Arqueologia de Gênero - apresentações de Domínguez, Funari, Menezes, Carlan

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Descripción

Karla Maria Fredel, Arqueologia de Gênero. Erechim, Hábilis, 2015, ISBN 9788560967681. Quarta-Capa de Cláudio Umpierre Carlan

O livro apresenta uma importante análise da cultura material, tendo como corpus documental a louça colonial, produzida no século XIX. Com isso, a autora estabelece um estudo comparativo sobre a relação de gênero, tanto na cidade de Pelotas, Rio Grande do Sul, durante seu apogeu cosmopolita, quanto Habana Vieja, Cuba, identificando certa hierarquia social dentro do contexto oitocentista. A passagem da pesquisadora por Cuba, durante desenvolvimento do projeto, mostra a importância da cooperação internacional para progresso das pesquisas científicas no mundo moderno. Karla Fredel não fica presa apenas às críticas ou ao determinismo, mas analisa de forma imparcial os pontos positivos e negativos dessa hierarquização de uma sociedade já estratificada e complexa. A obra entra como leitura obrigatória nos recentes debates acerca do campo da Arqueologia e da Cultura Material. Esperamos que o leitor tenha em mãos um rico material que o transplantará a diferentes visões sobre a natureza arqueológica de gênero, presente em Pelotas e Habana Vieja.

Cláudio Umpierre Carlan Pós Doutorando Arqueologia (NEPAM / UNICAMP) Professor Adjunto 3 da Universidade Federal de Alfenas – MG Programa de Pós Graduação em História Ibérica (Mestrado Profissional).

Prólogo de Lourdes Domínguez, pp. 7-8.

Una mirada cubana a una investigación original Este es un libro que aporta una temática inédita tanto en Cuba como en Brasil, la comparación de dos ciudades en un período de tiempo contemporáneo y que pertenecen a dos instituciones coloniales diferentes, tanto en el caso de Cuba a los españoles como

Pelotas a Brasil. Y dentro de estas ciudades dos formas de adquisición económica diferente una el comercio ligado a una ciudad cuyo principal fondo es el comercio a través de su puerto y la brasileña a partir de un negocio comercial momentáneo pero muy rentable que es el charque.

Para poder hacer esta comparación que de hecho es difícil de encontrar las similitudes y diferencias, la autora toma como base el género y muy inteligentemente utiliza los elementos de la cultura material que pueden dar elementos crediticios en el desarrollo de su vida cotidiana para una valoración de la cerámica utilitaria en el contexto domestico de ambas ciudades de ambos países.

Y que mejor elemento que éste para laborar un análisis, ya que los exponentes cerámicos permite inferir disímiles aspectos, entre ellos la estética que nos hace valorar el aspecto cultural de la familia, su status económico y social dentro de la comunidad, sus usos domésticos acordes con el estándar de vida, en dos ciudades tan distantes y tan diferentes, pero que se unen a partir de su visión de la cultura mundial de la época, en estos usos. Aquí entenderíamos a Foucault, lo que domestica es lo que se repite.

Como en ambas ciudades se trasplantan formas de convivencia similares y los gustos pueden ser tan

parecidos teniendo una cultura de base diferente. Esto la

valoración de la moda en el capitalismo como esta se utiliza para su maniobra de poder.

La autora preclaramente toca el punto de comparación con fineza y tomando en consideración a partir de una base teórica excelente la comparación.

Es importante recalcar que el trabajo en La Habana fue bien captado y muy bien introducido en el contexto de la investigación, lo que denota su magnífico trabajo en ambas ciudad y en la selección de la muestra.

Reiteramos que el trabajo sienta precedentes e invita a nuevos proyectos.

Lourdes Domínguez Oficina del Historiador de La Habana, Cuba Academia de la Historia de Cuba

Prefácio de Pedro Paulo A. Funari, pp. 9-10.

Uma pesquisa original

Karla Fredel brinda-nos com um volume que deriva da sua trajetória acadêmica. Desde cedo, dedicou-se com afinco ao estudo da cultura material, em particular em contexto histórico. Seguiu seus estudos no Rio Grande do Sul, na graduação e mestrado, e participou de trabalhos de campo em diversos sítios arqueológicos. Atuou, ainda, como professora e organizou um evento arqueológico internacional em Porto Alegre, tudo isso antes de iniciar o seu doutoramento, em 2008, no Programa de Pós-Graduação em História da Unicamp. A partir daí, contou com os recursos adicionais de um dos únicos programas de nota máxima pela avaliação da Capes, com grandes mestres não apenas da Unicamp, mas de outras universidades brasileiras e estrangeiras com os quais aprendeu e interagiu, como Neil Silberman, Richard Hingley, Greg Woolf e José Remesal, para citar apenas alguns. Especial destaque deve ser dado a Lourdes Domínguez e Lúcio Menezes, durante o doutoramento, por sua atuação especial, como diretores da pesquisa, em Havana e Pelotas.

O estudo de Karla Fredel apresenta duas grandes contribuições originais, a serem destacadas. Em primeiro lugar, por meio da atuação de Lourdes Domínguez e Lúcio Menezes, a pesquisa pôde comparar a cultura material em dois contextos diferentes – em Cuba e no Brasil -, mas com pontos em comum. Essa ousadia já, por si só, seria inovadora, pois, embora sobejem os contatos entre os dois países, ainda não são tão comuns os estudos comparativos. Em seguida, sua inserção na Linha de Pesquisa “Gênero, cultura material e subjetividades” e o contato com Margareth Rago e diversas estudiosas feministas e com literatura libertária – além da contribuição de Lourdes Domínguez também nesse âmbito – permitiu que tratasse das relações de gênero. A publicação deste volume contribui, portanto, para uma Arqueologia Histórica preocupada com a inserção internacional e com as perspectivas teóricas mais atuais e relevantes. Sua divulgação contribui, portanto, para os avanços da disciplina em nosso país.

Pedro Paulo A. Funari Professor Titular da Unicamp Distinguished Lecturer, Stanford University Investigador asociado, Universidad de Barcelona Miembro estranjero de La Academia de la Historia de Cuba

Apresentação, pp. 11-12.

Para além do Estado-nação

Os argumentos do livro de Karla Fredel têm vários matizes e direções. Destacarei dois. Serão, apenas, pontos de entrada, pontes de comunicação para incitar o diálogo entre a autora e os leitores. O primeiro é que ele se insere no campo da arqueologia histórica do mundo moderno. O problema de pesquisa mais abrangente desse campo é a interpretação das relações entre cultura material e as estruturas, funcionamento e mecanismos de expansão e reprodução das sociedades modernas. O mérito do livro de Karla Fredel é mostrar, a partir do estudo de coleções de louças de Havana e Pelotas, as especificidades culturais da formação do mundo moderno em duas distintas regiões da América. As louças, cuja circulação era mundial no mercado global, constituíram, sem dúvida, habitus e comportamentos burgueses. Mas Karla enfatiza o quão as estruturas do mundo moderno e os comportamentos burgueses diferem em suas estratégias de reprodução. As louças, como verão os leitores, têm origem de fabricação e estilos decorativos semelhantes em Havana e Pelotas. As louças eram as mesmas. Mas as pessoas que as usavam não eram as mesmas. Karla Fredel salienta como o uso das louças era significado de forma diferenciada nos dois contextos, chamando nossa atenção para a dimensão cosmológica, cultural, da cultura material no mundo moderno. Atrelada a essa discussão, reside outro problema central da arqueologia histórica do mundo moderno: como a diversidade cultural, as ações sociais de grupos subalternos podem ser observadas e interpretadas no registro arqueológico e no estudo das coleções? Desponta, aqui, a análise de gênero que faz a autora. Karla Fredel não reduz sua análise das louças à conformação de um mundo burguês e elegante, tal como, infelizmente, ainda é comum entre nós. Aponta, por meio das louças, as clivagens,

dissensões e conflitos de gênero que atravessam os habitus à mesa em Havana e Pelotas. Observamos, assim, em detalhes filigranados, que não há um mundo moderno, mas vários mundos modernos. No caso de Havana e Pelotas, estamos a falar de sociedades aristocráticas e patriarcalistas, como já apontavam Gilberto Freyre e Fernando Ortiz. Sociedades aristocráticas e patriarcalistas, amparadas na autoridade masculina e na definição de status pela genealogia e pela tradição; firmadas e reafirmadas no poder que emana na ascendência da família nobre. Sociedades que são, também, escravagistas, assentadas na escravidão entendida não apenas como valor econômico, mas como um meio de conceber o mundo e de pensá-lo. Patriarcalismo, aristocracia e escravismo caminham juntos: o escravismo fortalece as elites estabelecidas em Havana e Pelotas, a reprodução social e a renovação da aristocracia patriarcal. Karla Fredel nos mostra como as louças são significados nesse universo patriarcal, aristocrático e escravocrata. Embora sua ênfase seja nas relações de gênero entre os aristocratas de Havana e Pelotas, a autora não ignorou o uso que escravos e escravas faziam das louças. O segundo ponto de entrada do livro de Karla Fredel, e que certamente saltará aos olhos dos leitores, é o da análise comparativa. Há muito a escrita da história tem sido vítima de violência abstrativa. Como já disseram Peter Linebaugh e Marcus Rediker, a história é cativa do Estado-nação. E a arqueologia histórica não é exceção a essa violência abstrativa. Normalmente, seu escopo é centrado no Estado nacional. São raras as abordagens comparativas, não obstante a influente obra de Charles Orser, há mais de duas décadas, propugnar uma arqueologia histórica global. Karla Fredel lança uma centelha para trabalhos futuros, de alcance global e comparativo, pontuando como as louças conectavam as pessoas e o mundo. Mostra as articulações mundiais que, durante muito tempo, têm sido negadas, ignoradas ou que, simplesmente, passaram despercebidas graças à escrita de uma história nacionalmente focada. Não obstante, essas articulações mundiais de fato existiram e, como nos ensina Karla Fredel, conformaram, em grande medida, o mundo moderno em que vivemos. Há, seguramente, muitos outros pontos de entrada e pontes de comunicação no livro de Karla Fredel. Os leitores, certamente, os notarão. Quero crer que, também, inspirar-se-ão para realizar pesquisas comparativas e libertas do Estado-nação.

Lúcio Menezes Ferreira Laboratório Multidisciplinar de Investigação Arqueológica Universidade Federal de Pelotas

Pesquisador do CNPq

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