Filosofia e poesia na Grecia antiga Relaçao e diferenças

June 8, 2017 | Autor: M. Martin-velasco | Categoría: Philosophy and poetry
Share Embed


Descripción



Toda a tradução de Calino é de Maria Helena Rocha Pereira, Hélade. Antologia da Cultura Grega, Guimarães Editores, 2009
21. Pit. 9, 103 E, enquanto mato a sede de cânticos, alguém me encarrega da tarefa de acordar de novo a glória antiga dos teus antepasados.




Filosofia e poesia na Grécia antiga. Relação e diferenças
María José Martín Velasco (Univ. de Santiago de Compostela)
Raias Poeticas


Introdução

É conhecida como lírica grega um corpo de textos poéticos de enorme beleza, produzidos nos séculos VII e VI a.C., que chegaram até nós de forma fragmentada e incompleta. Tratam-se de composições curtas, de tom distinto, produzidas em todo o espaço daquilo que era a Grécia Antiga e escritas nos dialectos e metros próprios de cada zona. É uma poesia de carácter urbano, nascida de um contexto social muito concreto de que nos apenas chegaram referências através de outros tipos de fontes, numa época em que a Polis se desenvolve graças ao comércio e à colonização do Mediterrâneo. Foi um período em que os heróis míticos e os seus impenetráveis desígnios divinos vão dando lugar a uma nova realidade na busca da igualdade e liberdade humana.
A principal contribuição desta poesia lírica e a sua inovação sustenta-se no facto de que, com ela, a subjectividade entra no panorama literário grego. Por outras palavras, ocorre pela primeira vez na literatura grega, a fusão entre o eu poeta e o eu narrador no momento existencial actual. Conduz, igualmente, a que, pela primeira vez, personagens reais e identificáveis demonstrem na expressão artística literária o seu próprio pensamento, as suas opiniões, crenças, amores, dificuldades, lutas e comportamento.

1. O nascimento da subjectividade

A lírica irrompe no panorama do pensamento ocidental com um vigor e uma força criativa e inovadora, tanto pela sua temática, como pela sua forma de expressão.
Com ela, a literatura grega sofre uma alteração drástica e abre espaço ao que, até então, não fora tratado: o universo pessoal e cotidiano do poeta. Com o surgimento do eu, dá-se também entrada à visão crítica dos valores socialmente aceites. Com ataques directos ou com alusões veladas de cariz reivindicativo e contestatário, estes autores colocam em causa os princípios morais, sociais e estéticos aceites em seu redor. Fazem-no com um tom vitalista, cheio de referências ao prosaico e ao cotidiano e usando uma linguagem próxima da expressão corrente.
Até então, o género predominante havia sido a epopeia, a poesia narrativa em verso heroico que relatava o destino de uns heróis num plano mítico, num lugar e tempo longínquos. Escrita num dialecto artificial, a linguagem da epopeia era o resultado de uma evolução de uma língua anterior à falada nessa altura nas diferentes zonas da Grécia, que se ia transmitindo oralmente e mantendo os esquemas métricos. Assim, no momento em que nos chegam esses poemas, o que encontramos é uma complexidade de formas evolucionadas em que se misturam distintas soluções dialectais, juntamente com outras artificiais, que forçam a expressão a adaptar-se ao metro. Portanto, era substancialmente diferente da linguagem quotidiana dos ouvintes e, consequentemente, dificilmente compreensível.
Se a epopeia conta com uma linguagem formular, contando o que era digno de ser recordado pela sua sublimidade e perenidade, o poeta lírico, por seu lado, fala com as suas próprias palavras da sua própria pessoa, do quotidiano, do efémero e contingente, dos aspectos que afectam o homem de forma positiva ou negativa, das suas limitações, dos seus prazeres, dos seus inimigos, da sua boa ou má sorte, da juventude, da velhice, do vinho. Abandona em definitivo os grandes relatos míticos para dedicar-se a contar o micro relato quotidiano que forma a sua existência diária, a cantar a sua própria história.
Safo enfrenta as convenções tradicionais da ideia de beleza, associadas às armas e à guerra. Não é belo o objectivamente belo, nem o comumente considerado como belo, senão o que a ela lhe parece belo.

1. Safo (fr. 16 L-P)

Οἰ μὲν ἰππήων στρότον οἰ δὲ πέσδων
οἰ δὲ νάων φαῖσ᾽ ἐπ[ὶ] γᾶν μέλαι[ν]αν
ἔμμεναι κάλλιστον, ἔγω δὲ κῆν᾽ ὄτ-
τω τις ἔραται
Uns dizem que é uma hoste de cavalaria, outros de infntria; outros dizem ser uma frota de naus, n aterra negra, a coisa mais bela: mas eu digo ser aquilo que se ama. (trad. Federico Lourenço).

Arquíloco, espartano, com aberta franqueza e liberdade de espírito, fala de forma brutal de como não teve escrúpulos em abandonar o seu escudo, para desse modo salvar a sua vida.
2. Arquíloco (6D)

ἀσπίδι μὲν Σαΐων τις ἀγάλλεται, ἣν παρὰ θάμνωι
ἔντος ἀμώμητον κάλλιπον οὐκ ἐθέλων,
αὐτὸς δ᾽ ἐξέφυγον θανάτου τέλος. ἀσπὶς ἐκείνη
ἐρρέτω· ἐξαῦτις κτήσομαι οὐ κακίω.

Algum Saio se ufana agora com o meu escudo, arma excelente, que deixei ficar, bem contra a minha vontade, num matagal. Mas salvei a vida. Que me importa aquele escudo? Deixá-lo! Hei-de comprar outro que não seja pior. (trad. Maria Helena da Rocha Pereira)
Todos estes elementos comuns geram formas poética diversas, precisamente em função dos lugares em que surgem, das circunstâncias políticas ou pessoais em que se cultivaram e do marcado selo pessoal que imprime cada um dos autores. As formas poéticas que conservamos são, em primeiro lugar, a Elegia, que é uma exortação pública, de carácter sério e solene, cujo principal representante é Sólon. Em segundo lugar, o iambo, que é um canto crítico e jocoso que dá relevo aos aspectos mais grotescos da realidade quotidiana. Em terceiro lugar, a lírica monódica, representada por Safo e Alceo, que cria a via para a expressão mais íntima e mais epidérmica com as suas formas poéticas sublimes e, por vezes simples. Finalmente, a lírica coral, cujo representante mais conhecido é Píndaro, expressão do espírito grandioso e simbólico das celebrações locais.
Os autores fazem uso destes géneros poéticos para expressar os seus pontos de vista com paixão e sem sentimentalismo, com sobriedade, coragem e inclusivamente crueldade, e, sobretudo submetendo-se com disciplina, rigor e pulcritude a um modo de exposição e verificação consideravelmente exigente. Como consequência, deixaram-nos toda uma produção de enorme qualidade artística, que incorpora a poesia das coisas da vida tal e qual ela é, com naturalidade.
O último aspecto introdutório que vamos enunciar e que depois desenvolveremos é o carácter social desta poesia. Não se entende como subjectiva na lírica grega, uma poesia intimista ou pessoal, uma exibição de uma sensibilidade original. O poeta lírico, pelo contrário, é um representante de uma colectividade que se ergue como porta-voz de um sentimento colectivo, a que dá primazia na sua composição. As vivências que transmite experimenta-as como sentimentos que nasceram num grupo e que são comunicadas com esse carácter aos seus companheiros de grupo com os quais tem uma relação de natureza distinta em cada tipo de composição. É uma poesia para ser transmitida e em que a individualidade está concebida, não como algo exclusivo, mas com o descobrimento da essência compartida da realidade do ser humano.

2. Lírica e filosofia na Grécia Antiga


Esta alteração de perspectiva fez a interiorização que se dá com a entrada da lírica, tem relação com a origem da filosofia, já que também surgiu como recusa em admitir que a resposta à pergunta sobre a origem do universo e a questão da verdade fosse o pensamento mítico e obscuro que a epopeia havia transmitido. Ambas surgem ao mesmo tempo, devido à mesma causa, pelo impacto da sensibilidade, mas a filosofia, como afirma María Zambrano, arrebatou à poesia o seu segredo, uma vez que soube ir mais além e chegou a encontrar respostas. A filosofia procurou a luz no mundo das trevas onde nasceu a poesia.
N' A República, Platão utiliza a alegoria da caverna para explicar como o filósofo tem que vencer uma resistência inicial da comodidade para empreender o caminho do descobrimento da realidade que é o mundo das ideias, deixando claro que a força que origina a filosofia é a violência, que o filósofo tem que ir, em certa medida, "contranatura" para lançar-se na busca do porquê. O êxtase inicial, o espanto diante do imediato, requer um esforço por parte do homem para lançar-se na busca de uma verdade que vás mais além da presença imediata e que, em certa medida, arranca dela.
Aí é onde se rompe o elo comum da filosofia e da poesia, no momento em que alguns pensadores não querem desvincular-se da admiração imediata para procurar uma verdade total, não querem tomar o caminho da filosofia em que o filósofo, impulsionado pelo violento amor daquilo que busca, abandona a superfície do mundo, o impacto imediato da vida, a que renúncia para procurar o que considera superior.
O poeta não renuncia, nem busca, conforma-se com o que aprecia, com o que sente.
A lírica e a filosofia respondem, pois, à mesma pergunta de duas formas diferentes desde o começo. Ambas as formas são insuficientes, estão polarizadas e necessitam juntar-se para dar resposta ao problema do homem inteiro, pois nem apenas o pensamento filosófico, nem a vitalidade da lírica de forma isolada haveriam sido capazes de fazê-lo satisfatoriamente.
A filosofia é totalitária, universal, segue um caminho, que para chegar a adquirir entidade tem de distanciar-se do concreto. Leva implícita em si mesma a busca de um método que permita explicar o conjunto do que se conhece. Para ela, o primeiro que se gera é o seu instrumento mais necessário: a linguagem. Uma linguagem que seja capaz de transmitir com a maior objectividade a percepção pessoal, que seja racional, logos, sujeita às leis do pensamento, para ser susceptível de ser compreendida por todos e esclarecer do melhor modo possível a visão pessoal do pensador.
A poesia responde com o concreto, com o indivíduo que sente e julga, que não pretende revelar uma verdade abstracta, mas sim expressar a verdade que há na sua vivência concreta e singular das coisas, que está contemplando e das experiências que está vivendo.
Uma verdade que, além disso, é apreendida em todo o seu esplendor, graças ao que o artista, na sua fundamental tarefa contemplativa, se entrega esta a partir da integridade da sua pessoa, pondo ao serviço desta experiência o seu mundo afectivo e imaginário, juntamente com a mais fina e intensa percepção que procuram os sentidos. Para ele, aplica uma linguagem comum, vitalmente intensa mais que conceptualmente precisa em que adquirem protagonismo as imagens e as metáforas.
A lírica segue o caminho do intuitivo e não quer desvincular a expressão do sentimento da emoção que provoca. A palavra na poesia não é mais o logos racional, mas sim a palavra irracional.
O poeta está possuído, como dizia Platão, de um certo entusiasmo, sofre uma certa alienação. É como se alguém externo, comportando-se como um tirano, viesse habitar o seu corpo, possuir a sua mente e mover a sua língua. Por isso, não se preocupa com a coerência lógica, mas sim com o jogo de matizes subtis e movimentos mínimos no limite do perceptível. Utiliza, poderíamos dizer, uma linguagem em que todos os recursos são válidos se forem capazes que manterem-se vinculados às vivências que transmitem.
O pensamento que o filósofo destaca num sistema, o poeta assume-o em um sentimento e expressa-o através de descrições ou metáforas sensoriais e de conselhos ou valorações nas quais implica-se a si mesmo como parte de um cosmos que tenta compreender.
Sirva-nos como exemplo o começo da Pítica primeira de Píndaro:

3. Píndaro Pítica 1, 1-2
χρυσέα φόρμιγξ, Ἀπόλλωνος καὶ ἰοπλοκάμων 1
σύνδικον Μοισᾶν κτέανον· τᾶς ἀκούει μὲν βάσις, ἀγλαΐας ἀρχά,

Lira de ouro pertença de Apolo e das Musas de tranças cor violeta, o paso de dança, principio do esplendor festivo, ouve-te, os cantores seguem os teus sinais, quendo, vibradas as cordas, dás início aos prelúdios condutores dos coros. (trad. António de Castro Caeiro)


Encontramo-nos diante de um raciocínio visual, quase diante de uma dramatização do pensamento. Um luxo de cores, sons, paisagens grandiosas: musas de tranças violetas, uma lira de ouro, águia, cumes, vales, falésias. Que criou Píndaro ali? Um desempenho de beleza. Encena a beleza. A lírica transforma-se num pensamento pictórico, na encenação da beleza.
E, um pouco mais adiante, a seguinte descrição:

4. Píndaro Pítica 1, 17-20
(…) νῦν γε μὰν
ταί θ᾽ ὑπὲρ Κύμας ἁλιερκέες ὄχθαι
Σικελία τ᾽ αὐτοῦ πιέζει στέρνα λαχνάεντα: κίων δ᾽ οὐρανία συνέχει,
νιφόεσσ᾽ Αἴτνα, πάνετες χιόνος ὀξείας τιθήνα: 20

Mas agora as falésias, que cercam o mar à volta de Cima, e também da Sicília esmagam-lhe o peito hirsuto. Uma coluna celeste mantém-no preso, Etna coberto de neve, amamentador todo o ano da neve rigorosa. (trad. António de Castro Caeiro)

Imagem de um mar amuralhado, que encurrala o monstro. O Etna, que é um vulcão, está nevado, é branco. A sensação de dor, de opressão, de notar que te pisam. O mar bravo é uma falésia e o contraste do fumo do vulcão que não pesa, mas que se vê como uma cortina que lhe impede de sair.
Algo parecido encontramos em Safo, no famoso poema em que descreve os efeitos do amor:

5. Safo fr. 31 PLF
Φαίνεταί μοι κῆνος ἴσος θέοισιν
ἔμμεν᾽ ὤνηρ, ὄττις ἐνάντιός τοι
ἰσδάνει καὶ πλάσιον ἆδυ φωνεί-
σας ὐπακούει
καὶ γελαίσ ας ἰμέροεν. τό μ᾽ ἦ μάν5
καρδίαν ἐν στήθεσιν ἐπτόαισεν.
ὢς γὰρ ἔς σ᾽ ἴδω βρόχε᾽, ὤς με φώνη-
σ᾽ οὖδεν ἔτ᾽ εἴκει,
ἀλλὰ κὰμ μὲν γλῶσσα ἔαγε, λέπτον
δ᾽ αὔτικα χρῶι πῦρ ὐπαδεδρόμακεν, 10
ὀππάτεσσι δ᾽ οὖδεν ὄρημμ᾽, ἐπιρρόμ-
βεισι δ᾽ ἄκουαι,
ἀ δέ μ᾽ ἴδρως κακχέεται, τρόμος δέ
παῖσαν ἄγρει, χλωροτέρα δὲ ποίας
ἔμμι, τεθνάκην δ᾽ ὀλίγω ᾽πιδεύης15
φαίνομ᾽ ἔμ᾽ αὔται·
ἀλλὰ πᾶν τόλματον, ἐπεὶ +καὶ πένητα

Aquele parece-me ser igual dos deuses, o homem que à tua frente está sentado e escuta de perto a tua voz tão suave. E o teu riso maravilhoso. Na verdade isto põe-me o coração a palpitar no peito. Pois quando te olho num relance, já não consigo falar. A língua se me quebrou e um subtil fogo de imediato se pôs a correr debaixo da pele; não vejo nada com os olhos, zunem-me os ouvidos; O suor escorre-me do corpo e o tremor me toma toda. Fico mais verde do que a relva e tenho a impressão de que por pouco que não morro. (trad. Federico Lourenço)

Os efeitos do amor identificam-se com o próprio amor. O contraste entre a personagem inicial que é para ela (ἴσος θέοισιν) como um deus forte e seguro, e a sua própria debilidade, cujos sintomas vai descrevendo ao longo do poema até culminar no desejo final de desaparecer transforma em erva. Descreve, um de cada vez, a alma, o corpo, o ouvido, a língua, a vista e compleição, como se fossem externos ao seu corpo, combinando assim o frio e o calor, o racional e o irracional.

6. "Esto persigue la poesía: compartir el sueño, hacer la inocencia primera comunicable; compartir la soledad, deshaciendo la vida, recorriendo el tiempo en sentido inverso, deshaciendo los pasos; desviviéndose. El filósofo vive hacia delante, alejándose del origen, buscándose a sí mismo en la soledad, aislándose y alejándose de los hombres. El poeta se desvive, alejándose de su posible sí mismo, por amor al origen". (María Zambrano, Filosofía y Poesía).

Nesta origem comum e andar diverso, há um momento em que ambas as formas de expressão caminham juntas e assim encontramos nos líricos referências relacionadas com as investigações dos primeiros filósofos pré-socráticos. Por exemplo, considerar que os elementos têm propriedades espirituais: a água é um elemento próprio da vida vegetativa, a terra que é o elemento morto e passivo e o fogo é o elemento da vida superior. Píndaro reiteradamente alude a estes elementos, com ideias similares às de Heráclito, mas usando-as como imagem da natureza dos homens, dos heróis e dos deuses respectivamente. Semónides atribui no iambo das mulheres qualidades naturais diferentes, pois estão feitas de terra ou de água. São mais estáticas se são feitas de terra e mais dinâmicas se são feitas do mar. No entanto, nem um, nem outro especulam sobre a ordem mecânica da natureza e só se ocupam dos processos físicos como símbolos interpretados num sentido moral. Píndaro diz que os filósofos da natureza 'cortam frutos murchos de sabedoria'

7. P.(Fr. 209). ἀτελῆ σοφίας καρπὸν δρέπειν
Stob.ecl. 2.1.21 (2.7 Wachsmuth-Henze).
'o fruto colhem-no da sabedoria sem fim' (tradução Elisabete Cação e Marina Fernandes)

Esta vinculação que existe entre poesia e filosofia que se mantém em filósofos como Heráclito, Parménides e Empédocles divide-se com Platão (R. 607b-608b, 398a ss. y Lg. 658a ss., 829b ss. y 834 ss.) que, apesar de ser ele mesmo um grande poeta, nega-se a aceitar a poesia como expressão da sabedoria ao ponto de não admitir que se cultivasse na sua cidade, já que no seu entender, carecia de interesse filosófico e valor moral. Aristóteles, por seu turno num conhecido texto da Poética, defende a adequação da linguagem da poesia lírica para expressar a condição limitada do ser humano e vincula o valor e a importância (σπουδαιότερον) da poesia (Cf. Também Metaph. 1059b25ss. Po. 1449b24 y Pol. 1341a23, 1341b39-1342a11) à sua proximidade com a filosofia (φιλοσοφώτερον), e que, de igual modo que esta, a poesía trata do universal (τὰ καθόλου).

3. O ritmo: a incerteza

Platão, num juízo muito de acordo com o seu planeamento totalitário e organizativo da vida social, acusa os poetas de não seguirem um modelo de vida que possa ser válido como guia e exemplo para os demais homens e censura-os para que centrem o seu interesse unicamente em descobrir o modo de governar os seus dias e em ajudar aos demais nessa tarefa. E assim é. O que a Platão lhe parece criticável é precisamente aquilo no que radica o encanto desta poesia, em que a sua única fonte de inspiração é o momento presente e concreto e o seu único critério moral é a experiência vital sem referências externas nem divinas nem humanas.
Ainda que o poeta admita a existência dos deuses, a sua relação com eles é distante. A experiência do abismo que separa os mortais e os imortais é para ele motivo unicamente de sofrimento, pois é consciente de até que ponto se despreocupa pelo seu bem-estar e felicidade. Não lhe interessa, como ao herói da epopeia, indagar quais são os inescrutáveis desígnios divinos, nem vê nesses desígnios incompressíveis uma prova por parte dos imortais para alargar a sua experiência religiosa, como se aprecia nos trágicos.
Também não sente a interpelação de uns cânones morais que o obriguem a exceder-se, a superar-se e a decifrar os sofrimentos quotidianos, como uma ocasião de pôr à prova a sua excelência.
A reminiscência platónica de um mundo ideal é-lhe alheia, pois sente-se inteiramente um hóspede deste mundo que ama e cujas coisas boas da vida se sente apegado.
A poesia lírica está, em certo sentido, ao serviço do "dia" e é "efémera". O "dia" é, para Homero, a única medida, cujo ritmo organiza o fluir contínuo dos sucessos épicos e para os líricos o dia é visto e sentido como uma força limitadora a que estão submetidos e que configura a sua existência. É, em certa medida, o recipiente e o conteúdo da sabedoria a que aspiram. Por isso, para eles, entender o ritmo do viver quotidiano converte-se na sua principal propósito moral. Canta-se ao homem diário, limitado, sujeito aos avatares do tempo, imerso num ritmo (ῥυσμὸς) que deve conhecer, encontrar e aprender a seguir se quer disfrutar da porção de felicidade que lhe é permitida na sua existência relativa.
Esta ideia reflecte-se nos diferentes poetas segundo o seu carácter.
Arquíloco, um poeta cheio de paixão que trabalhou como bastardo mercenário, num tom provocador e apaixonado dá um conselho:

Arquíloco (67a D)
θυμέ, θύμ᾽ ἀμηχάνοισι κήδεσιν κυκώμενε,
ἄνα δέ, δυσμενέων δ᾽ ἀλέξευ προσβαλὼν ἐναντίον
στέρνον, ἐν δοκοῖσιν ἐχθρῶν πλησίον κατασταθείς
ἀσφαλέως· καὶ μήτε νικῶν ἀμφαδὴν ἀγάλλεο 5
μηδὲ νικηθεὶς ἐν οἴκωι καταπεσὼν ὀδύρεο.
ἀλλὰ χαρτοῖσίν τε χαῖρε καὶ κακοῖσιν ἀσχάλα
μὴ λίην· γίνωσκε δ᾽ οἷος ῥυσμὸς ἀνθρώπους ἔχει.
Coração, coração de imediatos nojos agitado, levanta, às aflições resiste lançado um contrário peito, a embustes de inimigos de perto contraposto com firmeza; e nem vencendo abertamente exultes nem derrotado em casa abatido te lamentes, mas com alegrias te alegra e com reveses te aflige sem excesso; e conhece qual ritmo regra os homens. (Trad. José Cavalcante de Souza)
O ritmo é para o poeta muito mais do que um modo de expressão, é uma força vital da natureza quase divina – como o são Eros (o amor), Eris (a disputa) ou Tuche (o azar) que o excede, tanto externa como internamente. O poeta sabe-se possuído pelo ritmo e trata de descobri-lo como se de uma lei interior se tratasse. Sente perante essa força uma reverência quase religiosa e considera-se obrigado a manter fidelidade a esse ritmo imposto, mesmo que não seja prazeroso e da angústia que lhe transmite.
O ritmo é a conjuntura donde confluem o ser dinâmico, mortal do homem e a realidade que o rodeia. É uma força que carece de projecção e de transcendência. É eminente e imanente. Por isso angustia. Mas, é o único capaz de tornar convincente a existência humana. A vida e a projecção no tempo identificam-se assim com a tentativa contínua de conhecer e compreender esta realidade cuja profundidade se desdobra e excede as suas capacidades. Contudo, o seu descobrimento não é fruto da reflexão, é intuitivo. É consequência de perceber a limitação do movimento. É a regra, a norma que controla os sentimentos e os impulsos humanos e ajusta-os ao destino, para exercer assim a sua liberdade.
Para Arquíloco, aprende-se esse ritmo quando a desgraça não desalenta, quando perante os inimigos se sente valor, quando o triunfo não dá orgulho, nem a derrota humilha. Não tem nada que ver – como se pode apreciar – com a moderação, é algo distinto, é mais a força que dá firmeza e limita o movimento e ao fluxo constante da vida.
Outros poetas mais piedosos como Píndaro procuram nele o método para aceder ao conhecimento dos desígnios divinos, que lhes são tão incompreensíveis.
9. Píndaro Pitica 3, 59-62
χρὴ τὰ ἐοικότα πὰρ δαιμόνων μαστευέμεν θναταῖς φρασίν,
60 γνόντα τὸ πὰρ ποδός, οἵας εἰμὲν αἴσας.

É preciso procurar junto das divindade o que é apropriado ao coração dos mortais, sabendo o que está perto de nós e que destino é o nosso. (trad. António Castro Caeiro)


Píndaro ao mesmo tempo que exorta a esforçar-se por conhecer o desígnio divino, alerta os homens e anima-os a serem prudentes nessa busca, a não enganar-se acreditando que são mais do que são e aspirar a metas demasiado elevadas. Os homens estão aparentados com os imortais, mas isso não os deve levar ao engano, pois acreditarem-se mais do que são é a principal causa do castigo divino e da inveja por parte dos homens, como afirma neste outro fragmento:

10. P. Pítica 7, 18-22
νέα δ᾽ εὐπραγίᾳ χαίρω τι: τὸ δ᾽ ἄχνυμαι,
φθόνον ἀμειβόμενον τὰ καλὰ ἔργα.
φαντί γε μὰν οὕτω κεν ἀνδρὶ παρμονίμαν 20
θάλλοισαν εὐδαιμονίαν
τὰ καὶ τὰ φέρεσθαι.
Fico alegre pelo teu recente sucesso. Mas triste, porque a inveja é o preço para os feitos de grande beleza. Diz-se que a felicidade em flor traz coisas boas e coisas más.

Em repetidas ocasiões Píndaro faz alusão à inveja como um componente que anda de mão dada com o êxito. A imortalidade, portanto, que o homem percebe que é em si mesma um engano, por parecer real, é mais perigosa. Por causa desse engano, o homem pode equivocar-se ao dirigir as suas aspirações e acabar por ser presa do fortuito, do inseguro ou, em última instância, do castigo divino.

11. Pindaro, Pitica 8, 95-97
ἐπάμεροι: τί δέ τις; τί δ᾽ οὔ τις; σκιᾶς ὄναρ
ἄνθρωπος. ἀλλ᾽ ὅταν αἴγλα διόσδοτος ἔλθῃ,
λαμπρὸν φέγγος ἔπεστιν ἀνδρῶν καὶ μείλιχος αἰών:

Efémeros! Que somos nós? Que não somos?
Sombra de um sonho é o homem!
Mas, quando sobrevier um raio de luz divina,
Um brilhante clarão e doce vida
Sobrevirá aos homens. (trad. Maria Helena Rocha Pereira)
Arquíloco, como é menos reverente, rende-se perante o incompreensível governo dos deuses sobre os homens, pois experimenta com assombro a dor da sua própria ignorância perante o capricho e vulnerabilidade daqueles:

12. Arquíloco 71 (74D)
Χρημάτων ἄελπτον οὐδέν ἐστιν οὐδ᾽ ἀπώμοτον 
οὐδὲ θαυμάσιον, ἐπειδὴ Ζεὺς πατὴρ Ὀλυμπίων 
ἐκ μεσημβρίης ἔθηκε νύκτ᾽, ἀποκρύψας φάος 
ἡλίου λάμποντος. ὑγρὸν δ᾽ ἦλθ᾽ ἐπ᾽ ἀνθρώπους δέος. 
ἐκ δὲ τοῦ καὶ πιστὰ πάντα κἀπίελπτα γίνεται 5
ἀνδράσιν. μηδεὶς ἔθ᾽ ὑμέων εἰσορέων θαυμαζέτω, 
μηδ᾽ ἐὰν δελφῖσι θῆρες ἀνταμείψωνται νομόν 
ἐνάλιον καί σφιν θαλάσσης ἠχέεντα κύματα 
φίλτερ᾽ ἠπείρου γένηται, τοῖσι δ᾽ ἦι δύνειν ὄρος.

Não há coisa inesperada, nem que se jure não existir,
Nem que seja de espantar, desde que Zeus, pais dos Olímpicos,
Do meio do dia fez noite, ocultando a luz
Do sol que brilhava. Um medo lívido desceu sobre os homens.
Desde então, pode acreditar-se e esperar-se que tudo
Suceda aos humanos, e nenhum de nós se espante, nem que veja,
As feras trocarem pelas pastagens marinhas
Dos golfinhos as suas, e tornarem-se-lhes mais gratas que terra firme
As ondas sonoras, e àqueles ser doce a montanha. (trad. Rocha Pereira)
Assim descreve o poeta o eclipse sucedido o ano 648 a.C., visível na Grécia. O iambógrafo classifica este modo como feito que supõe a ruptura de uma das leis mais básicas e, em princípio, inalteráveis da natureza: o ritmo da sucessão de dias e noites. Assistir a um acontecimento como esse converte em expectável e credível qualquer anomalia das condições de funcionamento da realidade e, tal como os homens as conhecem e expressam a propósito deste sucedido o sentimento, tão característico da mentalidade dos líricos arcaicos, de insegurança, de submetimento a umas condições que podem mudar o momento mais
Solón, o legislador, considera que esta insegurança é algo inerente ao homem e é causada por eles próprios, pela sua falta de moderação. Os homens anseiam incrementar ilimitadamente a sua riqueza e avivam deste modo o seu próprio descontentamento. Não se pode exigir as imortais que satisfaçam estes desejos insaciáveis. É o homem, pois, quem com falta de moderação se adentra irremediavelmente no perigo pondo em movimento forças cujo resultado final desconhece.
13. Solón. Elegía a las musas.
μοῖρα δέ τοι θνητοῖσι κακὸν φέρει ἠδὲ καὶ ἐσθλόν,
δῶρα δ᾽ ἄφυκτα θεῶν γίγνεται ἀθανάτων:
πᾶσι δέ τοι κίνδυνος ἐπ᾽ ἔργμασιν, οὐδέ τις οἶδεν 65
ᾗ μέλλει σχήσειν χρήματος ἀρχομένου,
ἀλλ᾽ ὁ μὲν εὖ ἕρδειν πειρώμενος οὐ προνοήσας
ἐς μεγάλην ἄτην καὶ χαλεπὴν ἔπεσεν,
τῷ δὲ κακῶς ἕρδοντι θεὸς περὶ πάντα δίδωσι
συντυχίην ἀγαθήν, ἔκλυσιν ἀφροσύνης. 70
πλούτου δ᾽ οὐδὲν τέρμα πεφασμένον ἀνδράσι κεῖται:
οἳ γὰρ νῦν ἡμέων πλεῖστον ἔχουσι βίον,
διπλασίως σπεύδουσι: τίς ἂν κορέσειεν ἅπαντας;
κέρδεά τοι θνητοῖς ὤπασαν ἀθάνατοι:
ἄτη δ ἐξ αὐτῶν ἀναφαίνεται, ἣν ὁπότε Ζεὺς 75
πέμψῃ τεισομένην, ἄλλοτε ἄλλος ἔχει.

Assim a sorte traz aos homens o mal e o bem,
E são inevitáveis as dádivas dos mortais.
Em todos os trabalhos há perigo, e ninguém sabe
O fim da empresa começada.
O que tenta actuar bem, sem pensar,
Cai em grande e grave desgraça.
E ao que actua mal, o deus concede-lhe em tudo
Boa sorte, que o liberta da sua imprevidência.
Não há limite marcado para a riqueza dos homens,
Pois, de entre nós, os que têm mais haveres
Afadigam-se a dobrar. Quem poderá saciá-los a todos?
Os imortais deram aos homens lucro,
Mas dele vem a desgraça, que Zeus manda
De castigo, ora a um, ora a outro. (trad. Rocha Pereira)

4. O contrapeso: o prazer
O ritmo na poesia lírica não se identifica com a medida, como vimos, com a moderação que se propagará depois no espírito ateniense. O ritmo arcaico é mais o contrapeso. A lírica é uma poesia de contrastes. O poeta lírico experimenta no seu corpo e na sua mente sentimentos opostos e contradictórios: o êxito, o desastre, a dor, o prazer alternam-se na sua vida como um turbilhão incontrolável. O sentimento de insatisfação e pessimismo que lhe provoca um submetimento a um destino incompreensível, que lhe gera um vazio que procura compensar com os prazeres da vida que a vida proporciona e que lhe são mais próximos. Por isso, é também característica primordial da poesia lírica o canto ao prazer que adquire a forma de exaltação a disfrutar dos gozos de todo aquilo que murcha com o tempo. Desenvolve-se aqui todo um género de poesia erótica e simposíaca em que os líricos vinculam pela primeira vez a paixão física com a profundidade espiritual.
O tom individual desta lírica alcança paradoxalmente a sua plenitude na convivência. O simpósio é o local social em que ele se manifesta sem medos, comodamente, a personalidade masculina, (em Safo a personalidade feminina) a alma de um homem fortemente comovido em todas as suas facetas: desde a expressão das opiniões políticas de ódio ou de vingança até às confissões eróticas diante do círculo de amigos mais íntimos, donde expande os seus segredos e liberta o seu coração oprimido pelo desejo. Os vínculos amigáveis são os que mantêm a débil existência individual.
Reflete-se, pela primeira vez, a profundidade daquilo que poderíamos chamar a "filosofia dos bebedores" que na Grécia foi elevada ao patamar religioso da bebedeira dionísia.
É Alceo, nobre de Lesbos envolvido na política do seu tempo, quem cultiva de forma magistral este género com uns poemas dedicados que oferecem um amplo quadro de todos os tipos de expressão sentimental e de reflexões profundas:


14. Alceo (335 L-P)
Οὐ χρῆ κάκοισι θῦμον ἐπιτρέπην·
προκόψομεν γὰρ οὖδεν ἀσάμενοι,
ὦ Βύκχι, φάρμακων δ᾽ ἄριστον
οἶνον ἐνεικαμένοις μεθύσθην.
Não se deve entregar o coração a coisas ruins pois nada lucraremos entristecendo-nos, ó Baco, e o melhor remédio é mandar que nos tragam vinho para nos embriagarmos.

O Amor (Eros) é outra das grandes forças, como o ritmo de que já falámos, que adquirem na lírica a entidade de algo divino. O desejo é também concebido como uma força que, irradiando como um íman desde o amado, ultrapassa o controlo humano e, além disso, não sucumbe com o passar do tempo, dando-lhe um carácter recorrente. Com umas belíssimas imagens, Ibico expressa esse poder do Eros refletido na figura de um jovem com encanto que suscita um desejo nunca acalmado. Ressalta neste poema o contraste da paixão e da velhice misturadas. É um chamamento de Eros quando já parece ao poeta que já lhe passou o momento, e isso faz com que o poeta do qual puxa do Eros com força, se sente débil e nota mais a força que lhe arrasta como um íman desde a sua incapacidade de pôr resistência. A rede do amor define-se como interminável, como algo a que é impossível escapar quando faltam as forças da juventude:

15. Ibico fl. 560
Ἔρος αὖτε με κυανέοισιν ὑπὸ
βλεφάροις τακέρ' ὄμμασι δερκόμενος
κηλήμασι παντοδαποῖς ἐς ἀπει-
ρα δίκτυα Κυπριδος ἐσβάλλει.
ἦ μὰν τρομέω νιν ἐπερχόμενον,
ὦστε φερέζυγος ἵππος ἀεθλοφόρος ποτὶ γήρᾳ
ἀέκων σὺν ὄχεσφι θοοῖς ἐς ἅμιλλαν ἔβα.

O Amor de novo sob pálpebras azuis com seus lânguidos olhos me contempla, e com toda a espécie de encantos me lança para as malhas inelutáveis de Cípris. Na verdade tremo à sua chegada, como o cavalo portador de jugo e arrebatador de prémios, já velho, que entra contrariado com o rápido carro na corrida.

De nuevo Eros mirándome lánguidamente con sus ojos bajo oscuros párpados me lanza con toda suerte de encantos a las redes sin salida de Cipria; en verdad que con temor lo veo venir hacia mí, tal como un caballo de tiro victorioso en la vejez de mala gana va la carrera con rápidos carros.

Esta poesia amorosa e simposíaca quando vinculada a formas rituais, como são os hinos ou preces, adquire na lírica uma forma original, diferente da epopeia. O poeta, na sua solidão, busca apoio na força divina como se fosse não um ser sobrenatural, mas um amigo que está presente, e usa a súplica como via para exprimir os seus pensamentos e emoções, como se a dirigir-se à divindade se libertasse de qualquer tipo de testemunho humano.
O poema mais famoso deste tipo é hino a Afrodite de Safo, em que a poetisa pede ajuda à deusa de um modo semelhante ao que fazem os poetas épicos. Contudo, no decurso da prece vão-se identificando os seus próprios sentimentos físicos e anímicos (como víamos na poesia anterior da mesma autora) com a pessoa da própria deusa, de tal maneira, que há um ponto em que não se sabe se é a deusa se é Safo que fala, ou se é uma prece ou uma resposta à súplica. O amor volta a mostrar-se com esse cariz de força divina, dominadora e reiterada. Neste último momento, voltamos a encontrar como para os líricos o tempo é sempre um agravante dos sentimentos. O desassossego é mais forte, pois está imerso no tempo, porque se repete e se renova de forma descontrolada e inimaginável por parte de quem o sente. A única forma de transformar um tormento angustioso numa esperança tranquilizadora é com a ajuda dos demais, sejam homens ou deuses com qualidades humanas:

16. Safo, Himno a Afrodita (fr. 1 PLF)
Ποικιλόθρον᾽ ἀθανάτ᾽ Ἀφρόδιτα,
παῖ Δίος δολόπλοκε, λίσσομαί σε,
μή μ᾽ ἄσαισι μηδ᾽ ὀνίαισι δάμνα,
πότνια θῦμον·
ἀλλὰ τύιδ᾽ ἔλθ᾽, αἴ ποτα κἀτέρωτα5
τὰς ἔμας αὔδας ἀίοισα πήλοι
ἔκλυες, πάτρος δὲ δόμον λίποισα
χρύσιον ἦλθες
ἄρμ᾽ ὐπασδεύξαισα· κάλοι δέ σ᾽ ἆγον
ὤκεες στροῦθοι περὶ γᾶς μελαίνας10
πύκνα δίννεντες πτέρ᾽ ἀπ᾽ ὠράνω αἴθε-
ρος διὰ μέσσω.
αἶψα δ᾽ ἐξίκοντο, σύ δ᾽, ὦ μάκαιρα,
μειδιαίσαισ᾽ ἀθανάτωι προσώπωι
ἤρε᾽, ὄττι δηὖτε πέπονθα κὤττι15
δηὖτε κάλημμι
κὤττι μοι μάλιστα θέλω γένεσθαι
μαινόλαι θύμωι. τίνα δηὖτε Πείθω
μαῖσ᾽ ἄγην ἐς σὰν φιλότατα, τίς σ᾽, ὦ
Ψάπφ᾽, ἀδίκησι; 20
καὶ γὰρ αἰ φεύγει, ταχέως διώξει,
αἰ δὲ δῶρα μὴ δέκετ᾽, ἀλλὰ δώσει,
αἰ δὲ μὴ φίλει, ταχέως φιλήσει
κωὐκ ἐθέλοισα.

ἔλθε μοι καὶ νῦν, χαλέπαν δὲ λῦσον 25
ἐκ μερίμναν, ὄσσα δέ μοι τέλεσσαι
θῦμος ἰμέρρει, τέλεσον, σὺ δ᾽ αὔτα
σύμμαχος ἔσσο.

Imortal Afrodite do trono variegado, filha de Zeus, urdidora de enganos, suplico-te: com sofrimentos e angústias não subjugues, oó rainha, o meu coração,
Mas vem para aqui, se outrora noutras ocasiões sentiste ao longe a mina voz e me deste ouvidos; abandonaste de teu pai a casa dourada e viste,
Depois de atrelares teu carro; puxaram-te belos e velozes estorninhos por cima da terra negra como cerrada agitação das asas; trouxeram-te do céu através do ar
e-depressa chegaram. E tu, ó bem-aventurada. Sorrindo em teu rosto imortal me perguntaste o que de novo eu sofria, por que de novo te chamava,
e que coisa eu queria que acontecesse no meu desvairado coração. 'Quem de novo devo convencer a voltar ao teu amor? Quem, oó Safo, te faz mal?
Pois se foge, rapidamente perseguirá; se não aceita os presentes, em vez disso os dará; se não ama, rapidamente amará, mesmo que ela o não queira.'
Vem até mim, agora também! Salva-me da aflitiva ansiedade; e para mim faz cumprir tudo o que meu coração deseja ver cumprido; e tu própria combate ao meu lado!


A poetisa joga com a repetição temporal e com a renovação contínua de um sentimento que mantém o impulso do presente.
Também o prazer se projecta sobre o tempo.
O poeta não é capaz (como nestes dois últimos poemas) de se desvincular do prazer do efémero da existência. O sentimento amoroso e a bebida empapam-se na fugacidade da vida e na reiteração, e a forma mais evidente do passar do tempo é a sucessão do dia e da noite.

17. Alceo Fr. 346
πώνωμεν· τί τὰ λύχϜ' ὀμμένομεν; δάκτυλος ἀμέρα.
κἀδ' δἄερρε κυλίχναις μεγάλαις αιτα ποικίλαις·
οἶνον γὰρ Σεμέλας καὶ Δίος υἷος λαθικάδεον
ἀνθρώποισιν ἔδωκ'. ἔγχεε κέρναις ἔνα καὶ δύο
πλήαις κὰκ κεφάλας, ἀτέρα τὰν κύλιξ
ὠθήτω.

Bebamos! Por que aguardarmos as lucernas? Já só há um palmo de dia. Retira, célere, dos pregos, as grandes taças. O vinho que dissipa aflições, doou-o aos homens o filho de Zeus e de Sémele. Deita-o nas taças, uma parte para duas cheias até a borda, e que um cálice empurre o outro.

O prazer observa-se sempre e descreve-se debaixo da luz do contraste. Não se desvincula da velhice e da consequência desta, das dores. Rebelam-se os poetas perante o passar do tempo. Para Mimnermo, a velhice é um mal pior que a morte, mais presente, mais angustioso por vê-la chegar impotente. A nostalgia inunda o prazer da juventude que se vai perder em algum momento. O tempo impregna o amor de melancolia:
18. Mimnermo (fr. 1 W)
τίς δὲ βίος, τί δὲ τερπνὸν ἄτερ χρυσῆς Ἀφροδίτης;
τεθναίην, ὅτε μοι μηκέτι ταῦτα μέλοι,
κρυπταδίη φιλότης καὶ μείλιχα δῶρα καὶ εὐνή·
οἷ' ἥβης ἄνθεα γίγνεται ἁρπαλέα
ἀνδράσιν ἠδὲ γυναιξίν· ἐπεὶ δ' ὀδυνηρὸν ἐπέλθῃ
γῆρας, ὅ τ' αἰσχρὸν ὁμῶς καὶ καλὸν ἄνδρα τιθεῖ,
αἰεί μιν φρένας ἀμφὶ κακαὶ τείρουσι μέριμναι,
οὐδ' αὐγὰς προσορῶν τέρπεται ἠελίου,
ἀλλ' ἐχθρὸς μὲν παισίν, ἀτίμαστος δὲ γυναιξίν·
οὕτως ἀργαλέον γῆρας ἔθηκε θεός.

O que é a vida? O que e o prazer, sem a dourada Afrodite? Que eu morra, quando estas coisas já não me interessarem: o amor secreto, as suaves ofertas e a cama, que são flores da juventude sedutoras para homens e mulheres. Mas quando chega a dolorosa velhice, que faz até do homem belo um homem repulsivo, tristes preocupações sempre lhe moem os pensamentos e já não sente prazer em contemplar a luz do sol, mas é odiado pelos rapazes e desonrado pelas mulheres. Assim áspera foi a velhice que o deus impôs.


5. O sentido social

A experiência vital, a descoberta do ritmo alternante do efémero, a necessidade do amor e do prazer são para o poeta vivências íntimas, mas, como vimos, não exclusivas.
A poesia adquire, assim, a categoria de um verdadeiro achado que converte o poeta num comunicador com missão quase profética. Neste ponto, estou de acordo com Platão.
A poesia também tem uma função balsâmica porque a palavra do poeta é o remédio que o público a que se dirige necessita. Quem encontra o ritmo, encontra também o remédio do tédio, do peso das horas difíceis.
As suas experiências expressam-se com a autoridade e em certa medida com obrigatoriedade. É quase um imperativo ético compor poesia, pois quem descobriu a verdade sente a obrigação de transmiti-la e o modo de fazê-lo é onde se constroem os distintos géneros poéticos em função do público a quem se dirigem e da personalidade do próprio poeta.
Na elegia, forma poética em que – segundo Jaeger – surge a Pólis, o discurso político adquire forma de poesia, como diz Sólon:

19. Solón FR 1W
αὐτὸς κῆρυξ ἦλθον ἀφ' ἱμερτῆς Σαλαμῖνος,
κόσμον ἐπέων ᾠδὴν ἀντ' ἀγορῆς θέμενος.

Eu mesmo vim, como arauto, da adorável Salamina, tendo composto uma ode, adorno de palavras, em vez de um discurso.

No iambo, na retórica da exortação, é onde a arte lírica atinge patamares magistrais e donde manifesta até que ponto as composições poéticas com aparência casual estão penetradas de energia intelectual e modeladas com pulcritude.
É também o género em que o contraste com a epopeia é mais evidente. Enquanto se alimenta das acções nobres fazendo uso de paradigmas carregados de conteúdo positivo, os líricos recorrem à táctica contrária. Afectados pelo estado de ânimo negativo utilizam para o mesmo fim um modo de expressão realista, duro e sóbrio e até cortante, que recorre sem limites ao desagradável, à censura e à descrição detalhada do que – por ser ridículo e grotesco – há que fugir.
Como exemplo, veremos um poema de Calino, provavelmente cantando num simpósio, em que exorta os jovens a lutar em defesa da sua pátria.
Calino utiliza uma estrutura muito simples, de linhas muito claras que é ao mesmo tempo assombrosamente eficaz para desenvolver o seu esquema de combinação e alternância de exaltação e reflexão.
Os dois primeiros dísticos contêm já uma primeira forma do esquema exortação-reflexão que percorre toda a obra. Começa com duas perguntas que ficam na mente do leitor (ouvinte) até ao final do poema:
20. Calíno (1-D)
Μέχρις τεῦ κατάκεισθε; κότ᾽ ἄλκιμον ἕξετε θυμόν,
ὦ νέοι;
Até quando estareis inactivos? Quando tereis, ó jovens,
Um ânimo valente?

Contém uma incitação à decisão, concebida na primeira pergunta como o término e na segunda como o princípio.
Nas duas frases seguintes recorre ao contraste tão ao gosto dos líricos, desta vez estabelecendo uma oposição interna entre o sentimento colectivo, que se experimenta diante d espectador mais próximo, os vizinhos; e a consideração de uma realidade objectiva: o facto de que o país inteiro está em guerra, em que a referência ao colectivo é o próprio país. Ambos os marcos põem em evidência o duplo erro que lhes recriminava no primeiro dístico, um erro moral primeiro, a vergonha, e intelectual depois: não se dão conta do que se está passando.

οὐδ᾽ αἰδεῖσθ᾽ ἀμφιπερικτίονας
ὧδε λίην μεθιέντες; ἐν εἰρήνηι δὲ δοκεῖτε
ἧσθαι, ἀτὰρ πόλεμος γαῖαν ἅπασαν ἔχει.

Não vos envergonhais dos vizinhos,
Por tão grande desleixo? Julgais permanecer em paz,


Neste trecho, fundamenta a incitação anterior a mudar de atitude com que abre a elegia e introduz a exortação específica e concreta que segue: há que combater até morrer.
«εὖ νύ τις ἀσπίδα θέσθω ἐν ἀντιβίοις πολεμίζων» 5
Que cada um, ao morrer, lance mais um dardo,
À exortação segue-se pela segunda vez a reflexão, duplamente fundamentada em duas frases paralelas (6-9) expressadas com duas sentenças: a primeira demarcada numa forma mais geral do que depois se chamará retórica do conveniente, o "sympheron": morrer pela pátria é, em si mesmo, nobre; a segunda fundamenta-se na constatação de um feito certo: a morte virá apenas no momento predeterminado pelo destino.
καί τις ἀποθνήισκων ὕστατ᾽ ἀκοντισάτω.
τιμῆέν τε γάρ ἐστι καὶ ἀγλαὸν ἀνδρὶ μάχεσθαι
γῆς πέρι καὶ παίδων κουριδίης τ᾽ ἀλόχου
δυσμενέσιν· θάνατος δὲ τότ᾽ ἔσσεται, ὁκκότε κεν δὴ
Μοῖραι ἐπικλώσωσ᾽·

Pois é honra e glória para um homem combater
Pela pátria, pelos filhos e pela legítima esposa,
Contra o inimigo. A morte chegará, quando a fiarem
As Parcas.

Uma terceira e última exortação (que alterna como vemos com a reflexão) a acorrer ao combate, que ocupa a parte central da elegia (9-11) da oportunidade para que se esboce, com apenas alguns rasgos, uma imagem muito viva do guerreiro indo ao encontro do inimigo.
ἀλλά τις ἰθὺς ἴτω 10
ἔγχος ἀνασχόμενος καὶ ὑπ᾽ ἀσπίδος ἄλκιμον ἦτορ
ἔλσας, τὸ πρῶτον μειγνυμένου πολέμου.

Vamos para a frente,
De espada desembainhada, e colocando o peito valente
Sob o escudo, logo que se acenda a luta.

À exortação segue-se uma complexa série de fundamentos.
Primeiro afirma, de uma forma quase contundente, a necessidade da morte, porque só o momento da morte está fixo no destino e é inútil tentar evitá-la recorrendo ao combate, uma vez que a morte é, para o homem, inevitável.
οὐ γάρ κως θάνατόν γε φυγεῖν εἱμαρμένον ἐστὶν
ἄνδρ᾽, οὐδ᾽ εἰ προγόνων ἦι γένος ἀθανάτων.
Pois não é destino dos homens fugir à morte,
Ainda que a sua linhagem descenda dos imortais.

Sobre a base desta afirmação estabelece-se nos dois dísticos seguintes uma nova oposição entre quem havendo escapado ao combate (por se ter salvo da morte no combate ou por o ter evitado) morre em sua casa e aquele que cai no campo de batalha: o primeiro, ninguém o ama nem sente a sua falta; o segundo, todos o choram.
πολλάκι δηϊοτῆτα φυγὼν καὶ δοῦπον ἀκόντων 15
ἔρχεται, ἐν δ᾽ οἴκωι μοῖρα κίχεν θανάτου.
ἀλλ᾽ ὁ μὲν οὐκ ἔμπης δήμωι φίλος οὐδὲ ποθεινός,
τὸν δ᾽ ὀλίγος στενάχει καὶ μέγας, ἤν τι πάθηι·
A veces uno que escapa al estrago y al golpe del dardo, regresa y la muerte fatal lo encuentra en casa.
Más a ese tal no lo lloran ni le echan de menos, y a otro lo lloran ricos y pobres si algo pasa.
A consciência colectiva volta a introduzir-se mediando entre o poeta, o público e o conteúdo do poema.
E termina com o recurso ao exemplo, também próprio da oratória deliberativa, mostrando a figura impressionante do "bravo guerreiro", saudoso quando morre e divinamente elevado, enquanto viva na alta torre do seu heroísmo.
λαῶι γὰρ σύμπαντι πόθος κρατερόφρονος ἀνδρὸς
θνήισκοντος, ζώων δ᾽ ἄξιος ἡμιθέων·
Porque sus ojos lo ven igual que si fuese una torre;
Porque cumple hazañas de muchos, él solo.

O poeta, como apreciámos, segue uma articulação e uns racionamentos precisos e estritos, movendo-se ao ritmo de contrastes e da oferta alternativas, de valorações subjectivas e objectivas que culminam no último verso, onde a oposição é a que se estabelece entre o feito de que seja o homem sozinho que faz as façanhas e o valor colectivo que adquirem as muitas façanhas singulares.
O rigor com que está composto este poema de Calino é causa fundamental do impacto que o poema produz. Deixa-nos uma impressão final em que a imagem inicial, do estado actual, mostra-se em contraste com a figura final e consegue manter-se viva ao largo de todo o poema.
A distinção do poema e, em certo sentido, de todo o conjunto da lírica arcaica. Sustenta-se na interpretação que se faz da experiência debaixo da aparência da presença imediata, adopta a forma de um discurso ocasional, referido na circunstância do momento, motivado pelo instante e orientado na direcção da acção real da historicidade concreta do poeta e do seu público.
A lírica coral, por sua vez, desenvolve magistralmente a retórica do elogio, movendo-se com comodidade nos parâmetros da persuasão e fazendo uso dos recursos convencionais tal como depois recolheu Aristóteles (Arist. Rhet. I.9). (de facto, os textos dos epinícios som dos exemplos mais trabalhados do que será depois a retórica do elogio) Píndaro compõe os seus poemas consciente de que a sua missão é elogiar e persuadir os ouvintes da excelência do elogiado, termo que Aristóteles define como "a capacidade de gerar bens e de conservá-los; uma capacidade criadora de múltiplos e grandes benefícios de toda a classe e que fazem referência a tudo cujos componentes são os tópicos aos que Píndaro recorre: a justiça, a valentia, a moderação, a magnificência, a magnanimidade, a liberalidade, a afabilidade, a sensatez e a sabedoria".
As grandes realizações têm para Píndaro "sede de cantos" e buscam o louvor poético e ao poeta que, agraciado com o dom das musas, seja capaz de acalmar com a sua poesia essa sede. O poeta é o amigo do laudandus que oferece o dom (χάρις), com o que ele foi agraciado gratuitamente a quem necessita desse elogio para que as suas qualidades nobres possam actualizar-se sendo reconhecidas e louvadas (Nem. 8, 39). Como diria Aristóteles "as maiores excelências são as mais benéficas para os demais, pois a excelência é uma capacidade criadora de benefícios".

21. Pit. 9, 103
ἐμὲ δ᾽ ὦν τις ἀοιδᾶν
δίψαν ἀκειόμενον πράσσει χρέος αὖτις ἐγεῖραι
καὶ παλαιὰν δόξαν ἑῶν προγόνων. 105
Mientras mitigo la sed de cantos, una deuda me obliga a despertar una vez más la antigua gloria de sus ancestros.



"Sede de cantos". O canto de Píndaro transcende, como também dizia Aristóteles, ao ser concreto para dirigir-se ao homem em geral de modo paradigmático. Píndaro pensa sempre no todo, ainda que quando fala do concreto. Cada estrofe tem como meta esse todo. Por isso, o seu discurso é por isso obscuro, porque está dirigido a um público que entende e ao que pode dirigir-se de uma forma condensada sem necessitar de descrever ou explicar, apenas de aludir ou recordar.

Conclusão

Se tivéssemos que recompilar tudo o que foi dito e destacar qual é o valor principal da poesia lírica grega arcaica bastaria dizer que é essencialmente a expressão de uma interpretação da experiência que adquire a forma de um discurso, referido às circunstâncias do momento, e orientado na direcção da acção real e da historicidade concreta do poeta e do seu público. A poesia arranca da realidade e desemboca na mesma.
Neste contexto o poeta é algo como um ser obrigado a expressar a temporalidade. É o mediador entre o tempo e a realidade que substitui o sábio homérico mediador, conhecedor do presente, do passado e do futuro.
Na palavra actual do poeta fundem-se o contingente e o necessário, o efémero e o eterno, os desejos e as realidades. O poeta é o que será depois o tempo na tragédia, o que tudo vê, pois a sua palavra verdadeira e autêntica (ἔτυμον), é capaz de comunicar aos homens o seu ritmo, o seu destino e de dar o seu testemunho. É a própria palavra (ἔτυμον λόγον ἀνθρώπων λόγον) a que procura aos homens esse destino, (αἶσαν… διακρίνειν), em liberdade de inspiração divina (θεοδμάτῳ σὺν ἐλευθερίᾳ).
Disse Píndaro "Forja a tua língua numa bigorna que não engana" (ἀψευδεῖ δὲ πρὸς ἄκμονι χάλκευε γλῶσσαν). A morte é para os deuses o seu triunfo e para os mortais é o esquecimento. O poeta paga com o seu canto o resgate à morte para que não haja esquecimento do poema. Ajuda o homem a conhecer-se, a partilhar a sua miséria e a sua grandeza.

Lihat lebih banyak...

Comentarios

Copyright © 2017 DATOSPDF Inc.