Ciência e Filosofia Moderna: Bacon, Descartes, Locke e Hume

June 7, 2017 | Autor: Gisiela Klein | Categoría: René Descartes, Francis Bacon, John Locke, David Hume
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Descripción

UNIVERSIDADE DO ESTADO DE SANTA CATARINA – UDESC
CENTRO DE CIÊNCIAS DA ADMINISTRAÇÃO E SOCIOECÔNOMICAS – ESAG
PROGRAMA ACADÊMICO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ADMINISTRAÇÃO


Disciplina: Epistemologia da Ciência em Administração
Turma: Mestrado Acadêmico 2015
Professor: Mauricio C. Serafim
Discente: Gisiela Hasse Klein
Aula: Ciência e Filosofia Moderna: Bacon, Descartes, Locke e Hume
Obra estudada: REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia. São Paulo: Paulus, 2005. v. 3. Terceira Parte: "Bacon e Descartes", pp. 263-316.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia. São Paulo: Paulus, 2005. v. 4. Segunda Parte. Capítulo quinto: "John Locke e a fundação do empirismo crítico", pp. 91-103.
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da Filosofia. São Paulo: Paulus, 2005. v. 4. Segunda Parte. Capítulo sétimo: "Davi Hume e o epílogo irracionalista do empirismo", pp. 131-153.


Sobre o que é o livro?
As obras analisadas trazem um panorama dos trabalhos dos filósofos Francis Bacon, René Descartes, John Locke e David Hume. São partes do terceiro e quarto volumes da coleção História da Filosofia. Os autores tiveram a preocupação de contextualizar a vida dos filósofos, com a formação e as influências intelectuais de cada um, bem como as adversidades vividas em cada época (guerras e conflitos religiosos, por exemplo). Com a análise desses filósofos, temos uma ideia do pensamento que predominou na ciência entre o fim do século XVI até o século XVIII. Os quatro (Bacon, Descartes, Locke e Hume) se preocuparam, principalmente, em estruturar o estudo da ciência e buscar o verdadeiro conhecimento.

O que está sendo dito, de modo detalhado, e como está sendo dito?
Para facilitar nossa análise, vamos estruturar o resumo a partir dos filósofos estudados. Iniciando por Francis Bacon (1561-1626), que criou o método empírico-indutivo. Bacon nasceu em Londres, seguiu uma carreira política junto à nobreza até ser acusado e condenado por corrupção. Mesmo perdoado pelo rei, suas pretensões políticas acabaram em 1621. A partir daí, seguiu com seus estudos e se tornou um marco para a ciência ocidental. Ele indagou sobre a função da ciência na vida e na história humana, formulou uma ética da pesquisa e, chegou a dizer que a imprensa, a pólvora e a bússola seriam as responsáveis pela mudança que o mundo sofria então (difusão do conhecimento, guerras e navegações). Para Bacon, saber é poder.
Bacon era um crítico da filosofia grega tradicional, negava a metafísica e propunha que o conhecimento só pode ser alcançado pela experiência, e que a finalidade da ciência é o controle sobre a natureza. Para se chegar a esse conhecimento, no entanto, é preciso seguir um procedimento, que começa com a "limpeza da mente". É aqui que Bacon cria a Teoria dos Ídolos. Temos quatro tipos de ídolos dos quais devemos nos livrar antes de iniciar um estudo científico: ídolos da tribo (pensamentos do senso comum, conceitos arraigados em uma sociedade...), ídolos da caverna (cada um de nós tem uma caverna onde estão nossos pré-conceitos, nossas crenças e hábitos que atrapalhariam a apreensão do novo conhecimento), os ídolos do foro ou mercado (a linguagem/as palavras que devem ser padronizadas na ciência, evitando dubiedades) e os ídolos do teatro (uma referência aos antigos filósofos e suas preocupações metafísicas que podem desviar o foco da ciência). Após essa "limpeza da mente", o homem estaria pronto para dar início aos estudos empírico-indutivos seguindo o método: experiência, observação, regularidade, análise e generalização.
Nosso próximo filósofo é René Descartes (1596-1650), que também questiona as tradições, mas propõe o método cartesiano para obtenção do conhecimento, que parte sempre da dúvida. Para Descartes, a dúvida é a primeira certeza no caminho do conhecimento. Podemos duvidar de tudo, exceto da própria dúvida. É de Descartes a frase que se tornou famosa: "Penso, logo existo". Originalmente: "cogito, ergo sum" ou "duvido, logo penso, logo existo".
Descartes procurava formas seguras de chegar ao conhecimento e seu método consiste em quatro regras: evidência racional (as ideias deveriam passar, primeiramente, por um funil da dúvida); análise (dividir o problema em pequenas partes); síntese (recompor o que foi decomposto para análise); e controle (testes e mais testes finais).
Ao partir da dúvida para chegar ao conhecimento, Descartes desloca o centro do saber do objeto para o sujeito. Derivam-se daí alguns temas interessantes como o argumento do sonho, no qual seria impossível sabermos pelos sentidos se estamos acordados ou dormindo. O filósofo também propôs três classes de ideias: inatas (teríamos um conhecimento inato); apreendidas (pela experiência) e construídas (pela razão). Descartes concluiu, ainda, sobre a existência de Deus com o Princípio da Correspondência. Segundo esse princípio, se penso em algo é porque ele existe, é real. Mesmo seres fantásticos como um unicórnio seria criado pela minha mente a partir de objetos reais como o cavalo pequeno e o chifre. Logo, se podemos pensar em algo infinito/eterno, é porque ele é real. Logo, Deus é real para Descartes.
John Locke (1632-1704) é precursor do iluminismo. Estudou em Oxford, mas por problemas políticos se refugiou na Holanda até 1689, quando Guilherme de Orange assumiu o trono em Londres, e Locke voltou a sua terra. Defende o empirismo, mas discorda de Descartes de que temos ideias inatas. Para Locke, nossa mente é uma tábua rasa onde se inscreve o conhecimento a partir, unicamente, da experiência. Existiram três tipos de conhecimento para Locke: knowledge, o raciocínio lógico; o true knowledge, adquirido pelos nossos sentidos; e o belief, que seriam nossas crenças.
Locke também deu início aos estudos da linguagem. Para o filósofo, os objetos se transformam em ideias na mente. As ideias são codificadas em palavras/símbolos, que são transmitidas na comunicação. É uma das primeiras estruturações da linguística.
Por fim, temos David Hume (1711-1776). Empirista lógico, não adentrou à academia devido ao seu ceticismo extremo. Para Hume todo nosso conhecimento é fruto da percepção e toda percepção é dupla: ela é sentida como impressão e pensada como ideia. Uma das maiores contribuições de Hume à ciência do conhecimento está na separação que ele fez de ideias e dados de fato. As ideias seriam conteúdos abstratos, resultado da dedução lógica, como a álgebra e a geometria, por exemplo. Já os dados de fato são frutos da experiência que nos levam à conclusão de causa e efeito. Esse empirismo lógico será aprofundado, mais tarde, por Kant.
Outra contribuição de Hume é seu estudo sobre a força do hábito. Para ele, o homem se guia pelo costume. "Nós inferimos uma relação de causa e efeito por experimentar constantemente a conexão até criar um hábito, que vai gerar uma crença". (página 139)
Sobre os limites da ciência, Hume apontou quatro possibilidades: o tempo (quanto mais nos distanciarmos da experiência, mas informações perderemos); a percepção particular (diferente de Bacon, Hume não crê na possiblidade de nos afastarmos da subjetividade. Ela é inerente e um dos limites à ciência); a relação com as palavras/conceitos (trata-se da dificuldade em padronizarmos uma linguagem a partir das diferentes percepções humanas); e a metafísica (o que não podemos testar/provar seria apenas perda de tempo na ciência).

O livro é verdadeiro? Todo ele ou somente parte dele?
O texto é totalmente verdadeiro, claro e objetivo. Temos uma boa revisão da vida e obra de cada autor. Os autores são coerentes nas relações que estabelecem entre os quatro filósofos, apontando concordâncias e discordâncias. Interessante também, as informações sobre as trocas de informações que ocorriam na época entre os chamados "doutos".

E então? Qual a importância do livro para mim?
Os textos analisados foram de extrema importância para uma revisão estruturada da filosofia moderna. Sinto a necessidade, no entanto, de analisar também os capítulos referentes a Spinoza, Leibniz e Hobbes.
Sobre os quatro que foram estudados (Bacon, Descartes, Locke e Hume) pude observar que os obstáculos ao conhecimento analisados por Alberto Oliva em Filosofia da Ciência têm origem na proposta inicial de Hume. Oliva complementa a proposta de Hume, considerando o método científico aplicado às ciências sociais. Aliás, uma das conclusões a que pude chegar é que a preocupação nos séculos XVI, XVII e XVIII era estruturar um método para os estudos das ciências naturais, que se desenvolviam com Copérnico, Galileu, Kepler e Newton. Além da tentativa de separar ciência e fé, evitando problemas com a inquisição.
Atualmente, esses métodos ainda são válidos e eficazes para as ciências naturais, mas nas ciências sociais ainda procurarmos um método que atenda às especificidades da nossa área. Aplicamos os métodos empíricos para solucionar problemas sociais, mas nem sempre chegamos a resultados objetivos. Ainda carecemos de muita discussão metodológica em nossa área.

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