Entre Ciência e Esperança

June 30, 2017 | Autor: Glauber Araujo | Categoría: Theology and Science, Ciencia, Escatologia, Seventh-day adventist theology, Adventist Studies
Share Embed


Descripción

ATUALIDADE

A

E\-1- -1 C ENC A E ESPERA A SITUAÇÃO ATUAL DESPERTA EM MUITOS A PREOCUPAÇÃO COM A SOBREVIVÊNCIA DA ESPÉCIE HUMANA E MESMO DO UNIVERSO, MAS OS CRISTÃOS TÊM MOTIVOS REAIS PARA AGUARDAR UM FUTURO RADIANTE Glauber S. Araújo

Revista Adventista //

2015

roclamar o fim do mundo não é algo novo para o cristianismo. Há séculos os cristãos vêm pregando que "o fim de todas as coisas está próximo" (We 4:7). Aquela imagem de um homem solitário andando pelas ruas e segurando uma placa com as palavras "o mundo vai acabar" faz parte do estereótipo cristão. No entanto, o que tem surpreendido muitos é que um novo parceiro está se unindo a nós para anunciar essa futura calamidade: a ciência. Os canais de comunicação de hoje estão saturados com mensagens alertando sobre os efeitos dos avanços tecnológicos no ecossistema. Falar de aquecimento global, emissões de CO, ou de efeito estufa tem se tornado tema constante em nossas discussões do dia a dia, o que não acontecia uns 50 anos atrás. Cientistas alertam os governantes dos países mais poluidores sobre os efeitos que o ser humano está causando sobre a natureza. O "ponto do não retorno" tem sido uma preocupação de muitos envolvidos com essas discussões — um limiar ecológico que, uma vez ultrapassado, produzirá reações desastrosas em cadeia sobre a natureza, sendo praticamente impossível reverter. Revistas científicas e jornais de renome afirmam que ultrapassaremos esse limiar ecológico dentro de poucas décadas, se isso já não aconteceu! Esse interesse escatológico generalizado inspirou o lançamento de vários filmes que procuram retratar possíveis cenários do fim do mundo, como Armagedom, Interstelar, Depois da Terra e O Dia Depois de Amanhã. Embora os filmes produzidos por Hollywood não apresentem as previsões mais realistas para o futuro do planeta, existe uma preocupação no meio científico quanto ao que acontecerá com a humanidade. E os efeitos da poluição não passam de uma fração dos problemas que nos aguardam.

p

Revis a Adventistái/Suleinbm2()15

MORTE CÓSMICA

Caso consigamos sobreviver aos efeitos do aquecimento global, um dos perigos que ameaçam a sociedade é a possibilidade de uma guerra nuclear. Países como Estados Unidos, Rússia, Inglaterra e França têm se despertado para o potencial destrutivo de uma nova guerra mundial. Conforme o Bulletin of the Atomic Scientists, existem aproximadamente 10.144 bombas atômicas em nosso planeta. Se esse arsenal nuclear fosse empregado em guerra mundial, os efeitos seriam devastadores. Muitos desses materiais são mantidos em condições precárias, aumentando o risco de acidentes e desastres. Entretanto, se o futuro não for interrompido por armas nucleares, os cientistas apontam para outro possível perigo: a colisão com um asteroide. Astrônomos monitoram constantemente o céu em busca de asteroides com potencial para devastação. Segundo eles, um asteroide com apenas 20 quilômetros de diâmetro seria suficiente para destruir a vida como a conhecemos. Embora não concordemos com a teoria da extinção do cretáceo-paleógeno, a qual procura substituir o relato do dilúvio bíblico, a presença de milhares de crateras na Lua e na Terra indicam que essa hipótese não é absurda. Uma possiblidade mais remota envolve uma fonte de calor, energia e luz bem próxima a nós: o Sol. Cientistas preveem que, no ritmo de combustão em que se encontra, o Sol irá consumir todo seu hidrogênio e hélio dentro de 5 bilhões de anos. Quando estiver se aproximando sua "morte", a força gravitacional de nosso astro-rei irá diminuir e ele se tornará um "gigante vermelho", uma estrela 256 vezes maior que seu tamanho atual, chegando a engolir os planetas Mercúrio, Vênus e possivelmente a Terra. Sua "morte" será marcada por um evento raramente observado no Universo: uma

supernova, explosão solar cuja luminosidade pode se igualar à de uma galáxia inteira. Muitos cientistas acreditam que, se sobrevivermos até lá, a humanidade já terá adquirido conhecimento e meios suficientes para deixar a Terra e habitar em outro lugar mais apropriado. Mesmo assim, por mais que procuremos escapar de catástrofes como as mencionadas, há uma que afetará tudo o que conhecemos, e dela não haveria escapatória: a morte do Universo. No ano de 1856, os físicos William Thomson, Hermann von Helmholtz e William Rankine descobriram um dos fatos mais desanimadores da ciência: o Universo está morrendo. Uma das descobertas da física — a lei da entropia — descreve o mundo se degenerando gradativamente, alcançando níveis mais baixos de energia, organização e movimento. Se tudo continuar no rumo em que está, o Universo um dia irá se estagnar, esfriar e morrer. Da mesma forma que um carro que consome todo o combustível para de andar e, após algum tempo, enferruja, o Universo também irá consumir sua energia e se desintegrar. Em pequena escala, tudo o que vemos sofre os efeitos da entropia: a bateria morre, o gelo derrete, a brasa esfria, o corpo envelhece e a comida apodrece. Em grande escala, o Universo está se deteriorando e, daqui a muito tempo, irá se desintegrar. Nesse cenário, os últimos instantes do Universo são chamados pelos cosmólogos de "o grande congelamento". Em outro cenário, o fim seria o "grande colapso". Essas são apenas algumas das muitas profecias do mundo científico. Embora essas projeções possam parecer fantasiosas para um cristão, devemos lembrar que, se o Universo não for testemunha de alguma interferência divina, continuará sob a ação das leis da física e da termodinâmica, que não são meras conjecturas. Diante de tanto pessimismo, muitos questionam o sentido da vida e o

propósito de nossa existência. Se tudo isso for verdadeiro, torna-se fácil compreender as palavras de Bertrand Russell, ganhador do prêmio Nobel de literatura, em seu livro Por que Não Sou um Cristão: "Todos os labores das eras, toda devoção, toda inspiração, todo brilhantismo meridiano do gênio humano estão destinados à extinção na morte desmedida do sistema solar, e todo o templo da conquista humana tem que ser inevitavelmente sepultado sob os escombros de um Universo em ruínas — todas essas coisas, senão totalmente indiscutíveis, são quase tão infalíveis que nenhuma filosofia que as rejeita pode ter a esperança de durar." Em seu livro Os Primeiros Três Minutos do Universo, Steven Weinberg, ganhador do Nobel de física, também lamentou essas futuras possibilidades: "Quanto mais o Universo parece compreensível, mais parece sem sentido." Seu murmúrio se parece com as antigas palavras do sábio Salomão: "Vaidade de vaidades, tudo é vaidade" (Ec 1:2). Conforme observam John Polkinghorne e Michael Welker no livro The End of the World and the Ends of God, esses prognósticos retratam "uma criatividade passageira, levando finalmente à nulidade, com o desaparecimento certo de toda vida no Universo. Essas imagens de catástrofe alimentam as tendências culturais do niilismo e desespero apocalíptico tão marcantes nas sociedades contemporâneas". NOSSA MAIOR ESPERANÇA

Embora o cristianismo reconheça a realidade do Universo, somos consumidos por uma esperança que aponta para um futuro muito superior. Conforme afirma Stephen T. Davis na obra Oxford Handbook of Eschatology, ao contrário do pessimismo científico, o cristianismo acredita que "a criação e a história estão se movendo na direção de um alvo". Em diversos lugares, a Bíblia nos relembra que nosso futuro não será de morte e futilidade. Deus promete "um novo céu e uma nova Terra" (Ap 21:1). Os apóstolos acreditavam nessa promessa e a proclamavam empolgados. "Nós, porém, segundo a sua promessa, esperamos novos céus e nova Terra, nos quais habita justiça", escreveu o apóstolo Pedro (2Pe 3:13). Por séculos, temos anunciado ao mundo que seremos transformados "num abrir e fechar de olhos, ao ressoar da última trombeta. A trombeta soará, os mortos ressuscitarão incorruptíveis, e nós seremos transformados" (1Co 15:51-52). Acreditamos que viveremos eternamente na presença de Deus. Não será uma existência fictícia, mas real, física e concreta. Isaías 65:21 23 afirma que os salvos "edificarão casas, e as -

habitarão; e plantarão vinhas, e comerão o fruto delas". A luta pela sobrevivência, a violência entre espécies e a degeneração do corpo humano não mais farão parte da realidade. "O lobo e o cordeiro juntos se apascentarão, o leão comerá palha como o boi Não farão mal nem dano algum" (65:25). "Então os olhos dos cegos serão abertos, e os ouvidos dos surdos se desimpedirão. Então o coxo saltará como o cervo, e a língua do mudo cantará de alegria" (35:5, 6). O maior inimigo de todos – a morte – será lançada no lago de fogo (Ap 20:14), e Deus "enxugará dos olhos toda lágrima, e a morte já não existirá, já não haverá luto, nem pranto, nem dor, porque as primeiras coisas passaram" (Ap 21:4). Mas como saber se isso realmente acontecerá? Se tudo ao nosso redor está andando na direção da destruição e da morte, que evidência temos para esperar o contrário? Não seria tudo isso uma fantasia criada para nos dar paz e conforto, conforme alegava Karl Marx? O sociólogo da religião Peter Berger observou em sua obra Rumours of Angels que os seres humanos possuem uma intuição significativa de que tudo sempre irá terminar bem, embora vivamos em um mundo marcado pela morte. Estamos sendo enganados pelas nossas intuições? Muitos céticos têm equiparado a esperança de uma vida de gozo em um paraíso eterno a contos de fadas ou personagens fictícios. Não estaríamos nos iludindo com a crença de uma transformação global, uma "ressurreição", por assim dizer, do Universo? Que evidência temos de que essas promessas de fato acontecerão? PESANDO A EVIDÊNCIA

Enquanto o mundo científico fundamenta suas previsões na uniformidade dos eventos naturais, o cristianismo baseia sua esperança em uma pessoa: Jesus Cristo. Seus ensinamentos, vida, morte e ressurreição são uma evidência para nós de que Deus existe, interage com o Universo e tem a capacidade para transformá-lo, conforme prometeu. O fator diferencial dessa esperança está na promessa de que ela ocorrerá unicamente mediante a intervenção do Criador: "Pois eis que eu crio novos céus e nova Terra" (Is 65:17). Neste ponto, a ressurreição de Jesus se torna o evento mais significativo para aqueles que aguardam a eternidade, pois ela tem implicações não apenas antropológicas, mas cosmológicas. Toda a natureza "será redimida do cativeiro da corrupção" (Rm 8:20, 21), e não apenas o ser humano. A ressurreição de Cristo nos fornece informações importantes para entendermos como será essa futura redenção. Como sugere John Polkinghorne, um renomado físico-teólogo da Universidade de Cambridge, Revista Adventista // Setembro 2015

conseguiria ressuscitar os justos que morreram ou vencer os existe um elemento de continuidade e desconefeitos da mortalidade. De fato, o apóstolo declarou que, se tinuidade na ressurreição e na esperança cristã. Cristão não ressuscitou, "somos os mais infelizes de todos os Haverá continuidade porque, após a transformahomens" (v. 19), pois nossa esperança deve se limitar a este ção, a história continua, a personalidade e a indimundo em degeneração. No entanto, Cristo ressuscitou. Seu vidualidade de cada um prosseguem, as memótúmulo está vazio e ele se encontra no Céu, reinando junto rias permanecem e o novo ser não é totalmente ao Pai (v. 20-28). Sua ressurreição é a garantia de que ele é novo, mas mantém características do passado. poderoso para cumprir o que prometeu. No entanto, o que distingue nossa teologia dessas Na verdade, a ressurreição de Cristo é a melhor explica"futurologias seculares" é o elemento de desconção para o crescimento da igreja cristã. Os discípulos acretinuidade, pois a vida não mais será a mesma e a ditavam firmemente nas promessas de um futuro melhor, natureza não mais sofrerá os efeitos do pecado. pois foram testemunhas de um evento grandioso. Caso assim Será tão diferente que Paulo confessou: "Nem não fosse, eles não teriam passado por fome, frio, perseguição, olhos viram, nem ouvidos ouviram, nem jamais escárnio e maus-tratos. Muitos deles viveram penetrou em coração humano o que Deus tem sem qualquer conforto terrestre, viajando preparado para aqueles que o amam" (1Co 2:9). de um lugar a outro para proclamar a A evidência mais forte que o cristianismo pode mensagem da ressurreição (Hb 11:35-37). oferecer para aqueles que duvidam das profeTodos eles deram a vida por essa cias escatológicas é a ressureição de Jesus Cristo. mensagem. Pedro foi crucificado de O túmulo vazio é um fato que faz toda a diferença cabeça para baixo, João foi fervido em na vida do cristão. Se Jesus teve poder para venum caldeirão de óleo, André foi crucer a morte (Ap 1:18) e receber um corpo transcificado, Tomé foi perfurado por uma formado e glorificado, temos a garantia de que o lança e Tiago foi apedrejado. Que motivo mesmo acontecerá com a criação. teriam para se sacrificar tanto por essa Enquanto contos, mitos e lendas são frutos convicção, caso Cristo não houvesse da criatividade imaginativa do ser humano, a ressuscitado? Conforme ponderou J. P. esperança da glorificação está fundamentada Moreland no livro Em Defesa de Cristo, em um evento histórico. A ressurreição não é "ninguém morre por convicções religiosas uma história inventada pelos discípulos. Jesus que sabe serem falsas". É por essa e outras apareceu vivo para várias pessoas após sua crurazões que temos observado um crescente cifixão. Os evangelhos relatam que ele aparenúmero de teólogos de renome abandonando ceu para Maria (Jo 20:16, 17); para os discípulos interpretações liberais da Bíblia e passando a (Jo 20:19); para o incrédulo Tomé (Jo 20:27, 28); defender a literalidade dos relatos do evangelho. para Tiago, o irmão de Jesus (1Co 15:7); para Para o teólogo calvinista Herman Bavinck, "tudo Paulo (1Co 15:8); e para mais de 500 pessoas em depende da ressurreição física de Cristo". Ela é a garanuma só ocasião (1Co 15:6). tia de que as promessas de Deus não são apenas ilusões Ao contrário do que alegam os céticos, os dismentais, desejos ingênuos ou táticas mal-intencionadas cípulos não foram vítimas de uma ilusão mental. de líderes religiosos para agregar seguidores. Deus não perEles relutaram em acreditar que algo tão extramitirá que o Universo seja vencido ordinário pudesse ter aconpela destruição e pela morte, pois tecido. Para convencê-los, VIVER A ESPERANÇA NÃO ele mesmo venceu e possui as chaJesus permitiu que fosse SIGNIFICA NEGAR AS LEIS DA ves da morte (Ap 1:18). Crer na espetocado (Jo 20: 27) e até NATUREZA E AS PREDIÇÕES rança da ressurreição não significa que comeu na frente deles rejeitamos o conhecimento científico. DA CIÊNCIA, MAS SIM (Lc 24:41-43). Jesus não era A morte é um evento real e ameaçador. apenas uma visão extática. TRANSCENDÊ-LAS As leis da natureza regem o Universo Ele falava, andava, tocava com precisão matemática e os efeitos do pecado podem ser e era tocado, comia e respirava. Quando consiclaramente estudados. Viver a esperança não significa negar deramos tudo o que foi registrado, as evidências essas predições, e sim transcendê-las. Deus, por ser o Criaem favor da ressurreição falam mais alto do que dor do Universo, possui o poder, a capacidade e a autoridade a dúvida dos céticos. para mudar o rumo da história e tomar novas todas as coiAo escrever para os fiéis de Corinto, Paulo deisas. Por meio da ressurreição de Jesus Cristo, temos a certeza xou clara a relação que existe entre a esperança de que ele é fiel e poderoso para cumprir suas promessas. futura da eternidade e a ressurreição de Cristo: "Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, GLAUBER 5. ARAÚJO, mestre em Teologia, é editor associado de livros na e vã a vossa fé" (1Co 15:14). Se Cristo não tivesse Casa Publicadora Brasileira conseguido ressuscitar dos mortos, tampouco Revista Adventista // Setembro 2015

Ì.

23

Lihat lebih banyak...

Comentarios

Copyright © 2017 DATOSPDF Inc.