Itinerário Espiritual

August 12, 2017 | Autor: Leonardo Teixeira | Categoría: Religion, Teologia, Filosofía, Ecumenism, Antropología, Antropología Teológica
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Descripción

Itinerário Espiritual
O homem é um ser que sempre está a caminho. Esse caminho no qual o homem se
coloca é a busca da libertação do determinismo para alcançar novas áreas,
novas metas. O homem é um ser "viato" (expressão utilizada pelo filósofo
existencialista Gabriel Marcel). Sendo um ser a caminho o homem se
apresenta como temporal, ou seja, um ser que se evolui na história e nela
constrói a sua própria história. Nessa história ele não é estático,
outrossim, ele está em constante mutação, num processo contínuo de
realização. Assim, a filosofia existencialista, nos direciona a olharmos o
ser humano não como algo pré-determinado, mas como um ser em constante
construção. O homem é responsável pelo seu destino. O homem é um ser que
busca a sua completude, a sua realização plena.
Após a abordagem filosófica acerca do homem, entramos no dinamismo
espiritual segundo a prescrição bíblica. Assim, a descrição da vida do
homem crente nos coloca sempre numa experiência religiosa, ou seja, o homem
tem a partir do pressuposto bíblico um caminho a ser percorrido mediado por
símbolos de religação que o conduz a conceitos que expressam a sua
caminhada para o sagrado. Na vida do crente é um caminho a ser construído,
pois Deus o chama a partir de um projeto salvífico.
O povo semita apropriou-se da palavra caminho para indicar o seu modo de
vida (comportamento moral, religioso). É o próprio Deus quem indica essa
perspectiva. O êxodo representa o colocar-se a caminho para a promessa.
Nesse sentido, a espiritualidade está proposta num âmbito de construção que
tem seu início na saída do Egito, e, é nela que a construção começa a tomar
forma.
No Novo Testamento acontece uma reunificação, ou seja, o sair para se
colocar a caminho se espiritualiza para indicar uma nova dimensão de vida:
Cristológica. É o Cristo o Caminho a Verdade e a Vida, e, é Nele que se
encontra o Pai. A peregrinação do Cristão está proposta em duas direções
espirituais: a primeira que é a corrida para a glória, ou seja, a busca
incansável do encontro com Deus e a segunda que a peregrinação, proposta
num amadurecimento espiritual para projetar-se de maneira progressiva para
o encontro consigo e com os irmãos.
O povo de Deus dessa forma é um povo peregrino, o povo da caminhada que
está em constante construção de si e dos outros para um encontro definitivo
com o Pai. Assim, o itinerário do crente se faz num amadurecimento
progressivo de conquistas e derrotas. Essa peregrinação tem seu início no
batismo que exige conversão e pela conversão as estradas são abertas. O
cristão se vê dentro de um processo evolutivo de constante conquista.
Sendo a proposta Cristã uma peregrinação, o cristão não deve ficar
estático, ao contrário, deve cada vez mais se aprofundar no discernimento
de sua própria vida adentrando no mistério salvífico de Jesus Cristo, para
encontrar-se com a maturidade da fé. É na busca pela maturidade que a vida
do Cristão entra sempre na superação e nela ressoa a expressão: "Sede
perfeitos como vosso Pai Celeste é Perfeito". Isso conduz a pratica da
misericórdia e ao amor para com os irmãos.
Ora, Isso só se dará na medida em que o caminhar for proposto na busca de
um alimento sólido, ou seja, o discernimento do que é bom e o que é mal,
pois, o Cristão deve ser um constante avaliador da realidade tendo em vista
o projeto salvífico. Isso identifica o Cristão com o Cristo Ressuscitado,
Aquele que dá a vida por amor.
Agora, nos entramos no itinerário espiritual da história da Igreja que está
numa acentuação de uma vivência bíblica com elementos da própria cultura de
cada época vivenciada, ou seja, os elementos da espiritualidade têm como
pano de fundo o dinamismo da vida Cristã na estrutura do desenvolvimento da
história da Igreja. Um exemplo bem claro disso, abordado pela Didaqué e
pela Carta de Barnabé, é o dois caminhos, ou seja, é um convite na qual o
Cristão tem que escolher a vida ou a luz. Isso está proposto num momento em
que a Igreja vive as perseguições.
Há uma outra proposta chamada Gnóstica que tende a um processo de
contemplação, de entrada no caminho da perfeição que propicia a busca pela
entrada na Sabedoria divina para encontrar-se com a perfeição que conduz ao
progresso da caridade que converte integralmente o homem a Deus. Vários
autores subliam este projeto: Santo Agostinho, Origines, Clemente entre
outros.
Entre tantos projetos espirituais aparece na idade média escritos com o
título de "via" ou "itinerário". O mais famoso é o itinerário para Deus,
que tem como proposta o êxtase mental para uma elevação da alma para Deus.
Já São João da Cruz propõe a "subida ao monte Carmelo" que é uma escalada
na qual o homem realiza um trabalho de despojamento e de purificação de
tudo aquilo que não é Deus. Na verdade trata-se de uma purificação proposta
por etapas na qual o homem vai se purificando pela esperança e caridade.
Santa Tereza de Ávila propõe "o caminho da perfeição" que tem como fonte a
Oração do Pai-Nosso. É na verdade uma marcha para Deus onde a busca
fundamental é pela perfeição. Uma outra representação do itinerário
espiritual na história da Igreja é a "mística apostólica" que é uma forma
orientada para a ação apostólica, ou seja, é a recuperação do sentido
missionário inspirado nos modelos de Cristo e dos apóstolos. Já itinerário
do "pequeno caminho" consiste na busca de uma maneira simples da união do
homem com Deus. Isso está proposto em projetar o homem para a abertura e a
confiança na misericórdia de Deus proposta no Evangelho.
No que tange o "itinerário espiritual para o homem de hoje" é preciso
construir uma espiritualidade que tenha raízes na tradição, verificando o
que já está superado, e, se colocar dentro da cultura atual para a partir
daí traçar uma perspectiva que vise a dimensão comunitária e litúrgica da
vida Cristã. Assim, se faz contundente ter como base o sentido da
personalidade humana como algo indeterminado, para livrar o homem de
esquemas pré-determinados despertando-o à promoção humana, a consciência
eclesial sem perder de vista os conflitos, as crises e as contradições
humanas.
Para que isso se dê de maneira harmoniosa é imprescindível um processo
educativo que introduza o indivíduo na comunidade para que ele adquira a
consciência da fé pelo batismo orientando-o para a vida e para os valores
cristãos. Isso numa constante reflexão da Palavra de Deus que deve ser
atualizada para sua realidade ativando a consciência das exigências
batismais e inserindo-o numa comunidade eclesial e integrando a vida de fé
à vida cotidiana.
É neste processo que o amadurecimento espiritual se dá, ou seja, o cristão
vai superando a sua infantilidade na fé, responsabilizando-se pelos
Conselhos Evangélicos, integrar-se no amor consciente pela Verdade,
assumindo a Igreja e a convivência social. Esse caminho exige que o Cristão
caminhe em direção a liberdade de filho de Deus que consiste numa fé sólida
e pessoal para discernir espiritualmente a sua conduta e visualizar os
sinais dos tempos num continuo amor ao próximo para superar o que é
possessivo e utilitarista. Isso implica num olhar crítico da realidade,
numa conversão e reforma de vida que conduz para relações fraternas, bem
como responsabilidades na busca da transformação da vida.
A busca do amadurecimento espiritual é composto por crises, por isso o
Cristão deve se colocar na vivencia de uma fé ampla que consiste em ficar
longe dos interesses terrenos, buscando sempre a realização do projeto
salvífico, para num abandono encontrar-se com o Deus Amigo, vivenciando
plenamente a liberdade, que consiste numa profunda renovação pela ação do
Espírito, para sair de si e ir ao encontro dos mais necessitados
construindo o sentimento de amor e harmonia com toda a realidade e
reconciliar-se, em Deus, com todas as criaturas.
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