Cesare Ripa na Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra

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Descripción

CESARE RIPA NA BIBLIOTECA NACIONAL DE MAFRA E ECOS DA SUA ICONOLOGIA (Roma, 1603) NAS ARTES EM PORTUGAL ESQUISSOS PARA UMA EXPOSIÇÃO VIRTUAL

Manuel J. Gandra *

Resumo Tem a presente mostra virtual três objectivos principais: 1. Projectar para a opinião pública uma faceta inédita do fantástico acervo, inerte e quase oculto, da Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra; 2. Disponibilizar uma panorâmica abrangente sobre a obra-mestra de Cesare Ripa, actualmente praticamente desconhecida, não obstante a imensa popularidade de que gozou durante os séculos XVII a XIX; 3. Evidenciar o papel desempenhado pelo emblematismo na codificação e descodificação da semântica de obras de arte coevas, incluindo o próprio Monumento de Mafra e algum do seu espólio.

__________________ * Licenciado em Filosofia (Faculdade de Letras – Universidade Clássica de Lisboa). Investigador. Docente no IADE. Colaborador da UNIDCOM (Iade). Responsável pelo Centro de Documentação e Informação de História Local do Concelho de Mafra (Câmara Municipal de Mafra). Director do Centro Ernesto Soares de Iconografia e Simbólica [www.cesdies.net]. Um dos subscritores do movimento Monumento de Mafra Virtual [www.monumentomafravirtual.net.]

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PREÂMBULO

Enquadra-se a Exposição virtual de que publicito a “maqueta”, num projecto mais vasto, cujo objecto é o estudo sistemático da Emblemática e repercussões da sua influência em Portugal. Denomina-se tal projecto, genericamente: Corpus da Emblemática Lusitânica - The Portuguese Bmblem Book Project, competindo-lhe: 1. Evidenciar as fontes da cultura simbólica, tal como as Filosofias tradicionais do simbolismo e respectivos sistemas hermenêuticos as testemunharam; 2. Propiciar uma aproximação às gradações semânticas do simbolismo na arte portuguesa posterior ao Renascimento, encorajando o estudo da Emblemática Lusitânica em todas as suas vertentes; 3. Constituir a Imaginoteca integral do Corpus da Emblemática Lusitânica, mediante a respectiva digitalização ou fotografia; 4. Proceder à catalogação e estudo das Relações de sucessos dos séculos XVIXVIII, género literário intimamente vinculado à Emblemática, porquanto muitos desses relatos contêm descrições e ilustrações de empresas, hieróglifos e emblemas incorporados na arte efémera concebida para tais ocasiões; 5. Editar gradualmente todos os livros e programas emblemáticos concebidos por autores nacionais ou editados em língua portuguesa, mas também as mais relevantes traduções e imitações de obras estrangeiras; 6. Disponibilizar on-line (Research Web Site: The Portuguese Emblem Book Project) a totalidade das fontes e informação elencadas; 7. Promover periodicamente conferências, seminários ou colóquios de âmbito internacional, coadjuvando as iniciativas das entidades envolvidas na pesquisa e investigação da Emblemática (ver Emblem Open Portal). Para viabilizar o seu incremento, o projecto subordinar-se-á ao seguinte faseamento: 1. Inventário e reunião de toda a bibliografia e informação disponíveis sobre livros de emblemas estrangeiros em circulação em Portugal, com o objectivo de constituir um catálogo preliminar do Corpus por verbetes, um por cada autor/obra; 2. Inventário e reunião de toda a bibliografia e informação disponíveis

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sobre livros de emblemas portugueses (impressos ou manuscritos, ilustrados ou não, com o objectivo de constituir um catálogo preliminar do Corpus por verbetes, um por cada autor/obra; 3. Obtenção dos livros de emblemas portugueses, mediante a sua aquisição, doação, etc. ou do microfilme ou microficha das obras conservadas em bibliotecas privadas ou públicas; 4. Digitalização dos livros de emblemas portugueses a partir do seu suporte em papel ou microforma e respectiva gravação em CD de molde a permitir a sua reprodução e estudo; 5. Transcrição e análise dos livros de emblemas inventariados, e concomitante sistematização dos seus motivos mais pertinentes (filológicos, literários, históricos, iconográficos, etc.), numa Base de dados; 6. Edição tipográfica e informática (em CD-ROM e on-line) das transcrições efectuadas (A Compendium of Illustrated Portuguese Emblems), suportada pelo aparato crítico adequado, designadamente das fontes da inventio da Emblemática Lusitânica.

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Sala do PNMafra para a qual foi projectada a mostra cuja maquete se apresenta e respectiva localização no piso nobre do Real Edifício.

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Legenda 1. Exergo 2. A Iconologia de Cesare Ripa 3. Edições da Iconologia, anteriores a 1800 4. Ecos da Iconologia de Cesare Ripa em Portugal

Nota - A visualização do volume da edição da Iconologia (Roma, 1603) pertencente ao acervo da Biblioteca do Palácio Nacional de Mafra é feita nos postos multimédia, existentes no centro da sala.

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EXERGO

Vivemos em contacto diário e íntimo com símbolos e marcas corporativas, cuja concepção e difusão visa suscitar o reconhecimento instantâneo dos produtos e bens de consumo que têm a finalidade de representar. Estes símbolos e marcas não são uma invenção nem do marketing, nem da publicidade modernos. Com efeito, eles constituem o corolário de uma vetusta tradição de intimidade do verbo com a imagem, elaborada na antiguidade por Simónides e Horácio e consagrada pela expressão ut pictura poesis. O tópico da pintura como muda poesia impregnou de tal forma a cultura e o pensamento europeus ao ponto de gerar um género literário de carácter didáctico e moral, que proliferou entre meados de quinhentos e os finais do século XVIII, período durante o qual, a crer nas cifras apontadas por Mário Praz, mais de setecentos autores terão produzido cerca de quatro milhares de tratados ou enciclopédias de Emblemas, Hieróglifos, Empresas e Divisas. O primeiro desses livros, digno do nome, é creditado a André Alciato (1492-1550), jurista itálico que instituiu a Emblemática como disciplina autónoma, ao atribuir a denominação de emblema, a cada uma das alegorias que reuniu no seu Emblematum Liber, compêndio de retratos morais da humanidade, figurados por atributos naturais e eventos históricos e mitológicos. Durante as oito décadas imediatas à edição princeps, impressa em Augsburgo, no ano de 1531, o Emblematum Liber seria objecto de múltiplas reedições em latim e em línguas vernáculas tão diversas quanto a francesa, a italiana, a espanhola ou a alemã. O mérito maior da literatura emblemática foi o de ter instaurado uma mediação eficaz entre as fábulas dos poetas (entendidas como prefigurações de mistérios filosóficos e científicos), as alegorias clássicas e a arte de programa surgida com o Renascimento: a obra de arte, fruto de uma prévia abstracção mental do artista, passaria, doravante, a inscreverse num processo intelectual, exigindo, consequentemente, um lema fundador.

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A ICONOLOGIA DE CESAR RIPA

O termo Iconologia deriva do grego, eikôn, imagem, retrato, e logos, palavra, discurso, teoria. Foi usado por Platão com o significado de linguagem figurada (eikonologia). Voltaria a ocorrer sómente em 1593, já como cultismo grego italianizado, para titular o tratado de alegorias, ou Verdadeira descrição das imagens universais, de Cesare Ripa, pseudónimo de Giovanni Campani (1560-1625). O conceito, doravante significando a arte de representar figuras alegóricas com os respectivos atributos (faculdades da alma, virtudes, disposições psíquicas, artes e ciências), o conhecimento desses atributos e, por metonímia, o repertório de tais representações, seria retomado pelos sucessivos editores da obra, nomeadamente por Jean Baudoin (1636), Juan Bautista Boudard (1759), Cesare Orlandi (1764), etc.

Cesare Ripa: retrato incluído na edição de Perugia, 1764

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A ICONOLOGIA DE CESARE RIPA

No ano de 1927, Emile Mâle considerava a iconologia um auxiliar indispensável da iconografia para bem interpretar o significado da obra artística. Posteriormente, em 1939, Erwin Panofsky adoptaria o termo para denominar o estudo cultural da obra de arte, como testemunho de uma dada cultura ou civilização, método anteriormente esboçado por Aby Warburg, em 1912, e orientado para a descodificação e análise dos significados conceptuais que a obra de arte encerra, o qual se ocupa do seu significado derradeiro (filosófico ou conceptual, histórico, social, etc.). A distinção entre iconografia, como pura descrição, e iconologia, como estrita ciência interpretativa, é meramente teórica. Na prática, a análise confunde com frequência ambos os níveis. Foi propósito de Cesare Ripa estabelecer um percurso emblemático partindo das alegorias de Piério Valeriano (Hieroglyphica, 1556), Gregório Giraldi (De Deis gentium varia, 1548), Natali Conti (Mythologiae, 1551) e Vincenzo Cartari (Le Imagini de i Dei, 1566). Herdeiro da tradição aristotélica e didáctica medieval, criou aquilo que Seznec definiu como uma autêntica “Bíblia do Símbolo”, o dicionário simbólico mais utilizado pelos artistas dos séculos XVII e XVIII e a fonte prioritária na concepção de imagens alegóricas na pintura e na escultura desde a centúria de seiscentos até o limiar do século XX. A compilação de alegorias das paixões, vícios, virtudes, artes, sentidos, etc., acha-se ordenada alfabeticamente e acompanhada pela respectiva justificação iconográfica, fontes e modelos estéticos.

Cesare Ripa: retratos dos frontispícios das edições de 1603 (Roma) e 1644 (Amesterdão)

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EDIÇÕES DA ICONOLOGIA, ANTERIORES A 1800

A Iconologia de Cesare Ripa teve larga difusão conforme se constata pelo considerável número de edições realizadas em diferentes línguas.

Iconologia overo Descrittione dell’Imagini universali cavate dall’Antichita et da altri luoghi da Cesare Ripa Perugino. Opera non meno utile che necessaria a Poeti, Pittori, et Scultori per rappresentare le virtù, vitii, affetti et passioni humane Roma, Herdeiros de Giovanni Gigliotti, 1593 Edição princeps. Carecia de ilustrações. Iconologia overo descrittione d’Imagini universali cavate dall’antichita […] Milão, 1602 Não ilustrada

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EDIÇÕES DA ICONOLOGIA, ANTERIORES A 1800

Iconologia overo Descrittione di diverse Imagini cavate dall’Antichita et di própria inventione. Trovate et dichiarate da Cesare Ripa Perugino, Cavaliere de Santi Mauritio et Lazaro. Di nuovo revista et dal medesimo ampliata di 400 et più Imagini. Et di figure d’intaglio adornata […] Roma, Lepido Facci, 1603 Primeira edição ilustrada com 150 xilografias de Giuseppe Cesari, Cavalier d’Arpino [BPNMafra: 2-60-3-26] Iconologia overo Descrittione d’Imagini delle Virtú, Vitii, Affetti, Passioni humane, Corpi celesti, Mondo e sue parti […] Pádua, Pietro Paolo Tozzi, 1611 Ed. ampliada com mais xilogravuras Nuova Iconologia overo Descrittione dell’Imagini universali cavate dall’antichita […] Siena, Eredi di Matteo Florimi, 1613 Acrescida de 200 novas xilogravuras

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EDIÇÕES DA ICONOLOGIA, ANTERIORES A 1800

Nuova Iconologia […] Pádua, Pasquati, 1618 Iconologia overo descrittione dell’ Imagini universali cavate dall’antichita […] Parma, 1620 Três volumes Novissima Iconologia overo descrittione dell’Imagini universali cavate dall’antichita […] Pádua, Pietro Paolo Tozzi, 1625 Della piú che novissima Iconologia […] Pádua, Donato Pasquardi, 1630 [BN: BA 485 P] Inclui comentários de Giovanni Zaratino Castellini Iconologie ou les Principales choses qui peuvent tomber dans la pensée touchant les Vices et les Vertus, sont presentées soubs diverses figu[res] Paris, 1636, 2 vols. Gravures em cobre de Jacques de Bie e comentários de Jean Baudoin

Iconologie où les Principales choses qui peuvent tomber dans la pensée touchant les Vices et les Vertus, sont presentées soubs diverses figu[res] Paris, 1643, 2 vols. Reedição da anterior, por Guillemot

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EDIÇÕES DA ICONOLOGIA, ANTERIORES A 1800

Iconologia of uytbeeldighen des Verstants Amesterdão, Dirck Pietersz Pers, 1644

Iconologia overo descrittione dell’ Imagini universali cavate dall’antichita Veneza, 1645 Ampliada por Giovanni Caratino Castellini, em três volumes

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EDIÇÕES DA ICONOLOGIA, ANTERIORES A 1800

Iconologia […] divisa in tre libri […] Veneza, 1669 [BN: HG 15228 V / F 1514] Três volumes Erneuerte Iconologia oder Bilder-Sprach Francoforte, 1669-1670 Iconologie ou les principales choses […] touchant les vertus Paris, 1677 Iconologie ou les principales choses […] touchant les vertus Paris, 1681 Iconologie ou la science des emblemes devises, etc. Amesterdão, 1698 Iconologia of uytbeeldighe des Verstants. Den tweeden druk Amesterdão, 1699

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EDIÇÕES DA ICONOLOGIA, ANTERIORES A 1800

Der Kunst-Göttin Minerva liebreiche Entdeckung, wie die Virtuosi alle Tugenden und Laster, und was die vier Elementa begreiffen, sambt allen Künsten u. Wissenschafften der Welt Kunst-mässig u. Hieroglyphisch vorstellen sollen [...] Augsburg, Kröninger e Göbels Erben, 1704 Ed. alemã, reeditada em 1758-60 e 1770

Iconologia, or Moral Emblems [...] Londres, Benj. Motte, 1709

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EDIÇÕES DA ICONOLOGIA, ANTERIORES A 1800

Iconologia overo descrittione dell’ Imagini universali cavate dall’antichita [...] Perugia, 1745 Der Kunst-Göttin Minerva liebreiche Entdeckung, wie die Virtuosi alle Tugenden und Laster [...] Augustae Vindelicorum, Hertel, 1758-1760

Iconologia del Cavaliere Cesare Ripa Perugino Notabilmente Accresciuta d’Immagini, di Annotazioni, e di Fatti dall’Abate cesare Orlandi […] Perugia, Pier Giovanni Costantine, 1764-1767, 5 vols. [BA: 37-X-3/7] Edição monumental patrocinada pelo Abade Cesare Orlandi, a quem ficou a dever-se a amplificação das imagens, bem como os respectivos comentários Der Kunst-Göttin Minerva liebreiche Entdeckung, wie die Virtuosi alle Tugenden und Laster [...] 1770 Iconologia, or Moral Emblems Londres, 1779

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Rosto – Abondanza – Accidia - Adulatione

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Agricoltura – Amor di Virtu – Amicitia - Allegrezza

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Ambitione – Avaritia – Ardire Magnanimo e Generoso – Anima Ragionevole e Beata

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Armonia – Bellezza – Auttorita o Potesta – Capriccio

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Benignita - Cognitione – Carita – Carita

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Chiarezza - Compuntione – Sanguigno per l’Aria – Flemmatico per l’Acqua

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Collerico per il Fuoco - Correttione – Conservatione – Contrasto

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Malenconico per la Terra

- Dignita – Crepusculo della Sera – Desiderio Versiddio

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Crepusculo della Mattina

- Domínio di se stesso – Divinita – Dispregio del Mondo

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Dolore - Equinottio della Primavera – Equinottio dell’Autunno – Dottrina

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Economia - Eternita – Fama Chiara – Esilio

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Etica - Felicita – Fermezza d’Amore – Fede Cattolica

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Fede nell’Amicitia - Fortezza – Forza d’Amore si nell’Acqua come in Terra – Filosofia

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Flagello di Dio - Fraude – Furore – Furor Poetico

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Furto - Gelosia – Grassezza – Giuditio

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Gloria de Prencipi - Hippocresia – Humilta – Heresia

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Inganno - Ingegno – Incostanza – Irresolutione

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Ingiustitia - Intelletto – Intelligenza – Ira

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Intrepidita et Costanza - Itália com le sue Provincie e parti de l’Isol – Liguria – Toscana

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Umbria - Latio – Campagna Felice, overo terra di lavoro – Calabria

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Puglia - Abbruzzo – Marca – Romagna

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Lombardia - Marca Trivisana – Friuli – Corsica

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Sardegna - Sicília – Liberalita – Liberta

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Libero Arbitrio - Matrimónio – Matematica – Medicina

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Merito - Misericordia – Mondo – Europa

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Ásia - Africa – America – Necessita

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Nobilta - Obedienza – Obligo – Operatione Manifesta

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Operatione Perfetta - Oratione – Patienza – Peccato

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Parsimonia - Penitenza – Perfettione – Persecutione

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Persuasione - Pertinácia – Piacere – Pietá

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Poesia - Povertá – Prodigalitá – Premio

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Prudenza - Querela a Dio – Ragione – Ragione di Stato

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Religione - Riforma – Rumore – Sapienza

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Servitú - Sincceritá – Soccorso – Sollecitudine

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Solstitio Estivo - Solstitio Hiemale – Sorte – Sostanza

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Speranza - Temperanza – Terrore – Tragedia

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Veritá - Vigilanza – Virginitá – Virtu

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ICONOLOGIA (Roma, 1603)

Virtu - Vitio – Volontá - Zelo

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ECOS DA ICONOLOGIA DE CESAR RIPA EM PORTUGAL

Extremamente divulgado em Portugal, praticamente a partir da primeira edição ilustrada da Iconologia (1603), Cesare Ripa foi o inspirador de inúmeras alegorias profanas (de temática mitológica, histórica e geográfica) e religiosas (de tema honorífico, didáctico e moral), integradas nos programas efémeros de grandes festejos públicos (arcos triunfais, cortejos, procissões, esponsais, canonizações, féretros, quadros vivos, etc.), bem como em monumentos (estatuária, pintura, ourivesaria, azulejaria, etc.), na gravura e arte tipográfica, etc. De facto, a produção artística nacional que, antes, acolhera modelos correntes durante o século XVI, rapidamente se voltaria para os propostos por Ripa, muitos deles, por seu turno, reformulados a partir das mesmas fontes, genericamente marcadas pelo espírito contrareformista. Do longo repertório de exemplos tributáveis (apesar de nem sempre consensualmente admitidos), são de salientar os seguintes, em virtude do seu carácter excepcional, alguns dos quais podem ser observados na presente mostra.

Pintura: seis medalhões alegóricos, em grisailes, que rodeiam o São Miguel na abóbada da Igreja de S. Francisco de Paulo (Lapa, Lisboa); diversas telas de Bento Coelho; oito alegorias morais do tecto da Sala das Virtudes do Palácio Ducal de Vila Viçosa (ca. 1720); painéis alegóricos concebidos pelo italiano Giovanni Pachini (1719-1720), para o tecto da Casa capitular do Cabido da Sé do Porto; etc. Azulejaria: retábulos da igreja de São João de Moura (1651); painéis dos Jardins do Palácio Fronteira (ca. 1668); matriz de Odivelas; jardins do Palácio Nacional de Queluz; etc. Ourivesaria: Retábulo de prata da Sé do Porto; baixela Germain; etc. Gravura e arte tipográfica: inúmeras portadas e ilustrações alegóricas de livros; notas do Banco de Lisboa; etc.

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ECOS DA ICONOLOGIA DE CESAR RIPA EM PORTUGAL

Escultura: programas efémeros da visita de Filipe II a Portugal (1619); virtudes de Santa Isabel nas cerimónias da respectiva canonização (Coimbra, 1625); entrada de D. Rodrigo da Cunha, em Braga (1627); esponsais de Dona Catarina de Bragança com Carlos II da Inglaterra (1662); esculturas de Frei Cipriano da Cruz para a sacristia do mosteiro de Tibães (1681-1685); estátuas de Claude de Laprade destinadas quer ao túmulo do bispo Dom Manuel de Moura Manuel, na capela da Vista Alegre, em Ílhavo (ca. 1697), quer às salas Via Latina e ao Colégio de São Pedro e São Paulo da Universidade de Coimbra (1699-1701); casamento de Dom João V com Dona Mariana de Áustria (1708); celebrações do Tratado de Utreque (Évora, 1715); as Virtudes colocadas sobre o pórtico axial no interior da Basílica de Mafra; as imagens da Fé, da Esperança, da Caridade e da religião da fachada da igreja de Nossa Senhora dos Remédios (Lamego); Machado de Castro expressamente nomeia Ripa como inspirador do baixorelevo do plinto da estátua equestre de D. José, na Praça do Comércio (Lisboa); estatuária monumental do Palácio da Ajuda; Quatro estátuas das Virtudes, na fachada da Basílica da Estrela; efígie da República; etc.

Bibliografia AMARAL, João, A fachada do templo de Nossa Senhora dos Remédios, in Boletim da Casa Regional da Beira-Douro, n. 8 (1965), p. 234-237; BARBOSA, José, Memórias do Colégio Real de S. Paulo da Universidade de Coimbra e dos seus Collegiaes, Lisboa, 1727, p. 402; DIONÍSIO, Sant’Ana, Museu-Biblioteca de Vila Viçosa, Lisboa, 1947, p. 68; GOMES, Marques, A Vista Alegre – Memória Histórica, Aveiro, 1924; GONÇALVES, Flávio, João Baptista Pachini e os painéis da Casa Cabido da Sé do Porto, in Arquivos do Centro Cultural Português, v. 5 (1972), p. 301-357; LAVANHA, João Baptista, Viagem da Catholica Real Magestade del Rey D. Filipe II N. S. ao Reyno de Portugal e rellação do solene recebimento que nelle se lhe fez em Madrid, Madrid, 1622, fl. 2-61 e 67-71v; MÂLE, Emile, L’Art Religieux de la fin du Xve siècle, du XVIIe siècle et du XVIIIe siècle: étude sur l’iconographie aprés le Concile de Trente, Paris, 1932, p. 383-428; MEDINA, João, A imagem da República: ensaio de iconologia histórica sobre a origem e metamorfose da imagem feminina republicana, in Revista da Faculdade de Letras, n. 15 (1993), p. 81-90; MONTEZ, Paulino, As Belas Artes nas Festas Públicas em Portugal, Lisboa, 1931, p. 36-40; PINHO, Elsa Garrett, Poder e Razão: escultura Monumental no Palácio Nacional da Ajuda, Lisboa, 2002; SANTOS, Teresa Sequeira, Analogias e confrontos formais em torno de um léxico Rocaille lisboeta, in Struggle for Synthesis: a obra de arte Total nos séculos XVII e XVIII, v. 1, Lisboa, 1999, p. 276-277 (fig. 5) e nota 37 (p. 280); SIMÕES, J. M. dos Santos, Azulejaria em Portugal no século XVII, Lisboa, 1971; idem, Azulejaria em Portugal no século XVIII, Lisboa, 19??; SMITH, Robert, Early Works of Claude de Laprade and the style Louis XIV, in Portugal, in Gazette des Beaux-Arts, s. 6, t. 44 (1954), p. 164-190; idem, Frei Cipriano da Cruz, escultor de Tibães, Barcelos, 1968, p. 21 e 61-62

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ECOS DA ICONOLOGIA DE CESAR RIPA EM PORTUGAL

Ásia (tomo III, Lisboa, 1675) de Manuel Faria e Sousa Alegorias da Virtude (esq.) e da Nobreza (dir.). Também ocorre no Nobiliário del Conde de Barcelos (Madrid, 1646)

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ECOS DA ICONOLOGIA DE CESAR RIPA EM PORTUGAL

Nobiliário do Dom Pedro (Roma, 1640) Alegorias da Nobreza (esq.) e da Verdade e da Memória (dir.)

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ECOS DA ICONOLOGIA DE CESAR RIPA EM PORTUGAL

Portada de O Príncipe dos Patriarcas São Bento (Lisboa, António Craesbeeck de Melo, 1683) A Penitência domina a Natureza (esq.) e a Santidade prevalece sobre o Tempo (dir.)

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ECOS DA ICONOLOGIA DE CESAR RIPA EM PORTUGAL

Portada de Vida de Dom Frei Bartolomeu dos Mártires, de Frei Luís de Sousa (Viana do Castelo, 1619) Alegorias da Caridade (sobre o retábulo), da Religião (esq.) e da Esperança (dir.)

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ECOS DA ICONOLOGIA DE CESAR RIPA EM PORTUGAL

Academia Os Estrangeiros no Lima, de Manuel Gomes de Lima Bezerra. Sobre a estante, da esquerda para a direita: a Nobreza, a Abundância, a Filosofia, a Inteligência e a Medicina.

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ECOS DA ICONOLOGIA DE CESAR RIPA EM PORTUGAL

Alegorias à Filosofia

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ECOS DA ICONOLOGIA DE CESAR RIPA EM PORTUGAL

Alegoria da Caridade numa tela de Bento Coelho, na igreja de S. Francisco de Paula e no chafariz das Janelas Verdes (Reinaldo Manuel dos Santos)

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ECOS DA ICONOLOGIA DE CESAR RIPA EM PORTUGAL

Mausoléu de Dom João V (1751). Gravura de Guilherme Francisco Lourenço Debrie. Observam-se as alegorias da Religião, da Fama e da Fé.

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ECOS DA ICONOLOGIA DE CESAR RIPA EM PORTUGAL

Nota do Banco de Lisboa (4800 réis) com vinhetas alusivas aos quatro Continentes [BL 30 – 1839]

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ECOS DA ICONOLOGIA DE CESAR RIPA EM PORTUGAL

Apólice do Real Erário (Lisboa, 1797), com vinhetas alegóricas do Amor da Pátria, da Liberalidade, da Fidelidade e da Razão de Estado

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ECOS DA ICONOLOGIA DE CESAR RIPA EM PORTUGAL

Alegorias da Fé, na igreja matriz de Odivelas, e da Prudência, no Palácio Nacional de Queluz e na Assembleia da República (Raul Xavier, 1941)

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ECOS DA ICONOLOGIA DE CESAR RIPA EM PORTUGAL

Cobertura da Casa do Cabido da Sé do Porto

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ECOS DA ICONOLOGIA DE CESAR RIPA EM PORTUGAL

O tecto de madeira de secção trapezoidal (em madeira), dividido por grossas molduras em 15 caixotões de recorte variado (entalhador Salvador Martins), é preenchido por alegorias pintadas pelo italiano João Baptista Pachini (1719-1720). No caixotão central acha-se figurado São Miguel, vencendo o demónio, emblema do Cabido da Cidade Invicta. Enquadrando-o, as alegorias da Autoridade (em cima), da Clemência (esq.), da Liberdade (em baixo) e da Caridade (dir.). Ao redor, distribuem-se 12 outros painéis, identificados (tal como os anteriores) por citações bíblicas: o Sigilo, a Concórdia, o Prémio, a Clemência, a Sapiência I, a Prudência, a Justiça Divina, a Sapiência II, a Verdade, a Caridade, o Mérito e a Solicitude.

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ECOS DA ICONOLOGIA DE CESAR RIPA EM PORTUGAL

Tela do Museu Militar (Lisboa) do pintor Bruno José do Vale ( 1780): a Pátria Portuguesa rodeada por distintas alegorias inspiradas em Cesare Ripa

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ECOS DA ICONOLOGIA DE CESAR RIPA EM PORTUGAL

Fig. 29

As virtudes da Basílica de Mafra Sobre o pórtico principal (central) da Basílica, observa-se uma tabela em baixo relevo com a representação de diversas alfaias litúrgicas e paramentos indispensáveis à celebração de uma Missa de Pontifical (imagem de Cristo crucificado, castiçais, naveta, turíbulo com suas cadeias, caldeirinha de água benta, hissope, campainha e uma toalha). Frei João de Santa Ana regista uma tradição conventual, segundo a qual a dita tabela “fora feita por um aprendiz e que em prémio pedira ao Monarca Fundador que lhe desse por acabado o tempo de aprendiz” (fl. 248). Ladeando a tabela descrita vêem-se duas imagens de vulto, as quais encarnam duas Virtudes Teologais: a Fé, do lado da Epístola, e a Religião, do lado do Evangelho. Das notícias de Cirilo se depreende que terão sido modeladas por Caetano Paggi e esculpidas em mármore por Giusti, tendo por arquétipo as alegorias da Iconologia de Cesare Ripa.

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ECOS DA ICONOLOGIA DE CESAR RIPA EM PORTUGAL

Baixo-relevo do plinto da estátua de Dom José na Praça do Comércio, concebido por Machado de Castro

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ECOS DA ICONOLOGIA DE CESAR RIPA EM PORTUGAL

Os Quatro Continentes na Baixela Wellington, obra do ourives Borja Freire (1813-1816) sob a direcção de António Sequeira [Victoria and Albert Museum, Londres]

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ECOS DA ICONOLOGIA DE CESAR RIPA EM PORTUGAL

A Fé e a Liberalidade da fachada da Basílica da Estrela (1790), dos escultores José Gomes João José Elveni e José Joaquim Leitão - José Patrício, respectivamente

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ECOS DA ICONOLOGIA DE CESAR RIPA EM PORTUGAL

Palácio Nacional da Ajuda Amor da Virtude, Amor da Pátria, Acção Virtuosa, Anúncio Bom

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ECOS DA ICONOLOGIA DE CESAR RIPA EM PORTUGAL

Palácio Nacional da Ajuda Liberalidade, Perseverança, Intrepidez, Conselho

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ECOS DA ICONOLOGIA DE CESAR RIPA EM PORTUGAL

Palácio Nacional da Ajuda Justiça, Lealdade, Prudência e Piedade

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ECOS DA ICONOLOGIA DE CESAR RIPA EM PORTUGAL

A Arte (1935) e a Ciência (idem) de Raúl Xavier, na fachada poente do Pavilhão Carlos Lopes (Lisboa)

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