Entrevista com Judicäel Perroy
Descripción
Entrrevista a Judicaël Pe erroy Por Pedro Rod drigues C – Go ostava que fa alasse um po ouco sobre o seu início na a guitarra, os seus Revistta Guitarra Clássica princiipais professorres e os princiipais ensinamentos que retirou de cada u um deles. erroy ‐ Comecei a estuda ar guitarra qu uando Judicaël Pe
tinha 7 anos mas inicialmentee queria esstudar acordeão por razões que não sei bem expliccar. O m pouco dee guitarra como meu pai tocava um a esclarecido no o que amador, mas um amador a música clássica. E foi portanto ele e que respeita a me impulssionou a esttudar guitarrra e me insccreveu no conservvatório do centro de Parris. Apesar d de não estar particularmente motivado n nos primeiro os seis a coisa acontecceu e con nsegui meses, alguma perceber perfeitamen nte como tudo funcionava na É algo que não sei exp plicar muito o bem guitarra. É como aco onteceu maas consegui tocar todas as músicas do livro em leitura à primeira vista. E te er esta capacidade indiccava que era e bastantee dotado para a guitarra. Na alturra tinha um professor m mediano, que e aliás não to ocava guitarra clássica, o o meu etente e foi ffalar com Ro oberto Aussel após pai procurou um novo professsor, alguém mais compe oncerto. E os primeiros eestudos a sério começaraam aos 9 ano os pois estud dei com ele e e com um co Delia Estrada durante d doiss anos. Co omo era ne ecessário qu ue tivesse um diplom ma do c Raymon nd Gratien que q foi o meeu professorr mais conseervatório, esstudei posteeriormente com importante pois eestudei com ele entre oss 11 e os 15 anos. Foi com ele igualm mente que fizz mais progrressos. Após bastantes hesitações decidi, verd dadeiramentte, fazer da guitarra a minha pro ofissão nte pois quando era mais novo, fui bastante exxposto quando tinha 20‐21 anos. Heesitei bastan havia muitass crianças pro odígio (no seentido em que em Françça, na altura que era maiis novo não h em guitarra) g e to odas as pesssoas pensavaam que eu iria obrigato oriamente seer guitarristaa e eu não ttinha tantas certezas assim. E tudo issto foi bastan nte pesado ee só decidi reealmente ap pós ter parad do durante o os 17 e os 19 9 anos. E só aapós ter reto omado aos 2 20 anos é qu ue tomei a de ecisão de me m tornar profissional p e fui paraa a École Normale N dee Musique e para o CNSM C (Consservatoire National de M Musique de Paris) onde estudei com m Alberto Po once. Este pe eríodo Guita arra Clássica
de aulas correu de modo relativamente difícil pois tive dificuldade em ajustar‐me às aulas. Tinha um imenso respeito por Ponce enquanto professor, alguém que é muito dedicado aos seus alunos mas aquilo que me queria ensinar não se adequava de todo a mim e foram aulas muito difíceis. Após este período de estudo, fiz poucos concursos, fiz o GFA em 1997 e a partir desse momento comecei a ter bastantes concertos o que também motivou que fizesse poucos concursos em comparação com muitas pessoas. Devo ter feito 7 concursos tendo começado em concursos internacionais aos 14 anos. Nessa idade ganhei o segundo prémio, pois aos 14 anos já tinha as mesmas capacidades técnicas que actualmente possuo. Musicalmente diferente como seria de esperar mas tecnicamente era bastante semelhante ao que sou hoje. RGC – Em entrevistas mais antigas, refere frequentemente o piano como instrumento de referência. Que outros músicos considera que influenciaram a sua maneira de pensar a música? JP ‐ Quando era mais novo nunca ouvi outra música sem ser a erudita e até aos 13‐14 anos ouvi unicamente música para guitarra clássica. A partir dos 14 anos comecei a ouvir outras coisas, comecei com as cassetes que existiam em casa dos meus pais e consistiam em Polonaises de Chopin tocadas por Maurizio Pollini e obras de Granados interpretadas por Alicia de Larocha. Fui de certo modo influenciado pelo meu pai que ouvia bastantes vezes os Impromptus de Schubert por Brendel e assim fiquei também eu imerso nesta música. Na altura em que parei de estudar guitarra, por coincidência, fui ver um concerto do pianista Nikita Magaloff que estava a fazer a integral de Chopin e partir desse momento comecei a ouvir cada vez mais este instrumento. No que respeita aos intérpretes não diria que me influenciaram, mas sim que marcaram, pois não tenho a pretensão de dizer que tenho a influência de tais músicos na maneira como toco. Muito especificamente, existem quatro: Pollini que devo ter visto em concerto pelo menos umas vinte vezes; Brendel que vi igualmente em diversas ocasiões; Richter que vi apenas uma vez em 1995 e finalmente Rudolf Serkin que conheci através dos seus discos de Beethoven. Após ter ganho o concurso Bartoli, a primeira coisa que fiz foi comprar a integral das sonatas de Beethoven. RGC – E o que admira mais em cada um desses músicos? JP – É bastante difícil definir. Evidentemente, após alguma reflexão chegamos à conclusão que existe um ponto comum: a ausência de compromisso perante o repertório há muito estandardizado, algo que o piano permite com alguma facilidade pois o seu repertório é de facto enorme. E cada um desses músicos tem as suas características: destaco em Brendel a maneira como cada interpretação é estudada e aprofundada, mesmo que tenha gravado várias vezes as mesmas obras, cada gravação apresenta sempre novidade e frescura e é algo que acho admirável, tal como o facto de ser alguém que escreveu bastante sobre a música, análise, interpretação e a sua profissão. Em Richter, que é o meu pianista favorito, admiro as suas escolhas radicais. Tem uma quantidade de repertório alucinante, maior que qualquer outro pianista. O facto de tomar riscos em concerto e há mais do que essa ausência de compromisso: quando o vi ao vivo, tocava no escuro e com alguém ao lado que lhe virava as páginas.
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Não víamos as mãos e como não as víamos, tínhamos a capacidade de ouvir muito melhor. Para ele havia esta necessidade de concentração na audição por parte do público. Em Pollini salientaria a perfeição técnica mas esta perfeição não é um objectivo em si, como se nota nos concertos onde sentimos uma urgência em comunicar. Sinto, no entanto, que acabo por ter uma maior ligação com Brendel. RGC – Quais os factores que o motivam a escolher determinadas obras e qual o seu método de estudo e aproximação às peças? JP – É um método muito lento e está a tornar‐se cada vez mais lento (o que é um pouco inquietante). Há muitas obras que gosto muito e à medida que as vou trabalhando dou‐me conta que "não, não é isto que quero fazer". Como agora não tenho de fazer concursos, não tenho imposições. Há imensas obras que gosto de ouvir e que gostaria de tocar, mas uma vez que para tocar bem as peças preciso de as trabalhar muito, eu tenho de gostar muito delas o que acaba por limitar a minha escolha. Por exemplo, a sonata de Tedesco, é uma peça que gosto muito e que trabalho frequentemente com os meus alunos. Já a comecei a estudar 3‐4 vezes porque tinha evidentemente vontade mas de cada vez que a estudava perdia o interesse pela obra. Como sou alguém bastante ocupado com concertos e aulas, preciso de uma enorme motivação para encetar o estudo de uma obra nova. Por exemplo, um amigo transcreveu a partita de Bach (Tristan Manoukian – Partita nº2) e essa obra sim, tive uma grande vontade de estudar pois era algo que gostava mesmo muito. Uma peça que comecei por tocar e depois deixei, seja por achar que não era capaz de a tocar bem ou porque não tinha inspiração suficiente, foi a Introdução e Capricho de Regondi. Portanto, o mais importante agora é considerar que as obras valem realmente a pena. RGC – E foi esse o critério para o novo disco que irá sair brevemente editado pela Naxos? JP – Os dois discos anteriores a solo foram discos com programa tipo recital, diversas obras sem uma verdadeira ligação entre elas. O próximo disco, com obras de Bach, não surgiu com esse propósito de ter uma coerência temática porque é algo que já foi feito. Não reivindico o facto de tocar bem Bach, não tenho essa pretensão, aliás quando me pedem para falar da música de Bach sinto‐me completamente incapaz de o fazer. Mas, é uma música que sempre esteve comigo e sem me dar conta apercebo‐me que quando tinha 16 anos, bastante isolado a nível guitarrístico, já tocava duas suites (uma para alaúde, outra para violoncelo e a Chaconne). A vontade de tocar a música de Bach esteve portanto sempre presente e para este novo disco, esta escolha, muito pessoal, foi aceite pela Naxos especialmente graças à Partita nº2. A suite BWV 997 foi a primeira peça de Bach que estudei seriamente, aprendi‐a quando tinha 13 anos. Para este trabalho tive de a reaprender após um hiato de mais de 20 anos e evidentemente surgiram muitas alterações tal como o grau de exigência e trabalho que se modificou substancialmente. É sobretudo um projecto pessoal e tal fará com que toque bastante Bach, não sendo no entanto uma reivindicação, é obviamente
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um dos grandes compositores de sempre e o prazer que retiro das suas obras é suficiente para justificar esta escolha. RGC – Em outros artigos seus menciona frequentemente a música de Bach e a problemática que dela surge. Nomeadamente o Prelúdio, Fuga & Allegro BWV 998. JP – Sim, comecei a tocar essa obra há cerca de 4 anos. De vez em quando retiro‐a do repertório e depois volto a tocá‐la e isso é algo que acontece com alguma frequência. Não sei porque tal acontece, pois tenho a sensação que a trabalhei bem e tenho a obra tecnicamente bem dominada. Há no entanto sempre algo que não me agrada e acho que esse é um problema que acontece com muitas pessoas, não apenas em Bach mas em toda a música (talvez particularmente evidente em Bach). Há um equilíbrio hiper‐complicado entre o rigor e a vertente mais lírica e podemos sempre pensar na frase "tocar Bach como Chopin e Chopin como Bach" pois Chopin é um compositor muito clássico, longe da imagem ultra‐ romântica que temos actualmente. A música de Bach, por seu lado, tem muita sensualidade e penso que esse equilíbrio é realmente difícil de atingir. Convém dizer que estudei parcamente as disciplinas de análise e contraponto e a capacidade de análise que possuo surgiu de modo instintivo. Desenvolveu‐se muito com a audição de discos e a verdade é que aprendemos muito de análise e solfejo ao ouvir. É muito difícil fazer a ligação entre aquilo que estudamos e o que tocamos e parece‐me urgente a necessidade de criar a disciplina de "estudos de interpretação". Por exemplo, analisar boas interpretações e ver quais os pontos que fazem com que gravação X ou Y se destaque das outras. Tal permitiria uma ligação entre a análise e a interpretação e é algo sobre o qual tenho vindo a pensar recentemente e faço‐o regularmente com alunos, ouvindo diferentes versões da mesma obra. Em França, e em mais países, temos a análise de um lado e o instrumento de outro e estes dois nunca estão conectados e é frequente ver pessoas que são muito boas em análise e que quando tocam fazem erros típicos de pessoas que não têm uma boa capacidade de análise. RGC – É curioso notar como existe muitas vezes uma sobrecarga de disciplinas teóricas sem uma verdadeira aplicação prática na disciplina principal. JP – É um facto. E consideremos ainda o facto de muitas vezes os guitarristas trabalharem paralelamente ao curso, todos estes elementos que "roubam" tempo são flagrantes sobretudo nesta altura em que surgem guitarristas muito bons cada vez mais novos. Tenho alunos que tiveram muito sucesso por volta dos seus 20 anos e por outro lado tenho outros alunos que são muito bons também mas que com 23‐24 anos têm a impressão de já estarem completamente ultrapassados e "velhos". É algo que compreendo mas não deixo de achar absurdo pois quando alguém toca bem, simplesmente toca bem seja qual for a sua idade e aos 23‐24 anos temos uma vida inteira para continuar a evoluir. Contudo, estes alunos têm a impressão de estar atrasados porque com esta idade não ganharam o GFA por exemplo. É preciso notar que nem todas as pessoas que tocam bem vão ganhar este tipo de concurso e é por isso que é importante desenvolver outros caminhos. Para além disso, o facto de ganhar concursos ou fazer
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conceertos não garaante que uma pessoa contin nue a evoluir musicalmentee. Há imensass pessoas que fazem muito os concertos p por ano e tem mos sempre a noção que algo dentro deelas já morreu u. O essenciall passa por deesenvolver o interesse e a ssua maneira d de se exprimirr através da m música. RGC –– Dessa consta ante procura d de desenvolvimento surge o o duo com Jérrémy Jouve? JP – SSim, é muito importante reeferir isso. Co onheci Jérémyy quando ele tinha 19 ano os e eu teria 2 25. Na alturaa já tocava muitíssimo m bem m e tornámo‐nos amigos antes de term mos decidido fazer o duo.. Certa alturaa tive vontade de fazer música m de câm mara, por um ma necessidad de de pesquiisa, para não o estar sempre a viajar sozzinho e por vo ontade de parrtilha musical.. Evidentemen nte, não é fáccil encontrar aalguém com quem nos entendamos e e que simultaneamente gostemos g com mo instrumen ntista, alguém m que mutuamente. estimule a criatividade musical m E assim propus a Jérémy que fizzéssemos estee duo, algum tempo antes de ele ganhaar o GFA. Ape esar de eu serr mais velho, ele tinha basttante mais experiência que e eu a nível daa música de cââmara, uma vez que tive apenas raras eexperiências n neste campo. Temos uma maneira semeelhante de veer a música, m mesmo se exiistem diferençças consideráveis entre nós, por exemplo o Jérémy, o ouve imensos estilos de mú úsica e impro ovisa bem, musicalmente aberto (fez música m indianaa) enquanto eu, faço exclusivamente música m clássicca e ouço excclusivamente m música clássicca. Não foi um ma decisão minha o facto d de ouvir apenaas este génerro musical, maas foi este gén nero que me m motivou e que e presentemeente desperta interesse. Ao níível do repeertório a solo o temos tam mbém as nosssas diferençças, Jérémy ttem um pro ograma actualmente dedicaado à música espanhola e aacaba de gravvar uma parte da integral de Rodrigo e Rodrigo é um compositor q que não se enquadra nos m meus gostos e que não toco o. Assim, somos muito dife erentes em deeterminados aaspectos mass existe uma u uniformidade de opiniões ssobre a músicca e mesmo quando não teemos a mesm ma opinião con nseguimos sem mpre compree ender a escolh ha do outro. RGC –– Quais são oss próximos pro ojectos do vossso duo? JP – Existe o projeecto de gravar um disco co om música de e compositorees franceses. Tristan Mano oukian, que fez a traanscrição de Bach, transccreveu recentemen nte
a
Suiite
Bergamasque.
Teremos César C Franckk (francês à à sua maneira…) e uma transcrição de Rave el. Será mos para a Naxxos. uma gravaçção que farem
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RGC – A sociologia é uma das suas grandes paixões. Sente que a situação de crise económica tem paralelo com uma crise cultural? JP – É muito difícil comparar as histórias das diversas culturas. É certo que há cerca de uma/duas centenas de anos, a cultura pertencia a 0,1% da população. Existe actualmente o fenómeno da cultura de massa mas simultaneamente temos sempre tendência a pensar que no passado era bastante melhor. O que tenho a certeza é que quando dou aulas a alunos jovens, que estão a começar a estudar guitarra, parece‐me sempre milagroso como estes jovens de 10‐11 se interessam por música erudita uma vez que esta é muito pouco valorizada. É algo que me impressiona sempre, como se a necessidade de cultura do Homem, não pudesse ser apagada, independentemente da necessidade, da crise, do desemprego ou da necessidade de fazer mais dinheiro. Como disse, durante algum tempo imaginei a minha vida sem música, mas penso que a vida sem Arte, sem cultura, ficaria desprovida de sentido. Sobra certamente o Amor mas falta‐lhe uma vertente espiritual (e não sou crente) que apenas a Arte poderá dar. Acredito que a mais forte espiritualidade reside na cultura e é algo vital. Se nos contentarmos meramente com comida, dormir e por aí fora, se perdermos a componente cultural da nossa existência não seremos diferentes dos animais. O Amor, é difícil saber o que é, existem definições complicadas mas muitos animais vivem em casal para sempre e isso acaba por ser amor também. Ao fim ao cabo, a Cultura é uma produção exclusivamente do Homem e é uma necessidade, infelizmente pouco valorizada no momento presente. RGC – Enquanto professor (e um dos professores mais pretendidos actualmente) o que procura especificamente nos seus futuros alunos? JP – É complicado de definir. Tenho a sorte de, desde há 9‐10 anos, ter alunos muito bons à partida. Quer isto dizer que chegam com um nível já muito alto o que como é evidente, torna mais fácil o trabalho futuro. Actualmente, tenho também a sorte de poder escolher e é um pouco difícil de dizer o que motiva a selecção. Mas, gosto que os valores que tenho na vida musical sejam semelhantes aos dos futuros alunos. Se um aluno quer apenas ser muito famoso e tocar coisas de um gosto duvidoso aí tenho a certeza de não querer trabalhar com ele. Procuro alguém que seja realmente dedicado à Arte, que tenha necessidade da Música para se exprimir, que tenha necessidade de viver a Música que seja relativamente similar à minha. Depois deste período de aulas, cada um terá o seu próprio percurso e vejo isso nos alunos que tenho pois todos fazem percursos incrivelmente diferentes, e dentro desses percursos, vejo que a minha influência é relativamente fraca o que é muito bom, pois o percurso deve pertencer exclusivamente às pessoas. Poderão ser pessoas com objectivos comuns: melhorar ou trabalhar determinados aspectos mas no fundo ficarão sempre eles mesmos. RGC – E quais são aqueles que considera como os seus principais ensinamentos?
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JP – Fico muito contente se sentir que os alunos são felizes enquanto estão a fazer música ou que eventualmente vão continuar a fazer música durante muito tempo, sempre com esta felicidade presente. Tal felicidade poderá tomar formas diferentes pois nem todos serão concertistas, como por exemplo Gabriel [Bianco] ou Florian [Larousse], mas se todos chegarem a esta relação positiva com a música, seja com um concerto por ano ou por ser um professor entusiasta que faz com que os seus alunos gostem de música, ou músicos de ensembles maiores. Em resumo, quando as pessoas estão vivas no que respeita a música, posso dizer que cumpri a minha missão quanto ao que deveria acrescentar à vida de cada um dos alunos. É preciso compreender que não tenho espaço para todos os alunos mas há espaço para que cada aluno encontre o seu caminho. Durante um curso que leccionei inserido num festival e cursos de outros instrumentos, havia muitos violinistas entre 15 e 18 anos, mais novos que os guitarristas, que queriam estudar exclusivamente concertos. Durante esse curso, foi‐lhes pedido que fizessem música de câmara com outros instrumentos, algo que não tinham muita vontade, de tal modo que sabotaram o concerto final e tocaram mal de propósito. Apercebi‐me que dentro destes 300‐400 alunos que estudavam unicamente concertos, apenas um número restrito irá realmente tocar ao longo da sua vida estas obras e é pena que não desenvolvam outros aspectos para além deste. E é isso que gostava de expandir no trabalho com os meus alunos, que possam gostar de música de câmara, que possam gostar de ensinar, que possam estar vivos com a Música. Evidentemente, sinto‐me muito feliz com o facto de ensinar e sinto que há uma comunicação e retorno maior durante as aulas do que por exemplo durante um concerto, onde toda a gente diz que foi muito bem no final, onde não é possível saber exactamente o que as pessoas pensam, que é algo que acho meio frustrante: perceber que há pessoas que gostam dos concertos por razões absurdas como tocar rápido. Durante as aulas temos a noção do que a pessoa ouviu e compreendeu pois houve um verdadeiro intercâmbio de comunicação. RGC – Como utilizador frequente das novas tecnologias de comunicação, quais as principais vantagens e desvantagens que destaca deste enorme mundo? JP – No campo da música, há imensas possibilidades. Se, eu fiz poucos concursos e nunca parti para o estrangeiro para estudar, tal se deve ao facto de na minha altura ser bastante mais complicado e caro viajar. Nesse sentido é de invejar a comunicação possível actualmente, comunicação entre alunos e comunicação também possível com determinados professores. Tenho alunos de diversos países graças a este poder de correspondência. Do mesmo modo, determinados aspectos mais pueris, como por exemplo a questão do ataque à esquerda vs ataque à direita, desapareceram pois as pessoas viajaram muito e consequentemente evoluíram. Enquanto cada um estava isolado no seu canto ou país, referíamo‐nos a escolas de uma pessoa, "Escola Lagoya", "Escola Carlevaro", "Escola Ponce" e por aí fora. A partir do momento em que viajamos apercebemo‐nos que há coisas interessantes um pouco por todo o lado e isso foi muito positivo. Naturalmente, o verdadeiro problema coloca‐se na indústria discográfica, mesmo que tal não afecte do mesmo modo os músicos clássicos que não são os principais motivos de venda das editoras. Ao gravar
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para a Naxos, fiquei muito contente naturalmente mas pensei que foi muito bom gravar para eles antes que deixassem de fazer discos. Os 1500 discos que comprei, perfazem uma bela soma mas se os comprasse actualmente seria muito mais barato. E este desconto dos preços é demonstrativo da perda de valores que damos à música. Comprei uma integral de piano, 100 discos por 90 euros, e cada disco é realmente incrível. É fantástica esta possibilidade mas ao mesmo tempo é perigoso pois podemos pensar: "Por quê comprar um disco a 15 euros quando posso comprar 100 a um euro cada?" A globalização faz com existam muitos guitarristas que estejam constantemente em tournée mas de igual modo faz com que muito poucos sejam realmente conhecidos, não só em guitarra mas em todos os instrumentos. O que torna impossível que exista um novo Karajan, Rostropovich, etc, pessoas que se tornam conhecidas apenas pela música. Actualmente, existe uma razão paralela à música para que os intérpretes sejam conhecidos. Por exemplo, Lang‐Lang é um representante do novo poderio asiático, Helène Grimaud apoia os lobos, e cada um tem algo que para além da música faz com que tenha destaque através do media. Antes existiam pessoas como Horowitz, Rubinstein, Rampal, Lagoya, que eram muito conhecidos unicamente por aquilo que faziam musicalmente. RGC – Mas é preciso considerar a força que o marketing tem… JP – Sem dúvida que há um marketing muito forte. Li recentemente uma entrevista de uma pianista chinesa que ganhou diversos concursos e nesta entrevista falou de Lang‐Lang e menciona como muitas histórias em torno deste pianista não correspondem propriamente à verdade. É verdade que o marketing joga uma carta muito importante mas não deixo de o constatar sem sentir alguma pena. É óptimo que se queira dar cultura a todas as pessoas mas observo que em vez de levarmos, ou levantarmos o nível cultural das pessoas, estamos constantemente a baixar o nível da cultura para que corresponda à média das pessoas. É algo que não posso fazer na minha vida. Vivo confortavelmente, tenho os alunos que quero, os concertos, portanto não tenho razões para me deixar controlar por um determinado marketing. Estou num contexto onde uma vez que não morro de fome, não tenho razões para fazer coisas que não correspondem com a minha forma de ser. Naturalmente, é preciso pensar que nem todas as pessoas se encontram nesta situação, que cada um de nós tem os seus próprios motivos, e a verdade é que infelizmente pode ser muito lucrativo. Certas pessoas fazem certas coisas para serem conhecidas, é a sua escolha. Se vivemos correctamente não há grandes razões para criticar. RGC – No entanto a escolha que uma pessoa faz no sentido de querer mais ou menos mediatismo e exposição acaba por influenciar a sua maneira de pensar a música.
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JP – Claro. Peensemos no m músico erudito o mais conhecido, c peenso que pod demos dizer que q foi Pavarotti. Algguém que já eera muito conh hecido como c cantor de ópera ee que mais para p a frente se torn f nou ainda maiis conhecido aa fazer esses eventos e s de nível fracco. Ele afirmavva que se divertia a f s fazer esses co oncertos, portanto é um u direito seeu, mas se no os perguntarm mos se este tipo de c e concertos levaava mais gente e a ver e e ouvir óperaa, acabo por não ter a cerrteza e não n estou co onvencido qu ue as pessoaas que compravam o c os bilhetes paara ver "Pavarrotti & Friends" fosseem comprar b bilhetes para ópera. Tal sucede igu T ualmente com m o violinista André Rieu, R que háá uns anos atrás foi, so ozinho, re esponsável po or 20% das vendas de música m eruditta em França.. As pessoas q que compram m estes discoss não vão depois ver conccertos ao vivo o de formaçõ ões eruditas. Por muito qu ue se diga qu ue trás novoss públicos à música m clássicca, tal não é verdade. v Que em trouxe as pessoas à música foi Bern nstein, atravéés dos seus programas de ttelevisão, Gleenn Gould e outros grandess comunicado ores. É preciso o notar que m muitas vezes o o músico clásssico quer guarrdar qualquerr coisa de mággico à sua volta como se trratasse de um m mundo heermeticamente fechado. Estive recen ntemente num m cruzeiro ee algumas pessoas disserram‐me que para músico clássico era muito simpáático e achavva isso algo iimpressionante. Há portanto essa noçãão transmitida pela televisão de que o músico clássicco é um génio, incompree endido, torturrado, etc. etc. quando na reealidade são p pessoas que têm talento e sensibilidade mas sobretud do que trabalham e que accima de tudo são pessoas n normais. Mass muitos gostaam de transm mitir esta imaggem de magiaa à semelhançça do que aco ontece por exeemplo com oss cientistas: teemos sempre presente a id deia do cientista louco de ccabelos espetaados quando são sobretudo trabalhadorres incansáveiis. RGC –– Qual a sua im mpressão sobre a vida mussical portuguesa? JP – D Devo dizer qu ue conheço m muito mal apesar de ter visitado algumas vezes Portu ugal. Como to odas as pesso oas, conheço a pianista Maaria João Pirees. No que re espeita a guitaarra, é um po ouco mais diffícil de falar, evidentemen nte conheço‐te a ti e tivee a possibilid dade de conh hecer músico os portuguese es que estudaram em França. Recordo que a primeiira vez que esstive em Portugal, no festival de Sernan ncelhe, assisti a um concerrto de guitarra portuguesa e este concerto teve muitto mais públicco que qualqu uer um dos outros o concerttos de guitarrra, tinha iguaalmente um público p bastante mais joveem e um ambiente mais ccaloroso. Estaa relação próxxima com a m música de caráácter mais tradicional/popu ular foi algo que me marco ou bastante pois tem um accolhimento qu ue não vemoss em todos os países.
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