O anjo exterminador

September 18, 2017 | Autor: Rodrigo Contrera | Categoría: Biografías
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Descripción

O anjo exterminador
O sujeito é forte, não tão alto, tem sempre um sorriso no rosto e uma malícia à qual é difícil de resistir. De uma generosidade ímpar, este anjo, que também é exterminador (nenhuma referência ao filme, ao qual nem assisti), eu conheci no bar e teatro Cemitério de Automóveis há alguns anos.
Imprevisível como poucos, com um humor ferino que sempre tem um juízo altaneiro e bem refletido por detrás dos qualificativos enigmáticos que usa para referir-se ao seu interlocutor, este anjo exterminador não usa máscaras. Sempre diferente a cada minuto, assumindo acepções que surpreendem quando não espantam, este anjo exterminador nunca pára quieto em seu afã de decifrar o mundo à sua volta, sempre repleto de amigos que dele gostam muito, demais, superlativamente.
Houve épocas em que este anjo aparecia sozinho no bar, com um olhar perscrutador em busca de prazer imediato sob a forma de palavras e gestos e outros tipos de prazer, curtidos entre quatro paredes. Soube de várias investidas realizadas por ele nessa época, sempre com grande sucesso, e soube também que buscava algo a mais. Esse algo a mais ele encontrou.
Hoje o anjo tem uma filha, num casamento muito bem arranjado com uma jornalista com a qual assumiu um romance invejado por todos aqueles que olham nos olhos dos dois – e nos da filha, que vi uma vez. A filha mudou o anjo, que porém continua exterminador. O anjo sumiu por uns tempos do bar e teatro, mas apareceu noites dessas, onde o encontrei e onde pude verificar: ele não mudou em absolutamente nada.
De vez em quando o anjo exterminador objeto deste texto publica no facebook fotos dele, sua esposa e sua filha, assim como de seus parentes e amigos. Ele está sempre como sempre foi: agitado, fazendo gestos ou caretas, numa atitude propositiva de quem sabe que só vive, tal qual ele se reconhece, uma vez. Ele nunca deixa que outros atrapalhem os seus julgamentos, e sua vida atribulada na juventude e relativamente quieta agora, enquanto casado, não parecem lhe perturbar os critérios que sempre nortearam a vida, e que incluem um amor incondicional por aqueles que ele considera amigos – e pelos quais é correspondido.
Tenho medo desse anjo. Sempre que o encontro eu me sinto frágil e me comporto terrivelmente submerso em mim mesmo – pois ele sabe o que é o chamado ágape, o amor incondicional pela humanidade, que para ele é representada pelos muitos amigos que tem. Difícil falar com o anjo exterminador do Cemitério de Automóveis. Seu nome é Cassiano Antico.
Grande abraço e maravilhoso 2015, meu caro.

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