A HARMONIA ESSENCIAL

June 6, 2017 | Autor: L. Lopes dos Santos | Categoría: Metaphysics, Philosophy of Logic
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Parte I-As Origens A questão da harmonia entre pensamento e realidade é o resultado do aprofundamento filosófico do que parecem ser constatações triviais. Nosso conhecimento do mundo parece ser o produto da elaboração racional de elementos que nos são dados por meio do contacto sensível com as coisas-produto que se sedimenta como a significação de um discurso. Parece ser também evidente que esse trabalho de elaboração, que supostamente nos conduz, do espetáculo de nossa vida perceptiva, ao conhecimento do que as coisas realmente são, em si e por si mesmas, é um trabalho crítico. Nossas percepções resultam da interação entre o sujeito que percebe e a coisa percebida, de modo que sempre cumpre indagar, diante do conteúdo dessas percepções, o que, nesse conteúdo, revela o que são, em si e por si mesmas, as coisas percebidas e o que simplesmente se deve à intervenção do sujeito que percebe. O discurso verdadeiro sobre o mundo é muito mais que o mero registro dos acontecimentos de nossa vida perceptiva. Ainda que se admita que ele se enraíze finalmente nesses acontecimentos, não há como negar que pressuponha também a mediação de uma atividade conceitual complexa de estruturação e fundamentação. Essa atividade, costumamos chamar de pensamento; a faculdade que dela se encarrega, costumamos chamar de razão. De acordo com essa imagem de como se constitui nosso conhecimento do mundo, o conteúdo de nossas percepções depende do que são as coisas percebidas-e por isso pode dar testemunho do que essas coisas realmente são. Por outro lado, depende também da constituição e das circunstâncias particulares dos sujeitos que percebem-e por isso cumpre à razão medir o grau de fidelidade do testemunho dado. No entanto, não se poderia dizer o mesmo a respeito do pensamento? No final das contas, o pensamento é a atividade de um sujeito, e quantas vezes o que nos pareceu ser um discurso inegavelmente fiel à natureza das coisas, impecavelmente elaborado e legitimado pela crítica racional, não se revelou depois ser nada mais que o produto de um ponto de vista idiossincrático? Tanto quanto nossas percepções, o discurso racional sobre o mundo situa-se na confluência de um sujeito e um objeto, de modo que também nele caberia distinguir os elementos reveladores da natureza própria das coisas e os eventuais acréscimos e interferências de natureza subjetiva.
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