Camus e Cioran: a lucidez como impulso criativo face à absurdidade mundo

Resumo: Estrangeiros radicados em Paris, o argelino Albert Camus e o romeno Emil Cioran possuem tantas divergências quanto afinidades intelectuais. Ambos operam uma evasão da Filosofia-entendida aqui como discursividade conceitual e abstrata-em direção a formas outras de produção do conhecimento, e o fazem como modo de participação sui generis no mundo e no contexto histórico em que se inserem. Camus se dedicaria à literatura do romance, e Cioran ao aforismo e à poética do fragmento: formas distintas que cada um deles encontrou no intuito de fazer frente à hegemonia moderna de uma racionalidade abstrata e homogeneizante, amiúde totalitária. As obras destes dois autores denotam uma tensão agônica entre a autonomia da ética e a heteronomia da moral, certa preocupação metafísica com a condição humana profunda para além de toda historicidade, certa ênfase na lucidez (lucidité, vocábulo comum a ambos) como uma disposição subjetiva necessária para a conservação de uma probidade intelectual intransigente face à absurdidade do mundo, e, por fim, a busca estética do Belo como alternativa a uma racionalidade que tende a obliterar a soberania do ser humano, em sua irredutível singularidade, em nome de ideias e ideais que tendem a anular o mesmo indivíduo em nome de causas tão abstratas quanto, muitas vezes, humanamente desastrosas. De onde o fato de terem sido, ambos, cada um à sua maneira, autores marginais e incompreendidos no contexto em que se inserem. Pretende-se problematizar, no registro de uma reflexão estético-filosófica, como suas respectivas obras, que descrevem uma evasão da Filosofia sem deixar de pressupor um espírito filosófico, se oferecem como uma possibilidade de criação alternativa capaz de elaborar uma crítica radical dos descaminhos e reveses da racionalidade europeia historicamente estabelecida.Palavras-chave: Camus, Cioran, lucidez, absurdo, criação.