) f. 194v-8v: Sucinta idea para gobernarse los jóvenes en la Corte y la conducta que han de tener; de don Juan de Matos Fragoso. [Romance]. “Del modo que has de portarte…” 37 Ibidem, vol. II (1998), p. 1213: “245) f. 324v-5: A la mverte del príncipe de Portugal, que murió en Lisboa a los 18 días de su nacimiento, en el 17 de setiembre de 1688. Por don Juan de Matos Fragoso, caballero de la Horden de Christo. [Soneto]. “Qué ymporta que la infausta tiranía…” 38 Eis o elenco das obras mencionadas por Garcia Peres: “1.º «Fábula burlesca de Apolo y Leucotoe.» Empieza: «De aquella á quien por sus muros.» Sin lugar ni fecha, 4.º, 8 hojas.— (Madrid, 1652). § 2.º «Fábula de Echo y Narciso» 1655.—4.º (octavas). § 3.º «Muestra de ingenio en la de un relox.» sin lugar ni fecha. La dedicatoria es de 1652. § 4.º «Canción Real á la muerte de la muy Alta, Poderosa y Católica Señora nuestra Doña Isabel de Borbón, Reina de las Españas y nuevo Mundo». (Madrid, en casa de Juan Sánchez, 1645). § 5.º «Sylva al bienaventurado San Juan de Dios en la traslacion de su cuerpo.» Viene en la vida del Santo, por Gouvea, edición de 1674, pág. 443 á 454, y se publicó por separado también en folleto. § 6.º «Epitalamio en las bodas de las Cathólicas Majestades de Felipe IV el Grande y la muy Alta y muy Poderosa Señora Doña Mariana de Austria, Reyes de las Españas. Dedicado al Excelentísimo Sr. D. Gaspar Méndez de Haro, Marqués del Carpio.» Madrid, sin fecha. (La dedicatoria es de 1649). § 7.º «Festejo nupcial en las felices bodas de Don Pedro II y la muy Alta y soberana Snr.ª D.ª Maria Sofía Isabela Palatina Reyes de Portugal.» Madrid, 1687.—4.º (en octavas)… § 8.º «Acentos lyricos al feliz nacimiento del esclarecido Príncipe hijo primogénito de los Snres. Reyes de Portugal.» Sin lugar ni fecha. § 9.º «Mausoleo piramidal.» Silva al Duque de Sessa, manuscrito que perteneció á D. B. J. Gallardo. § 10.º «Poema Heroyco á la feliz entrada que hizo en esta Corte la Excelentísima Señora Duquesa de chevroso, en seis de Diciembre de mil y seyscientos y treynta 36

descrições insufiencientes, a BDCLLP completa – e coloca-nos no encalço de documentos inéditos dispersos por diferentes acervos. CAMPOS

DA BDCLLP E PROTOCOLO DE DESCRIÇÃO BIBLIOGRÁFICA DAS ENTRADAS

O establecimiento de ‘campos’, como já foi dito, teve como corolário uma grelha básica que permanece aberta, contudo, de modo a que seja possível somar outros campos que se considere serem necessários, em função do processo acumulativo e desenvolvimento do trabalho de investigação. Estes campos de segmentação dos registos são, ainda, valores de pesquisa dos usuários da BDCLLP (cf. fig. 1). O protocolo das entradas visou produzir uma representação o mais completa possível de cada uma das espécies bibliográficas. Cada entrada, por conseguinte, corresponde a um documento manuscrito ou impresso concreto, localizado num determinado acervo bibliográfico (cf. fig. 2). A descrição bibliográfica é vinculada a este documento. Em quadro esquemático, os ‘campos’ da base de dados são os seguintes: Título Autor Naturalidad Lengua Tipo de documento Impresor Lugar de edición

Página de rosto completa segundo o protocolo estabelecido Apelido, Nome; Apelido, Nome + Nome, apelido; Anónimo Lugar de nascimento do autor ou autores Indicação exaustiva da(s) língua(s) da obra e da espécie bibliográfica em que se encontra Manuscrito, impresso, cód. miscelâneo, etc. Nome, Apelido Localidade onde foi impresso

y syete.» escrito por Juan de Matos Fragoso, con licencia. En Madrid, por Juan Sánchez, año 1638.—8.º, 9 hojas. (Biblioteca del Sr. Gayangos).—Los preliminares son: Décima de Doña Jacinta Ramírez al Autor – Décima del Dr. Julian Carrillo al Autor. § 9.º «Comedias» 1.ª parte. Madrid, por Julian de Paredes, 1658.—4.º,” etc. Seja como for, registe-se o seguinte facto. As referências a Matos Fragoso – e o caso não é único – não se limitam à respectiva entrada. Garcia Peres aponta outras espécies bibliográficas deste autor no verbete de Fr. António Gouveia, concretamente uma “silva” incluída na Historia de la vida y muerte del glorioso Patriarca San Juan de Dios, fundador de la Religión de la Hospitalidad de los pobres enfermos, añadida en esta 5.ª edición por un religioso de la misma orden, Madrid, por Melchor Alegre, 1699, p. 443.

Datación Ubicación/signatura Género/subgénero Perfil temático Palabras clave Descripción física Detalles materiales Notas Referencias externas Observaciones Código em la BD Estado entradas:

Data precisa, intervalo cronológico ou s.d. Instituição ou instituições onde se encontra a espécie bibliográfica, com indicação da cota Indicação da categoria genológica da obra Breve resumo do tema Três palavras-chave em pt., es. e ing. Descrição material do cód., ms., impresso segundo o protocolo estabelecido Particularidades físicas que possam singularizar a espécie bibliográfica Arquivo digital (imagens jp., documentos pdf. ou word) Elenco das menções na bibliografia de referência Descrição do conteúdo da espécie bibliográfica BDCLLP0000000001, 2, 3, etc. Estado em que se encontra a elaboração da entrada: defintivo, provisório, em preparação

Eis, por seu turno, a apresentação sistemática do protocolo das

i. Disposição das entradas. A representação digital – a ficha digital – de cada entrada distingue duas secções: a. Informação principal; b. Informação complementaria. Na primeira secção, que tem uma “janela” própria a que se acede by default, são consignados os seguintes campos da forma das entradas: título, autor, naturalidade, … Por seu turno, na segunda secção, a que se acede a partir da secção a., contém os seguintes campos da forma das entradas: “Notas”, “Observaciones”, “Código de entrada”. A entrada visa produzir um “retrato” claro e relativamente breve da referência, submetendo a clareza e a brevidade à necessidade de “singularizar” e “distinguir” as espécies bibliográficas umas das outras. ii. Forma das entradas. Cada entrada integra XX campos de informação: título, autor, naturalidade, datação, etc. Na representação do nome do Autor, procede-se à consignação, em primeiro lugar, do apelido e depois dos restantes nomes (ex.: “Fragoso, João Matos”). No caso de co-autorias, preceitua-se o mesmo critério para o nome do autor principal, seguido dos restantes autores, separados entre si por vírgulas,

sendos que os seus nomes são representados respeitando a ordem normal dos constituintes. Os nomes consignados neste campo são actualizados para a ortografia actual. No caso de autorias anónimas, consigna-se no campo a palavra “Anónimo”; se se trata de um documento miscelâneo, o campo é preenchido com o vocábulo “Miscelânea”. No campo do “Título” é inscrita a “página de rosto” do impresso ou do manuscrito. No campo da “Descripción física”, de carácter técnico, transcreve-se a seguinte informação: formato do volumen (in-4º, inº-8, etc., ou medidas em mm.); número de volumes; número de fl. ou fls. seguido de inum. ou inums.; espécies foliadas ou paginadas são descritas analizando secções numeradas e não numeradas, assinalando os fólios ou páginas em branco. Esta descrição técnica pode, caso seja pertinente, ser concluída com a descrição de particularidades que singularizam a espécie bibliográfica em causa. No campo “Referencias externas” anota-se, mediante um sistema de siglas, as menções à espécie bibliográfica feitas no corpus catalográfico de referência. A ordem dos inventários, bibliografias, catálogos, será cronológica. Dispõe-se a sigla (por ex.: Barbosa Machado), seguida devírgula, número de ordenação no catálogo, página ou páginas do catálogo (abrev. por p. ou pp.). Por seu turno, no campo “Ubicación/signatura” inscreve-se a instituição ou instituições onde se localizam o exemplar ou os exemplares da espécie bibliográfica, seguida da respectiva cota. As referências são separadas por ponto-e-vírgula. A instituição é representada mediante uma sigla/abreviatura (por ex.: Biblioteca Nacional de Portugal = BNP; Biblioteca Nacional da Ajuda = Ajuda; Biblioteca Universitaria de Salamanca = BUS, etc.). O campo “Observaciones” é habilitado para, facultativamente, fazer a descrição do conteúdo do documento: frontispício ou equivalente, primeiras palavras dos paratextos (prólogos, dedicatórias), primeiras e últimas palavras dos textos principais e secundários do texto, colofón. O conteúdo textual destes elementos é transcrito seguindo um critério diplomático. Abreviaturas necessárias para a descrição bibliográfica39 fl./fls. fr. grav. inum./inums. 39

folha/folhas frente gravura inumerada/inumeradas

Não se trata de uma lista exaustiva.

num./nums. numeradas p./pp. v./vv. vol./vols.

número

ou

numerada/números

ou

página/páginas verso/versos volume/volumes

Siglas das bibliotecas e acervos visitados/mencionados40 ANTT BA BAC BGUC Coimbra BNP BNE BPADB Braga BPADE Évora BPMP BSG BUS A BDCLLP

Arquivo Nacional da Torre do Tombo Biblioteca da Ajuda Biblioteca da Academia das Ciências Biblioteca Geral da Universidade de Biblioteca Nacional, Lisboa Biblioteca Nacional, Madrid Biblioteca Pública e Arquivo Distrital de Biblioteca Pública e Arquivo Distrital de Biblioteca Pública e Municipal do Porto Biblioteca da Sociedade de Geografia Biblioteca Universitaria de Salamanca

COMO ARQUIVO DIGITAL. FIXAÇÃO DOS TEXTOS

PROTOCOLO

DE

A BDCLLP, enquanto arquivo digital, desenvolvido paralelamente ao processo de inventariação bibliográfica, não obedece aos mesmos critérios de representatividade e de progressão temporal. Enquanto arquivo digital tem, digamos, acrescentado um suplemento crítico: o arquivo colige documentos escolhidos pelas suas valências hermenêuticas, importância potencial a médio e longo prazo, e valor heurístico para o estudo da competência plurilingue nos séculos áureos peninsulares. Por outras palavras, a sistematicidade do arquivo digital é perspectivada em função do compromisso com o objectivo ou finalidade

Como no caso anterior, este conjunto de formas abreviadas de referência não é exaustivo. 40

temática da BDCLLP, a investigação do “castelhano como língua literária em Portugal”. A comunidade potencial de utentes do arquivo – de âmbitos glocais diversos: espaços universitários português, espanhol, europeu, iberoamericano, norte-americano –, comunidade sujeita no tempo a redefinições diversamente determinadas, substanciará os termos do devir do arquivo no tempo. Neste sentido, não é dispiciendo, antes pelo contrário, o facto de o arquivo digital, precisamente por ser produzido no meio digital, permitir a publicitação e acesso em aberto de material bibliográfico e documentos cujos custos de impressão, difusão e acesso se vêm reduzidos. Por outro lado, a notória valência do acesso directo a material em muitos casos único, é também garante da continuidade do projecto. Um texto “bilingue luso-castelhano”, estudo de caso Não foi obviada a ampla casuística dos usos do castelhano e, claro está, do caso até certo ponto mais difícil de objectivar da produção “bilingue”. Esta última, digamos, tem um efeito suplementar na constituição do arquivo, e efeitos práticos notórios, ao acrescentar a dificuldade de identificação das obras, desde logo porque há casos equívocos na bibliografia e catálogos compulsados. Mas há que enfrentar a questão, pois passa também por ela o conhecimento do castelhano como língua literária em Portugal. O nível de dificuldade prende-se com o facto de impor, uma vez mais, a necessidade de perscrutar o nível material e performativo dos documentos. Vejamos um caso, um caso que entronca, aliás, com a problemática dos “lusismos” nos textos em castelhano, cujo valor heurístico é conhecido.41 A tradição impressa da Carta de Mestre João, conhecida missiva do corpus documental que integra, datada de 1 de Maio de 1500, tem oscilado entre a leitura paleográfica – acompanhada quase sempre pelo respectivo fac-símile – e/ou a modernização pura e simples do texto não respeitando rasgos linguísticos epocais. De origem espanhola, João Faras era médico, astrónomo, físico e engenheiro. A carta que escreveu a D. Manuel, do ponto de vista da língua, é um documento interessante para a ponderação dos obstáculos que se colocam ao conhecimento cabal dos usos plurilingues nos séculos áureos peninsulares.

41

Cf., por exemplo, Ivo de Castro, op. cit, passim.

Veja–se, por exemplo, a edição incluída no volume História da Colonização Portuguesa do Brasil. Edição Monumental Comemorativa do Primeiro Centenário da Independência do Brasil, publicado em 192342. Temos, aí, a leitura paleográfica levada a cabo por António Baião, então director da Torre do Tombo43, seguida de uma «versão em linguagem actual» da responsabilidade de Luciano Pereira da Silva 44 . Varnhagem, que encontrou o ms. na Torre do Tombo e o publicou pela primeira vez na Revista do Instituto Historico e Geografico do Rio de Janeiro45, em 1843, optou, também, pela fixação paleográfica 46 . Recentemente, ainda, no volume Os Primeiros 14 Documentos Relativos à Armada de Pedro Álvares Cabral 47 , os editores, Joaquim Romero Magalhães e Susana Münch Miranda, enveredaram por uma exemplar leitura diplomática48. A leitura paleográfica permite obviar certos escolhos que se colocam a uma fixação que actualize a ortografia e não deixe de respeitar a identidade linguística do texto. Os escolhos prendem–se com a língua em que foi escrita a Carta. Isto porque ocorrem, no original, tanto formas em castelhano como em português. Eis algumas formas castelhanas: beso, reales, manos, ellos, el, escrivieron, ayer, yo, isla, pierna, mucho, ninguna, yerran, de las, de la, etc. Como formas claramente em português temos: vosa, vosas (ambas com s alto), adiante, chaga, boa, terra, sul ou até. Diante destes exemplos, a questão que se coloca é a de saber para que língua fazer a modernização de tudo o que é possível modernizar. Os casos acabados de referir, na verdade, pedem uma solução de compromisso: as formas claramente em castelhano modernizadas para o espanhol actual (por exemplo, tan byen grafada agora también); as formas claramente em português actualizadas para o português actual (assim, vosa grafada agora vossa). Contudo, deparamos com casos menos claros. Como actualizar as formas do ms. como señor (senhor ou señor?), quanto (quanto ou cuanto?), & (e ou y?), etc.? Ou, ainda, Direcção e coordenação literária de Carlos Malheiro Dias, direcção cartográfica do Conselheiro Ernesto de Vasconcellos, direcção artística de Roque Gameiro, Porto, Litografia Nacional, MCMXXIII. 43 Ibidem, p. 104. 44 Ibidem, p. 105. 45 Cf. Revista do Instituto Historico e Geografico do Brasil, tomo V, 3ª ed., 1885, pp. 364–366 (edição aqui utilizada). Na 1ª ed. (1843) encontra–se no tomo V, p. 342. 46 Contudo, nem sempre correcta. Formas como bacherel, grrados, napamundi, entre outras, foram incorrectamente transcritas, ao tratar-se de uma edição paleográfica, como bacharel, grados ou mapamundi. 47 Lisboa, Comissão Nacional para as Comemorações dos Descobrimentos Portugueses – Instituto dos Arquivos Nacionais / Torre do Tombo, 1999. 48 Cf. ibidem, pp. 91–93. Veja–se, ainda, os critérios de transcrição seguidos (pp. 27–28). 42

por que critério de acentuação optar em formas como mi (mi ou mí?), que grrado (que grado ou qué grado?)? E como fazer em relação à hifenação de formas como tomarse (tomar-se ou tomarse?) ou rregirse (regir-se ou regirse?), entre outras? Estamos perante um texto escrito em castelhano que, todavia, não deixa de apresentar formas claramente portuguesas, ainda que em número bastante inferior 49 . É, pois, necessário, fazer as possíveis modernizações, prioritariamente, para o espanhol actual, regularizando todavia, escrupulosamente, para o português de hoje, todas aquelas formas que, passíveis de actualização, se encontram no original claramente em português. Note–se, por outro lado, que esta opção é a que permite mantermo–nos mais fiéis à feição ortográfica do manuscrito. A fixação da Carta de Mestre João para a BDCLLP toma por base o ms. que se encontra no Arquivo Nacional / Torre do Tombo, conhecido como Corpo Cronológico, Parte III, maço 2, nº 2. Assim sendo, a presente leitura do ms. da Carta de Mestre João, dentro de objectivos e parâmetros fundamentalmente conservadores, é feita, ou i. em função dos seguintes critérios gerais de modernização que respeitam a integridade linguística do texto(Opção A), ou ii. em regime semidiplomático (Opção B): • • • •

Substituição dos grafemas que já não existem no actual sistema gráfico; Desdobramento de abreviaturas; Modernização da pontuação; Actualização do texto segundo as regras actuais da acentuação em espanhol, ou em português caso se justifique (cfr. até);

Em nota à modernização feita pelo Dr. Luciano Pereira da Silva, incluída no volume História da Colonização Portuguesa do Brasil (ed. cit.), lemos o seguinte comentário: «A palavra cosadura, que se lê na carta, é portuguesismo, como a palavra chaga, entre outras» (p. 105, n. 2). Seguindo a orientação já aqui esboçada, estabelecemos os critérios fixação assumindo que se trata de um texto em castelhano com lusismos. O verbete «Mestre João» da Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira (vol. XIV, Lisboa-Rio de Janeiro, Editorial Enciclopédia, s.d.) apresenta o texto como tendo sido escrito em castelhano: «Bacharel em Artes e Medicina, físico e cirurgião de D. Manuel, viveu no séc. XV-XVI. Foi autor da carta em que se relatam as observações astronómicas feitas em terras do Brasil, no dia da chegada da armada de Pedro Álvares Cabral, a que pertenceu. A carta, escrita em espanhol, com data de 1-V-1500, foi publicada numa colecção intitulada Alguns documentos da Comissão Colombina, p. 122. Possivelmente é o astrólogo de D. Manuel que por carta régia de 22-X-1513 teve 12000 reais de tença nos armazéns da Índia. (cf. Braancamp Freire, Crítica e História. Estudos, vol. I, p. 249) (p. 274, cols. 1 e 2). 49



• • •

• • • • •

Simplificação de vogais e consoantes dobradas, exceptuando–se, como é óbvio, o caso do grafema – ll – do espanhol, em casos como ellos ou allegando; Actualização de grafias etimológicas ou pseudo– etimológicas como em puncto ou magnifiesto; Não introdução de hifenação; Regularização do uso das grafias i, j, u e v. As formas do ms. desconsertauan, jusgauan e auian, contudo, são grafadas, respectivamente desconcertavan, juzgavan e havían (em espanhol de hoje teríamos –aban e –abían), por poder tratar-se de lusismos fonéticos; Substituição & por y; Regularização do emprego de h segundo o uso moderno; Modernização do uso de g e j; Regularização do uso de maiúsculas e minúsculas segundo critérios actuais; Colocação entre [ ] das palavras ou letras acrescentadas ao texto original.

Por último, em nota-de-rodapé, para além de adicionais comentários à transcrição levada a cabo, procede-se ao esclarecimento de vocabulário menos frequente ou caído em desuso, de modo a assistir uma leitura fluente do texto50. O texto editado e a sua inserção na BDCLLP i. Opção A [Carta de Mestre João. ANTT. Corpo Cronológico, Parte III, maço 2, nº 2] Señor Foi utilizado, para tanto, o Grande Dicionário da Língua Portuguesa (ed. cit.) de António Morais e Silva (abrev. por Morais), e o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa (5 vols., 3ª ed., Lisboa, Livros Horizonte, 1977) de José Pedro Machado (abrev. por Machado). Revelou–se particularmente útil, ainda, o Diccionario crítico etimológico castellano e hispánico (6 vols., Madrid, Editorial Gredos, 1991) de J. Corominas e J. A. Pascual (abrev. por Corominas). 50

O bacherel mestre João, físico y cirurgiano de Vossa Alteza, beso vossas reales manos. Señor, porque de todo lo acá pasado largamente escrivieron51 a Vossa Alteza, así Arias Correa como todos los otros, solamente escreviré dos puntos. Señor, ayer, segunda feria, que fueron 27 de abril, descendimos en terra yo y el piloto do Capitán mor y el piloto de Sancho de Tovar, y tomamos el altura del sol al mediodía y fallamos52 56 grados, y la sombra era septentrional, por lo cual, segund 53 las reglas del estrolabio 54 , juzgamos ser afastados de la equinocial por 17 grados, y por consiguiente tener el altura del Polo Antártico en 17 grados, segund que es manifiesto en el esfera. Y esto es cuanto a lo uno, por lo cual sabrá Vossa Alteza que todos los pilotos van adiante de mí. En tanto que Pero Escolar va adiante 150 leguas y otros más y otros menos. Pero quién dice la verdad non55 se puede certificar fasta56 que en boa hora alleguemos al Cabo de Boa Esperança y allí sabremos quién va más cierto, ellos con la carta o yo con la carta y con el estrolabio. Cuanto, Señor, al sítio desta terra, mande Vossa Alteza traer un napamundi57 que tiene Pero Vaz Bisagudo, y por ahí podrá ver Vossa escrivieron] Opta–se por manter esta forma e, mais adiante, escreviré, não actualizando para escribieron e escrebiré. O Corominas (Cf. vol. II, s.u. Escrevir) regista a forma escrevir com – v – e comenta: «Tiene siempre – v – hasta el s. XVI en los textos que distinguen (Nebr., APal, etc.). La forma escrevir es muy corriente hasta el s. XVI en la lengua literaria y después en la vulgar» (p. 711, col. 1). Conservo estas formas, pois, porque podem tratar-se de lusismos fonéticos. 52 fallamos] Tem, aqui, o sentido de medimos. 53 segund] Cf. Corominas, vol. V, s.u. Seguir. Regista a forma em Nebrija. 54 estrolabio] Cf. Morais, vol. IV, s.u. Estrolábio. O Machado, s.u. Astrolábio, regista a forma em Gil Vicente. Cf. Corominas, vol. I, s.u. Astro. Não recolhe a forma estrolabio mas anota, contudo, deformações como estremonía e estronomía. 55 non] Cf. Machado, vol. 4, s.u. Não. Informa-nos de que a forma continua em uso no s. XVI. No Corominas, vol. IV, s.u. No, lemos: «el uso de non se mantiene esencialmente hasta la primera mitad del s. XV (p. ej. en el Corbacho), pero después queda anticuada esta forma, aunque hay diferencias de detalle según los autores, el tono del lenguaje y el uso de frases libres o estereotipadas» (p. 231, col. 2). No ms. é utilizada maioritariamente esta forma. Há apenas uma excepção. Cf. infr¸ no texto, a forma no. 56 fasta] até. Cf. Morais, vol. 5, s.u. Fasta1, onde a forma é dada como cast. ant. Segundo o Corominas, vol. III, s.u. Hasta, a forma hasta generaliza-se desde Nebrija. 57 napamundi] mapa–múndi. Cf. Corominas, vol. III, s.u. Mapa. Não regista a forma, contudo refere o seguinte: «En el sentido etimológico de 'paño', y con carácter hereditario, se ha conservado, en una variante disimilada *NAPPA, en el fr. nappe (ingl. nap, napkin) 'mantel'» (p. 836, col. 1). Mantemos a forma por poder indiciar um semelhante fenómeno. O Morais e o Machado não a anotam. 51

Alteza el sítio desta terra. Empero58, aquel napamundi non certifica esta terra ser habitada, o no. Es napamundi antiguo y allí fallará 59 Vossa Alteza escrita también la Mina. Ayer casi entendimos per aceños60 que ésta era isla, y que eran cuatro, y que de otra isla vienen aquí almadías61 a pelear con ellos y los llevan cativos. Cuanto, Señor, al otro punto, sabrá Vossa Alteza que cerca de las estrellas yo he trabajado algo de lo que he podido, pero non mucho a causa62 de una pierna que tengo muy mala, que de una coçadura63 se me há fecho64 una chaga mayor que la palma de la mano. Y también a causa de este navio ser mucho pequeño y muy cargado, que non hay lugar pera cosa ninguna, solamente mando a Vossa Alteza como están situadas las estrellas del [sul]65. Pero en qué grado está cada una non lo he podido saber. Antes me paresce66 ser imposible en la mar tomarse altura de ninguna estrella porque yo trabajé mucho en eso y, por poco que el navio embalance67, se yerran68 cuatro, o cinco grados, de guisa que se non puede fazer sinon69 en terra. Y otro tanto casi digo de las tablas de la Índia, que se non pueden tomar con ellas sinon com muy mucho trabajo. Que si Vossa Alteza supiese como desconcertavan todos en las pulgadas, reiría dello más que del estrolabio, porque desde Lisboa até as Canarias unos de otros desconcertavan en muchas pulgadas que unos decían, más que otros, tres y cuatro pulgadas. Y otro tanto desde las Empero] Cf. Corominas, vol. IV, s.u. Pero. Regista empero, entre outros, em Nebrija. O Morais, vol. IV, s.u. Empero, regista a forma, do cast., em Azurara. 59 fallará] encontrará. 60 aceños] acenos, gestos. Cf. Corominas, vol. II, s.u. Ceño II. O Morais e o Machado recolhem apenas a forma aceno. 61 almadías] canoas, como esclarece o Morais, vol. 1, s.u. Almadia. Cf. Corominas, vol. I, s.u. Almadía. Recolhe a forma, esclarecendo: «También port. almadia ‘embarcación africana estrecha y larga, también usada en la India» (p. 182, col. 1). 62 causa] No ms. aparace sempre grafado cabsa. Trata–se de uma grafia pseudo– etimológica. 63 coçadura] acção ou efeito de coçar. O Morais, vol. 3, s.u. Coçadura, regista a forma em Camões. 64 fecho] feito. Cf. infra, no texto, a forma Fecha. 65 Introduzo aqui sul, que falta no ms. seguramente por lapso. O Dr. Luciano Pereira da Silva (op. cit., ed. cit., p. 105, n. 4) deu conta, também, do esquecimento e procedeu à necessária correcção. 66 paresce] Segundo o Machado, vol. IV, s.u. Parecer2, a forma parescer chega ao fim do s. XVI. 67 embalance] balance. 68 yerran] erram. 69 sinon] senão. No ms. sy non. 58

Canarias até as Islas de Cabo Verde, y esto resguardando todos que el tomar fuese a una misma hora, de guisa que más juzgavan cuantas pulgadas eran por la cantidad del camino que les parescia que havían andado que non el camino por las pulgadas. Tornando, Señor, al propósito, estas Guardas nunca se esconden, antes siempre andan enderedor sobre el horizonte. Y aún esto dudoso, que non sé cuál de aquellas dos más baxas 70 sea el Polo Antártico, y estas estrellas principalmente las de la Cruz, son grandes casi como las del Carro. Y la estrella del Polo Antártico, o Sul, es pequeña como la del Norte y muy clara, y la estrella que está enriba de toda la Cruz es mucho pequeña. Non quiero más alargar por non importunar a Vossa Alteza, salvo que quedo rogando a Nosso Señor Jesu Cristo la71 vida y estado de Vossa Alteza acresciente como Vossa Alteza desea. Fecha72 en Vera Cruz a primero de mayo de [1]500. Pera la mar mejor es regirse por el altura del sol que non por ninguna estrella, y mejor con estrolabio que non con cuadrante nin73 con otro ningu[n]74 estrumento75. Do criado de Vossa Alteza y Vosso leal servidor Johannes

artium e[t] medicine bachalarius76

ii. Opção B

baxas] No Machado, vol. I, s.u. Baixo, a forma é recolhida no s. XVI. Cf. Morais, vol. 2, s.u. Baixar. 71 No ms. a forma la encontra–se repetida duas vezes. 72 Fecha] O Corominas, vol. III, s.u. Hacer, faz o seguinte esclarecimento: «Fecha ‘data’ no es más que la forma antigua del participio del verbo hacer, se empleaba en combinación expresa o tácita con carta, para fechar docs.» (p. 299, col. 1). Leia-se, pois, data. 73 nin] nem. Cf. Corominas, vol. IV, s.u. No. Esclarece: «De NEC procede el castellano ni, de uso no menos general que no, con valor distinto, que no es aquí el lugar de estudiar; por simetría de non junto a no, se creó el no etimológico nin junto a ni» (p. 232, col. 1). A forma não se encontra no Morais nem no Machado. 74 ningun] No ms. ningud. Cf. Corominas, vol. IV, s.u. No. Não recolhe a forma ningud. 75 estrumento] O Morais, vol. 4, s.u. Estrumento, regista a forma no s. XVI. Cf. Corominas, vol. II, s.u. Construir. Anota a forma como vulgarismo. 76 No verso do fol. 1v, lê–se: a el rei noso señor; e, ainda: do mestre joham que vai ha Callecut. 70

[Carta de Mestre João. ANTT. Corpo Cronológico, Parte III, maço 2, nº 2] Señor O bacharel mestre Johan fisico e cirurgyano de Vosa Alteza beso vosas reales manos. Señor porque de todo lo aca pasado largamente escrivieron a vosa alteza asy arias correa como todos los otros solamente escrevire dos puntos senor ayer segunda feria que fueron 27 de abril descendimos em terra yo e el, pyloto do capitan moor e el pyloto de Sancho de touar e tomamos el altura del sol al medyodya e fallamos 56 grados e la sonbra era septentrional por lo qual segund las reglas del estrolabio jusgamos ser afastados de la equinocial por 17 grados, e por consyguiente tener el altura del polo antarctico en 17 grados, segund que es magnifiesto en el espera e esto es quanto alo uno, por lo qual sabra vosa alteza que todos los pylotos van adiante de mi en tanto que pero escolar va adiante 150 leguas e otros mas e otros menos: pero quien disse la verdad non se puede certyficar fasta que en boa ora allegemos al cabo de boa esperança e ally sabremos quien va mas cierto ellos con la carta e con el estrolabio: quanto Señor al sytyo desta terra mande vosa alteza traer un mapamundy que tyene pero vaaz bisagudo e por ay podrra ver vosa alteza el sytyo desta terra, en pero aquel mapamundy non certyfica esta terra ser habytada, o no: es napamundi antiguo e ally fallara vosa alteza escrita tan byen la mina: ayer casy entendimos per aseños que esta era ysla e que eran quatro e que de otra ysla vyenen aqui almadias a pelear con ellos e los lleuan catiuos: quanto Señor al otro puncto sabra vosa alteza que cerca de las estrellas yo he trabajado algo de lo que he podido pero non mucho a cabsa de una pyerna que tengo mui mala que de una cosadura se me ha fecho una chaga mayor que la palma de la mano, e tan byen a cabsa de este navio ser mucho pequeno e mui cargado que non ay lugar pera cosa ninguna solamente mando a vosa alteza como estan situadas las estrellas del, pero en que grado esta cada una non lo he podido saber, antes me paresce ser impossible en la mar tomarse altura de ninguna estrella porque yo trabaje mucho en eso e por poco que el navio enbalance se yerran quatro o cinco grados de guisa que se non puede fazer synon en terra, e otro tanto casy digo de las tablas de la India que se non pueden tomar con ellas sy non con mui mucho trabajo, que si vosa alteza supiese como desconcertavan todos en las pulgadas reyrya dello mas que del estrolabio porque desde lisboa ate as canarias unos de otros desconcertavan en muchas pulgadas que unos desian mas que otros tres e quatro pulgadas, e otro tanto desde las canarias ate as yslas

de cabo verde, e esto rresguardando todos que el tomar fuese a una misma ora, de guisa que mas jusgauan quantas pulgadas eran por la quantydad del camino que les paresçia que avyan andado que non el camino por las pulgadas: tornando Señor al proposito estas guardas nunca se esconden antes syenpre andan en derredor sobre el orizonte, e aun esto dudoso que non se qual de aquellas dos mas baxas sea el polo antartyco, e estas estrellas principalmente las de la crus son grandes casy como las del carro, e la estrella del polo antartyco, o sul es pequena como la del norte e muy clara, e la estrella que esta en riba de toda la crus es mucho pequena: non quiero mas alargar por non ynportunar a vosa alteza, saluo que quedo rogando a noso Señor ihesu christo la la vyda e estado de vosa alteza acresciente como vosa alteza desea. Fecha en uera crus a primero de maio de 500. pera la mar mejor es regyrse por el altura del sol que non por ninguna estrella e mejor con estrolabio que non con quadrante nin con otro ningud estrumento. do criado de vosa alteza e voso leal servidor. Johannes artium el medicine bachalarius. [Sobrescrito]: A el Rey nosso senor [Nota quinhentista]: De mestre Johã q vay ha Callecut.

ESTUDO DE CASO: DAS ENTRADAS DE MELO NA BDCLLP

DE

FRANCISCO MANUEL

A casuística dos verbetes, sublinhe-se uma vez mais, é ampla. Neste sentido, o procedimento certamente mais rentável e seguro é o de singularizar cada uma das entradas. Cada verbete é um caso que exige, digamos, um case study. É o que pretendo demonstrar neste estudo. Vou centrar-me exclusivamente no caso de um dos mais emblemáticos autores da república portuguesa das letras que escreveu em língua castelhana. Refiro-me ao polígrafo seiscentista Francisco Manuel de Melo. Pois bem, que nos diz Garcia Peres a respeito das obras “castelhanas” – isto é, em castelhano – de Francisco Manuel de Melo. A bem do meu argumento, faço a transcrição integral da secção do

correspondente verbete em que Garcia Peres passa em revista as obras do polígrafo português que cabem dentro do corpus que estruturou. Ei-la, pois, fixando o texto com critérios diplomáticos: Las [obras] castellanas fueron las siguientes: «Cartas familiares de…..» Primera parte. Roma, 1664.—4.º, m.s 5 centurias en portugués. 1.º «Obras métricas, al Ser.mo Infante D. Pedro.» Contiene: las 3 Musas—El Pantheon—Las Musas portuguesas, y el Coro de las Musas. Leon, 1665. 2.º «Historia de los movimientos y separacion de Cataluña y de la guerra entre la Majestad de D. Felipe el IV y la Diputacion general de aquel Principado con el pseudonimo de Clemente Libertino.» San Vicente, 1645.—4.º--Lisboa, 1696.—Madrid, 1808.—París, 1826.—32.º y muchas otras. 3.º «Manifiesto de Portugal.» Lisboa, 1647.—4.º 4.º «Las tres Musas de Melodino.» Lisboa, 1649.—4.º. Esta 1.ª edición fué reproducida en el tomo de las «Obras Métricas.» 5.º «Política militar en avisos de Generales escrita al Conde de Linares etc.» Madrid,1638.—4.º--Lisboa, con el Aula política, 1720.—4.º 6.º «Eco político responde en Portugal á la voz de Castila y satisfaze á un papel anónimo ofrecido al Rey D. Felipe IV sobre los intereses de la corona lusitana.» Lisboa, 1645.—4.º 7.º «El mayor pequeño. Vida y muerte del Serafín humano Francisco de Asís.» Lisboa, 1647 y 1658.—12.º--Alcalá, 1688.—4.º 8.º «El Fénix de Africa, Augustino Aurelio, Obispo Hyponense.—1.ª parte, Agustino filósofo. Lisboa, 1648.—2.ª parte, Agustino Santo, 1649.—12.º» 9.º «Obras morales.» El tomo 1.º contiene: la Victoria del hombre y las dos citadas anteriormente. Roma, 1664.—4.º 10.º «Declaracion que por el reyno de Portugal ofrece el Dr. Gerónimo de Santa Cruz á todos los reynos y provincias de Europa contra las calumnias publicadas de sus émulos.»

Lisboa, 1683.—4.º 11.º «Demostracion que por el reyno de Portugal agora ofrece el Dr. Gerónimo de Santa Cruz á todos los reynos y provincias de Europa en prueba de la DECLARACION por el mismo Autor y por el mismo Reyno.» Lisboa, 1644. 12.º «El Pantheón á la inmortalidad del nombre Itade.» Lisboa, 1650.—12.º 13.º «Doce sonetos por varias acciones en la muerte de Doña Inés de Castro.» Lisboa, 1628.—4.º 14.º «Theodosio, 2.º Príncipe de Bragança etc. etc.»—Manuscrito inédito á pesar de tener las licencias.77 Garcia Peres privilegiou objectos textuais impressos. Referencia as primeiras edições das obras, se bem que nalguns casos suplemente a menção de uma obra com outras edições sem, contudo, ser sistemático ou exaustivo. Registe-se, como excepção, a referência nº14: trata-se, por um lado, de um manuscrito e, por outro, de uma obra na verdade em língua portuguesa. Outro aspecto notório é a ordenação das menções, que não segue uma linha cronológica que ordenasse, por exemplo, as obras das “iniciais” às “tardias”. Este facto, sem dúvida, é um óbice ponderoso e dificulta o varejo crítico do Catálogo razonado. Menções de obras em Barbosa Machado e sua revisão crítica por Edgar Prestage Se compulsarmos a secção dedicada a manuscritos da entrada de Francisco Manuel de Melo na Bibliotheca Luzitana deparamos, em primeiro lugar, com a referência ao Teodósio II. Note-se que o Catálogo razonado faz menção a este título inédito, “á pesar de tener las licencias”. Vale a pena transcrever a descrição biblográfica, mais completa em Barbosa Machado: Theodozio del nombre II. Principe de Bragança Duque Setimo de su Estado, natural señor de los Portuguezes. Historia própria, y universal del Reyno de Portugal, y sus Conquistas en Europa, Africa, Asia, y America com suficiente noticia de los sucessos del mundo al tiempo de la Vida deste 77

Catálogo razonado, p. 366.

Princepe. Escrita del Orden del muy alto, y muy poderoso Rey nuestro Señor D. Juan el quarto su hijo, y Padre de la Patria. Offrecida a Su Magestad por Francisco Manoel Parte primera dividida. Quare? Anno Christiano 1648.78 Ainda, Barbosa Machado esclarece ter tido próxima a espécie bibliográfica, pois estava na posse do irmão, José Barbosa: “O original, que meu Irmaõ D. Jozè Barboza conserva na sua Selectissima Livraria, estava prompto com as licenças da Inquisição passadas a 28. De Março de 1678. Desta obra faz menção o P. D. Antonio Caetano de Souza. Hist. Geneal. Da Caz. Real Portug. Tom. 6. Liv. 6. pag. 562.”79 Edgar Prestage, entretanto, acrescentou no seu Francisco Manuel de Melo. Esboço biographico, “Existem cópias manuscriptas nas Bibliotecas da Ajuda, da Academia das Sciencias e de Évora, todas incompletas, pois acabam no fim do 3º livro da 1ª parte. § Por todos os respeitos, esta ultima, (que tem a marcação cod. CIII 11-16) é a mais importante, por ser contemporanea e uma obra prima de caligrafia”80. Esta obra, enfim, como é sabido, viria a ser publicada pela primeira vez em 1944, editada e traduzida para o português por Augusto Casimiro, que utilizou como texto-base, entretanto, outro códice.81 Permanece, contudo, inédita em castelhano. Que outros títulos de manuscritos castelhanos são mencionados por Barbosa Machado? Pela representação dos títulos, podemos inventariar os seguintes textos melianos: a. Apparato Genealogico de los Reys de Portugal; b. Relaciones del Oriente; c. Las finezas mal logradas; d. Desculpas del ócio 1. e 2. Parte; e. Los caprichos de Amarilis; f. Los secretos bien guardados; g. De Burlas haze amor veras; h. El domine Lucas; i. El verano em Sintra; j. Las noches escuras; k. La Dama Negra; l. Historia General de Portugal, que comprehende el govierno de la Princeza Margarita; m. Juizio de las maravillas de la naturaleza; n. Satisfaciones a Sylvio; o. El Hombre; p. Lagrimas de Dido; q. De la Aflicion, y confortacion; r. Memorial de la honra; s. Punto em boca; t. La imposible; u. Cartas de la Razon; v. El Christiano Alexandro; w. Annotaciones a las Epistolas de Francisco de Sà; x. Historia de los Infantes; y. El Cezar de ambos mundos; z. El Daniel Perseguido; α. Modo de emplear la Nobleza; β. Manifiesto de los Palatinos. 82 A fonte desta informação teria sido, alegadamente, um carta familiar de 8 de Dezembro de 1649. 83 No fim da entrada, Bibliotheca Lusitana, p. 186, col. II. Idem, ibídem. 80 Edgar Prestage – D. Francisco, p. 591. 81 D. Teodósio II, Porto, Civilização, 1944. 82 Ibidem, pp. 187-188. 83 Cf. Edgar Prestage – D. Francisco, p. 597. 78 79

entretanto, Barbosa Machado remete para o catálogo de “Libros y Obras no estampadas” anteposto na primeira parte das Obras Morales. Edgar Prestage, em Francisco Manuel de Melo. Esboço biographico, reproduz este catálogo e informa sobre as obras entretanto editadas, fornecendo ainda algumas notas sobre o possível paradeiro de outras. Assim: sobre g. e, ainda sobre El laberinto de Amor e Los secretos bien guardados – não mencionados por Barbosa Machado – anota: “Será uma destas a comedia incompleta que se encontra a folha 213 do códice 7644 da Biblioteca Nacional de Lisboa?” 84 . Sobre t. esclarece ter sido publicada nas Obras Métricas. Entretanto, compulsando Simón Díaz – Bibliografía, podemos acrescentar existir uma fragmento manuscrito na BNE (cf. infra), o ms. 17746. Obras em castelhano impressas na BNP e outros acervos No que se refere ao espólio de Francisco Manuel de Melo conservado na Biblioteca Nacional de Portugal, em Lisboa, dispomos de bibliografia de apoio que permite substanciar a revisão crítica da entrada do Catálogo razonado referente ao autor da Carta de Guia de Casados. De grande utilidade, neste sentido, é a Bibliografia das Obras Impressas em Portugal no Século XVII, da responsabilidade de João Frederico de Gusmão C. e Arouca, publicado em 2005. O volume referente às Letras M-R contém descrições bibliográficas de grande valia para a BDCLLP. Colijo, neste sentido, as entradas 207, 209, 210, 211, 214, 215, 216, 219, 220, 223, 224 e 226. Completo entretanto as descrições com outras fontes, devidamente identificadas em nota-de-rodapé: [1] DOZE | SONETOS, | POR VARIAS | ACCIONES. | En la muerte de la Señora Dona Ines de Castro | mujer del Principe Don Pedro de Portugal. | DE DOM FRANCISCO MANVEL, | & Mello. | A Dom Ieronimo de Attayde. | (Duas pequenas vinhetas tipográficas) | Com todas as licenças necessarias. | --- | EM LISBOA. | Por Mattheus Pinheiro. Anno de 1628. | Por conta de Manoel Vieira liureiro, vendese na | sua tenda, na Capella Real. | Taixão estes Sonetos em [ ] reis em papel. In-4º [pequeno] de 15 pp. nums.

84

Edgar Prestage – D. Francisco, p. 590.

O titulo na p. 1 e a 2 em branco. Na p. 3 as licenças. Barbosa, II, p. 169 [ou 184, col. II]. Innocencio, II, p. 439. Pinto Matos, p. 373. Garcia Peres – Catalogo, p. 366. Edgar Prestage – Francisco, p. 571. Palha, 826. Simón Díaz – Bibliografía, 4571, p. 541. BN [RES. 788 P.] Cambridge, Mass. Harvard University. [2] Política Militar em avisos de Generales, Escrita al Conde de Liñares, Marquez de Viseo, Capitan General del mar Oceano, del Consejo de Estado de su Magestad y su Gentilhombre de la Camara. Por Francisco Manuel de Melo, Cavallero del abito de Christo, Maesse de Campo de um tercio de infanteria Española por su Magestad. Com Privilegio. Em Madrid. Em la imprenta de Francisco Martinez. 1638.85 18 hojas [inums.] + 46 fols. [nums.] + 2 hs. [inums.] 19,5 cm. – Epistola al Conde Duque de Sanlucar. – Censura del P. Agustín de Castro. – L. V. – Apr. del P. Hugo Sempilio. – S. Pr. Al autor por diez años. – S. T. – E. (ninguna). – Frontis firmado por Martin Droesmoode. – Ded. A D. Miguel de Noroña, conde de Liñares, etc. (Com datos biográficos). Al que leyere. – Texto. – Tabla de los Avisos que contine este libro. – Colofón. Gallardo, III, nº 2205. [Barbosa, II, pp. 184, col. II-185, col. I.]. Edgar Prestage – Francisco, p. 581. Madrid. Academia de la Historia. 2-15-216. Nacional. R-286281; R-4509. – San Lorenzo del Escorial. Monasterio. M-8-II-10. Sevilla. Colombina. 55-411.86 [3] ECCO | POLYTICO. | RESPONDE EM PORTVGAL | A LA VOZ DE CASTILLA. | y satisface | A VN PAPEL ANONYMO, | OFRECIDO | AL Rey Don Felipe el Quarto. | Sobre los intereces de la Corona Lusitana, y Del Occeanico, | Indico, Brasilico, Ethyopico, Arabico, Persico, y | Africano Imperio. | Proponese | AL ILVSTRE, 85 86

Descrição tomada de Edgar Prestage – D. Francisco, p. 581. Simón Díaz – Impresos (1532, p. 411).

VENERABLE, PRVDENTE | y Esclarecido Consejo de Estado | DEL MVY ALTO, Y MUY PODEROSO REY | de Portugal Don Iuan el Quarto, | nuestro Señor. | Publicado | FRANCISCO MANVEL. | Contodas las licencias. | EN LISBOA. | Por Paulo Craesbeeck Impressor de las Ordenes | Militares. Año 1645. In-4º [pequeno] de V fols. inums. e 100 nums. na fr. Nas V fls. inums. (prels.) o seguinte: ante-rosto, estampa alegórica, gravada a buril em chapa de cobre, que apresenta a seguinte rubrica: “Lucas Vorstermans scul.” (fr. fl. I); em branco (v. fl. I); titulo (fr. fl. II); em branco (v. fl. II); “LICENÇAS.” (fr. fl. III a fr. fl. IV); em branco (v. fl. IV); “EL AVTOR | escrive as todos.” (fl. V). Na realidade só tem 98 fls., visto a numeração saltar de 42 para 45. Barbosa, II, p. 169 [185, col. I]. Innocencio, II, p. 439. Pinto Matos, p. 370. Martinho Fonseca – Elementos, p. 54. Garcia Peres – Catalogo, p. 366. Edgar Prestage – Francisco, p. 572. Exposição Bibliográfica Restauração, 834. Azambuja, 1496. Monteverde, 3333. Rodrigo Veloso (Primeiro escrínio), 2480. Azevedo-Samodães, 2046. Ameal, 1491. Avila Perez, 4822. Palha, 3001. Catalogo Nº 3 de O Mundo do Livro, 2844. BN [RES. 848 P.; H.G. 8817 P.]87 Évora. Pública. – Madrid. Nacional. U.2292 – Santander. Menéndez Pelayo. R.III-7-28.88 [4] HISTORIA | DE LOS | MOVIMIENTOS | Y | SEPARACION | DE CATALVÑA; | y de la Guerra entre | LA MAGESTAD CATOLICA | de Don Felipe el Cuarto Rey de Castilla, | y de Aragon, | Y LA DEPVTACION GENERAL | de aquel Principado. | DEDICADA, OFRECIDA, Y CONSAGRADA | a la Santidad Del Beatisimo Padre | INOCENCIO DECIMO | PONTIFICE SVMO MAXIMO ROMANO. | Escrita | POR CLEMENTE LIBERTINO. | En San Vicente. Año 1645. | Por Paulo Craesbeeck Impresor de las | Ordenes Militares. In-4º de VII fls. inums. e 165 nums. na fr.

87 88

Arouca, LETRA M-R, 211, p. 103. Simón Díaz – Impresos, 2688, p. 682.

Nas VII fls. inums. (prels.) o seguinte: “HISTORIA | DE | CATALVÑA | Conturbatas sunt Gentes, & inclinata sunt Regna, | Dedit vocem suam, mota estterra. Pf. 45.” (fr. fl. I); em branco (v. fl. I); titulo (fr. fl. II); em branco (v. fl. II); “Padre Santo.” (fls. III a V); “HABLO A QVIEN LEE.” (fr. fl. VI a fr. fl. VII); em branco (v. fl. VII). Sem o nome do Autor. Barbosa, II, p. 169 [p. 185, col. I; apresenta como editor Pedro Craesbeeck]. Innocencio, II, p. 439. Pinto Matos, p. 370. Martinho Fonseca – Subsidios, p. 17. Martinho Fonseca – Elementos, p. 55. Martins Carvalho – Diccionario, p. 162. Garcia Peres – Catalogo, p. 366. Edgar Prestage – Francisco, p. 572. Palha, 3220. Monteverde, 3336. Rodrigo Veloso (Primeiro escrinio), 2841. Exposição Bibliográfica Restauração, 838. Azevedo-Samodães, 2049. Avila Perez, 4830. O Mundo do Livro. Catalogo Geral N.º2, 3552. BN [RES. 600 P.] 89 Madrid. Academia de la Historia. 2-2-7-881. Nacional. U-1480.90 [5] MANIFESTO | DE | PORTUGAL | ESCRITO POR | FRANCISCO MANVEL. | EN LISBOA. | De orden de su Magestad, y com todas licencias. | Por Pablo Craesbeeck. Año 1647. In-4º de II pp. inums. e 36 nums. O titulo, encimado pelo escudo das armas reais portuguesas, na p. I. A p. II em branco. Barbosa, II, p. 170 [p. 185, col. I]. Innocencio, II, p. 440 e XVIII, p. 203. Pinto Matos, p. 374. Martinho Fonseca – Elementos, p. 356. Garcia Peres – Catalogo, p. 366. Edgar Prestage – Francisco, p. 575. Exposição Bibliográfica Restauração, 841. Palha, 2977. Azevedo-Samodães, 2050. Ulrich, 2569. Avila Perez, 4831. O Mundo do Livro. Catalogo Nº2, 1977. BN [RES. 56571 P.]91

Arouca, 216, p. 105. Simón Díaz – Impresos, 2564, p. 659. 91 Arouca, 222, p. 107-108. 89 90

[6a] EL MAYOR | PEQVEÑO. | VIDA, Y MUERTE | del Serafin humano | FRANCISCO DE ASSIS. | RECVERDALAS A LA | piedad vniuersal. | FRANCISCO MANVEL, | OFRECIDO A LA MVY | Venerable Prouincia de | la Arrabida. | Qui autem minor est in regno caelorum, | maior est illo. Matth. c. II. | --- | EN LISBOA | Por Manuel da Sylua, año 1647. In-8º de XVI fls. inums. e 164 nums. na fr. Nas XVI fls. inums. (prels.) o seguinte: titulo (fr. fl. I); em branco (v. fl. I); “APROVAÇOENS.” (fr. fl. II a fr. fl. IV); “ERRATAS” (v. fl. IV e fr. fl. V); “PROTESTACION.” (v. fl. V); “ESPLICASE LA | estampa que hace frente | Al libro.” (fr. fl. VI a fr. fl. VII); “MANIFESTO, | AL LETOR.” (v. fl. VII a fr. fl. X); Dedicatoria (v. fl. X ao v. fl. XVI). Barbosa, II, p. 170 [p. 185, col. I]. Innocencio, II, p. 440. Pinto Matos, p. 371. Garcia Peres – Catalogo, p. 366. Edgar Prestage – Francisco, p. 575. Monteverde, 3338. O Mundo do Livro. Catalogo Geral Nº2, 3353. BN [R. 13628 P.; H.G. 11724 P.]92 [6b] EL MAYOR | PEQVENO | VIDA, Y MUERTE | del Serafim humano | FRANCISCO DE ASSIS. | Recuerdalas a la piedad universal | FRANCISCO MANVEL. | AGORA NVEVAMENTE EMENDADO | por el mesmo Autor em esta segun- | edicion. | OFFRECIDO AL ILLVSTRISSIMO, Y | Reverendissimo P. Fr. Martinho do Rosario, Co- | missario General Apostolico de la Familia Fran- | ciscana em estos Reynos, y Señores de | Portugal, hijo de la Venerable Pro- | vincia de la Arrabida. | Em LISBOA. Com todas licencias. | Em la Officina Craesbeckiana. Año 1650 | Com privilegio Real, y a costa de Manuel Pereyra | mercader de libros. In-8.º de XVI pp. inums. e 279 nums. Nas XVI pp. inums. (prels.) o seguinte: titulo (p. I); “Qui autem minor est in | regno caelorum, maior | est illo. Matthaei | cap. II” (p. II) Alvará (pp. III e IV); “LICENÇAS.” (pp. V e VI); Dedicatoria (pp. VII a XIII); “AO LEITOR” (pp. XIV e XV); “PROTESTATION” (p. XVI). Da p. 273 em diante: “PERORACION.”. 92

Arouca, 219, p. 106.

Garcia Peres – Catalogo, p. 336. Edgar Prestage – Francisco, p. 575. Palha, 2622. Monteverde, 3339. Rodrigo Veloso (Segundo escrinio), 4899. O Mundo do Livro. Catalogo Geral Nº3, 1072A. BN [H.G. 11725 P.; R. 21610 P.]93 [7] EL FENIS | DE | AFRICA. | AGVSTINO | AVRELIO, | OBISPO HYPPONENSE. | Hallado | Entre las immortales cénicas | de su memoria. | POR FRANCISCO | MANVEL. | Diuidido em dos partes. | A IVAN NVÑEZ DE CVÑA. | EM LISBOA. | Por Pablo Craesbeeck. Año 1648. | QVARE? In-8.º [in-12º segundo Edgar Prestage, p. 576] de XII fls. inums. e 220 nums. na fr. Nas XII fls. inums. (prels.) o seguinte: titulo (fr. fl. I); em branco (v. fl. I); “Licencias.” (fl. II); “ A | IUAN NVÑEZ | DA CVÑA.” (fr. fl. III a fr. fl VI); em branco (v. fl. VI); “CARTA A LOS LETORES” (fls. VII a X); “TABLA DE LAS | matérias, sobre que se dis- | cursa em esta primera | parte.” (fr. fl. XI a fr. fl. XII)); “PROTESTACION.” (v. fl. XII). Barbosa, II, p. 170 [185, col. I]. Innocencio, II, p. 440. Pinto Matos, p. 371. Garcia Peres – Catalogo, p. 366. Edgar Prestage – Francisco, p. 576. Palha, 2621. Azambuja, 1497. Monteverde, 3334. Rodrigo Veloso (Primeiro escrinio), 2834. Rodrigo Veloso (Segundo escrinio), 4897. Avila Perez, 4827. O Mundo do Livro. Catalogo Nº2, 1976. BN [R. 13647 P.; H. G. 11695 P.]94 [8] SEGVNDA PARTE | DEL FENIS | DE AFRICA. | AGVSTINO | AVRELIO, | OBISPO HYPPONENSE. | Al Reuerendis. P. D. Fr. Luis de Sosa, | Don Abbad Del Conuento | de Alcobaça, y Limosnexo | mayor de S. Mag. | POR FRANCISCO | MANVEL. | AGVSTINO SANTO. | Libro segundo místico. | --- | EN LISBOA. | Por Pablo Craesbeeck. Año 1649. | QVARE. In-8º [in-12º segundo Edgar Prestage, p. 577] de VIII fls. inums. e 228 nums. na fr. Arouca, 220, p. 107. Arouca, LETRA M-R, 214, p. 104. Simón Díaz, Impresos del siglo XVII (764, p. 171), informa de outros exemplares: Coimbra. Universitaria. RB-23-4. Madrid. Nacional. 327550; U-8.523. 93 94

Nas VIII fls. inums. (prels.) o seguinte: titulo (fr. fl. I); em branco (v. fl. I); “LICENÇAS” (fl. II); Dedicatoria (fls. III e IV); “A QVIEN LEE.” (fr. fl. V a fr. fl. VII); “TABLA DE LAS | matérias, sobre que se dis- | cursa em esta Segunda | parte.” (v. fl. VII ao v. fl. VIII). Barbosa, II, p.. 170 [185, col. I]. Innocencio, II, p. 440. Pinto Matos, p. 371. Edgar Prestage – Francisco, p. 576. Garcia Peres – Catalogo, p. 366. Palha, 2621. Monteverde, 3334. Rodrigo Veloso (Primeiro escrinio), 2384. Rodrigo Veloso (Segundo escrinio), 4897. Azambuja, 1497. Avila Perez, 4827. O Mundo do Livro. Catalogo Nº2, 1976. BN [H.G. 11696 P.] Nacional. U-8524.96

95

Madrid.

[9] LAS TRES | MVSAS | DEL | MELODINO. | Halladas por | DON FRANCISCO MANVEL. | QUE POR SU INDUSTRIA RECOGIO | y publica, Henrique Valente de Oliuera. | AL SEÑOR IVAN RODRIGVES DE | Vasconcelos y Sosa Conde Castelmellor, | Almendra, y Valellas. Comendador de las encomiendas de | Pombal, Requien, Aluaraens, Facha, Saluatierra del Estremo, y | S. Maria de Beja. Alcayde mayor de los Castillos de | Pombal, Saluatierra, y Penamacor. Gouernador, | y Capitan General, del Estado del Brasil, y sus Conquistas | --- | EN LISBOA. Con todas las licencias. | En la Officina Craesbeeckiana: Por Herique | Valente de Oliueira, y a su costa. Año 1649. In-4º de VIII fls. inums. e 134 nums. na fr. Nas VIII fls. inums. (prels.) o seguinte: titulo (fr. fl. I); em branco (v. fl. I); “AL SEÑOR | IVAN RODRIGVEZ | de Vassconcelos y Sosa, Conde | de Castelmellor, &c.” (fr. fl. II); “AL LECTOR.” (v. fl. II); “Con el original de estos versos se hállo | esta carta, que sirua se su | introducion.” (fl. III); “INDEX” (fr. fl. IV a fr. fl. VIII); “LICENÇAS.” (v. fl. VIII). Barbosa, II, p. 170 [185, col. II]. Innocencio, II, p. 440. Pinto Matos, p. 371 Garcia Peres – Catalogo, p. 366. Edgar Prestage – Francisco, p. 577. Monteverde, 3340. Rodrigo Veloso (Primeiro escrinio), 2837. Rodrigo Veloso (Segundo escrinio), 4900. 95 96

Arouca, LETRA M-R, 215, p. 105. Simón Díaz, Impresos del siglo XVII, 765, p. 171.

BN [RES. 1146 P.]97 [10] PANTHEON. | A LA | IMMORTALIDADE | Del Nombre: | ITADE. | Poema Tragico | DE FRANCISCO MANVEL. | AL CONDE CAMARERO MAYOR. | Diuidido em dos Soledades. | Hacele Publico | PAVLO CRAESBEECK. | QVARE? | --- | LISBOA. | EN LA OFFICINA CRAESBEECKIANA. | Com licencia. Año 1650. In-16º de VI fls. inums. e 47 nums. na fr. Na VI fls. inums. (prels.) o seguinte: titulo (fr. fl. I); em branco (v. fl. I); Licenças (fl. II); “AO SENHOR D. IOAM | Rodrigues de Sà de Meneses | Conde de Penagião, Cama- | reiro mor de S. Mag. do seu | Conselho de Guerra. Senhor | de Seuer, & Matosinhos, | Alcayde mor da for- | taleza de S. Ioão | de Fox, &c.” (fr. fl. III a fr. fl. IV); “EL ESTAMPADOR | a los Criticos, y Cultos | Ingenios.” (v. fl. IV ao v. f. V); “por satisffazer a la pergunta | que hiço um estrangero | acerca del numero de las | obras del Autor, se ponen | aqui las impresas, y las | que estan para estamparse | màs em breue.” (fl. VI). Barbosa, II, p. 170 [185, col. II]. Innocencio, II, p. 440. Pinto Matos, p. 374. Garcia Peres – Catalogo, p. 366. Edgar Prestage – Francisco, p. 578. BPADE98 [11] DECLARACION, | QVE | POR EL REYNO DE | PORTUGAL | OFRECE EL DOCTOR | GERONYMO DE SANTA CRVZ | TODOS | LOS REYNOS, Y PROVINCIAS DE | EVROPA, | CONTRA | Las Calumnias publicadas de sus Emulos. | --- | LISBOA. | Com todas las licencias necessarias. Em la Emprenta de ANTONIO CRAESBEEK y Mello | Año 1663. In-4º de XVI fls. Inums. O título na fr. Fl. I. O v. fl. XV em branco. Na fr., v. em branco, da fl. Fl. as “LICENCAS.”. Sem o nome do Autor. 97 98

Arouca, 223, p. 108. Arouca, 224, p. 108.

Barbosa II, p. 169 [185, col. I; indica como data 1643]. Innocencio, II, p. 439 e XVIII, p. 213. Pinto Matos, p. 373. Martinho Fonseca – Subsidios, p. 36. Martinho Fonseca – Elementos, p. 80. Garcia Peres – Catalogo, p. 366. Edgar Prestage – Francisco, p. 581 [corrige a data de Barbosa]. Exposição Bibliográfica Restauração, 832. Palha, 2979. Azambuja, 1495. Monteverde, 3331. Avila Perez, 4821. Catalogo Nº 3 de O Mundo do Livro, 2841. O Mundo do Livro. Catalogo Geral Nº 2, 3348. O Mundo do Livro. Catalogo Geral, 1071. BN [RES. 56573 P.]99 [12a] Demostracion | QUE | Por el Reyno de Portugal | AGORA OFRECE | El Doctor Geronimo de Sancta Cruz | a todos | Los Reynos, y Provincias de Europa | en prueva | De la Declaracion | Por em mesmo Autor, y por el mesmo Reyno | a todos | Los Reynos, y Provincias de Europa | ya ofrecida. | Contra las Calunias publicadas de sus Emulos, | y em favor | de las Verdades por el Tiempo | Manifestadas. [1664] In-4º de XVI fls. inums. O título no alto da fr. fl. I, encimando o texto. No fim deste: “LISBOA. Com as licenças necessarias, | Na Officina de ANTONIO CRAESBEECK DE MELLO, Impressor | De Sua ALTEZA. Anno 1664.”. O v. fl. XVI em branco. Sem o nome do Autor. [Barbosa, p. 185, col. I; dá como data 1644]. Innocencio, II, p. 439. Pinto Matos, p. 373. Martinho Fonseca – Elementos, p. 83. García Peres – Catalogo, p. 366 [corrige a data indicada por Barbosa]. Exposição Bibliográfica Restauração, 833. BN [RES. 56572 V.]100 [12b] Demostracion | QUE | Por el Reyno de Portugal | AGORA OFRECE | EL Doctor Geronimo De Sancta Cruz | a todos | Los Reynos, y Provincias de Europa | en prueva | de la Declaracion | Por em mesmo Autor, y por el mesmo Reyno | a todos | Los Reynos, y Provincias de 99

Arouca, 207, p. 101-102. Arouca, LETRA M-R, 209, p. 102.

100

Europa ya | offrecida. | Contra las Calunias publicadas de sus Emulos | y en favor | de las Verdades por el Tiempo | Manifestadas. [c. 1644] In-4º de 54 pp. nums. O título no alto da p. 1, encimando o texto. Sem o nome do Autor. Barbosa, II, p. 169 [185, col. I]. Martinho Fonseca – Subsidios, p. 36. Edgar Prestage – Francisco, p. 581. Azevedo-Samodães, 2045. Avila Perez, 4823. Catalgo Nº 3 de O Mundo do Livro, 2842. ANTT101 [13] Obras Morales de Dom Francisco Manuel. A la Serenissima Reyna Catalina Reyna de la Gran Bretaña. Parte Primera. Em Roma, Por el Falco. MDC.LXIV. Con licencia de los Superiores. || Segunda Parte del Primer Tomo de las Obras Morales de Dom Francisco Manuel. En Roma por el Falco y Varesio. MDCLXIV. Con licencia de los Superiores. Vol. I: In-4º de XL pp. inums. e 485 pp. nums. Vol. II: In-4º de 237-248-184 pp.102 Toda, Italia, III, nº 3250. Prestage, p. 582. Ann Arbor. University of Michigan. Cordoba. Pública. 18-77. Granada. Universitaria. A-38-202. Madrid. Academia de la Historia. 15-2-2-6. Nacional. R-27981. Santander. Menéndez Pelayo. R-IX-3-8/9. Sevilla. Universitaria. 87-78. Washington. Catholic University of America Library. Ibero-American Collection.103 [14] Arouca, LETRA M-R, 210, pp. 102-103. Descrição bibliográfica da responsabilidade de Edgar Prestage, D. Francisco, pp. 581582. 103 Informação coligida em Simón Díaz, Bibliografía de la literatura hispánica, p. 540. 101 102

Obras Metricas de Don Francisco Manuel, al Serenissimo Señor Infante Don Pedro. En Leon de Francia. Por Horacio Boessat y George Remeus, 1664. Com licencia de los superiores. In-4º de X pp. inums. e 358 pp. nums. 3 vols. 104 Prestage – D. Francisco, p. 583. Simón Díaz, 4567, p. 540. Cambridge, Mass. Harvard University. Chicago. Newberry Library. Londres. British Museum. 1464.h.1,2. Madrid. Facultad de Filología. 29921 [II]. Nacional. R.i.37. Nova Iorque. Hispanic Society. Paris. Nationale. Yg.126-27. Rouen. Municipale. O.571. Santander. Menéndez Pelayo. R-IV-9-1. Sevilha. Colombina. 21-2-4; 11-1-77-IV. Washington. Catholic University of America Library. IberoAmerican Collection. Mss. de obras em castelhano de Francisco Manuel de Melo na BNE Vejamos, então, algumas obras em castelhano de Francisco Manuel de Melo que não são mencionadas por Garcia Peres. As ausências limitam-se, fundamentalmente, a obras manuscritas. A consulta da bibliografia de José Simón Díaz permite levar a cabo um cotejo exploratório. A secção deste acervo dedicada às obras editadas do autor d’Os Apólogos Dialogais escritas em castelhano permite concluir que o elenco de Garcia Peres abrange a quase totalidade do corpus possível. São apenas excepção... Por seu turno, Garcia Peres refere as Cartas Familiares que, sendo em português e em espanhol, é uma obra não referenciada por Simón Díaz. Na secção de obras manuscritas, entretanto, Simón Díaz menciona as seguintes espécies bibliográficas, numeradas de 4536 até 4544: Comedia. Representáse en los montes de la Luna Letra del s. XVII. 9h. In-4º. 104

Descrição bibliográfica da responsabilidade de Edgar Prestage, D. Francisco, p. 583.

“– O los cielos, Calixto, nos engañan…” Fragmento de la tragedia La Imposible, incluido en Las tres musas del Melodino, Madrid. Nacional. Mss. 17.746 (fol. 273). Contra la fe no hay respeto. El esclavo de su padre Letra del s. XVIII. 52 h. In-4º Comprende las jornadas II y III. Se le atribuye en una nota mss. Paz, I, nº783; Roca, nº828-VIII-3. Madrid. Nacional. Mss. 18079 (fol. 65). Ecco politico… Letra del s. XVIII. 81 fols. 208 x 150mm. Esteve, págs. 264-265. Toledo. Pública. Mss. 365. La imposible Idilio cómico-real. Letra del s. XVII. 11h. In-4º. “– De aquella antigua memorable queja…” Paz, I, nº1.744. Madrid. Nacional. Mss. 17.746 (pág. 253). Las lágrimas de Dido, con otras rimas Letra del s. XVII. 148+113 fols., con un retrato del autor. In-4º. Roca, nº713. Madrid. Nacional. Mss. 17.746 (ex libris de Mathew Weld Hartstonge y de Gayangos). Manifiesto de Portugal. Letra del s. XVII. 315 x 220 mm. De la colección Mascareñas. Copia de la ed. de Lisboa. 1647. Inventario, VI, pág. 463. Madrid. Nacional. Mss. 2.373 (fols. 120-35). Manifiesto hecho en nombre del rebelde de Portugal por don Francisco de Melo y formado en Olivenza 3 de setiembre de 1643. Año 1643. 320 x 220mm. Inventario, VII, pág. 3. Madrid. Nacional. Mss. 2.375 (fol. 120). Memorial ofreçido al Rey nuestro Señor sobre el donativo que se trata de pedir a la Nobleza del Reyno de Portugal.

Lisboa. Nacional. Mss. 7.644. Politica militar, y auisos de generales. Autógrafo? Dedicatoria fechada en Madrid a 20 de abril de 1638. 310 x 215 mm. Coimbra. Universitaria.105 Entretanto, um dos valores heurísticos do Catálogo razonado reside no facto de permitir colocar-no no encalço de textos inéditos de diferentes autores. Podemos, uma vez mais, ilustrá-lo com o verbete dedicado a Francisco Manuel de Melo. Garcia Peres encerra a entrada com a transcrição de dois textos poéticos do autor das Obras Métricas cujos primeiros versos são, respectivamente: i. “Monarca invicto cuya excelsa frente” e ii. “Salió anoche el Amor, por darse gusto”. O intuito de Garcia Peres não foi o de coligir com propósito exaustivo espécies bibliográficas desconhecidas dos autores que reúne no seu corpus. Uma vez mais, constatamos que não o moveu uma pulsão crítica sistemática. O caso do primeiro texto transcrito é representativo: em diferentes casos, Garcia Peres dá a conhecer material que lhe pertence: “Damos enseguida un romance á Carlos V al hacer sus exequias en su retiro de Yuste, que poseemos manuscrito, y no viene en el tomo de sus Obras métricas.” Ora, a questão que se coloca é a de pensar de que modo utilizaremos este conteúdo informativo. Como representar na base de dados estes objectos textuais “destacáveis” das diferentes entradas do Catálogo razonado? É, sem dúvida, uma informação de valor que, neste sentido, exige um tratamento crítico diferenciado. Como primeiro passo, impõe-se a transcrição diplomática do texto: Monarca invicto cuya excelsa frente Respeta el orbe en el postrer aliento, Aun mas augusta en nobles desengaños Que entre caducos lauros y trofeos. De tu muerte los tristes funerales En vida hiziste con cristiano acuerdo, Para que fuesen las funestas pompas Primero que sufragios, documentos. Aun antes de morir morir quisiste, Por que la muerte te encontrase muerto, 105

Simón Díaz, Bibliografía de la literatura hispánica, pp. 537-538.

Y en sus mal entendidas prevenciones Pareció vanidad lo que era ejemplo. En las fatales aras del sepulcro La vida ofreces al Autor supremo, Para que fuese en reverente culto, Victima pura, no inviolable feudo. El morir cuando mueren los mortales Fuera ser desigual al nacimiento, Que en los hombre á Dios mas obligados, Primero muere, quien nació primero. Enseñado á venzer hasta la muerte Venzer quisiste, y en tu heroico pecho Prevenido el arraigo, antes del susto Fue victima mayor el vencimiento. El arte de morir dificultoso Solo tú comprendiste tan á tiempo Que sus leyes en tí fueran ociosas A no ser inviolables sus decretos. El morir una vez es estatuto, Morir dos veces fuera privilegio, Pero tú repitiendo los ensayos Oh! Cómo aseguraste los aciertos! Al mismo desengaño dando luzes, Solo tú penetraste los secretos Inexorables al discurso humano De aquel porque ignorado mas tremendo. De los bronces caducos trasladadas Las inscripciones de tu nombre excelso, En el ámbito estrecho de un sepulcro Grabaste sus aplausos mas eternos. Aquí yaze Monarca Soberano Ya reducido al polvo postrimero, Pavesa triste de aquel rayo ardiente Cuya luz no cabia en los Imperios. Atended á las vozes elocuentes Aun cuando mudas, dese busto regio, Que no se hizieron para los cayados Las desechas cenizas de los Cetros. Aquí yaze el famoso Carlos quinto ¡Oh ciega vanidad del mundo ciego cuando son nada los que fueron tanto,

qué han de venir á ser los que son menos!106 Seguidamente, procede-se à abertura de uma entrada “provisória” na Base de Dados, referenciando o texto pelo respectivo incipit. Uma vez consignado no arquivo, limitando-nos a preencher os campos possíveis com a informação disponibilizada por Garcia Peres, tratar-se-á de averiguar a localização do manuscrito a que faz menção. O processo pode ser, como se compreende, moroso. Mas a inscrição desta informação em linha permite publicitar a carência informativa, que será colmatada seja pelo processo de labor investigadora dos membros do grupo, seja pelo trabalho colaborativo dos investigadores externos que tenham acesso à BDCLLP. Num determinado ponto no tempo, a entrada poderá ser cabalmente desenvolvida e substituída por uma entrada definitiva. Esta, digamos, temporalização das entradas da base de dados é em grande medida inevitável; mas é, sem dúvida, essa mesma temporalização que permitirá rentabilizar o trabalho filológico encetado. O caso do segundo texto poético referenciado por Garcia Peres requer, por seu turno, um tratamento diferente. Eis o que nos diz a respeito da sua proveniencia: “De las Obras métricas copiaríamos, si no fuese tan extensa, la Epístola á su amigo Francisco de Quevedo, con quien si en gracias y donaires no puede competir en las obras ligeras, en las morales y filosóficas tal vez le excede; pero reproducimos el madrigal 34.º, página 238.” Trata-se, pois, de um texto transcrito directamente da edição das Obras Métricas, marcando a referência com a indicação do subgénero (“madrigal”), a numeração respectiva (“34º”) e, inclusive, a página das Obras Métricas em que se encontra (“238”). O modo mais produtivo de proceder, então, é o de representar o texto transcrito no campo “Observaciones” da entrada referente às Obras Métricas. Uma vez mais, a fixação desta informação do Catálogo razonado é levada a cabo com critérios diplomáticos. Eis o texto: PENDENCIA DE AMOR. Salió anoche el Amor, por darse gusto, De valenton al barrio del Contento, Y al llamar á la puerta á una esperanza, Cátale aquí, le alcanza Un cierto bravo, que le llaman Susto, Con otro que le llaman Escarmiento; Tiró el Susto un tormento, 106

Garcia Peres, p. 366.

Repara Amor en el broquel del brio, Entrase á componellos un Desvío, Mas cuando contemplaba sus vaivenes Llegan cuatro Desdenes, Saca Amor por espada la paciencia, Riñese la pendencia, Y al pelear, gallardo, airoso y recio Traspásale la punta de un Desprecio. Conoce Amor su herida, Teme perder la vida; Ya le asaltan las ansias de las dudas, Llámate, no le ayudas; Mas como acudirás á sus clamores Si andas tú con los mesmos matadores?107 Desta forma, o processo do trabalho de investigação terá como corolário o cotejo do texto transcrito com o texto consignado nas Obras Métricas, único modo de comprovar com suficiência crítica que as indicações de subgénero, numeração, paginação e a própria justeza da transcrição levadas a cabo por Garcia Peres são válidas. Assim, não só suplementamos o trabalho investigador de Garcia Peres, como, ainda, reconhecemos o valor fenomenológico do texto transcrito no Catálogo razonado: o acto de transcrição é um fenómeno material de circulação do texto de Francisco Manuel de Melo. Cópias manuscritas de obras em castelhano na BUS O Catálogo razonado, como tenho estado a insistir, se exceptuarmos o Teodósio, não menciona manuscritos de obras de Melo em castelhano. Entretanto, bibliografias como a já mencionada de Simón Díaz, se lhes reserva uma secção substancial, tão-pouco é exaustiva neste particular. Este facto, por si só, confronta-nos com a necessidade de contemplar o escrutínio de acervos bibliográficos específicos. O caso da “Biblioteca Universitaria de Salamanca” pode ser tomado como exemplo de como o trabalho de constituição da BDCLLP impõe a necessidade de suplementar o escrutínio de bibliografias genéricas com o cotejo de elencos de instituições concretas. Mais, ainda, um desenvolvimento cabal

107

Garcia Peres, p.

da investigação torna necessário compulsar directamente as espécies bibliográficas. Cito a descrição completa do manuscrito que contém os Doze sonetos levada a cabo no Catálogo de manuscritos de la Biblioteca Universitaria de Salamanca: Ms. 2100 Códice facticio. Castellano y portugués, s. XVII, papel, 2h. + 95 f. + 2h.; 200 x 140 mm.; enc. Pasta española, tej.: MELO SONETOS. Foliación moderna. En h. 1r: N321. A (f. 1-8): letra caligráfica. B (f. 9-95): letra itálica; además de la foliación moderna hay dos antiguas, una que comienza con f. 308 y restos de otra en margen sup. dcho. que numera como f. 1 el actual f. 16; en bl. f. 9, 10v, 11, 13v, 15. 1. f. 1r-8v FRANCISCO MANOEL DE MELLO: Doze sonetos por varias acciones en la muerte de la señora doña Inés de Castro. f. 1r PORTADA: Doze sonetos / por Varias acciones, / en la muerte de la Señora Doña/ Ines de Castro mujer del Principe Don Pedro de Portugal. / De Don Francisco Manuel de Melo. / A Don Jeronimo de Attayde. / [espacio] / Com todas as Licenças necesarias. / Em Lisboa. / Por Matheus Pinheyro. Anno 1628. f. 2r: Carta de don Francisco Manuel de Melo a don Jerónimo de Attayde y respuesta de éste, en portugués. f. 2v: En la prision: Del amor, que reciproco goçava, /del thalamo la prenda, que emprendía…; f. 3r: A los pies del Rey con los hijos: Yaçe a los pies intrepidos postrada, / Del Luzitano Rey Nisse llorosa…; f. 3v: Por sus lagrimas: Siembra los campos de Coral, y nieue, / Sulca los mares de Cristal, y grana…; f. 4r: Al despedirse de sus hijos: Llegad prendas, llegad (Nisse dicia) / dulces lisonjas, ya tristes despojos…; f. 4v: Al despedirse del esposo: Obediente al destino humilde cede / Nisse a la fuerça de un acero rudo…; f. 5r: Al degollarla: Rayo de acero fulminante mano / Vibraua (aun temeroso el mismo acero)…; f. 5v: Muerta: Cortada ya de la gadaña acerba / Nisse (aun mas hermosa) parecía…; f. 6r: Su inocencia, y triunfo: A la flor, que a los prados del Mondego / Era embidia, y Lisonja de los prados…; f. 6v: Sentimiento en su muerte: De funebres cipresses coronado / el Monda, padre del cristal lucido…; f. 7r: En el sepulcro: Por la imbidia al ocaso conducido / el esplendido Sol de la hermosura…; f. 7v: A la

coronación después muerta: En este, y aquel Pyramide valiente, / Moran dos almas vna al otra unida…; f. 8r: La voz de su escarmiento: O tu, que errante de la choça inculta / Por diuersas regiones derivado… 2. f. 10r-95r FRANCISCO MANOEL DE MELLO: Política militar en avisos de generales. f. 10r PORTADA: Politica militar en avisos de generales / escripta / Al conde de Linares Marques de Visseo, ca / pitan General del mar ocçeano, del consejo / de estado de su Magestad y su Gentil hombre, / dela Camara. / Por Francisco Manuel de Melo, caua / llero del abito de Christo, maesse de campo, / de un terçio de ynfanteria española / por su Magestad. / Con preuilexio en Madrid, en la Imprenta / de Francisco Martinez, 1638 f. 12r-13r: Tabla de los auissos que contiene / este libro. f. 14r-v: Papel del Sr. Prinçipe de Esquilache para el señor D. Geronimo / Mascarenhas autor del libro, Viage de la reyna nuestra señora, haviendole leydo (19 de octubre de 1650). Olim: Bart. 321; Pal. VII-E-5, 2-G-6, 816.108 Apenas cópias de obras em castelhano de Francisco Manuel de Melo? Sem dúvida. Mas não são espécies bibliográficas despiciendas para o avanço do conhecimento do “Castelhano como língua literária em Portugal”. Estas cópias são documentos materias da circulação, difusão e recepção de obras como os Doze sonetos ou a Política militar. A dimensão de arquivo digital da BDCLLP permite a publicitação “on line” destes factos textuais. A sua transcrição, nos termos já enunciados, ou digitalização pode ser incluída na entrada da espécie bibliográfica correspondente. Neste sentido, concluo esta secção precisamente com a fixação do texto dos Doze sonetos da cópia que se encontra na Biblioteca Universitária de Salamanca. Transcrição da cópia ms. dos Doze sonetos por varias acciones da BUS

Catálogo de manuscritos de la Biblioteca Universitaria de Salamanca, vol. II, Manuscritos 16802777, Salamanca, Ediciones Universidad de Salamanca, 2002, pp. 467-468 108

[BUS. Ms. 2100, Doze sonetos por varias acciones] [Fixação semi-diplomática] Soneto. En la prision 1. Del amor que reciproco goçaua Del thalamo la prenda, que emprendia La emulacion a fuerças de osadia, Ala inocente Nisse despojaua. Quanto mas prisionera se miraua Tanto menos sus males padecia: Pues lo poco de libre, que aun tenia En nueuo abono de su fe dexaua. Expuesta assi con animo valiente Resignado el amor en sus acciones, Al barbero se fia sin reselo. Dudava la atencion deuidamente Qual mas solicitaua sus prisiones La fé de Nisse, ó de la imbidia el zelo. Soneto. A los pies del Rey con los hijos 2. Yace alos pies intrepidos prostrada Del Luzitano Rey Nisse llorosa Y en cada perla, que deriua hermosa La voz de su dolor articulaua; Mira! (le yua a decir) quando plegada Por la passion, la lengua temerosa Enseñó muda que la accion piedosa Nunca fuer mejor dicha que llorada. Mas al discurso ya restituida, Para que a su perdon la causa arguya, Buelue (le dice) tu rigor en calma Perdona pues tu alma, y no mi vida: Que si Pedro es porcion del alma tuya De Pedro en estas se diuide el alma.

Soneto. Por sus lagrimas. 3. Siembra los campos de Coral, y nieue, Sulca los mares de Cristal, y grana Vna esquadra de aljofares ufana De perlas vn exercito no breue. Contra vn diamante cada qual se mueue En fauor de vna lucida mañana Que con violencia barbara, y tirana Intrepido a manchar su luz se atreue: Mas el contrario rigido obstinado Niega el decoro, a la que anuncia el dia Mas se endurece quando mas le embiste: Ay fiero pecho, ay coraçon elado, Que no resistirá la fuerça impía Del que a belleza, y lagrimas resiste. Soneto Al despedirse de sus hijos. 4. Llegad prendas, llegad, (Nisse dicia) Dulces lisonjas, ya tristes despojos: Mas no lleguéis! que me me aumentará enojos Sy el llegar diuision os prometia. Toda el alma parece que vertia En llanto desatada por los ojos; Las rosas blancas, y clauetes rojos, Igualmente ynundaua, que encendia. Al fin es fuerça (yo muero) el apartarme, Y pues que sois del coraçon pedaços Quiero por la memoria en vos quedarme. Estos besos guardad, estos abraços, Será para de vós nunca olvidarme Firma la boca, y cedula los braços. Soneto Al despedirse del esposo. 5. Obediente al destino humilde cede Nisse a la fuerça de vn acero rudo,

Que antes de desatar el vital ñudo Estes ultimas uozez le concede. Assi el dolor en la constancia excede Que duda el alma, con affecto mudo, Sy lo firme vencer lo mortal pudo, Sy lo mortal lo firme puede: A Dios (dixo) mi bien, a Dios, y agora De mi amor, de mi fé, ó de mi oluido Son testigos las lagrimas, que adviertes: Que el alma no! por tanto muerte llora Antes siendo por ti tan dulce ha sido Que llora no poder lograr mil muertes. Soneto Al degollarla. 6. Rayo de acero fulminante mano Vibraua (aun temeroso el mismo acero) A Nisse en donde amor tomó primero Ardientes rayos quando sol temprano. Dizen los ojos su querella en vano Al cielo, que piedosamente austero Por ser la hermosura lisongero Quiso ser a las lagrimas tirano: Mas baxando cruel la infame espada Del blanco Oriente de la nieue pura Desató en rubies los caudales: O (dixo Nisse) muerte desdichada Ven! para que no quede a la ventura De nueuo imperio para darme males. Soneto Muerta. 7. Cortada ya de la gadaña acerba Nisse (aun mas hermosa) parecia Para ver, que troncado adormecia Sobre el verde regaço de la yerba. Alli tanto su fé su amor obserua Venciendo de la muerte la osadia, Que en breue erario de ceniça fria

Diluuio ardiente del amor conserua. Y el alma en los exemplos detenida Amoroso milagro! Articulaua Rethorica el dolor de tanta herida. Ay! Perfidos, (decia) que impostaua Para el fin del amor el de la vida Si amor es alma, y el alma no se acaba. Soneto. Su inocencia, y triunfo. 8. A la flor, que a los prados del Mondego Era embidia, y lisonja de los prados A los ojos solicitos agrados. A las almas tirano, y dulce fuego. Sin admitir de la inocencia el ruego Exercitos de soplos conjurados Negaron el perdon, que los arados Prestaron tanta vez a su sossiego. Y si del Euro al impeto furioso Cedio el marfil, y desató la grana Tributó lo mortal, mas no lo hermoso: Que el furor mismo, que la holló temprana Le boluio con espacio pressuroso Si breue Ocaso en immortal mañana. Soneto. Sentimiento en su muerte. 9. De funebres cipresses coronado El Mondo padre del cristal lucido En dolorosos grillos detenido, En lagrimosas señas desatado Sobre la avena palida sentado LLoraua, y tanto de su mal sentido Que aun quedó de los ecos repetido Su llanto a su desseo no ygualado. El barbaro lenguaje, que formaua La voz confusa del sonoro estruendo (Dice) ministro del dolor, que encierra, Nisse ó en uano la muerte te ocultaua

Sy opaca fuerça al marmol resistiendo, La razon abre lo que el marmol cierra. Soneto. En el sepulcro. 10. Por la imbidia al ocaso conducido El esplendido Sol de la hermosura Ilustra el centro desta piedra dura Eclypsado tal vez, no deslucido. Mas para que se essente del oluido Merito sy, no desigual ventura En el amante pecho le assegura Templo al Amor, a la memoria nido. O tu qualquiera, que este marmol veas Si commiseracion, si espanto beues, Y la causa fatal saber desseas. Passa confuso, y en espacios breues Que al alma affectuosa inscripsion leas Luego verás lo que a tus ojos deues. Soneto. A la coronacion despues muerta. 11. En este, y aquel Pyramide valiente Moran dos almas vna al otra unida, Si igualmente pagadas en la vida En la muerte conformes igualmente Onora a entrambas coronada frente No mas al sangre, que al amor deuida Vna por ser tambien correspondida, Otra por ser tambien correspondiente. Y si la fama aligera pregona Felice a entrambas, y infelice suerte Con que iguales sus meritos abona De vna pues (que le dio) attento advierte La fortuna, en la muerte, la corona Porque acavó su merito en su muerte. Soneto. La voz de su escarmiento.

12. O tu, que errante de la choça inculta Por diuersas regiones deriuado A ver las marauillas destinado Tu planta, aun mal, la muerte dificulta. Y tu, por quien de nueuo al mar resulta Barbara ostentacion de Sceptro ayrado, Que al furor de su imperio rebelado Obseruas los milagros, que el oculta. Perdona de la tierra el curso vago, Suspende pues el mar tanto desuio A las vozes de Eneas, de Carthago. Pero quando a su Voz no pare el brio Sera proprio escarmiento ageno estrago Si el dueño adviertes deste marmol frio! Fin.

Apêndice de imagens

fig. 1. Página inicial de la BDCLLP

fig. 2. Página da entrada da BDCLLP referente aos Doze sonetos por varias acciones, BUS: ms. 2100.

“Funções sociais da competência plurilingue nos séculos áureos peninsulares”, in Ángel Marcos de Dios, ed., Aula Bilingüe, vol. I, Investigación y archivo del castellano como lengua literaria en Portugal, Salamanca, Luso-Española de Ediciones, 2008, pp. 137-212.

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