CAMPO SOCIAL TRANSNACIONAL

May 22, 2017 | Autor: S. Afonso Borges | Categoría: Transnacionalismo
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SÉRGIO AFONSO BORGES

[SOCIOLOGIA DAS MIGRAÇÕES]

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“Torna-se claro que a visão unívoca, monocromática, de uma sociedade centrada no Estado, definida em função de um território com fronteiras estabilizadas e resultando de uma coincidência perfeita entre Etnos e Demos, desapareceu.” MATIAS,G.S. (2014) Migrações e Cidadadia, Liboa:FFMS, P65

CAMPO SOCIAL TRANSNACIONAL Nota Introdutória

Perante o desafio proposto e mediante a multidimensionalidade da temática em estudo, considerou-se pertinente estruturar o presente trabalho assente no seguinte tripé: I –Campo Social Transnacional – Caracterização – onde se visa ampliar o campo de visão, através de um breve enquadramento sustentado em elementos basilares, que contribuem para a caracterização do Campo Social Transnacional; II –Campo Social Transnacional – Ferramenta

Analítica no Estudo das

Migrações Transnacionais – que visa demonstrar a preponderância do Campo Social Transnacional enquanto instrumento de análise no contexto das migrações transnacionais numa perspetiva que se descola da tradicional abordagem, ; III – Campo Social Transnacional – Diáspora Portuguesa – onde se procura definir em linhas simplórias a palavra diáspora e se expõem dois exemplos práticos (socioculturais e socioeconómicos) que espelham a transnacionalidade na diáspora Portuguesa. I –Campo Social Transnacional – Caraterização

A aceleração da globalização dos mercados e das comunicações, bem como a dilatação geográfica da Ideologia dos Direitos do Homem, transcendem as fronteiras, o que aliado ao abandono das migrações exclusivamente centradas no factor trabalho, para migrações motivadas para a circulação de capital humano e de consumo, geram o fenómeno da Transnacionalidade, onde se consubstanciam os migrantes como atores que transcendem fronteiras, estados e identidades nacionais, ou seja, os transmigrantes. Este fenómeno, demonstra uma realidade patente nas ligações transnacionais, nas múltiplas localizações, na participação política e nas atividades empresariais, transformando o conceito convencional de sociedade num conceito geodinâmico onde as fronteiras de um único Estado-Nação, deixam de delimitar uma sociedade. Eis que irrompe o Campo Social Transnacional. Antes de caracterizar o conceito, importa definir campo social e neste sentido, utilizando as palavras de ( Levitt.P e Schiller.N.G. P.35) “ (...) definimos campo social como um conjunto encadeado de múltiplas redes de relações sociais através das quais se trocam, organizam e transformam, de forma desigual ideias práticas e recursos.”1 Quando os atores de um determinado campo social não são delimitados a barreiras fronteiriças e as suas relações sociais nacionais e transnacionais se misturam, os indivíduos vestem concomitantemente posições díspares dentro de 1 LEVITT.P e SCHILLER.N.G “Conceptualizar a Simultaneadade: uma Visão da Sociedade Assente no Conceito de

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diferentes Estados-Nação, estabelece-se aqui a ponte para o Campo Social Transnacional. Um claro exemplo do Campo Social Transnacional é o da pluralidade de espaços migratórios das diásporas Portuguesas no Luxemburgo. As regiões de fronteira com Luxemburgo são cada vez mais palco de migrações baloiço por parte de atores dinâmicos que são externos e internos em cada uma das regiões, onde se trabalha onde se ganha mais e se mora onde as rendas são mais acessíveis. Atores que têm de lidar com a diversidade de territórios, de culturas, obrigados a adaptações múltiplas. Neste exemplo espelham-se algumas das características do Campo Social Transnacional: a multidimensionalidade, simultaneidade, multiculturalidade, às quais se acrescem a reciprocidade na medida em que as ligações transnacionais mantidas pelos migrantes com o País de origem, familiares, ou de pessoas da mesma religião e identidade étnica se animam na reciprocidade e a volatilidade na medida em que a vontade e a aptidão de envolvimento em relações transnacionais podem crescer ou decrescer em diferentes fases do ciclo de vida e sujeitas ao contexto. II –Campo Social Transnacional – Ferramenta Analítica no Estudo das Migrações Transnacionais

A intensificação das relações sociais transnacionais por indivíduos que não se reduzem a um baliza geográfica, obriga a que o farol analítico careça forçosamente de ser dilatado e aprofundado, promovendo o Campo Social Transnacional enquanto ferramenta analítica fundamental no estudo das migrações transnacionais. O conceito de Campo Social Transnacional alavanca-se como um poderoso instrumento na conceptualização da variedade de relações sociais que aproximam os que partem e os que ficam, o que concorre para uma eficaz determinação de comportamentos transnacionais. Uma abordagem ancorada no conceito de Campo Social Transnacional augura uma análise mais metódica dos processos e das instituições sociais, tradicionalmente relegadas para segundo plano nas abordagens convencionais sobre migrações. Estudar o fenómeno das migrações transnacionais sob a lupa do Campo Social Transnacional, permite sublinhar que a incorporação num Estado-Nação novo e a manutenção de laços transnacionais não se consubstanciam como fenómenos perfeitamente opostos. O uso do Campo Social Transnacional permite-nos constatar a mudança da família enquanto unidade socioeconómica estratégica, de onde sobressai uma remodelação dos laços familiares. Variáveis como a religião num contexto de relações transnacionais, enriquecem o estudo das suas dimensões quando observadas por uma lente com abertura empírica ampliativa dos formatos ligados à existência e pertença, que não se emolduram ou se fecham num Estado-Nação, mas afirmam a amplitude do conceito de Campo Social Transnacional. III – Campo Social Transnacional – Diáspora Portuguesa

Na história da diáspora Portuguesa a primeira e segunda década do Séc XXI manifestam-se quase como um retrato do decénio de 60, mas a repetição do ciclo apresenta transformações SÉRGIO AFONSO BORGES1300508 |



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relevantes, não apenas no quadro de destinos, mas similarmente na heterogeneidade da emigração. Por isso, mais do que nunca, a emigração Portuguesa, manifesta-se numa miríade de relações sociais transnacionais. Assim, antes de enunciar alguns exemplos dessa miríade, importa definir de forma linear a palavra diáspora. Em linhas gerais o termo diáspora advém do verbo grego speirein ( semear), mais especificamente do verbo composto diaspeirein ( disseminar) que se traduz na dispersão de um povo. Os exemplos que de seguida se pronunciam, assentam em bases socioculturais e socioeconómicas. Numa base sociocultural as festas revestem-se de um enorme valor na vida social do emigrantes, conduzem a uma movimentação de vontades locais e a um reforço de laços entre a comunidade

presente

e

a

comunidade

ausente

caracterizando-se

por

uma

abrangência

multidimensional ( transnacional, nacional e regional). Estas formas de expressão sociocultural permitem o estabelecer de interações individuais e coletivas com a região e a terra natal, numa relação transfronteiriça. São casos de destaque a celebração dos Santos Populares e o 13 de Maio, onde a cultura, a socialização e a religião ganham uma extensão transnacional. Numa base socioeconómica o envio de remessas constitui-se como um exemplo de prática transnacional de origem financeira, o que indica uma preocupação no auxílio aos familiares residentes no país de origem (Portugal), embora esta tendência tenda a diminuir no quadro da nova vaga de emigração, sendo o investimento aplicado em negócios próprios no País de acolhimento uma prática cada vez mais comum. Esta prática potencia um emigrante que cria redes empresariais e de conhecimento no país de acolhimento alterando a natureza das remessas e retorno ao País de origem. São exemplos claros os negócios de etno food que estimulam a transação de fluxos de bens e produtos de natureza cultural, uma vez que a gastronomia se reveste de costumes de identidade cultural e de vínculo ao território Português. Os exemplos supramencionados funcionam simultaneamente como elementos inclusores e diferenciadores. Em jeito de conclusão, pode dizer-se que a heterogeneidade e a elasticidade das diásporas modernas potenciam uma adaptabilidade que oscila entre o local e o mundial, sendo a maleabilidade inerente a estes grupos, um factor capital na geodinâmica das migrações transnacionais. Bibliografia ROCHA-TRINDADE,M.B, (1995) Sociologia das Migrações. Lisboa: Universidade Aberta. MATIAS,G.S. (2014) Migrações e Cidadania, Lisboa: FFMS RUGY.A. (2000) Dimensão económica e Demográfica das Migrações na Europa Multicultural, Lisboa: Celta

Publicações OLIVEIRA. M.J. (2013) “Adeus Liberdade Viva a Liberdade”, XXI Ter Opinião nº2: 89,95. ROCHA-TRINDADE,M.B, (2010) “ Associativismo em Contexto Migratório”, Migrações nº 6, 39,55

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