Apolo nos labirintos de Dionísio

A busca por si mesmo — a necessidade de entender a própria natureza —, certamente é um importante leitmotiv que estimula a imaginação e a investigação humanas. Desde os seus primórdios, o ser humano tenta entender seu lugar no universo e os labirintos de si mesmo, mesmo que isso, muita vez, venha carregado de enorme presunção e vaidade. O presente estudo se propõe a investigar uma concepção de natureza humana específica, cuja trajetória se inicia na Antiguidade grega e desemboca na contemporaneidade ocidental. Os gregos, e notadamente Platão, estabeleceram paradigmas para se pensar o homem que persistiram e apenas se desestruturaram e inverteram totalmente a partir da colocação do problema do inconsciente com Sigmund Freud e a psicanálise. Justamente, serão as categorias do apolíneo e do dionisíaco, apropriadas de O Nascimento da Tragédia de Friedrich Nietzsche, que servirão como ferramentas interpretativas para que se possa estabeler uma continuidade (e cesura) entre os pensamentos antigo e moderno. Verifica-se que, acompanhando a modificação do modo de pensar a natureza humana, manifestações estéticas surgem refletindo-a, de modo que a opção pela análise de uma delas, a saber, da obra cinematográfica Cisne Negro, serve para validar a perspectiva aqui defendida.