Trilhas

TRILHAS

Texto de apresentação da exposição "Trilhas", de Sabine Feres Staniscia - 2005


Sim, a pintura ainda tem algo nos dizer, na pintura ainda há muito para o artista procurar, pesquisar, trabalhar e encontrar.

E sabendo disto, conhecendo isto, é que Sabine Feres Staniscia lança mão desta técnica que, embora alguns considerem ultrapassada, tem algo que pouco se vê nesta nossa arte contemporânea repleta de recursos e retóricas industrializados: os sentimentos que ficam impregnados na fatura de um quadro a óleo.

As abstrações de Sabine têm um certo rigor formal, denotado pela geometrização da composição, que circula entre as linhas e as áreas geradas pelas suas interseções, a escolha criteriosa da paleta e o cuidado com as relações entre figura e fundo. Mas estas preocupações estéticas estão subordinadas a um forte aspecto emocional que desencadeia e orienta toda a construção pictórica, nos apresentando a possibilidade, por exemplo, da luz ser ora transparência, ora matéria e, com isto, ter sua existência ampliada a muito mais que a percepção de um fenômeno meramente físico.

Seria malhar em ferro frio defender esta ou aquela opinião; se "isto é" e "aquilo não é" ou se "tudo é" arte; se a pintura tem ainda seu lugar na arte contemporânea ou se tudo já foi dito e feito; porque o fato é que, mesmo correndo o risco de generalizar demasiado, podemos afirmar que toda forma de expressão é válida e, qualquer que seja, sempre haverá artistas que se identificarão e se realizarão ao produzi-la, assim como espectadores que verão nela algo a se reconhecer, questões a interpretar e conceitos a permutar.

Porém, muito mais importante que estas discussões e maniqueísmos é saber – e reconhecer – que estamos permanentemente em busca de algo, de encontrar ou tentar dar respostas, e a arte, em qualquer uma de suas modalidades e em todos seus períodos históricos, acaba afirmando esta nossa condição de estarmos sempre a caminho, seja por qual trilha for.
Claudio Boczon
abril de 2005