Duas perguntas a Pedro Gomes

May 25, 2017 | Autor: Emília Ferreira | Categoría: Arte Contemporanea, Desenho, Artistas portugueses
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Descripción

Duas perguntas a Pedro Gomes1 Emília Ferreira Emília Ferreira — Como é que surgem estas imagens? Porquê estas técnicas? Pedro Gomes — Estas imagens partem de fotografias amadoras, tiradas de redes sociais. São fotografias em que as pessoas normalmente se autorrepresentam ou registam outros que lhes são próximos. São de tal forma abundantes que se vulgarizaram e indiferenciaram. Reduzir a figura humana à sua forma mínima, à sua silhueta, tenta questionar esse mesmo anonimato. Como é comum no meu trabalho, há uma inversão de sentido a algo que nos é familiar e que se torna insignificante por isso. Estes trabalhos têm a ver com a ideia de ecrã, cego por excesso. Numa primeira fase a superfície é obsessivamente riscada a grafite em linhas horizontais, referenciando um qualquer suporte em que se reproduzem imagens. Mais tarde, é escavada uma silhueta que recupera uma possível imagem. Interessava-me ser um trabalho de desenho no seu sentido mais fundamental. Temos grafite e uma dimensão que se aproxima do A4. Este prensado de fibras de madeira é da mesma natureza que o papel, tendo a diferença de em vez de algodão puro, temos fibras possivelmente recicladas e por isso são síntese de materiais e experiências várias. É trabalhar com o que é impuro e saturado. O branco do papel deu lugar ao negro. Há um assumir da pré-existência destas imagens enquanto imagens digitais, sendo o ato de desenhar um ato de tomada de conhecimento das mesmas. Estas imagens, na sua génese, são tão banais que a minha possibilidade de me relacionar com elas passa por as desenhar.

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Entrevista para o catálogo da exposição Ciência do Desenho, Casa da Cerca-Centro de Arte Contemporânea, Almada, 2012.

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